quarta-feira, 25 de junho de 2025

DEBATE: ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - FRAGMENTO - LUIZ CARLOS AZEDO - COM GABARITO

 Debate: Estatuto da Criança e do Adolescente – Fragmento

             Luiz Carlos Azedo – apresentador

        Olá. Está no ar o 3 a 1, aqui na TV Brasil. Eu sou Luiz Carlos Azedo e hoje nós vamos debater a importância do Estatuto da Criança e do Adolescente, que completa vinte anos. Participam dessa nossa conversa Yvonne Bezerra de Mello, coordenadora pedagógica do Projeto Uerê; Luís Fernando de França Romão, membro do Conselho de Adolescentes e Jovens da Associação Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e Defensores Públicos; e Luciana Phebo, coordenadora do Unicef no Rio de Janeiro.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVUjSLZxCvT9YtYLIMUBdRQ3_B3KzTzj5sTrQIPf1XiJXNzt-_lIF-7RAuLcPPI6fKjjX4LYZZ0swuF1rYRjNHBsJJqd9IC6bQ8RGoPd0bEnB61_33dzwkqFtxvDnbIjeoiGzlPe9mVgJ-SaQdFXdyb9Q5qzdxZV54n-5tm_2NhM2AFb62ZslNG_4xd2Q/s320/estatuto-da-crian-a-e-do-adolescente.jpg


        Narradora

        O estatuto voltado para a proteção integral da criança e do adolescente, o ECA, comemorou vinte anos no último dia 13. Resultado de uma ampla mobilização popular, a lei é considerada uma revolução no sistema de garantias individuais. Pela primeira vez, deixava-se bem claro: meninos e meninas são sujeito, e não objeto. Entre os principais avanços grados pela implantação do estatuto estão: a redução de mais de 50% do trabalho infantil, a diminuição de 30% da gravidez na adolescência e a queda de 50% nos casos de mortalidade infantil. Mesmo com essas conquistas, ainda existe uma distância muito grande entre a lei e a realidade. Hoje, enquanto alguns questionam e querem mudar a lei, outros afirmam que o que é preciso mesmo é mudar a realidade.

        Luiz Carlos Azedo

        E aí, dona Yvonne, a senhora que trabalha com esse tema já há mais de vinte anos, que acompanhou todo esse processo de implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente, qual é o balanço que você faz desse...?

      Yvonne Bezerra de Mello – Coordenadora pedagógica do projeto Uerê

        Eu acho o balanço muito positivo. É um instrumento onde o Brasil é pioneiro na proteção de crianças e adolescentes, é um exemplo para o mundo todo. Eu acho que, a partir daí, nós conseguimos avançar e diminuir estatísticas como trabalho infantil e outros no país. Agora, ele tem que ser implementado de fato, e esse é o grande problema, porque isso depende dos políticos. Mas eu acho que a lei é quase perfeita. Eu acho que ela não tem que ser mudada, eu acho que ela tem que ser implementada, e graças a Deus que ela existe.

        Luiz

        É, mas isso é muito curioso, né? Por exemplo, a Rita Camata se queixa de que, toda campanha eleitoral, ela sofre ataques dos adversários e enfrenta dificuldades nas eleições por causa do Estatuto da Criança e do Adolescente, porque ela foi relatora do estatuto. Porque aí responsabilizam ela pelo aumento da criminalidade dos adolescentes, porque os adolescentes não podem ser presos, têm regalias, etc. é... como é que... essa relação entre...

        Yvonne

        Eu acho que isso...

      Luiz

        ... a política e esses problemas ocorrem na prática?

        Yvonne

        Não ocorrem. É porque normalmente quando se pensa em adolescente, se pensa em um adolescente infrator pobre, não é? Mas no Brasil, a lei é para todos: pobres e ricos e médios, não importa, entendeu? Então eu acho o que o pessoal reclama da Rita é que o menor infrator pobre tem que ser mais punido que o menor infrator rico. Então eu acho que isso é irrelevante. O que é relevante é que a lei existe, é uma lei de proteção muito benfeita, e graças que o Brasil a tem, porque assim nós podemos avançar nas políticas públicas no segmento da criança e do adolescente.

      Luiz

        Do ponto de vista das organizações internacionais – o Unicef é um organismo ligado às nações Unidas – qual é a, vamos dizer assim, a expectativa que se tem com relação ao que se faz aqui no Brasil?

      Luciana Phebo – coordenadora do Unicef – RJ

        Com relação a esse cenário internacional, o Brasil vi muito bem. Nós temos aí como referência as metas do milênio, né? O mundo inteiro avançando para que em 2015 as metas sejam alcançadas, e o Brasil vai alcançar a maioria das metas do milênio. E isso muito por conta das políticas públicas, muito por conta do Estatuto da Criança e do Adolescente, mas ainda muito precisa ser feito no país. O estatuto é implementado, esses avanços acontecem, mas não de forma igual. Existem disparidades, diferenças incríveis dentro do Brasil.

        Luiz

        Vocês têm estatísticas, assim, atualizadas com relação a isso aqui no Brasil?

      Luciana

        Com certeza. O Brasil tem estatística atualizada. Isso também é um ponto forte no contexto brasileiro: a informação, o acesso a essa informação, muitas vezes até mesmo para a população. Um dado exemplar do que eu trago aqui em relação às disparidades: a redução da mortalidade infantil, né? Houve um avanço importante no Brasil com relação à taxa de mortalidade infantil (as crianças de menos de 1 ano de idade). Em 1997, a taxa de mortalidade infantil era por volta de 32, ou seja, a cada mil crianças que nasciam, 32 morriam ante de completar 1 ano de idade. Dez anos depois, em 2007, essa taxa de mortalidade cai para 19 (Brasil). ou seja, a cada mil crianças que nascem no Brasil, 19 morrem, mas há uma diferença...

      Luiz

        Isso em termos, assim, comparativos, qual... por exemplo, nos países considerados desenvolvidos, normalmente essa taxa de mortalidade qual é, hein?

      Luciana

        Por volta de dez, abaixo, e fica pelo menos no primeiro dígito, sem... não acima de dois dígitos.

        Luiz

        Então a gente pode dizer que nós estamos quase chegando lá?

        Luciana

        Nós estamos chegando lá, nós atendemos à redução que se coloca aí para as metas do milênio, mas, se nós formos comparar regiões do Brasil, o Nordeste ainda tem uma taxa de mortalidade muito alta (a taxa de mortalidade infantil).

        Luiz

        Tá em quanto?

        Luciana

        Vinte e sete. Enquanto no Sul, na região Sul do país, está abaixo de 13, ou seja, mais do que o dobro. Essas disparidades que nós ainda precisamos enfrentar. Não só as disparidades regionais, mas também as disparidades...

        Luiz

        Agora, isso tá ligado muito ao dinamismo econômico também das regiões, né? As regiões que têm uma economia mais rica, mais forte, têm uma taxa de mortalidade infantil menor, né? Não é só...

      Luciana

        Com certeza o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social, né? E é importante que os nossos governantes, que a nossa sociedade saiba que o desenvolvimento infantil (cuidar bem das crianças pequenas) é um condicionante essencial para o desenvolvimento não só social, como também o desenvolvimento econômico. Não só a economia influencia nessa... na proteção das crianças, dos adolescentes, como também uma região, um país que cuida bem das suas crianças, que aplica o Estatuto da Criança e do Adolescente, também é um condicionante para o desenvolvimento não só social, como também econômico do país.

Luiz Carlos Azedo. TV Brasil, Programa 3 a 1. (Fragmento).

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 86-89.

Entendendo o debate:

01 – Qual o principal foco do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o que ele representou para a garantia dos direitos de crianças e adolescentes no Brasil?

      O principal foco do ECA é a proteção integral da criança e do adolescente. Ele representou uma revolução no sistema de garantias individuais, pois, pela primeira vez, deixou claro que meninos e meninas são sujeitos de direitos, e não objetos.

02 – Quais foram os principais avanços destacados pela implantação do ECA, segundo a narradora?

      A narradora destaca três avanços principais: a redução de mais de 50% do trabalho infantil, a diminuição de 30% da gravidez na adolescência e a queda de 50% nos casos de mortalidade infantil.

03 – Qual a avaliação de Yvonne Bezerra de Mello sobre o balanço dos 20 anos do ECA?

      Yvonne Bezerra de Mello faz um balanço muito positivo. Ela considera o ECA um instrumento onde o Brasil é pioneiro na proteção de crianças e adolescentes, sendo um exemplo para o mundo todo. Para ela, a lei é "quase perfeita" e não precisa ser mudada, mas sim implementada de fato.

04 – Como Yvonne Bezerra de Mello rebate a crítica de que o ECA seria responsável pelo aumento da criminalidade entre adolescentes?

      Yvonne Bezerra de Mello refuta essa crítica afirmando que a lei é para todos (pobres, ricos e médios) e que a reclamação se baseia na ideia de que o menor infrator pobre deveria ser mais punido que o rico. Ela considera essa discussão irrelevante, pois o importante é que a lei existe e é uma lei de proteção muito bem-feita.

05 – De que forma o Brasil se posiciona em relação às metas do milênio no cenário internacional, segundo Luciana Phebo do Unicef?

      Segundo Luciana Phebo, o Brasil se posiciona muito bem em relação às metas do milênio. O país deve alcançar a maioria dessas metas, muito por conta das políticas públicas e do Estatuto da Criança e do Adolescente.

06 – Qual foi a evolução da taxa de mortalidade infantil no Brasil entre 1997 e 2007, e qual é a taxa de mortalidade infantil em países desenvolvidos?

      Em 1997, a taxa de mortalidade infantil no Brasil era de 32 por mil nascidos vivos. Em 2007, essa taxa caiu para 19. Em países desenvolvidos, essa taxa geralmente fica abaixo de dez, no primeiro dígito.

07 – Quais são as disparidades que Luciana Phebo ainda observa na implementação do ECA e no desenvolvimento infantil no Brasil?

      Luciana Phebo observa disparidades significativas na implementação do ECA e no desenvolvimento infantil, principalmente entre as regiões do Brasil. Por exemplo, o Nordeste ainda tem uma taxa de mortalidade infantil muito alta (27), enquanto a região Sul está abaixo de 13. Ela ressalta que essas disparidades estão ligadas ao dinamismo econômico e social das regiões.

 

POESIA: O CONSTANTE DIÁLOGO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poesia: O CONSTANTE DIÁLOGO


            Carlos Drummond de Andrade

Há tantos diálogos

Diálogo com o ser amante

                     o semelhante

                     o diferente

                     o indiferente

                     o oposto

                     o adversário

                     o surdo-mudo

                     o possesso

                     o irracional

                     o vegetal

                     o mineral

                     o inominado.

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhu_9JxFlHfDzxNhdenGZl7zhrcUt437ibE41JWu9E77ZV5DpnYOn2VuB5EV0wDgRDzWy4tJIAcKZgtG1rX3mjiUPuKlJw2YN-H4cXDSAcAZ0FrrD2FCrFFVl7qA7W4zKF_t-BE4JxYOg6wpF6B69jGT_a5lYTnnSuE6T4C6bbPcbBrAFCfSjKXRGb3LfM/s320/29896047-pessoa-conversa-sobre-dentro-desenho-animado-estilo-dialogo-bate-papo-discurso-bolha-falando-pessoas-estoque-ilustracao-vetor.jpg

Diálogo consigo mesmo

                     com a noite

                     os astros

                     os mortos

                     as ideias

                     o sonho

                     o passado

                     o mais que futuro.

 

Escolhe teu diálogo

                     e

Tua melhor palavra

                      ou

Teu melhor silêncio

Mesmo no silêncio e com o silêncio

dialogamos.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa. 8. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002. p. 854-855.

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 146.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é o tema central abordado no poema "O Constante Diálogo"?

      O tema central do poema é a amplitude e a ubiquidade do diálogo na existência humana. Drummond explora as diversas formas e objetos com os quais o indivíduo dialoga, evidenciando que essa interação vai muito além da comunicação verbal entre pessoas.

02 – O poema lista diferentes tipos de "ser amante" com os quais se pode dialogar. Quais são alguns exemplos e o que essa variedade sugere?

      O poema menciona o "ser amante", o "semelhante", o "diferente", o "indiferente", o "oposto", o "adversário", o "surdo-mudo", o "possesso", o "irracional", o "vegetal", o "mineral" e o "inominado". Essa variedade sugere que o diálogo não se restringe apenas a seres humanos ou a interações positivas, mas se estende a todas as formas de existência, incluindo a natureza e aquilo que não pode ser nomeado ou compreendido de imediato.

03 – Além do diálogo com outros seres, com o que mais o eu lírico afirma que se pode dialogar?

      O eu lírico afirma que se pode dialogar consigo mesmo, com a noite, os astros, os mortos, as ideias, o sonho, o passado e o "mais que futuro". Isso mostra que o diálogo também ocorre em um plano interno e transcendental, envolvendo reflexões, memórias e projeções.

04 – Qual é a escolha que o poema apresenta ao leitor na parte final?

      Na parte final, o poema apresenta a escolha entre "Tua melhor palavra" ou "Teu melhor silêncio". Isso sugere que o diálogo pode ser tanto verbal quanto não verbal, e que a sabedoria reside em saber quando usar a palavra e quando optar pelo silêncio, pois "Mesmo no silêncio e com o silêncio / dialogamos."

05 – Como o poema de Drummond amplia a compreensão tradicional de "diálogo"?

      O poema de Drummond amplia a compreensão tradicional de "diálogo" ao mostrar que ele não é apenas uma troca de palavras entre duas ou mais pessoas. Para o poeta, o diálogo é uma condição existencial constante, que abrange interações com o mundo físico, o universo abstrato, o eu interior, e até mesmo com o que parece inanimado ou incompreensível. A essência do diálogo, então, está na conexão e na percepção do mundo e de si mesmo.

 

 

NOTÍCIA: SEGREDOS DA ÁFRICA - FRAGMENTO - SOTIGUI KOUYATÉ - COM GABARITO

 Notícia: Segredos da África – Fragmento

            Sotigui Kouyaté

        O ator e diretor de teatro africano, nascido em Mali, Sotigui Kouyaté conta algumas histórias de seu povo e fala das tradições de seu continente

        O ator e diretor teatral Sotigui Kouyaté tem no currículo experiência de sobra para assegurar a empatia do público e elogios da crítica ocidental. Exemplos disso não faltam, como as diversas peças do dramaturgo inglês Peter Brook de que participou – contato que extrapolou os palcos para ganhar a esfera da amizade. Apesar de ter muitas histórias de oportunidades profissionais para contar, não parece ser esse lado da própria trajetória que mais inspira Kouyaté a falar. Convidado do Sesc Consolação para uma palestra e workshop sobre teatro, preferiu prender a atenção dos presentes com histórias e relatos dos costumes da “pequena parte da África” da qual faz parte, como costuma dizer. Nascido em Bamako, no Mali, é de origem guineana e descendente direto do povo que pertencia ao Império Mandengue – dinastia que, com o Império de Gana, dividia a África em um desenho completamente ignorado pelos europeus durante a colonização. Talvez justamente pelo fato de que boa parte do mundo ainda desconheça o continente africano, Kouyaté aproveitou a ocasião para falar de seu povo, do que lhe é sagrado até hoje – e isso inclui os estrangeiros, “ricos porque trazem aquilo que não conhecemos”, afirma -, contar sobre a relação que tem com os mistérios e os “milagres” da vida e para agradecer a oportunidade de mais um encontro, algo que, segundo ele, está no âmago da civilização africana. A seguir, trechos.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiL_8yGVB0g7sRR8zgRw1-vtk-zf6kzN4uyYPkJiPBIbteCY1dhs4rie7hiS9Nhgt11iSZShATJJdW8Wt-VwmgK-gvsLSN_mifseL_8wq4b4glpMYM4ojqCW0BZ09dCW7k1rGAMocO-YjYGJm3nfN4K24LKkMVkZJP28v-f00_LHFho1J9hheAH3FtaFzw/s320/empire_mansa_musa.jpg

        MEMÓRIA COLETIVA

        A África é imensa, grande e profunda. Muito vasta. Logo, querer falar pela África seria uma grande pretensão. Por isso, escolhi falar sobre a pequena parte da África à qual pertenço, a África do oeste. Na porção oriental do continente, antes da colonização, houve grandes impérios. No século 11, houve o Império de Gana e, no século 13, o Império Mali (Mandengue, na verdade, já que Mali é um nome ocidental). E eu faço parte do que era o Império Mandengue, que abrigava o que hoje é o Senegal, a Gâmbia, a Guiné-Bissau, a Libéria, a Mauritânia, a Guiné, o Mali, Burkina Fasso, o norte da Costa do Marfim e o leste do Níger. Meu sobrenome, Kouyaté, tem origem nesse império e está ligado a sua história. Ele quer dizer “há um segredo entre você e mim”. Sou o que chamamos griot. Os griots são como a memória do continente africano – dessa parte da África da qual falei. São a biblioteca, os guardiões da tradição e da cultura africana, encarregados de organizar todas as cerimônias. A função mais importante de um griot é a de mediador entre o povo, os reis e as famílias – e isso ainda continua. A presença deles é indispensável para o equilíbrio da sociedade africana. A gente não se torna griot, nasce. É algo que se passa de pai para filho. E não somente os homens são griots, existem mulheres também, e elas são muito poderosas. Foi essa minha função de griot que me levou ao teatro. Porque um griot não representa somente as palavras, tem a ver com estar a serviço de todo mundo. Minha mulher diz que eu não sei dizer não. Mas um griot não pode dizer não a uma pessoa que lhe faz uma pergunta, a menos que não possa responder.

        [...]

Revista E, Sesc – SP, nº 117, fev. 2007.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 69-70.

Entendendo a notícia:  

01 – De qual país africano Sotigui Kouyaté é nascido e a qual império antigo ele é descendente direto?

A. Mali e Império Mandengue.

B. Guiné e Império Mali.

C. Senegal e Império de Gana.

D. Mali e Império de Gana.

02 – Qual é a principal função de um griot, conforme descrito por Sotigui Kouyaté?

A. Compor músicas e danças para entretenimento.

B. Representar seu povo em negociações com estrangeiros.

C. Ser o guardião da memória coletiva, tradição, cultura e mediador.

D. Liderar cerimônias religiosas e políticas.

03 – Além de ter participado de diversas peças do dramaturgo inglês Peter Brook, que outra esfera de relacionamento Kouyaté desenvolveu com ele?

A. Uma relação de mentor-discípulo.

B. Uma rivalidade profissional.

C. Uma parceria de negócios.

D. Uma forte amizade.

04 – De acordo com Sotigui Kouyaté, por que os estrangeiros são considerados "ricos"?

A. Por possuírem grandes fortunas materiais.

B. Por facilitarem o comércio internacional.

C. Por trazerem conhecimentos e experiências desconhecidos.

D. Por ajudarem no desenvolvimento econômico da África.

05 – Antes da colonização europeia, quais dois grandes impérios dividiam a África, segundo o texto?

A. Império Mandengue e Império de Gana.

B. Império Songhai e Império Ashanti.

C. Império Mali e Império dos Reinos Hausa.

D. Império Axum e Império Egípcio.

06 – Como a função de griot é transmitida na sociedade africana?

A. Escolha pessoal após anos de estudo e dedicação.

B. É algo que se nasce, passado de pai para filho.

C. Por meio de um treinamento rigoroso e certificação.

D. Através de um processo de eleição pela comunidade.

07 – O que Sotigui Kouyaté destaca como estando "no âmago da civilização africana"?

A. A constante luta contra a colonização e seus legados.

B. A valorização do encontro e da troca entre as pessoas.

C. A capacidade de dizer "não" para preservar a própria cultura.

D. A busca pela riqueza material e expansão territorial.

 

 

POESIA: DESOBJETO - MANOEL DE BARROS - COM GABARITO

 Poesia: Desobjeto

             Manoel de Barros

        O menino que era esquerdo viu no meio do quintal um pente. O pente estava próximo de não ser mais um pente. Estaria mais perto de ser uma folha dentada. Dentada um tanto que já se havia incluído no chão que nem uma pedra um caramujo um sapo. Era alguma coisa nova o pente. O chão teria comido logo um pouco de seus dentes. Camadas de areia e formigas roeram seu organismo. Se é que um pente tem organismo.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR7R10IpJFb9TnM_2stnbtY3IDyyAOPKDeCPtf0Q1VaUu9Nig0dik28V4Og7DSGtDYhh0P3mcDU4vHEsOz-y9AGXQeRwwlvhMHmXP9JO2wSQBpZvaTJTtLXRlva8Y8SPIapaIdIprdzJG-d8q9EuqiBRpfr0n4xmPzdUItGPjEDXefgKjIbXgW9r0l5dg/s320/istockphoto-612378706-612x612.jpg


        O fato é que o pente estava sem costela. Não se poderia mais dizer se aquela coisa fora um pente ou um leque. As cores a chifre de que fora feito o pente deram lugar a um esverdeado musgo. Acho que os bichos do lugar mijavam muito naquele desobjeto. O fato é que o pente perdera sua personalidade. Estava encostado às raízes de uma árvore e não servia mais nem pra pentear macaco. O menino que era esquerdo e tinha cacoete pra poeta, justamente ele enxergara o pente naquele estado terminal. E o menino deu pra imaginar que o pente, naquele estado, já estaria incorporado à natureza como um rio, um osso, um lagarto. Eu acho que as árvores colaboravam na solidão daquele pente.

BARROS, Manoel de. Memórias inventadas. São Paulo: Planeta, 2003.

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 164.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é o objeto central do poema e em que estado ele é encontrado pelo menino?

      O objeto central do poema é um pente. Ele é encontrado pelo menino em um estado de deterioração avançada, "próximo de não ser mais um pente", mas sim "uma folha dentada", ou "uma pedra um caramujo um sapo". O pente está sem dentes, sem "costela" e suas cores originais deram lugar a um "esverdeado musgo".

02 – O que acontece com a "personalidade" do pente à medida que ele se deteriora?

      O poema afirma que o pente perdera sua personalidade. Ou seja, ele deixou de cumprir sua função original e se tornou algo irreconhecível, que não podia mais ser identificado como um pente ou até mesmo um leque. Sua identidade e propósito foram desfeitos pela ação do tempo e da natureza.

03 – De que forma o menino, que "tinha cacoete pra poeta", interpreta o estado do pente?

      O menino, com sua sensibilidade poética, imagina que o pente, em seu estado terminal, já estaria incorporado à natureza. Ele compara o pente a elementos naturais como "um rio, um osso, um lagarto", sugerindo que o objeto perdeu sua forma e função originais para se integrar ao ciclo natural de deterioração e transformação.

04 – Quais elementos da natureza são citados como agentes da transformação do pente?

      O poema menciona diversos elementos da natureza que contribuíram para a transformação do pente: o chão, que "comeu logo um pouco de seus dentes"; camadas de areia e formigas, que "roeram seu organismo"; e as raízes de uma árvore, às quais o pente estava encostado. Além disso, há a menção de "bichos do lugar [que] mijavam muito naquele desobjeto", e a colaboração das árvores na "solidão" do pente.

05 – O que o título "Desobjeto" e a descrição do pente revelam sobre a visão de Manoel de Barros a respeito dos objetos e da natureza?

      O título "Desobjeto" e a descrição do pente revelam a visão peculiar de Manoel de Barros sobre a transitoriedade dos objetos e a capacidade da natureza de reabsorver e transformar tudo. O pente, ao perder sua funcionalidade e forma, deixa de ser um "objeto" no sentido convencional para se tornar parte de um processo natural de decomposição e reintegração. Isso reflete a valorização do poeta pelo trivial, pelo imperfeito e pela beleza encontrada na desconstrução e na ciclicidade da vida.

 

 

 

POESIA: O POETA COMEÇA O DIA - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

 Poesia: O poeta começa o dia

             Mário Quintana

Pela janela atiro meus sapatos, meu ouro, minha alma ao meio da rua.
Como Harum-al-Raschid, eu saio incógnito, feliz de desperdício...
Me espera o ônibus, o horário, a morte – que importa?

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbzB2SNERIuDwlfpOTNKEnRHOI4ZtD9h22HlPjVcxoFW8C2VJMTQCgUyXDjRDRwn2RQTnfe04NY8f8BJEyHM9uRkJF6x4PANnvdk3s65J6WercwzIobpgmudZPZPWXRYycZpEceNRCyB0s1EQNatjgnPx_XGdwaIE0VrKM9sNB13ZM8YMG5x3RPSss-L4/s320/71XVRUY9MGL._UF1000,1000_QL80_.jpg


Eu sei me teleportar: estou agora
Em um Mercado Estelar... e olha!
Acabo de trocar
-- em meio aos ruídos da rua
alheio aos risos da rua –
todas as jubas do Sol

por uma trança da Lua!

Quintana, Mário. 80 anos de poesia. 13. ed. São Paulo: Globo, 2008. p. 165.

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 166.

Entendendo a poesia:

01 – O que o ato de "atirar" sapatos, ouro e alma pela janela simboliza no poema?

      O ato de "atirar" sapatos, ouro e alma pela janela simboliza um desapego radical do poeta em relação aos bens materiais e às preocupações terrenas. É uma libertação das convenções e valores mundanos para abraçar uma existência mais livre e imaginativa.

02 – A que figura histórica o poeta se compara e o que essa comparação sugere sobre sua atitude?

      O poeta se compara a Harum-al-Raschid, um califa lendário conhecido por suas incursões incógnitas entre o povo para observar a vida e buscar conhecimento. Essa comparação sugere que o poeta também busca uma experiência autêntica e sem amarras, agindo de forma "incógnita" e "feliz de desperdício" para absorver a essência do mundo ao seu redor, sem se prender a expectativas ou julgamentos.

03 – Como o poeta lida com as pressões do cotidiano, como "o ônibus, o horário, a morte"?

      O poeta demonstra uma indiferença em relação às pressões do cotidiano. Ele afirma que "o ônibus, o horário, a morte – que importa?", revelando que sua mente transcende essas preocupações mundanas. Ele se vale da capacidade de teleportar-se (metaforicamente, através da imaginação) para escapar da rotina e das limitações da realidade.

04 – Qual é o lugar "mágico" para onde o poeta se teleporta e o que ele faz nesse local?

      O poeta se teleporta para um "Mercado Estelar". Nesse local inusitado, ele realiza uma troca fantástica: "todas as jubas do Sol por uma trança da Lua!" Isso reforça a ideia de que a imaginação do poeta o leva a lugares extraordinários, onde a lógica comum é subvertida e o valor está na beleza e na fantasia, não no material.

05 – Qual é a principal mensagem que o poema transmite sobre a natureza da poesia e a mente do poeta?

      O poema transmite a mensagem de que a poesia é um portal para a liberdade e a imaginação ilimitada. A mente do poeta não se conforma com as trivialidades e as limitações da vida comum; ela busca a transcendência e a capacidade de transformar a realidade através da fantasia. Mesmo em meio ao barulho e à rotina da rua, o poeta é capaz de criar seu próprio universo de significados e maravilhas.

 

 

CONTO: CEM ANOS DE SOLIDÃO - FRAGMENTO - GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ - COM GABARITO

 Conto: Cem anos de solidão – Fragmento

           Gabriel García Márquez

        [...]

        Haviam contraído, na verdade, a doença da insônia. [...] No princípio, ninguém se alarmou. Pelo contrário, alegraram-se de não dormir, porque havia então tanto o que fazer em Macondo que o tempo mal chegava. [...]

        Foi Aureliano que concebeu a fórmula que havia de defende-los, durante vários meses, das evasões da memória. Descobriu-a por acaso. [...] Um dia, estava procurando a pequena bigorna que utilizava para laminar metais, e não se lembrou do seu nome. Seu pai lhe disse: “tás”.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgD8ohWUgt2li4HYC3XpTvkLHsOaerhqQ6PBcULohHcDglQdieX_42izuYbqXAlLxqrytDDjlK8Lc1bW1KTAJjo2Ql1hRMGrGZzJWSRzkjrpZMwwrxI-Ht8E9fUUdPSQ9RCP18IlmHhw3BdarB9ydbVlT6oy8SevT61tZfMADToojN7zgmaWY9hWLrTQ6k/s320/capa-do-livro-cem-anos-de-solidao.jpg


        Aureliano escreveu o nome num papel que pregou com cola na base da bigorninha: tás. Assim, ficou certo de não esquecê-lo no futuro. Não lhe ocorreu que fosse aquela a primeira manifestação do esquecimento, porque o objeto tinha um nome difícil de lembrar. Mas poucos dias depois, descobriu que tinha dificuldade de se lembrar de quase todas as coisas do laboratório. Então, marcou-as com o nome respectivo, de modo que bastava ler a inscrição para identifica-las. Quando o seu pai lhe comunicou o seu pavor por ter-se esquecido até dos fatos mais impressionantes da sua infância, Aureliano lhe explicou o seu método, e José Arcadio Buendía o pôs em prática para toda a casa e mais tarde o impôs a todo o povoado. Com um pincel cheio de tinta, marcou cada coisa com o seu nome: mesa, cadeira, relógio, porta, parede, cama, panela. Foi o curral e marcou os animais e s plantas: vaca, cabrito, porco, galinha, aipim, taioba, bananeira. Pouco a pouco, estudando as infinitas possibilidades do esquecimento, percebeu que podia chegar um dia em que se reconhecessem as coisas pelas suas inscrições, mas não se recordasse a sua utilidade. Então foi mais explícito. O letreiro que pendurou no cachaço da vaca era uma amostra exemplar da forma pela qual os habitantes de Macondo estavam dispostos a lutar contra o esquecimento: Esta é a vaca, tem-se que ordenha-la todas as manhãs para que produza o leite e o leite é preciso ferver para misturá-la com o café e fazer café com leite. Assim, continuaram vivendo numa realidade escorregadia, momentaneamente capturada pelas palavras, mas que haveria de fugir sem remédio quando esquecessem os valores da letra escrita.

        [...]

MÁRQUEZ, Gabriel García. Cem anos de solidão. Tradução de Eliane Zagury. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 48-51. (Fragmento).

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 199-200.

Entendendo o conto:

01 – Qual foi a primeira manifestação da doença da insônia em Macondo e como as pessoas reagiram inicialmente?

      A primeira manifestação da doença foi a incapacidade de dormir. No início, as pessoas não se alarmaram e até se alegraram, pois tinham muito o que fazer em Macondo e sentiam que o tempo não era suficiente.

02 – Quem concebeu a fórmula para defender os habitantes de Macondo das "evasões da memória"?

      Foi Aureliano quem concebeu a fórmula. Ele a descobriu por acaso enquanto procurava uma pequena bigorna e não conseguia se lembrar do nome dela.

03 – Qual foi o método desenvolvido por Aureliano para combater o esquecimento?

      Aureliano começou a marcar os objetos com seus respectivos nomes em papéis, colando-os neles. Quando percebeu que o esquecimento poderia levar as pessoas a não se lembrarem da utilidade das coisas, ele foi mais explícito, descrevendo a função de cada item, como o letreiro na vaca que explicava como ordenhá-la para obter leite.

04 – Como José Arcadio Buendía, pai de Aureliano, reagiu ao método desenvolvido pelo filho?

      José Arcadio Buendía ficou apavorado ao perceber que estava esquecendo até mesmo os fatos mais marcantes de sua infância. Ao saber do método de Aureliano, ele o colocou em prática para toda a casa e, posteriormente, impôs a todo o povoado de Macondo.

05 – Qual era o perigo iminente que Aureliano previu em relação ao esquecimento, mesmo com as inscrições?

      Aureliano percebeu que poderia chegar um dia em que as pessoas reconheceriam as coisas pelas inscrições, mas não se recordariam da sua utilidade. Por isso, ele se tornou mais explícito nas descrições.

06 – Que exemplo é dado no texto para ilustrar a luta dos habitantes de Macondo contra o esquecimento da utilidade das coisas?

      O exemplo dado é o letreiro pendurado no cachaço da vaca, que dizia: "Esta é a vaca, tem-se que ordenha-la todas as manhãs para que produza o leite e o leite é preciso ferver para misturá-la com o café e fazer café com leite."

07 – Como o fragmento descreve a realidade em que os habitantes de Macondo passaram a viver devido à doença da insônia e do esquecimento?

      O fragmento descreve que eles passaram a viver "numa realidade escorregadia, momentaneamente capturada pelas palavras, mas que haveria de fugir sem remédio quando esquecessem os valores da letra escrita."

 

MINICONTO: A CERCA - FRAGMENTO - PATATIVA DO ASSARÉ - COM GABARITO

 Miniconto: A cerca – Fragmento

                 Patativa do Assaré

        Olhe, eu tinha minha cerca lá perto da minha casa na Serra de Santana. Começaram a roubar as varas da cerca para cozinhar em panela, viu? 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjh2tnabL2aEeXgfkHYVQWi8bi33SKmMLVVwwt_mw9lKAybAdUxOXs00VymbQkSP6T9kQZmXarLpXl9LWTdA5mWHfH-Q0Y-EgZEXot-zIuzFQdllhilDR5P_1pRFIg9n71C9is6dxsC0rXpugQrz-uExd9PIprkShmipiTfDExogvz8A9pjSa9942n0jd0/s320/Cercas-De-Madeira.jpg


Ai eu perguntava e todo mundo dizia: não, eu não fui, eu não fui. E eu, sabendo que o matuto tem muito medo de praga, e achando que rogando praga pega, aí eu perdoei a todos quanto tivesse tirado até aquele dia e roguei praga a quem tirasse daquele dia em diante, botei num papel e botei lá na cerca. Aquele que sabia ler, era aquela roda, um lendo e aí melhorou, não buliram mais
não. [...].

ASSARÉ, Patativa do. Digo e não peço segredo. São Paulo: Escrituras, 2001. p. 67. (Fragmento).

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 197.

Entendendo o miniconto:

01 – Qual era o problema que o narrador enfrentava em relação à sua cerca?

      O narrador enfrentava o problema de roubo das varas de sua cerca, que eram utilizadas para cozinhar.

02 – Que estratégia o narrador utilizou para tentar impedir os roubos, sabendo do medo dos matutos?

      O narrador, ciente do medo dos matutos em relação a pragas, perdoou todos os ladrões até aquele dia e rogou uma praga a quem roubasse as varas a partir daquele momento. Ele registrou a praga em um papel e o fixou na cerca.

03 – Qual foi a reação das pessoas ao serem questionadas sobre os roubos?

      As pessoas, ao serem questionadas sobre os roubos, negavam a autoria, dizendo: "não, eu não fui, eu não fui".

04 – Como a estratégia do narrador se mostrou eficaz e por quê?

      A estratégia do narrador se mostrou eficaz porque os roubos cessaram depois que o papel com a praga foi colocado na cerca. A eficácia se deu porque, segundo o narrador, os matutos têm muito medo de praga, e a existência de alguém que sabia ler e transmitia a mensagem amplificava o impacto.

05 – O que esse miniconto revela sobre a cultura e as crenças populares retratadas por Patativa do Assaré?

      O miniconto revela a forte influência das crenças populares e do medo de pragas na cultura do matuto, como retratado por Patativa do Assaré. Mostra como o conhecimento dessas crenças pode ser usado de forma astuta para resolver problemas, mesmo sem a necessidade de intervenção legal ou confrontos diretos. É um exemplo da sabedoria prática e da forma como a oralidade e o imaginário popular se manifestam na vida cotidiana.

 

 

quarta-feira, 11 de junho de 2025

CONTO DE ENIGMA: O INCRÍVEL ENIGMA DO GALINHEIRO - MARCOS REY - COM GABARITO

 CONTO DE ENIGMA: O INCRÍVEL ENIGMA DO GALINHEIRO

 

         Isso aconteceu numa época em que o grande detetive Sherlock Holmes estava aposentado e um tanto esquecido. Em Londres, onde morava, ninguém mais o chamava para elucidar mistérios. Conformava-se, dizendo: não se fazem mais bandidos como antigamente. Meu tio Clarimundo, leitor das aventuras de Sherlock, foi quem decidiu contratá-lo. Mas que não trouxesse seu secretário Dr. Watson, que só servia para ouvir no final de cada caso a mesma frase:

“Elementar, Watson”.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMejgubA-K6xZJz_fe1sLCw2NEwamm7l28F9wv4_aQlfp0zXh8G8-2AcU05bZx0Wr0MZ0LicnOjQa6mc0a-yO-FKN6ptRXsb_3wAOXJLJ2YUqHcjXYex9lPfquOXkqMTu5LfTIz1hllJmZVbP5rS9HXTIbyRGlIZD7xAEq25sz_xV_bHNPwV09y8eJlT8/s320/GALO.jpg


– Mas se trata dum caso tão insignificante – protestou mamãe. – Insignificante?

       Esse enigma está nos pondo malucos.

        Alguém andava assaltando nosso galinheiro. A cada dia sumia uma galinha. Quem faria isso, estando a casa cercada por paredes de imensos edifícios? Não havia muro para saltar. Nem grades para pular. E na casa só morávamos eu, meus pais, tio Clarimundo e Noca, a velha empregada. Um enigma muito enigmático, sim.

        Sherlock Holmes chegou e hospedou-se no quarto dos fundos. Ele, seu boné xadrez, seu cachimbo, lógico, e mais logicamente sua lupa, que aumentava tudo. Chegou anunciando:

        – Chamarei esta aventura “O caso das galinhas desaparecidas”. Ou ficaria melhor “O incrível enigma do galinheiro”?

        – Ambos são bons, mas...

        – Na maior parte das vezes o culpado é o mordomo – informou Sherlock.

        – Onde está o suspeito?

        – Não temos mordomo – lamentou tio Clarimundo.

        – Então me levem à cena do crime.

        Levamos Sherlock ao quintal, pequeno e espremido entre os prédios. Ele tirou a lupa do bolso. Um palito ou folha de árvore, examinava concentradamente. Depois, tomava notas num caderno. Mas, como a viagem o cansara, foi dormir cedo. Na manhã seguinte minha mãe acordou-o com uma informação:

        – Sumiu outra galinha.

       – Esta noite dormirei no galinheiro.

       E dormiu mesmo, sentado numa poltrona. Desta vez eu que o acordei.

       – Mister Holmes, roubaram mais uma galinha.

       A notícia fez com que se decidisse:

       – A história se chamará mesmo “O incrível enigma do galinheiro”.

       – Não estamos preocupados com títulos – rebateu meu tio.

       – Mas meu editor está.

       Neste dia consegui ler o caderno de anotações do detetive. Li: nada, nada, nada. Um nada em cada página. Organizado, não? Também nesse dia Sherlock telefonou a Londres para trocar impressões com o fiel Dr. Watson. Uma fortuninha em chamados internacionais. E as galinhas continuavam desaparecendo, apesar de Sherlock Holmes dormir no galinheiro. Ele já andava falando sozinho.

        – Nem sinal de gato, cachorro, raposa, gambá. Todo o meu prestígio está em jogo. Por fim, restou apenas uma galinha.

        À hora do almoço o famoso detetive, sentindo-se velho e fracassado, sofreu uma crise, chorando na frente de todos. Nós nos comovemos muito com a situação. Um homem daqueles derramar lágrimas... Noca, então, deu um passo à frente e confessou:

       – Eu que roubava as galinhas. Dava às famílias pobres duma favela.

        Sherlock enxugou imediatamente as lágrimas na manga do paletó.

         – Já sabia. Fingi chorar para que ela confessasse.

         – Então desconfiava de Noca? – Perguntou tio Clarimundo. – Encontrei penas de galinha no quarto dela. Elementar, Clarimundo. E o que dizem de comermos a penosa que resta no galinheiro?

         Não sei se foi escrito “O incrível enigma do galinheiro”. Se foi, pobres leitores. Na verdade eu que roubava as galinhas para dar aos favelados. Inclusive quando o detetive dormia no galinheiro. Noca sabia disso e assumiu a culpa em meu lugar.

Elementar, Mister Sherlock Holmes.

(Marcos Rey, Em Vice-Versa ao Contrário. Org. Heloísa Prieto. São Paulo, Companhia das Letrinhas, 1993.)

 

01. Responda.

a. O que é um enigma?

Um enigma é algo de difícil compreensão, um mistério, um quebra-cabeça ou uma questão que precisa ser decifrada ou resolvida.

b. Qual o mistério que trata o texto?

O mistério que o texto trata é o desaparecimento misterioso de galinhas do galinheiro, sem que se saiba quem as está roubando, dada a dificuldade de acesso ao local.

02. Sobre os Elementos da Narrativa, pergunta-se: O narrador desse texto é

a.  Sherlock Holmes.

b. Tio Clarimundo.

c.  Noca. 

d. Sobrinho do tio Clarimundo.

03. Marque a alternativa que indica o momento de maior tensão na narrativa.

a. À chegada de Sherlock Holmes à casa do narrador.

b.  A crise de choro de Sherlock Holmes e a consequente confissão de Noca.

c. O momento que o narrador revela que ele é o ladrão de galinhas.

d. O momento em que Sherlock decide qual será o título da história.

 04. Quem decide contratar Sherlock Holmes?

     a.  A mãe do narrador.

     b. O narrador.

     c. O tio Clarimundo.

     d.  Noca, a empregada.

05. Qual era o enigma a ser resolvido?

     a. O desaparecimento do mordomo.

     b. O roubo das galinhas.

     c. O título da história.

     d. O choro de Sherlock Holmes.

06. Onde Sherlock Holmes dormiu para tentar solucionar o caso?

     a.  No quarto dos fundos.

     b.  Na sala.

     c.  No quintal.

     d. No galinheiro.

07. Quem confessou ser o ladrão das galinhas?

    a. O narrador.

    b.  O tio Clarimundo.

    c.  Sherlock Holmes.

    d.  Noca.

08. Qual era a justificativa para o roubo das galinhas?

   a. Vender as galinhas.

   b. Alimentar a família.

   c. Dar às famílias pobres de uma favela.

   d.  Fazer um banquete.