terça-feira, 7 de julho de 2020

CRÔNICA: UMA SURPRESA PARA DAPHNE - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

Crônica: Uma surpresa para Daphne

               Luís Fernando Veríssimo

        Daphne mal podia acreditar nos seus ouvidos. Ou no seu ouvido esquerdo, pois era neste que chegava a voz de Peter Vest-Pocket, através do fone.

        -- Daphne, você está ai? Sou eu, Peter.

        Quando finalmente conseguiu se refazer da surpresa, a pequena e vivaz Daphne – era assim que a legenda de sua foto como debutante no Tattler a descrevera, anos atrás – esforçou-se para controlar a sua voz.

        -- Você quer dizer o sujo, tratante, traidor, nojento desprovido de qualquer decência ou caráter, estupido e desprezível Peter Vest-Pocket?

        -- Esse mesmo. É bom saber que você ainda me ama.

        -- Seu, seu...

        -- Tente porco.

        -- Porco!

        -- Foi por isso que deixei você, Daphne. Você sempre faz o que eu mando. Era como viver com um perdigueiro. Agora acalme-se.

        -- Porco imundo!

        -- Está bem. Agora acalme-se. Pergunte por que é que estou telefonando para você depois de dois anos.

        -- Não me interessa. E foram dois anos, duas semanas e três dias.

        -- Eu preciso de você, Daphne.

        -- Peter...

        -- Preciso mesmo. Eu sei que fui um calhorda, mas não sou orgulhoso. Peço perdão.

        -- Oh! Peter. Não brinque comigo...

        -- Daphne você se lembra daquela semana em Teormina?

        -- Se me lembro.

        -- Do jasmineiro no pátio do hotel? Das azeitonas com vinho branco à tardinha no café da praça?

        -- Peter, eu estou começando a chorar.

        -- E daquela vez em que fomos nadar nus, ao luar, e veio um guarda muito sério pedir nossos documentos, e depois os três começamos a rir e o guarda acabou tirando a roupa também?

        -- Não. Isso eu não me lembro.

        -- Bom deve ter sido em outra ocasião. E a pensão em Rapallo, Daphne.

        -- A pensão! O velho do acordeão que só tocava Torna a Sorriento e Tea for two.

        -- E a festa de aniversário que nós entramos por engano e eu acabei fazendo a imitação do Maurice Chevalier com laringite.

        -- Ah, Peter...

        -- Lembra o pimentão recheado da Signora Lumbago, na pensão?

        -- Posso sentir o gosto agora.

        -- Qual era mesmo o ingrediente secreto que ela usava, e que só nos revelou depois que nós ameaçamos contar para o marido do caso dela com o garçom?

        -- Era... Deixa ver. Era manjericão.

        -- Você tem certeza?

        -- Tenho. Ah, Peter... Não consigo ficar braba com você.

        -- Ótimo, Daphne. Precisamos nos ver. Tchau.

        -- Tchau? TCHAU?! Você disse que precisa de mim, Peter!

        -- Precisava. Eu estou fazendo aquele pimentão recheado para uma amiga e não me lembrava do ingrediente secreto. Você me ajudou muito, Daphne, e...

        -- Seu animal! Seu jumento insensível! Seu filho...

        -- Daphne, eu já pedi desculpas. Você quer que eu me humilhe?

                                                      Luís Fernando Veríssimo

Entendendo a crônica:

01 – Por que Daphne ficou surpresa com a ligação do Peter? Qual foi a sua reação?

      Porque fazia dois anos, duas semanas e três dias que não se falavam. Sua reação foi xingá-lo bastante, a princípio.

02 – De qual forma Daphne se lembrou de Peter? Cite algumas características.

      Lembrou desta forma: o sujo, o tratante, traidor, nojento desprovido de qualquer decência ou caráter, estúpido e desprezível.

03 – Que estratégia Peter usou para conseguir o que queria da Daphne?

      Assumiu que foi um calhorda e pede perdão a ela.

04 – Que fato gera o humor da crônica?

      O ato dele conseguir com que a Daphne o perdoasse, usando a estratégia de relembrar os bons momentos vividos por eles, até ela ajuda-lo a lembrar o ingrediente secreto que vai no pimentão recheado, “manjericão”.

05 – Marque verdadeiro ou falso as frases abaixo:

(F) A prosa poética é um texto de caráter objetivo, linguagem padrão.

(V) A poesia é uma forma de expressão presente nos poemas e músicas.

(F) A personificação é uma figura de linguagem que destaca o exagero.

(V) A crônica humorística retrata situações engraçadas do cotidiano e são veiculadas em jornais e revistas.

(F) As rimas preciosas são rimas que possuem a mesma classe gramatical.

(V) A poesia é um gênero textual presente em outros gêneros.

06 – Qual é o tema central da crônica?

      O tema central se encontra no uso que Peter (o moço) faz do amor de Daphne.

07 – Mesmo sabendo da falta de caráter de Peter e ter vivido o modo como ele a tratava, ela acreditou na palavra dele. Copie um trecho do texto que comprove.

      “Ah, Peter... Não consigo ficar brava com você.

        -- Ótimo, Daphne. Precisamos nos ver. Tchau.”

08 – Ao ler a crônica nos vem uma imensa sensação de surpresa, visto que, o final se contradiz totalmente com o que realmente o leitor esperava. Por quê?

      Pelo fato de que, Peter não ligara para Daphne com o intuito de vê-la e reviver o seu amor novamente e sim, por querer lembrar o nome de um ingrediente, pois estava fazendo uma receita para receber uma amiga para jantar.

 

 

 


CRÔNICA: EXIGÊNCIAS DA VIDA MODERNA - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

Crônica: Exigências da vida moderna

             Luís Fernando Veríssimo

        Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro. E uma banana pelo potássio. E também uma laranja pela vitamina C.

        Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir a diabetes.

        Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água. E uriná-los, o que consome o dobro do tempo.

        Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém sabe bem o que é, mas que aos bilhões, ajudam a digestão).

        Cada dia uma Aspirina, previne infarto.

        Uma taça de vinho tinto também. Uma de vinho branco estabiliza o sistema nervoso.

        Um copo de cerveja, para… não lembro bem para o que, mas faz bem.

        O benefício adicional é que se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber.

        Todos os dias deve-se comer fibra. Muita, muitíssima fibra. Fibra suficiente para fazer um pulôver.

        Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente.

        E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada. Só para comer, serão cerca de cinco horas do dia… E não esqueça de escovar os dentes depois de comer.

        Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e enquanto tiver dentes, passar fio dental, massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax.

        Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um equipamento de som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia.

        Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e uma. Sobram três, desde que você não pegue trânsito.

        As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia. Menos você, porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora (por experiência própria, após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira uma).

        E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar delas quando eu estiver viajando.

        Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar as informações.

        Ah! E o sexo! Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina. Há que ser criativo, inovador para renovar a sedução. Isso leva tempo – e nem estou falando de sexo tântrico.

        Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e espero que você não tenha um bichinho de estimação.

        Na minha conta são 29 horas por dia. A única solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo!

        Por exemplo, tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes.

        Chame os amigos junto com os seus pais.

        Beba o vinho, coma a maçã e a banana junto com a sua mulher… na sua cama.

        Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e se sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésio.

        Agora tenho que ir.

        É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir ao banheiro. E já que vou, levo um jornal… Tchau!

        Viva a vida com bom humor!!!

Luís Fernando Veríssimo.

Entendendo a crônica:

01 – Percebe-se claramente o aspecto de humor do texto através de:

a)   Ironia ao fato de que nem todas as recomendações são benéficas ao homem.

b)   Uso da linguagem despudorada que recomenda absurdos à rotina das pessoas.

c)   Obscuridade nas tarefas que são sugeridas aos homens.

d)   Sátira pelo excesso de tempo disponível que as pessoas têm.

e)   Sátira às tantas recomendações para alcançar uma vida saudável e prazerosa.

02 – Ao comparar as amizades a uma planta, o autor tem a intenção de:

a)   Comparar as amizades às plantas, pois ambas são companhia ao homem.

b)   Distinguir as amizades das plantas, já que não há nenhum traço que as associe.

c)   Associar as amizades às plantas, pois ambas precisam ser cuidadas.

d)   Reconhecer a similaridade entre a importância que cada uma representa na vida do homem.

e)   Conscientizar sobre a necessidade de cuidado ambiental com as plantas que merecem tanta atenção quanto as amizades.

03 – O texto acima é uma crônica, modalidade literária que está bem definida na alternativa:

a)   Forma textual no estilo de narração que tem por base fatos que acontecem em nosso cotidiano.

b)   Texto de narrativa longa cujo principal objetivo é apresentar a perspectiva histórica sobre um fato.

c)   Texto em prosa ou verso que mostra de forma cômica, a realidade observada em determinada situação.

d)   Texto de leitura simples, muitas vezes superficial, sem grande importância literária.

e)   Texto de conteúdo verídico e que necessariamente precisa ser apresentado de forma caricata.

04 – No texto, a personagem principal busca retratar:

a)   O homem moderno que precisa se adaptar à rotina de atividades intensas e equilibrá-la com recomendações de cuidados com a saúde.

b)   O homem contemporâneo que tem tempo ocioso e o aproveita para cuidar exclusivamente da saúde.

c)   O indivíduo atarefado com tarefas fúteis que se preocupa unicamente com elas.

d)   O ser humano cada vez mais egoísta e carente de cuidados com o próximo.

e)   O homem cristão que tem se afastado dos princípios divinos.

05 – Considerando-se as características que definem o gênero textual crônica, quais podem ser encontradas no texto de Luís Fernando Veríssimo.

a)   Presença de reflexões de cunho pessoal e utilização do discurso indireto livre.

b)   Interlocução constante com leitor e a abordagem de acontecimentos cotidianos.

c)   Presença de argumentação objetiva e de coloquialismo na fala das personagens.

d)   Gênero narrativo ficcional linguagem predominantemente formal e conotativa.

06 – No texto, o cronista trata de um tema contemporâneo que diz respeito, sobretudo, à (ao):

a)   Preocupação com dietas impossíveis de serem seguidas.

b)   Desperdício de tempo com complexos hábitos de higiene.

c)   Excesso de tarefas que a vida moderna impõe às pessoas.

d)   Falta de tempo para execução das habituais tarefas domésticas.

07 – Releia: “Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos, que ninguém sabe bem o que é, mas que...”. Entende-se que neste trecho o autor chama a atenção para o aspecto persuasivo da propaganda que convoca o consumidor a consumir determinados produtos, muitas vezes, sem refletir a respeito. Qual é a sua opinião sobre isso?

      Resposta pessoal do aluno.

08 – Reflita sobre: “Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar as informações”. Você costuma estar bem informado? Que tipo de leitura costuma fazer para se informar?

      Resposta pessoal do aluno.

09 – A partir da leitura deste texto, podemos fazer uma reflexão sobre como nos comportamentos frente às atividades do cotidiano e o que priorizamos. Quais são suas prioridades?

      Resposta pessoal do aluno.

10 – Você também se deixa influenciar pela mídia, consumindo o que mostram como indispensáveis à saúde? De que forma?

      Resposta pessoal do aluno.


quarta-feira, 1 de julho de 2020

POEMA: BEM NO FUNDO - PAULO LEMINSKI - COM GABARITO

Poema: Bem no fundo

         Paulo Leminski

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto.


A partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo.


Extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais.


Mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

Paulo Leminski.

Entendendo o poema:

01 – O poema estrutura-se em três momentos de significação, que podem ser assim caracterizados: hipótese (1ª estrofe); decreto (2ª e 3ª estrofes); conclusão reflexiva (4ª estrofe). Nomeie o recurso formal que expressa a hipótese no primeiro momento do texto:

      O recurso formal é a repetição nos versos: “No fundo, no fundo, / bem lá no fundo...”.

02 – “Maldito seja quem olhar pra trás, / lá pra trás não há nada, / e nada mais. Que o autor quis dizer?

      Que olhar para trás é voltar sua atenção ao passado e a nossa memória nem sempre é confiável, sem perceber, podemos minimizar nossos problemas do passado. Essa recordação distorcida pode nos levar a ter saudades dos bons velhos tempos.

03 – No poema, o autor apresenta, nos versos iniciais, um hipotético desejo que ele mesmo se encarrega de neutralizar, por meio de um procedimento sintático que se inaugura com uma oração de natureza:

a)   Adversativa.

b)   Aditiva.

c)   Alternativa.

d)   Conclusiva.

e)   Explicativa.

04 – Se nossos problemas fossem resolvidos por decreto, como seria?

      O poder executivo estaria, então dando as ordens necessárias para todo e qualquer ato em prol das suas resoluções, pudessem ser exercidos a favor de uma vida repleta de fatos e soluções. A felicidade ganharia uma obrigatoriedade justa e precisa.

05 – A expressão “silêncio perpétuo” é usado no meio jurídico para expressar o quê?

      O Código Civil faz menção expressa a questão em estudo, dispondo em seu artigo 111 que “o silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa”.

      Perpétuo – Que dura e permanece para sempre.

 

 


POEMA: MAÇÃ - MANUEL BANDEIRA - COM GABARITO

Poema: Maçã        

Manuel Bandeira

Por um lado te vejo como um seio murcho
Pelo outro como um ventre de cujo umbigo pende o cordão placentário

És vermelha como o amor divino

Dentro de ti em pequenas pevides
Palpita a vida prodigiosa
Infinitamente

E quedas tão simples
Ao lado de um talher
Num quarto pobre de hotel.

Manuel Bandeira, in 'Poesia Completa e Prosa, Rio de Janeiro, 1986'.

Entendendo o poema:

01 – Indique com V as características modernistas presentes no texto e com F, as demais:

(F) Lirismo introspectivo.

(V) Valorização poética do cotidiano.

(F) Prosaísmo.

(V) Tom crítico-irônico.

(V) Liberdade formal.

02 – Com que(m) o eu lírico compara a maçã?

      Ela é comparada a pares do corpo humano: seio, ventre, por sua forma arredondada.

03 – Em que versos ela é aproximada a divindade?

      “És vermelha como o amor divino.

       Dentro de ti em pequenas pevides
       Palpita a vida prodigiosa
       Infinitamente.”

04 – A que o caule foi comparado?

      Ao cordão placentário.

05 – Nos versos: “E quedas tão simples / Ao lado de um talher / Num quarto pobre de hotel.”. Percebe-se o que na fala do eu lírico?

      Que ela sofre uma redução: ela é aproximada à condição de objeto pictórico, de natureza morta, ela é aproximada aos objetos, ao mundo inanimado, colocada ao lado do talher, no quarto de um hotel.

06 – Leia as afirmativas abaixo sobre o poema:

I – As expressões “por um lado” (linha 1) e “pelo outro” (linha 2) funcionam como elementos coesivos que conectam os dois primeiros versos da primeira estrofe.

II – Na segunda estrofe, a maçã é descrita a partir de uma perspectiva externa.

III – O título “Maçã” serve como elemento coesivo que conecta as três estrofes do poema.

Assinale a alternativa que corresponde às afirmativas verdadeiras:

a)   Apenas I.

b)   II e III.

c)   I e II.

d)   I e III.

e)   I, II e III.

07 – No texto é possível identificar características e recursos expressivos recorrentes do gênero poema, como o(a):

a)   Uso de frases longas em prosa.

b)   Uso de verbos no imperativo.

c)   Presença de rimas.

d)   Descrição objetiva.

e)   Divisão em versos.

08 – Releia os seguintes versos: “Por um lado te vejo como um seio murcho / Pelo outro como um ventre de cujo umbigo pende o cordão placentário.”. Sobre o pronome relativo, cujo, em destaque acima, é correto afirmar que:

a)   Concorda com o termo que o sucede, “umbigo”, e indica lugar.

b)   Concorda com o termo que o antecede, “ventre”, e indica lugar.

c)   Concorda com o termo que o sucede, “cordão”, e indica relação de posse.

d)   Concorda com o termo que o sucede “umbigo”, e indica relação de posse.

e)   Concorda com o termo que o antecede, “ventre”, e indica relação de posse.

09 – No verso: “Num quarto pobre de hotel”, a expressão “de hotel” pode ser substituída, sem perda de sentido por:

a)   Uma oração subordinada adjetiva explicativa, como a destacada em “Num quarto pobre cujo hotel pertence”.

b)   Uma oração subordinada adjetiva restritiva, como a destacada em “Num quarto pobre que pertence a um hotel”.

c)   Uma oração subordinada adjetiva restritiva, como a destacada em “Num quarto pobre, que pertence a um hotel”.

d)   Uma oração subordinada adjetiva explicativa, como a destacada em “Num quarto pobre, que pertence a um hotel”.

e)   Uma oração subordinada adjetiva explicativa, como a destacada em “Num quarto pobre, que pertence a um hotel”.



 



     


POEMA: ENCOMENDA - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

Poema: ENCOMENDA

            Cecilia Meireles


Desejo uma fotografia
como esta — o senhor vê? — como esta:
em que para sempre me ria
como um vestido de eterna festa.

Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.

Não meta fundos de floresta
nem de arbitrária fantasia...
Não... Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.

Cecília Meireles.

Entendendo o poema:

01 – Assinale a alternativa correta:

a)   O verso 5 constitui a causa para a proposição feita no verso 6.

b)   Mantém-se a busca do riso e da festa desde o primeiro até o último verso.

c)   Atenuam-se apelo e ordem na última estrofe.

d)   Para sempre e eterna funcionam sintaticamente como adjuntos adverbiais que expressam a perenidade do tempo captado pela fotografia.

e)   A construção da referência à outra foto faz-se por meio da recorrência de pronomes possessivos.

02 – Quem é o eu lírico neste poema?

      Ela mesma = a autora.

03 – O que é encomendado?

      Uma fotografia.

04 – No verso sete com o verbo no imperativo: “Deixe a minha ruga”, ou seja, as minhas marcas, para que estas características misturarem-se com a imagem. O que nos revela este verso?

      Revela um conflito dual, exterior versus interior, o exterior deseja afirmar-se e resgatar aspectos que contradizem com o seu interior melancólico, mesclando-se, consciente da efemeridade do tempo e dos sentimentos.

05 – Em que versos o eu lírico confirma necessidade de eternizá-la com a aparência jovem?

      Nos versos três e quatro. “Em que para sempre me ria / como um vestido de eterna festa.”

06 – Que figura de linguagem há nestes versos? “Como tenho a testa sombria, / derrame luz na minha testa.”

      Antítese.





 

 


POEMA: APERITIVO - OSWALD DE ANDRADE - COM GABARITO

Poema: APERITIVO

     Oswald de Andrade

A felicidade anda a pé
Na Praça Antônio Prado
São 10 horas azuis
O café vai tão alto como a manhã de arranha-céus
Cigarros Tietê
Automóveis
A cidade sem mitos.

ANDRADE, Oswald de.

Entendendo o poema:

01 – Todas as características seguintes podem ser verificadas nos versos, menos uma. Indique-a.

a)   Valorização do cotidiano.

b)   Nacionalismo.

c)   Verso livre.

d)   Influência das vanguardas europeias.

e)   Resgate de valores tradicionais.

02 – Nos dois primeiros versos do poema, qual é a imagem inicial da cidade de São Paulo e da “vida” que nela se movimenta?

      O passeio do poeta pela paulistaníssima Praça Antônio Prado.

03 – Em que momento do dia se desenrola essa cena?

      Pela manhã.

04 – Que imagens são utilizadas para caracterizar esse momento?

      Café, céu azul, dia claro.

05 – Os três últimos versos do poema apresentam outros aspectos da cidade por meio de alguns elementos. Que elementos são destacados pelo eu lírico?

      Os aspectos da cidade são apresentados através do cigarro, do Rio Tietê e os automóveis.

      O eu lírico fala sobre o progresso que ainda viria na cidade.

06 – Explique por que a composição desse poema é comparada de uma pintura cubista.

      A cena é montada em quadros que aparentemente não se encaixam. Ele pega partes do cenário, enquadra e coloca um sobre o outro.

07 – No verso: “O café vai alto como a manhã de arranha-céus”, que traços do modernismo há? De que realidade brasileira é citada neste verso?

      Os traços são: linguagem simples, o urbanismo com os “arranha-céus”.

      Ele cita o café que é o que movimenta a economia na época, sendo assim dando importância a realidade brasileira.


POEMA: A BORBOLETA - OLAVO BILAC - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: A borboleta

                                                    Olavo Bilac

Trazendo uma borboleta,
Volta Alfredo para casa.
Como é  linda! é toda preta,
Com listas douradas na asa.

Tonta, nas mãos de criança,
Batendo as asas, num susto,
Quer fugir, porfia, cansa,
E treme, e respira a custo.

Contente, o menino grita:
“É a primeira que apanho,
Mamãe! vê como é bonita!
Que cores e que tamanho!

Como voava no mato!
Vou sem demora pregá-la
Por baixo do meu retrato,
Numa parede da sala.”

Mas a mamãe, com carinho,
Lhe diz: “Que mal te fazia,
Meu filho, esse animalzinho,
Que livre e alegre vivia?

Solta essa pobre coitada!
Larga-lhe as asas, Alfredo!
Vê como treme assustada...
Vê como treme de medo...

Para sem pena espetá-la
Numa parede, menino,
É necessário matá-la:
Queres ser um assassino?”

Pensa Alfredo... E, de repente,
Solta a borboleta... E ela
Abre as asas livremente,
E foge pela janela.

“Assim, meu filho! perdeste
A borboleta dourada,
Porém na estima crescente
De tua mãe adorada...

Que cada um cumpra a sorte
Das mãos de Deus recebida:
Pois só pode dar a Morte
Aquele que dá a Vida.”

Olavo Bilac. Do livro: Poesias Infantis, Ed. Francisco Alves, 1929, RJ.

Entendendo o poema:

01 – O texto acima, é um poema narrativo. Que elementos permitem identificar esse texto como um poema? E quais características correspondem as de uma narrativa?

      É estruturado em versos. As figuras de linguagem, as rimas e a cadência são recursos linguísticos largamente utilizados neste poema. A característica narrativa que ele possui é a de contar um fato.

02 – Qual o significado da palavra porfia no poema? Pesquise no dicionário.

      Porfia – qualidade do que é persistente, insistência, perseverança, tenacidade.

03 – Que reflexão a mãe de Alfredo faz dizendo estes versos:

“Que cada um cumpra a sorte
Das mãos de Deus recebida:
Pois só pode dar a Morte
Aquele que dá a Vida.”

      Que ele não poderia tirar a vida da borboleta, apenas para enfeitar uma parede, e que somente Deus tem este direito, pois foi Ele que deu a vida.

04 – No trecho: “Larga-lhe as asas, Alfredo / Vê como treme assustada... / Vê como treme de medo...”, o que sugere a utilização do recurso da repetição “vê como treme”?

      Sugere para o garoto ter dó da borboleta e soltá-la, por isso usou este recurso de repetição chamado anáfora dando ênfase àquilo que se repete.

05 – A que tipo de leitor esse poema é dirigida?

      Ao leitor contemplativo, meditativo.

06 – Qual o assunto principal do poema?

      A captura de uma borboleta por um garoto.

07 – Que idade parenta o eu lírico desse texto poético? Caracterize-o.

      Aparenta ter sete anos. Ele reage lentamente a ordem de sua mãe, mas depois aceita espontaneamente. Ele é um explorador, aventureiro. Uma criança alegre.

08 – Na sua opinião, a mãe de Alfredo agiu corretamente ao chamar-lhe a atenção?

      Resposta pessoal do aluno.

09 – Coloque-se no lugar de Alfredo: que atitude você tomaria?

      Resposta pessoal do aluno.

10 – A que conclusão o eu lírico chega ao final do texto?

      Que deveria dar liberdade a borboleta que ele havia capturado.

11 – O poema exibe dois pontos de vista: o do garoto e o da sua mãe. Quais são as diferenças entre eles? A argumentação da mãe acaba influenciando na maneira como o garoto enxerga a situação?

      O menino, encantado com a beleza da borboleta, apanha-a no mato e pretende pregá-la na prede, como forma de conservar a sua beleza sempre a vista. A mãe dele, ao contrário, vê o sofrimento da borboleta ao ser retirada de seu ambiente natural e julga errado matar um ser inofensivo. A mãe, ao dizer ao filho que estaria se portando como um assassino, muda a forma como Alfredo pensa, e ele logo liberta a borboleta