quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

TEXTO: RETRATO FALADO DO BRASIL - SÉRGIO ABRANCHES - COM GABARITO

 RETRATO  FALADO  DO  BRASIL 
        Sérgio Abranches


     Comecei a aula com uma pergunta: "O que diferencia a questão social no Brasil e nos EUA?". Silêncio geral. 


Imaginei que os alunos não tivessem lido o capítulo. Afirmaram que sim. Foi só então que eu, imaturo, sem o olhar treinado para capturar atitudes e comportamentos em pequenos gestos, percebi o constrangimento da turma. O sinal, característico, que retive como lição das formas sutis do preconceito era o olhar coletivo de soslaio para o único negro na sala. Dirigi-me a ele e denunciei: "Seus colegas estão constrangidos em falar de racismo na sua frente".

           Esta cena se repete toda vez que falo em público sobre a desigualdade racial no Brasil e há aquela pessoa negra, solitária, na plateia. Recentemente, numa palestra para gerentes de um banco, havia uma jovem gerente negra. Uma das raras mulheres e a única pessoa negra. Enfrentou duas correntes discriminatórias para estar ali: ser negra e ser mulher. Os colegas se sentiam desconfortáveis porque eu falava do "problema dela".
         “Ela" não tinha problema, claro. Era uma pessoa natural, do gênero feminino e negra.
         Nascemos assim. O problema é os outros não quererem ver a discriminação. Essa inversão típica é que caracteriza a questão racial no Brasil. É como se os negros tivessem um problema de cor, e não a sociedade o problema do preconceito.

(ABRANCHES, Sérgio. Retrato falado do Brasil. Veja, São Paulo, ano 36, n. 46, p. 27, nov. 2003 Adaptação.

 01.  O texto diz respeito à:
(A) desigualdade racial nos Estados Unidos.
(B) desigualdade racial no Brasil.
(C) diferença de oportunidades entre homens e mulheres.
(D) diferença de oportunidades entre ricos e pobres.

02.  A sociedade não quer enxergar a discriminação racial por achar que:
(A) esse problema pertence  ao negro.
(B) essa questão é idêntica nos EUA e no Brasil.
(C) muitos gerentes de banco são homens negros.
(D) a mulher negra tem oportunidades na carreira.

03.  Em  “Ela não tinha problema, claro." o termo destacado foi empregado para demonstrar o preconceito:
(A) do autor do texto.
(B) dos colegas da negra.
(C) da gerente negra.
(D) dos colegas negros.

04.  As ideias desenvolvidas no texto revelam um autor:
(A) solidário com os alunos brancos.
(B) compreensivo com os racistas.
(C) solidário com os negros.
(D) compreensivo com as mulheres



CONTO: VENHA VER O PÔR DO SOL - LYGIA FAGUNDES TELLES - COM GABARITO

CONTO: VENHA VER O PÔR DO SOL 
Lygia Fagundes Telles

ELA SUBIU sem pressa a tortuosa ladeira. À medida que avançava, as casas iam rareando, modestas casas espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos baldios. No meio da rua sem calçamento, coberta aqui e ali por um mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A débil cantiga infantil era a única nota viva na quietude da tarde.
Ele a esperava encostado a uma árvore. Esguio e magro, metido num largo blusão azul-marinho, cabelos crescidos e desalinhados, tinham um jeito jovial de estudante.
- Minha querida Raquel.
Ela encarou-o, séria. E olhou para os próprios sapatos.
- Vejam que lama. Só mesmo você inventaria um encontro num lugar destes. Que ideia, Ricardo, que ideia! Tive que descer do taxi lá longe, jamais ele chegaria aqui em cima.
Ele sorriu entre malicioso e ingênuo.
- Jamais, não é?  Pensei que viesse vestida esportivamente e agora me aparece nessa elegância... Quando você andava comigo, usava uns sapatões de sete-léguas, lembra?
- Foi para falar sobre isso que você me fez subir até aqui? – perguntou ela, guardando as luvas na bolsa. Tirou um cigarro. – Hem?!
- Ah, Raquel... – e ele tomou-a pelo braço rindo.
- Você está uma coisa de linda. E fuma agora uns cigarrinhos pilantras, azul e dourado... Juro que eu tinha que ver uma vez toda essa beleza, sentir esse perfume. Então fiz mal?
- Podia ter escolhido um outro lugar, não? – Abrandara a voz – E que é isso aí? Um cemitério?
Ele voltou-se para o velho muro arruinado. Indicou com o olhar o portão de ferro, carcomido pela ferrugem.
- Cemitério abandonado, meu anjo. Vivos e mortos, desertaram todos. Nem os fantasmas sobraram, olha aí como as criancinhas brincam sem medo – acrescentou, lançando um olhar às crianças rodando na sua ciranda. Ela tragou lentamente. Soprou a fumaça na cara do companheiro. Sorriu. – Ricardo e suas ideias. E agora? Qual é o programa?
Brandamente ele a tomou pela cintura.
- Conheço bem tudo isso, minha gente está enterrada aí. Vamos entrar um instante e te mostrarei o pôr do sol mais lindo do mundo.
Perplexa, ela encarou-o um instante. E vergou a cabeça para trás numa risada.
- Ver o pôr do sol! ... Ah, meu Deus... Fabuloso, fabuloso! ... Me implora um último encontro, me atormenta dias seguidos, me faz vir de longe para esta buraqueira, só mais uma vez, só mais uma! E para quê? Para ver o pôr do sol num cemitério...
Ele riu também, afetando encabulamento como um menino pilhado em falta.
- Raquel minha querida, não faça assim comigo. Você sabe que eu gostaria era de te levar ao meu apartamento, mas fiquei mais pobre ainda, como se isso fosse possível. Moro agora numa pensão horrenda, a dona é uma Medusa que vive espiando pelo buraco da fechadura...
- E você acha que eu iria?
- Não se zangue, sei que não iria, você está sendo fidelíssima. Então pensei, se pudéssemos conversar um instante numa rua afastada... – disse ele, aproximando-se mais. Acariciou-lhe o braço com as pontas dos dedos. Ficou sério. E aos poucos, inúmeras rugazinhas foram se formando em redor dos seus olhos ligeiramente apertados. Os leques de rugas se aprofundaram numa expressão astuta. Não era nesse instante tão jovem como aparentava. Mas logo sorriu e a rede de rugas desapareceu sem deixar vestígio. Voltou-lhe novamente o ar inexperiente e meio desatento – Você fez bem em vir.
- Quer dizer que o programa... E não podíamos tomar alguma coisa num bar?
- Estou sem dinheiro, meu anjo, vê se entende.
- Mas eu pago.
- Com o dinheiro dele? Prefiro beber formicida. Escolhi este passeio porque é de graça e muito decente, não pode haver passeio mais decente, não concorda comigo? Até romântico.
Ela olhou em redor. Puxou o braço que ele apertava.
- Foi um risco enorme Ricardo. Ele é ciumentíssimo. Está farto de saber que tive meus casos. Se nos pilha juntos, então sim, quero ver se alguma das suas fabulosas ideias vai me conservar a vida.
- Mas me lembrei deste lugar justamente porque não quero que você se arrisque, meu anjo. Não tem lugar mais discreto do que um cemitério abandonado, veja, completamente abandonado – prosseguiu ele, abrindo o portão. Os velhos gonzos gemeram. – Jamais seu amigo ou um amigo do seu amigo saberá que estivemos aqui.
- É um risco enorme, já disse. Não insista nessas brincadeiras, por favor. E se vem um enterro? Não suporto enterros.
- Mas enterro de quem? Raquel, Raquel, quantas vezes preciso repetir a mesma coisa?! Há séculos ninguém mais é enterrado aqui, acho que nem os ossos sobraram, que bobagem. Vem comigo, pode me dar o braço, não tenha medo...
O mato rasteiro dominava tudo. E, não satisfeito de ter se alastrado furioso pelos canteiros, subira pelas sepulturas, infiltrando-se ávido pelos rachões dos mármores, invadira alamedas de pedregulhos esverdinhados, como se quisesse com a sua violenta força de vida cobrir para sempre os últimos vestígios da morte. Foram andando vagarosamente pela longa alameda banhada de sol. Os passos de ambos ressoavam sonoros como uma estranha música feita do som das folhas secas trituradas sobre os pedregulhos. Amuada mas obediente, ela se deixava conduzir como uma criança. Às vezes mostrava certa curiosidade por uma ou outra sepultura com os pálidos medalhões de retratos esmaltados.
- É imenso, hem? E tão miserável, nunca vi um cemitério mais miserável, é deprimente – exclamou ela atirando a ponta do cigarro na direção de um anjinho de cabeça decepada. – Vamos embora, Ricardo, chega.
- Ah, Raquel, olha um pouco para esta tarde! Deprimente por quê? Não sei onde foi que eu li, a beleza não está na luz da manhã nem na sombra da tarde, está no crepúsculo, nesse meio-tom, nessa ambiguidade. Estou lhe dando um crepúsculo numa bandeja e você se queixa.
- Não gosto de cemitério, já disse. E ainda mais cemitério pobre.
Delicadamente ele beijou-lhe a mão.
- Você prometeu dar um fim de tarde a este seu escravo.
- É, mas fiz mal. Pode ser muito engraçado, mas não quero me arriscar mais.
- Ele é tão rico assim?
- Riquíssimo. Vai me levar agora numa viagem fabulosa até o Oriente. Já ouviu falar no Oriente? Vamos até o Oriente, meu caro...
Ele apanhou um pedregulho e fechou-o na mão. A pequenina rede de rugas voltou a se estender em redor dos seus olhos. A fisionomia, tão aberta e lisa, repentinamente escureceu, envelhecida. Mas logo o sorriso reapareceu e as rugazinhas sumiram.
- Eu também te levei um dia para passear de barco, lembra?
Recostando a cabeça no ombro do homem, ela retardou o passo.
- Sabe Ricardo, acho que você é mesmo tantã... Mas, apesar de tudo, tenho às vezes saudade daquele tempo. Que ano aquele! Palavra que, quando penso, não entendo até hoje como aguentei tanto, imagine um ano.
- É que você tinha lido A Dama das Camélias, ficou assim toda frágil, toda sentimental. E agora? Que romance você está lendo agora. Hem?
- Nenhum – respondeu ela, franzindo os lábios. Deteve-se para ler a inscrição de uma laje despedaçadas: - A minha querida esposa, eternas saudades – leu em voz baixa. Fez um muxoxo. – Pois sim. Durou pouco essa eternidade.
Ele atirou o pedregulho num canteiro ressequido.
Mas é esse abandono na morte que faz o encanto disto. Não se encontra mais a menor intervenção dos vivos, a estúpida intervenção dos vivos. Veja – disse, apontando uma sepultura fendida, a erva daninha brotando insólita de dentro da fenda -, o musgo já cobriu o nome na pedra. Por cima do musgo, ainda virão as raízes, depois as folhas... Esta a morte perfeita, nem lembrança, nem saudade, nem o nome sequer. Nem isso.
Ela aconchegou-se mais a ele. Bocejou.
- Está bem, mas agora vamos embora que já me diverti muito, faz tempo que não me divirto tanto, só mesmo um cara como você podia me fazer divertir assim – Deu-lhe um rápido beijo na face. – Chega Ricardo, quero ir embora.
- Mais alguns passos...
- Mas este cemitério não acaba mais, já andamos quilômetros! – Olhou para trás. – Nunca andei tanto, Ricardo, vou ficar exausta.
- A boa vida te deixou preguiçosa. Que feio – lamentou ele, impelindo-a para frente. – Dobrando esta alameda, fica o jazigo da minha gente, é de lá que se vê o pôr do sol. – E, tomando-a pela cintura: -  Sabe, Raquel, andei muitas vezes por aqui de mãos dadas com minha prima. Tínhamos então doze anos. Todos os minha mãe vinha trazer flores e arrumar nossa capelinha onde já estava enterrado meu pai. Eu e minha priminha vínhamos com ela e ficávamos por aí, de mãos dadas, fazendo tantos planos. Agora as duas estão mortas.
- Sua prima também?
- Também. Morreu quando completou quinze anos. Não era propriamente bonita, mas tinha uns olhos... Eram assim verdes como os seus, parecidos com os seus. Extraordinário, Raquel, extraordinário como vocês duas... Penso agora que toda a beleza dela residia apenas nos olhos, assim meio oblíquos, como os seus.
- Vocês se amaram?
- Ela me amou. Foi a única criatura que... – fez um gesto. – Enfim não tem importância.
Raquel tirou-lhe o cigarro, tragou e depois devolveu-o.
- Eu gostei de você, Ricardo.
- E eu te amei. E te amo ainda. Percebe agora a diferença?
Um pássaro rompeu o cipreste e soltou um grito. Ela estremeceu.
- Esfriou, não? Vamos embora.
- Já chegamos, meu anjo. Aqui estão meus mortos.
Pararam diante de uma capelinha coberta de alto a baixo por uma trepadeira selvagem, que a envolvia num furioso abraço de cipós e folhas. A estreita porta rangeu quando ele a abriu de par em par. A luz invadiu um cubículo de paredes enegrecidas, cheias de estrias de antigas goteiras. No centro do cubículo, um altar meio desmantelado, coberto por uma toalha que adquirira a cor do tempo. Dois vasos de desbotada opalina ladeavam um tosco crucifixo de madeira. Entre os braços da cruz, uma aranha tecera dois triângulos de teias já rompidas, pendendo como farrapos de um manto que alguém colocara sobre os ombro do cristo. Na parede lateral, à direita da porta, uma portinhola de ferro dando acesso para uma escada de pedra, descendo em caracol para a catacumba.
Ela entrou na ponta dos pés, evitando roçar mesmo de leve naqueles restos da capelinha.
- Que triste é isto, Ricardo. Nunca mais você esteve aqui?
Ele tocou na face da imagem recoberta de poeira. Sorriu melancólico.
- Sei que você gostaria de encontrar tudo limpinho, flores nos vasos, velas, sinais da minha dedicação, certo?
- Mas já disse que o que eu mais amo neste cemitério é precisamente esse abandono, esta solidão. As pontes com o outro mundo foram cortadas e aqui a morte se isolou total. Absoluta.
Ela adiantou-se e espiou através das enferrujadas barras de ferro da portinhola. Na semi-obscuridade do subsolo, os gavetões se estendiam ao longo das quatro paredes que formavam um estreito retângulo cinzento.
- É lá embaixo?
- Pois lá estão as gavetas. E, nas gavetas, minhas raízes. Pó, meu anjo, pó – murmurou ele. Abriu a portinhola e desceu a escada. Aproximou-se de uma gaveta no centro da parede, segurando firme na alça de bronze, como se fosse puxá-la. – A cômoda de pedra. Não é grandiosa?
Detendo-se no topo da escada, ela inclinou-se mais para ver melhor.
- Todas estas gavetas estão cheias?
- Cheias?... Sorriu. – Só as que tem o retrato e a inscrição, está vendo? Nesta está o retrato da minha mãe, aqui ficou minha mãe – prosseguiu ele, tocando com as pontas dos dedos num medalhão esmaltado, embutido no centro da gaveta.
Ela cruzou os braços. Falou baixinho, um ligeiro tremor na voz.
- Vamos, Ricardo, vamos.
- Você está com medo?
- Claro que não, estou é com frio. Suba e vamos embora, estou com frio!
Ele não respondeu. Adiantara-se até um dos gavetões na parede oposta e acendeu um fósforo. Inclinou-se para o medalhão frouxamente iluminado:
- A priminha Maria Emília. Lembro-me até do dia em que tirou esse retrato. Foi umas duas semanas antes de morrer ... Prendeu os cabelos com uma fita azul e vejo-a se exibir, estou bonita? Estou bonita? ... – Falava agora consigo mesmo, doce e gravemente. – Não, não é que fosse bonita, mas os olhos ... Venha ver, Raquel, é impressionante como tinha olhos iguais aos seus.
Ela desceu a escada, encolhendo-se para não esbarrar em nada.
- Que frio que faz aqui. E que escuro, não estou enxergando...
Acendendo outro fósforo, ele ofereceu-o à companheira.
- Pegue. Dá para ver muito bem ... – Afastou-se para o lado. – Repare nos olhos.
- Mas estão tão desbotados, mal se vê que é um moça... – Antes da chama se apagar, aproximou-a da inscrição feita na pedra. Leu em voz alta, lentamente. – Maria Emília, nascida em vinte de maio de mil oitocentos e falecida... – deixou cair o palito e ficou um instante imóvel – Mas esta não podia ser sua namorada, morreu há mais de cem anos! Seu menti...
Um baque metálico decepou-lhe a palavra pelo meio. Olhou em redor. A peça estava deserta. Voltou o olhar para a escada. No topo, Ricardo a observava por detrás da portinhola fechada. Tinha seu sorriso meio inocente, meio malicioso.
- Isto nunca foi o jazigo da sua família, seu mentiroso? Brincadeira mais cretina! – exclamou ela, subindo rapidamente a escada. – Não tem graça nenhuma, ouviu?
Ele esperou que ela chegasse quase a tocar o trinco da portinhola de ferro. Então deu uma volta à chave, arrancou-a da fechadura e saltou para trás.
- Ricardo, abre isto imediatamente! Vamos imediatamente! – ordenou, torcendo o trinco. – Detesto esse tipo de brincadeira, você sabe disso. Seu idiota! É no que dá seguir a cabeça de um idiota desses. Brincadeira mais estúpida!
- Uma réstia de sol vai entrar pela frincha da porta, tem uma frincha na porta. Depois, vai se afastando devagarinho, bem devagarinho. Você terá o pôr do sol mais belo do mundo.
Ela sacudia a portinhola.
- Ricardo, chega, já disse! Chega! Abre imediatamente, imediatamente!! – Sacudiu a portinhola com mais força ainda, agarrou-se a ela, dependurando-se por entre as grades. Ficou ofegante, os olhos cheios de lágrimas. Ensaiou um sorriso. – Ouça, meu bem, foi engraçadíssimo, mas agora preciso ir mesmo, vamos, abra...
Ele já não sorria. Estava sério, os olhos diminuídos. Em redor deles, reapareceram as rugazinhas abertas em leque.
- Boa noite, Raquel.
- Chega, Ricardo! Você vai me pagar! ... – gritou ela, estendendo os braços por entre as grades, tentando agarrá-lo. – Cretino! Me dá a chave desta porcaria, vamos! – exigiu, examinando a fechadura nova em folha. Examinou em seguida as grades cobertas por uma crosta de ferrugem. Imobilizou-se. Foi erguendo o olhar até a chave que ele balançava pela argola, como um pêndulo. Encarou-o, apertando contra a grade a face sem cor. Esbugalhou os olhos num espasmo e amoleceu o corpo. Foi escorregando.
- Não, não...
Voltado ainda para ela, ele chegara até a porta e abriu os braços. Foi puxando as duas folhas escancaradas.
- Boa noite, meu anjo.
Os lábios dela se pregavam um ao outro, como se entre houvesse cola. Os olhos rodavam pesadamente numa expressão embrutecida.
- Não...
Guardando a chave no bolso, ele retomou o caminho percorrido. No breve silêncio, o som dos pedregulhos se entrechocando úmidos sob seus sapatos. E, de repente, o grito medonho, inumano:
- Não!
Durante algum tempo ele ainda ouviu os gritos que se multiplicaram, semelhantes aos de um animal sendo estraçalhado. Depois, os uivos foram ficando mais remotos, abafados como se viessem das profundezas da terra. Assim que atingiu o portão do cemitério, ele lançou ao poente um olhar mortiço. Ficou atento. Nenhum ouvido humano escutaria agora qualquer chamado. Acendeu um cigarro e foi descendo a ladeira. Crianças ao longe brincavam de roda.
           Lygia Fagundes Telles In:. Antes do Baile Verde.
INTERPRETAÇÃO DO CONTO

1.Quais são as personagens apresentadas pelo conto?
Raquel, Ricardo, Marília e as crianças.

2. Como o conto apresenta a situação inicial?
Ricardo esperava Raquel encostado em uma árvore e quando ela chegou eles começaram a andar pelo cemitério. 

3. Em que modo estão empregados os verbos?
Indicativo e Pretérito mais que perfeito. 

4. Faça a descrição física e psicológica das personagens envolvidas no conto.
Ricardo era esguio, pobre, maldoso, metido, vingativo, usava os cabelos desalinhados e vestia um blusão azul marinho e aparentava um jeito jovial. Enquanto Raquel era elegante, sentimental, interesseira e medrosa e sem vergonha. 

5. De que maneira o cenário interfere na criação das personagens?
Ele interfere diretamente na caracterização física e psicológica das personagens. 

6. Já dava para perceber que algo de errado estava por acontecer no conto. Cite elementos que demonstrem isso.
Quando rugas apareciam ao redor dos olhos de Ricardo; o próprio cenário escolhido que era afastado; ninguém sabia do encontro dos dois; quando ele pegou uma pedra na mão e fechou com muita força; todo cenário estava enferrujado menos a fechadura da capelinha. 

7. De que maneira passa o tempo neste conto?
O tempo passa de maneira cronológica e a história tem começo, meio e fim. Os dois marcaram um encontro á tarde e pretendiam ver juntos o pôr do sol. 

8. Em que momento ocorre o clímax nesta história?
Quando Raquel percebe que algo de errado está por acontecer. Ela olha uma lápide e percebe que a suposta prima dele tinha mais de cem anos. 

9. De que maneira o desfecho acaba surpreendendo o leitor?
Porque Ricardo mata Raquel aos poucos, ele fez uma tortura psicológica, pois, ela não tinha nenhum ferimento e foi morrendo aos poucos de maneira dolorosa e cruel. Seu sofrimento foi tanto que o autor compara seus gritos com o uivo de um animal que estava sendo dilacerado. 

10. Por que o nome do conto é: Venha ver o pôr do sol?. Justifique sua resposta.
Porque RICARDO CONVIDOU Raquel para ver o suposto pôr do sol mais lindo de sua vida, o qual, porém, acabou levando-a a morte. Um trecho que justifica isso é quando o autor escreve as seguintes palavras: “... vamos entrar um instante e te mostrarei o pôr do sol mais lindo deste mundo...”


ATIVIDADES OBJETIVAS DE MORFOLOGIA/ENEM - COM GABARITO

                
 ATIVIDADES OBJETIVAS DE MORFOLOGIA/ENEM - COM GABARITO

1 – Assinale a alternativa que melhor completa a oração:
“Prefiro doce ________salgado.”
a)      Do que.
b)      Mais que.
c)       Que.
d)      A

2         -Aponte a única opção cujo verbo fica correto, tanto no singular como no plural:
a)      Não me (falta/faltam) argumentos para refutá-lo.
b)      Se (existir/existirem) condições, avisarei.
c)       Ainda hoje (deve/devem) chegar o ministro e sua comitiva.
d)      Um ruído menos comum, uma sombra, uma batida na porta, tudo os (assustava/assustavam).

3         – Se é para ...... dizer o que penso, creio que a escolha se dará entre ....... .”
a)      Mim, eu e tu
b)      Mim, mim e ti
c)       Eu, mim e ti
d)      Eu, mim e tu

4         – Na frase Valendo-se da força de sindicatos, de associações de classe, de organizações não governamentais, de iniciativas comunitárias, muita gente passou a ter representatividade social e política, o elemento sublinhado pode ser substituído, sem prejuízo para o sentido, pela expressão:
a)      Não obstante socorrer-se da.
b)      Uma vez que vem contando com a.
c)       Mesmo quando se vale da.
d)      A fim de se valer da.

5         – Assinale a frase com sentido contrário ao da palavra recordada.
a)      A história do Cristo tem sido modificada.
b)      A história do Cristo tem sido comentada.
c)       A história do Cristo tem sido esquecida.
d)      A história do Cristo tem sido relembrada.

6         – ...... em linhas de combate e tropas-de-choque, o que os faz muito perigosos. A palavra grifada que tem o plural formado da mesma maneira que a grifada acima está na frase:
a)      O uniforme rubro-negro era admirado pelos torcedores do clube.
b)      O time, recém-chegado à cidade, foi treinar no novo campo.
c)       O jogo demorava para acabar, e só se ouvia o tique-taque do relógio.
d)      O vestiário do estádio foi arrombado com um pé-de-cabra.

7         – Marque a alternativa em que a colocação pronominal só é aceitável na conversação despreocupada, ou quando escrita, na reprodução da fala dos personagens.
a)      Me dá um chocolate.
b)      Nenhum filme o agradou.
c)       Realizar-se-á, em julho, nosso casamento.
d)      Não lhe darei absolutamente nada.

8         – Todas são características do Arcadismo, menos a da alternativa:
a)      Bucolismo e pastoralismo.
b)      Cortar as coisas inúteis dos versos.
c)       Busca da simplicidade
d)      Negação da mitologia

9         – Em “contratempo” e “aguardente”, tem-se a
a)      Justaposição e aglutinação.
b)      Aglutinação e justaposição.
c)       Justaposição e prefixação.
d)      Sufixação e justaposição.

10     – Assinale a alternativa em que todas as palavras estão corretas:
a)      Revezamento, asêmola, pequenez, empresa, gris.
b)      Valize, balizar, induzir, puséssemos, coser
c)       Homenzarrão, extasiado, maisena, cuscuz, obus.
d)      Pajem, cansaço, beiço, detenção imersão, omissão.

11     – Assinale a alternativa que contenha afirmação incorreta.
a)      “Presidenta” é a forma feminina de “presidente”.
b)      Quanto ao gênero, o substantivo “testemunha” é sempre feminino.
c)       Deus, fada e saci são substantivos tipicamente abstratos.
d)      Pode-se dizer, indiferentemente, “personagem” ou “a personagem”.

12     – De acordo com a norma padrão, marque a alternativa em que existe INADEQUAÇÃO em relação à concordância verbal:
a)      Sempre uma ou outra levavam a mãe no médico.
b)      50% dos empregados fizeram greve.
c)       Assiste-se a belas apresentações no Teatro Municipal.
d)      Hoje é 2 de agosto.
        
13     – Há ERRO de construção no segmento sublinhado da frase:
a)      Agi de modo a demonstrar uma estrita observância com as leis.
b)      A defesa dos réus está estribada em forte argumentação.
c)       Nosso gesto é ilustrativo do desânimo que tomou conta de nós.
d)      Ela usou expressões que não são cabíveis numa ata oficial.

14     – Assinale a frase em que há erro no emprego de “meio” ou “meia”.
a)      Este caminhão transporta meia tonelada.
b)      Elisa ficou meia desapontada.
c)       A janela estava meio aberta.
d)      Eram pessoas maio descuidados.

15     – Sabendo que o aposto deve estar isolado por vírgula, aponte a opção na qual o aposto está mal pontuado.
a)      Lançado em agosto, o Madden 2004, videogame que simula partidas da NFL, a liga de futebol americano, faturou 100 milhões de dólares nas primeiras três semanas.
b)      A película Chicago, ganhadora do Oscar de melhor filme do ano passado, precisou
de nove meses para atingir 171 milhões de dólares em bilheterias.
c)       O primeiro CD da banda The Strokes, um fenômeno do rock, levou dois anos para vender 1,8 milhão de cópias.
d)      Para ser inserido no game Fifa 2004 Ronaldinho Gaúcho, atacante da seleção brasileiro foi filmado em várias situações imagináveis numa partida.

16     – Assinale a alternativa em o verbo sublinhado esteja conjugado incorretamente:
a)      Se eles fizerem a coisa certa, tudo melhorará.
b)      Quando eu trouxer os recibos, faremos o relatório.
c)       Se eu saber o número da placa do carro, eu procuro para você.
d)      Havia centenas de carros estacionados à porta do evento.

17     – Qual figura de linguagem há na frase abaixo?
“Plunct, Plact, Zummm. Não vai a lugar nenhum” (Raul Seixas)
a)      Polissíndeto.
b)      Metáfora.
c)       Antítese.
d)      Onomatopeia.

18     –Na frase “Este é o perfume de que mais gosto”, a palavra “que” é classificada     morfologicamente como:
a)      Substantivo.
b)      Advérbio.
c)       Pronome relativo.
d)      Preposição.

19     – Escolha a alternativa que complete corretamente as lacunas:
- Se você me disser o _____ disso, entenderei, _____ não sou tolo.
a)   porquê – porque
b)   por que – porque
c)   por quê – por quê
d)   porque – por que.

20     – O Iluminismo seria uma tendência transepocal, não limitada a nenhum período específico, que se caracteriza por uma atitude racional e crítica. Ela combate o mito e o poder, usando a razão como instrumento de dissolução do existente e de construção de uma nova realidade. Chamo de Ilustração o movimento de ideias que se aglutinou, no século XVIII, em torno dos filósofos enciclopedistas: Diderot, Voltaire, D´Alembert. A Ilustração foi a mais importante das realizações históricas do Iluminismo, mas não a primeira, nem a última.
(Sergio Paulo Rouanet, “O olhar iluminista”. IN: O olhar. Adauto Novais, et al. 1ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 125)
A alternativa que sintetiza corretamente o fragmento acima é:
a)      As atitudes racionais e críticas de um filósofo não bastam para que ele seja considerado iluminista; é o caso dos filósofos Diderot, Voltaire e D´Alembert, que, representativos da ilustração, o mais importante dos movimentos, têm sua ação associada a uma época precisa.
b)      A atitude racional e crítica que caracteriza movimentos de ideias em várias épocas e países fez da ilustração a origem do que se poderia considerar Iluminismo, caracterizado pelo combate às estruturas de poder e do mito no século XVIII.
c)       Muitas são as manifestações que poderiam ser rotuladas de Iluminismo, pois as atitudes que as caracterizam vão muito além de uma época determinada; é por isso que não é adequado designar de Ilustração o modo revolucionário adotado pelos enciclopedistas.
d)      Pode-se estabelecer distinção entre Ilustração e Iluminismo: a primeira, marcada historicamente, constitui uma, ainda que a mais significativa, das concretizações do modo de ser do Iluminismo, que faz da razão e da crítica armas de renovação de estruturas.

21     – Estão corretamente acentuadas as palavras da opção:
a)      Anúncio, pôr, propor, reduzi-los, têm;
b)      Açaí, apoia, intervêm, refém, releem;
c)       Bambu, baú, caju, influência, médico;
d)      Itens, possuí, pôde, retêm, ia.

22     De noite eu rondo a cidade. Porém, com perfeita paciência. Bebendo com outras mulheres.
a)      Lugar, modo e afirmação.
b)      Modo, intensidade e lugar.
c)       Modo, intensidade e afirmação.
d)      Tempo, modo e companhia.

23     – O verbo indicado entre parênteses deverá flexionar-se numa forma do singular para preencher corretamente a lacuna da frase:
a)      Será preciso ler Libertinagem para que se _____ (reconhecer), na poesia de Bandeira, suas formas “Libertinas”.
b)      A literatura muito frequentemente explora esse tipo de conflito que _____ (costumar) interiorizar as pessoas de todas as épocas.
c)       A razão de muitas tensões que nos assaltam _____ (estar) nas oscilações provocadas pelos sucessivos mascaramentos.
d)      Se cada norma de conduta a que nos _____ (submeter) fosse avaliada como inteiramente justa, seríamos menos tensos.

24     – Apesar de o conhecimento de separação de sílabas não ser muito usado atualmente com o uso do computador, ainda precisamos dele para escrever com próprio punho e, para aplicar algumas regras gramaticais. Aponte a opção em que as palavras do grupo estão divididas em sílabas corretamente:
a)      Car-ro-ci-nha / cã-o-zi-nho.
b)      A-cu-an-do / ó-dio
c)       De-si-guais / caa-tin-ga;
d)      Subs-tân-cia / la-ça-riam.

25     – O item em que se mostra a forma abreviada correta de Vossa Senhoria é:
a)      V. Sria.
b)      V. Sra.
c)       V. S.
d)      V. Sa.

26     – Tendo em conta o emprego dos pronomes pessoais oblíquos átonos, assinale a alternativa em que a substituição das expressões sublinhadas nas sentenças abaixo esteja correta.
Os fãs cercaram os cantores, não pôde dar a informação aos repórteres.
Não se sabe quando receberão a restituição desses valores.
a)      Cercaram-os - lhes pôde dar – quando a receberão
b)      Os cercaram – pôde lhes dar – quando recebe-la-ão.
c)       Cercaram-nos – pôde dar-lhes – quando a receberão

d)      Os cercaram – lhes pôde dar – quando recebe-la-ão.