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domingo, 7 de janeiro de 2018

CONTO: EM DEZEMBRO (FRAGMENTO) - LUIZ VILELA - COM GABARITO

 CONTO:  Em dezembro (FRAGMENTO)

        Em dezembro mangas maduras eram vistas da janela – mas antes disso já tínhamos comido muita manga com sal, tirado escondido da cozinha. [...]
        - Quem comeu manga verde? Vamos, confessa, já.
        Nenhum confessava: os dois de castigo.
        Mostrei para Neusa a manga amoitada no capim: começava a amarelar. Ela cheirou, apertou contra o rosto, me pediu.
        - Dou um pedaço.
        - Quero a manga inteira.
        - A manga inteira não. Um pedaço. [...]
        - A manga inteira ou nada.
        - Então nada.
        Quando entrei na cozinha, Vovó estava me esperando:
        - Pode ir direto para o quarto, já sei de tudo.
        Fiquei fechado de castigo até a hora da janta.
        Se tornar a comer manga verde, da próxima vez vai apanhar é de vara, ouviu?
        Quem apanhou de vara foi a Neusa. Cerquei-a no fundo do quintal com uma vara:
        - Você enredou, agora vai apanhar. [...]
        Ela pediu pelo amor de Deus. Perguntei se ela gostava de mim, ela disse que gostava. Pedi para ela dizer: “Eu te amo”. Ela disse. [...]eu falei que era mentira, que ela gostava é de Marcelo. Então ela disse que era mentira mesmo, que tinha é nojo de mim, e eu desci uma varada nas pernas dela. Em vez de correr, ela ficou parada, encolhida contra o muro [...]
        - Pede perdão, senão eu bato de novo!
        Ameacei com a vara, mas ela só chorava. Então bati de novo, e dessa vez ela nem bem se mexeu, como se não tivesse sentindo dor. Foi andando em direção à casa, e eu fiquei parado, vendo-a afastar-se. [...]
        Ao voltar para casa, deixei três moranguinhos na mesa do quarto onde ela, deitada, havia adormecido.
        No dia seguinte recebi uma caixinha embrulhada - dentro os três moranguinhos e um bilhete: “Eu gostava é de você mesmo, mas agora nunca mais”.

Luiz Vilela. Contos da infância e da adolescência. São Paulo: Ática, 2001.

01 – Quem comeu manga verde?
      Foi o narrador.

02 – Por que a Vovó não queria quer eles comessem manga verde com sal?
      Porque era para esperar as mangas madurarem.

03 – O texto é narrado em 1ª pessoa. Que marcas gramaticais permitem dizer isto?
      São os verbos: mostrei, fiquei, perguntei, ameacei, etc.

04– Quais frases ou expressões revelam impressões do narrador?
·        “- Você enredou, agora vai apanhar.”
·        “Eu desci uma varada nas pernas dela.”
·        “Deixei três moranguinhos na mesa do quarto onde ela, deitada, havia adormecido.”

05 – Em que momento o narrador descobre os verdadeiros sentimentos de Neusa em relação a ele?
      No último parágrafo: “Eu gostava é de você mesmo, mas agora nunca mais”.

06 – Em sua opinião, por que ele não acreditou quando ela disse, no quintal, que gostava dele?
      Porque ele não tinha a certeza dos sentimentos da Neusa.

07 – Que tempo verbal o narrador utiliza na maior parte de suas falas?
      No Pretérito Perfeito do Indicativo.

08 – Por que o narrador bateu em Neusa?
      Porque ela contou a vovó, que foi ele que tinha comido a manga verde.

09 – Qual o foco narrativo do texto lido? O narrador participa da história ou narra os fatos como observador apenas? Justifique sua resposta.
      O foco narrativo é subjetivo. O narrador participa da história, pois relata fatos que acontecem com ele. Os verbos estão na 1ª pessoa: “... tínhamos comido muita manga verde...”; “Mostrei para Neusa a manga...”; etc.

10 – O menino e a menina comiam juntos as mangas verdes e sofriam juntos o castigo. Que mudança ocorre nessa situação inicial?
      A menina quer a manga só para ela.

11 – Por que só o menino ficou de castigo?
      Porque a menina contou à avó que ele havia comido a manga que começava a amarelar.

12 – Qual foi a ameaça que a avó fez ao menino?
      A avó ameaçou-o com uma surra de vara.

13 – O que a menina diz ao menino antes de levar a primeira varada?
      Ela diz não gostar dele, sentir nojo dele.

14 – O menino exige que a menina lhe peça perdão. Perdão pelo que: por ela tê-lo denunciado ou pelo que ela acabava de dizer?
      Parece que por ambos os motivos. Os sentimentos se misturam.

15 – Qual o sentimento da menina em cada uma das seguintes passagens?
a)   “Ela pediu pelo amor de Deus”: Desespero.
b)   “Então ela disse que era mentira mesmo, que tinha é nojo de mim...”: Raiva.
c)   “Ela escondeu o rosto no braço e começou a chorar”: Dor, amargura, decepção.
d)   “... bati de novo, e dessa vez ela nem se mexeu...”: Orgulho, amor-próprio.

16 – A violência do menino teve resultado positivo?

      Não. A menina não quis mais saber dele.


terça-feira, 2 de maio de 2017

CONTO: AMOR - LUIZ VILELA - COM GABARITO

CONTO - AMOR
                  LUIZ VILELA

Ela apontou para a vitrine:
--- Olha ali que amor de sapato”
Chegaram mais de perto. Ele viu seu rosto refletido difusamente no vidro: um rosto cansado, encardido, a barba crescida.
--- Não é um amor?
--- É.
--- Qual que você está pensando? Estou falando é aquele ali, aquele branco ali, ó.
--- Eu sei.
--- Aquele branco de lá.
Ele olhava fixo para o vidro, aproximando e afastando a cabeça, tentando apanhar a imagem completa de seu rosto, que parecia fugir numa brincadeira diabólica.
--- Você acha mesmo?
--- Acha o quê?
--- Bonito, esse sapato, o que...
--- Acho; não falei que acho?
--- Então qual que é Ele?
--- Aquele ali – arriscou.
--- Não.
--- Estou falando aquele segundo, de lá pra cá.
--- Na fila de cima?
--- É.
--- Também não.
--- Então é aquele furadinho ali.
--- Furadinho? Ah: também não.
--- Então não sei, pronto.
Começou a andar, de cara fechada. Ela o acompanhou.
Era fim de tarde, avenida movimentada, pessoas voltando para casa com embrulhos, rapazes na beirada do passeio, colegiais em grupos, lojas fechando, filas, rosto cansados, gastos, suados, barulho dos lotações, estalo dos elétricos.
--- Estava só querendo puxar conversa – ela falou – Não era caso de você ficar assim,
--- Assim?
--- Com essa cara.
--- Quê que tem minha cara?
--- Nada. Não tem nada.
Ele olhou para ela: ela não olhou para ele.
--- Está bem, aqui minha cara, ó – fez uma careta alegre. – tá boa assim?
--- Não foi pra chatear que eu estava perguntando; queria só puxar conversa; você estava tão calado...
--- Eu sei, bem, eu sei – Ele falou, sem raiva, sem irritação, sem mágoa, pensando como devia ser bom estar àquela hora lá em cima daquela serra, aquela serra alta, aquela serra calma, longe, azulada, que aparecia lá no fim da avenida, por trás dos edifícios.
--- Mas se você não quer conversar, então não conversemos; como você quiser.
--- Eu quero – quero o quê? pensou, sem se importar com a resposta, olhando para um lotação que passou soltando fumaça.
--- Você anda tão diferente... – ela desabafou. – Calado, distraído... ríspido...
--- Estou cansado.
--- Você sempre diz isso.
--- E quê que você queria que eu dissesse?
--- A verdade.
--- E essa não é a verdade?
--- Não.
--- Então qual que é a verdade?
Ela não respondeu.
--- Hem, qual que é a verdade? Você não vai me dizer?
Ela não respondeu.
--- Bem, então não diga.
--- Você não é mais como era antes, quando nos conhecemos...
--- E você; você acha que é a mesma? Ninguém é sempre o mesmo.
--- Você era alegre, brincalhão...
--- Bem, eu estou cansado, você não vê? Não vê que eu estou cansado? Olha pra minha cara: não vê?
--- Não é cansaço.
--- Então me diga quê que é.
--- Você sabe.
--- Não sei.
--- Sabe sim.
--- Juro que não sei.
--- Você não gosta mais de mim.
--- É? Escuta: por que você diz isso se sabe que eu gosto, hem?
--- Se você gostasse você não estaria assim.
--- Assim como?
--- Como está agora.
--- Ai meu Deus – ele passou a mão pelo rosto sofridamente.
--- Aí, não estou dizendo? Não pode falar nada que você explode.
--- Isso é explodir?
--- Você está uma pilha.
--- Tá bom; então não vou falar mais nada; não posso falar mais nada que você diz que eu estou explodindo, ríspido, uma pilha e não sei mais o quê.
--- Não fale, a boca é sua.
--- Sua é que não é.
--- Ainda bem.
O silêncio ia inteirar um quarteirão, quando ele falou:
--- Por que não podemos passar sem brigas? Por que a gente tem que estar sempre brigando?
--- Não é minha culpa.
--- Eu sei: é minha.
--- Hoje, por exemplo: estava só puxando conversa e você...
--- Foi ríspido, já sei; não precisa começar tudo de novo.
--- Quer saber duma coisa? O melhor é nós terminarmos.
--- Terminarmos?
Ele sentiu um frio.
--- Não combinamos mais mesmo.
De repente tudo perdido, não há mais palavras nem gestos, só um espaço escuro sufocando a garganta.
--- Acho que não é caso disso... Não é caso da gente terminar... Eu sei, reconheço que estou mesmo como você falou: mas não é minha culpa – falou de cabeça baixa, como quem pede perdão. – Não é porque eu quero que eu estou assim.
Haviam chegado ao ponto de ônibus, que já estava para sair.
--- Vou tomar esse ainda – disse ela. – Tenho de chegar mais cedo hoje em casa.
Ele olhou para ela, e não sabendo o que dizer, voltou a olhar para o chão.
--- Até logo – ela disse.
--- Amanhã te telefono?
--- Se você quiser.
--- E você?
Ela já havia entrado no ônibus.
Da janelinha olhou para ele: mas não sorriu, nem abanou lhe a mão.
Ele ficou vendo o ônibus se distanciar pela avenida, o rosto abatido, pensando por que o amor era tão difícil.
                                          VILELA, Luiz. Amor. In: _____. Tarde da noite. 2. ed.
                                                                            São Paulo, Ática, 1980. p. 58-61.

1 – No diálogo das personagens predomina o nível coloquial de linguagem. Copie três expressões que comprovem essa afirmativa.
       Qual que você está pensando; aquele branco ali, ó; Qual que é ele? puxar conversa; E quê que você queira...

2 – O contista concentra-se em fixar um momento que seja muito importante, singular, na vida das personagens.
a)     Que momento é esse, no conto lido?
A consciência de que o relacionamento amoroso é complexo.

b)    Que frase do último parágrafo resume o significado desse momento?
“... por que o amor era tão difícil.”

c)     Que fato serve de pretexto para desencadear esse momento?
Uma discussão a propósito de um par de sapatos exposto numa vitrina.

3 – O cenário onde se passa a ação é urbano.
a)     Que trecho do conto opõe ao cenário urbano um ambiente bucólico?
“... como devia ser bom estar àquela hora lá em cima daquela serra,
aquela serra calma, longe, azulada, que aparecia lá no fim da avenida, por trás dos edifícios.”

b)    Qual é a função dessa oposição?
O aluno deverá deduzir que o autor enfatiza, por antítese, a dificuldade de viver numa cidade grande.