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sábado, 13 de outubro de 2018

CRÔNICA: O MENINO QUE CHUPOU A BALA ERRADA - STANISLAW PONTE PRETA - COM GABARITO

Crônica: O menino que chupou a bala errada
         Stanislaw Ponte Preta


        Diz que era um menininho que adorava bala e isto não lhe dava qualquer condição de originalidade, é ou não é? Tudo que é menininho gosta de bala. Mas o garoto desta história era tarado por bala. Ele tinha assim uma espécie de ideia fixa, uma coisa assim… assim, como direi? Ah… creio que arranjei um bom exemplo comparativo: o garoto tinha por bala a mesma loucura que o Sr. Lacerda tem pelo poder. [Eu, Yuri, diria “a mesma loucura que o Sr. Lula tem pelo poder”. Entendeu agora?]
        Vai daí um dia o pai do menininho estava limpando o revólver e, para que a arma não lhe fizesse uma falseta, descarregou-a, colocando as balas em cima da mesa. O menininho veio lá do quintal, viu aquilo ali e perguntou pro pai o que era:
        – É bala – respondeu o pai, distraído.
        Imediatamente o menininho pegou diversas, botou na boca e engoliu, para desespero do pai, que não medira as consequências de uma informação que seria razoável a um filho comum, mas não a um filho que não podia ouvir falar em bala que ficava tarado para chupá-las.
        Chamou a mãe (do menino), explicou o que ocorrera e a pobre senhora saiu desvairada para o telefone, para comunicar a desgraça ao médico. Esse tranquilizou a senhora e disse que iria até lá, em seguida.
        Era um velho clínico, desses gordos e bonachões, acostumados aos pequenos dramas domésticos. Deu um laxante para o menininho e esclareceu que nada de mais iria ocorrer. Mas a mãe estava ainda aflita e insistiu:
        – Mas não há perigo de vida, doutor?
        – Não – garantiu o médico: – Para o menino não há o menor perigo de vida. Para os outros talvez.
        – Para os outros? – estranhou a senhora.
        – Bem… – ponderou o doutor: – o que eu quero dizer é que, pelo menos durante o período de recuperação, talvez fosse prudente não apontar o menino para ninguém.

De Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo de Sérgio Porto).
Fonte: “365 – Seleção de Leitura e Informação”, 1973 (?).
Entendendo o texto:

01 – “O menino que chupou a bala errada” é um texto em prosa, organizado em parágrafos. Quantos parágrafos tem o texto?
      Possui 10 parágrafos.

02 – O narrador desse texto participa dos acontecimentos ou é apenas um observador?
      Apenas observador.

03 – Transcreva uma passagem do texto em que o narrador conversa diretamente com o leitor.
      “O garoto tinha por bala a mesma loucura que o Sr. Lacerda tem pelo poder. [Eu, Yuri, diria “a mesma loucura que o Sr. Lula tem pelo poder”. Entendeu agora?].

04 – Quantos personagens participam do acontecimento? Quais são?
      O menino, o pai, a mãe e o médico.

05 – Por que o menino poderia representar um perigo de vida para os outros?
      Porque a bala poderia explodir na hora que fosse expelida para fora.

06 – Na crônica de Stanislaw Ponte Preta, vimos a confusão resultante da dupla interpretação de uma mesma palavra (bala), que tem mais de um significado. Uma interpretação errada pode resultar em confusão. Escreva significados diferentes para a palavra abaixo:
Rosa: Nome de pessoa, nome de flor, cor de um objeto ou coisas.

07 – Qual é o substantivo que deu origem estes adjetivos?
a) amanteigado: manteiga.
b) venenosa: veneno.
c) enferrujado: ferrugem.

08 – Escreva o plural dos substantivos:
a) Capitão: capitães.
b) dobrão: dobrões.
c) espanhol: espanhóis.
d) poder: poderes.
e) barril: barris.
f) chapéu: chapéus.

09 – Escreva o aumentativo destes substantivos.
a) nariz: narigão.
b) orelha: orelhão.
c) cabeça: cabeção.
d) pé: pezão.
e) cabelo: cabelão.
f) dedo: dedão.
g) pescoço: pescoção.
h) braço: bração.



sábado, 11 de agosto de 2018

CRÔNICA: NOTÍCIA DE JORNAL - STANISLAW PONTE PRETA - COM GABARITO

CRÔNICA: NOTÍCIA DE JORNAL
                Stanislaw Ponte Preta


     Quem descobriu, perdida no noticiário policial de um matutino, a intensa poesia contida no bilhete do suicida? Creio que foi Manuel Bandeira. Sim, se a memória não falha (e, meu Deus, ela está começando a falhar), foi o poeta Bandeira. Ele é que tem o dom da poesia mais forte. Claro, todos nós somos poetas em potencial, amando a poesia no voo de um pássaro, na comovente curva de um joelho feminino, no pôr-do-sol, na chuva que cai no mar. Mas nós somos os pequenos poetas, os que sentimos a poesia, sua mensagem de encantamento, sem capacidade bastante para transmitir ao amigo, à amada, ao companheiro aquilo que nos encantou.
        Então Deus fez o poeta maior, aquele que tem o dom de transmitir por meio de palavras toda e qualquer poesia, seja ela plástica, audível, rítmica; sentimento ou dor.
        "A poesia é espontânea" – disse um dia Pedro Cavalinho, o tímido esteta, enquanto descíamos de madrugada uma rua molhada de orvalho e um galo branco cantou num muro próximo. Um muro que o limo pintara de verde.
        E é mesmo. Tão espontânea, que estava no bilhete do suicida. Um minuto antes de botar formicida no copo de cerveja e beber, ele rabiscou, com sua letra incerta, num pedaço de papel: "Morri do mal de amor. Avisem minha mãe. Ela mora na Ladeira da Alegria, sem número".
        Manuel Bandeira, poeta maior, nem precisou transformar num poema as palavras do morto. Leu a notícia em meio às notas policiais do matutino e notou logo o que podem as palavras. O homem humilde, que fora a vida inteira um espectador da poesia das coisas, no último instante, sem a menor intenção, se fez poeta também. E deixou sobre a mesa suja de um botequim, entre um copo de formicida e uma garrafa de cerveja, a sua derradeira mensagem - a primeira mensagem poética.
        Num matutino de ontem, num desses matutinos que se empenham na publicidade do crime, havia a seguinte notícia: "João José Gualberto, vulgo 'Sorriso', foi preso na madrugada de ontem, no Beco da Felicidade, por ter assaltado a Casa Garson, de onde roubara um lote de discos".
        Pobre redator, o autor da nota. Perdido no meio de telegramas, barulho de máquinas, campainhas de telefones, nem sequer notou a poesia que passou pela sua desarrumada mesa de trabalho, e que estava contida no simples noticiário de polícia.
        Bem me disse Pedro Cavalinho, o tímido esteta, naquela madrugada: "A maior inimiga da poesia é a vulgaridade". Distraído na rotina de um trabalho ingrato, esse repórter de polícia soube que um homem que atende por um vulgo de "Sorriso" roubara discos numa loja e fora preso naquele beco sujo que fica entre a Presidente Vargas e a Praça da República e que se chama Felicidade. Fosse o repórter menos vulgar e teria escrito:
        "O Sorriso roubou a música e acabou preso no Beco da Felicidade".

PRETA, Stanislaw Ponte. Tia Zulmira e eu. 1. ed.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979. p. 145-7.
Entendendo o texto:
01 – Releia atentamente os dois primeiros parágrafos do texto. A seguir, escreva um parágrafo em que se diferenciem os poetas menores do poeta maior.
     Os poetas menores são capazes de sentir a poesia; o poeta maior é capaz de transmitir verbalmente toda e qualquer carga poética. Essa diferença básica deve ser cobrada na resposta do aluno. 
   
02 – Relacione as palavras de Pedro Cavalinho (terceiro parágrafo) com a situação aí descrita.
      A cena descrita no parágrafo é espontânea e é poética: deve-se levar o aluno a visualizar o galo branco que canta num muro pintado de verde pelo limo, numa manhã úmida.

03 – O que existe de poético, no seu entender, no bilhete do suicida (Quarto parágrafo).
       Há intensa carga poética no drama do suicida: morre por amor, preocupa-se em avisar sua mãe, e ela mora, amargamente, na Ladeira da Alegria, numa casa tristemente sem número.

04 – No quinto parágrafo, há várias expressões de sentido oposto. Aponte-as e comente seu emprego.
      “O homem humilde” / “se fez poeta”; “a vida inteira” / “no último instante”; “A sua derradeira mensagem” / “a sua primeira mensagem poética”. O emprego dessas expressões é altamente enfático – amplia a dramaticidade do episódio narrado.

05 – “A maior inimiga da poesia é a vulgaridade.” Relacione o conteúdo dessa frase com o comportamento do redator.
      O redator agiu de forma meramente profissional, enxergando na notícia apenas o conteúdo policialesco. Agiu com vulgaridade, portanto.

06 – A notícia, como o redator a produziu, lhe parece inadequada à finalidade a que se propõe? Comente.
      Não. Ela não é inadequada à finalidade a que se propõe. O redator cumpriu seu dever profissionalmente.

07 – O modo como Stanislaw Ponte Preta elaborou a mensagem tem qual finalidade?
      Stanislaw visa a uma finalidade bastante diversa a que visava o redator: trata-se, agora, de despertar prazer estético pela elaboração da mensagem e de extrair da vida aquilo que ela tem de poético.

08 – Stanislaw utilizou o mesmo material que o redator para elaborar sua mensagem poética. As mensagens de um e de outro são, no entanto, muito diferentes. Por quê?
      Trata-se de textos elaborados com finalidades explicitamente diferentes. Deve-se, a partir desse aspecto, enfatizar veementemente a importância da finalidade na configuração da mensagem.

09 – O texto “Notícia de jornal” é coeso? Como se articulam as diversa partes que o formam?
      É um texto coeso. Observar com o aluno como o texto principia com uma indagação sobre a descoberta da poesia no cotidiano para, num segundo momento, efetuar exatamente essa mesma descoberta.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

CONTO: A BARBA DO FALECIDO - STANISLAW PONTE PRETA - COM GABARITO

CONTO: A BARBA DO FALECIDO
                 Stanislaw Ponte Preta

    Aconteceu em Jundiaí. Orozimbo Nunes estava passando mal e foi internado pela família no Hospital São Vicente de Paula, para tratamento. Orozimbo tem muitos parentes, é muito querido e tem uma filha que cuida dele. Foi a filha, aliás, que internou Orozimbo.
        Anteontem telefonaram para a filha de Orozimbo Nunes. Era do hospital e a notícia dada foi lamentável. Orozimbo tinha abotoado o paletó – como dizem os irreverentes. Isto é, tinha posto o bloco na rua, como dizem os super irreverentes, comparando enterro a bloco carnavalesco. Enfim, Orozimbo tinha morrido. A filha de Orozimbo que fizesse o favor de aguardar, porque lá do hospital iam fazer o carreto, ou seja, iam mandar o defunto a domicílio.
        A filha do extinto caiu em prantos e convocou logo os parentes. Conforme ficou dito acima, Orozimbo era muito querido. Veio parente da capital, veio parente de Minas, parente do Rio, enfim, Jundiaí ficou assim de parente de Orozimbo. As providências para o velório foram logo tomadas, gastou-se dinheiro, compraram-se flores. Estava um velório legal se não faltasse um detalhe: não havia defunto.
        O corpo de Orozimbo não tinha chegado. A família ligou para o hospital e reclamou. Tinha saído no expresso-rabecão das seis – informaram. E, de fato, pouco depois Orozimbo (à sua revelia) chegava. Puseram o embrulho lá dentro, houve aquela choradeira regulamentar e, na hora de desembrulhar para preparar o cadáver, alguém notou que a barba de Orozimbo crescera.
        – Ele estava tão doente que nem podia fazer a barba – comentou um dos que ajudavam, com a filha de Orozimbo, que esperava lá fora.
        A filha de Orozimbo estranhou a coisa. Entregara Orozimbo doente, é verdade, mas Orozimbo chegara ao hospital perfeitamente escanhoado e não dava tempo de a barba ter crescido assim tão depressa.
        – A barba tá muito grande? – perguntou a filha de Orozimbo.
        Estava. Estava que parecia barba de músico da Bossa-Nova. Aí a moça desconfiou e foi conferir. Simplesmente não era Orozimbo. Tinham trocado as encomendas, e talvez naquele momento, outra família, noutro local, estivesse chorando o Orozimbo errado. Mais que depressa ligaram para o Hospital São Vicente de Paula e reclamaram contra a ineficiência do serviço de entregas rápidas.
        Nova verificação, para se saber qual era o embaraço, e a direção do eficiente nosocômio descobriu que Orozimbo nem sequer morrera. Não houvera uma troca de cadáveres, mas uma troca de fichas. O que morrera não era Orozimbo, era um barbadinho anônimo. Orozimbo estava lá, vivinho e, por sinal, passando muito melhor. Podia até ter alta, assim que desejasse.
        Claro, parou a bronca, e a raiva contra o desleixo transformou-se em pungente alegria. A família foi buscar Orozimbo (Depois de devolver o barbicha, naturalmente) e o contentamento foi geral, em receber de volta aquele que já fora pranteado por antecipação e para o qual já tinham feito aquela vasta despesa para o enterro. Não sei se é verdade, mas dizem que a família, em sinal de regozijo pela volta de Orozimbo e também para aproveitar o que sobrara das despesas, ofereceu aos amigos um velório-dançante.

           STANISLAW PONTE PRETA. Garoto Linha Dura. 3ª Edição,
      Editora Sabiá, Rio de Janeiro, 1968.

Entendendo o texto:
Após a leitura do texto, respondas às questões abaixo.
01 – Ao saber do falecimento de Orozimbo, a filha chorou, como era de se esperar, e imediatamente:
a. (  ) foi ao hospital conferir o fato
b. (X) comunicou o fato aos parentes
c. (  )providenciou os serviços funerais
d. (  ) preparou a casa para o velório
02 – Segundo os dicionários, velório significa passar noite em claro na sala onde está exposto um morto. De acordo com o texto, podemos entender que o velório:
a. (   ) aconteceu por pouco tempo
b. (   ) começou com a chegada do defunto
c. (   ) terminou com a descoberta do erro
d. (X) não chegou realmente a acontecer.

03 – Os parentes de Orozimbo comentaram o tamanho da barba do falecido com a filha e, então, ela se admirou. Por quê?
      A barba não poderia ter crescido tanto em tão poucos dias, e a filha ficou admirada porque ainda não tinha visto o defunto.

04 – O narrador diz que “talvez naquele momento, outra família, noutro local, estivesse chorando o Orozimbo errado”. Analisada a situação, haveria essa possibilidade?  
Sim (   )           não (X). Justifique sua resposta.
      Porque só havia um defunto.

05 – Embora Orozimbo estivesse vivo, a família teve despesas com o velório. Na sua opinião, a quem cabe a culpa por essa despesa inútil? E por quê?
      Há duas possibilidades de culpados.
      1 – A família de Orozimbo, que não esperou o defunto chegar para se certificar do falecimento.
      2 – A direção do hospital, que deu a informação errada a família.

06 – O narrador informa de modo irreverente que: “Orozimbo tinha abotoado e paletó” e “posto o bloco na rua”. Reescreva a frase dentro do português padrão.
      Orozimbo tinha falecido (ou morrido).

07 – Localize no texto e transcreva para os espaços uma palavra que tenha o mesmo significado de:
a) pormenor, particularidade: detalhe.
b) deficiência, inutilidade: ineficácia.
c) hospital: nosocômio.
d) negligência, descuido: desleixo.
e) comovente, incitante: pungente.
f) chorado, lamentado: pranteado.
g) alegria, contentamento: regozijo.

08 – Antigamente, dava-se o nome de rabecão ao contrabaixo (instrumento musical semelhante do violino, porém muito maior). No texto rabecão tem outro significado. Qual é?
      Carro fúnebre.





domingo, 4 de fevereiro de 2018

CRÔNICA: PANACEIA INDÍGENA - STANISLAW PONTE PRETA - COM GABARITO

CRÔNICA: PANACEIA INDÍGENA
                      Stanislaw Ponte Preta

    Diz que o pajé da tribo foi chamado à tenda do cacique. Quando o pajé entrou, o cacique estava deitado, meio sobre o gemebundo, se me permitem o termo. A perna do cacique estava inchada, mais inchada que coxa de corista veterana. Tinha pisado num espinho envenenado. O pajé examinou, deu uns dois ou três roncos de pajé e depois aconselhou:

        – Chefe tem de passar perna folha de galho passarinho azul pousou.
      Disse e se mandou, ficando os índios do “staff” do cacique (cacique também tem “staff”) encarregados de arranjar a tal folha. Depois de muito procurarem, viram uma sanhaço pousado num galho de mangueira e trouxeram algumas folhas. Mas – eu pergunto – o cacique melhorou? E eu mesmo respondo: aqui! ó…
      No dia seguinte estava com a perna mais inchada. Chamaram o pajé de novo. O pajé veio, examinou e lascou:
      – Hum… hum… perna grande guerreiro melhorou nada com  folha galho passarinho azul pousou. Precisa lavar com água de Lua.
     Disse e se mandou. O “staff” arranjou uma cuia e botou a bichinha bem no meio da maloca, cheia de água, que era para – de noite – a Lua se refletir nela. Foi o que aconteceu. De noite houve Lua e, de manhãzinha, foram buscar a cuia e lavaram com a água a perna do cacique.
        O pajé já até tinha pensado que o chefe ficara  bom,  pois  não  foi mais chamado. Passado uns dias, no entanto, voltaram a apelar para os seus dotes de curandeiro. Lá foi o pajé para a tenda do cacique, encontrou-o deitado com a perna mais inchada que cabeça de botafoguense. Aí o pajé achou que já era tempo de acabar com aquilo. Examinou bem, fez um exame minucioso e sentenciou:
       – Cacique vai perdoar pajé, mas único jeito é tomar penicilina!

                                                     (STANISLAW PONTE PRETA, Garoto Linha Dura)
Entendendo o texto:

01 – O pajé foi chamado à tenda do cacique para curá-lo de um mal. O que causou esse mal?
      Um espinho envenenado.

02 – Para enfatizar o inchaço da perna do cacique, o autor fez duas comparações maldosas.  Identifique quais e transcreva-as aqui.
      a) a coxa de corista veterana          
      b) mais inchada que cabeça de botafoguense

03 – O que o pajé receitou ao cacique, nas duas primeiras visitas?
      a) folha de galho em que pousou passarinho azul
      b) água de Lua

04 – O pajé foi chamado pela terceira vez porque:
a. (X) o tratamento prescrito anteriormente não surtiu efeito.
b. (   ) os índios do “staff” foram negligentes ao administrar o tratamento.
c. (   ) os métodos curativos indígenas não curam antes da terceira sessão.
d. (   ) houve interpretação errônea da receita.

05 – O autor afirma que o pajé receitou penicilina. Com isso, pretende fazer-nos rir, pois a penicilina é totalmente estranha à medicina tradicional dos índios. Analisando melhor essa afirmação, notamos que o autor pretende também:
a. (   ) demonstrar que até os caciques vivem cercados de auxiliares incompetentes.
b. (X) menosprezar o tratamento dos curandeiros, mostrando que ele de nada vale.
c. (   ) enaltecer o progresso dos indígenas, que conhecem medicamentos modernos.

06 – Pelo contexto, você deve ter concluído que panaceia (título do texto) é:
a. (   ) anedota, piada, história divertida
b. (   ) confusão, atropelo, correria
c. (X) remédio, aquilo que pode curar

07 – Dá-se o nome de oca à construção em que moram os índios. Essa palavra, entretanto, não foi usada no texto. Que palavra o autor usou para referir-se à casa dos índios?

      Tenda.

sábado, 27 de janeiro de 2018

FÁBULA: DOIS LEÕES - STANISLAW PONTE PRETA - COM GABARITO

FÁBULA: DOIS LEÕES
                    STANISLAW PONTE PRETA

  Diz que eram dois leões que fugiram do jardim zoológico. Na hora da fuga cada um tomou um rumo, para despistar os perseguidores. Um dos leões foi para as matas da Tijuca e outro foi para o centro da cidade. Procuraram os leões de todo jeito mas ninguém encontrou.
    Vai daí, depois de uma semana, para surpresa geral, o leão que voltou foi justamente o que fugira para as matas da Tijuca. Voltou magro, faminto e alquebrado. Foi preciso pedir a um deputado que arranjasse vaga para ele no jardim zoológico outra vez, porque ninguém via vantagem em reintegrar um leão tão carcomido assim. E, como deputado arranja sempre colocação para quem não interessa colocar, o leão foi reconduzido à sua jaula.
        Passaram-se oito meses e ninguém mais se lembrava do leão que fugira para o centro da cidade quando, lá um dia, o bruto foi recapturado. Voltou para o jardim zoológico gordo, sadio, vendendo saúde.
        Mal ficaram juntos de novo, o leão que fugira para as florestas da Tijuca disse para o coleguinha: - Puxa, rapaz, como é que você conseguiu ficar na cidade esse tempo todo e ainda voltar com essa saúde? Eu, que fugi para as matas da Tijuca, tive que pedir arrego, porque quase não encontrava o que comer, como é então que você... vá, diz como foi.
        O outro leão então explicou:- Eu meti os peitos e fui me esconder numa repartição pública. Cada dia eu comia um funcionário e ninguém dava por falta dele.
        --- E por que voltou pra cá? Tinham acabado os funcionários?
        --- Nada disso. O que não acaba no Brasil é funcionário público. É que eu cometi um erro gravíssimo. Comi o diretor, idem um chefe de seção, funcionários diversos, ninguém dava por falta. No dia em que eu comi o cara que servia o cafezinho... me apanharam.

      PONTE PRETA, S. Gol de padre e outras crônicas. São Paulo: Ática, 2007.

Entendendo a fábula:

01 – Sobre as críticas inferidas da fábula, marque V para as verdadeiras e F para as falsas.
(  ) A enorme quantidade de funcionários públicos.
(  ) A força do imposto de renda representado pela figura do leão.
(  ) A importância do cafezinho em repartição pública.
Assinale a sequência correta.
[A] V, V, V
[B] F, V, F
[C] F, F, F
[D] V, F, V
[E] F, V, V

02 – No texto, a figura pública de deputado é vista como a que:
[A] oferece trabalho a correligionários por quem ele se interessa.
[B] trabalha como funcionário público representando pessoas que o elegeram.
[C] emprega pessoas em repartição pública mesmo que não seja necessário.
[D] divide com seus assessores o ganho relativo a projetos da área social.
[E] todas as respostas.



terça-feira, 21 de novembro de 2017

CRÔNICA: REPÓRTER POLICIAL - STANISLAW PONTE PRETA - COM GABARITO

CRÔNICA: Repórter Policial
                    Stanislaw Ponte Preta

   O repórter policial, tal como o locutor esportivo, é um camarada que fala uma língua especial, imposta pela contingência: quanto mais cororoca melhor. Assim como o locutor esportivo jamais chamou nada pelo nome comum, assim também o repórter policial é um entortado literário. Nessa classe, os que se prezam nunca chamariam um hospital de hospital. De jeito nenhum. É nosocômio. Nunca, em tempo algum, qualquer vítima de atropelamento, tentativa de morte, conflito, briga ou simples indisposição intestinal foi parar num hospital. Só vai para o nosocômio.
        E assim sucessivamente. Qualquer cidadão que vai à Polícia prestar declarações que possam ajudá-la numa diligência (apelido que eles puseram no ato de investigar), é logo apelidado de testemunha-chave. Suspeito é Míster X, advogado é causídico, soldado é militar, marinheiro é naval, copeira é doméstica e, conforme esteja deitada, a vítima de um crime – de costas ou de barriga pra baixo – fica numa destas duas incômodas posições: decúbito dorsal ou decúbito ventral.
        Num crime descrito pela imprensa sangrenta a vítima nunca se vestiu. A vítima trajava. Todo mundo se veste, ... mas basta virar vítima de crime, que a rapaziada sadia ignora o verbo comum e mete lá: “A vítima trajava terno azul e gravata do mesmo tom”. Eis, portanto, que é preciso estar acostumado ao “métier” para morar no noticiário policial. Como os locutores esportivos, a Delegacia do Imposto de Renda, os guardas de trânsito, as mulheres dos outros, os repórteres policiais nasceram para complicar a vida da gente. Se um porco morde a perna de um caixeiro de uma dessas casas da banha, por exemplo, é batata... a manchete no dia seguinte tá lá: “Suíno atacou comerciário”.

Questões:
01 - “...quanto mais cororoca melhor...” Pelo que se pode deduzir do texto, o significado de “cororoca” é equivalente a:
(A) simples;
(B) literário;
(C) antiquado:
(D) moderno;
(E) enrolado.

02 - “...O repórter policial é um entortado literário...” porque:
(A) escreve como os bons escritores da nossa língua;
(B) acredita que literatura consiste no emprego de termos pouco comuns;
(C) corrige as expressões de gíria e os inconvenientes da língua falada;
(D) inventa palavras que nunca existiram;
(E) facilita, com sua simplicidade, a compreensão da notícia.

03 - “Nunca, em tempo algum, qualquer vítima de atropelamento, tentativa de morte, conflito, briga ou simples indisposição intestinal foi parar num hospital”. Esta afirmativa, no contexto, dá a entender que:
(A) a vítima prefere ficar no anonimato;
(B) pessoas envolvidas em ocorrência policial procuram medicar-se por conta própria;
(C) poucos vão para um hospital para não serem importunados por repórteres;
(D) os repórteres policiais raramente usam o termo “hospital”;
(E) os repórteres policiais deturpam a realidade.

04 - A vítima se encontra em decúbito dorsal quando está:
(A) de barriga para cima;
(B) de barriga para baixo;
(C) de cócoras;
(D) virada de lado;
(E) de bruços.

05 - Segundo o Autor, os repórteres policiais empregam o termo “testemunha-chave” de forma:
(A) inadequada;
(B) apropriada;
(C) casual;
(D) irreverente;
(E) literária.

06 - Ao se referir aos repórteres policiais como “rapaziada sadia”, o Autor revela:
(A) apreço pela juventude;
(B) desprezo pelos jovens;
(C) cuidado com a saúde dos repórteres;
(D) espírito de “gozação”;
(E) preconceito contra os que cuidam do seu estado físico.

07 - “... é preciso estar acostumado ao “métier” para morar no noticiário policial”. Isto significa que:
(A) só os literatos entendem o noticiário policial;
(B) qualquer leitor entende o noticiário policial;
(C) os repórteres policiais fazem um curso especial para usar certas expressões;
(D) é preciso usar gíria para que até mesmo os pouco instruídos entendam o noticiário;
(E) só com a leitura frequente do noticiário policial é que entendemos os termos usados.

08 - As manchetes de reportagem policial, segundo se depreende do texto, costumam ser:
(A) bombásticas/ambíguas;
(B) ingênuas/simples;
(C) enganadoras/deturpadas;
(D) sérias/perspicazes;
(E) literárias/cuidadosas.

09 - Assinale a alternativa cuja frase encerra a ideia de condicionalidade:
(A) “... é um camarada que fala uma língua especial ...”;
(B) “... quanto mais cocoroca melhor ...”;
(C) “Qualquer cidadão que vai à Polícia ...”;
(D) “Mas basta virar vítima de crime”;
(E) “Se um porco morde a perna de um caixeiro ...”

10 - A palavra “copeira” é formada pelo mesmo processo de derivação que:
(A) “vítima”;
(B) “Polícia”;
(C) “caixeiro”;
(D) “língua”;
(E) “classe”.

11 - Identifique a alternativa cuja sequência de palavras são acentuadas pelo mesmo princípio norteador:
(A) “polícia, língua, literário”;
(B) “polícia, repórter, também”;
(C) “língua, contingência, vítima”;
(D) “literário, nosocômio, decúbito”;
(E) “doméstica, língua, incômodas”.

12 - Observe a frase: “... os que se prezam nunca chamariam um hospital de hospital”. A forma verbal “chamariam” se encontra:
(A) no pretérito perfeito do modo indicativo;
(B) no pretérito imperfeito do modo indicativo;
(C) no futuro do pretérito do modo indicativo;
(D) no pretérito imperfeito do modo subjuntivo;
(E) no pretérito mais-que-perfeito do modo indicativo.

13 - “Qualquer cidadão que vai à Polícia ...”, a crase que ocorre na expressão “à Polícia” se justifica pelo mesmo razão que a da alternativa:
(A) os policiais saíram às quatro horas em ponto;
(B) os policiais agiam às escondidas;
(C) os policiais retornaram às praias desertas da região;
(D) os policiais chegaram à noite do dia treze;
(E) os policiais agem num estilo à Lampião.

14 - Marque a alternativa cuja frase apresenta um verbo irregular da segunda conjugação:
(A) “... o locutor esportivo jamais chamou nada pelo nome...”;
(B) “Só vai para o nosocômio”;
(C) “apelido que eles puseram no ato de investigar”;
(D) “... a vítima nunca se vestiu”;
(E) “A vítima trajava”.

15 - Considere o enunciado “... fala uma língua especial, imposta pela contingência...”, o vocábulo “contingência” tem como antônimo:
(A) eventualidade;
(B) casualidade;
(C) iminência;
(D) proximidade;
(E) necessidade.