sexta-feira, 6 de abril de 2018

TEXTO: O CEMITÉRIO DA FORTALEZA DE IF - ALEXANDRE DUMAS - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


TEXTO: O Cemitério da Fortaleza de IF

   Aprisionado injustamente por 15 anos na fortaleza de If, uma prisão em alto-mar, Edmundo Dantes tenta uma fuga desesperada na esperança de sobreviver para se vingar dos seus inimigos.
    Só! Achava-se outra vez só! Outra vez no meio do silêncio, em frente do nada! ... [...]
   A ideia do suicídio, repelida pelo amigo, afastada pela sua presença, veio então erguer-se outra vez como um fantasma ao pé do cadáver de Faria. [...]
   --- Morrer! ... Oh! não, não! – exclamou; -- não valia a pena ter vivido tanto tempo, padecido tanto, para morrer agora! Morrer era bom, quando o resolvi em outro tempo, há muitos anos; mas hoje seria realmente auxiliar muito o meu miserável destino. Não, quero viver; quero lutar até ao fim; quero reconquistar a ventura que me foi roubada. Antes de morrer esquecia-me que tenho de vingar-me dos meus algozes, e talvez, quem sabe? de recompensar alguns amigos. [...]
        Puseram o suposto morto na padiola. Edmundo entesou-se para melhor figurar de defunto. O cortejo, alumiado pelo homem da lanterna, que ia adiante, subiu a escada.
        De súbito, o ar frio e forte da noite banhou o prisioneiro, que logo reconheceu o ventou do nordeste. Foi uma repentina sensação, repassada de angústias e de delícias. [...]
        E logo Dantes sentiu-se atirado para um enorme vácuo, atravessando os ares como um pássaro ferido, caindo, sempre com um terror indescritível que lhe gelava o coração. Embora puxado para baixo por algum objeto que lhe acelerava o rápido voo, pareceu-lhe, contudo, que essa queda durava um século. Por fim, com pavoroso ruído, entrou como uma seta na água gelada, que lhe fez dar um grito, sufocado imediatamente pela imersão.
        Dantes tinha caído ao mar, para o fundo do qual o puxava uma bala de 36 presa aos pés.
        O mar era o cemitério da fortaleza de If. [...]
        Dantes atordoado, quase sufocado, teve, entretanto, a presença de espírito de conter a respiração; e como na mão direita, preparado, como dissemos que estava, para todas as eventualidades, levava a faca, rasgou rapidamente o saco, tirou o braço e depois a cabeça; apesar, porém, dos seus movimentos para levantar a bala, continuou a sentir-se puxado para baixo; então vergou o corpo, procurando a corda que lhe amarrava as pernas, e com um esforço supremo conseguiu cortá-la no momento que se sentia asfixiar. Depois, dando-lhe um pontapé, subiu livre à tona da água, enquanto a bala levava para desconhecidos abismos a serapilheira que ia sendo a sua mortalha.

                     Dumas, Alexandre. O conde de Monte Cristo. Porto:
                             Lello & Irmão, s/d, p. 178-182; p. 183. Fragmento.

Bala: bola de ferro atada a um defunto, para fazer com que o corpo afunde no mar.
Serapilheira: manta.

Entendendo o texto:
01 – Explique que sentimentos dominam Edmundo Dantes no momento em que se encontra diante do cadáver do amigo.
      Dantes é tomado pela solidão e pelo desespero. Ao se ver só, considera a possibilidade de suicidar-se, mas desiste da ideia quando se recorda da vingança que ainda tem de praticar contra os responsáveis pela ruína de sua vida.

02 – Copie no caderno o trecho em que o herói explicita sua missão individual.
      “... Morrer! ... Oh! não, não! – exclamou: – não valia a pena ter vivido tanto tempo, padecido tanto, para morrer agora! Morrer era bom, quando o resolvi em outro tempo, há muitos anos; mas hoje seria realmente auxiliar muito o meu miserável destino. Não, quero viver; quero lutar até ao fim; quero reconquistar a ventura que me foi roubada. Antes de morrer esquecia-me de que tenho de vingar-me dos meus algozes, e talvez, quem sabe, de recompensar alguns amigos”.

     a) Qual é essa missão?
      Dantes quer viver, “lutar até o fim” e reconquistar aquilo que lhe foi roubado: sua “ventura”. Além disso, deseja vingar-se daqueles que o traíram e também recompensar alguns amigos.

     b) De que forma os anseios de Dantes revelam que, diferentemente das epopeias, nessa narrativa o herói apresenta de modo mais claro sua dimensão pessoal e humana?
      Ao afirmar o que deseja viver para lutar, mas também vingar-se de seus inimigos, o herói deixa clara a sua dimensão pessoal: sua missão é recuperar o que lhe foi tirado, mas, principalmente, vingar-se. O fato de mostrar sua franqueza deixando-se dominar por sentimentos negativos (o desejo de vingança) garante a humanidade do herói.

     c) Por que o fato de Dantes desistir de cometer suicídio revela sua dimensão heroica?
      O suicídio seria uma saída fácil demais e jamais poderia ser aceita pelo herói. Como o próprio Dantes afirma, seria ajudar o “destino miserável” que lhe foi reservado. Ao herói, só cabe uma atitude: recusar tal saída e enfrentar as adversidades, superando todos os obstáculos que se apresentarem no seu caminho. Ao fazê-lo, evidencia sua dimensão heroica.

03 – O que há de heroico na fuga de Dantes da fortaleza de If? Explique.
      A fuga de Dantes é espetacular e praticamente milagrosa: depois de ser atirado ao mar, com uma bola de ferro atada aos pés, ele se liberta e vence os perigos do mar. Vemos o herói, aqui, superando a si mesmo e aos elementos da natureza. Toda a cena é cheia de ação e suspense, com a vitória de Dantes sobre todas as dificuldades de uma situação que o coloca próximo da morte.

TEXTO: SEU PAULINO - MARQUES REBELO - COM GABARITO


Texto: SEU PAULINO


     Seu Paulino vivia de uma pequena loja de fazendas e miudezas, e era pastor protestante. Andava sempre de preto, colarinho alto, camisa de peito duro, punhos engomados adaptáveis.
   Casado, não tinha filhos. Às quintas e sábados funcionava na Casa de Deus. Aos domingos guardava o respeito. Às quatro e meia jantava e às seis já se preparava para o sono. Método e economia. Quando não havia luz elétrica era para não gastar querosene e pavio; depois da luz elétrica, para não gastar lâmpada, porque afinal, na bela cidade de Barbacena, luz elétrica era um fluido que se consumia em taxa fixa de cinco mil-réis mensais para cada casa.
        Havia na sua loja um divisa caprichosamente emoldurada, que só foi alterada uma vez: HOJE NÃO SE FIA. Dava-se que Pedrinho era um garoto de bom comportamento e que merecia frequentes afagos das mãos muito brancas e muito finas de seu Paulino, que gostava de crianças.
        Ora, os papagaios estavam empinados no céu, em plena Rua Quinze, e só Pedrinho não tinha papagaio e acompanhava de olho comprido as evoluções dos brinquedos dos amigos. Como a freguesia não era muita, seu Paulino estava na porta observando os olhos compridos de Pedrinho. Seu Paulino falava fino:
        --- Não tem papagaio, Pedrinho?
        Pedrinho falava mais grosso que seu Paulino:
        --- Não, seu Paulino, não tenho dinheiro para comprar papagaio.
        Naqueles tempos felizes, uma folha de papel de seda custava um vintém. Um carretel de linha “Três correntes” custava cento e vinte réis, taquara é coisa que toda horta tem, graças a Deus. Seu Paulino, depois de uma hora de lutas interiores, resolveu fiar o papel de seda e o carretel de linha. E Pedrinho teve o seu papagaio, não com caco de garrafa no rabo, como era costume entre os garotos malvados ou belicosos, mas um papagaio verde e macio, com papelotes no rabo.
        Os anos rodaram, Pedrinho estudou, saiu da cidade, voltou doutor formado. Houve festa para recebe-lo. Doze anos tinham se passado. Foi com emoção que seu Paulino o abraçou – estava contente com o seu amiguinho. Aí, porém, seu Paulino tremeu – Doutor Pedrinho tinha uma pequena dívida na cidade e era bom começar uma carreira sem dívidas. Doutor Pedrinho pagou duzentos e quarenta réis a seu Paulino, que, como se vê, não cobrou juros.
                        Marques Rebelo. Cenas da Vida Brasileira, in Seleta.
                               Págs. 149-150. Editora José Olympio, Rio, 1974.

Entendendo o texto:
01 – O caso narrado por Marques Rebelo se passou na cidade de Barbacena, que fica no Estado de Minas Gerais.

02 – Cite uma passagem do texto que nos dá uma ideia aproximada da época em que aconteceram os fatos narrados no texto:
      “Quando não havia luz elétrica era para não gastar querosene e pavio, depois da luz elétrica, para não gastar lâmpada.”

03 – Assinale as afirmações verdadeiras com relação ao senhor Paulino:
      (X) Era um homem metódico e econômico.
      (X) Era pastor protestante e vivia da renda de um pequeno armarinho.
      (   ) Vendia fiado para muitos fregueses.
      (X) Gostava de crianças.

04 – Como você entende a frase da linha 6: “Aos domingos guardava o respeito”?
      Não trabalhava.

05 – Em linguagem moderna, como você diria em vez de “HOJE NÃO SE FIA”? 
      Hoje não se vende fiado.

06 – Que sentimento traduz a expressão “de olho comprido”?
      Traduz desejo.

07 – Com a frase “depois de uma hora de lutas interiores”, o autor quis dizer que seu Paulino:
      (X) Ficou indeciso, hesitou muito se ia vender fiado ou não.
      (   ) Receou que o papagaio se tornasse motivo de brigas entre Pedrinho e seus colegas.

08 – Deduz-se do texto que Pedrinho era um menino:
      (   ) Invejoso, briguento e malvado.
      (X)  Estudioso e bem comportado.
      (   ) Rico e pretensioso.

09 – No final da história, o autor diz que seu Paulino tremeu, Por que tremeu?
      (   ) Porque estava muito emocionado.
      (X)  De constrangimento, por ter de lembrar ao Dr. Pedrinho a velha dívida.

10 – Na última frase do texto, o autor:
      (   ) Enganou-se, pois seu Paulino cobrou 100 réis de juros.
      (X) Ironizou seu Paulino, dando a entender o contrário o que afirmou.






  

POEMA: SOBRENOME - JOSÉ PAULO PAES - COM GABARITO

POEMA: SOBRENOME
                    José Paulo Paes

Fonte da imagem -  https://www.blogger.com/blog/post/edit/7220443075447643666/3856222115062247359#

Como vocês sabem
Frankenstein foi feito
com pedaços de pessoas diferentes:
a perna era de uma, o braço de outra
a cabeça de uma terceira
e assim por diante.      
Além de o resultado
ter sido um desastre


houve um grave problema
na hora em que Frankenstein
foi tirar carteira de identidade.
Como dar identidade
a quem era uma mistura
de várias pessoas?
A coisa só se resolveu
quando alguém lembrou
que num condomínio
cada apartamento
é de um dono diferente.
Foi assim que Frankenstein Condomínio
ganhou nome e sobrenome como toda gente.

PAES, José Paulo. Lé com Crê. São Paulo: Ática, 1996.
                                          
Entendendo o poema

01 – O assunto do texto é como:

(A)  as pessoas resolvem seus problemas.

(B) as pessoas tiram carteira de identidade.

(C)  o condomínio de um prédio é formado.

(D)  o Frankenstein ganhou um sobrenome.

 

02 – Como ficou o nome do Frankenstein depois que tirou sua identidade?

(A) Frankenstein Colombino.

(B) Frankenstein Condomínio.

(C) Frankenstein Prédio.

(D) Frankenstein Misturinha.

   

 03 – O sinônimo da palavra diferente é:

 (A) igual.

 (B) desigual.

 (C) duplo sentido.

 (D)  oposto.

04 – Como sabemos que o texto “Sobrenome” é um poético?

      Porque é escrito em forma de versos, apresenta rimas e ritmo.

05 – Transcreva o trecho do texto “Sobrenome” em que ficamos sabendo que o escritor vai nos apresentar uma história já conhecida.

      Como vocês sabem / Frankenstein foi feito / com pedaços de pessoas diferentes.

06 – Qual a ligação entre o personagem do poema e o personagem do romance?

      Como no romance, o personagem de José Paula Paes foi formado com pedaços de pessoas diferentes.

07 – Qual o resultado da criação de Frankenstein?

      Foi um desastre.

08 – Qual é o principal problema do Frankenstein do poema? Por quê?

      Era tirar a carteira de identidade.

09 – Quando e como o personagem resolveu seu problema?

      Ele resolveu quando alguém lembrou que num condomínio cada apartamento é de um dono diferente. E passou a se chamar Frankenstein Condomínio.

10 – No penúltimo verso, há uma rima interna que reforça a principal ideia do poema, a questão da identidade. Que rima é essa?

      A rima é “nome/sobrenome”.

11 – Leia os três últimos versos do poema e responda: por que podemos dizer que o personagem do poema tem um final feliz?

      Porque ele passou a ter nome e sobrenome como qualquer pessoa.

 

       


       

TEXTO: ATIVIDADE INDUSTRIAL E ESPAÇO GEOGRÁFICO - JOSÉ WILLIAM VESENTINI - COM GABARITO


TEXTO: ATIVIDADE INDUSTRIAL E ESPAÇO GEOGRÁFICO


  A indústria moderna consiste numa forma – diferente do artesanato e da manufatura – de transformar matérias-primas em produtos elaborados.
    Em primeiro lugar, na indústria há uma grande divisão do trabalho e, por conseguinte, a especialização do trabalhador.

         Já no artesanato não há nenhuma divisão; na manufatura, uma divisão primária, muito simples.
        Em segundo lugar, na atividade industrial são as máquinas, em geral funcionando a partir de modernas fontes de energia (calor, eletricidade), que ditam o ritmo do trabalho; no artesanato há apenas o uso de ferramentas. E, na manufatura, o uso de máquinas simples, mas o ritmo do trabalho ainda depende das mãos do artesão.
        Em terceiro lugar, a indústria moderna é fruto da Revolução Industrial e do desenvolvimento do capitalismo, tendo surgido apenas em meados do século XVIII, ao passo que a atividade manufatureira e, principalmente, o artesanato são conhecidos desde a Antiguidade e surgiram em sistemas sócio econômicos anteriores ao capitalismo.
        Para finalizar, existe ainda uma outra diferença: a indústria fabrica os produtos numa quantidade nunca alcançada pelo artesanato e mesmo pela manufatura; ela os produz em série, produz bens padronizados.
        A atividade industrial expandiu-se pelo mundo. Ela teve origem na Europa Ocidental, especialmente na Inglaterra, mas a partir do século XX, difundiu-se pelos quatro cantos do globo terrestre, embora de forma desigual.

                                  José William Vesentini (Brasil, Sociedade e Espaço 
                                              - Geografia do Brasil. São Paulo: Editora Ática).

01 – Considerando o nível de linguagem escolhido e a seleção vocabular, cite alguns aspectos em que são iguais, e diferentes, os textos literários e o texto Atividade Industrial e Espaço Geográfico.
       Os textos tem o mesmo tema: o trabalho. Também estão escritos de acordo com um registro formal de linguagem, com escolha vocabular de acordo com a norma culta. São diferentes na forma de expressar as ideias (com mais imagens nos textos poéticos) e na finalidade – o texto não-literários, o prazer da linguagem, a exploração da forma do dizer.

02 – Que finalidades você pode identificar nesse texto que o distinguem dos anteriores?
        Ressalta a finalidade de “ensinar”, de mostrar didaticamente como a atividade industrial se expandiu pelo mundo. Expõe, sem tornar tão explícita a posição do autor como a dos anteriores – apenas expõe as informações. O objetivo maior é o de informar, não o de criticar ou produzir sentimentos estéticos.

03 – Identifique no texto marcas que colocam em sequência os argumentos. Por que essa organização das ideias é importante?
        As expressões “Em primeiro lugar”; “Em segundo lugar”; “Em terceiro lugar” e “Para finalizar” são os mais fortes indicadores de desenvolvimento do texto. São importantes porque direcionam o raciocínio do leitor para os objetivos do autor.

04 – Imagine algumas situações em que o texto atividade industrial e espaço geográfico deve circular. Quem pressupõe como leitor? A que objetivos visa?
        As situações devem ser aquelas em que a informação é prioridade, como nas práticas sociais escolares. O leitor é potencialmente quem busca informação a respeito das distinções expostas, muito provavelmente aluno.




quinta-feira, 5 de abril de 2018

MÚSICA: BANDOLINS - OSWALDO MONTENEGRO - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Música: Bandolins

                                    

 
Oswaldo Montenegro

Como fosse um par que nessa valsa triste
Se desenvolvesse ao som dos bandolins
E como não, e por que não dizer
Que o mundo respirava mais
Se ela apertava assim seu colo
E como se não fosse um tempo
Em que já fosse impróprio
Se dançar assim
Ela teimou e enfrentou o mundo
Se rodopiando ao som dos bandolins
Como fosse um lar seu corpo a valsa triste
Iluminava e a noite caminhava assim
E como um par o vento e a madrugada
Iluminavam a fada do meu botequim
Valsando como valsa uma criança
Que entra na roda a noite 'tá no fim
Ela valsando só na madrugada
Se julgando amada ao som dos bandolins
Como fosse um par que nessa valsa triste
Se desenvolvesse ao som dos bandolins
E como não, e por que não dizer
Que o mundo respirava mais
Se ela apertava assim seu colo
E…

Entendendo a canção:

01 – De que o eu lírico fala nesta canção?
      Ela é uma forte e profunda declaração de amor oculto. Uma paixão escondida.

02 – Como eu lírico via seu objetivo de desejo?
      Via de longe, imaginava, sonhava, pensava e sofria... Sofria escondida.

03 – Na letra da canção percebemos a figura de linguagem COMPARAÇÃO. Cite alguns versos que comprove sua resposta.
      “Como fosse um par que nessa valsa triste / Se desenvolvesse ao som dos bandolins.”

04 – No verso: “Que o mundo respirava mais / Se ela apertava assim seu colo”. As palavras grifadas, corresponde a que figura de linguagem?
      Metáfora.

05 – Cite os versos onde o eu lírico fala desta paixão distante, uma ilusão que sustentava é aliviada a dor, ajudava mesmo a consolar o poeta pela sua “fada” intocável.
      “Iluminavam a fada do meu botequim
       Valsando como valsa uma criança.”

REPORTAGEM: JAMELÃO PEDE PASSAGEM - ANDRÉA ZÍLIO - COM GABARITO

REPORTAGEM: JAMELÃO PEDE PASSAGEM
                                Andréa Zílio



       Moradores da Rua das Mangueiras exigiram que árvore não fosse derrubada com a chegada do asfalto. O desejo foi atendido.
         A frase de que “todo homem durante a vida deve plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro” ficou mundialmente conhecida e há quem garanta que foi escrita pelo apóstolo cubano José Marti. Mesmo não sendo esse assunto em questão, a associação se dá devido à atitude dos moradores da rua das Mangueiras, na Vila da Amizade, que segue o primeiro dever.
          Como qualquer outra regra, existem as exceções, e há aqueles que não mantêm uma sombra no quintal da casa. Mas a rua das Mangueiras, em especial, tem seu charme por manter na maioria o verde das árvores e o colorido das flores. E é exatamente na esquina que está o imponente cartão de apresentação.
           Mesmo quem não é voltado para o tema natureza percebe a magnitude da majestosa árvore Jamelão, da família das mirtáceas – conhecida no Acre como azeitona -, onde até o asfalto se faz súdito e faz curva em torno dela.
           Há mais de um ano, quando a rua foi pavimentada, a prefeitura de Rio Branco informou aos moradores que a árvore seria tirada dali. A resposta foi de indignação e grande parte dos residentes impediu que isso acontecesse. E a decisão foi acatada pelos gestores, que optaram por mantê-la.
          A solução foi passar o asfalto apenas ao lado da árvore Jamelão. Sem precisar derrubá-la, é como se a rua estivesse pedindo licença para existir, fazendo uma curva maior. E, dessa maneira, com a aprovação da população.
          Atitudes como essa se tornam um grande paradoxo diante da perda da segunda árvore no Calçadão da Gameleira, que morreu por envenenamento. Enquanto alguns querem retirar a presença da natureza de um lugar, apenas por capricho – como foi mostrado na reportagem do jornalista Altino Machado, publicada no último sábado [26/02/2005] -, outros brigam para que ela seja manifestada, quando não prejudica em algo realmente relevante.
           Jucineia Vitoriano, 34, mora na vila há 20, assim como Antônio de Oliveira, 52, que passa pela árvore diariamente há 15 anos. Ambos dizem que ela foi transformada em patrimônio da vila. “Quando estavam asfaltando a rua, os moradores intervieram para que ela não fosse derrubada”, diz a mulher. Antônio conta que ela deve ter mais de 50 anos. Quanto à altura, ele supõe que ela tenha uns dez metros. [...]

               Andréa Zílio. Jamelão pede passagem.
Página 20 on-line, Rio Branco,
                 1 mar. 2005. Extraído do site: http://pagina20.uol.com.br/01032005/
                                                           Variedades.htm  
Acesso em: 1 abr. 2011.

Entendendo o texto:

01 – No primeiro parágrafo, a autora da reportagem diz que a atitude dos moradores da rua das Mangueiras segue o primeiro dever da frase da José Martí.
        Com base no texto, explique se os moradores realmente seguiram o 1º dever da frase de José Martí.
         Não, eles não plantaram uma árvore, mas impediram que uma árvore fosse derrubada.

02 – O trecho da reportagem nos faz pensar que, se as pessoas se unirem, elas podem conseguir melhorar a vida da sociedade e preservar o meio ambiente. Para você, por quais outras causas as pessoas poderiam se unir em favor da construção de um mundo melhor?
         Resposta pessoal.

03 – No penúltimo parágrafo, a jornalista Andréia Zílio diz que a atitude dos moradores é um paradoxo em relação a um outro fato ocorrido dias antes na cidade.
         Paradoxo é a exposição de ideias que estabelecem uma contradição, ou seja, os fatos em si não apresentam relação de maneira coerente e consistente.
         Identifique qual é esse fato e a contradição a que ela está se referindo
         Enquanto alguns envenenam árvores, outros brigam para preservá-las.






        


CONTO: A PORCA - CRISTINA MARIA MACEDO TOMAZ - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


CONTO – A PORCA


    Há mais ou menos dez anos, quando me casei, fui morar no mato grosso, num lugar de garimpo, bem longe da cidade.
      O garimpo ficava dentro da mata, era preciso caminhar a pé, bastante tempo para chegar ao lugar. A gente dormia em barracos de plástico, cercados por árvores muito grandes. De noite, quando o vento batia no plástico dos barracos e nos galhos das árvores, dava muito medo.
             Além de o lugar amedrontar, havia uma história que o povo da região contava, que me deixava ainda mais assustada.
           Os garimpeiros diziam que naquelas matas existia uma porca muito grande, que tinha parido muitos porquinhos. A porca assustava quem andava por estradas e trilheiras da região. Muita gente dizia que já tinha visto os bichos.
            Quando alguém andava sozinho no mato, a porca com seus filhotes aparecia e desaparecia na frente das pessoas. Diziam que era um espírito, uma assombração.
             Naquela época, ouvi no rádio que um homem tinha previsto que o mundo ia acabar. Eu fiquei impressionada com a notícia do fim do mundo e, no mesmo dia, tive que caminhar pela mata, passando pela estrada deserta.
             Enquanto andava naquela trilheira rodeada de árvores altas e cheias de grutas, fiquei com muito medo. Eu achava que, a qualquer hora, a porca assombrada e seus filhotes iriam aparecer.
             De repente, ouvi um barulho de passos na mata, bem perto de mim. Nem tive coragem de olhar para trás, nem para os lados. Fui caminhando, quase sem respirar.
             Quando cheguei em casa, percebi que tive muita sorte, porque a porca não apareceu na minha frente, nem me atacou. Aí fiquei pensando se era mesmo a porca e seus filhotes que estavam me seguindo, ou se aquele não era o barulho do meu medo.

Cristina Maria Macedo Tomaz. A porca. In: ____. De boca em boca:
  Histórias de todos os contos do Brasil. São Paulo:
Salesiana, 2002. P. 79-81.

Entendendo o conto:

01 – A narradora do causo conta uma história de medo.
     a) Imagine que você estivesse no lugar dela. Você teria tido a mesma reação? Por quê?
      Resposta pessoal.

     b) Que elementos foram responsáveis por criar essa reação na mulher?
  O fato de ela estar morando num lugar dentro da mata, um lugar amedrontador; a história da porca que assombrava as pessoas: a notícia sobre o fim do mundo; o barulho na mata, ouvindo pela narradora.

02 – No final do causo, pode-se perceber uma característica desse gênero, pois a narradora faz uma afirmação que mantém o estado de mistério do causo, deixando o leitor sem saber o que de fato aconteceu.
     a) Identifique essa afirmação e de sua opinião sobre esse final.
      “Aí fiquei pensando se era mesmo a porca e seus filhotes que estavam me seguindo, ou se aquele não era o barulho do meu medo. Resposta pessoal.

     b) O final do texto correspondeu às suas expectativas ou você imaginou que a história teria outro final? Comente.
      Resposta pessoal.

FÁBULA: O CAVALO E O BURRO - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

Fábula: O CAVALO E O BURRO
                 MONTEIRO LOBATO

        Cavalo e burro seguiam juntos para a cidade. O cavalo, contente da vida, folgando com a carga de quatro arrobas, e o burro – coitado! gemendo sob o peso de oito. Em certo ponto, o burro parou e disse:

  – Não posso mais! Esta carga excede às minhas forças e o remédio é repartirmos o peso irmanamente, seis arrobas para cada um.

          O cavalo deu um pinote e relinchou uma gargalhada.
        – Ingênuo! Quer então que eu arque com seis arrobas quando posso bem continuar com as quatro? Tenho cara de tolo?
        O burro gemeu:
        – Egoísta! Lembre-se que se eu morrer você terá que seguir com a carga das quatro arrobas mais a minha.
        O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso. Logo adiante, porém, o burro tropica, vem ao chão e rebenta.
        Chegam os tropeiros, maldizem da sorte e sem demora arrumam as oito arrobas do burro sobre as quatro do cavalo egoísta. E como o cavalo refuga, dão-lhe de chicote em cima, sem dó nem piedade.
       – Bem feito! – exclamou um papagaio. Quem o mandou ser mais burro que o pobre burro e não compreender que o verdadeiro motivo era aliviá-lo da carga em excesso? Tome! Gema dobrado agora…”

Monteiro Lobato, Fábulas. São Paulo, Editora Brasiliense, 1994.

Entendendo a Fábula:

01 – São famosas as fábulas de La Fontaine, Esopo, Monteiro Lobato, Millôr Fernandes e outros autores. Na fábula acima, por que o cavalo e o burro se desentenderam?
      Uma vez que o burro levava mais peso que o cavalo, o burro sugeriu que a carga fosse dividida igualmente entre eles. Porém o cavalo não aceitou ajudar o burro.

02 – A atitude do cavalo trouxe-lhe as consequências previstas pelo burro. Que comportamento humano a atitude do cavalo representa?
      Representa um comportamento e atitude egoísta.

03 – Que ensinamento essa fábula transmite?
      Ensina que devemos ajudar nossos semelhantes em situações em que nós mesmos poderemos precisar de ajuda. A atitude egoísta do cavalo fez com que ele passasse pela mesma situação do burro.

04 – Redija em apenas uma frase, a moral desta história.
      Não faça aos outros aquilo que você não deseja para si mesmo. (outras frases podem ser apresentadas desde que sintetizem o assunto da fábula ).

05 – Personagem, espaço e tempo estão presentes em todos os textos narrativos independentemente do gênero a que pertençam. Identifique nesta fábula esses elementos.
      Personagens – o cavalo e o burro
      Espaço – em uma estrada rumo à cidade
    Tempo – nesta história não há referência ao tempo em que acontece a ação.
                                                                                                           

POEMA: POBRE ALIMÁRIA - OSWALD DE ANDRADE - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Poema: POBRE ALIMÁRIA


O cavalo e a carroça
Estavam atravancados no trilho
E como o motorneiro se impacientasse
Porque levava os advogados para os escritórios
Desatravancaram o veículo
E o animal disparou
Mas o lesto carroceiro
Trepou na boleia
E castigou o fugitivo atrelado
Com um grandioso chicote.

                     Pau brasil, 2ª ed. São Paulo: Globo, 2003, p. 159.
                                                                   Oswald de Andrade.

Entendendo o poema:
01 – Esse poema narrativo apresenta um conflito.
a)   Em que ele consiste?
      O conflito consiste na obstrução do caminho do bonde por uma carroça.

02 – A ação do cocheiro em relação ao cavalo indica um traço de comportamento que nada tem de moderno e é revelador da maneira como tradicionalmente são tratadas as camadas menos favorecidas da sociedade brasileira. Que traço é esse?
     A violência do cocheiro é reveladora da maneira como são tratados os que estão em posição socialmente desfavorecida.