segunda-feira, 27 de novembro de 2023

POEMA: CRISTAIS - CRUZ E SOUSA - COM GABARITO

Poema: Cristais

              Cruz e Sousa.

Mais claro e fino do que as finas pratas

O som da tua voz deliciava...

Na dolência velada das sonatas

Como um perfume a tudo perfumava.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXGp9q6okURDEEZWhWG4LzhqYedNBVVXNyaV1Nw6Gpz1Pq0Z6JSxMUKyqbomZ4PnEcjP6-RJ1DRu1F4OYl9W6k-P6mb8yaGWVa4JPMwOezQCnThA7KavdEk4RJeAUo5QqfNbO4IwtVncPdPojAjx7UjlT-GJDw0sg8W09xVkO4_z8-BMt7-ejtgGExISA/s1600/CRISTAIS.jpg


 

Era um som feito luz, eram volatas

Em lânguida espiral que iluminava,

Brancas sonoridades de cascatas...

Tanta harmonia melancolizava.

 

Filtros sutis de melodias, de ondas

De cantos voluptuosos como rondas

De silfos leves, sensuais, lascivos...

 

Como que anseios invisíveis, mudos,

Da brancura das sedas e veludos,

Das virgindades, dos pudores vivos.

Cruz e Sousa. Obra completa: poesia, 2008.

Fonte: Práticas de Língua Portuguesa/Faraco, Moura, Maruxo. – 1.ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 198-199.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o poema, qual o significado das palavras abaixo:

·        Dolência: mágoa, dor; sofrimento, aflição.

·        Lascivo: sensual, libidinoso, desregrado.

·        Silfo: na mitologia céltica, é o “gênio do ar”.

·        Sonata: peça musical.

·        Velado: coberto de véu; oculto; disfarçado.

·        Volata: série de sons executados com rapidez.

·        Voluptuoso: sensual; em que há prazer ou volúpia.

02 – Observe que o eu lírico descreve uma voz e, para caracterizá-la, ele a compara a finas pratas. Com base nisso, responda às questões no caderno.

a)   Que elemento comum ele percebe entre a voz e as finas pratas?

Clareza e fineza.

b)   Comparar um som a prata (um metal) é uma comparação convencional? Por quê?

Não é um clichê, pois os elementos comparados pertencem a diferentes campos da realidade e são percebidos por diferentes sentidos.

03 – A sonata é uma composição musical feita para ser executada por um ou mais instrumentos, diferentemente de uma composição vocal. Com base nessa definição, interprete os dois últimos versos da primeira estrofe.

      Não se trata de uma voz que canta, e sim de uma voz que lembra um instrumento.

04 – Além de deliciar, a voz perfumava. Sabe-se que a voz é percebida pela audição. O perfume, pelo olfato. Ao fundir essas duas sensações, o eu lírico constrói uma sinestesia, que é a associação de palavras ou expressões que transmitem a ideia de sensações diferentes em uma só impressão (voz que perfumava). A sinestesia relaciona planos sensórios diferentes. Localize outras duas sinestesias no poema e explique os efeitos de sentido que provocam.

      Era um som feito de luz; volatas que em espiral iluminavam; brancas sonoridades. Essa figura expressa uma percepção bastante subjetiva da realidade e, ao mesmo tempo, uma apreensão complexa, em rede, não em segmentos isolados.

05 – Na terceira estrofe, compara-se a voz a “rondas / de silfos leves, sensuais, lascivos...”. Explique a comparação.

      A voz descrita parece ser movimento ao ar, dinamizá-lo, assim como os silfos em ronda.

06 – No poema prevalece a expressão de sensações visuais, auditivas ou olfativas? Comente sua resposta, relacionando-a ao assunto do soneto.

      Predominam as sensações visuais, apesar de o assunto do soneto ser a voz de uma pessoa, provavelmente uma voz feminina.

07 – Além das rimas, que outros elementos contribuem para a sonoridade do poema? Responda no caderno.

      Aliteração: fino / finas; silfos / sensuais / lascivos; Presença marcante de fonemas nasais: som, dolência, lânguida, branca, melancolizava, ondas, cantos, rondas, sensuais, anseios, invisíveis, brancura, virgindade.

 

 

TEXTO: NO LABIRINTO DE CRETA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 TEXTO: NO LABIRINTO DE CRETA

               Monteiro Lobato

         Foram despertar na Ilha de Creta, onde logo descobriram o labirinto. Era um palácio imenso, com mil corredores dispostos de tal maneira que quem entrasse, nunca mais conseguiria sair – e acabaria devorado pelo monstro. O Minotauro só comia carne humana.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1Fss-6vCuBqkwOF3hJFJmvfFSGsDDpyX3gCADP7qfhs_EhxWzXdnzgTjoAExM-Af-pHP2bOD2jPYipDFxP5Zd3HwEJbaRbfCDQ2_H9aspRC-CEoTUy7vUjY_36TSMR32JhFQi54sE_rht3wzrXtbuYYrrXnFzy74Vm81zMglkA7SgvAXFpY_zxQjC7Zo/w181-h126/LABIRINTO.jpg


 Diante do labirinto, os três “pica-paus” pararam para refletir.

         — Quem entra, não sai mais e acaba no papo do monstro – disse Pedrinho - Mas nós sabemos o jeito de entrar e sair: é irmos desenrolando um fio de linha. Ah, se eu tivesse trazido um carretel...

         — Pois eu trouxe três! – gritou Emília triunfalmente - E dos grandes, número 50. Desça a mala, Visconde, abra-a.

        A mala foi descida e aberta. Emília tirou os carretéis e deu um a Pedrinho, outro ao Visconde, ficando com o terceiro.

         Entraram no Labirinto e foram desenrolando o primeiro carretel; quando a linha acabou, desenrolaram o segundo; e quando a linha do segundo acabou, começaram a desenrolar o terceiro. Eram corredores e mais corredores, construídos da maneira mais atrapalhada possível de propósito para que quem entrasse, não pudesse sair. Antes do terceiro carretel chegar ao fim, Emília “sentiu” a aproximação de qualquer coisa.

          Percebo uma catinga no ar – disse ela baixinho, farejando – O monstro deve ter seus aposentos por aqui...

         Uns passos mais e pronto: lá estava o Minotauro, numa espécie de trono, a mastigar lentamente qualquer coisa que havia numa grande cesta.

         — Mas como está gordo! – cochichou Emília - Muito mais que aquele célebre cevado que Dona Benta comprou do Elias Turco. Parece que nem pode erguer-se do trono.

         De fato, o monstro estava gordíssimo, quase obeso, com três papadas caídas; o seu corpanzil afundava dentro do tronco. Que teria acontecido?

         Mesmo assim, era perigoso aproximar-se, de modo que novamente, Emília recorreu ao Visconde.  

       — Vá lá, meu bem, chegue-se ao “gordo” e com muito cuidado peça informações sobre a tia Nastácia.

      — E se ele me devorar?

      — Não há perigo. Nem a Esfinge o devorou, quanto mais o Minotauro. Só as vacas devoram os sabugos.

      — Mas ele é um touro, e os touros também comem sabugos.

     — Menos este, que é antropófago. Vá sem medo.

    O Visconde arriou a maletinha e foi. Instantes depois, voltara.

    — E então? - perguntou Pedrinho.

    — Não fala, não responde. Perguntei por tia Nastácia e ele só me olhou com um olho parado, sempre a mastigar umas coisas que tira daquela cesta – “isto” e mostrou o que havia na cesta.

     Emília arrancou-lhe o “isto” da mão. Era um bolinho. Era um bolinho de tia Nastácia. Que alegria! Aquele bolinho era a prova mais absoluta que tia Nastácia estava lá – e viva! Pedrinho comeu o bolinho inteiro e lamentou que o Visconde só tivesse trazido um.

      — Vamos procurá-la com o resto de linha que ainda temos – disse Emília examinando o carretel - Há de dar.

 [...]

LOBATO, Monteiro. O Minotauro. Editora Brasiliense: São Paulo, 1954. p. 206-209.

O texto que você leu foi escrito por Monteiro Lobato, que criou obras consideradas clássicas da literatura infanto-juvenil brasileira. As aventuras do Sítio do Picapau Amarelo foram adaptadas para várias mídias e formatos, como séries para a televisão, histórias em quadrinhos, jogos etc. Conhecer essa obra de forma crítica é muito importante para compreender o universo fantástico e rico criado pelo autor.

 Após a leitura do texto, responda às questões propostas.

01.  O que o uso de aspas em “pica-paus” indica?

O uso das aspas indica uma referência a Pedrinho, Emília e Visconde (eles são os “pica-paus”, personagens do Sítio criado por Lobato).

02.  No texto, duas palavras estão em negrito: antropófago e cevado. Pesquise o significado delas. Sugere-se orientar os estudantes a pesquisarem o significado das palavras no dicionário (é importante tê-los na sala de aula) físico ou digital.

Antropófago: aquele que se alimenta de carne humana. 9 Cevado: nutrido, saciado.

03.  O que o comportamento da personagem Emília nos permite inferir sobre ela? E a personagem Visconde? Como o texto apresenta a relação dos dois?

Explicar aos estudantes sobre a inferência de informações no texto, fazendo a correlação entre as personagens apresentadas. Emília é precavida, pois leva os carretéis para marcar o caminho a fim de não se perderem na volta do labirinto. O Visconde demonstra submissão, pois segue todas as ordens de Emília.

04.  Como o uso dos carretéis iria ajudar as personagens a saírem do labirinto?

O uso dos carretéis ajudaria a encontrar o caminho de volta do labirinto, fazendo as marcações pelo caminho por onde passavam.

05.  Minotauro é um ser considerado antropófago. Isso se confirma no texto lido?

Sim, porque o Minotauro se alimentava de carne humana.

TEXTO: MOCINHO E VILÃO - REVISTA CIÊNCIA HOJE DAS CRIANÇAS - COM GABARITO

 TEXTO: MOCINHO E VILÃO?

 Remédios para plantas, defensivos agrícolas, venenos contra pragas… Esses são alguns nomes pelos quais são conhecidos os agrotóxicos, produtos químicos que servem para prevenir, destruir ou controlar diferentes tipos de praga em plantações. Se, por um lado, eles são um escudo para as plantas, por outro, podem causar danos à saúde de animais, e isso inclui de minhocas a seres humanos. Tudo depende da forma como é aplicado no ambiente.

Os agrotóxicos podem ser usados em vasos de planta, jardins, pequenas roças ou grandes plantações com o propósito de evitar que microrganismos, e também plantas daninhas, prejudiquem o crescimento dos vegetais.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZgUTqRmzn_0E_IMBavS4G_D4AhzBMoVCKwAYGVwSf2BQNxLvOaw97QCGFSw1M-ZYbn0jftkR_-qfLIMwAfTTM0SUhBD9l-g1s7Zgt4HFsDEDFfFaEzCCH0Ovf1TlG3FmWJUDSn0oAnXJEZKr87dN9uIGHJm1Sn8NfsdRvcNDD4qx_S7_sbY8LGu8LREE/s320/plantas.jpg

 

Apesar de proteger as plantas contra pragas, os agrotóxicos podem ser muito perigosos para os animais. (ilustração: Lula)

Então, vejamos, se os agrotóxicos agem pelo bem dos vegetais, eles são ótimos, certo? Nem sempre. Muitas vezes você vê na feira aqueles legumes frutas, verduras e frutas parecerem mais bonitos para conseguir um preço melhor e, para isso, muitos usam agrotóxicos além da conta. Os resultados disso são: dano à saúde do trabalhador rural, que, em geral, aplica o produto sem proteção; dano à saúde do consumidor, que ingere vegetais contaminados; e dano ao meio ambiente, pela poluição do solo e das águas, que prejudica das minhocas aos peixes.

E aí, o que fazer? Se você tiver algum receio na hora de fazer a feira, procure comprar os vegetais de produtores que você conheça para evitar consumir produtos contaminados. Outra opção é comprar produtos identificados na embalagem como orgânicos. Esta denominação é garantia de que não são produzidos com o uso de agrotóxicos. É melhor prevenir…

Por conta do risco que os agrotóxicos podem representar, cabe aos cientistas a tarefa de pesquisar outras formas de combater as pragas das plantações. Da mesma forma, cabe aos órgãos competentes a fiscalização dos produtores agrícolas para punir quem desobedece aos limites de utilização dos agrotóxicos, prejudicando as pessoas e o meio ambiente.

(Esta é uma reedição do texto publicado na CHC 188.)

Matéria publicada em 25.11.2014

ENTENDENDO O TEXTO

01. Quais são alguns dos nomes pelos quais os agrotóxicos são conhecidos, de acordo com o texto?

     a) Fertilizantes, herbicidas, adubos.

     b) Venenos, defensivos agrícolas, remédios para plantas.

     c) Microrganismos, produtos químicos, pesticidas.

     d) Orgânicos, pesticidas naturais, adubos químicos.

02. Por que o uso excessivo de agrotóxicos pode ser prejudicial, conforme referência no texto?

     a) Porque os agrotóxicos são ineficazes contra as práticas.

     b) Porque os agrotóxicos tornam os vegetais menos acessíveis na feira.

     c) Porque pode causar danos à saúde do trabalhador rural e do consumidor, além da poluição ambiental.

    d) Porque os agrotóxicos não têm impacto no meio ambiente.

03. Como o consumidor pode tomar precauções ao comprar vegetais, de acordo com o texto?

     a) Escolher vegetais que pareçam mais bonitos.

     b) Comprar produtos específicos como orgânicos.

     c) Optar por vegetais produzidos com o uso de agrotóxicos.

    d) Evitar comprar vegetais de produtos conhecidos.

04. Qual é o assunto tratado no texto?

          O assunto tratado no texto é o uso de agrotóxicos em alimentos.

05. Transcreva as informações principais desse texto.

Remédios para plantas, defensivos agrícolas, venenos contra pragas [...] são um escudo para as plantas, por outro, podem causar danos à saúde dos animais. [...]”

“Os agrotóxicos, podem ser usados em vasos de planta, jardins, pequenas roças ou grandes plantações com o propósito de evitar que microorganismos, e também plantas daninhas, prejudiquem o crescimento dos vegetais.”

“Apesar de proteger as plantas contra pragas, os agrotóxicos podem ser muito perigosos para os animais.”

“Os resultados disso são: dano à saúde do trabalhador rural que, em geral, aplica o produto sem proteção; dano à saúde do consumidor, que ingere vegetais contaminados; e dano ao meio ambiente, pela poluição do solo e das águas, que prejudica minhocas e peixes.”

“... procure comprar os vegetais de produtores que você conheça, para evitar consumir produtos contaminados. Outra opção é comprar produtos identificados na embalagem como orgânicos”.

POEMA: VIVA A PAZ! - TATIANA BELINKY - COM GABARITO

 POEMA: VIVA A PAZ!

                   (Tatiana Belinky)

Dois gatinhos assanhados
se atracaram, enfezados.
A dona se irritou
e a vassoura agarrou!

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiViT6YmU15DQCTaAIQef1eYJoEqHgjx7Rt-J64IRV180loBVubKWuQExuHkWBU_60MrO83hSzCf7X8NII5NeOIvcAW0neq8rfXD2fUMNMtBiZobXan2ly-vDYDFHzITdyHXlZfKpmdpsmQWvDdYMb_EXfaLQQkZ806Why5r1S8hn45yM1mnFlehpE1HUU/s1600/FOFO.jpg


E apesar do frio, na hora,
os varreu porta afora,
bem no meio do inverno,
com um frio "do inferno"!

Os gatinhos, assustados,
se encolheram, já gelados,
junto à porta, no jardim,
aguardando o triste fim!


De terror acovardados,
os dois gatinhos, coitados,
não puderam nem miar,
lamentando tanto azar!

Sem ouvir nenhum miado,
a dona, por seu lado,
dos gatinhos teve dó,
e a porta abriu de uma vez só!

Mesmo estando tão gelados,
os dois gatinhos arrepiados
Zás! Bem junto do fogão
surgem, sem reclamação!

E a dona comentou:
tanto faz quem começou!
Uma encrenca boba assim
bom é que tenha logo um fim!

E ela acrescentou, então,
não querem brigar mais, não?
E os gatinhos, enroscados,
esqueceram da briga, aliviados.

Confortados, no quentinho,
com sossego e com carinho,
dormem bem, bichos queridos,
já da briga esquecidos.

 

Entendendo o texto

01. O tema do texto é:

     a) A briga que os gatinhos arranjaram um com o outro.

     b) O carinho e admiração que a dona tem pelos gatinhos.

     c) O frio que os gatinhos estavam sentindo no jardim.

     d) A amizade e admiração que os gatinhos têm um pelo outro. 

02. Quem é o eu lírico no poema "Viva a Paz!" de Tatiana Belinky?

     a) Uma dona.

     b) Os gatinhos.

     c) O narrador observador.

     d) Ó inverno.

03. Como o espaço é utilizado no poema para transmitir a atmosfera da história?

     a) O espaço é indiferente à trama.

     b) O espaço intensifica o frio do inverno.

     c) O espaço é um mero pano de fundo.

     d) O espaço é irrelevante para a narrativa.

04. Quais figuras de linguagem são utilizadas para descrever a ação da dona com a vassoura?

     a) Metáfora.

     b) Hipérbole.

     c) Prosopopeia.

     d) Antítese.

05. Como as rimas são empregadas no poema "Viva a Paz!"?

     a) O poema não possui rimas.

     b) Rimas alternadas.

     c) Rimas pareadas.

     d) Rimas interpoladas.

06. Qual é a principal mensagem transmitida no poema em relação à resolução de conflitos?

     a) A violência é a solução.

     b) A indiferença é a melhor resposta.

     c) O diálogo e a compreensão são fundamentais.

     d) Os conflitos devem ser ignorados.

 

 

 

POEMA: PAÍS DO AÇÚCAR - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: País do açúcar

              Carlos Drummond de Andrade

Começar pelo canudo,

passar ao branco pastel

de nata,

doçura em prata

e terminar no pudim?

 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiS_YPyvoZcUScS6zVrLGn8I0s7E7Q9gzMVPzH_GIRw11MOUbp48yGZ4dd401UiavadOR3GZPou_WUhwcTNX5Sv9KaeexvkcN9sfVXSNaHqJEUokIbfVUf9_kmIzJrmUTxtSW1tub9UW7iNlVdoJI8ZpqKuRkNWEKSajf-UP91aKHsMszLwA1ssB9uKpEI/s1600/A%C3%87UCAR.jpg

Pois sim.

E o que boia na esmeralda

da compoteira:

molengos figos em calda,

e o que é cristal em laranja,

pêssego, cidra vidrados?

A gula, faz tanto tempo,

cristalizada.

Entendendo o texto

01. Tendo como base o poema de Drummond, pode-se afirmar que está  INCORRETO.

 a) Na primeira estrofe, os verbos estão em uma forma nominal.

 b) Na primeira estrofe, o verbo “terminar” é transitivo indireto, por ter complemento com preposição.

 c) Durante todo o poema, há apenas um verbo de ligação.

   d) Na última estrofe, há um jogo com a palavra “cristalizada”, que se refere às frutas e à gula que perpetua.

02. Quem é o eu lírico no poema "País do açúcar" de Carlos Drummond de Andrade?

    a) O poeta.

    b) Um personagem fictício.

    c) Um narrador objetivo.

    d) O próprio açúcar.

03. Qual figura de linguagem é utilizada na expressão "doçura em prata" na segunda estrofe?

     a) Metáfora.

     b) Hipérbole.

     c) Antítese.

    d) Prosopopeia.

04. Na terceira estrofe, qual é o efeito criado pela expressão "o que boia na esmeralda da compoteira"?

    a) Personificação.

    b) Hipérbole.

    c) Onomatopeia.

    d) Eufemismo.

05. Quando o eu lírico se refere à gula como "cristalizada", qual figura de linguagem está sendo empregada?

    a) Antítese.

    b) Metonímia.

    c) Metáfora.

    d) Anáfora.

06. O que representa simbolicamente o ato de "terminar no pudim" na primeira estrofe do poema?

    a) A decadência da alimentação.

    b) Ó ápice da doçura.

    c) O início de uma refeição.

    d) Uma necessidade de variedade.

 

 

domingo, 26 de novembro de 2023

TEXTO: POLÍTICA E POLITICALHA - (Barbosa, Rui, apud BENEMANN) - COM GABARITO

 TEXTO: POLÍTICA E POLITICALHA

A política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si mesmo, desenvolve nos indivíduos a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia, cria, apura, eleva o merecimento.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7MoxOs9srzChfZxEDv79WUTg97IivI_d0CcBvBFsCu7aFwiAbrEWMkr-Nal4-PYPfaHaB5ucAW26Yjvhi6sk-JL2F5wIh_5dMGvgFcO0Y_cB9Gx9JEE-T53NzS7Uwu_kCJ9RmCG2sVzqrSF5wTIW-ncHWbNE5sjWLTRfTD97IVHzKQnoNo1bJquG2KX8/s320/POLITICALHA.jpg


Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, a que entre nós se deu a alcunha de politicagem. Esta palavra não traduz ainda todo o desprezo do objeto significado. Não há dúvida que rima bem com criadagem e parolagem, afilhadagem e ladroagem. Mas não tem o mesmo vigor de expressão que seus consoantes. Quem lhe dará com o batismo adequado? Poliquismo? Politicaria? Nesse último, sim, o sufixo pejorativo queima como um ferrete, e esperta ao ouvido uma consonância elucidativa. Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutualmente.

A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui a política uma função, ou o conjunto das funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada.

A política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si mesmo, desenvolve nos indivíduos a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia, cria, apura, eleva o merecimento.

Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, a que entre nós se deu a alcunha de politicagem. Esta palavra não traduz ainda todo o desprezo do objeto significado. Não há dúvida que rima bem com criadagem e parolagem, afilhadagem e ladroagem. Mas não tem o mesmo vigor de expressão que seus consoantes. Quem lhe dará com o batismo adequado? Poliquismo? Politicaria? Nesse último, sim, o sufixo pejorativo queima como um ferrete, e esperta ao ouvido uma consonância elucidativa. Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutualmente.

A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui a política uma função, ou o conjunto das funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada.
(Barbosa, Rui, apud BENEMANN)

INTERPRETAÇÃO

01. Segundo Rui Barbosa, caracteriza a política:
I- O aperfeiçoamento do espírito humano
II- Certa semelhança com a politicalha
III- O jogo da integra, da inveja e da incapacidade.

A - se apenas I for correto.
B - se apenas I e II forem corretas.
C - se apenas I e III forem corretas.
D - se apenas II e III forem corretas.
E - se todos os itens forem corretos.

02. O autor preferiu usar politicalha a politicagem porque:
I- O segundo, embora expresse o desprezo do objeto significado, é muito corriqueiro entre nós.
II- Politicagem é mais suave do que seus consoantes criadagem, perolagem, afilhadagem e ladroagem.
III- O sufixo pejorativo de politicagem traz ao termo maior precisão semântica.

A - se apenas I for correto.
B - se apenas I e II forem corretas.
C - se apenas I e III forem corretas.
D - se apenas II e III forem corretas.
E - se todos os itens forem corretos.

03. Durante todo o texto, Rui Barbosa vai procurando mostra as oposições entre o verdadeiro sentido da política e o seu falso sentido, ou seja, a politicalha. Em determinados, a força criativa do autor o leva a usar certas conotações, certas metáforas. É o que se registra em:
I- “A política é a higiene dos países moralmente sadios”
II- “ A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada”
III- “A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais”

A - se apenas I for correto.
B - se apenas I e II forem corretas.
C - se apenas I e III forem corretas.
D - se apenas II e III forem corretas.
E - se todos os itens forem corretos.

04. Indique o(s) caso(s) em que a palavra em destaque foi corretamente substituída pelo seu sentido contextual:
I. ” Mas na tem o mesmo vigor de expressão que os seus consoantes.”- palavras que rimam
II “...o sufixo pejorativo queima...” – insuportável
III “...é o envenenamento crônico dos povos negligentes...” – entranhado

A - se apenas I for correto.
B - se apenas I e II forem corretas.
C - se apenas I e III forem corretas.
D - se apenas II e III forem corretas.
E - se todos os itens forem corretos.

05. Segundo o autor qual a palavra adequada para o exercício de uma má política? Por quê?

O autor utiliza a palavra "politicagem" para descrever o exercício de uma má política. Isso se deve ao fato de que essa palavra expressa, de certa forma, o jogo sujo da política, associado a intrigas, corrupção e interesses pessoais.

06. Você considera essa palavra forte? Justifique.

Sim, a palavra "politicagem" pode ser considerada forte devido à carga pejorativa que carrega. Ela denota um comportamento desonesto, corrupto e manipulador na esfera política, o que é bastante impactante.

07. Você concorda que politicagem rima bem com criadagem, parolagem, afilhadagem e ladroagem? Justifique.

Sim, concordo. Todas essas palavras terminam com o sufixo "-agem", o que cria uma sonoridade similar entre elas. Essa similaridade sonora contribui para associar a politicagem a outros comportamentos negativos, reforçando a ideia de algo pejorativo.

08. Dê a classe gramatical das palavras destacadas:
a. A política afina o espírito humano.. - (Verbo)
b. Ih! Mas que politicalha! (Substantivo)
c. Esta palavra não traduz ainda o desprezo do objeto significado. (Verbo e Substantivo)
d. E desperta ao ouvido uma consonância elucidativa. (Conjunção e Verbo)

09. Retire do texto:

Uma frase nominal.

 "A política é a higiene dos países moralmente sadios”.

Uma frase verbal.

"A política afina o espírito humano."

Um período simples

"A politicalha é a malária dos povos de moralidade estragada."

Um período composto

"A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis."

10. Retire a conjunção e classifique-as em: aditiva, adversativas, conclusivas ou explicativas.
a. Ele gritava, logo estava empolgado. (Conclusiva) 

b. Os invejosos sucumbem, mas a inveja não sucumbirá nunca. (Adversativa)
c. O bom homem marcha sempre, quer chova, quer faça sol. (Concessiva)
d. Não lamentamos o dia de hoje, nem nos preocupemos com o dia de ontem. (Aditiva)

 

 


CONTO: O MATA-PAU - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: O mata-pau

            Monteiro Lobato

        Píncaros arriba e Perambeiras abaixo, a serra do Palmital escurece de mataria virgem, sombria e úmida, tramada de taquaruçus, afestoada de taquaris, com grandes árvores velhas de cujos galhos pendem cipós e escorrem barbas-de-pau e musgos.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9qkNdZmIrTyCXmKrAmWK99j2NTwXZKgyaTSwd7L0tEphYTxbRf3sdParPKgWLsdhp9IPDQHNt-Gyt1MtnOyjnhJ2jp2bWltpdVfgKMGy7coAoRDiUJ7f2G6VChuIN7OW6roeVvWTAnqrlX5Gv5_8clx2CdYxS-qOSrqpcGmlU-FwMwv2NcMthJNg9yY0/s320/SERRA.jpg

 Quem sobe da várzea, depois de transpostas as capoeiras da raiz, ao emboscar-se de chofre no frio túnel vegetal que é ali a estrada inevitavelmente espirra. E se é homem das cidades, pouco afeito aos aspectos bravios do sertão, depois do espirro abre a boca, pasmado da paulama. Extasia-se ante a graciosa copa dos samambaiaçus, ante as borboletas azuis, ante as orquídeas, os líquens, tudo.

        Sofria o animal sem o sentir, mas não para. Vai parar adiante, na Volta Fria, onde um broto d’água gelada, a fluir entremeio às pedras, o tenta a sorver um gole aparado em folha de caeté. Bebida a água, e dito que nas cidades não há daquilo, leva-lhe a vista o soberbo mata-pau que domina o grotão.

        — Que raio de árvore é esta? — pergunta ele ao capataz, pasmado mais uma vez.

        E tem razão de parar, admirar e perguntar, porque é duvidoso existir naquelas sertanias exemplar mais truculento da árvore assassina.

        Eu, de mim, confesso, fiz as três coisas. O camarada respondeu à terceira:

        — Não vê que é um mata-pau?

        — E que vem a ser o mata-pau?

        — Não vê que é uma árvore que mata outra? Começa, quer ver como? — disse ele escabichando as frondes com o olhar agudo em procura dum exemplar típico. — Está ali um!

        — Onde? — perguntei, tonto.

        — Aquele fiapinho de planta, ali no gancho daquele cedro — continuou o cicerone, apontando com dedo e beiço uma parasita mesquinha grudada na forquilha de um galho, com dois filamentos escorridos para o solo. — Começa assinzinho, meia dúzia de folhas piquiras; bota pra baixo esse fio de barbante na tenção de pegar a terra. E vai indo, sempre naquilo, nem pra mais nem pra menos, até que o fio alcança o chão. E vai então o fio vira raiz e pega a beber a sustância da terra. A parasita cria fôlego e cresce que nem imbaúba. O barbantinho engrossa todo dia, passa a cordel, passa a corda, passa a pau de caibro e acaba virando tronco de árvore e matando a mãe — como este guampudo aqui — concluiu, dando com o cabo do relho no meu mata-pau.

        — Com efeito! — exclamei admirado. — E a árvore deixa?

        — Que é que há de fazer? Não desconfia de nada, a boba. Quando vê no seu galho uma isca de quatro folhinhas, imagina que é parasita e não se precata. O fio, pensa que é cipó. Só quando o malvado ganha alento e garra de engrossar, é que a árvore sente a dor dos apertos na casca. Mas é tarde. O poderoso daí por diante é o mata-pau. A árvore morre e deixa dentro dele a lenha podre.

        Era aquilo mesmo! O lenho gordo e viçoso da planta facinorosa envolvia um tronco morto, a desfazer-se em carcoma. Viam-se por ele arriba, intervalados, os terríveis cíngulos estranguladores; inúteis agora, desempenhada já a missão constritora, jaziam frouxos e atrofiados.

        Imaginação envenenada pela literatura, pensei logo nas serpentes de Laocoonte, na víbora aquecida no seio do homem da fábula, nas filhas do rei Lear, em todas as figuras clássicas da ingratidão. Pensei e calei, tanto o meu companheiro era criatura simples, pura dos vícios mentais que os livros inoculam. Encavalgamos de novo e partimos.

        Não longe dali a serra complana-se em rechã e a mata míngua em capoeira rala, no meio da qual, em terreiro descoivarado, entremostra-se uma tapera. Esverdece o melão-de-são-caetano por sobre o derruído tapume do quintalejo, onde laranjeiras com erva-de-passarinho e uma ou outra planta doméstica marasmam agoniadas pelo mato sufocante.

        — Antigo sítio de Elesbão do Queixo d’Anta — explicou o camarada.

        — Largado? — perguntei.

        — Há que anos! Desde que mataram o homem ficou assim.

        Bacorejou-me história como as quero.

        — Mataram-no? Conte lá isso como foi.

        O camarada contou a história que para aqui traslado com a possível fidelidade. O melhor dela evaporou-se, a frescura, o correntio, a ingenuidade de um caso narrado por quem nunca aprendeu a colocação dos pronomes e por isso mesmo narra melhor que quantos por aí sorvem literaturas inteiras, e gramáticas, na ânsia de adquirir o estilo. Grandes folhetinistas andam por este mundo de Deus perdidos na gente do campo, ingramaticalíssima, porém pitoresca no dizer como ninguém.

        Elesbão morava com o pai no Queixo d’Anta, onde nascera. Quando a puberdade lhe engrossou a voz, disse ao velho:

        — Meu pai, quero casar.

        O pai olhou para o filho pensativamente; em seguida falou:

        — Passarinho cria pena é para voar. Se você já é homem, case. O rapaz pediu-lhe que pusesse em prova a sua virilidade.

        O pai refletiu e disse:

        — Derrube o jataí da grotinha, sem tomar fôlego.

        Elesbão afiou o machado, arregaçou as mangas e feriu o pau. Em toada de compasso, bateu firme a manhã inteira. À hora do almoço, o pan pan continuava sem esmorecimento. Só quando o sol aprumou no pino é que a madeira gemeu o primeiro estalido.

        — Está no chão — disse o pai, que se acercara do filho exausto mas vitorioso. — Pode casar. É homem.

        Elesbão trazia de olho uma menina das redondezas, filha do balaieiro João Poca, Rosinha, bilro sapiroquento de treze anos, feiosa como um rastolho.

        — Meu pai, eu quero Rosinha Poca.

        — Case. Mas ouça o que digo. Os Pocas não são boa gente. Os machos ainda servem — João é um coitado, Pedro não é má bisca; mas as saias nunca valeram nada. A mãe de Rosa é falada. Laranjeira azeda não dá laranja-lima. Você pense.

        — Meu pai, o futuro é de Deus. Eu quero casar com Rosinha.

        — Pois case.

        Deliberado com tal firmeza, Elesbão tratou de sitiar-se. Arrendou a rechã da tapera, roçou, derrubou, queimou, plantou, armou a choça. Barreadas que foram as paredes, pediu a menina e casou-se.

        Rosa só o era no nome. No corpo, simples botão inverniço, desses que melam aos frios extemporâneos de maio. Olhos cozidos e nariz arrebitado, tal qual a mãe. Feia, mas da feiura que o tempo às vezes conserta. Talvez se fiasse nisso o noivo.

        Elesbão, rijo no trabalho, prosperou. Aos três anos de labuta era já sitiante de monjolo, escaroçador e cevadeira, com dois agregados no eito.

        Prole, até esse tempo nenhuma; e isso entristecia a casa. Mas resignavam - se já ao vazio da esterilidade quando certa noite soou choro de criança no terreiro.

        Não se conta o terror de ambos — que aquilo era na certa alma penada de criança morta pagã. Como, entretanto, a pobre alma berrasse com pulmões muito da terra, e cada vez mais, Elesbão duvidou do bruxedo e, acendendo uma braçada de palha, lançou-a fora pela janela. O terreiro clareou até longe e eles viram, a pouca distância, uma criaturinha de gatas a berrar com desespero de quem é absolutamente deste mundo.

        — E não é que é uma criança de verdade? — exclamou ele, saído de um assombro e entrado noutro. — E agora?

        — Pois é recolhê-la — disse Rosa, cujo instinto de mulher só via no caso um pobre enjeitadinho ao léu, a reclamar conchego.

        Recolheu-o Elesbão, depondo o chorincas no colo da esposa. Rosa o estreitou ao seio, acalmando-o, ao mesmo tempo que “assentava” o marido.

        — Se não aparecer a mãe, cria-se o aparecido. Faz tanta falta um chorinho por aqui...

        No dia seguinte bateram as vizinhanças em indagações, sem nada colherem explicativo do estranho caso. Resolveram, pois, adotar o pequeno.

        O pai de Elesbão, consultado, ponderou:

        — Não presta criar filho alheio.

        Mas como o consulente armasse cara de vacilação, remendou logo a sua filosofia:

        — Também não é caridade enjeitar um enjeitado — e ficou-se nisso.

        Rosa conservou o pequeno e deu com ele criado à força de leite de cabra e caldinhos.

        À medida, porém, que medrava, o menino punha a nu a má índole congenial. Não prometia boa coisa, não.

        — Eu avisei — recordou o velho, como Elesbão se queixasse um dia da ruim casta do recolhido.

        — Meu pai disse também que não era caridade enjeitar um enjeitado...

        — É verdade, é verdade... — confirmou o filósofo de pé no chão, e calou-se.

        Manoel Aparecido era o nome do rapazinho. Como tivesse olhos gateados e cabelos louros de milho, denunciadores de origem estrangeira, puseram-lhe os vizinhos a alcunha de Ruço.

        Ganhou fama de madraço, e o era perfeito, inimigo de enxada e foice, só atento a negociatas, barganhas, espertezas. Amado por Rosa como filho, livrava-o ela da sanha do esposo escondendo suas malandragens, porque Elesbão vivia ameaçando endireitá-lo a rabo de tatu.

        Não endireitou coisa nenhuma. Com dezoito anos era Ruço a peste do bairro, atarantador dos pacíficos e traiçoeiro para com os escoradores.

        — É ruim inteirado! — dizia o povo.

        Por esse tempo navegava Rosa na casa dos trinta anos. Como a não estragaram filhos, nem se estragou ela em grosseiros trabalhos de roça, valia muito mais do que em menina. O tempo curou-lhe a sapiroca, e deu-lhe carnes a boa vida. De tal forma consertou que todo mundo gabava o arranjo.

        — Ninguém perca a esperança. Olhem a mulher de Elesbão, aquela Poquinha sapiroquenta, como está chibante!...

        A sua boniteza residia na saúde dos olhos e na gordura. Na roça, gordura é sinônimo de beleza — gordura e “olhos azuis que nem uma conta”...

        Além disso Rosinha cuidava de si. Virou faceira. Sempre limpa, vestida de boas chitas da sua cor, cabelos bem alisados para trás, torcidos em pericote lustroso à força de pomada de lima, não havia na serra pimpona assim nem moça de fazenda com pai coronel.

        Suas relações com Ruço, maternais até ali, principiaram a mudar de rumo, como quer que espigasse em homem o menino. Por fim degeneraram em namoro — medroso no começo, descarado ao cabo. A má casta das Pocas, desmentida no decurso da primavera, reafirmava-se em plena sazão calmosa. O verão das Pocas! Que forno...

        Tudo transpira. Transpirou nas redondezas a feia maromba daqueles amores. Boas línguas, e más, boquejavam o quase incesto.

        Quem de nada nunca suspeitou foi o honradíssimo Elesbão; e como na porta dos seus ouvidos paravam os rumores do mundo, a vida das três criaturas corria-lhes na toada mansa a que se dá o nome de felicidade.

        Foi quando caiu de cama o pai de Elesbão, doente de velhice.

        Mandou chamar o filho e falou-lhe com voz de quem está com o pé na cova:

        — Meu filho, abra os olhos com Poca...

        — Por que fala assim, meu pai?

        O velho ouvira o zum-zum da má vida; vacilava, entretanto, em abrir os olhos ao empulhado. Correu a mão trêmula pela cabeça do filho, afagou-a e morreu sem mais palavra. Sempre fora amigo de reticências, o bom velho.

        Elesbão regressou ao sítio com aquele aviso a verrumar-lhe os miolos.

        Passou dias de cara amarrada, acastelando hipóteses.

        Vendo o marido assim demudado, casmurro, de prazenteiro que era, Rosa caiu em guarda. Chamou de banda Ruço e disse-lhe:

        — Lesbão, desde que morreu o pai, anda amode que ervado. Mas não é sentimento, não. Ele desconfia... Às vezes pega de olhar para mim dum jeito esquisito, que até me gela o coração...

        Manoel segurou o queixo e refletiu. Continuar naquela vida era arriscado. Ir-se, pior; nada possuía de seu e trabalhar para outrem não era com ele. Se Elesbão morresse...

        Não se sabe se houve concerto entre os amásios. Mas Elesbão morreu. E como!

        Certa vez, de volta da vila próxima ali pelo escurecer, caiu de borco na Volta Fria, barbaramente foiçado na nuca. Descobriram-lhe o cadáver pela manhã, bem rente ao mata-pau.

        A justiça, coitadinha, apalpou daqui e dali, numa cegueira... Desconfiou de Ruço — mas cadê provas? Era Ruço mais fino que o delegado, o promotor, o juiz — mais até que o vigário da vila, um padre gozador da fama de enxergar através das paredes.

        A viúva chorou como mamoeiro lanhado — fosse de sentimento, de remorso ou para iludir aos outros. Talvez sem cálculo nenhum pelos três motivos.

        Manoel permaneceu na casa. Viviam como filho e mãe, dizia ela; como marido e mulher, resmungava o povo.

        O sítio, porém, entrou logo a desmedrar. Comiam do plantado, sem lembrança de meter na terra novas sementes. O moço ambicionava vender as benfeitorias para mergulhar no Oeste, e como Rosa relutasse deu de maltratá-la.

        Estes amores serôdios são como a vide: mais judiam deles, mais reviçam. Às brutalidades de Ruço respondia a viúva com redobros de carinho. Seu peito maduro, onde o estio no fim anunciava o inverno próximo, chamejava em fogo bravo, desses que roncam nas retranças dos taquaruçuzais. E isso vingava Elesbão, esse amor sem jeito, sem conta, sem medida, duas vezes criminoso sobre sacrílego e, o que era pior, aborrecido pelo facínora, já farto.

        — Coroca! Sapicuá de defunto! Cangalha velha!

        Não havia insulto com o peão do veneno plantado na nota da velhice que lhe não desfechasse, o monstro.

        Rosa depereceu a galope. Adeus, gordura! Boniteza outoniça, adeus! Saias a ruflar tesas de goma, pericote luzidio recendente a lima, quando mais?

        Os vizinhos comentavam:

        — Ruço dá cabo dela, como deu cabo do marido — e é bem feito. Voz do povo...

        Um dia Ruço ameaçou de largá-la, se não vendesse tudo, já e já; e a pobre mulher deu ao bandido essa derradeira prova de amor. Vendeu por uma bagatela o que restava acumulado pelo esforço do defunto — a moenda, o monjolo, a casa, o canavial em soca. E combinaram para o outro dia o ambicionado mergulho na terra roxa.

        Nessa noite Rosa despertou sufocada por violenta fumaceira. A casa ardia.

        Saltou como louca da enxerga e berrou por Ruço.

        Ninguém lhe respondeu.

        Atirou-se contra a porta: estava fechada por fora.

        O instinto fê-la agarrar o machado e romper a furiosos golpes as tábuas rijas. Escapa-se da fornalha, rola para o terreiro com as vestes em fogo, precipita-se no tanque e, livre das chamas, cai inerte para um lado — justamente onde vinte anos atrás vira o enjeitadinho chorando ao relento...

        Quando de manhã passantes a recolheram, estava de olhos pasmados, muda. Levaram-na em maca para o hospital, onde sarou das queimaduras, mas nunca mais do juízo. Foi feliz, Rosa. Enlouqueceu no momento preciso em que seu viver ia tornar-se puro inferno.

        — E Ruço?

        — Abalou com o dinheiro...

        Aí parava a história de Elesbão, como a sabia o meu camarada. Um crime vulgar como os há na roça às dezenas, se a lembrança do mata-pau o não colorisse com tintas de símbolo.

        — Não é só no mato que há mata-paus!... — murmurei eu filosoficamente, à guisa de comentário.

        O capataz entreparou um momento, como quem não entende. Depois abriu na cara o ar de quem entendeu e gostou.

        — Não é por gabar, mas vosmecê disse aí uma palavra que merece escrita. É tal e qual...

        E calou-se, de olho parado, pensativo.

Monteiro Lobato.

Entendendo o conto:

01 – Qual é o cenário principal descrito no início do conto?

      O cenário inicial é a serra do Palmital, uma região coberta por matas densas e virgens.

02 – Qual é o "mata-pau" mencionado no conto?

      O "mata-pau" é uma árvore parasita que cresce sobre outra árvore, eventualmente matando-a.

03 – Quais são os principais personagens do conto?

      Elesbão, Rosa, Ruço, o pai de Elesbão, e o narrador são os principais personagens.

04 – Quais são os eventos cruciais que levam à tragédia na história?

      O casamento de Elesbão com Rosinha, a chegada de Ruço, os problemas familiares e o incêndio criminoso que leva à loucura de Rosa.

05 – Qual é o significado simbólico do "mata-pau" na história?

      O "mata-pau" pode ser interpretado como um símbolo da destruição e do mal que crescem dentro das pessoas, assim como a árvore parasita cresce sobre a árvore hospedeira.

06 – Como é a evolução dos relacionamentos entre os personagens ao longo do conto?

      Elesbão e Rosa começam com um relacionamento promissor, mas a chegada de Ruço e as tensões familiares deterioram a dinâmica familiar, levando a um desfecho trágico.

07 – Quais são os temas principais abordados no conto?

      O conto explora temas como relações familiares disfuncionais, influência do ambiente na formação do caráter, e a presença do mal latente na natureza e nas pessoas.

08 – Como o conto aborda a questão da moralidade e do caráter dos personagens?

      Mostra como a criação, as decisões e as influências externas moldam o caráter dos personagens, levando a atos moralmente questionáveis.

09 – Qual é o papel do ambiente natural na história?

      O ambiente natural serve como pano de fundo para as ações dos personagens e é usado como metáfora para refletir as dinâmicas e os conflitos internos.

10 – Como o desfecho da história impacta na mensagem geral do conto?

      O desfecho trágico reforça a ideia de que o mal, muitas vezes, está presente nas relações humanas e pode levar a consequências devastadoras, mesmo em um ambiente aparentemente tranquilo.