Lenda: A história de Chico Rei
Theobaldo Miranda Santos
Um rei negro da África foi derrotado em
combate e feito prisioneiro. O vencedor destruiu as aldeias, as plantações e os
rebanhos do vencido. Depois, reuniu o rei, a rainha, os príncipes e os chefes
guerreiros da nação derrotada, e os vendeu a todos, como escravos, para o
Brasil.
Chegando ao Novo Mundo, o rei negro foi
comprado, com sua mulher, filhos e alguns vassalos, por um proprietário de
minas de ouro. Marcharam a pé para Minas Gerais. O rei, de calças de algodão, o
busto nu, caminhava à frente dos escravos, de cabeça erguida, como se fosse
ainda o soberano daquela gente.
Ficaram todos em Vila Rica. O rei negro
foi batizado com o nome de Francisco. Mas os outros escravos, que o respeitavam
e admiravam, chamavam-no Chico Rei. Perseverante e obstinado, o negro
trabalhava nas minas, sem pausa nem descanso. A bateia, em suas mãos duras e
fortes, agitava-se sem cessar, como se fosse uma máquina. Os outros escravos,
seus antigos guerreiros, seguiam o exemplo do rei. De modo que torrentes de pepitas
de ouro jorravam das mãos daqueles trabalhadores incansáveis, enriquecendo,
cada vez mais, o seu senhor.
Anos e anos de trabalho e privações
permitiram a Chico Rei juntar o dinheiro necessário para sua alforria e a de
sua mulher.
Continuando a economizar, Chico Rei
libertou seus filhos e, em seguida, os vassalos que o haviam acompanhado na
escravidão. Mais tarde, conseguiu comprar um pedaço de terra na Encardideira.
Quando foi revolvê-lo para a plantação, descobriu uma mina de ouro. E Chico Rei
ficou rico, aumentando o grupo de escravos libertados que o seguiam e
veneravam. Usando manto de veludo e coroa de ouro, Chico Rei era aclamado nas
festas de Nossa Senhora do Rosário, como um verdadeiro soberano.
Em sua volta, dançavam, cantavam negros
e negras, entusiasmados com o garbo e o luxo de seu chefe. No dia 6 de janeiro
de cada ano, saía da Encardideira um cortejo monumental de negros, trajados de
seda e enfeitados de ouro, como se fosse um Reino da África, bailando nas ruas
de Vila Rica, em louvor da Padroeira dos Escravos. À frente, vinham Chico Rei,
a rainha, suas filhas e damas de honra, todas com as carapinhas empoadas de
ouro.
Quando terminava a festa, a rainha e
suas vassalas banhavam a cabeça na pia de pedra que há no Alto da Cruz. No
fundo da pia, ficava, brilhando, todo o ouro que enfeitara os penteados das
negras. Esse ouro era utilizado para libertar outros escravos. Por isso, em
Minas Gerais, ninguém esquece Chico Rei, o negro soberano, generoso e heroico, que
venceu o destino, conquistou a liberdade e concorreu, com o melhor do seu
esforço, para a grandeza e a prosperidade da boa terra que o acolheu.
SANTOS, Theobaldo
Miranda. Lendas e mitos do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2004.
Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º
ano – Ensino Fundamental – IBEP 5ª edição – São Paulo, 2018, p. 200-3.
Entendendo a lenda:
01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·
Bateia: recipiente de fundo cônico usado em garimpo.
·
Carapinha: cabelo muito
crespo.
·
Garbo: elegância, distinção.
·
Obstinado: firme,
persistente, tenaz, inflexível.
·
Perseverante: persistente, constante, firme, que permanece.
·
Vassalo: título dado ao subordinado de um soberano, de um
rei.
02 – Releia o primeiro parágrafo:
“Um
rei negro da África foi derrotado em combate e feito prisioneiro. O vencedor
destruiu as aldeias, as plantações e os rebanhos do vencido. Depois, reuniu o
rei, a rainha, os príncipes e os chefes guerreiros da nação derrotada, e os
vendeu a todos, como escravos, para o Brasil.”
a)
Que costume
frequente na África até o século XIX é apresentado nesse trecho?
O costume de aprisionar ou escravizar pessoas da
nação derrotada em combate, inclusive reis, príncipes e chefes guerreiros.
b)
Pesquise
outros povos europeus e asiáticos que tinham a mesma prática. Depois, combine
com o professor para apresentar o que pesquisou aos colegas.
Resposta pessoal do aluno.
c)
Qual é a
origem dos personagens mencionados na lenda que foram vendidos para serem
escravizados no Brasil?
Os personagens eram africanos.
03 – Como era a vida de Chico Rei em seu país de origem?
Na África, Chico era rei, vivia com sua mulher e
filhos e tinha vários vassalos.
04 – Leia o texto a seguir.
Depois de capturados e
negociados com os mercadores europeus, os africanos apresados sofriam várias
punições físicas e eram submetidos a diversas privações. A falta de alimento
era uma terrível tática pela qual os traficantes buscavam viabilizar o controle
dos africanos submetidos. Quando alimentados, os africanos recebiam uma débil
dieta composta por carne seca, farinha de mandioca e arroz.
Com o passar do tempo, a
exposição do corpo àquela situação degradante acabava transformando os porões
do navio negreiro em um foco disseminador de epidemias. O escorbuto era uma das
doenças mais facilmente contraídas, em razão da carência de vitamina “C” na
alimentação dos tripulantes. [...]
O medo de uma revolta de
escravizados dentro de uma embarcação era muito grande. No longo período em que
permaneciam juntos, muitos africanos passavam a se solidarizar e tramar planos
de rebelião contra seus algozes.
[...]
SOUSA, Rainer. O transporte dos escravos. Alunos on-line,
Goiânia. Disponível em: https://bit.ly/2OutD9R. Acesso em: 15 ago. 2018.
·
Agora releia o
trecho abaixo de “A história de Chico Rei”:
“Chegando
ao Novo Mundo, o rei negro foi comprado, com sua mulher, filhos e alguns
vassalos, por um proprietário de minas de ouro. Marcharam a pé para Minas
Gerais.”
a)
Como os
africanos escravizados chegaram ao Brasil?
Chegaram de navio.
b)
O que você
pensa sobre o modo como essas pessoas eram tratadas? Explique.
Resposta pessoal do aluno.
c)
Mesmo feito
escravo, assim como seus vassalos, qual era a postura de Chico Rei ao marchar a
pé para Minas Gerais?
Caminhava à frente dos africanos escravizados de
cabeça erguida, como se fosse ainda o soberano daquela gente.
05 – Qual foi a atitude de Chico Rei para conquistar sua liberdade?
Durante anos e anos, Chico trabalhou sem descanso,
juntando dinheiro para comprar sua carta de alforria.
06 – Que fama Chico Rei conquistou em Minas Gerais? Por quê?
A fama de um herói generoso e soberano, que
conquistou a liberdade e contribuiu para a grandeza e prosperidade da terra que
o acolheu.
07 – Releia outro trecho da lenda.
“[...] Perseverante
e obstinado, o negro trabalhava nas minas, sem pausa nem descanso. A bateia, em
suas mãos duras e fortes, agitava-se sem cessar, como se fosse uma máquina. Os
outros escravos, seus antigos guerreiros, seguiam o exemplo do rei. [...]”
[...]
“Continuando a economizar, Chico Rei
libertou seus filhos e, em seguida, os vassalos que o haviam acompanhado na
escravidão. Mais tarde, conseguiu comprar um pedaço de terra na Encardideira.
Quando foi revolvê-lo para a plantação, descobriu uma mina de ouro. E Chico Rei
ficou rico, aumentando o grupo de escravos libertados que o seguiam e
veneravam.”
a)
O que a postura de Chico Rei revela sobre
seus valores e atitudes?
Chico Rei continuou a se comportar com um rei, dando exemplo aos
seus súditos e criando estratégias para libertar sua família e vassalos da
escravidão.
b)
Por que Chico Rei continuou a libertar outros
africanos escravizados?
Porque Chico Rei era solidário e generoso.
08 – Pesquise na internet ou
em livros de História: Há registros históricos da existência de Chico Rei?
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: O único registro é uma nota de rodapé, sem nenhuma
comprovação documental, escrita por Diogo de Vasconcelos, em seu livro História
antiga de Minas, de 1904.
09 – Agora, releia mais um
trecho da lenda:
“Ficaram
todos em Vila Rica. O rei negro foi batizado com o nome de Francisco. Mas os
outros escravos, que o respeitavam e admiravam, chamavam-no Chico Rei.”
a)
Que cidade hoje é Vila Rica em Minas Gerais?
Se houver necessidade, pesquise na internet ou em livros de História.
Hoje, a cidade de Vila Rica tem o nome de Ouro Preto.
b)
Pesquise na internet ou nos livros de
História: Por que os africanos escravizados tinham seus nomes modificados? Que
consequência essa atitude pode ter causado aos registros da nossa história?
Resposta pessoal do aluno.