quarta-feira, 1 de maio de 2019

CONTO: GAETANINHO - ALCÂNTARA MACHADO - COM GABARITO

Conto: Gaetaninho
        
    Alcântara Machado

        -- Xi, Gaetaninho, como é bom!
        Gaetaninho ficou banzando bem no meio da rua. O Ford quase o derrubou e ele não viu o Ford. O carroceiro disse um palavrão e ele não ouviu o palavrão.
        – Eh! Gaetaninho Vem pra dentro.

        Grito materno sim: até filho surdo escuta. Virou o rosto tão feio de sardento, viu a mãe e viu o chinelo.
        – Subito!
        Foi-se chegando devagarinho, devagarinho. Fazendo beicinho. Estudando o terreno. Diante da mãe e do chinelo parou. Balançou o corpo. Recurso de campeão de futebol. Fingiu tomar a direita. Mas deu meia volta instantânea e varou pela esquerda porta adentro.
        Eta salame de mestre!
        Ali na Rua Oriente a ralé quando muito andava de bonde. De automóvel ou carro só mesmo em dia de enterro. De enterro ou de casamento. Por isso mesmo o sonho de Gaetaninho era de realização muito difícil. Um sonho.
        O Beppino por exemplo. O Beppino naquela tarde atravessara de carro a cidade. Mas como? Atrás da Tia Peronetta que se mudava para o Araçá. Assim também não era vantagem.
        Mas se era o único meio? Paciência.
        Gaetaninho enfiou a cabeça embaixo do travesseiro.
        Que beleza, rapaz! Na frente quatro cavalos pretos empenachados levavam a Tia Filomena para o cemitério. Depois o padre. Depois o Savério noivo dela de lenço nos olhos. Depois ele. Na boleia do carro. Ao lado do cocheiro. Com a roupa marinheira e o gorro branco onde se lia: ENCOURAÇADO SÃO PAULO. Não. Ficava mais bonito de roupa marinheira mas com a palhetinha nova que o irmão lhe trouxera da fábrica. E ligas pretas segurando as meias. Que beleza, rapaz! Dentro do carro o pai, os dois irmãos mais velhos (um de gravata vermelha, outro de gravata verde) e o padrinho Seu Salomone. Muita gente nas calçadas, nas portas e nas janelas dos palacetes, vendo o enterro. Sobretudo admirando o Gaetaninho.
        Mas Gaetaninho ainda não estava satisfeito. Queira ir carregando o chicote. O desgraçado do cocheiro não queria deixar. Nem por um instantinho só.
        Gaetaninho ia berrar mas a Tia Filomena com mania de cantar o “Ahi, Mari!” todas as manhãs o acordou.
        Primeiro ficou desapontado. Depois quase chorou de ódio.
        Tia Filomena teve um ataque de nervos quando soube do sonho de Gaetaninho. Tão forte que ele sentiu remorsos. E para sossego da família alarmada com o agouro tratou logo de substituir a tia por outra pessoa numa nova versão de seu sonho. Matutou, matutou, e escolheu o acendedor da Companhia de Gás, seu Rubinho, que uma vez lhe deu um cocre danado de doído.
        Os irmãos (esses) quando souberam da história resolveram arriscar de sociedade quinhentão no elefante. Deu a vaca. E eles ficaram loucos de raiva por não haverem logo adivinhado que não podia deixar de dar a vaca mesmo.
        O jogo na calçada parecia de vida ou morte. Muito embora Gaetaninho não estava ligando.
        – Você conhecia o pai do Afonso, Beppino?
        – Meu pai deu uma vez na cara dele.
        – Então você não vai amanhã no enterro. Eu vou!
        O Vicente protestou indignado:
        – Assim não jogo mais! O Gaetaninho está atrapalhando!
        Gaetaninho voltou para o seu posto de guardião. Tão cheio de responsabilidades.
        O Nino veio correndo com a bolinha de meia. Chegou bem perto. Com o tronco arqueado, as pernas dobradas, os braços estendidos, as mãos abertas, Gaetaninho ficou pronto para a defesa.
        – Passa pro Beppino!
        Beppino deu dois passos e meteu o pé na bola. Com todo o muque. Ela cobriu o guardião sardento e foi parar no meio da rua.
        – Vá dar tiro no inferno!
        – Cala a boca, palestrino!
        – Traga a bola!
        Gaetaninho saiu correndo. Antes de alcançar a bola um bonde o pegou. Pegou e matou.
        No bonde vinha o pai de Gaetaninho.
        Agurizada assustada espalhou a notícia na noite.
        – Sabe o Gaetaninho?
        – Que é que tem?
        – Amassou o bonde!
        A vizinhança limpou com benzina suas roupas domingueiras.
        Às dezesseis horas do dia seguinte saiu um enterro da Rua do Oriente e Gaetaninho não ia na boleia de nenhum dos carros do acompanhamento. Lá no da frente dentro de um caixão fechado com flores pobres por cima. Vestia a roupa marinheira, tinha as ligas, mas não levava a palhetinha.
        Quem na boleia de um dos carros do cortejo mirim exibia soberbo terno vermelho que feria a vista da gente era o Beppino.

                                        Novelas Paulistanas. 3. ed. Rio de Janeiro:
                                              J. Olympio, 1979. p. 11-3.
Entendendo o conto:
01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Araçá: nome de um cemitério da cidade de São Paulo.

·        Banzar: pensar detidamente, meditar.

·        Boleia: cabina do motorista.

·        Cocre: cascudo.

·        Palhetinha: chapéu de palha.

02 – Esse conto pode ser dividido em seis partes ou cenas. De uma cena para outra, há um corte narrativo que introduz uma nova situação num tempo e num espaço também novos. Essa superposição de cenas vai compondo o todo como uma colagem, como se o narrador estivesse de posse de uma teleobjetiva e fosse fotografando cena por cena. Que tipo de linguagem se utiliza desse recurso técnico?
      A linguagem cinematográfica.

03 – Indique o parágrafo em que, ao descrever uma ação da personagem, o narrador, como um locutor esportivo, se utiliza da linguagem radiofônica.
      O sexto parágrafo.

04 – O ambiente é reconstituído com traços leves, demonstrando uma preocupação jornalística. Apesar disso, o autor consegue identificar magistralmente a origem e a condição socioeconômica das personagens.
a)   Que elementos do texto confirmam que Gaetaninho e sua família são italianos?
O nome das personagens, as gravatas dos irmãos mais velhos, verde e vermelha, a tia cantando a ópera “Ahi, Mari!”, a fala da mãe Subito! (“rápido”), a referência ao Palestra Futebol Clube (“Palestrino”), etc.

b)   Identifique alguns fatos que demonstram a condição socioeconômica da Gaetaninho.
Morar na Rua Oriente, em São Paulo, antigamente habitada por imigrantes italianos pobres; andar de bonde; jogar no bicho; o irmão trabalhar na fábrica; o jogo de futebol na rua com bola de meia; as flores pobres cobrindo o caixão, etc.

05 – Alcântara Machado preocupa-se não só em reproduzir os traços rítmicos e melódicos da linguagem coloquial, como também em mostrar a influência do imigrante italiano na fala paulistana.
a)   Identifique nos diálogos uma situação em que se observa um desvio em relação à variedade padrão formal da língua.
“Então você não vai amanhã no enterro. Eu vou!”

b)   Identifique no texto palavras da língua italian.
Nomes de personagens (Beppino, Peronetta, Nino, etc); o título da ópera, “Ahi, Mari!”; a palavra Subito.

06 – Que valor social está presente no desejo de Gaetaninho de andar de automóvel e de ser admirado pelas pessoas?
      O desejo de ascender socialmente. Como imigrante italiano marginalizado, Gaetaninho queria ser aceito, afirmar-se na sociedade brasileira.

07 – O final do conto é surpreendente, tanto pela rapidez com que se dá a morte de Gaetaninho quanto pela ambiguidade causada pela frase “amassou o bonde!”. Considerando o sentido do verbo amassar em português e sabendo que ammazzare, do italiano, significa “matar”, explique a ambiguidade contida nessa frase.
      Entre outras interpretações, pode-se considerar Gaetaninho como sujeito da ação (o menino foi atropelado/amassou o bonde, precipitando-se sob as rodas do veículo) e ao mesmo tempo paciente da ação (o menino foi atropelado/amassado/morto pelo bonde). A ambiguidade da expressão “Amassou o bonde” suaviza a crueza do espetáculo; a ironia suaviza a piedade.





POEMA: CANÇÃO DO EXÍLIO - GONÇALVES DIAS - COM QUESTÕES GABARITADAS

POEMA: CANÇÃO DO EXÍLIO
               GONÇALVES DIAS
Sábado, 28 de janeiro de 2017

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso Céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossas vidas mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
                        In Manuel Bandeira. Poesia e vida de Gonçalves Dias.
São Paulo, Ed. das Américas, 1962.
Entendendo o poema:

01 – Que visão de pátria é apresentada no poema? Confirme sua resposta transcrevendo dois versos do texto em seu caderno.
     Uma visão positiva e idealizada da pátria (Brasil). “Minha terra tem primores”; “Nossos bosques têm mais vidas/Nossa vida mais amores”.

02 – No poema, as palavras “lá” e “cá” aparecem repetidamente. O que elas representam para o eu poético?
     O lugar deixado para trás (a pátria) e o lugar em que o eu poético se encontra no momento em que sente saudades.

03 – Apesar de se referir ao próprio país, o Brasil, podemos considerar universal a maneira como o poeta vive seu sentimento em relação à pátria. Por quê?
     Porque muitas pessoas, de diferentes culturas e países, experimentam a sensação de saudades da terra de origem quando vivem em outro lugar. Assim como Gonçalves Dias, inúmeros poetas “cantaram” o exílio.

04 – Como você interpretaria a repetição da expressão “Minha terra tem...”?
     Ela dá ênfase àquilo que a pátria tem, `aquilo que ela é. Ou seja, o poema valoriza a pátria.

05 – Transcreva, em seu caderno, os versos do poema que podem ilustrar os seguintes sentimentos:
a)           Desilusão.
     “As aves, que aqui gorjeiam, / não gorjeiam como lá”.

b)           Encantamento.
         “Nosso céu tem mais estrelas, / Nossas várzeas têm mais flores”.

06 – Alguns versos do poema de Gonçalves Dias podem ser relacionados a trechos do “Hino Nacional Brasileiro”, escrito 63 anos depois, em 1909. Identifique esses versos e transcreva-os em seu caderno.
     “Nossos bosques têm mais vida”, / “Nossa vida” no teu seio “mais amores”.

07 – O que é exílio?
      Afastamento voluntário ou forçado do lugar onde reside.

08 – Caracterize o eu lírico do poema.
      Alguém que está vivendo fora da sua terra natal e tem saudades desse lugar.

09 – No poema, o eu lírico compara a terra natal com a terra onde está exilado. Que elementos são utilizados nessa comparação?
a)   Sociais.
b)   Naturais.                        
c)   Econômicos.
d)   Políticos.

10 – A distância da terra natal provoca no eu lírico:
a)   Tristeza.
b)   Desespero.
c)   Angústia.
d)   Saudade.

11 – Ao se referir à terra natal, o eu lírico apresenta uma imagem:
a)   Realista.
b)   Racional.
c)   Idealizada.
d)   Imparcial.

12 – Quais os principais temas característicos do Romantismo apresentados nesse poema?
      O nacionalismo, a exaltação da natureza, pessimismo e o escapismo.  
   
13 – Nos versos “Em cismar, sozinho à noite/ Mais prazer encontro eu lá”, destaca-se a característica romântica:
a)   Exaltação da natureza.
b)   Valorização da cultura popular
c)   Escapismo.
d)   Crítica social.

14 – Apresenta um apelo o verso:
a)   “Minha terra tem palmeiras”.
b)   “Que tais não encontro eu cá”.
c)   “Nosso céu tem mais estrelas”.
d)   “Não permita Deus que eu morra”.

15 – Revela-se no poema um tom de:
a)   Lamento.
b)   Humor.                     
c)   Ironia.                      
d)   Rancor.

16 – A distância e a saudade provocam a distorção da imagem da terra natal, cuja natureza é minuciosamente comparada com a da terra do exílio.
a)   A oposição e a distância são marcadas por dois advérbios insistentemente repetidos ao longo do poema. Quais são eles e o que cada um representa?
Os advérbios são: “cá” (aqui), que representa a terra do exílio, e “lá”, que representa a terra natal.

b)   Entre os diversos elementos da natureza, dois se destacam e se tornam símbolos da pátria distante. Quais são eles?
O sabiá e a palmeira.

17 – Os críticos literários atribuem a extraordinária beleza da canção à simplicidade dos recursos expressivos utilizados. Analisemos alguns deles:
a)   Métrica: versos redondilhos, que dão ao poema um ritmo bem marcado e de gosto popular. Faça a escansão dos dois primeiros versos.
Mi/nha ter/ra tem/ pal/mei/ras – On/de can/ta o/ as/bi/á.

b)   Rimas: alternância de versos rimados (pares) com versos brancos (ímpares). Quais são as três palavras que se repetem em posição de rima, ao longo de quase todo o poema?
São as palavras: “Sabiá”, “cá” e “lá”.

c)   Paralelismo: um terço da canção compõe-se de versos repetidos. Dois desses versos funcionam como um refrão. Quais são eles?
“Minha terra tem palmeiras / Onde canta o sabiá.”




TEXTO: HIP-HOP BRASIL - TATIANA I. KWIEZYNSHI - COM QUESTÕES GABARITADAS


Texto: Hip-hop Brasil
                  
           Tatiana Ivanovici Kwiezynshi

   Ele é tão urbano quanto as grandes construções de concreto e as estações de metrô, e cada dia se torna mais presente se firmando como a arte que vem das ruas

        Por aqui, é a voz cantada dos presídios, está nos grafites que embelezam ou enfeitam muros e paredes das grandes cidades e nas roupas da juventude. É um movimento que invade as metrópoles brasileiras da periferia para o centro. Para muitos jovens, o Hip-hop vem fazendo a diferença, mudando jeitos de pensar, dando oportunidades e denunciando a desigualdade social e racial. “O Hip-hop nasceu na periferia dos bairros pobres de Nova York. Pode ser considerada uma cultura juvenil urbana”, explica Viviane Melo de Mendonça Magro, psicóloga que estuda o movimento no Brasil, com ênfase na questão de gênero. “O Hip-hop é formado por três elementos: a música (rap), as artes plásticas (o grafite) e a dança (o break). No Hip-hop os jovens usam as expressões artísticas como uma forma de luta e resistência política”, diz a pesquisadora.
        Enraizado nas camadas populares urbanas, o Hip-hop firmou-se no Brasil e no mundo com um discurso político a favor dos excluídos, sobretudo dos negros. Não é por acaso que o famoso rapper Mano Brown teve uma recepção tão calorosa na Febem do Brás, em São Paulo, em um show realizado em 2003. Os jovens detentos sabiam de cor as letras das músicas que falavam da realidade dos moradores das periferias. “As histórias do rap são fictícias ou reais, mais tratam de pessoas que vivem na periferia”, conta Viviane.
        Apesar de ser um movimento originário das periferias norte-americanas, o Hip-hop não encontrou barreiras no Brasil, onde se instalou com certa naturalidade. “A apropriação de elementos que não estão necessariamente legitimados na cultura brasileira deu-se de forma mais natural e tranquila porque estamos em um mundo globalizado”, considera Micael Herschmann, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autor do livro “O funk e o hip invadem a cena”. O que, no entanto, não significa que o Hip-hop brasileiro não tenha influências locais. O movimento no Brasil é híbrido, com traços evidentes da cultura nacional: no hip-hop brasileiro tem rap com um pouco de samba, break parecido com capoeira e grafites de cores muito vivas.

        NOVA GERAÇÃO

        Com quase 20 anos de existência no Brasil, “O Hip-hop ainda é uma criança que está aprendendo a se locomover”, afirma Rappin’ Hood. Segundo Marcão, rapper do DMN, “Se a gente comparar o mercado de hoje com o de dez anos atrás, podemos notar que atualmente temos mais lançamentos e menos casas para tocar”.
        Marcão afirma que a cultura precisa de profissionais de outras áreas, como técnicos de som e assessores de imprensa. Mas uma nova geração de grupos está surgindo. Em sua maioria, apostas dos próprios artistas do movimento. Um desses representantes é o CA. GE. BE. Que tem seu álbum de estreia lançado pelo selo Equilíbrio do DJ KL Jay. Para Cesar Sotaque, MC do grupo, “hoje temos noção de como comercializar nosso produto”. Rosana Bronk’s também faz parte dessa nova fase, seu primeiro álbum é um lançamento da Cosa Nostra, selo do Racionais MC’s. Para Rosana Bronk’s um outro aspecto a ser discutido é o comportamento dos produtores de eventos. “Os contratantes deveriam firmar parcerias com grandes empresas”.

        HUTÚZ, o Oscar

        Maior evento de hip-hop da América Latina, o Prêmio Hutúz acontece há sete anos no Rio de Janeiro e já faz parte do Calendário Turístico e Cultural da cidade. “A ideia era dar qualidade à produção do hip-hop com uma condição: o próprio hip-hop deveria produzir e executar o projeto”, revela Celso Athayde. Acabar com os estigmas, sair do gueto e ganhar o asfalto sem perder a autoridade era a principal motivação. “O Prêmio Hutúz é válido porque reflete a opinião do povo”, afirma Eduardo, integrante do grupo Facção Central. “Ainda temos o problema da grande mídia, que não valoriza o rapper verdadeiro e não divulga o hip-hop”. A tradicional homenagem do Prêmio Hutúz desta vez foi dedicado ao rapper e produtor Helião. “O mérito não é só meu, mas acredito que sou merecedor porque aprendi a lição”. Helião, formador do extinto RZO, prometeu a volta do grupo. Sobre o atual cenário do hip-hop brasileiro, ele acredita que falta coragem para inovar nas produções, “temos que buscar coisas novas”.
        Se o futuro do rap é se unir aos ritmos brasileiros, MV Bill já está fazendo sua parte. No seu mais recente trabalho, O bagulho é doido, o rapper utilizou elementos de funk carioca. O show de lançamento desse álbum no Hutúz foi aplaudido e a performance de sua irmã K-Milla surpreendeu. Para MV Bill, a maior parte dos rappers não valorizam sua própria raiz. “Quando Snoop Dogg ou Dr. Dre utilizarem samples de música brasileira é que a rapaziada vai perceber que isso acontece no nosso quintal”. Sobre o hip-hop. MV Bill diz que teve um momento em que a música norte-americana explodiu no Brasil. “Nessa época estavam na moda as festas ‘black’, que na realidade só tocavam rap internacional”, revela. “Chamar de ‘black’ era uma maneira de aliviar o fato de que a palavra rap está relacionada às pessoas de comunidade”. Para o MV da Cidade de Deus, é o racismo musical que se estende ao social.

        COMEÇANDO A ENTENDER

        O grupo Pavilhão 9, que se apresentou no Hutúz Rap Festival, lançou seu primeiro trabalho em 1992. Rossi, um de seus integrantes, defende a profissionalização, “o rap nacional deveria ganhar dinheiro como o rock ou a MPB”. Japão, MC do brasiliense Viela 17, acredita que “para o hip-hop realmente acontecer, os rappers devem investir em si mesmos e não depender de grandes gravadoras”. Uma porta pela qual o hip-hop brasileiro ainda não entrou é a internet, talvez porque a cultura de modo geral ainda seja resistente a este veículo. “Fora do Brasil, rappers fazem lançamentos exclusivos em seus sites, e o rap nacional ainda não enxergou isso”, afirma Japão. O Viela 17 disponibilizou algumas faixas de seu álbum O Alheio chora seu dono para download gratuito na internet. Hoje, o hip-hop brasileiro busca a profissionalização e começa a tomar consciência de suas necessidades.
        Para Marcelo, integrante do grupo carioca Dughettu, “a gente está começando a entender o profissionalismo”.
        Cabal, rapper paulista que faturou um Grammy em 2006, não precisamente nessa categoria, acredita que o hip-hop deveria lidar melhor com outros segmentos do mercado. Mas esse diálogo do hip-hop com as grandes empresas, de um modo geral, ainda é um desafio a ser superado. “Eu espero que a gente tenha condições de preparar terreno para os que ainda virão”. Afirma o mensageiro da verdade, MC Bill.
        Atualmente, o hip-hop é uma expressão popular muito mais evidente que o funk, e já cruzou as fronteiras de todos estados. Para a psicóloga Viviane, sejam brancos ou negros, muitos jovens brasileiros têm encontrado no movimento uma esperança. “O hip-hop tem um lado político forte, de conscientização. Eles se organizam cada vez mais para que possam criar alternativas para os jovens da periferia não caírem na criminalidade, nas drogas”, conclui.
                                                                         Revista Raça Brasil.
Entendendo o texto:

01 – Qual é o assunto da reportagem que você leu? Em seu caderno, sintetize-o em uma frase.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: É a afirmação do hip-hop como expressão artística urbana.

02 – Na abertura desta unidade, afirmamos que divulgar assuntos de interesse público é um dos propósitos da imprensa. Pensando nisso, responda:
a)   Por que o assunto da reportagem “Hip-hop Brasil” seria de interesse público?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Trata-se de mostrar o crescimento, no Brasil, de uma manifestação cultural.

b)   Quem seria o público leitor das matérias publicadas em Raça Brasil?
Pessoas que se interessam por temas e notícias ligados à comunidade negra brasileira.

c)   Relacionando as respostas que você deu aos itens a e b, explique: por que uma matéria sobre o hip-hop é matéria da revista Raça Brasil?
O hip-hop surgiu na periferia de grandes cidades norte-americanas, nas quais há prevalência da população negra. Ao chegar ao Brasil, essa manifestação cultural trouxe elementos ligados aos negros. Daí o suposto interesse dos leitores de Raça Brasil pelo tema.

03 – Defina, com suas palavras, o que é o hip-hop.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O texto informa que é uma manifestação cultural compósita, que combina música, arte visual e dança.

04 – Segunda a reportagem, o hip-hop é “um discurso em favor dos excluídos, sobretudo dos negros:
a)   Explique a relação entre as palavras excluídos e negros, que a reportagem estabelece.
Considera-se muitas vezes que a população negra atual é herdeira de uma situação de exclusão social pelo fato de os negros terem sofrido com a escravidão, até o final do século XIX.

b)   Além dos negros, o hip-hop atinge também outros públicos. Segundo a reportagem, que públicos são esses?
No Brasil, seria a população empobrecida que vive, sobretudo, em condições precárias nas grandes cidades, como ocorre nas favelas.

05 – Na reportagem, afirma-se que o hip-hop teve sua origem em bairros pobres da cidade de Nova York. Mesmo sendo uma manifestação de origem estrangeira, o hip-hop se adaptou bem no Brasil.
a)   O que teria permitido essa adaptação?
Segundo a reportagem, isso se dá porque o hip-hop é uma manifestação cultural de um mundo globalizado e, portanto, expressa características que se aclimatariam facilmente fora do seu local de origem.

b)   Você considera que a explicação dada na reportagem para o sucesso do hip-hop no Brasil é convincente? Justifique sua opinião.
Resposta pessoal do aluno.

06 – Além do hip-hop, outros elementos culturais de origem estrangeira são citados na reportagem. Segundo o texto, o que permite que esses elementos sejam incorporados e façam sucesso no Brasil?
      A semelhança entre as condições que há em outros países e aquelas que existem no Brasil.

07 – N reportagem, em alguns trechos, são empregados conceitos opostos. Para isso, a autora utiliza (ou deixa subentendido) pares de antônimos como excluídos/incluídos, brancos/negros, cultura estrangeira/cultura brasileira, entre outros.
a)   Copie no caderno alguns trechos em que isso ocorre.
Algumas possibilidades de resposta: “Grafites que embelezam ou enfeitam muros e paredes”; “Apesar de ser um movimento originário das periferias norte-americanas, o hip-hop não encontrou barreiras no Brasil [... O movimento no Brasil é híbrido, com traços evidentes da cultura nacional...”, etc.

b)   Na sua opinião, por que ela emprega conceitos opostos?
Resposta pessoal do aluno.

08 – A partir do que você observou sobre conceitos opostos empregados no texto, responda:
a)   O que esses antônimos podem revelar a respeito do ponto de vista de quem escreve a reportagem e, por extensão, a revista? Justifique sua opinião.
Por se tratar de uma matéria que comenta um movimento cultural surgido junto à população pobre e negra de grandes cidades, não pode deixar de refletir as questões enfrentadas por essas pessoas. A publicação, sendo voltada para um público específico deve ter característica de linguagem que se afinem com esse público.

b)   Para acentuar esses conceitos opostos e mostrar que no Brasil essas oposições não funcionam de forma tão simples como em outros lugares, que recurso a autora do texto usa? Explique.
Ela convoca a palavra dos especialistas, que mostram que oposições estritas como brancos/negros ou excluídos / incluídos não dão conta da situação brasileira. Além disso, ela consegue ressaltar a especificidade do hip-hop brasileiro.

09 – Algumas palavras e expressões utilizadas no texto remetem ao universo do hip-hop.
a)   Copie em seu caderno algumas dessas expressões e tente explica-las com suas palavras, valendo-se do contexto.
Rapper (cantor e ou compositor de rap). MC (músico que lidera uma banda de hip-hop). Black (estilo musical divulgado nos anos 1980). Break (dança de rua que acompanha as manifestações de rap), são alguns exemplos.

b)   Os nomes dos grupos e artistas de hip-hop brasileiros são compostos, muitas vezes, de jogos de palavras que procuram lhes dar certo ar estrangeiro: Dughettu, K-Milla, MC Bill, entre outros. Explique por que isso ocorre, considerando as informações que o texto fornece sobre a cultura hip-hop.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Porque essa forma de se autodesignar está ligada, possivelmente, à origem norte-americana da cultura hip-hop.