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sexta-feira, 23 de julho de 2021

LIVRO(FRAGMENTO) - A TROCA - LYGIA BOJUNGA NUNES - COM GABARITO

 Livro: A TROCA(Fragmento)

                                    Lygia Bojunga Nunes

        Pra mim, livro é vida; desde que eu era muito pequena os livros me deram casa e comida.

        Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo; em pé, fazia parede, deitado, fazia degrau de escada; inclinado, encostava num outro e fazia telhado. E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá dentro pra brincar de morar em livro.

        De casa em casa eu fui descobrindo o mundo (de tanto olhar pras paredes). Primeiro, olhando desenhos; depois, decifrando palavras.

        Fui crescendo; e derrubei telhados com a cabeça. Mas fui pegando intimidade com as palavras. E quanto mais íntimas a gente ficava, menos eu ia me lembrando de consertar o telhado ou de construir novas casas. Só por causa de uma razão: o livro agora alimentava a minha imaginação.

        Todo dia a minha imaginação comia, comia e comia; e de barriga assim toda cheia, me levava pra morar no mundo inteiro: iglu, cabana, palácio, arranha-céu, era só escolher e pronto, o livro me dava.

        Foi assim que, devagarinho, me habituei com essa troca tão gostosa que no meu jeito de ver as coisas é a troca da própria vida; quanto mais eu buscava no livro, mais ele me dava.

        Mas, como a gente tem mania de sempre querer mais, eu cismei um dia de alargar a troca: comecei a fabricar tijolo pra em algum lugar uma criança juntar com outros, e levantar a casa onde ela vai morar.

BOJUNGA, Lygia. Livro: um encontro com Lygia Bojunga. 2. Ed. Rio de Janeiro: Agir, 1998.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental – IBEP 5ª edição – São Paulo, 2018, p. 154-6.

Entendendo o livro:

01 – Por que o depoimento recebeu o nome “A troca”?

      A palavra troca foi empregada com o sentido de retribuição. A autora retribui, devolve o que os livros lhe deram, escrevendo outros livros, para outros leitores.

02 – Releia a frase:

        “Para mim, livro é vida; [...]”.

a)   Por que a autora faz essa afirmação?

Porque o livro a constituiu como pessoa, tornou-se seu sustento e possibilitou que ela ajudasse outras pessoas.

b)   Pensando em sua vida, qual palavra você usaria no lugar de livro? Explique.

Resposta pessoal do aluno.

c)   A escritora fez de uma paixão de criança sua profissão. Como você poderia transformar uma paixão de sua vida em profissão? Explique.

Resposta pessoal do aluno.

03 – Depois de definir livro, o depoimento apresenta, em cada parágrafo, uma ideia diferente a respeito da importância do livro na vida da autora. Explique como essas ideias sobre a leitura se formaram em cada período da vida da escritora:

a)   Primeiro período da infância.

Brincando de casinha: livro era tijolo.

b)   Segundo período da infância.

Descobrindo o significado dos desenhos e das palavras.

c)   Pré-adolescência/adolescência.

Pegando intimidade com as palavras, alimentando e imaginação.

d)   Jovem, adulta.

Fabricando, ou seja, escrevendo livros para leitura de outras pessoas.

04 – A escritora realiza um depoimento sobre sua relação com os livros e a leitura. Responda:

a)   De que tipo de leitura a autora se refere?

A autora está se referindo à leitura literária.

b)   É possível “alimentar a imaginação” com outras formas de manifestação cultural? Explique.

Sim, é possível “alimentar a imaginação” com outras formas de manifestação cultural, por exemplo: ao assistir a um filme ou a uma peça teatral, ao jogar videogame, ouvindo ou cantando uma música, entre outras. Nessas manifestações culturais, é possível imaginar-se como outras pessoas, vivendo em outros mundos.

c)   Além de entretenimento e fruição, que objetivos pode ter a leitura? Explique.

Os objetivos de leitura podem ser estudar, buscar informações, trabalhar, formar opinião, buscar instruções de uso, entre outros.

05 – Em sua opinião, que valor nossa sociedade dá à leitura de forma geral? Explique.

      Resposta pessoal do aluno.

sábado, 17 de julho de 2021

TEXTO: O PEQUENO PRÍNCIPE(FRAGMENTO) - ANTONIE DE SAINT-EXUPÉRY - COM GABARITO

 TEXTO: O pequeno príncipe (Fragmento)

          Antonie de Saint-Exupéry

 [...]

- Bom dia - disse a raposa.

- Bom dia - respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.

- Eu estou aqui - disse a voz -, debaixo da macieira...

- Quem és tu? - perguntou o principezinho. - Tu és bem bonita...

- Sou uma raposa - disse a raposa.

- Vem brincar comigo - propôs o principezinho. - Estou tão triste...

- Eu não posso brincar contigo - disse a raposa. - Não me cativaram ainda.

- Ah! desculpa - disse o principezinho.

Após uma reflexão, acrescentou:

- Que quer dizer "cativar"?

- Tu não és daqui - disse a raposa. - Que procuras?

- Procuro os homens - disse o principezinho. - Que quer dizer "cativar"?

- Os homens - disse a raposa - têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem. Tu procuras galinhas?

- Não - disse o principezinho. - Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?

- É uma coisa muito esquecida - disse a raposa. - Significa "criar laços"...

- Criar laços?

- Exatamente - disse a raposa. - Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim.

Não passo, a teus olhos, de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo.

- Começo a compreender - disse o principezinho. - Existe uma flor... eu creio que ela me cativou.

- É possível - disse a raposa. - Vê-se tanta coisa na Terra...

- Oh! não foi na Terra - disse o principezinho.

A raposa pareceu intrigada:

- Num outro planeta?

- Sim.

- Há caçadores nesse planeta?

-Não.

- Que bom! E galinhas?

- Também não.

- Nada é perfeito - suspirou a raposa.

Mas a raposa voltou à sua ideia.

- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se me cativares, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:

- Por favor... cativa-me! - disse ela.

- Bem quisera - disse o principezinho -, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.

- A gente só conhece bem as coisas que cativou - disse a raposa. - Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!

- Que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.

- É preciso ser paciente - respondeu a raposa. - Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, a cada dia, te sentarás mais perto...

No dia seguinte o principezinho voltou.

- Teria sido melhor voltares à mesma hora - disse a raposa.

- Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.

Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz.

Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas, se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.

- Que é um rito? - perguntou o principezinho.

- É uma coisa muito esquecida também - disse a raposa. - É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!

Assim o principezinho cativou a raposa. [...]

 

SAINT-EXUPÉRY, Antonie de. O pequeno príncipe. Tradução de Dom Marcos Barbosa. 41. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1994.

 QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO DO TEXTO

1. Quais são as personagens da história?

As personagens da narrativa são o principezinho e a raposa.

 2. O narrador da história é também uma personagem? Como você chegou a essa conclusão?

O narrador não é personagem. Ele não participa da história, que está narrada em terceira pessoa.

 3. Na história do pequeno príncipe, a raposa é um animal personificado: sente, pensa e fala como ser humano. Você já havia lido algum texto cujas personagens também eram personificadas?

As fábulas geralmente têm, como personagens, animais que pensam e agem como os seres humanos, sempre procurando transmitir algum ensinamento moral.

 4. Como a raposa definia a amizade?

Como um entendimento mútuo, amigo é aquele que desperta no outro a necessidade de sua presença. Os amigos se cativam uns aos outros.

 5. Releia o trecho em que aparecem as palavras "cativar" e "rito".

     Procure as palavras no dicionário.

     Cativar - ganhar a simpatia, a estima; seduzir, atrair.

    Rito - regras que se devem observar numa cerimônia religiosa.   

 6. Segundo a raposa, o que é preciso para cativar um amigo?

Para cativar um amigo, é preciso ser paciente e estar com o amigo com certa frequência, passar a fazer parte de sua vida, aos poucos, inicialmente sem nada dizer.

 7. A raposa valoriza o silêncio nos primeiros encontros entre os amigos. E justifica seu ponto de vista com a afirmação: "A linguagem é fonte de mal-entendidos". O que você entendeu dessa afirmação da raposa?

Muitas vezes, os interlocutores não se compreendem bem, gerando situações de conflito e desentendimento entre eles.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

TEXTO: A ILHA PERDIDA - (FRAGMENTO) - MARIA JOSÉ DUPRÉ - COM GABARITO

  TEXTO: A ilha perdida(fragmento)


Na fazenda do padrinho, perto de Taubaté, onde Vera e Lúcia gostavam de passar as férias, corre o rio Paraíba. Rio imenso, silencioso e de águas barrentas. Ao atravessar a fazenda ele fazia uma grande curva para a direita e desaparecia atrás da mata. Mas, subindo-se ao morro mais alto da fazenda, tornava-se a avistá-lo a uns dois quilômetros de distância e nesse lugar, bem no meio do rio, via-se uma ilha que na fazenda chamavam de "Ilha Perdida". Solitária e verdejante, parecia mesmo perdida entre as águas volumosas.

Quico e Oscar, os dois filhos do padrinho, ficavam horas inteiras sentados no alto do morro e conversando a respeito da ilha. Quem viveria lá? Seria habitada? Teria algum bicho escondido na mata? Assim à distância, parecia cheia de mistérios, sob as copas altíssimas das árvores; e as árvores eram tão juntas umas das outras, que davam a impressão de que não se poderia caminhar entre elas. Oscar suspirava e dizia:

- Se algum dia eu puder ver a ilha de perto, vou mesmo.

Maria José Dupré, A ilha perdida, Ed. Ática - São Paulo

 Vocabulário

       Copa: Parte Mais Alta Das Árvores

       Morro: Pequena Elevação De Terra

       Quilômetro: Medida De Comprimento, Equivalente A Mil Metros

       Solitária: Sozinha

       Taubaté: Cidade Do Estado De São Paulo

       Verdejante: que é muito verde


 

Interpretando o texto

  1. Qual é o nome do rio que corre na fazenda?

Rio Paraíba.

  1. Escreva algumas características desse rio.

Imenso, silencioso e de águas barrentas.

  1. Na sua opinião, que tipo de pessoas moram na Ilha Perdida?

Resposta pessoal.

  1. Marque somente as frases que estão de acordo com o texto:

a)    Quico e Oscar sabiam o que existia na "Ilha Perdida".

b)    Vera e Lúcia gostavam de passar as férias na fazenda do padrinho. X

c)    Subindo-se ao morro mais alto da fazenda, via-se a "Ilha Perdida". X

d)    Oscar não queria ir à "Ilha Perdida".

 

  1. Marque somente os nomes dos animais que você acha que vivem na Ilha Perdida:

 

urso        tamanduá               jacaré           elefante

 

onça    passarinhos             cobra              hipopótamo

 

leão    papagaio                    tigre               rinoceronte

 

  1. Você acha que Quico e Oscar foram até a "Ilha Perdida"? O que eles fizeram lá?

Resposta pessoal.

       7.Forme frases com as palavras:

solitária                     verdejante                            copa                           morro

 

Resposta pessoal.

domingo, 20 de setembro de 2020

LIVRO(FRAGMENTO): O MENINO DO DEDO VERDE - CAPÍTULO SEIS - MAURICE DRUON - COM GABARITO

 LIVRO(FRAGMENTO): O MENINO DO DEDO VERDE - CAPÍTULO SEIS

                                      Maurice Druon

  Onde Tistu recebe uma lição de jardim e descobre, ao mesmo tempo, que possui polegar verde.

         Tistu pôs chapéu de palha para ir à aula de jardim.

        Era a primeira experiência do novo sistema. O Sr. Papai havia julgado melhor começar por aí. Uma lição de jardim, afinal de contas, é uma lição de terra, essa terra em que caminhamos, que produz os legumes que comemos e o capim com que os animais se alimentam, até ficarem bastante gordos para serem comidos...

       A terra, tinha declarado o Sr. Papai, está na origem de tudo.

      "Tomara que o sono não venha!" — dizia Tistu consigo mesmo, a caminho da aula.

      O jardineiro Bigode, prevenido pelo Sr. Papai, já esperava o aluno na estufa.

      O jardineiro Bigode era um velho macambúzio, de pouca conversa, e não lá muito amável. Uma extraordinária floresta, cor de neve, brotava-lhe entre o nariz e a boca.

     Como descrever os bigodes de Bigode? Uma das maravilhas da natureza. Nos dias de vento, quando o jardineiro passava de pá ao ombro, era um verdadeiro espetáculo: pareciam duas chamas que lhe saíssem do nariz para queimar-lhe as orelhas.

     Tistu bem que gostava do velho jardineiro, mas tinha um pouco de medo.

     — Bom dia, Sr. Bigode — disse Tistu, tirando o chapéu.

     — Ah! Você já chegou... Vamos ver do que é capaz. Está vendo este monte de terra e estes vasos? Você vai encher os vasos de terra e enfiar o polegar bem no meio, para fazer um buraco. Depois ponha tudo em fila, ao longo do muro. Então a gente coloca nos buracos as sementes que quiser.

       As estufas do Sr. Papai eram admiráveis e dignas, em tudo, do resto da casa. Sob a proteção dos vidros cintilantes, mantinha-se, graças a um aquecedor, um ar úmido e quente. Ali mimosas 27 floresciam em pleno inverno, cresciam palmeiras importadas da África, e cultivavam-se lírios pela sua beleza e jasmins pelo seu perfume. E até orquídeas, que não são belas nem cheiram, por um motivo inteiramente inútil para uma flor: a raridade.

        Bigode era o senhor daquele recinto. Quando Dona Mamãe, aos domingos, trazia as amigas para ver a estufa, ele postava-se à porta, de avental novo, tão amável e falante quanto um cabo de enxada.

        À menor tentativa de acender um cigarro ou tocarem numa flor, Bigode saltava sobre a imprudente:

          — Era o que faltava! Será que as senhoras querem sufocar e estrangular minhas flores?

          Tistu, ao realizar o trabalho que Bigode lhe confiara, teve uma agradável surpresa: esse trabalho não lhe dava sono. Ao contrário, dava-lhe um grande prazer. Ele achava que a terra tinha um cheiro gostoso. Um vaso vazio, uma pá de terra, um buraco com o dedo, e o serviço estava pronto. Passava-se logo ao seguinte. Os vasos iam-se alinhando rente ao muro.

          Enquanto Tistu prosseguia o trabalho com afinco, Bigode dava lentamente uma volta pelo jardim. E Tistu descobriu aquele dia por que é que o velho jardineiro falava tão pouco com as pessoas: ele conversava com as flores.

          Vocês compreendem facilmente que depois de cumprimentar cada rosa de um ramo, cada cravo de uma touceira, já não há voz que chegue para distribuir "Boa noite, meu senhor!" ou "Bom apetite, minha senhora!" ou "Saúde!" quando alguém espirra, — todas essas coisas, enfim, que fazem os outros dizerem: "Como ele é bem educado!"

          Bigode ia de uma flor a outra, preocupando-se com a saúde de 28 cada uma.

         — Então, rosa-chá, sempre fazendo das suas! Guarda os botões escondido para fazê-los abrir quando ninguém espera... E você, trepadeira, está pensando que é a rainha da montanha, querendo fugir pelo alto dos caixilhos... Veja se isso são modos!

         Em seguida, virou-se para Tistu e gritou-lhe de longe:

         — Então, é para hoje ou para amanhã?

         — Um pouco de paciência, professor! Só faltam três vasos — respondeu Tistu.

         Apressou-se em terminar e foi ao encontro de Bigode, na outra ponta do jardim.

        — Pronto, acabei.

        — Bom, vamos ver — resmungou o jardineiro.

        Voltaram devagarinho, porque Bigode aproveitava, ora para cumprimentar uma grande peônia pelo seu belo aspecto, ora para encorajar uma hortênsia a se tornar mais azul... De repente, eles pararam imóveis, boquiabertos, estupefatos, fora de si.

        — Será que eu estou sonhando? — disse Bigode, esfregando os olhos. — Você está vendo o mesmo que eu?

        — Estou, Sr. Bigode.

        Ao longo do muro, ali mesmo, a poucos passos, todos os vasos que Tistu enchera haviam florescido em menos de cinco minutos!

        Mas é preciso explicar: não se tratava de uma tímida floração, hastes pálidas e hesitantes. Nada disso! Em cada vaso se avolumavam as mais soberbas begônias. E todas formavam, alinhadas, uma espessa sebe vermelha.

      — É inacreditável! — dizia Bigode. — É preciso pelo menos dois meses para begônias assim!

       Um prodígio é um prodígio. Primeiro, a gente o constata. Depois, procura explicá-lo. Tistu perguntou:

      — Mas, se não se havia posto semente, Sr. Bigode, de onde é que saíram estas flores?

     — Mistério, mistério... — respondeu Bigode.

     Em seguida, tomou bruscamente nas suas mãos calejadas a mãozinha de Tistu.

      — Deixe ver o polegar!

      Examinou atentamente o dedo do menino, em cima e embaixo, na sombra e na luz.

      — Meu filho — disse enfim, após madura reflexão — ocorre com você uma coisa extraordinária, surpreendente! Você tem polegar verde...

      — Verde! — exclamou Tistu muito espantado. — Acho que é cor-de-rosa, e até que está bem sujo! Verde coisa alguma!

      Olhou seu polegar, muito normal.

      — É claro, é claro que você não pode ver — replicou Bigode,.

      — O polegar verde é invisível. A coisa se passa por dentro da pele: é o que se chama um talento oculto. Só um especialista é que descobre. Ora, eu sou um especialista. Garanto que você tem polegar verde.

     — E para que serve isto de polegar verde?

    — Ah! é uma qualidade maravilhosa — respondeu o jardineiro. — Um verdadeiro dom do céu! Você sabe: há sementes por toda parte. Não só no chão, mas nos telhados das casas, no parapeito das janelas, nas calçadas das ruas, nas cercas e nos muros. Milhares e milhares de sementes que não servem para nada. Estão ali esperando que um vento as carregue para um jardim ou para um campo. Muitas vezes elas morrem entre duas 30 pedras, sem ter podido transformar-se em flor. Mas, se um polegar verde encosta numa, esteja onde estiver, a flor brota no mesmo instante. Aliás, a prova está aí, diante de você! Seu polegar encontrou na terra sementes de begônia, e olhe o resultado! Que inveja que eu tenho! Como seria bom para mim, jardineiro de profissão, um polegar verde como o seu!

        Tistu não pareceu muito entusiasmado com a descoberta.

        — Já vão dizer de novo que eu não sou como todo mundo — resmungou.

        — O melhor — replicou-lhe Bigode — é não falar nada com ninguém. Que adianta despertar curiosidade ou inveja? Os talentos ocultos, em geral, trazem aborrecimentos. Você tem o polegar verde, está acabado. Mas guarde para você, e fique em segredo entre nós.

         E no caderninho de notas, entregue pelo Sr. Papai e que Tistu devia fazer assinar no fim de cada aula, o jardineiro Bigode escreveu apenas:

         "Este menino revela boas disposições para a jardinagem."

 DRUON, Maurice. O menino do dedo verde. tradução de D. Marcos Barbosa 35.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989.

ENTENDENDO O TEXTO

 1)   Sobre os bigodes do jardineiro...

a)   No trecho “Como descrever os bigodes de Bigode?”, temos uma mesma palavra escrita de dois modos diferentes. Por quê?

Porque a grafia do nome próprio (Bigode) e o bigode se refere a um substantivo, ou seja, ao vistoso bigode que o jardineiro tem.

 b)   A que o autor comparou os bigodes do Sr. Bigode? Copie do texto.

“Uma extraordinária floresta, cor de neve, brotava-lhe entre o nariz e a boca.”

“...pareciam duas chamas que lhe saíssem do nariz...”.

 2)   Releia com os seus colegas: “Bigode era o senhor daquele recinto. Quando Dona Mamãe aos domingos, trazia as amigas para ver a estufa, ele postava-se à porta, de avental novo, tão amável e falante quanto um cabo de enxada.”

a) Que recinto é esse?

O recinto é a estufa, um local que absorve o calor do sol e protege as plantas.

 b)   Que elementos estão sendo comparados em “tão amável e falante quanto um cabo de enxada”?

Compara-se aqui o jardineiro Bigode ao cabo de uma enxada.

 c)   Um cabo de enxada pode ser amável e falante? O que significa, então, essa comparação?

Foi levada em conta a característica de Bigode: ser pouco comunicativo, assim como um cabo de enxada ou qualquer outro objeto inanimado.

 d)   Talvez você, agora, possa deduzir o significado da palavra destacada em “O jardineiro Bigode era um velho macambúzio, de pouca conversa, e não lá muito amável.”

Resposta pessoal.

Macambúzio significa “tristonho, mal-humorado”.

 3)   O jardineiro Bigode é um adulto que conversa com as flores, mas é carrancudo com as pessoas. Que sentimento você percebe na relação desse adulto com suas plantas?

Ele demonstrava amor e interesse por elas, preocupava-se com a saúde delas, animava-se com seus progressos. Seus comentários podem ser comparados aos de responsáveis por

Crianças pequenas sobre suas travessuras.

 4)   Releia: “Tistu, ao realizar o trabalho que Bigode lhe confiara, teve uma agradável surpresa: esse trabalho não lhe dava sono. Ao contrário, dava-lhe um grande prazer. Ele achava que a terra tinha um cheiro gostoso.”

Que opinião o menino tinha sobre sua atividade com Bigode?

Ele gostava do trabalho e achava que a terra tinha um cheiro bom.

5)   O que significa ter um polegar verde? Que consequências isso traria para um jardineiro?

Ter polegar verde significa ter uma ótima capacidade para lidar com as plantas, cultivá-las, cuidar delas. Um jardineiro com esse dom produziria linda flores, que cresceriam muito mais rápido, além de seu cultivo dar menos trabalho.

 6)   “De repente, eles pararam imóveis, boquiabertos, estupefatos, fora de si.” Observe que Tistu e Bigode tiveram as mesmas reações e suas emoções foram aumentando de intensidade. Que fato desencadeou essas reações?

Todos os vasos que Tistu havia enchido de terra haviam florescido em menos de cinco minutos, e as flores eram lindas!

 7)   Tistu não ficou nem um pouco animado com a novidade. Que fala do menino expressa seu descontentamento?

“Já vão dizer de novo que eu não sou como todo mundo”.

 

8)   O que a expressão de novo, na resposta anterior, revela?

A expressão revela que ele já havia ouvido alguém dizer que ele não era como todo mundo.

 

9)   No trecho “Tistu, ao realizar o trabalho que Bigode lhe confiara teve uma agradável surpresa: esse trabalho não lhe dava sono.” O fato de não ficar com sono, durante o trabalho solicitado por Bigode, foi uma surpresa para o menino. O que essa surpresa indica?

Indica que, em outras situações, Tistu teria ficado com sono, já que as atividades realizadas não lhe teriam dado prazer.

 

10)              Que atitude de Bigode demonstra um profundo respeito pelo talento oculto de Tistu?

O fato de manter segredo.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

TEXTO LITERÁRIO: O INDIVÍDUO E A HISTÓRIA - EUCLIDES DA CUNHA - COM GABARITO

Texto: O indivíduo e a História

                   “O que apelidamos grande homem é sempre alguém que tem a ventura de transfigurar a fraqueza individual, compondo-a com as forças infinitas da Humanidade”

Euclides da Cunha

 Cada indivíduo possui suas características próprias que o distinguem do outro. Como pessoa, pensa, vive integrado a uma família e à sociedade, está sujeito a um governo (embora nem sempre participe de sua escolha) e está sujeito às leis. Para sobreviver executa um trabalho (embora alguns vivam da exploração do trabalho alheio) e, segundo a sua situação econômica, engaja-se em um determinado grupo social. Enfim, cada indivíduo luta pelos seus próprios fins, pela sua existência e pela existência dos que lhe são próximos, constrói sua própria história. Ao mesmo tempo ocorre um movimento conjunto, resultado da ação de todos os homens, que denominamos de história do gênero humano. Portanto, a história não é estática, mas é um processo dinâmico, dialético, em que as contradições geradas pela luta entre as classes sociais conduzem às grandes transformações da sociedade. Nesse sentido, podemos afirmar que na história não há o acaso e que todas as transformações são fruto da ação dos homens e não de alguns homens apenas, os “grandes homens”, os “heróis”. Acreditar que só os “grandes homens” transformam a estrutura da sociedade e fazem a história é negar a própria história.

        De um modo geral temos a tendência ao comodismo. Esperamos que apareçam os “grandes homens”, os “heróis” que façam o que precisa ser feito e esquecemos que a história é um processo do qual participamos, quer queiramos ou não. Refugiar-se na neutralidade é uma atitude covarde e, em si, já é uma opção. Demonstra medo de enfrentar as “forças de permanência”, isto é, aqueles que, enquanto se agarram aos privilégios econômicos e políticos, pretendem manter, a qualquer custo, o seu poder de decisão, não hesitando em desumanizar, oprimir e violentar a grande maioria, reduzindo-a à condição de objeto.

  O grande desafio que a história coloca diante de nós é a luta contra as forças de permanência que pretendem deter as forças de transformação.

Paulo Cosiuc - Professor de história - Escola Comunitária, Campinas.

                         Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 123/4.

Entendendo o texto:

01 – Depois de reler o texto, procure no dicionário o significado das palavras relacionadas, escrevendo-as em seu caderno. Em seguida, escolha três delas e forme três frases, dentro do contexto estudado.

a)   Ventura: felicidade.

b)   Dinâmico: objetivos.

c)   Fins: ativo.

d)   Geradas: produzidas.

e)   Opção: livre escolha.

Resposta pessoal do aluno.

02 – O que significa construir a sua história?

      Toda pessoa faz a sua vida.

03 – Dê o significado dos adjetivos destacados, em seu caderno:

a)   Fraqueza individualpessoal.

b)   Forças infinitasincalculável.

c)   Características própriaspessoais.

d)   Trabalho alheiodos outros.

e)   Situação econômicafinanceira.

04 – O que é ser um grande homem?

      Resposta pessoal do aluno.

05 – As palavras destacadas têm sentido conotativo (figurado). Explique-os em seu caderno. E, com cada um deles, forme uma frase.

a)   Dos que lhe são próximos...

Todo o povo.

b)   Acreditar que só os grandes homens...

Homens que se destacam por seus feitos.

c)   Enfrentar as forças de permanência...

Os opressores.

06 – Que tipo de história fazem os brasileiros?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O brasileiro está acordando de sua neutralidade. Começa a lutar por seus direitos.

07 – “Refugiar-se na neutralidade” é uma atitude covarde. Por quê?

      Porque, quer queiramos ou não, participamos do processo de transformação. E ficar em cima do muro não parece uma atitude corajosa.

08 – Você conhece homens reduzidos à condição de objeto? Comente.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: São homens que se deixam manipular pelos opressores.

09 – Quem impede o protesto do povo? Só os governantes autoritários? Ou, por vezes, a família, a escola, a Igreja também o fazem?

      O próprio sistema; a sociedade de um modo geral.

10 – Todos somos participantes da história.

a)   Como podemos lutar contra as forças de permanência?

Resposta pessoal do aluno.

b)   E nossa comunidade? Vai sair à luta, vai se arriscar, vai participar da história fugindo do comodismo e da neutralidade? Por quê? O que se faz no lugar em que você vive?

Resposta pessoal do aluno.