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segunda-feira, 26 de março de 2018

TEXTO: O PAVÃO - LYGIA BOJUNGA NUNES - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

Texto: O PAVÃO

   Lá em Copacabana havia uma família que morava em frente ao mar, numa casa linda de azulejo português e telha francesa. Era uma das últimas casas na praia, o resto já tinha vindo abaixo para construir edifícios de apartamentos.
    A casa ficava no meio de um jardim que era uma beleza: todo plantado de grama inglesa. E a família mandou buscar flor holandesa para plantar em volta. Depois botaram um muro bem alto a fim de ninguém espiar par dentro, e mais um pastor alemão preso numa corrente para latir e meter medo na hora de alguém entrar.
        Aí os amigos da família disseram que um gramado assim tão bonito precisava de um bicho lindo que nem pavão, andando pra cá e pra lá. Então puseram um anúncio no jornal dizendo assim:

               Precisa-se de um pavão para passear
               Na grama (inglesa) de um jardim, das
               8 às 22 horas. Casa de fino trato.
               Paga-se bem. Tel.: 255-3131.

        Seu Joca leu o anúncio no dia em que ia levar o pavão de volta ao zoo, donde o tinha roubado. E logo depois leu a notícia de um médico que andava fazendo uma operação legal no ouvido: quem era surdo ficava ouvindo até voo de mosca. A operação custava caro: seu Joca não tinha dinheiro. Aí, de repente, aconteceu uma coisa muito impressionante: o arrependimento de seu Joca começou a sumir. Pensava nas crianças que iam ver o pavão no zoo e resmungava:
        --- Tanto bicho lá pra ver, pra quê precisa ver o pavão também?
        E na hora em que o arrependimento sumiu todo, seu Joca pegou o pavão e os dois atravessaram a cidade.
        Quando seu Joca tocou a campainha da casa de Copacabana, o pastor alemão latiu, a família apareceu, ficou maravilhada com o pavão. Viu logo que ele era coisa estrangeira muito fina, perguntou quanto é que custava. Seu Joca bateu no ouvido para mostrar que era surdo, o dono da casa esfregou um dedo no outro. Seu Joca sabia que há gente que só gosta de coisa bem cara e então pediu um dinheirão pela ave. A família ficou entusiasmada com o preço, mas como o vendedor era pobre, ofereceram a metade, quem sabe ele topava? E seu Joca topou.
        Seu Joca e o pavão se abraçaram e nunca mais se viram.
        O pavão passeava no gramado o dia inteiro. Bem devagar. Lindo que só ele!  E o pastor alemão preso na corrente. Quando o pavão ia chegando perto, o cão desatava a latir. O pavão quase morria de susto; num instante aprendeu a não passear perto do cachorro. Um empregado trazia água e comida pros dois; depois sumia. A família ia viajar, sumia.

                   Lygia Bojunga Nunes. A casa da Madrinha, págs. 63-64.
                                                          Livraria Agir Editora, Rio, 1978.

Entendendo o texto:
01 – Em que cidade aconteceram os fatos narrados no texto?
      Os fatos aconteceram na cidade do Rio de Janeiro.

02 – Informe, com detalhes, como era a casa e onde estava situada:
      Era uma bonita casa de azulejo português e telha francesa. Erguia-se no meio de um belo jardim e era cercada por um muro bem alto. A casa ficava em Copacabana, em frente ao mar.

03 – Marque as afirmações verdadeiras, com referência à família de que fala a história:
      (X) Era uma família rica e de fino trato.
     (  ) Não gostava de viajar e, se o fazia, deixava a casa abandonada.
      (X) Apreciava muito (até demais!) coisas estrangeiras.

04 – Que sugestão os amigos deram à família para tornar o jardim mais sofisticado?
      Sugeriram que nele fosse colocado um pavão.

05 – Quem pôs o anúncio no jornal para conseguir o pavão?
      (   ) Seu Joca.
      (X)  A família.
      (   ) Os amigos da família.

06 – Seu Joca fez duas coisas ilícitas, isto é, proibidas, desonestas:
      Roubou o pavão do Jardim Zoológico.
      Vendeu uma ave que ele tinha roubado.

07 – Seu Joca arrependeu-se de ter roubado o pavão e quis devolvê-lo ao zoo. Copie a frase em que a autora afirma isso:
      Seu Joca leu o anúncio no dia em que ia levar o pavão de volta ao zoo, donde o tinha roubado.

08 – Que pretextos ou desculpas arranjou ele para justificar suas más ações e abafar o remorso?
      Ele estava precisando de dinheiro para operar o ouvido.
      No zoo havia tantos bichos para as crianças verem que o pavão não iria fazer falta.

09 – Seu Joca quis explorar o rico, pedindo muito dinheiro pelo pavão. Por quê?
      Porque ele sabia que há pessoas que só gostam de coisas caras.

10 – Destaque do texto frases que dão ideia da beleza do pavão:
      A família ficou maravilhada com o pavão.
      Lindo que só ele!


terça-feira, 13 de março de 2018

CONTO: CIÚME - LYGIA BOJUNGA NUNES - COM GABARITO

Conto: Ciúme
          Lygia Bojunga Nunes

        Eu tinha 9 anos quando a gente se encontrou: o Ciúme e eu.
        Era verão. Eu dormia no mesmo quarto que a minha irmã. A janela estava aberta.
      De repente, sem nem saber direito se eu estava acordada ou dormindo, eu senti direitinho que ele estava ali: entre a cama da minha irmã e a minha. A noite não tinha lua nem tinha estrela; e quando eu fui estender o braço para acender a luz, ele não quis:
        “Me deixa assim no escuro.”
        Que medo que me deu.
        Senti ele chegando cada vez mais perto. Fui me encolhendo.
        “Pega a minha irmã” eu falei. “Ali, ó, na outra cama. Eu sou pequena e ela já fez 14 anos, pega ela. Ela é bonita e eu sou feia; o meu pai, a minha mãe, a minha tia, todo o mundo prefere ela: por que você não prefere também?”
        Mas o Ciúme não queria saber da minha irmã, e eu já estava tão espremida no canto (a minha cama era contra a parede) que eu não tinha mais pra onde fugir, então eu pedia e pedia de novo:
        “Ela é a primeira da turma e eu tenho horror de estudar, olha, ela tá logo ali; e ela é tão inteligente pra conversar! Ela diz poesia, ela sabe dançar, o meu pai tá ensinando inglês e francês pra ela e diz que pra mim não vale a pena porque eu não presto atenção, então você pensa que eu não vejo o jeito que o meu pai olha pra ela quando todo o mundo diz que encanto de moça que é a sua filha mais velha? Pega, pega, PEGA ela!”
        “Não. Eu quero é você.”
        E o Ciúme disse aquilo com uma voz tão calma que eu fui me acalmando. E o medo meio que foi passando.
        “Bom” eu acabei suspirando “pelo menos tem alguém que gosta mais de mim do que dela.”
        E aí o vento do mar entrou pela janela, soprou o Ciúme e apagou ele feito vela.

NUNES, Lygia Bojunga. A troca e a tarefa. In Tchau.
Rio de Janeiro: Agir, 1985. p.51.

Entendendo o conto:
01 – Pela leitura do texto, o que leva você a garantir que a narração não é relato de uma “história verdadeira”, um relato de vida?
      Mesmo sem considerar as características do objeto livro, o título do livro e do conto indicariam mais ficção. A personificação do sentimento – Ciúme, com maiúscula é decisiva.

02 – O narrador pode ser ou não personagem da história. Qual é o caso, na narrativa anterior?
      O narrador é a personagem principal.

03 – A opção por um ou outro tipo de narrador traz procedimentos e resultados diferentes para a história.
a)   Em que pessoa a história é narrada?
A narrativa se faz em 1ª pessoa: ...a gente se encontrou: o Ciúme e eu.

     b) Essa escolha torna a narrativa mais ou menos subjetiva? Justifique sua resposta, com passagens do texto.
        Torna o texto mais subjetivo, com os fatos trabalhados do ponto de vista da personagem. O que ocorre tem de ser filtrado por ela.

04 – Indique que outras personagens aparecem nesse trecho e qual a sua importância para a narrativa.
      Aparecem os familiares: irmão, mãe, tia, e principalmente o pai. E o Ciúme.

05 – Por meio de que argumento ou expressões a narradora cria um ambiente indefinido, propício ao aparecimento do Ciúme?
      Estava escuro (como se ela não pudesse “ver” com clareza, e ela não sabia se estava dormindo ou não. É como se ela antecipasse a possibilidade de um sonho.

06 – Indiquem os elementos que marcam a passagem do tempo.
      De repente; quando eu quis acender a luz; então eu pedia e pedia de novo. E o vento disse aquilo...; E o medo foi passando; E aí. (A própria repetição da conjunção aditiva e cria um desdobramento temporal.)

07 – Por que o Ciúme aparece entre as duas camas?
      O sentimento era uma ligação entre a menina e a irmã.

08 – Por que, quanto mais a narradora fala, mais o Ciúme quer ficar com ela, e não com a irmã?
      As falas todas da menina eram representações do Ciúme.

 09 – Por meio de que recursos, usados pelo autor, você sente o medo da menina?
      O uso dos verbos/adjetivos (tão espremida no canto). Mas também pela repetição do “pega ela”. Um deles está todo em maiúsculas.




terça-feira, 27 de junho de 2017

TEXTO: A REDAÇÃO E O DICIONÁRIO - LYGIA BOJUNGA NUNES -COM GABARITO

TEXTO:A REDAÇÃO E O DICIONÁRIO
Lygia Bojunga Nunes


        Se você fosse morar numa ilha deserta e distante e só poderia levar um livro pra ler por lá, que livro você levaria?
        Quando chegou a minha vez de responder a essa pergunta eu disse que, mesmo não gostando de carregar peso em viagem, eu levava um dicionário da minha língua.
        Mas eu só senti o gosto do dicionário quando eu comecei a escrever livro. E assim mesmo, foi um gosto que veio vindo devagar.
        Eu tive uma professora de português que achava impossível a gente viver sem um dicionário perto. Eu não gostava da professora; ela tinha unha comprida e pintava de um vermelho meio roxo, quando ela escrevia no quadro volta e meia a unha raspava a pedra. Que aflição! Mas não era por isso que eu não gostava dela não: eu tinha dois motivos muito mais emocionais que a unha. O primeiro é que eu achava que ela tinha tomado o lugar da professora anterior, que eu adorava; o segundo é que ela corrigia tintim por tintim tudo que é redação que eu fazia. Usando caneta. E, pelo jeito, que cometia tanta barbaridade gramatical, que ela se via obrigada a reescrever a minha redação quase que todinha. Com tinta vermelha.
       Quando eu relia a minha escrita, assim toda avermelhada para um português correto, eu sempre sentia a impressão esquisita que a minha redação estava fazendo careta pra mim.
        Mas eu nunca parei pra pensar por que eu sentia assim. Me lembro que eu ficava chateada e pronto: esquecia a careta. E quando eu tinha de novo que fazer redação eu me aplicava igualzinho: redação era o único dever que gostava de fazer.
        A professora corrigia tintim por tintim outra vez. E a nota que ela me dava ficava sempre em torno de 5. Ela justificava a dádiva com a seguinte observação: composição imaginativa. Embaixo do FIM que eu botava sempre no fim da minha redação, ela escrevia um lembrete (vermelho também):
        “Habitue-se a consultar o dicionário”.
        Não deu outra: me habituei a nunca abrir um dicionário.
        [...]
                                                    Livro, um encontro com Lygia Bojunga Nunes.
                                                                                      Rio de Janeiro:  Agir, 1998.

1 – Lygia tornou-se uma grande escritora. Considerando seu depoimento, o que você pode apreender sobre a importância de contar e imaginar histórias desde pequeno?
       Resposta pessoal.

2 – Que outros elementos, relacionados ao aprendizado da escrita, podemos apreender desse depoimento sobre as aulas de redação de Lygia?
       Primeiro, há um elemento emocional que perpassa toda a relação professor-aluno. Segundo, a professora que trabalhava muito, ao corrigir aspectos ortográficos e gramaticais da redação da aluna em tinta vermelha, com a melhor das intensões, parece dar preferência a indicadores relacionados à norma padrão. Mesmo assim, a menina não parecia estar se sentindo motivada para utilizar o dicionário, naquele momento.

3 – Este texto de Lygia Bojunga continua apresentando “as falhas” que a professora destacava em vermelho.
a)     Indique algumas delas.
Algumas respostas possíveis: “tava”, “pra”, expressões coloquiais.

b)    Nesse texto, as formas utilizadas são interpretadas como falhas?
NÃO, pois a autora está dando um depoimento, portanto, o texto é uma transcrição contendo formas da oralidade. O livro do qual foi tirado o texto é um monólogo que a autora apresenta.

c)     Que conclusão você tira das duas frases finais?
Resposta pessoal.