sexta-feira, 15 de outubro de 2021

CARTAZ: CAMPANHA MATA A INFÂNCIA - MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO -RS - COM GABARITO

 Cartaz: Campanha Mata a infância


Fonte da imagem -https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNW2wDx7PiQuRgiZyW08EuMY1VY8VRHRUdQ0T9JcajYLttx15lB-ajOyTJRikZHPEllwG3Xhn6YI8rN9UpnbdC6QONAKY6opUdi27L1kzl9M-FHv_GKP8-JRopP-HJQPXBTHs2UmM8Hes/s225/mata.jpg

Campanha Quem emprega crianças mata a infância. Ministério Público do Trabalho, RS.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 198-9.

Entendendo o cartaz:

01 – Qual é o objetivo desse texto?

      Manifestar-se contra o trabalho infantil, envolvendo o leitor nessa causa.

02 – Sobre as imagens que compõem o cartaz, responda:

a)   Que ambiente é usado como cenário do cartaz?

Uma cozinha.

b)   Que detalhes da imagem confirmam sua resposta anterior?

Ao fundo observam-se armários e, em primeiro plano, há uma torneira, indicando uma pia de cozinha, cheia de louças a serem lavadas.

c)   Que elementos da imagem estão diretamente associados à infância?

Um ursinho de pelúcia e alguns utensílios domésticos de brinquedo, como xícaras, panelinhas e pratinhos.

d)   Qual pode ter sido a intenção de associar elementos que remetem à infância ao ambiente usado como cenário do cartaz?

Espera-se que o aluno perceba que a intenção é mostrar que o trabalho doméstico prejudica a infância.

e)   Em sua opinião, por que o ursinho de pelúcia está com os olhos tapados por esparadrapos?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Uma forma de representar a privação da infância provocada pelo trabalho infantil.

03 – Releia o texto que aparece no cartaz:

        “Quem emprega crianças mata a infância.”

a)   Em que sentido a forma verbal “mata” foi empregada no texto?

No sentido de retirar, de privar, de não permitir que a criança viva a sua infância plenamente.

b)   Qual é a importância da frase para a compreensão da imagem?

A frase colabora para que o objetivo do cartaz seja alcançado, ela esclarece o que está sendo representado na imagem.

04 – Você acha que as imagens utilizadas no cartaz contribuíram para que a campanha alcançasse seu objetivo?

      Resposta pessoal do aluno. Espera-se que o aluno responda que sim e perceba que as imagens causam impacto, têm caráter apelativo e sugerem que infância e trabalhos domésticos não devem se misturar.

05 – Em sua opinião, que prejuízos o trabalho infantil traz às crianças e adolescentes que o praticam?

      Resposta pessoal do aluno. Professor, discuta com os alunos o fato de que o trabalho infantil prejudica o desenvolvimento psicológico, físico, emocional, intelectual e social da criança e do adolescente. Além da perda de direitos básicos, como educação e lazer, as crianças e adolescentes que trabalham costumam ter outros problemas, como fadiga excessiva, distúrbios do sono, irritabilidade, alergias e problemas respiratórios. Trabalhos que exigem esforço físico extremo podem prejudicar o crescimento, ocasionar lesões na coluna e produzir deformidades. Além disso, os impactos psicológicos também são consideráveis, especialmente na capacidade de aprendizagem, no relacionamento interpessoal e na autoestima. 

06 – O texto mostra que dar emprego a uma criança é uma forma de matar a infância. Em sua opinião, de que outras formas a infância pode ser destruída?

      Infelizmente, as crianças e adolescentes ainda são vítimas dos mais diversos abusos, sejam eles físicos, sexuais ou emocionais. Entre as formas de agressão à criança e ao adolescente estão a exploração sexual, o tráfico humano, o recrutamento para o crime, o abandono etc.

07 – Que consequências a destruição da infância pode acarretar para a sociedade?

      Resposta pessoal do aluno. Professor, discuta com os alunos algumas das consequências políticas, econômicas e sociais do trabalho infantil. As crianças e adolescentes que trabalham tendem a abandonar a escola ou apresentam desempenho abaixo do esperado, o que gera cidadãos menos conscientes e preparados para ingressar no mercado de trabalho e fazer parte da vida em sociedade, alimentando o ciclo da pobreza e da desigualdade. 

08 – Por qual nome é conhecido esse conjunto de leis?

      ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Professor, seria interessante discutir com os alunos algumas características desse conjunto de leis enquanto gênero textual.

09 – Faça uma pesquisa e identifique quais artigos desse conjunto de leis proíbem o trabalho infantil.

      O artigo 60 do capítulo V, que afirma que “É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz”. Professor, leia com os alunos também os artigos 61 a 69, que se referem ao direito à profissionalização e à proteção no trabalho.  

10 – Podemos dizer que esse conjunto de leis é totalmente respeitado em nosso país? Por quê?

      Espera-se que os alunos percebam que não, pois ainda há muitas crianças e adolescentes que não contam com a proteção integral que deveria ser assegurada pelo ECA.

 





CONTO: O PÉ DO DIABO(FRAGMENTO) - ARTHUR CONAN DOYLE - COM GABARITO

 CONTO: O pé do diabo

          Arthur Conan Doyle

        [...]

        Foi na primavera de 1897 que a constituição férrea de Holmes mostrou alguns sintomas de esgotamento em face do trabalho árduo e constante de um tipo extremamente opressivo, agravado, talvez, por imprudências ocasionais dele próprio. Em março daquele ano, o Dr. Moore Agar, de Harley Street, cuja dramática apresentação a Holmes posso contar algum dia, ordenou expressamente que o famoso agente particular abandonasse todos os seus casos e se entregasse a um completo repouso se desejasse evitar um colapso total. O estado de sua saúde não era um assunto que despertasse nele próprio o mais leve interesse, pois seu alheamento mental era absoluto, mas finalmente ele foi induzido, sob a ameaça de ficar permanentemente incapacitado para o trabalho, a se proporcionar uma mudança completa de cenário e ares. Foi assim que, no início da primavera daquele ano, encontramo-nos juntos num pequeno chalé perto de Poldhu Bay, na extremidade da península córnica.

        Era um local singular e peculiarmente adequado ao humor soturno de meu paciente. Das janelas de nossa casinha caiada, no alto de um promontório relvado, contemplávamos todo o sinistro semicírculo da Mounts Bay, aquela antiga armadilha mortal para veleiros, com sua orla de penhascos negros e recifes traiçoeiros, em que muitos homens do mar haviam perdido a vida. Sob uma brisa norte, a baía parecia plácida e abrigada, convidando a embarcação sacudida pela tempestade a entrar em busca de descanso e proteção. Começa então o súbito redemoinho do vento, o vendaval furioso do sudoeste, a âncora pesada, a praia ao abrigo do vento e a última batalha nos vagalhões espumantes. O marinheiro sensato permanece longe desse lugar funesto.

        [...] O encanto e o mistério do lugar, com sua atmosfera sinistra de nações esquecidas, falavam à imaginação do meu amigo, e ele passava grande parte de seu tempo na charneca, em longas caminhadas e solitárias meditações [...], quando de repente, para meu pesar e seu genuíno deleite, encontramo-nos, mesmo naquela terra de sonhos e em nossa própria porta, mergulhados em um problema que parecia mais intenso, mais absorvente e infinitamente mais misterioso que qualquer um dos que nos haviam afastado de Londres. Nossa vida simples, nossa rotina pacata e saudável foram violentamente interrompidas e vimo-nos lançados no meio de uma série de eventos que causaram a mais extrema comoção não apenas na Cornualha, mas em todo o oeste da Inglaterra. Muitos de meus leitores talvez guardem alguma lembrança do que foi chamado na época de “o horror córnico”, embora só um relato extremamente imperfeito do assunto tenha chegado à imprensa de Londres. Agora, passados treze anos, darei ao público os verdadeiros detalhes desse caso inconcebível.

        Como eu disse, as torres espalhadas assinalavam as aldeias que pontilhavam essa parte da Cornualha. A mais próxima delas era o pequeno povoado de Tredannick Wartha, onde as cabanas de uns duzentos habitantes se agrupavam em torno de uma igreja antiga, coberta de musgo. O vigário da paróquia, Mr. Roundhay, era uma espécie de arqueólogo e por isso Holmes travara conhecimento com ele. Era um homem de meia-idade, corpulento e afável, com grande conhecimento das tradições e crenças populares do lugar. A seu convite, havíamos tomado chá no presbitério e conhecêramos também Mr. Mortimer Tregennis, um cavalheiro independente que aumentava os parcos recursos do sacerdote alugando aposentos em sua casa ampla e espalhada. O vigário, sendo um solteirão, apreciava muito esse marmanjo, embora tivesse pouco em comum com seu inquilino, um homem magro, moreno e de óculos, tão encurvado que parecia ter uma deformidade física real. Lembro-me de que, durante nossa curta visita, o vigário nos pareceu loquaz, mas seu inquilino mostrou-se estranhamente reticente, um homem tristonho, introspectivo, que mantinha os olhos desviados de nós, aparentemente ruminando seus próprios negócios.

        Estes foram os dois homens que entraram abruptamente em nossa salinha de estar na terça-feira, 16 de março, pouco depois de tomarmos o desjejum, quando fumávamos juntos, preparando-nos para nossa excursão diária pela charneca.

        “Mr. Holmes”, disse o vigário, alvoroçado, “o fato mais extraordinário e trágico aconteceu durante a noite. É uma história das mais inauditas. Só podemos considerar uma Providência especial que o senhor esteja por acaso aqui neste momento, pois é em toda a Inglaterra o único homem de que precisamos.”

        Fuzilei o importuno vigário com os olhos; Holmes, porém, tirou os cachimbos dos lábios e empertigou-se em sua cadeira como um velho cão de caça que ouve as trombetas. Indicou-lhe o sofá com um gesto, e nosso trêmulo visitante e seu agitado companheiro sentaram-se nele, lado a lado. Mr. Mortimer Tregennis estava mais controlado que o clérigo, mas as contrações de suas mãos e o brilho de seus olhos escuros mostravam que os dois partilhavam a mesma emoção.

        “Quem fala, eu ou o senhor?”, perguntou ele ao vigário.

        “Bem, como o senhor parece ter feito a descoberta, seja ela qual for, e o vigário teve conhecimento dela em segunda mão, talvez seja melhor que fale”, disse Holmes.

        Dei uma olhadela no clérigo vestido às pressas, com o inquilino formalmente vestido sentado a seu lado, e diverti-me com a surpresa que a dedução simples de Holmes produziu em seus semblantes.

        “Talvez seja melhor eu dizer algumas palavras primeiro”, disse o vigário, “depois o senhor poderá decidir se ouvirá os detalhes de Mr. Tregennis, ou se não deveríamos ir depressa, imediatamente, para o cenário desse misterioso acontecimento. Posso explicar, então, que nosso amigo aqui passou o serão, ontem à noite, na companhia de seus dois irmãos, Owen e George, e de sua irmã Brenda, em Tredannick Wartha, a casa deles, que fica perto da velha cruz de pedra na charneca. Ele os deixou, pouco depois das dez horas, jogando cartas em volta da mesa de jantar, em excelente saúde e humor. Costuma acordar cedo, e esta manhã caminhou naquela direção antes do desjejum e foi alcançado pela carruagem do Dr. Richards, que lhe explicou que acabara de receber um chamado de extrema urgência de Tredannick Wartha. Ao chegar à casa, ele encontrou um estado de coisas extraordinário. Seus dois irmãos e a irmã estavam sentados em volta da mesa, exatamente como os deixara, as cartas ainda espalhadas diante deles e as velas queimadas até os bocais. A irmã estava reclinada em sua cadeira, morta, enquanto os dois irmãos, sentados um de cada lado dela, riam, gritavam e cantavam, inteiramente fora de si. Todos três, a mulher morta e os dois dementes, conservavam no rosto uma expressão do mais intenso horror – uma convulsão de terror que era horrível de se ver. Não havia sinal da presença de ninguém na casa, exceto Mrs. Porter, a velha cozinheira e governanta, que declarou que havia dormido profundamente e não ouvira nenhum som durante a noite. Nada fora roubado ou desarrumado, e não há absolutamente nenhuma explicação de qual pode ter sido o horror que matou uma mulher de susto e tirou dois homens fortes de seu juízo. Esta, em resumo, é a situação, Mr. Holmes, e se puder nos auxiliar a elucidá-la terá feito um grande trabalho”. [...]

                         DOYLE, Arthur Conan. O pé do diabo. O último adeus de Sherlock Holmes. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 181-4.

Entendendo o texto:

01 – Como você já sabe, quem narra as aventuras de Sherlock Holmes é seu fiel amigo, Watson, também personagem da história. Trata-se, portanto, de um narrador-personagem. Copie em seu caderno o único trecho que não apresenta as marcas textuais que comprovam a existência de um narrador-personagem.

a)   “Foi na primavera de 1897 que a constituição férrea de Holmes mostrou alguns sintomas de esgotamento em face do trabalho árduo e constante de um tipo extremamente opressivo, agravado, talvez, por imprudências ocasionais dele próprio.”

b)   “Foi assim que, no início da primavera daquele ano, encontramo-nos juntos num pequeno chalé perto de Poldhu Bay, na extremidade da península córnica.”

c)   “Era um local singular e peculiarmente adequado ao humor soturno de meu paciente. Das janelas de nossa casinha caiada, no alto de um promontório relvado, contemplávamos todo o sinistro semicírculo da Mounts Bay [...]”.

d)   “Como eu disse, as torres espalhadas assinalavam as aldeias que pontilhavam essa parte da Cornualha.”

02 – Por que Holmes saiu de Londres e se mudou temporariamente para um vilarejo distante?

      Porque começou a mostrar sinais de esgotamento diante do trabalho árduo e constante, e seu médico, o Dr. Moore Agar, recomendou-lhe repouso completo para evitar um colapso.

03 – Releia o trecho a seguir e observe a expressão destacada:

        “[...] O encanto e o mistério do lugar, com sua atmosfera sinistra de nações esquecidas, falavam à imaginação do meu amigo, e ele passava grande parte de seu tempo na charneca, em longas caminhadas e solitárias meditações [...], quando de repente, para meu pesar e seu genuíno deleite, encontramo-nos, mesmo naquela terra de sonhos e em nossa própria porta, mergulhados em um problema que parecia mais intenso, mais absorvente e infinitamente mais misterioso que qualquer um dos que nos haviam afastado de Londres.”

·        Por que Watson ficou aborrecido ao perceber que estavam diante de uma situação tão intrigante?

Watson sabia que Holmes, contrariando as ordens médicas, não resistiria ao desafio de desvendar o mistério.

04 – Explique resumidamente qual é o mistério a ser desvendado nessa narrativa de enigma.

      Desvendar o que pode ter provocado a morte da irmã de Mr. Tregennis e horrorizado tanto seus irmãos a ponto de deixá-los fora de si.

05 – Releia este trecho descritivo do texto:

        “Era um local singular e peculiarmente adequado ao humor soturno de meu paciente. Das janelas de nossa casinha caiada, no alto de um promontório relvado, contemplávamos todo o sinistro semicírculo da Mounts Bay, aquela antiga armadilha mortal para veleiros, com sua orla de penhascos negros e recifes traiçoeiros, em que muitos homens do mar haviam perdido a vida. Sob uma brisa norte, a baía parecia plácida e abrigada, convidando a embarcação sacudida pela tempestade a entrar em busca de descanso e proteção. Começa então o súbito redemoinho do vento, o vendaval furioso do sudoeste, a âncora pesada, a praia ao abrigo do vento e a última batalha nos vagalhões espumantes. O marinheiro sensato permanece longe desse lugar funesto.

·        Em seu caderno, transcreva as palavras ou expressões utilizadas para caracterizar os seguintes elementos destacados no trecho:

A casinha – caiada.

A armadilha – antiga e mortal para veleiros.

A âncora – pesada.

O promontório – relvado.

Os penhascos – negros.

O lugar – funesto.

O semicírculo da baía Mounts Bay – sinistro.

Os recifes – traiçoeiros.

O redemoinho de vento – súbito.

O vendaval – furioso.

06 – A que classe gramatical pertencem as palavras e expressões que você transcreveu?

      À classe dos adjetivos e das locuções adjetivas.

07 – Em sua opinião, qual pode ter sido a intenção do autor ao usar essas palavras e expressões para caracterizar os elementos que compõem a cena?

      Resposta pessoal do aluno. Espera-se que o aluno perceba que a escolha dos adjetivos e das locuções adjetivas contribui para o envolvimento do leitor em um clima de mistério, confirmando o fato de o caso ser “infinitamente misterioso” e, assim, despertando sua curiosidade.

 

ROMANCE: A NUVEM(FRAGMENTO) - GUDRUN PAUSEWANG - COM GABARITO

 Romance: A nuvem (fragmento)

     […]

        – Vamos embora sozinhos! – disse Janna-Berta com determinação. – De bicicleta.

        Um sorriso iluminou o rosto de Uli. Adorava andar de bicicleta. Janna-Berta ordenou que ele buscasse a sacola de plástico com as roupas no porão e vestisse sua jaqueta. […] Já conformada com a ideia de que Uli não sairia de casa sem ele, autorizou o urso de pelúcia que ele segurava decididamente nos braços. Fechou rapidamente a porta do terraço, pegou sua jaqueta e saiu de casa com Uli. Pediu que ele se apressasse.

        Desceram correndo a escada e tiraram suas bicicletas da garagem. Janna-Berta prendeu a sacola de plástico, o urso e a jaqueta na garupa de Uli. Na dela, colocou a mochila e em seguida partiram.

        […]

        Passando as últimas casas, chegaram a uma linha férrea que se encontrava num elevado paralelo à estrada nacional para Bad Hersfeld. Uma trilha estreita margeava o elevado. Janna-Berta decidiu tomar aquele caminho. Já que ele era estreito demais para os carros, eles o tinham todo para si.

        […]

        O caminho ficava cada vez mais estreito. Dos dois lados a vegetação quase se fechava, batendo no rosto de Uli. Os últimos rastros do caminho perdiam-se num pasto.

        Uli chorava e Janna-Berta também sentia dificuldades em segurar as lágrimas. Desceram das bicicletas, deixando-as cair no chão. Janna-Berta arrependia-se por não terem ido com os Jordan. Uli agarrou-se a ela e Janna-Berta o abraçou. E agora? Voltar à aldeia e procurar um outro caminho para o norte?

        Já eram quase três horas.

        De repente escutaram motores vindo de trás do elevado. Levantaram as bicicletas e arrastaram- -nas para cima do elevado. Janna-Berta tropeçou e caiu escorregando para baixo. Uli foi o primeiro a chegar ao topo.

        – Janna-Berta – gritou agitado –, lá embaixo tem um caminho ótimo, tão bom quanto uma estrada!

        Ela empurrou a bicicleta para cima do elevado. Viu Uli do outro lado, subindo no selim, e percebeu o ruído de um carro passando logo abaixo. Enquanto carregava sua bicicleta por sobre os trilhos, notou o imenso campo de colza em flor, antes escondido de sua vista. Como brilhava!

        Depois, viu ainda como Uli, triunfante, levantava os braços antes de largar-se declive abaixo, montando em sua bicicleta.

        – Cuidado! – gritou ela. – Você não pode… pelo cascalho…

        Nesse momento, Uli já voava por cima do guidão e caia sobre o caminho largo, onde um carro se aproximava em alta velocidade. A bicicleta tinha virado. O urso de pelúcia foi arremessado da garupa e parou no sopé do declive.

        – Uli! – gritou Janna-Berta.

        O motorista do carro não freou. Ouviu-se um baque surdo, e o carro continuou disparado, deixando atrás uma nuvem de poeira.

        Petrificada de espanto, Janna-Berta permaneceu no elevado. A nuvem de poeira dissipou-se e lá embaixo estava Uli estendido no chão. Não muito longe dele, o ursinho de pelúcia e a bicicleta. Apenas o guidão estava amassado. A roda dianteira ainda rodava. A cabeça de Uli, coberta pelo capuz, parecia estranhamente achatada sobre uma poça de sangue que aumentava a cada momento. Janna-Berta jogou a bicicleta no chão, desceu correndo pelo declive e ajoelhou-se ao lado de Uli. Acariciou sua mão, que ainda estava quente. Ela não se importava com a fila de carros vinda atrás de si. Ali estava Uli. Por ali ninguém podia passar. Ela permanecia agachada no meio do caminho.

        O primeiro carro freou. Um homem de barba e uma mulher ruiva desceram. Atrás deles, as buzinas disparavam furiosamente. O barulho aumentava cada vez mais. A ruiva levantou Janna-Berta:

        – Vocês também queriam ir à estação de Bad Hersfeld, não é?

        – Entre! – disse o barbudo. – Vamos levar você. As crianças se apertam um pouco.

        – Uli tem de vir também – disse Janna-Berta.

        – Uli? – perguntou a mulher. – Você quer dizer…

        Janna-Berta jogou a cabeça para trás e enfrentou a mulher com um olhar furioso.

        – Ele é meu irmão! – gritou.

        – Você não pode mais ajudá-lo agora – sussurrou o barbudo.

        […]

        Ele jogou a bicicleta de Uli nas moitas, levantou Uli do chão, entrou alguns passos no campo de colza e o deitou ali. Quando voltou, sua camisa estava cheia de sangue.

        – Não! – gritou Janna-Berta. – Não!

        Ela tentou correr para o campo de colza, mas a mulher a segurou. Janna-Berta quis se soltar batendo para todos os lados, até que o barbudo deu-lhe uma sonora bofetada. Aí ela desmoronou e se deixou levar para o carro, sem resistência.

        Assustadas, as três meninas espremeram-se no banco de trás.

        – Rápido! – gritou a ruiva. – Senão eles vêm para cima da gente.

        O homem e a mulher pularam em seus assentos, bateram à porta e partiram, seguidos pela fila de carros. A parada não consumiu mais que três minutos. Os dois adultos ficaram em silêncio. As crianças também. Janna-Berta não registrava mais nada. Apenas levantou a cabeça quando pararam num gramado ao lado do rio Fulda e a mulher tirou as meninas do carro. Por perto havia algumas casas. Isso deveria ser Bad Hersfeld. Ouviam-se trovões.

        […]

PAUSEWANG, Gudrun. A nuvem. São Paulo: Global, 2002.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 44-6.

Entendendo o romance:

01 – Que sentimentos esse texto despertou em você?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Releia os três primeiros parágrafos para responder às questões a seguir:

a)   Nesse trecho inicial da história, são narradas várias e sucessivas ações das personagens de forma bastante breve. Que efeito isso produz, considerando o contexto vivido por Janna-Berta e seu irmão?

As ações narradas dessa forma transmitem a pressa, a ansiedade e o desespero dos irmãos ao tentar sair logo de casa.

b)   Uli sorri ao saber que ele e a irmã fugirão de bicicleta e insiste em levar seu ursinho de pelúcia. O que esses fatos revelam sobre ele?

Que ele ainda é uma criança pequena, bastante inocente, e que não tem noção do risco que ele e a irmã estão correndo.

03 – Onde Janna-Berta e Uli pretendiam chegar?

      A uma estação de trem de Bad Hersfeld.

04 – Releia:

        “Passando as últimas casas, chegaram a uma linha férrea que se encontrava num elevado paralelo à estrada nacional para Bad Hersfeld. Uma trilha estreita margeava o elevado. Janna-Berta decidiu tomar aquele caminho. Já que ele era estreito demais para os carros, eles o tinham todo para si.

        […]

        O caminho ficava cada vez mais estreito. Dos dois lados a vegetação quase se fechava, batendo no rosto de Uli. Os últimos rastros do caminho perdiam-se num pasto.”

a)   Por que Janna-Berta decidiu não ir pela estrada e sim por uma trilha paralela?

Porque imaginou que os carros não conseguiriam passar por ali, deixando o caminho só para ela e Uli, que seguiam de bicicleta.

b)   O que foi acontecendo com a trilha, conforme os dois irmãos seguiram por ela?

A trilha foi se estreitando, diminuindo, perdendo-se em meio ao pasto e terminando em um morro.

05 – Na sequência do texto, o que fez Janna-Berta e Uli sentirem vontade de chorar?

      O fato de perceberem que o caminho em que seguiam havia acabado em um morro, deixando-os amedrontados.

06 – Ao ouvirem barulho de motores, o que os dois irmãos concluíram sobre o que havia do outro lado do elevado?

      Concluíram que havia uma estrada, já que carros estavam passando por ali.

07 – Releia este trecho:

        “– Janna-Berta – gritou agitado –, lá embaixo tem um caminho ótimo, tão bom quanto uma estrada!”

• Considerando o contexto, conclui-se que a agitação de Uli era positiva ou negativa?

      Era positiva, pois ele viu que havia um caminho por onde poderiam prosseguir.

08 – Explique como foi a morte de Uli.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Uli decidiu descer o declive de bicicleta, mas o morro estava coberto de cascalho. Ele escorregou da bicicleta e caiu na estrada, onde um carro passou por cima de sua cabeça.

09 – Ao assistir ao que aconteceu ao irmão, Janna-Berta ficou “petrificada de espanto”. O que isso significa?

      Significa que ela ficou sem reação, paralisada.

10 – Ao aproximar-se do irmão morto, Janna-Berta ficou agachada ao seu lado, no meio da estrada.

• Por que as pessoas buzinavam furiosamente, ignorando o fato?

      Porque Janna-Berta estava impedindo o caminho.

11 – Por que o homem barbudo deu uma bofetada em Janna-Berta?

      Porque ela estava agitada com a morte do irmão e era preciso controlá-la para todos saírem dali com urgência.

• Qual é a sua opinião sobre essa atitude do homem?

      Resposta pessoal do aluno.

PEÇA TEATRAL: A FUGA - RENATO ARLEM - COM GABARITO

 Peça teatral: A fuga

   Renato Arlem

Maria Lúcia (lugar-tenente)

Helena (chefe)

Jorge (chefe)

Gabi (medrosa)

Lúcia (medrosa)

Joana (quieta)

Mariana (brigona)

Renata

Juliana

Paulo

(Uma casa vazia só com um telefone. O bando chega, menos Paulo e Juliana.)

Helena: É aqui?

Gabi: De quem é essa casa?

Jorge: É do meu pai. Está desalugada.

Joana: E se descobrem?

Helena: Como vão descobrir?

Gabi: E se chamam a polícia?

Jorge: Claro que vão chamar a polícia, mas nunca vão pensar que viemos para uma casa vazia.

Renata: E quando é que a gente vai viajar?

Maria Lúcia: Calma, Renata. Primeiro a gente se instala aqui.

Joana: Minha mãe vai ficar muito nervosa.

Helena: E não é isso que a gente quer? Quando eles ficarem bem velhos a gente telefona e exige respeito.

Joana: Vou telefonar agora.

Jorge: Vai coisa nenhuma. Primeiro o susto. Depois a gente apresenta nossas reivindicações.

Gabi: Não quero, não.

Renata: Nem eu. Quero a minha mãe.

Helena: Olha aqui, menina covarde, se você pegar neste telefone vai se ver comigo.

Joana: Cadê Juliana e o Paulo?

Helena: Devem estar chegando. Olha na janela, anda Gabi.

(Gabi volta.)

Gabi: Lá vêm eles.

(Entram Juliana e Paulo cheios de compras de supermercado.)

Juliana: Legal esta casa.

Paulo: Compramos tudo.

Mariana: Trouxe o meu Toddy?

Paulo: Não. Nescau.

Mariana: Mas eu pedi Toddy.

Paulo: E daí?

Mariana: Você é um chato.

Paulo: Leite, Nescau, pão, chocolate.

Mariana: Me dá um.

Helena: Agora não. Temos que economizar.

Gabi (Gorda.) Quando é o almoço?

Helena: Calma, Gabi. Primeiro vamos nos instalar. Vamos ver a casa.

Gabi: Tô com uma fome!

(Saem Helena, Jorge, Maria Lúcia, Mariana, Juliana e Paulo.)

Lúcia: Não sei o que estou fazendo aqui.

Gabi: Nem eu.

Renata: Vamos fugir?

Lúcia: Helena me mata.

Gabi: Será que isto vai dar certo?

Lúcia: Se os pais da gente caírem, dá.

Renata: Meu pai não vai cair e ainda vai me dar uma surra.

Gabi: O que é que vocês vão pedir?

Lúcia: Vou exigir que papai se case de novo com mamãe.

Renata: Mas isto não vale, nós combinamos. Isto é assunto deles. A gente não pode se meter.

Gabi: Eu vou exigir da minha mãe que ela fique mais em casa.

Renata: Mas por que é que ela tanto sai?

Gabi: Cabelo, unha, jogo, amigas.

Renata: Mas ela não está separada do teu pai, está?

Gabi: Não, isto não. Mas é pior. Está separada da gente. Vive na rua.

Lúcia: À minha, vou exigir que pare de me pôr de castigo quando não estudo. Afinal, não sou mais uma criancinha.

Renata: Ao meu pai, que pare de tanto viajar e depois pare também de fingir que é um pai bom.

Lúcia: O que ele faz?

Renata: Quando chega de viagem começa a beber, a ler jornal e ainda diz que ama a família acima de tudo.

Lúcia: E vocês, que fazem?

Renata: A gente vê logo que é bafo porque ele só pensa em ganhar dinheiro. Bebe, bebe, bebe e dorme. Mamãe diz que ele está cansado e assim ele nunca conversou com a gente. Ignora nossa existência. E compra a gente com ­dinheiro. Por isso é que pude dar mais para o bolo.

Lúcia: Valeu!... O meu, para dizer a verdade, prefere ler jornal a conversar com a gente.

(Voltam os outros.)

Helena: A casa está toda depredada.

Jorge: O único lugar bom é este aqui.

Maria Lúcia: Acho melhor a gente se arrumar aqui mesmo.

Mariana: Cadê o rádio, Jorge?

Jorge: Tá aqui na mochila. Será que dizem alguma coisa?

Mariana: Liga. Tá na hora das notícias.

(Ouve-se música, depois a voz do repórter.)

Repórter: (Alto-falante.) E de novo o caso do desaparecimento de 10 crianças de um dos bairros mais elegantes da cidade. Depois dos comerciais. “Se você se sente presa, incomodada, use Sempre Livre.” E agora ouviremos o apelo de Dona Lúcia, mãe de uma das crianças.

Mariana: É mamãe!

Voz: Estou desesperada. Minha filhinha querida sumiu de casa desde ontem. Não aguento mais. Minha filhinha adorada foi raptada, garanto!

Mariana: Agora sou filhinha adorada! Nunca deu a menor bola para mim. Vivia na rua. Seus clientes eram muito mais importantes.

Todos: Psiu!!!

Repórter: Vai falar o Dr. Souza Aguiar, pai da menina Helena.

Pai: Se é dinheiro que querem estes raptores, pago o que quiserem. Quero minha filhinha de volta.

Helena: Ué, hoje não é dia de jogo? O que é que ele está fazendo no rádio?

Jorge: Desliga isto. (Desligam.)

Juliana: E agora, gente?

Paulo: Deixa eles sofrerem um pouco.

Joana: Minha mãe, garanto que ainda nem reparou. Está ocupada demais com o novo namorado.

Mariana: Os meus vão ter que ver comigo. Me prendem tanto em casa que não vou a uma festa!

Juliana: A minha mãe vai largar meu pai, não é? Pois então vou largar ele também.

Maria Lúcia: Tô com fome.

Helena: Vamos comer.

(Aparece um aluno com uma tabuleta ou o alto-falante anuncia: três dias depois, todos estão caídos pelos cantos, meio desgrenhados.)

Maria Lúcia: Tô com fome.

Renata: Eu também.

Helena: Para de ter fome, Maria Lúcia.

Gabi: Quero ir para casa!

Renata: Quero minha mãe.

Helena: Covardes!

Jorge: É preciso aguentar mais um pouco.

Mariana: E você vai arrumar mais comida, vai?

Jorge: Claro que vou.

Mariana: Com que dinheiro?

Helena: Acabou tudo. Também, vocês comem demais.

Juliana: E você, não?

Gabi: Não quero mais fugir não. Quero meu pai!

Joana: Estou me sentindo mal. Tô com dor de barriga.

Paulo: Essa casa é uma droga. Não sei quem teve essa ideia!

Joana: Quero voltar para minha casa. Quero meu pai, quero minha mãe.

Helena: Mas sua mãe não é uma chata?

Joana: É chata, sim, mas eu quero ela!

Gabi: Estou toda torta. Não aguento mais dormir neste chão. Quero minha cama.

Maria Lúcia: Tô com fome.

Joana: Droga! Droga! Droga!

Jorge: Então vamos telefonar para nossos pais e fazer as reivindicações.

Juliana: Não quero reivindicação nada, quero minha mãe!

Helena: Vou ligar o rádio. (Toca alguma música da moda.)

Jorge: Vamos dançar. (Os dois tentam dançar.)

Mariana: Dançar coisa nenhuma! Quero minha mãe.

(Todos gritam em cima da música.)

Todos: Quero minha mãe!! Quero meu pai! Quero minha casa!

 Machado, Maria Clara. Exercícios de palco. 2. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1996.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 98-102.

Entendendo a peça teatral:

01 – Por que as crianças fugiram de casa? O que reivindicavam?

      Reivindicavam mais atenção dos pais, possibilidade de convivência com eles e mais liberdade.

02 – É possível supor a idade das personagens? Como você chegou a essa conclusão?

      As personagens devem ter uma idade aproximada de 9 a 11 anos. A rádio anuncia o desaparecimento de crianças. O teor da conversa durante a peça auxilia na formação de uma ideia a respeito disso.

03 – É possível afirmar que todas as personagens que falam no texto encontram-se no mesmo espaço físico? Explique sua resposta.

      Não, as crianças estão em uma casa vazia, desalugada, mas, no texto, ainda aparecem falas do repórter e dos pais das crianças desaparecidas, que estão em outro lugar, no estúdio de uma estação de rádio.

04 – Em determinado momento da narrativa, há uma mudança de direção na história. Que mudança é essa? Localize no texto a frase que introduz esse momento.

      Com o tempo, as crianças começam a se cansar da situação e sentem fome e saudade da família. A frase que inicia essa mudança é: “(Aparece um aluno com uma tabuleta ou o alto-falante anuncia: três dias depois, todos estão caídos pelos cantos, meio desgrenhados.)”

05 – Depois dos acontecimentos descritos na história, a que conclusão as crianças chegaram a respeito da vida que levavam com os pais?

      Chegaram à conclusão de que, apesar de tudo, era melhor a vida em casa com os pais do que a aventura.

06 – Em sua opinião, a saída das crianças de casa poderia provocar uma mudança de atitude dos pais e dos filhos? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.

07 – Se você vivesse problemas parecidos com os das personagens, o que faria para tentar resolvê-los?

      Resposta pessoal do aluno.

08 – Em sua opinião, a que público se dirige essa peça? Por quê?

      A peça se dirige ao público em geral, inclusive aos jovens. Ela tanto interessa aos filhos como aos pais, pois enfoca problemas comuns nas famílias.

09 – Em quanto tempo se passa a história? Que recurso a autora utilizou para indicar esse tempo?

      Três dias. Um aluno entraria no palco com uma tabuleta para anunciar esse tempo ou ele seria informado por um alto-falante.

10 – Nesse texto, é possível identificar claramente algum narrador?

      Não, no texto não há o registro claro de alguém que conta a história.

11 – No texto dramático, para que servem as expressões entre parênteses?

      Elas servem para indicar características, gestos ou ações das personagens, além de detalhes sobre cenário, sonoplastia, etc.