segunda-feira, 17 de abril de 2017

EXPRESSÕES POPULARES


EXPRESSÕES POPULARES

Abraço de tamanduá
         Sinônimo de traição ou deslealdade. O tamanduá se deita de barriga para cima e abre seus braços. O inimigo, ao se aproximar, é recebido por um forte abraço, que o esmaga.


Lágrimas de crocodilo
         É uma expressão bastante usada para se referir a choro fingido. O crocodilo, quando ingere um alimento, faz forte pressão contra o céu da boca, comprimindo as glândulas lacrimais. Assim, ele “chora” enquanto devora uma vítima.


O canto do cisne
         São as últimas realizações de alguém. Antigamente, dizia-se que o cisne emitia um lindo canto quando estava prestes a morrer.



Memória de elefante
         O elefante lembra de tudo o que aprende, motivo por que é uma das principais atrações do circo. Por isso, dizem que as pessoas que lembram de tudo (até mesmo as magrinhas) têm a memória do bichão.



Dormir com as galinhas
         Nada de levar o travesseiro e o colchão para o galinheiro. A expressão significa apenas deitar-se cedo, logo ao anoitecer, como fazem as galinhas.



Olhos de lince
         Os filhotes só abrem os olhos com dez dias de vida. Em compensação, quando crescem, os linces têm uma visão apurada. Os povos mais antigos acreditam que esses animais conseguem enxergar através das paredes. Ter olhos de lince significa enxergar longe.


Estômago de avestruz
         Aquele que come qualquer coisa. O estômago do avestruz é dotado de poderoso suco gástrico que é capaz de dissolver até metais.

         Explique o sentido das três expressões populares a seguir: “mala sem alça”; “unha de fome”; “sem eira nem beira”.


                                               DUARTE, Marcelo. Guia dos Curiosos. São Paulo:
                                                                                  Companhia das Letras, 1995.


A ESCRAVA ISAURA - BERNARDO GUIMARÃES - (FRAGMENTO) COM GABARITO

          TEXTO LITERÁRIO    -   A ESCRAVA ISAURA
                                                               Bernardo Guimarães

          Só depois de casado Leôncio, que antes disso poucas e breves estadas fizera na casa paterna, começou a prestar atenção à extrema beleza e às graças incomparáveis de Isaura. Posto que lhe coubesse em sorte uma linda e excelente mulher, ele não se havia casado por amor, sentimento esse a que seu coração até ali parecia absolutamente estranho. Casara-se por especulação, e como sua mulher era moça e bonita, sentira apenas por ela paixão, que se ceva no gozo dos prazeres sensuais, e com eles se extingue. Estava reservado à infeliz Isaura fazer vibrar profunda e violentamente naquele coração as fibras que ainda não  estavam de todo estragadas pelo atrito da devassidão. Concebeu por ela o mais cego e violento amor, que de dia em dia ia crescendo na razão direta dos sérios e poderosos obstáculos que encontrava, obstáculos a que não estava afeito, e que em vão se esforçava para superar. Mas nem por isso desistia de sua tresloucada empresa, porque em fim de contas, - pensava ele, - Isaura era propriedade sua, e quando nenhum outro meio fosse eficaz, restava-lhe o emprego da violência. Leôncio era um digno herdeiro de todos os maus instintos e da brutal devassidão do comendador (seu pai).
          Pelo caminho, como sua mente andava sempre cheia da imagem de Isaura, Leôncio conversara longamente com seu cunhado a respeito dela, exaltando lhe a beleza, e deixando transluzir com revoltante cinismo as lascivas intenções que abrigava no coração. Esta conversação não agradava muito a Henrique, que às vezes corava de pejo e de indignação por sua irmã, mas não deixou de excitar-lhe viva curiosidade de conhecer uma escrava de tão extraordinária beleza.
          No dia seguinte ao da chegada dos mancebos às oito horas da manhã, Isaura, que acabava de espanejar os móveis e arranjar o salão, achava-se sentada junto a uma janela e entretinha-se a bordar, à espera que seus senhores se levantassem para servir-lhes o café. Leôncio e Henrique não tardaram em aparecer, e parando à porta do salão puseram-se a contemplar Isaura, que sem se aperceber da presença deles continuava a bordar distraidamente.
          --- Então, que te parece? – segredava Leôncio a seu cunhado. – Uma escrava desta ordem não é um tesouro inapreciável? Quem não diria, que é uma andaluza de Cádiz, ou uma napolitana? ...
          --- Não é nada disso; mas é coisa melhor, respondeu Henrique maravilhado; é uma perfeita brasileira.
          --- Qual brasileira! é superior a tudo quanto há. Aqueles encantos e aquelas dezessete primaveras em uma moça livre teriam feito virar o juízo a muita gente boa. Tua irmã pretende, com instância, que eu a liberte, alegando que essa era a vontade de minha defunta mãe; mas nem tão tolo sou eu, que me desfaça assim sem mais nem menos de uma joia tão preciosa. Se minha mãe teve o capricho de cria-la com todo o mimo e de dar-lhe uma primorosa educação, não foi decerto para abandoná-la ao mundo, não achas? ... Também meu pai parece que cedeu às instâncias do pai dela, que é um pobre galego, que por aí anda, e que pretende libertá-la; mas o velho pede por ela tão exorbitante soma, que julgo nada dever recear por esse lado. Vê lá, Henrique, se há nada que pague uma escrava assim? ...
          --- É com efeito encantadora --- replicou o moço, --- se estivesse no serralho do sultão, seria sua odalisca favorita. Mas devo notar-te, Leôncio, --- continuou, cravando no cunhado um olhar cheio de maliciosa penetração, --- como teu amigo e como irmão de tua mulher, que o teres em tua sala e ao lado de minha irmã uma escrava tão linda e tão bem tratada não deixa de ser inconveniente e talvez perigoso para a tranquilidade doméstica...
          --- Bravo! – atalhou Leôncio, galhofando, - para a idade que tens, já estás um moralista de polpa! ... mas não te dê isso cuidado, meu menino; tua irmã não tem dessas veleidades, e é ela mesma quem mais gosta de que Isaura seja vista e admirada por todos. E tem razão; Isaura é como um traste de luxo, que deve estar sempre exposto no salão. Querias que eu mandasse para a cozinha os meus espelhos de Veneza? ...
                                         GUIMARÃES, Bernardo. A escrava Isaura. São Paulo:
                                                                                                Ática, 1998, p. 21-22.

Andaluza da Cádiz: mulher que nasceu na cidade de Cádiz, situada na região da Andaluzia, na Espanha.
Ceva: satisfaz, sacia.
Com instância: pedir com urgência, insistentemente.
Devassidão: libertinagem, depravação de costumes.
Lascivo: sensual, relacionado aos prazeres do sexo.
Pejo: pudor, vergonha.
Por especulação: por interesse, visando ao lucro.
Transluzir: mostrar por meio de algo, transparecer.
Galhofar: debochar.
Odalisca: mulher de harém.
Serralho: harém, espaço destinado às mulheres do sultão.
Veleidade: ideia fantasiosa.

1 – Leôncio, o vilão da história, sente-se atraído pela “extrema beleza” e pelas “graças incomparáveis de Isaura”.
a)     Destaque no texto trechos que revelam o caráter de Leôncio por meio de suas intensões a respeito da escravidão.
Respostas possíveis: “Estava reservado à infeliz Isaura fazer vibrar profunda e violentamente naquele coração as fibras que ainda não estavam de todo estragadas pelo atrito da devassidão.”; “[...] deixando transluzir com revoltante cinismo as lascivas intenções, que abrigava no coração.”

b)    Isaura correspondia às “investidas” de Leôncio? Justifique sua resposta com um trecho do texto.
Pode-se inferir que não a partir do seguinte trecho: “Concebeu por ela o mais cego e violento amor, que de dia em dia ia crescendo na razão direta dos sérios e poderosos obstáculos que encontrava, obstáculos a que não estava afeito, e que em vão se esforçava para superar.”

c)     Reforçando a questão moral do caráter de Leôncio, o vilão é casado. O que motivou seu casamento?
Interesses financeiros: “Casara-se por especulação”. É interessante discutir com os alunos que essa prática é criticada pela visão romântica, que defende o amor como motivação do casamento.

d)    O autor faz uma distinção entre amor e paixão. Explique essa distinção.
A paixão está totalmente ligada à atração física, que, de acordo com o texto, “se ceva no gozo dos prazeres sensuais, e com eles se extingue”. Pode-se concluir que, diferente da paixão, o amor é duradouro, relacionado à alma, ao espírito, e não apenas ao seu aspecto carnal. É interessante observar o caráter romântico dessa distinção.

e)     Você concorda com essa distinção? Por que?
Resposta pessoal.

2 – Estabeleça relações entre as atividades realizadas por Isaura e a canção “A mão da limpeza”, de Gilberto Gil.
        Ambos relacionam o trabalho dos afrodescendentes à execução de trabalhos manuais (limpeza, arrumação da casa, servir à mesa).

3 – Releia: “Isaura era propriedade sua, e quando nenhum outro meio fosse eficaz, restava-lhe o emprego da violência”.
a)     Que ideias relacionadas a “propriedade” estão implícitas nos seguintes trechos:
--- “Uma escrava desta ordem não é um tesouro inapreciável”;
--- “Que me desfaça assim sem mais nem menos de uma joia tão preciosa”;
--- “Mas o velho pede por ela tão exorbitante soma”;
--- “Isaura é como um traste de luxo, que deve estar sempre exposto no salão. Querias que eu mandasse para a cozinha os meus espelhos de Veneza? ...”.
É importante observar que, embora as metáforas e as comparações empregadas sejam espécies de elogios aos atributos de Isaura, elas se relacionam com as ideias de objeto, mercadoria (preço): escrava valiosa e cara. Destacam-se as expressões “tesouro inapreciável”, “joia tão preciosa”, “soma exorbitante”, “traste de luxo a ser exposto” e a comparação entre Isaura e os espelhos de Veneza.

b)    O que você pensa a respeito de uma pessoa ser propriedade de alguém? Compartilhe sua opinião dom seus colegas. Ouça com atenção as opiniões deles. Elas são parecidas com a sua? Por que?

Resposta pessoal.

IRACEMA - JOSÉ DE ALENCAR - (FRAGMENTO) COM GABARITO

                                                      TEXTO LITERÁRIO
          IRACEMA

          Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
          Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa de graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.
          O favo da Jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
          Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
          Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-se o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto.
          Iracema saiu do banho; o aljôfar d`água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste.
          A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru de palha matizada, onde traz à selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão.
          Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se.
          Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.
         Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido.
         De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz a espada; mas logo sorriu. O moço guerreiro aprendeu na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais d`alma que da ferida.
          O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba, e correu para o guerreiro, sentida da mágoa que causara.
          A mão que rápida ferira, estancou mais rápida e compassiva o sangue que gotejava. Depois Iracema quebrou a flecha homicida: deu a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta farpada.
          O guerreiro falou:
          --- Quebras comigo a flecha da paz?
          --- Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus irmãos? Donde vieste a estas matas, que nunca viram outro guerreiro como tu?
          --- Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras que teus irmãos já possuíram, e hoje têm os meus.
          --- Bem-vindo seja o estrangeiro aos campos do tabajaras, senhores das aldeias, e à cabana de Araquém, pai de Iracema.

                         ALENCAR, José de. Iracema. São Paulo: Ática, 1995, p. 16-18.

Graúna: pássaro de cor negra.
Jati: pequena abelha.
Aljôfar: gotas de água assemelhadas a pérolas muito miúdas.
Ará: periquito.
Campear: viver em acampamento.
Crautá: espécie de bromélia.
Esparzi: espalhar.
Gará: ave típica de áreas pantanosas.
Ignoto: desconhecido.
Ipu: região de terra bastante fértil.
Juçara: palmeira de grandes espinhos.
Lesto: rápido, ágil.
Oiticica: árvore frondosa.
Quebrar a flecha: maneira simbólica de estabelecer a paz entre indígenas.
Rorejar: molhar com pequenas gotas como o orvalho.
Uiraçaba: estojo próprio para guardar e transportar flechas.
Uru: cesto em que se guardam objetos.

1 – No capítulo lido, a personagem principal é apresentada ao leitor. Escreva algumas características dessa personagem.
a)     Características físicas?
“Lábios de mel”; “sorriso doce”; “hálito perfumado”; “cabelos negros e longos”; “pé grácil e nu”.

b)    Habilidades (o que sabe fazer).
Corre velozmente, sabe tecer renda, tingir algodão e usar o arco e flecha.

2 – localize no texto os parágrafos referentes:
a)     à situação inicial – Iracema e natureza em perfeita harmonia;
Parágrafos 1 a 7;

b)    à desestabilização da situação inicial;
Parágrafo 8;

c)     à volta a uma situação estável.
Parágrafo 13.

3 – Ao perceber a presença de um estranho na floresta, Iracema tem uma reação instintiva e atira uma flecha no “guerreiro branco”.
a)     De acordo com o texto, por que o “guerreiro branco” não reagiu agressivamente ao “ataque” de Iracema?
A religiosidade presente na cultura de Martim, bem como sua visão de mulher são idealizadas, o que leva à sua “não reação”.

b)    Por que ele sofreu “mais d´alma que da ferida”? Que traços culturais estão implícitos nessa “não reação”?
A resposta é a mesma da letra (a).

c)     Como Iracema se sentiu logo depois de ter ferido o estranho? O que ela fez em seguida?
Arrependida, ela socorre Martim. é interessante pedir aos alunos que imaginem a cena e, mesmo que ainda não pensem no Romantismo como movimento literário, observem o caráter romântico (senso comum), fantasioso aí presente: uma indígena, tranquila em seu hábitat natural, depara-se com um ser tão estranho para ela que sua vista até se turva. Não parece rápida demais a aproximação de Iracema e Martim?

4 – O que o primeiro contato entre Iracema e Martim, o “guerreiro branco”, revela sobre:
a)     O caráter das personagens;
Ambos se revelam virtuosos, com caráter nobre.

b)    Um possível envolvimento amoroso entre as personagens;
Há atração ou fascínio quase imediato entre as personagens. Martim sofre mais da alma que da ferida, o que é revelado pelo sentimento em seus olhos e seu rosto (sentimento que o narrador não sabe ou não quer dizer qual é). Iracema não se sente mais em perigo na presença do estranho.

c)     A visão do autor sobre a relação entre colonizador e nativo.
Amistosa. A selvagem dá as boas-vindas ao branco.

5 – Que relação há entre o verso “São donos disso aqui”, da canção “O índio é o Brasil”, e a seguinte fala de Martim: “Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras que teus irmãos já possuíram, e hoje têm os meus”?
        Ambos se referem à terra, que era//deve ser do indígena, uma vez que foi o primeiro habitante do local, bem como referem-se ao processo de colonização, à conquista da terra pelo branco, de forma implícita na canção; de forma explícita no romance.


domingo, 16 de abril de 2017

TEXTO: VIOLA NO SACO - TATIANA BELINKY - COM GABARITO

TEXTO:  VIOLA NO SACO
                 Tatiana Belinky

         Há muito tempo, quando os bichos falavam e muitas coisas eram diferentes, havia muita festança no mundo. Um dia houve uma festa no céu e todos os bichos foram convidados. Entre eles, um dos mais esperados era o urubu, porque as danças dependiam das músicas que ele tocava na viola.
         No dia da festa, o Urubu enfiou sua viola no saco e, antes de iniciar a viagem, foi beber água na lagoa. Lá encontrou o Sapo Cururu, que secava ao sol. Enquanto o Urubu bebia, o espertalhão do Cururu, que também queria ir à festa, se escondeu dentro da viola para viajar de carona.
         Quando o Urubu chegou ao céu, foi muito bem recebido, pois todos esperavam por ele para começar a dançar o cateretê e a quadrilha.
         O Urubu foi, deixando a viola encostada num canto. O Cururu aproveitou para pular da viola sem ser visto e foi se empanturrar com os quitutes da festa. O Urubu também comeu e bebeu até não poder mais e não viu que o Cururu, aproveitando uma distração sua, se escondera de novo dentro da viola para tornar a tirar uma carona na volta para a terra.
         Quando chegou a hora de voltar, o Urubu guardou a viola no saco e saiu voando de volta para casa. Durante o voo, estranhou que a viola estivesse tão pesada. “Na vinda foi fácil, mas na volta está difícil. Será que fiquei fraco de tanto comer e beber?”, pensou ele. Por via das dúvidas, examinou o saco com a viola e acabou descobrindo o malandro do Sapo Cururu agachado lá dentro. Furioso por ser usado desse jeito, o Urubu começou a sacudir o saco com a viola, para despejar o Cururu lá do alto e se ver livre dele.
         O Cururu, com medo de se esborrachar no chão pedregoso lá em baixo, recorreu à sua proverbial esperteza e começou a gritar: “Urubu, Urubu, me jogue sobre uma pedra, não me jogue na água, que eu morro afogado!”
         O Urubu, tolo, querendo se vingar do Sapo, viu lá de cima uma lagoa e tratou logo de despejar o Sapo dentro d`água, que era pra ele se afogar. O espertalhão do Cururu, que só queria era isso mesmo, saiu nadando, feliz da vida.

                           História do folclore paulista, recontada por Tatiana Belinky.
            Nova Escola, São Paulo, n. 147, p. 34-35, nov. de 2001. (fragmento).

1 – Por que o Urubu era tão esperado na festa?
      Porque as danças dependiam das músicas que ele tocava na viola.

2 – O Sapo Cururu queria ir à festa, mas tinha um problema. Que problema era esse?
      Como fazer para ir à festa no céu.

      -- Como ele resolveu esse problema?
      Escondeu-se na viola do Urubu, pegando uma “carona” para o céu.

3 – Escreva no caderno os nomes das duas danças típicas do Brasil que são citados na história.
      Cateretê e quadrilha.

4 – Por que o Urubu ficou furioso com o Sapo?
      Porque viu que tinha sido enganado.

5 – Para não se esborrachar no chão, o Sapo Cururu recorreu à sua “proverbial esperteza”.
a)     Quais os três momentos em que o Sapo Cururu comprova essa sua esperteza?
Quando se esconde na viola antes de ir ao céu; quando se esconde de novo antes de sair do céu; quando engana o Urubu, pedindo-lhe que não o jogue na água.

b)    Escreva no caderno o que o Urubu mostrou ser, nos três momentos que você identificou.
Nos três momentos em que o Sapo mostra sua esperteza, o Urubu revela que não era nada esperto. E, além disso, era distraído.

6 – Imagine e conte como deve ter sido a reação dos outros bichos ao verem o sapo na festa. Justifique essa reação.
       Provavelmente ficaram surpresas e intrigados: como ele poderia ter “voado” até lá.



TEXTO PARA SÉRIES INICIAIS -FÁBULA: O SAPO E O BOI - COM GABARITO

FÁBULA:  O SAPO E O BOI
                       ESOPO

        Há muito, muito tempo, existiu um boi imponente. Um dia, o boi estava dando seu passeio da tarde quando um pobre sapo todo mal vestido olhou para ele e ficou maravilhado. Cheio de inveja daquele boi que parecia o dono do mundo, o sapo chamou os amigos.
        -- Olhem só o tamanho do sujeito! Até que ele é elegante, mas grande coisa: se eu quisesse também era.
        Dizendo isso o sapo começou a estufar a barriga e em pouco tempo já estava com o dobro de seu tamanho natural.
        -- Já estou grande que nem ele? – perguntou aos outros sapos.
        -- Não, ainda está longe! – responderam os amigos.
        O sapo se estufou mais um pouco e repetiu a pergunta.
        -- Não – disseram de novo os outros sapos --, e é melhor você parar com isso porque senão vai acabar se machucando.
        Mas era tanta a vontade do sapo de imitar o boi que ele continuou se estufando, estufando, estufando – até estourar.

       Moral: Seja sempre você mesmo.

                    Fábulas de Esopo. Compilação de Russell Ash e Bernand Higton.
                                             São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1994, p. 14.

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO:

1-  Com base no texto responda:

a) Quais os personagens do texto?
    O sapo e o boi.

b) Qual o tipo de texto?
     Fábula.

c) Onde acontece a trama?
     No pasto.

d) Qual o momento mais importante da narrativa? Por quê?
     Quando o sapo ficou encantado com o boi. Pelo tamanho e elegância.

2- Retire os substantivos do texto.
    Boi, sapo, amigos, barriga.

3- Escreva a fala do sapo.
    --Olhem só o tamanho do sujeito! Até que ele é elegante, mas grande coisa: se eu quisesse também era.
    

4- Marque a resposta certa
a) A expressão o sapo coaxava quer dizer
( X ) 
o sapo cantava
(   ) o sapo relaxava
(   ) o sapo bebia água
(   ) todas estão corretas

b) O sapo resolveu ficar parecido com o boi por que
(   ) admirava o boi
(   ) rejeitava o boi
( X )
invejava o boi
(   ) todas estão erradas

c) A expressão  " gabou-se o sapo" quer dizer que
(   ) o sapo estava triste
(   ) o sapo era corajoso
(X )
o sapo elogiava a si mesmo
(   ) o sapo se achava inferior ao boi

d) O texto O sapo e o boi  é uma fábula por quê?
(   ) tem animais como personagem
(   ) os animais tem sentimento como os seres humanos
(   ) passa sempre um ensinamento
( X
) todas estão corretas

e) A expressão  " para espanto de todos " dá a ideia de quê?
( X)
os animais se assustaram ao ver o sapo estufando
(   ) os animais concordaram com a decisão do sapo
(   ) os animais elogiaram o sapo
(   ) todas estão corretas


5- Retire do texto duas frases afirmativas, duas frases exclamativas e uma frase interrogativa.
    Há muito, muito tempo, existiu um boi imponente.
    O sapo se estufou mais um pouco e repetiu a pergunta.
    -- Olhem só o tamanho do sujeito!    
    -- Não, ainda está longe!
    -- Já estou grande que nem ele?

 6- Escreva o resumo do texto.
     Resposta pessoal.

7 – Vamos ler com atenção a fábula; “O sapo e o boi” e colocar o travessão onde necessário.
      Foi colocado travessão nos parágrafos: 2°; 4°; 5° e 7°.

8 – Para que haja identificação do leitor com a história, é necessário caracterizar as personagens, suas atitudes diante da vida e a situação vivida.
a) Quem são as personagens?
      O sapo e o boi.

b) Com que qualidades estas personagens são apresentadas no texto?
      O boi: imponente, dono do mundo e elegante.
      O sapo: mal vestido e pequeno.

9 – O motivo que levou o sapo a estufar até estourar foi:
A) ficar com uma roupa elegante.         
B) ficar igual aos outros sapos.
C) estar bonito para o passeio.             
D) estar cheio de inveja do boi.

10 – Quando aconteceu a história?
A) À tarde.                                               
B) De manhã.
C) À noite.                                               
D) De madrugada.

11 – A moral desta fábula apresenta uma reflexão sobre o comportamento humano. Você acredita que existem pessoas que agem assim? Justifique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

12 – Você está de acordo com a moral desta fábula? Justifique sua resposta, procurando comprová-la com um fato que conheça ou que tenha acontecido com você.
      Resposta pessoal do aluno.

13 – Dê outro final para esta fábula, modificando também a moral da história.
      Resposta pessoal do aluno.






CRÔNICA: QUANDO A ESCOLA É DE VIDRO - RUTH ROCHA - COM GABARITO

CRÔNICA: QUANDO A ESCOLA É DE VIDRO
                      Ruth Rocha

         Naquele tempo eu até que achava natural que as coisas fossem daquele jeito.
         Eu nem desconfiava que existissem lugares muito diferentes...
         Eu ia pra escola todos os dias de manhã e quando chegava, logo, logo, eu tinha que me meter no vidro.
         É, no vidro!
         Cada menino ou menina tinha um vidro e o vidro não dependia do tamanho de cada um, não!
         O vidro dependia da classe em que a gente estudava.
         Se a gente reclamava?
         Alguns reclamavam.
         E então os grandes diziam que sempre tinha sido assim; ia ser assim o resto da vida.
         Uma professora, que eu tinha, dizia que ela sempre tinha usado vidro, até pra dormir, por isso é que ela tinha boa postura.
         Uma vez um colega meu disse pra professora que existem lugares onde as escolas não usam vidro nenhum, e as crianças podem crescer à vontade.
         Então a professora respondeu que era mentira, que isso era conversa de comunistas. Ou até coisa pior...
         Tinha menino que tinha até que sair da escola porque não havia jeito de se acomodar nos vidros. E tinha uns que mesmo quando saíam dos vidros ficavam do mesmo jeitinho, meio encolhidos, como se estivessem tão acostumados que até estranhavam sair dos vidros.
         Mas uma vez, veio para a minha escola um menino, que parece que era favelado, carente, essas coisas que as pessoas dizem pra não dizer que é pobre.
         Aí não tinha vidro pra botar esse menino.
         Então os professores achavam que não fazia mal não, já que ele não pagava a escola mesmo...
          Então o Firuli, ele se chamava Firuli, começou a assistir as aulas sem estar dentro do vidro.
         O engraçado é que o Firuli desenhava melhor que qualquer um, o Firula respondia perguntas mais depressa que os outros, o Firuli era muito mais engraçado...
         E os professores não gostavam nada disso...
         Afinal, o Firuli podia ser um mau exemplo pra nós...
         E nós morríamos de inveja dele, que ficava no bem-bom, de perna esticada, quando queria ele espreguiçava, e até meio que gozava a cara da gente que vivia preso.
         Então um dia um menino da minha classe falou que também não ia entrar no vidro.
         Dona Demência ficou furiosa, deu um coque nele e ele acabou tendo que se meter no vidro, como qualquer um.
         Mas no dia seguinte duas meninas resolveram que não iam entrar no vidro também:
         --- Se o Firuli pode por que é que nós não podemos?
        Mas Dona Demência não era sopa.
        Deu um coque em cada uma, e lá se foram elas, cada uma pro seu vidro...
        Já no outro dia a coisa tinha engrossado.
        Já tinha oito meninos que não queriam saber de entrar nos vidros.
        Dona Demência perdeu a paciência e mandou chamar seu Hermenegildo, que era o diretor lá da escola.
        Seu Hermenegildo chegou muito desconfiado:
        --- Aposto que essa rebelião foi fomentada pelo Firuli. É um perigo esse tipo de gente aqui na escola. Um perigo!
        A gente não sabia o que é que queria dizer fomentada, mas entendeu muito bem que ele estava falando mal do Firuli.
        E seu Hermenegildo não conversou mais. Começou a pegar os meninos um por um e enfiar à força dentro dos vidros.
        Mas nós estávamos loucos para sair também, e para cada um que ele conseguia enfiar dentro do vidro --- já tinha dois fora.
        E todo mundo começou a correr do seu Hermenegildo, que era pra ele não pegar a gente, e na correria começamos a derrubar os vidros.
        E quebramos um vidro, depois quebramos outro e outro mais e doa Demência já estava na janela gritando --- SOCORRO! VÂNDALOS! BÁRBAROS!
         (Pra ela bárbaro era xingação).
         Chamem os Bombeiros, o Exército da Salvação, a Polícia Feminina...
         Os professores das outras classes mandaram, cada um, um aluno para ver o que estava acontecendo.
         E quando os alunos voltaram e contaram a farra que estava na 6ª série todo mundo ficou assanhado e começou a sair dos vidros.
         Na pressa de sair começaram a esbarrar uns nos outros e os vidros começaram a cair e a quebrar.
         Foi um custo botar ordem na escola e o diretor achou melhor mandar todo mundo pra casa, que era pra pensar num castigo bem grande, pro dia seguinte.
         Então eles descobriram que a maior parte dos vidros estava quebrada e que ia ficar muito caro comprar aquela vidraria toda de novo.
         Então diante disso seu Hermenegildo pensou um bocadinho, e começou a contar pra todo mundo que em outros lugares tinha umas escolas que não usavam vidro nem nada, e que dava bem certo, as crianças gostavam muito mais.
         E que de agora em diante ia ser assim: nada de vidro, cada um podia se esticar um bocadinho, não precisava ficar duro nem nada, e que a escola agora ia se chamar Escola Experimental.
         Dona Demência, que apesar do nome era louca nem nada, ainda timidamente:
         --- Mas seu Hermenegildo, Escola Experimental não é bem isso...
         Seu Hermenegildo não se perturbou:
         --- Não tem importância. A gente começa experimentando isso. Depois a gente experimenta outras coisas...
         E foi assim que na minha terra começaram a aparecer as Escolas Experimentais.
         Depois aconteceram muitas coisas, que um dia eu ainda vou contar...

  ROCHA, Ruth. Este admirável mundo louco. São Paulo: Salamandra, 1986.

1 – Por que os alunos se acostumaram a estudar nessa escola em que tinham que ficar dentro de recipientes de vidro?
       Eles não conheciam nenhuma escola diferente, e todos diziam que aquela era a forma de aprender.

2 – Que consequências o hábito de estudar dentro de vidros causava aos alunos?
       Eles se tornavam tímidos, com medo de das opiniões ou de agir de maneira diferente da escolhida pelos outros, porque ficavam inseguros e dependentes.

3 – O que acontecia com os meninos que reclamavam?
      Eram informados que aquela era a única maneira de estudar. Mudavam de escola, mas nem sempre perdiam a postura adquirida por ficarem dentro dos vidros.

4 – Que acontecimento alterou, aos poucos, as regras da escola? Por quê?
      A chegada de um novo aluno que ficou fora do vidro por ser pobre e não poder pagar a escola.

5 – Por que a liberdade de Firuli, o novo aluno, começou a incomodar os professores?
       Firuli aprendia com mais facilidade, era melhor que os outros alunos e alegre. Tudo isso causava inveja nos colegas que começaram a reagir.

6 – Qual foi a atitude de Dona Demência ao ver que os alunos queriam ficar fora do vidro?
       A professora repreendeu os alunos, no início, com um coque; depois, pediu ajuda ao diretor que também não conseguiu evitar a rebelião da classe.

7 – Por que os vidros, ao se quebrarem, facilitaram as mudanças na escola?
       A compra de novos vidros ficaria muito cara, por isso o diretor achou melhor não usar mais vidros e deixar os alunos livres, assim como faziam em outras escolas.

8 – A ideia de alunos obrigados a estudar dentro de vidros nos permite pensar em situações reais. Identifique-as.
       Permite-nos pensar em alunos obrigados a permanecer quietos em seus lugares, sem dizer nada, apenas ouvindo e obedecendo. São coagidos a fazer tudo exatamente o que os professores mandam, calados e submissos.