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terça-feira, 7 de julho de 2020

CRÔNICA: PRETO E BRANCO - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

Crônica: Preto e branco

               Fernando Sabino

        Perdera emprego, chegara a passar fome, sem que ninguém soubesse; por constrangimento, afastara-se da roda boêmia que antes costumava frequentar: escritores, jornalistas, um sambista de cor que vinha a ser seu mais velho companheiro de noitadas. 

        De repente, a salvação lhe apareceu na forma de um americano, que lhe oferecia emprego numa agência. Agarrou-se com unhas e dentes à oportunidade, vale dizer, ao americano, para garantir na sua nova função uma relativa estabilidade. 

        E um belo dia vai seguindo com o chefe pela Rua México, já distraídos de seus passados tropeços, mas, tropeçando obstinadamente no inglês com que se entendiam -- quando vê do outro lado da rua um preto agitar a mão para ele. 

        Era o sambista seu amigo.

        Ocorreu-lhe desde logo que ao americano poderia parecer estranha tal amizade, e mais tarde incompatível com a ética ianque a ser mantida nas funções que passara a exercer. Lembrou-se num átimo que o americano em geral tem uma coisa muito séria chamada preconceito racial e seu critério de julgamento da capacidade funcional dos subordinados talvez se deixasse influir por essa odiosa deformação. Por via das dúvidas, correspondeu ao cumprimento de seu amigo de maneira mais discreta que lhe foi possível, mas viu em pânico que ele atravessava a rua e vinha em sua direção, sorriso aberto e braços prontos para um abraço. 

        Pensou rapidamente em se esquivar -- não dava tempo: o americano também se detivera, vendo o preto aproximar-se. Era seu amigo, velho companheiro, um bom sujeito, dos melhores mesmo que já conhecera -- acaso jamais chegara sequer a se lembrar de que se tratava de um preto! Agora, com o gringo ali ao seu lado, todo branco e sardento, é que percebia pela primeira vez: não podia ser mais preto. Sendo assim, tivesse paciência: mais tarde lhe explicava tudo, haveria de compreender. Passar fome era muito bonito nos romances de Knut Hamsun, lidos depois do jantar, e sem credores à porta. Não teve mais dúvidas: virou a cara quando o outro se aproximou e fingiu que não o via, que não era com ele. 

        E não era mesmo com ele. 

        Porque antes de cumprimentá-lo, talvez ainda sem tê-lo visto, o sambista abriu os braços para acolher o americano, também seu amigo. 

(Fernando Sabino)

Entendendo a crônica:

01 – Identifique as personagens protagonistas dessa narrativa e aponte suas características, de acordo com suas ações no texto.

      O homem que procurava emprego: no momento estava inseguro, fragilizado por sua difícil situação, mostrou-se preconceituoso e equivocado; – o sambista negro, seu amigo: bom sujeito, espontâneo, afetuoso.

02 – A vida da personagem principal passa por várias modificações, durante o texto. Indique-as.

      Primeiramente, ele perde um emprego, chega a passar fome, e afasta-se dos amigos. Depois, quando ele consegue um emprego, agarra-se tanto a ele, que, por medo, finge não conhecer seu amigo negro.

03 – Por que ele acredita que cumprimentando o amigo negro, seu emprego correria risco?

      Porque ele pensou que todo americano era preconceituoso e como ele estava com seu chefe americano, ficou com medo que aquela relação de amizade o prejudicasse. “Lembrou-se num átimo que o americano em geral tem uma coisa muito séria chamada preconceito racial e seu critério de julgamento da capacidade funcional dos subordinados talvez se deixasse influir por essa odiosa deformação”.

04 – Sendo inevitável, como o personagem cumprimentou o amigo sambista? O que aconteceu em seguida?

      Ele cumprimentou da maneira mais discreta possível, mas não adiantou, pois o sambista atravessou a rua em sua direção, deixando-o em estado de pânico.

05 – Relate o que passou pela cabeça do personagem que justifique seu pânico.

      Primeiramente, ele pensou em se esquivar, não deu certo, pois o chefe já se detivera também, ao ver o preto se aproximar. Depois ele, pela primeira vez, reparou o quanto o amigo era preto, e por último, ele se justifica afirmando que passar fome, só era bonito nos romances, e que o amigo iria compreender suas razões.

06 – Explique por que a frase “E não era mesmo com ele”, é importante para a narrativa.

      Porque é essa frase que demarca a mudança total dos acontecimentos. Pois, a partir dela, ficamos sabendo que o negro se aproximara para cumprimentar o americano e não o personagem central.

07 – Justifique, com uma passagem do texto, o fato de que o sambista pode nem ter visto o personagem central, pois dirigira seu olhar para o americano.

      “Porque antes de cumprimenta-lo, talvez ainda sem tê-lo visto, o sambista abriu os braços...”

08 – O que indica o verbo “acolher” no último parágrafo?

      Que o americano se adiantou para abraçar o sambista e que este “recebeu de maneira afetuosa” o abraço.

09 – Então, não há registro de comportamento preconceituoso no texto?

      Há sim, mas não como se supunha: do americano para com o negro, mas sim do personagem central para com o americano.

10 – Explique o jogo de palavras que aparece na frase: “... já distraído de seus passados tropeços, mas tropeçando obstinadamente o inglês...”

      Nos dois casos a palavra “tropeço” está no sentido conotativo, indicado dificuldades. Dificuldades passadas, quando estava desempregado e dificuldades em falar inglês.

11 – Qual seria essa “ética ianque”, citada pela personagem central?

      A ética americana, que ao seu ver, consideraria desaconselhável a amizade entre pessoas de etnias diferentes, principalmente, devido ao cargo que o personagem exercia.

 

     


segunda-feira, 22 de junho de 2020

POEMA: DEPOIS DE TUDO - FERNANDO SABINO - COM QUESTÕES GABARITADAS

  Poema: Depois de tudo


(Trecho do livro:"O Encontro Marcado", de Fernando     Sabino, p.154)

              De tudo ficaram três coisas:

  A certeza de que estamos sempre a começar…
  A certeza de que é preciso continuar…
  A certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar.

  Por isso devemos:

  Fazer da interrupção um caminho novo
  Da queda um passo de dança
  Do medo uma escada
  Do sonho uma ponte
  Da procura um encontro.

                                                                    Fernando Sabino

Entendendo o poema:

 01 – Embora este texto é um trecho do livro “O encontro marcado”, de  Fernando Sabino, tendo sua primeira publicação em 1967, ele nos remete ao momento atual de vivemos no mundo “A pandemia do Corona-vírus”. De que fala o autor?

      Ele está numa efetiva busca existencial, suas inquietações, impasses, incertezas.

 02 – O que poderia ser esta primeira certeza para os dias atuais?

      A certeza é a mudança. Não apenas nos hábitos – e nada tão certo quanto mudanças de hábitos.

      Assim como nos acostumamos ao cinto de segurança, agora a máscara, o sabão, o álcool em gel e o “distanciamento social”.

 03 – “... a certeza de que era preciso continuar...”. Que sentido esta frase têm no momento atual?

      Que mesmo com medo do corona-vírus, com essa sensação de onipotência, temos que continuar a ir ao mercado, a farmácia, ao banco, entre outros lugares essenciais.

 04 – Ainda relacionando a pandemia com o texto, o que seria a certeza de que seria interrompido antes de terminar?

      Há momentos com sinais de estabilização do contágio em quase todos os Estados e, então à ampliação no relaxamento precoce das quarentenas, em seguida há ascendência na curva do corona-vírus e é decretado medidas de restrição mais duras, como o lockdown.

 05 – E “... fazer da interrupção um caminho novo”, refere-se a que atualmente?

      O corona-vírus é visto como um acelerador de futuros com:

·        Trabalho remoto: serviço delivery;

·        Educação a distância: trouxe à tona a crise sanitária sem precedentes para a nossa geração; o fortalecimento de valores como solidariedade e empatia; o questionamento do modelo de sociedade baseando no consumismo e no lucro a qualquer custo.

 06 – Quais são os efeitos dessa pandemia?

      As transformações são inúmeras e passam pela política, economia, modelos de negócios, educação, relações sociais, cultura, psicologia social e a relação com a cidade e o espaço público, entre outras coisas.

 07 – Nossos valores mudarão após pandemia?

      A pandemia altera quem somos, afetando diversas facetas de nossa psique.

      Podemos aprovar algumas das mudanças – rumo a laços comunitários mais fortes e a valores humanitários – e desaprovar outras – a mente fechada e os raciocínios simplistas. Gostemos ou não, a imensa crise que estamos enfrentando faz emergir o melhor de nós.

 


domingo, 21 de junho de 2020

CRÔNICA: OUSADIA - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

Crônica: Ousadia

              Fernando Sabino

        A moça ia no ônibus muito contente desta vida, mas, ao saltar, a contrariedade se anunciou:

        -- A sua passagem já está paga, disse o motorista.

        -- Paga por quem?

        -- Esse cavalheiro aí.

        E apontou um mulato bem vestido que acabara de deixar o ônibus, e aguardava com um sorriso junto à calçada. 

        -- É algum engano, não conheço esse homem. Faça o favor de receber. 

        -- Mas já está paga...

        -- Faça o favor de receber! -- insistiu ela, estendendo o dinheiro e falando bem alto para que o homem a ouvisse: -- Já disse que não conheço! Sujeito atrevido, ainda fica ali me esperando, o senhor não está vendo? Por favor, faço questão que o senhor receba minha passagem. 

        O motorista ergueu os ombros e acabou recebendo: melhor para ele, ganhava duas vezes. A moça saltou do ônibus e passou fuzilada de indignação pelo homem.

        Foi seguindo pela rua sem olhar para ele. 

        Se olhasse, veria que ele a seguia, meio ressabiado, a alguns passos. 

        Somente quando dobrou à direita para entrar no edifício onde morava, arriscou uma espiada: lá vinha ele! Correu para o apartamento, que era no térreo, pôs-se a bater aflita:

        -- Abre! Abre aí! 

        A empregada veio abrir e ela irrompeu pela sala, contando os pais atônitos, em termos confusos, a sua aventura. 

        -- Descarado! Como é que tem coragem? Me seguiu até aqui! 

        De súbito, ao voltar-se, viu pela porta aberta que o homem ainda estava lá fora, no saguão.

        Protegida pela presença dos pais, ousou enfrentá-lo:

        -- Olha ele ali! É ele, venha ver! Ainda está ali, o sem-vergonha. Mas que ousadia! 

        Todos se precipitaram para a porta. A empregada levou as mãos à cabeça.

        -- Mas a senhora, como é que pode! É o Marcelo. 

        -- Marcelo? Que Marcelo? -- a moça se voltou surpreendida.

        -- Marcelo, o meu noivo. A senhora conhece ele, foi quem pintou o apartamento. 

        A moça só faltou morrer de vergonha:

        -- É mesmo, é o Marcelo! Como é que não reconheci! Você me desculpe, Marcelo, por favor. 

        No saguão, Marcelo torcia as mãos, encabulado:

        -- A senhora é que me desculpe, foi muita ousadia. 

Fernando Sabino.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, quem preferiu a seguinte fala: “Esse cavalheiro aí”?

      O motorista.

02 – Toda narrativa obedece a um esquema de constituição, de organização. É importante perceber que os acontecimentos sucedem numa determinada ordem e com a intervenção dos personagens. Nesse momento é que acontecem alguns fatos que darão origem à história narrada. Após, a leitura do texto, aponte o fato que deu origem a essa história.

      O fato de um “estranho” ter pago a passagem de ônibus da moça.

03 – Em geral, os fatos de uma narrativa acontecem numa ordem de causa e consequência, ou de motivação e efeito. No texto, qual foi a consequência de Marcelo ter pagado a passagem da moça?

      Despertou raiva e desconfiança, pois não o reconheceu.

04 – O foco narrativo é:

a)   1ª pessoa (também é personagem)

b)   3ª pessoa (observador – conta apenas o observa).

c)   3ª pessoa onisciente (sabe também o que as personagens pensam).

05 – Em sua opinião, a crônica “Ousadia” faz alguma crítica a algum comportamento humano muito presente em nossa sociedade? Explique.

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Identifique no enredo da crônica a sequência dos fatos e enumere-os:

(1) Situação inicial.

(2) Complicação ou conflito.

(3) Clímax.

(4) Desfecho.

(3) Ao subir para seu apartamento, a moça percebe que o homem que a estava seguindo está no saguão do prédio.

(2) Surpreende-se ao saber que a passagem já foi paga por um rapaz que a espera.

(1) Uma moça, no ônibus, vai pagar a passagem.

(4) A moça só faltou morrer d vergonha porque descobre que o homem não era suspeito e sim o noivo de sua empregada, ela não o havia reconhecido.

07 – Nos trechos abaixo coloque O para opinião e F para fato:

(F) “A sua passagem já está paga”.

(F) “E apontou um mulato bem-vestido...”

(O) “Sujeito atrevido, ainda fica ali me esperando...”

(O) “Se olhasse, veria que ele a seguiam...”

(F) “... foi quem pintou o apartamento”.

08 – Com relação ao gênero e a sua estruturação, responda:

a)   Qual é o gênero textual?

Crônica.

b)   Qual é o tipo discursivo?

Cotidiano.

c)   Qual é o domínio discursivo desse gênero?

Crítica.

d)   Qual é a sua finalidade / função sócio comunicativa / para que serve / objetivo?

Ele tem por fim fazer uma crítica sobre algo cotidiano na sociedade, com objetivo de que isso melhore talvez.

e)   Quais são as principais características?

Crítica e reflexão.

09 – Qual é o tema e o assunto do texto?

      O tema é a ousadia, e o assunto abordado foi o preconceito.

10 – Na frase: “Abre! Abre aí!”, o uso da exclamação sugere o quê?

      Pressa e medo.

 


CRÔNICA: SE NÃO ME FALHA A MEMÓRIA - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

CRÔNICA: Se não me falha a memória       

                       Fernando Sabino

        Memória boa tinha aquele velho. Correu os olhos pelo cartório onde eu era escrivão e veio direto à minha mesa:

        -- Sr. Escrivão, meus respeitos – fez um salamaleque: – Queria que o senhor me desse informações sobre um inventário.

        -- Às suas ordens - e retribuí o cumprimento: – Inventário de quem?

        -- Já lhe digo o nome do falecido. Minha memória ainda é das melhores – apesar de ter sofrido uma comoção cerebral há poucos dias, ainda não estou inteiramente bom. Espera aí, deixa eu ver... Sou advogado há mais de quarenta anos, não esqueço o nome de um constituinte, vivo ou morto. Hoje em dia... Benvindo!

        -- Como?

        -- O nome do falecido era Benvindo. Isto! Benvindo Lopes. Marido da minha cozinheira. Faleceu há pouco tempo. Ela já não está boa da cabeça e se eu não me lembrasse o nome do marido dela, quem é que haveria de lembrar? Levindo Lopes.

        -- O senhor disse Benvindo. – Eu disse Benvindo? Veja o senhor!

        -- É Levindo ou Benvindo?

        Ele ficou pensativo um instante:

        -- Benvindo seja – respondeu afinal, muito sério.

        Depois de verificar no fichário, expliquei-lhe que deveria trazer uma petição. O velho agradeceu e saiu, assegurando-me que sim, não esqueceria. Nem dez minutos haviam decorrido e tornou a surgir na porta:

        -- Sr. Escrivão, já que o senhor ainda há pouco foi tão amável, e sem querer abusar, posso lhe pedir uma informação? É sobre um inventário, esqueci de lhe dizer. Minha memória é muito boa, mas sofri há dias uma comoção cerebral...

        -- O senhor me disse - sorri-lhe, solícito: – Qual é o inventário, desta vez?

        -- Inventário de... de... Não vê o senhor? A minha cozinheira... O marido dela.

        -- Benvindo Lopes?

        -- Isso! Benvindo Lopes. Como é que o senhor sabe?

        -- O senhor já me tinha dito.

        -- Mas sim senhor! Vejo que também tem boa memória.

        Tornei a explicar-lhe a mesma coisa, isto é, que deveria trazer uma petição. Não esquecesse.

        -- Não, não me esqueço.

        Agradeceu e se afastou. Deteve-se a meio caminho da porta.

        -- Veja o senhor! Já ia me esquecendo é do motivo principal que me trouxe aqui: a minha cozinheira, que está mais velha do que eu, perdeu o marido há pouco tempo e estou cuidando do inventário dele...

        -- Sabe o nome do falecido? – perguntei, sem me alterar.

        -- Como não? Minha memória ainda funciona, para nomes então, principalmente. Ora, pois. É Levindo não sei o quê...

        -- Não será Benvindo?

        -- Isso! Benvindo... Benvindo Lopes, se não me engano.

        -- Este nome não me é estranho - limitei-me a murmurar.

Sabino, Fernando. In Para gostar de ler. Ed. Ática.

Entendendo a crônica:

01 – Em que pessoa o texto é narrado: primeira ou terceira?

      Em primeira pessoa, (narrador-personagem). “Correu os olhos pelo cartório onde eu era escrivão e veio direto a minha mesa”.

02 – O que o velho foi fazer no cartório?

      Saber informações sobre um inventário.

03 – Segundo o velho, o que havia acontecido a ele recentemente e que estava prejudicando seu raciocínio?

      Disse que sua memória ainda é das melhores – apesar de ter sofrido uma comoção cerebral há poucos dias, ainda não estava inteiramente bom.

04 – Quem era o falecido? Provavelmente, qual era seu nome?

      Era marido de sua cozinheira. Provavelmente Benvindo Lopes.

05 – As reticências que aparecem na fala do homem sugerem que ele era:

a)   Confuso.

b)   Esquecido.

c)   Gago.

d)   Indeciso.

06 – A atitude irônica do narrador ao se referir ao homem que entra no cartório revela-se no seguinte trecho:

a)   “Ele ficou pensativo um instante.”        

b)   “Memória boa tinha aquele velho.”

c)   “Tornei-lhe a explicar a mesma coisa.”

d)   “Perguntei, sem me alterar.”

07 – A fala final do narrador sugere que ele:

a)   Conformou-se com a situação.

b)   Esqueceu o nome do homem.

c)   Lembrou-se do inventário.

d)   Perdeu o fichário.

08 – O tema central dessa crônica é:

a)   Dificuldade de comunicação entre as pessoas.

b)   O inventário de Benvindo Lopes.

c)   A inconveniência da perda de memória.

d)   As doenças mentais.

09 – Os verbos CORREU, ESTOU e ESQUECERIA estão flexionados, respectivamente, nos seguintes tempos verbais do modo indicativo.

a)   Pretérito perfeito, pretérito perfeito e pretérito imperfeito.

b)   Pretérito imperfeito, pretérito perfeito e pretérito mais-que-perfeito.

c)   Pretérito imperfeito, pretérito imperfeito e futuro do presente.

d)   Presente, pretérito perfeito e futuro do pretérito.

e)   Pretérito perfeito, presente e futuro do pretérito.

10 – Na fala do senhor, há uma pontuação utilizada para sugerir o quanto ele era esquecido. Assinale a opção que contém essa pontuação:

a)   As vírgulas.

b)   As reticências.

c)   Ponto de exclamação.

d)   O travessão.

e)   Ponto de interrogação.

 


segunda-feira, 16 de março de 2020

CRÔNICA: A FALTA QUE ELA ME FAZ - FERNANDO SABINO - COM GABARITO


Crônica: A falta que ela me faz   

                 FERNANDO SABINO

        Como bom patrão, resolvi, num momento de insensatez, dar um mês de férias à empregada. No princípio achei até bom ficar completamente sozinho dentro de casa o dia inteiro. Podia andar para lá e para cá sem encontrar ninguém varrendo o chão ou espanando os móveis, sair do banheiro apenas de chinelos, trocar de roupa com a porta aberta, falar sozinho sem passar por maluco.
        Na cozinha, enquanto houvesse xícara limpa e não faltassem os ingredientes necessários, preparava eu mesmo o meu café. Aprendi a apanhar o pão que o padeiro deixava na área " tendo o cuidado de me vestir antes, não fosse a porta se fechar comigo do lado de fora, como na história do homem nu. Esticar a roupa da cama não era tarefa assim tão complicada: além do mais, não precisava também ficar uma perfeição, já que à noite voltaria a desarrumá-la. Fazia as refeições na rua, às vezes filava o jantar de algum amigo e, assim, ia me aguentando, enquanto a empregada não voltasse.
        Aos poucos, porém, passei a desejar ardentemente essa volta. O apartamento, ao fim de alguns dias, ganhava um aspecto lúgubre de navio abandonado. A geladeira começou a fazer gelo por todos os lados " só não tinha água gelada, pois não me lembrara de encher as garrafas. E agora, ao tentar fazê-lo, verificava que não havia mais água dentro da talha. Não podia abrir a torneira do filtro, já que não estaria em casa na hora de fechá-la, e com isso acabaria inundando a cozinha. A um canto do quarto um monte de roupas crescia assustadoramente. A roupa suja lava-se em casa – bem, mas como? Não sabia sequer o nome da lavanderia onde, pela mão da empregada, tinham ido parar meus ternos, provavelmente para sempre.
        E como batiam na porta! O movimento dela lá na cozinha, eu descobria agora, era muito maior do que o meu cá na frente: vendedores de muamba, passadores de rifa, cobradores de prestação, outras empregadas perguntando por ela. Um dia surgiu um indivíduo trazendo uma fotografia dela que, segundo me informou, merecera um "tratamento artístico": fora colorida à mão e colocada num desses medalhões de latão que se veem no cemitério.
        --- Falta pagar a última prestação – disse o homem.
        Paguei o que faltava, que remédio? Sem ao menos ficar sabendo o quanto o pobre já havia pago. E por pouco não entronizei o retrato na cabeceira de minha cama, como lembrança daquela sem a qual eu simplesmente não sabia viver.
        Verdadeiro agravo para a minha solidão era a fina camada de poeira que cobria tudo: não podia mais nem retirar um livro da estante sem dar logo dois espirros. Os jornais continuavam chegando e já havia jornal velho para todo lado, sem que eu soubesse como pôr a funcionar o mecanismo que os fazia desaparecer. Descobri também, para meu espanto, que o apartamento não tinha lata de lixo, a toda hora eu tinha de ir lá fora, na área, para jogar na caixa coletora um pedacinho de papel ou esvaziar um cinzeiro.
        Havia outros problemas difíceis de enfrentar. Um dos piores era o do pão: todas as manhãs, enquanto eu dormia, o padeiro deixava à porta um pão quilométrico, do qual eu comia apenas uma pontinha – e na cozinha já se juntava uma quantidade de pão que daria para alimentar um exército, não sabia como fazer parar. Nem só de pão vive o homem.
        Eu poderia enfrentar tudo, mas estar ensaboado debaixo do chuveiro e ouvir lá na sala o telefonema esperado, sem que houvesse ninguém para atender, era demais para a minha aflição.
        Até que um dia, como uma projeção do estado de sinistro abandono em que me via atirado, comecei a sentir no ar um vago mau cheiro. Intrigado, olhei as solas dos sapatos, para ver se havia pisado em alguma coisa lá na rua. Depois saí farejando o ar aqui e ali como um perdigueiro, e acabei sendo conduzido à cozinha, onde ultimamente já não ousava entrar.
        No que abri a porta, o mau cheiro me atingiu como uma bofetada. Vinha do fogão, certamente. Aproximei-me, protegendo o nariz com uma das mãos, enquanto me curvava e com a outra abria o forno.
        --- Oh não! – recuei horrorizado.
        Na panela, a carne assada, que a empregada gentilmente deixara preparada para mim antes de partir, se decompunha num asqueroso caldo putrefato, onde pequenas formas brancas se agitavam.
        Mudei-me no mesmo dia para um hotel.
          As Melhores Crônicas de Fernando Sabino. Rio de Janeiro, Record, 1986.
                             Fonte: Português – Linguagem & Participação, 5ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1999, p. 194-6.
Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Insensatez: falta de senso, demência.
·        Lúgubre: fúnebre, triste, funesto.
·        Talha: vaso de barro, de grande bojo; pote.
·        Muamba: fraude, roubo, contrabando.
·        Entronizar: elevar ao trono; exaltar, elevar muito.
·        Agravo: ofensa, motivo grave de queixa, injúria.
·        Asqueroso: nojento, que causa asco.
·        Putrefato: que apodreceu.

02 – Que tipo de foco narrativo aparece no texto? É uma narração em primeira ou em segunda pessoa?
      No texto aparece a narração na primeira pessoa do singular.

03 – Em que parágrafo(s) o narrador se mostra satisfeito com a ausência da empregada?
      Nos dois primeiros parágrafos.

04 – Em que parágrafo o narrador começa a revelar a insatisfação com a ausência da empregada?
      No terceiro parágrafo.

05 – Encontre no texto o sexo, o estado civil e a situação econômica do narrador.
      Sexo – masculino; Estado civil – solteiro; situação econômica – boa.

06 – O texto apresenta uma descoberta do narrador. Qual é ela?
      “A falta que ela me faz”, já demonstrada no título.

07 – Faça um resumo do texto. Considere quando, onde, quem descobre o quê, como termina.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Um homem dá férias à empregada e fica sozinho por um mês em sua casa. Só então percebe a falta que ela faz e, enquanto ela não volta, após algumas situações engraçadas, que mostram como ele depende da empregada, vai morar em um hotel.

08 –Quem cuida do espaço em que você vive? Você acredita que o trabalho dessa pessoa é reconhecido?
      Resposta pessoal do aluno.

09 – Assim com o narrador, você gosta de ficar sozinho? Faça um comentário a esse respeito.
      Resposta pessoal do aluno.

10 – Qual é o fato mais importante no texto?
      É a saída da empregada em férias.

11 – Os ditados populares são frases que ensinam lições de moral para as pessoas. Muitas vezes são repetidas, mas nem sempre se sabe o que realmente significam. Escreva o que os ditados abaixo significam:
a)   Nem só de pão vive o homem.
O ser humano precisa fazer também coisas que lhe deem prazer espiritual como ouvir boa música, descansar, conversar, dançar, etc.

b)   Em casa de ferreiro, o espeto é de pau.
Nem sempre aquele que desempenha bem algo fora de casa consegue também fazê-lo bem dentro de casa.

c)   Em terra de cego, quem tem olho é rei.
Num lugar onde muitas pessoas sabem muito pouco, aquele que sabe um pouco mais é considerado superior.

d)   Quem vê cara não vê coração.
Nem sempre o interior das pessoas corresponde ao que aparentam. Assim, uma pessoa de bela aparência pode ser feia por dentro e vice-versa.