quarta-feira, 26 de abril de 2017

MARÍLIA DE DIRCEU - TOMÁS ANTÔNIO GONZADA - (FRAGMENTO)COM GABARITO

LITERATURA BRASILEIRA


MARÍLIA DE DIRCEU
            Tomás Antônio Gonzaga

Eu Marília, não sou algum vaqueiro,
que viva de guardar alheio gado,
de tosco trato, de expressões grosseiro,
dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal e nele assisto;
dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
das brancas ovelhinhas tiro o leite
e mais as finas lãs, de que me visto.
          Graças, Marília bela,
          graças à minha estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte:
dos anos inda não está cortado;
os pastores que habitam este monte
respeitam o poder do meu cajado.
Com tal destreza too a sanfoninha,
que inveja até me tem o próprio Alceste:
ao som dela concerto a voz celeste,
nem canto letra que não seja minha.
           Graças, Marília bela,
           graças à minha estrela!
Mas tendo tantos dotes da ventura,
só apreço lhes dou, gentil pastora,
depois que o teu afeto me segura
que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
de um rebanho, que cubro monte e prado;
porém, gentil pastora, o teu agrado
vale mais que um rebanho e mais que um trono.
          Graças, Marília bela,
          graças à minha estrela!
Os teus olhos espalham luz divina,
a quem a luz do sol em vão se atreve;
papoila ou rosa delicada e fina
te cobre as faces, que são cor da neve.
Os teus cabelos são uns fios d`ouro;
teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! não, não fez o céu, gentil pastora,
para glória de amor igual tesouro!
          Graças, Marília bela,
          graças à minha estrela!
Leve-me a sementeira muito embora
 o rio, sobre os campos levantado;
acabe, acabe a peste matadora,
sem deixar uma rês, o nédio gado.
 Já destes bens, Marília, não preciso
nem me cega a paixão, que o mundo arrasta;
para viver feliz, Marília, basta
que os olhos movas, e me dês um riso.
          Graças, Marília bela,
          graças à minha estrela!
Irás a divertir-te na floresta,
sustentada, Marília, no meu braço;
aqui descansarei a quente sesta,
dormindo um leve sono em teu regaço;
enquanto a luta jogam os pastores,
e emparelhados correm nas campinas,
toucarei teus cabelos de boninas,
nos troncos gravarei os teus louvores.
          Graças, Marília bela,
          graças à minha estrela!
Depois que nos ferir a mão da morte,
ou seja neste monte, ou noutra serra,
nossos corpos terão, terão a sorte
de consumir os dous a mesma terra.
Na campa, rodeada de cipretes,
lerão estas palavras os pastores:
“Quem quiser ser feliz nos seus amores,
siga os exemplos que nos deram estes.”
          Graças, Marília bela,
          graças à minha estrela!

                                   GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu.
             In: Sérgio Buarque de Holanda (org). Antologia dos poetas
   brasileiros da fase colonial. São Paulo, Perspectiva,1979, p. 301.

Tosco: rude, grosseiro.
Casal: pequena propriedade rústica; granja.
Assistir: morar
Cajado: bastão; bordão de pastor, com a extremidade superior arqueada.
Alceste: nome que o poeta atribui a seu amigo Cláudio M. da Costa.
Concertar: fazer soar harmonicamente.
Ventura: sorte, destino, felicidade.
Apreço: consideração, estima.
Segurar: garantir, assegurar.
Vaporar: exalar ou lançar (vapores)
Nédio: luzidio, brilhante.
Regaço: cavidade formada por veste comprida, entre a cintura e os joelhos de quem está sentado.
Toucar: cobrir (com touca).
Bonina: margarida-rasteira.
Campa: pedra que cobre a sepultura.

1 – Chama-se bucolismo a utilização, na literatura, de temas relacionados à vida campestre e pastoril.
a)    Cite seis palavras do texto que se relacionam ao bucolismo.
Vaqueiro, gado, casal, ovelhinhas, fonte, pastores, cajado, rebanho, monte, prado, floresta, campinas – entre outras.

b)    O disfarce assumido pelo poeta, assim como a maneira que ele emprega ao dirigir-se a Marília, no primeiro verso da 3ª estrofe, tem relação com o bucolismo. Explique essa afirmativa.
O poeta se faz passar por pastor e chama Marília de gentil pastora.

2 – Nas duas primeiras estrofes, o poeta faz uma descrição de sua situação social e de seus dotes artísticos. A partir da terceira estrofe, todos esses “dotes de ventura” são considerados inúteis, exceto se for preenchida uma condição na vida dele. De que condição se trata?
         Trata-se de casar com Marília (“queres do que tenho ser senhora”).

3 – Na quarta estrofe aparece a descrição de Marília.
a)     O poeta preocupa-se com a descrição física ou com a descrição psicológica da amada?
A preocupação é exclusivamente com a descrição física.

b)    Qual é a área do corpo feminino focalizada pelo poeta?
Ele se limita a descrever o rosto da mulher amada.

c)     Nas comparações que utiliza para descrever Marília, o poeta serve-se de elementos pertencentes ao mundo natural ou cultural?
Todas as comparações são feitas com elementos do mundo natural.

d)    Que palavra dessa estrofe resume os encantos de Marília?
A palavra é tesouro (8º verso dessa estrofe).

4 – A expressão do relacionamento amoroso baseia-se no racionalismo, isto é, o poeta não se deixa arrastar pela emoção. Copie o verso em que aparece a justificativa dele próprio para tal procedimento.
        “Nem me cega a paixão, que o mundo arrasta” (5ª estrofe, 6º verso).

5 – Chama-se, em relação ao Arcadismo, de dourada mediocridade ou áurea mediocridade o ideal de vida equilibrada, sem paixões. Para atingir esse tipo de existência, seria necessário a fuga da cidade e o contato direto com a natureza. Faça uma lista dos verbos da penúltima estrofe que estejam relacionados com o conceito de áurea mediocridade.
        Divertir-se, descansar, dormir, jogar, correr.

6 – O poeta pretende que esse ideal de relacionamento amoroso não seja apenas o dele e de Marília, mas que tenha validade universal. Que verso da última estrofe comprova essa afirmativa?
        “Siga os exemplos que nos deram estes”.


Comparação, Metáfora, Metonímia: Figuras Importantes na Construção dos Textos

Comparação, Metáfora, Metonímia: Figuras Importantes na Construção dos Textos



Metáfora (Gilberto Gil)
Uma lata existe para conter algo,
Mas quando o poeta diz lata
Pode estar querendo dizer o incontível
Uma meta existe para ser um alvo,
Mas quando o poeta diz meta
Pode estar querendo dizer o inatingível
Por isso não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudo-nada cabe,
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha a caber
O incabível
Deixe a meta do poeta, não discuta,
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora
(in https://www.vagalume.com.br/gilberto-gil/metafora.html )
Essa canção, empregando a função metalinguística, apresenta o conceito de metáfora, uma figura bastante presente nos textos literários e nos textos do cotidiano. E por falar em conter, contido e incontível, observemos as figuras abaixo:

FIGURA 1

FIGURA 2

FIGURA 3
Quando empregamos as palavras para expressar ideias, podemos fazer isso usando os vocábulos no seu sentido real (denotação) ou desviar o sentido para dar mais expressividade ao texto, lançando mão do sentido figurado (conotação) e, nesse segundo caso, estarão em ação as chamadas figuras de linguagem.
Vamos começar o assunto de hoje pegando emprestadas da Matemática algumas ideias, especificamente da teoria dos conjuntos. As imagens acima servem bem para que visualizemos as três figuras de linguagem sobre as quais falaremos hoje: a comparação (ou símile), a metáfora e a metonímia.

Comparação

Observando a primeira figura constatamos que A = B, ou seja, as características de A também aparecem em B. Assim, quando verbalizamos essa semelhança, estamos estabelecendo uma comparação, como a que está presente nos versos abaixo:
A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar (…)
A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor”
( https://www.vagalume.com.br/vinicius-de-moraes/a-felicidade.html)
A leveza está presente na felicidade e na pluma, o brilho também aparece tanto no sentimento quanto na gota de orvalho. Relacionando as características temos a conjunção como. Nas comparações sempre estão presentes os conectivos, para ligar as semelhanças presentes nos seres.

Metáfora

É uma espécie de comparação implícita, em que o elemento comparativo não aparece (não há conjunções), o autor espera que o leitor ‘desvende’ o implícito, com base no conhecimento de mundo que possui. Nos conjuntos, essa semelhança implícita aparece na intersecção, conforme a figura 2.
O amor é um grande laço
Um passo pr’uma armadilha” 
(Djavan, Faltando um pedaço)
A = amor ; B = laço
A Intersecção com B = ação de prender
O que há em comum é que ambos prendem, mas é o leitor que precisa inferir isso. Quando o elemento em comum não faz parte do nosso conhecimento de mundo, ficamos impossibilitados de compreender totalmente a ideia do artista, o que dificulta inclusive a apreciação da obra (e a resolução de algumas questões nos exames e provas, daí a necessidade de ler bastante e ampliar cada vez mais o nosso repertório cultural).

Metonímia

Essa figura aparece quando um termo assume outro sentido, não real ou denotativo, por meio de uma associação de ideias tendo como base a contiguidade entre os elementos, ou seja, é uma analogia por sentidos próximos.
Fotografei você na minha RolleiFlex
Revelou-se a sua enorme ingratidão
(In https://www.vagalume.com.br/joao-gilberto/desafinado.html )
Na canção de Tom Jobim, ele empregou a marca, Rolleiflex, pelo equipamento, para fazer referência à máquina fotográfica. Mas pode ser também o autor pela obra (Adoro ler Machado de Assis); o lugar pelo produto (Meu primo gosta de fumar Havana e beber Paraty. – Havana = charuto e Paraty = cachaça) entre outras relações.

Assunto Para o Enem A Crise Econômica Brasileira

Assunto Para o Enem: A Crise Econômica Brasileira


Não há como negar que o Brasil passa por uma das crises econômicas mais acentuadas de nossa história. Além disso, os problemas na política e seus casos de corrupção que aparecem praticamente todos os dias dão ainda mais dramaticidade nesse conturbado período. Entretanto, nossa análise não pode ficar apenas restrita a esses últimos anos. Uma visão mais geral da nossa economia é importante para que possamos entender, de fato, como estamos e onde podemos chegar. Confira mais sobre esse assunto que certamente pode cair no ENEM.
De acordo com a divulgação de primeiro de fevereiro de 2017 do Banco Mundial, o Brasil é a nona economia do mundo, com um PIB (Produto Interno Bruto) de aproximadamente 1,77 trilhões de dólares (esse é um dos principais indicadores da economia de um país). Esse valor representa aproximadamente 2,39% na participação da economia de todo o globo. Não é pouco, embora boa parte deste dado esteja relacionada a quantidade de cidadãos. Afinal, somos mais de 200 milhões brasileiros!
O problema é que esse PIB vem caindo desde 2015, quando recuou 3,8%. No ano seguinte (2016), a queda foi de 3,6%. Vale ressaltar que nesse mesmo período de dois anos, os países do globo cresceram numa média superior a 3% por ano. Para se ter uma ideia da dificuldade da situação, no ano passado, os números revelam que houve recuo nos três setores que entram no cálculo do PIB anual – agropecuária (-6,6%), indústria (-3,8%) e serviços (-2,7%). A última vez que os três setores caíram juntos foi em 1996, e mesmo assim a queda não foi tão intensa. Em 2014, apenas o setor industrial caiu, mas os serviços e agropecuária continuavam crescendo. Em 2015, caíram a indústria e os serviços. Já em 2016, a agropecuária.
Com essa queda generalizada em todos os setores, não é a toa que o desemprego já superou a casa dos 13 milhões, de acordo com o próprio IBGE.
Portanto, o principal desafio agora é, antes de qualquer coisa, tentar “frear” essa vertiginosa queda. Só depois podemos pensar em retomar o crescimento. Dentre tantas notícias ruins, pelo menos uma boa: um dos nossos setores mais importante, o Agronegócio, no último mês de março, já deu sinais de recuperação e cresceu 4,6% em relação ao mesmo mês do ano passado (clique aqui para ver a matéria). Não é muito, mas com certeza um respiro.
  


segunda-feira, 24 de abril de 2017

DISCURSO DIRETO E INDIRETO - FONTE: DESCOBRINDO A GRAMÁTICA - FTD - COM GABARITO

DISCURSO DIRETO E INDIRETO - COM GABARITO
TEREZA
          A Teresa voltou da praia, e estive a pique de lhe dizer que queria acabar o namoro. Mas ela estava tão contente, contando as novidades, que terminei ficando com dó e adiei a decisão. Sem contar que o sol lhe tinha feito muito bem. Os olhos de Teresa pareciam mais bonitos com a pele bronzeada.
          A Teresa não parava de falar, e eu só escutando, com vontade de estar longe dali. Mas chegou uma hora em que ela percebeu que eu estava triste e perguntou por quê.
          --- Estou triste por sua causa.
          --- Por minha causa? Por quê?
          Hesitei um pouco. Dizia ou não dizia que não gostava mais dela?
          --- Estava com saudades.
          Na hora em que disse aquilo, me senti o pior sujeito do mundo. Mas o que podia fazer, se já tinha falado?
          --- Mas eu estou aqui, Sérgio.
          --- Pois é, você voltou.
          --- O que você está querendo dizer com isso?
          --- Nada, Tereza, nada...
          --- Serginhooô...
          O difícil era que a Teresa não entendia nada do que lhe dizia. Ainda por cima, vinha com aquele jeito enjoado de dizer “Serginhooô”, que me deixava com mais raiva. Mas ela logo esqueceu do que estávamos falando e começou a contar do biquíni que havia comprado, das praias de Santos, do novo carro do pai etc. E eu com a cabeça em outro lugar, só pensando na Cybelle e nas coisas que ela tinha me dito. “Você tem razão, garota, eu não presto mesmo. Não mereço você”, falei baixinho.
          --- O que foi que você disse? --- Teresa perguntou.
          --- Nada não...
          Fiquei torcendo para que ela dissesse que eu não estava prestando atenção na conversa. Seria mais um motivo para uma briga. E dessa vez eu terminaria com aquele namoro que já me chateava. Mas a Tereza não disse nada e continuou a falar de Santos, dos passeios na praia. E eu ali a seu lado com a cabeça nas nuvens, que tomavam a forma da Cybelle, do corpo da Cybelle, do sorriso da Cybelle. “Tão bela...”
          --- Serginho, você ficou maluco?
          --- Maluco por quê?
          --- Você não para de falar sozinho.
          Olhei bem para a Teresa, para aqueles olhos verdes, e dei-lhe um beijo.
          --- Tem razão, Tereza, estou completamente maluco.
                                         Amor & cuba-libre. São Paulo, FTD, 1980.
1 – Escreva nos parênteses DD para discurso direto e DI para discurso indireto.
        (DI) “...estive a pique de lhe dizer que queria acabar nosso namoro”.
        (DI) “Mas chegou uma hora em que ela percebeu que eu estava triste e perguntou por quê”.
        (DD) “--- O que foi que você disse?”
        (DD) “--- Estou triste por sua causa”.
        (DI) “Dizia ou não dizia que não gostava mais dela”?

2 – Retire do texto mais três exemplos de discurso direto.
      Educador: Há mais outros exemplos.
      - Por minha causa? Por quê?
      - Estava com saudades.
      - Mas eu estou aqui. Sérgio.
3 – Transforme o discurso indireto abaixo em direto.
      “Fiquei torcendo para que ela dissesse que eu não estava prestando atenção na conversa.”
      Fiquei torcendo para que ela dissesse:
      --- Você não está prestando atenção na conversa.
4 – Observe:
      Ele disse:
      --- Estou triste por sua causa.
                              ou
      --- Estou triste por sua causa --- disse ele.
      Escreva uma segunda possibilidade para o discurso direto.
a)   Ela me perguntou: ---Por quê?
--- Por quê? --- ela me perguntou.
b)   Alguém lhe sugeriu: --- Seja honesto com Teresa.
--- Seja honesto com Teresa --- alguém lhe sugeriu.
c)   Ele decidiu: --- Agora, chega.
--- Agora, chega --- ele decidiu.
d)   Teresa me perguntou: --- O que foi que você disse?
---O que foi que você disse? --- Tereza me perguntou.
5 – Diga se há discurso direto ou indireto no período abaixo.
      “Você tem razão, garota, eu não presto mesmo. Não mereço você”, Falei baixinho.
      Discurso direto.
6 – Procure no texto dois verbos de elocução empregados no discurso direto e escreva-os abaixo.
      Perguntou e falei.
7 – Transcreva os discursos diretos em indiretos. Atenção ao tempo verbal e outras mudanças.
a)   Perguntei a ela: --- Você é irmã de Marina?
Perguntei a ela se era irmã de Marina.
b)   Minha filha argumentou:
--- Já tenho idade suficiente para sair sozinha.
Minha filha argumentou que já tinha idade suficiente para sair sozinha.
c)   O professor sugeriu:
--- Vocês deveriam ler Machado de Assis.
O professor sugeriu que deveríamos ler Machado de Assis.
d)   Benedita me pediu:
--- Traga-me uma vassoura nova.
Benedita me pediu que lhe trouxesse uma vassoura nova.
e)   Elisabete ponderou:
--- É perigoso sairmos sozinhas a esta hora.
Elisabete ponderou que era perigoso saírem sozinhas àquela hora.


PIADA   A

          Uma cliente furiosa foi à padaria onde eu trabalhava, para se queixar da dureza do pão que tinha comprado na véspera.
          --- Senhora --- disse meu patrão, indignado ---, faço pão há quinze anos!
          --- Ah, é? --- retorquiu ela prontamente. --- Pois não deveria ter esperado tanto tempo para vender.
                                                   Seleções – Reader´s digest, nº 235.
                                                           Lisboa, Lis Gráfica, abril, 1991.


PIADA    B
          O time estava se preparando para disputar a final do campeonato brasileiro de futebol. Um jogo duríssimo. Mas acontece que em todos os treinos sempre faltava um ou outro jogador. No último treino, às vésperas do fogo final, o treinador, bastante irritado, disse a todos:
          --- Gostaria de agradecer ao goleiro, que foi o único presente a todos os treinos.
          O garotão ficou todo feliz com o elogio e aproveitou pra avisar.
          --- Fiz questão de comparecer a todos os treinos porque não vou poder vir ao jogo, amanhã.
                                          As melhores piadas e anedotas da praça.
                                                                        São Paulo, Green, s/d.
1 – Retire o primeiro discurso direto da piada A.
      --- Senhora --- disse meu patrão, indignado ---, faço pão há quinze anos!
2 – Escreva os dois verbos de elocução que aparecem na piada A.
      Disse e retorquiu.
3 – Passe para o discurso indireto a resposta dada no item 1.
      Meu patrão disse, indignado, que há quinze anos fazia pão.
4 – Retire os dois verbos de elocução diretos da piada B.
       Disse e avisar.
5 – Passe os dois discursos diretos da piada B para indiretos.
      O treinador, bastante irritado, disse a todos que gostaria de agradecer ao goleiro, que fora o único presente a todos os treinos.
      O garotão aproveitou para avisar que fizera questão de comparecer a todos os treinos porque não poderia ir ao jogo no dia seguinte.

Fonte:
GIACOMOZZI, Gilio; VALÉRIO, Gildete; FENGA, Cláudia Reda. Descobrindo a Gramática. São Paulo: FTD, 2001, p. 82-85.

domingo, 23 de abril de 2017

CRÔNICA:CONVERSA DE COMPRA DE PASSARINHO - RUBEM BRAGA - COM GABARITO

CRÔNICA: CONVERSA DE COMPRA DE PASSARINHO
                       Rubem Braga
          Entro na venda para comprar uns anzóis e o velho está me atendendo quando chega um menino da roça, com um burro e dois balaios de lenha. Fica ali, parado, esperando. O velho parece que não o vê, mas afinal olha as achas com desprezo e pergunta: “Quanto?” O menino hesita, coçando o calcanhar de um pé com o dedo de outro. “Quarenta”. O homem da venda não responde, vira a cara. Aperta mais os olhos miúdos para separar os anzóis pequenos que eu pedi. Eu me interesso pelo coleiro do brejo que está cantando. O velho:
          – Esse coleiro é especial. Eu tinha aqui um gaturamo que era uma beleza, mas morreu ontem; é um bicho que morre à toa.
         Um pescador de bigodes brancos chega-se ao balcão, murmura alguma coisa: o velho lhe serve cachaça, recebe, dá troco, volta-se para mim: “- O senhor quer chumbo também?” Compro uma chumbada, alguns metros de linha. Subitamente ele se dirige ao menino da lenha:
          – Quer vinte e cinco? Pode botar lá dentro.
          O menino abaixa a cabeça, calado. Pergunto:
          – Quanto é o coleiro?
          – Ah, esse não tenho para venda, não…
          Sei que o velho esta mentindo; ele seria incapaz de ter um coleiro se não fosse para venda; miserável como é, não iria gastar alpiste e farelo em troca de cantorias. Eu me desinteresso. Peço uma cachaça. Puxo o dinheiro para pagar minhas compras. O menino murmura: “- O senhor dá trinta…?” O velho cala-se, minha nota na mão.
          – Quanto é que o senhor dá pelo coleiro?
          Fico calado algum tempo. Ele insiste: “- O senhor diga…” Viro a cachaça, fico apreciando o coleiro.
          – Se não quer vinte e cinco vá embora, menino.
          Sem responder, o menino cede. Carrega as achas de lenha para os fundos, recebe o dinheiro, monta no burro, vai-se. Foi no mato cortar pau, rachou cem achas, carregou o burro, trotou léguas até chegar aqui, levou 25 cruzeiros. Tenho vontade de vingá-lo:
          – Passarinho dá muito trabalho…
          O velho atende outro freguês, lentamente.
          – O senhor querendo dar quinhentos cruzeiros, é seu.
          Por trás dele o pescador de bigodes brancos me fez sinal para não comprar. Finjo espanto: “- Quinhentos cruzeiros?”
          – Ainda a semana passada eu rejeitei seiscentos por ele. Esse coleiro é muito especial.
        Completamente escravo do homem, o coleirinho põe-se a cantar, mostrando sua especialidade. Faço uma pergunta sorna: “- Foi o senhor quem pegou ele?” O homem responde: “- Não tenho tempo para pegar passarinho.”
          Sei disso. Foi um menino descalço, como aquele da lenha. Quanto terá recebido esse menino desconhecido, por aquele coleiro especial?
          – No Rio eu compro um papa-capim mais barato…
          – Mas isso não é papa-capim. Se o senhor conhece passarinho, o senhor está vendo que coleiro é esse.
          – Mas quinhentos cruzeiros?
          – Quanto é que o senhor oferece?
          Acendo um cigarro. Peço mais uma cachacinha. Deixo que ele atenda um freguês que compra bananas. Fico mexendo com o pedaço de chumbo. Afinal digo com voz fria, seca: “- Dou duzentos pelo coleiro, cinquenta pela gaiola.”
          O velho faz um ar de absoluto desprezo. Peço meu troco, ele me dá. Quando vê que vou saindo mesmo, tem um gesto de desprendimento: “Por trezentos cruzeiros o senhor leva tudo.”
          Ponho minhas coisas no bolso. Pergunto onde é que fica a casa de Simeão pescador, um zarolho. Converso um pouco com o pescador de bigodes brancos, me despeço.
          – O senhor não leva o coleiro?
          Seria inútil explicar-lhe que um coleiro do brejo não tem preço. Que o coleiro do brejo é, ou devia ser, um pequeno animal sagrado e livre, como aquele menino da lenha, como aquele burrinho magro e triste do menino. Que daqui a uns anos quando ele, o velho, estiver rachando lenha no inferno, o burrinho, menino e o coleiro vão entrar no Céu – trotando, assobiando e cantando de pura alegria.
(RUBEM BRAGA. Quadrante. Rio, Editora do Autor, 1962)
Após a leitura do texto, responda às questões abaixo:
1. Achas de lenha são _________________________________________
2. Quais os significados da palavra achas nas frases abaixo:
a) Achas interessante essa crônica? ______________________________
b) Procuras o troco nos bolsos e não achas nada. ____________________
3. Transcreva do texto a frase que equivale a:
a) Calado, o menino concorda. ____________________________________
b) O menino titubeia. ___________________________________________
4. Relacione as palavras aos seus significados, de acordo com o texto:
a. roça                             (   ) caolho
b. desprezo                     (   ) altruísmo; ação em que não se visa ao interesse próprio
c. miúdos                        (   ) sem maiores objetivos; indolente; preguiçosa
d. brejo                            (   ) terreno de lavoura; campo em oposição à cidade
e. sorna                           (   ) desdém
f. desprendimento        (   ) pequeno; espremido
g. zarolho                       (   ) banhado

5. Onde acontece o fato narrado no texto?
6. A atitude inicial do velho, dono da venda, para com o menino é:
a. (   ) atenciosa       b. (   ) simpática        c. (   ) de desprezo
7. Essa atitude era intencional?
a. (   ) Sim, porque desse modo, ele desvalorizava a mercadoria do menino, comprando-a por menor preço.
b. (   ) Não. O velho negociante era mesmo seco e de pouca conversa.
8. Ao perceber o interesse do narrador do texto, o velho demonstrou:
a. (   ) satisfação, pois também ele gostava de pássaros.
b. (   ) aparente desinteresse pelo negócio.
9. Pelas compras feitas pelo narrador, deduzimos que o mesmo iria ______
10. O que disse o velho negociante, quando o narrador perguntou pelo preço do coleiro?
11. A resposta dada pelo negociante a respeito da venda do coleiro é verdadeira? (   ) sim        (   ) não
Justifique sua resposta indicando passagens do texto.
12. A negociação empregada pelo velho, durante a compra da lenha, lhe parece justa e honesta?
a. (   ) Não. Ele estava explorando o menino, na certeza de que este não voltaria com a carga, já que tivera muito trabalho para cortar e trazer a lenha.
b. (   ) Sim, pois, como comerciante que era, procurava um modo de adquirir a mercadoria por menor preço e, assim, auferir maior lucro.
13. Quem o narrador julga que tivesse caçado o coleiro do brejo? Justifique com uma passagem do texto.
14. O narrador também usa da mesma técnica de negociação empregada pelo velho, para a compra do passarinho, isto é, desvalorizar a mercadoria com argumentos, demonstrar desinteresse com atitudes. Identifique sete trechos da narrativa que demonstram essa técnica de negociação usada pelo narrador.
15. Após tanta negociação, qual o abatimento que o narrador conseguiu quando desistiu da compra do passarinho?
16. Para onde se dirigiu o narrador com o material de pesca que adquiriu na venda?
17. Por que o narrador não compra, afinal, o coleiro?
18. Qual teria sido, na sua opinião, a atitude mais justa a ser tomada pelo narrador em relação ao coleiro? Justifique sua resposta.
19. Expresse, em poucas linhas, a mensagem que o texto sugere.
 ___________________________________________________
GABARITO
Questão 1. São pedaços de madeira seca para fazer fogo.
Questão 2. a) julgar ou considerar interessante          b) não encontrar
Questão 3.
a)      “Sem responder, o menino cede.” (parágrafo 12).
b)      “O menino hesita.” (parágrafo 1)
Questão 4.
a. roça                     ( g ) caolho
b. desprezo             (  f ) altruísmo; ação em que não se visa ao interesse próprio.
c. miúdos                ( e ) sem maiores objetivos; indolente; preguiçosa
d. brejo                   ( a ) terreno de lavoura; campo em oposição à cidade
e. sorna                  ( b ) desdém
f. desprendimento  ( c ) pequenos; espremidos
g. zarolho               ( d ) banhado

Questão 5. Numa casa de comércio.
Questão 6.  Alternativa c
Questão 7. Alternativa a.
Questão 8. Alternativa b.
Questão 9. Pescar.
Questão 10. Disse que o coleiro não estava à venda.
Questão 11. Não. Trechos que comprovam a resposta:
  • “Sei que o velho está mentindo; ele seria incapaz de ter um coleiro se não fosse para venda; miserável como é, não iria gastar alpiste e farelo em troca de cantorias.”
  • “O senhor querendo dar quinhentos cruzeiros, é seu”.
  • “Por trezentos cruzeiros o senhor leva tudo.”
  • “O senhor não leva o coleiro?”
Questão 12. Alternativa a.
Questão 13. Um menino pobre, morador da zona rural. Trecho que comprova a resposta:
  • “Sei disso. Foi um menino descalço, como aquele da lenha.”
Questão 14.
1.   “Eu me dessinteresso. Peço uma cachaça. Puxo o dinheiro para pagar minhas compras.
2.   “Fico calado algum tempo. Viro a cachaça.”
3.   “Passarinho dá muito trabalho.”
4.   “Finjo espanto. Quinhentos cruzeiros?”
5.   “No Rio compro um papa-capim mais barato.”
6.   “Acendo um cigarro. Peço mais uma cachacinha.”
7.   “Afinal, digo com voz fria, seca: Dou duzentos pelo coleiro, cinquenta pela gaiola.”
Questão 15. Duzentos cruzeiros.
Questão 16. À casa de Simeão, um pescador zarolho.
Questão 17. Porque, na sua opinião, um coleiro do brejo não tem preço, por ser um pequeno animal sagrado e livre, como o menino da lenha e seu burrinho.
Questão 18. Deveria tê-lo comprado e depois dar-lhe a liberdade, isto é soltá-lo na mata que é onde devem viver os animais silvestres.
Questão 19. Resposta pessoal.