segunda-feira, 7 de outubro de 2024

POEMA: PAI JOÃO - JORGE DE LIMA - COM GABARITO

 Poema: Pai João

             Jorge de Lima

Pai João secou como um pau sem raiz. —
Pai João vai morrer.
Pai João remou nas canoas. —
Cavou a terra.
Fez brotar do chão a esmeralda,
Das folhas — café, cana, algodão.
Pai João cavou mais esmeraldas.
Que Paes Leme.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAeMXKcTHt_DfGUTK_9TkUUszAlqa9dvkk_bqSG65qvhXqdWkMDOwfxRbxuOnIlnLCjBKhS9SmUZVZWE9moptRZXXj5gq4V1Z5drSXmnBM_cboeXRGrevxjF_P_h9awILjrW28oTpOrSfIWckETJU_9H_14Kf9ND5SM1p8H5GizzYbxsOu9rOWZgLjfwE/s320/esmeraldas-1.jpg

A filha de Pai João tinha peito de
Turina para os filhos de Ioiô mamar:
Quando o peito secou a filha de Pai João
Também secou agarrada num
Ferro de engomar.
A pele de Pai João ficou na ponta
Dos chicotes.
A força de Pai João ficou no cabo
Da enxada e da foice.
A mulher de Pai João o branco
A roubou para fazer mucamas.
O sangue de Pai João se sumiu no sangue bom
Como um torrão de açúcar bruto
Numa panela de leite. —
Pai João foi cavalo pra os filhos de Ioiô montar.
Pai João sabia histórias tão bonitas que
Davam vontade de chorar.

Pai João vai morrer.
Há uma noite lá fora como a pele de Pai João.
Nem uma estrela no céu.
Parece até mandinga de Pai João.

Jorge de Lima.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 207.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Turino: espécie de gado bovino.

·        Ioiô: tratamento que os escravos davam aos senhores.

02 – Qual a principal metáfora utilizada para representar a decadência e a morte de Pai João?

      A principal metáfora é a comparação de Pai João a um "pau sem raiz". Essa imagem evoca a ideia de um ser humano enfraquecido, sem vitalidade e condenado à morte.

03 – Quais as principais atividades desempenhadas por Pai João ao longo de sua vida?

      Pai João era um trabalhador rural que desempenhava diversas funções: remava em canoas, cultivava a terra, colhia café, cana e algodão, além de cavar esmeraldas.

04 – Qual o significado da comparação entre Pai João e Paes Leme?

      A comparação com Paes Leme, um bandeirante conhecido por sua busca por riquezas, subverte o papel tradicionalmente atribuído aos exploradores. Pai João, um escravizado, é apresentado como aquele que verdadeiramente "cavou mais esmeraldas", ou seja, gerou mais riqueza para os senhores.

05 – Qual o papel da filha de Pai João na narrativa?

      A filha de Pai João representa a continuidade da exploração e do sofrimento. Ela é obrigada a amamentar os filhos do senhor e, posteriormente, morre de exaustão trabalhando.

06 – Como o poema retrata a violência sofrida por Pai João e sua família?

      A violência é descrita de forma indireta, através de metáforas como a pele de Pai João que "ficou na ponta dos chicotes" e o sangue que "se sumiu no sangue bom". Essas imagens sugerem um histórico de castigos físicos e a desumanização dos escravizados.

07 – Qual o significado da última estrofe do poema?

      A última estrofe cria uma atmosfera de mistério e fatalidade, relacionando a morte de Pai João com a noite escura e a ausência de estrelas. A expressão "Parece até mandinga de Pai João" sugere uma espécie de maldição ou destino trágico.

08 – Qual a principal mensagem do poema "Pai João"?

      O poema "Pai João" é uma denúncia da escravidão e de suas consequências. Através da história de um homem escravizado, Jorge de Lima retrata a desumanização, a exploração e a violência sofridas pelos negros no Brasil. A obra também evoca a memória e a resistência dos escravizados, que mesmo diante de tanto sofrimento, mantinham sua humanidade e dignidade.

 

 

POEMA: ÁPORO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: Áporo

             Carlos Drummond de Andrade

Um inseto cava
cava sem alarme
perfurando a terra
sem achar escape.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfbuLVCWSzwgEPllij4YIYz-28GImogMxvY_bCinvSRkral4NThZtqLD67vnhToqRrVmvAKMiWlQnqB_FRE1QmbsG6NrBCHL5quR4Vtv4C8sPMxgkEv73yfE7Z3_0urOEbLHwI44OH2nWVgtynfJW-4jRXioXGIqkleehJHregbC3AuaaGMfUbHHKhqps/s320/INSETO.jpg


Que fazer, exausto,
em país bloqueado,
enlace de noite
raiz e minério?

Eis que o labirinto
(oh razão, mistério)
presto se desata:

em verde, sozinha,
antieuclidiana,
uma orquídea forma-se.

Carlos Drummond de Andrade.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 183.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo.

·        Presto: com presteza ou rapidez.

·        Euclidiano: relativo a Euclides, geômetra da Grécia Antiga.

02 – Qual a principal metáfora utilizada no poema "Áporo" e o que ela representa?

      A principal metáfora é a do inseto cavando e se perdendo em um labirinto. Esse inseto representa o ser humano em busca de sentido e liberdade em um mundo limitado e opressivo, como o Brasil da época da ditadura Vargas, quando o poema foi escrito.

03 – Qual o significado do título "Áporo"?

      "Áporo" significa, em grego, "sem saída" ou "impasse". O título reflete a sensação de aprisionamento e a busca por uma saída que o sujeito lírico experimenta.

04 – Como a imagem da orquídea pode ser interpretada no contexto do poema?

      A orquídea, que surge de forma inesperada e desafia as leis da geometria euclidiana, simboliza a esperança, a beleza e a possibilidade de transformação em meio à adversidade. Ela representa a resistência e a capacidade de criar algo novo, mesmo em um ambiente hostil.

05 – Qual a relação entre o poema e o contexto histórico da época em que foi escrito?

      "Áporo" reflete o sentimento de angústia e opressão que predominava no Brasil durante a ditadura de Vargas. O inseto que cava sem encontrar saída pode ser visto como uma metáfora para o indivíduo que busca liberdade em um regime autoritário.

06 – Quais as principais emoções transmitidas pelo poema?

      O poema transmite uma sensação de angústia, solidão, mas também de esperança e resiliência. A imagem do inseto preso no labirinto evoca sentimento de impotência e desespero, enquanto a orquídea representa a possibilidade de superação e a busca por um futuro melhor.

 

 

TEXTO: O MELHOR PASSEIO DO MUNDO - SEMÍRAMIS PATERNO - COM GABARITO

 Texto: O melhor passeio do mundo

           Semíramis Paterno

        Aos sábados, meu pai não trabalhava e a cada final de semana ele nos presenteava com um passeio surpreendente. Íamos meu pai, mamãe, minha irmã Lisa, de 7 anos, e eu. Pedro, com 12, ao cinema, ao teatro, aos museus, às feiras de arte e alimentos, ou ao centro da cidade onde havia sempre alguma coisa interessante para ser vista.

  Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVP0RHfM5XNjMCY_np02Blp7DxdfIp3VP5t58fXYnU1wH1o0FIGSIYIbcCOiV8QBTwu-jfQhyphenhyphenn_XypgsbBhwoG9cSb6NFMh8CflvGdkplDBXHfa9i-frIQSUl6tFfr7HQVBXFugR3RaR7j1V1U3EkNI_ChtP7l-a4J7Hw3BwQ8bNzkUV4N9yQxX0Qsbvw/s320/FLIT.jpg


        Certa vez, assistimos a um espetáculo de circo e mímica na rua. Foi muito divertido e os artistas até nos chamaram para participar das brincadeiras e das mágicas! Cada um de nós ganhou um balão colorido pela participação. Eu me senti o próprio artista. Cheguei em casa muito animado, contando tudo para vovó Isaura, que morava conosco.

        Normalmente, a vovó nos acompanhava aos passeios, mas, naquele dia, ela estava terminando uma encomenda de bolo de aniversário. Ela preparava bolos deliciosos, além de lindos, e tinha sempre muitas entregas para fazer.

        Vovó também ia conosco nos dias de visita ao Parque Jardim da Luz, no bairro Bom Retiro, o passeio preferido da família. Meu pai repetia sempre a história do lugar, dizendo que tinha sido fundado em 1825 como um horto botânico, onde seriam preservadas espécies animais e vegetação típica de várias regiões do Brasil. era tudo lindo!

        Saíamos cedinho, caminhando até o ponto, cada um com sua melhor roupa para pegar o bonde que ficava a um quarteirão de casa. Lisa e eu escolhíamos os melhores lugares. Papai e mamãe sentavam-se nos bancos bem atrás de nós e vovó, ao nosso lado.

        Minha irmã estava aprendendo a ler e, então, nos divertíamos lendo os cartazes de propaganda pregados nas laterais do veículo. Esses cartazes eram desenhados a mão, pelos artistas da época.

      De todos, o que mais me encantava era do colírio LAVOLHO. Nele, havia o desenho de um homenzinho vestido com uma espécie de avental branco, segurando na mão um pano com o qual limpava um olho muito grande. Lisa já gostava mais do cartaz do FLIT, um veneno para moscas. O desenho representava uma trincheira, com os soldados atacando as moscas, que pareciam verdadeiros aviões em manobras de guerra!

        Meu pai se animava, repetindo sempre, com voz de locutor de rádio, os versos do Rhum Creosotado, um remédio que anunciava verdadeiros milagres, mas que ficou famoso mesmo por causa dos versinhos nos anúncios dos bondes, o que nos fazia rir daquele pai que buscava divertir as crianças.

      Eu apreciava a criatividade daqueles artistas que desenhavam tão bem! E ficava sonhando que, quando crescesse, eu também gostaria de ser um grande desenhista.

PATERNO, Semíramis. O melhor passeio do mundo.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 2. Língua Portuguesa – 6º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 29-30.

Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Horto: pequena plantação.

· Trincheira: vala escavada no solo para servir de abrigo e proteção aos combatentes de uma guerra.

·        Faceiro: elegante, vaidoso.

02 – Qual era a atividade preferida da família nos finais de semana?

      A atividade preferida da família nos finais de semana eram os passeios. O pai da família organizava diversas atividades para todos, como ir ao cinema, teatro, museus e parques.

03 – Qual a importância do Parque Jardim da Luz para a família?

      O Parque Jardim da Luz era um lugar especial para a família, pois era o passeio preferido de todos. O pai contava a história do parque e a família aproveitava para caminhar e apreciar a natureza.

04 – Como a família se locomovia para fazer os passeios?

      A família utilizava o bonde para se locomover até o Parque Jardim da Luz. A viagem de bonde era uma parte importante do passeio, pois as crianças se divertiam lendo os cartazes de propaganda.

05 – Qual era o interesse das crianças pelos cartazes de propaganda nos bondes?

      As crianças se encantavam com a criatividade dos desenhos nos cartazes de propaganda. Elas criavam suas próprias histórias e se imaginavam como os personagens dos anúncios.

06 – Qual o impacto desses passeios na vida do narrador?

      Os passeios de fim de semana tiveram um grande impacto na vida do narrador, despertando nele a criatividade e o interesse pela arte. Ele se inspirou nos desenhos dos cartazes de propaganda e sonhou em se tornar um grande desenhista.

 

POEMA: MORTE E VIDA SEVERINA - FRAGMENTO - JOÃO CABRAL DE MELLO NETO - COM GABARITO

 Poema: Morte e vida Severina – Fragmento

             João Cabral de Mello Neto

-- Essa cova em que estás,

com palmos medida,

é a conta menor

que tiraste em vida.

-- E de bom tamanho,

nem largo nem fundo,

é a parte que te cabe

deste latifúndio.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6ZXMXeElzt14Em6MD3GV7-VdwnrFwh7Ng47Cf41l-Wj7EL2tEJsGLffKT7oHZ0mGDbLyOajnaOtprmjAw5dXIaXqxAElyKtK_XSw39EZuY08mfbwjjDKTN7qOhVRWAFJiStOoQ-JblhtnQJuJhpmb4x0H16RYs0Xgqce6L_9zSa87PXUsUulQfoKRw2w/s320/MORTEEVIDA-capaBLOG.jpeg


-- Não é cova grande,

é cova medida,

é a terra que querias

ver dividida.

-- É uma cova grande

para teu pouco defunto,

mas estarás mais ancho

que estavas no mundo.

[...]

MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguiar, 1994. p. 183-184. (fragmento).

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 275.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal metáfora presente nesses versos e o que ela representa?

      A principal metáfora é a comparação da cova com um latifúndio. A cova, que representa a morte e o sepultamento, é comparada a uma pequena parcela de terra, simbolizando a injusta distribuição de terras no Nordeste brasileiro e a vida dura e curta dos retirantes. A cova medida, portanto, representa a porção de vida que cada indivíduo recebe, limitada pela miséria e pelas condições sociais.

02 – Qual a crítica social presente nesses versos?

      O fragmento critica fortemente a desigualdade social e a concentração de terras no Nordeste. A cova "medida" para cada indivíduo, enquanto os latifundiários possuem extensas propriedades, evidencia a injustiça e a exploração dos mais pobres. A obra denuncia as condições de vida precárias dos retirantes, que veem a morte como uma libertação da miséria.

03 – Qual o sentimento predominante nos versos?

      O sentimento predominante é a tristeza e a resignação. A morte é vista como uma inevitabilidade, e a cova medida representa a aceitação de um destino cruel. Há também uma crítica à sociedade injusta, que condena os mais pobres à miséria e à morte prematura.

04 – Qual a relação entre a dimensão da cova e a condição social do defunto?

      A dimensão da cova é inversamente proporcional à condição social do defunto. A cova "medida" e "de bom tamanho" para o pobre contrasta com a imensidão dos latifúndios dos poderosos. A cova pequena simboliza a vida curta e limitada do retirante, enquanto a terra extensa representa a riqueza e o poder dos latifundiários.

05 – Qual o significado da expressão "estarás mais ancho que estavas no mundo"?

      Essa expressão pode ter duas interpretações:

      Literal: Na cova, o corpo do defunto estará mais estendido e menos limitado pelos movimentos do dia a dia, representando uma libertação física.

      Figurado: A expressão pode sugerir que, na morte, o retirante terá mais espaço e liberdade do que tinha em vida, livre das opressões e das dificuldades que enfrentava. No entanto, essa liberdade é irônica, pois se trata da liberdade da morte.

 

 

POEMA: LEMBRANÇAS DO MUNDO ANTIGO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: Lembranças do mundo antigo

             Carlos Drummond de Andrade

Clara passeava no jardim com as crianças.

O céu era verde sobre o gramado,

a água era dourada sob as pontes,

outros elementos eram azuis, róseos e alaranjados.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbNJkN4G_N3CuHwNEUKlLJoJOITbeDB_JnwLQ_pl12kzBD0ZlIdMjIBfMq-1NbhsNe9N7KWdIEq8pLeY_favd2I1VyzFXYZHXdD-4cuRQE2Kya8QVwWVMOCsvCh0jAePEhKaNMDPUuzcwc7QeD2Fw6cGbrorAIY4PNtvimeNwKa_t23mtO7OtgCpy7ehc/s1600/JARDIM.jpg

O guarda-civil sorria, passavam bicicletas,

A menina pisou na relva para pegar um pássaro,

O mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era tranquilo em redor de Clara.

 

As crianças olhavam o céu! Não era proibido.

A boca, o nariz, os olhos estavam abertos! Não havia perigos.

Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos.

Clara tinha medo de perder o bonde das 11 horas,

esperava cartas que custavam a chegar,

Nem sempre podia usar vestido novo. Mas passeava no jardim, pela manha!!!

Havia jardins, havia manhãs, naquele tempo!!!

ANDRADE, Carlos Drummond de. Lembranças do mundo antigo. In: Sentimento do Mundo, 1940.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 184.

Entendendo o poema:

01 – Qual a atmosfera predominante no poema "Lembranças do mundo antigo"?

      A atmosfera predominante no poema é de tranquilidade, inocência e simplicidade. Drummond evoca um passado idealizado, onde os problemas eram menores e a vida parecia mais leve e despreocupada.

02 – Que elementos do cotidiano são utilizados para construir essa atmosfera?

      O poeta utiliza elementos simples do cotidiano como o jardim, as crianças brincando, o céu colorido, o guarda-civil sorrindo, as bicicletas passando, para construir essa atmosfera de tranquilidade. São detalhes que remetem a um tempo mais lento e menos complexo.

03 – Qual a importância da figura de Clara no poema?

      Clara representa a figura central do poema, através dela o poeta evoca as lembranças de um tempo passado. Ela é a testemunha de um mundo que já não existe mais, um mundo onde os problemas eram mais simples e a vida era mais serena.

04 – Qual a relação entre o título do poema e o seu conteúdo?

      O título "Lembranças do mundo antigo" já indica que o poema trata de um passado distante, idealizado. O poeta evoca memórias de um tempo que não volta mais, contrastando com a realidade presente, provavelmente marcada por mais complexidade e desafios.

05 – Quais as principais emoções evocadas pelo poema?

      O poema evoca uma gama de emoções, como nostalgia, saudade, melancolia e um certo grau de idealização do passado. A tranquilidade e a simplicidade da vida de Clara contrastam com a complexidade e os problemas do mundo atual, gerando um sentimento de saudade por um tempo que já se foi.

 

POEMA: O LUTO NO SERTÃO: JOÃO CABRAL DE MELLO NETO - COM GABARITO

 Poema: O luto no Sertão

             João Cabral de Mello Neto

Pelo Sertão não se tem como
não se viver sempre enlutado;
lá o luto não é de vestir,
é de nascer, com luto nato.

 



Sobe de dentro, tinge a pele
de um fosco fulo: é quase raça;
luto levado toda a vida
e que a vida empoeira e desgasta.

E mesmo o urubu que ali exerce,
negro tão puro noutras praças,
quando no Sertão usa a batina
negra-fouveiro, pardavasca.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeAQ2nYFM7qyNlis2LHKipMan7zWmoi9w0WtYVft2FXBaK6Z6q5Eg3QuG_3VyMOBk-GQRV6ohUk57yfsJlRfxDZymnv997GWu5_mLWNUoRr3r436JHj7utN-L8iQV3XiwCDAmCvoV-Xt09OZe1TXzthzGJuvr047QfsrhDzwJjskAr_aL-Ov50eSeazRk/s320/SERTAO.jpg

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 281.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal característica do luto no Sertão, segundo o poema?

      O luto no Sertão é apresentado como algo intrínseco à vida sertaneja, uma condição quase natural. Não se trata de um luto ocasional ou passageiro, mas sim de um estado permanente, "nato", que acompanha o sertanejo desde o nascimento.

02 – Como o luto se manifesta no corpo e na alma do sertanejo?

      O luto se manifesta de forma profunda e marcante no sertanejo. Ele "sobe de dentro", atingindo a alma e se exteriorizando através da pele, que adquire um tom "fosco fulo". Essa marca do luto é comparada a uma "raça", algo tão inerente ao sertanejo quanto sua própria identidade.

03 – Qual a relação entre o luto e a paisagem sertaneja?

      A paisagem sertaneja, com suas características áridas e inóspitas, serve como um pano de fundo para o luto. A natureza agreste e a constante luta pela sobrevivência intensificam a sensação de perda e sofrimento. O urubu, símbolo da morte, adquire um papel ainda mais sombrio no Sertão, reforçando a atmosfera de luto.

04 – Qual o significado da comparação entre o luto e uma "raça"?

      Ao comparar o luto a uma "raça", o poeta sugere que ele se tornou parte da identidade do sertanejo, algo tão fundamental quanto sua origem étnica. O luto é transmitido de geração em geração, moldando a visão de mundo e a forma de viver dos habitantes do Sertão.

05 – Qual a função do urubu na construção da imagem do luto no poema?

      O urubu, tradicionalmente associado à morte, desempenha um papel central na construção da imagem do luto no poema. A ave negra, que em outras regiões é vista como um símbolo da morte, adquire no Sertão uma conotação ainda mais sombria, reforçando a ideia de um luto constante e onipresente. A expressão "negra-fouveiro, pardavasca" intensifica a imagem do urubu como um ser sinistro e funéreo.

POEMA: O GUARDADOR DE REBANHOS - FRAGMENTO II E IX - ALBERTO CAEIRO - COM GABARITO

 Poema: O guardador de rebanhos – Fragmento II e IX

             Alberto Caeiro

II – O Meu Olhar

O meu olhar é nítido como um girassol.

Tenho o costume de andar pelas estradas

Olhando para a direita e para a esquerda,

E de vez em quando olhando para trás...

E o que vejo a cada momento

É aquilo que nunca antes eu tinha visto,

E eu sei dar por isso muito bem...

Sei ter o pasmo essencial

Que tem uma criança se, ao nascer,

Reparasse que nascera deveras...

Sinto-me nascido a cada momento

Para a eterna novidade do Mundo...

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6567uAhJ30lNQWwqxMKzcxayIvThpJ8wSD8XhKpxE61m_kFwJtHvJ-_vtTyUz5BkH7VCwxrYnAaUywxM7L21ztdMVzd8Y17MGePTQT-8txqNNAbFbCYRk1ipLW3gtSvDLDCw8S9CH2Q4S90_FLobRKpmIXbKcTJJoSzfILO-GQrkuKNRbraf_Z8yrQW0/s1600/Olhar-Girassol.jpg

Creio no mundo como num malmequer,

Porque o vejo. Mas não penso nele

Porque pensar é não compreender ...

 

O Mundo não se fez para pensarmos nele

(Pensar é estar doente dos olhos)

Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

 

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...

Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,

Mas porque a amo, e amo-a por isso,

Porque quem ama nunca sabe o que ama

Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...

 

Amar é a eterna inocência,

E a única inocência não pensar...

 

IX – Sou um guardador de rebanhos

Sou um guardador de rebanhos.

O rebanho é os meus pensamentos

E os meus pensamentos são todos sensações.

Penso com os olhos e com os ouvidos

E com as mãos e os pés

E com o nariz e a boca.

 

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la

E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

 

Por isso quando num dia de calor

Me sinto triste de gozá-lo tanto.

E me deito ao comprido na erva,

E fecho os olhos quentes,

 

Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,

Sei a verdade e sou feliz.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 327.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal característica do olhar do eu lírico?

      O olhar do eu lírico é nítido, inocente e presente no momento. Ele se compara a um girassol, sempre voltado para a luz, e tem a capacidade de ver o mundo com a mesma maravilha de uma criança.

02 – Qual a relação entre o olhar e o pensar para o eu lírico?

      Para o eu lírico, pensar é uma atividade que distancia o indivíduo da experiência direta do mundo. Ele prefere olhar e sentir, pois acredita que o pensamento pode nublar a percepção da realidade.

03 – Qual a importância da natureza para o eu lírico?

      A natureza é a fonte de toda a sua sabedoria e alegria. Ele se conecta com ela através dos sentidos, encontrando na simplicidade das coisas a maior complexidade.

04 – O que significa "amar é a eterna inocência" para o eu lírico?

      Amar, para o eu lírico, é uma experiência pura e livre de julgamentos. É aceitar o mundo como ele é, sem questionamentos, com a mesma inocência de uma criança.

05 – Qual a metáfora central deste fragmento?

      A metáfora central é a comparação entre os pensamentos do eu lírico e um rebanho. Seus pensamentos são como ovelhas que ele guia, e cada sensação é uma ovelha individual.

06 – Como o eu lírico pensa?

      O eu lírico pensa com todos os seus sentidos. Para ele, pensar é uma experiência sensorial e não uma atividade puramente intelectual.

07 – Qual a relação entre o corpo e a mente no pensamento do eu lírico?

      Corpo e mente são inseparáveis para o eu lírico. Ele pensa com o corpo inteiro, e suas sensações são a base de seu conhecimento.

08 – Qual o estado de felicidade alcançado pelo eu lírico?

      A felicidade do eu lírico surge da conexão profunda com a realidade. Ao se deitar na grama e sentir seu corpo, ele experimenta uma sensação de plenitude e verdade.

09 – Qual a crítica implícita à forma tradicional de pensar?

      O eu lírico critica o pensamento racional e abstrato, que o afasta da experiência concreta do mundo. Ele defende uma forma de conhecimento mais intuitiva e sensorial.

10 – Qual a principal característica do eu lírico presente em ambos os fragmentos?

      A principal característica é a sua capacidade de maravilhamento diante do mundo. Ele vê a vida com olhos de criança, apreciando a simplicidade e a beleza das coisas.

 

POEMA: MÃOS DADAS - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: Mãos dadas

             Carlos Drummond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2lx_XVTem35xi1CnSpgg3lN4uFcALb3C8S6zkcpO0GSrI64U63wSjrQKhRd6xkfeerpHigw7KKyFTPdRCLQ0OLseyYHUD6ATuQ6HglB8TVKxvt4PiXInHvkbCgTnDavV9tXTFVVdbZIPRn1xLIkiXoqWCmkIwlyXhWsdAgkGy9j0UUqr4ZI5vXxS1rjo/s320/MAOS.jpg


Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

Carlos Drummond de Andrade.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 184.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Taciturno: calado; triste.

·        Serafim: anjo da primeira hierarquia.

02 – Qual a principal mensagem transmitida pelo poema "Mãos dadas"?

      A principal mensagem do poema é um chamado à união e à solidariedade entre os homens no presente. Drummond convida o leitor a abandonar as idealizações do passado ou do futuro e a se engajar com a realidade do momento, construindo um futuro coletivo.

03 – O que significa a expressão "preso à vida" no contexto do poema?

      A expressão "preso à vida" indica um compromisso com a realidade presente, com as experiências e as pessoas que compartilham esse momento. O poeta não se refugia em idealizações ou escapismos, mas abraça a vida em sua complexidade.

04 – Qual a importância do "tempo presente" no poema?

      O "tempo presente" é o foco central do poema. Drummond enfatiza a importância de viver o momento presente, de se conectar com as pessoas ao redor e de construir um futuro a partir da realidade atual. O passado e o futuro são mencionados, mas como pontos de referência para a ação no presente.

05 – Qual a relação entre o individual e o coletivo no poema?

      O poema busca superar a individualidade e valorizar a coletividade. A imagem das "mãos dadas" simboliza a união e a solidariedade entre as pessoas. O poeta convida o leitor a se conectar com os outros e a construir um futuro juntos.

06 – Como o poema se relaciona com o contexto histórico em que foi escrito?

      "Mãos dadas" foi escrito em um contexto marcado por grandes transformações sociais e políticas, como a Segunda Guerra Mundial. O poema pode ser interpretado como uma resposta a esse contexto, um chamado à esperança e à união em um momento de incertezas e desafios. A busca por um futuro melhor, construído de forma coletiva, é um tema central tanto no poema quanto no contexto histórico.

POEMA: VALSA - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Poema: Valsa

             Cecília Meireles

Fez tanto luar que eu pensei em teus olhos antigos
e nas tuas antigas palavras.
O vento trouxe de longe tantos lugares em que estivemos
que tornei a viver contigo enquanto o vento passava.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLJngzIyPbxDHd9sg9nvkpSAMmlTs5OcLprWwD3pZj7-raY2ZDK5JgWiNPPeDceBgnqIIBipDL8RcipmEsBaU_2q07ssNZPQebWUwJN1TMD-ljfMpU0INR-mvL2WFEWTeawVe4YZbok87l0qU98Nv-3iGiCeobxAfZxMiMIlygvyH5lZGIJMwSoI7Ib5Q/s320/LUAR%20COM%20VENTO.jpg


Houve uma noite que cintilou sobre o teu rosto
e modelou tua voz entre as algas.
Eu moro, desde então, nas pedras frias que o céu protege
e estudo apenas o ar e as águas.

Coitado de quem pôs sua esperança
nas praias fora do mundo...
-- Os ares fogem, viram-se as água,
mesmo as pedras, com o tempo, mudam.

Cecília Meireles. Valsa. In: Obra poética. Rio de Janeiro, Aguilar, 1958. p. 52.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 217.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal sensação evocada pelo poema?

      A principal sensação evocada é a nostalgia. A poeta relembra momentos passados com um amado, evocando imagens da natureza e da memória para reconstruir esse passado.

02 – Que elementos da natureza são utilizados para representar a memória e o tempo?

      A lua, o vento, as águas e as pedras são os principais elementos naturais utilizados para simbolizar a memória e o tempo. A lua ilumina as lembranças, o vento traz de volta lugares e momentos, as águas representam a fluidez do tempo e as pedras simbolizam a permanência e a transformação.

03 – Qual o significado da expressão "pedras frias que o céu protege"?

      As "pedras frias que o céu protege" podem ser interpretadas como um refúgio solitário, um lugar onde a poeta se isola para refletir sobre o passado e o presente. As pedras representam a solidão e a imutabilidade, enquanto o céu simboliza a proteção e a transcendência.

04 – Qual a mensagem principal do poema?

      A mensagem principal do poema é a efemeridade das coisas e a importância de valorizar os momentos presentes. A poeta nos alerta que as memórias, por mais intensas que sejam, podem se transformar com o tempo, e que a felicidade não está em buscar por lugares distantes, mas sim em apreciar a beleza do presente.

05 – Qual o papel da natureza na construção do poema?

      A natureza desempenha um papel fundamental na construção do poema, servindo como um cenário para as lembranças da poeta e como uma metáfora para os sentimentos e as emoções humanas. Os elementos naturais são utilizados para criar uma atmosfera poética e para transmitir a ideia de que a natureza e o ser humano estão interligados.