sábado, 3 de dezembro de 2022

ENTREVISTA - MARTIN SELIGMAN - REVISTA ÉPOCA - LETÍCIA SORG - COM GABARITO

 ENTREVISTA – MARTIN SELIGMAN

 Martin Seligman: “Todo mundo pode florescer”

O psicólogo americano, criador da psicologia positiva, diz que uma vida boa é mais do que manter um sorriso no rosto e está ao alcance de qualquer um.

Letícia Sorg

Entrevista publicada na Revista Época, disponível em: https://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI235122-15228,00.html

Um dos principais defensores da importância da felicidade, o psicólogo americano Martin Seligman está revendo seus conceitos. Em seu novo livro, Flourish (Florescer) , que será lançado no Brasil em outubro pela editora Objetiva, ele afirma que as emoções positivas estão supervalorizadas e que há pelo menos cinco caminhos para viver bem – ou florescer. Seligman explica sua nova teoria.

QUEM É
Nascido em 1942 em Albany, Nova York, Martin Seligman tem sete filhos e quatro netos

O QUE FEZ
Ex-presidente da Associação Americana de Psicologia, é criador da psicologia positiva

O QUE PUBLICOU
Mais de 20 livros, entre eles Felicidade autêntica (2002) e Florescer (2011)

ÉPOCA – Flourish questiona o papel da felicidade que o senhor antes defendia. O senhor está renegando sua própria teoria?

Martin Seligman – Minha ciência sempre foi um trabalho em construção. Não estou renegando, apenas corrigindo e ampliando o que fiz antes. Renegar é uma palavra forte demais, já que fazer ciência é mudar de ideia.

 ÉPOCA – Qual é a principal mudança?

Seligman – Deixar de entender a felicidade, as emoções positivas, como o objetivo final comum, como o único fator no qual as pessoas baseiam suas escolhas. Em vez disso, há cinco objetivos: felicidade, relacionamentos, propósito, engajamento e realizações. Se você pensar num avião, não há um único número que diga como ele está. É preciso checar altitude, velocidade, nível de combustível, temperatura. De maneira semelhante, os humanos são muito complicados e não dependem de um único fator.

ÉPOCA – Não é o caso, então, de ampliar o que entendemos por felicidade?
Seligman – É preciso restringir o conceito de felicidade. Perseguir só a felicidade é enganoso. Não que eu seja contra a carinha sorridente perpetuada por Hollywood, mas as emoções positivas são só parte do que motiva as pessoas.

ÉPOCA – A personalidade é o fator mais importante para a felicidade. Como ela influencia nossa capacidade de florescer?
Seligman – Um de meus principais interesses é a resiliência, a capacidade de recuperação quando algo de ruim acontece. Descobrimos que a personalidade ajuda a prever quem, diante de um desafio, vai ficar deprimido ou crescer. Em geral, os otimistas são aqueles que superam as dificuldades. Não importam os fatores externos, mas quanto você considera que a dificuldade é temporária, e a realidade mutável.

ÉPOCA – Quem é pessimista também pode florescer?
Seligman – Você pode ser deprimido e florescer; ter câncer, ser esquizofrênico e florescer. Essas condições atrapalham, mas não anulam a possibilidade. Essa é a principal vantagem de olhar para os cinco fatores, em vez de só ver as emoções positivas. Há muitas maneiras de aumentar seu engajamento, de melhorar suas relações pessoais, de ter mais propósito e de se sentir realizado. É possível aumentar a duração e a intensidade da felicidade, mas apenas dentro dos limites biológicos de quem você é. Se só as emoções positivas importassem, o máximo que poderíamos melhorar é de 5% a 15%.

ÉPOCA – Se a felicidade não é assim tão importante, por que governos como o do Reino Unido estão começando a medi-la?
Seligman – Há quem diga que governos devem pensar em aumentar a felicidade das pessoas. Eu digo que é preciso aumentar os cinco elementos. Pense em Madre Teresa. Era solitária, mas teve uma vida cheia de sentido e floresceu ajudando os outros. Fazemos trocas, e é isso que os governos têm de fazer.

SORG,Letícia. ELIAS,Juliana. O mito da felicidade.Época.

Disponível em: http://revistaepocaglobo.com/Revista/Epoca/O.EM1235122-15228html Acesso em: 22 fev 2018.

 Leia mais: https://psicoterapiaepsicologia.webnode.com.br/products/entrevista-martin-seligman/

Fonte: Maxi: ensino fundamental 2:multidisciplinar:6 º ao 9º ano/obra coletiva: Thais Ginicolo Cabral. 1.ed. São Paulo: Maxiprint,2019.7º ano Caderno 3 p.78 e 79.

Entendendo o texto

01. De que modo Martín Seligman justifica não estar “renegando” sua própria teoria?

O psicólogo alega tratar-se de uma correção e de uma ampliação de seu trabalho, já que sua ciência sempre foi um trabalho em construção o que, segundo ele, fazer ciência é mudar de ideia.

02. Explique a principal mudança apresentada no livro Flourish, segundo a entrevista.

A felicidade e as emoções deixam de ser consideradas o único fator no qual as pessoas baseiam suas escolhas, em vez disso, há cinco objetivos: felicidade, relacionamentos, propósito, engajamento e realizações.

03. Por que Martin Seligman afirma que essas mudanças não correspondem a uma ampliação do que entendemos por felicidade?

Segundo o psicólogo, o conceito de felicidade deve ser restrito, pois perseguir apenas a felicidade é enganoso.

04. Considerando as regras de concordância nominal, leia as orações inspiradas na reportagem e responda às perguntas que seguem.

I.             Buscamos sentimentos e emoções positivas.

a)A concordância do adjetivo “positivas” está adequada às regras da norma-padrão da língua portuguesa? Por quê?

Sim, o adjetivo na função de adjunto adnominal, localizado depois dos substantivos, pode concordar com o substantivo mas próximo.

b)Existe outra possibilidade de concordância para esse adjetivo? Explique.

Sim, nesse caso, o adjetivo também poderia concordar com todos os substantivos.

c)Como seria feita a concordância desse adjetivo se ele estivesse antes dos substantivos?

Antes dos substantivos, na função de adjunto adnominal, o adjetivo só pode concordar com o substantivo mais próximo.

II.           Os efeitos e as causas das dificuldades são temporários.

a)Por que a concordância do adjetivo “temporários” está no masculino plural?

Porque, nesse enunciado, desempenha papel de predicativo do sujeito e está depois dos substantivos assim, deve, obrigatoriamente, concordar com todos eles.

b)Haveria a possibilidade de o adjetivo concordar no singular?

No caso desse enunciado não.

 

TIRINHA: LENDA DE CURITIBA - ARMANDINHO - ONOMATOPEIA - INTERJEIÇÕES - VERBO HAVER - COM GABARITO

 TIRINHA: LENDA DE CURITIBA – ARMANDINHO - ONOMATOPEIA – INTERJEIÇÕES- VERBO HAVER



Fonte da imagem: https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Ftirasarmandinho.tumblr.com%2Fpost%2F150185003574%2Fcuritiba-seguindo-para-o-segundo-dia-da-bienal-de&psig=AOvVaw0_dHB0quf3z2OwdKvaA_4c&ust=1670176396886000&source=images&cd=vfe&ved=0CA0QjRxqFwoTCMig8YqC3vsCFQAAAAAdAAAAABAD

Entendendo o texto

01. Faça uma interpretação da mudança na expressão de Armandinho nos dois primeiros quadrinhos.

No primeiro ouve a lenda contada pelo pai; no segundo sorri, animado com a possibilidade de “virar capivara”.

02. Identifique as duas interjeições e a onomatopeia presentes na tirinha, indicando o que elas expressam.

As interjeições são “He! He!”, risada de Armandinho “Ah” – desapontamento do pai.

A onomatopeia é “Splash!” – barulho de Armandinho na lagoa.

03. Releia a seguir a fala do pai de Armandinho:

            Há uma lenda, aqui em Curitiba...

a)   Qual o sujeito dessa oração? Justifique sua resposta.

Sujeito – inexistente, verbo haver, nesse caso, é impessoal. (existir)

b)   Classifique o verbo haver quanto a transitividade, indique seu complemento e seu núcleo, se houver.

Haver: verbo transitivo direto, uma lenda (OD), lenda (NOD) núcleo.

c)   A oração analisada no item anterior tem predicado verbal ou predicado nominal? Justifique sua resposta e indique o núcleo do predicado.

A oração tem predicado verbal, pois haver é um verbo significativo. O núcleo é o próprio verbo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

ARTIGO DE OPINIÃO: IMPORTÂNCIA DO SONO NA ADOLESCÊNCIA - RAFAELA FUSIEGER - COM GABARITO

 ARTIGO DE OPINIÃO: Importância do sono na adolescência

 Conheça estudos que evidenciam a necessidade de desfrutar de horas suficientes de sono, além de dicas que contribuem para dormir melhor

                                                                       2 jun 2017

          Um estudo citado pela Escola de Medicina de Harvard (Harvard Medical School) menciona que pesquisadores de Cingapura dividiram estudantes do ensino médio em dois grupos. Durante uma semana, os integrantes de um dos grupos dormiram nove horas por noite, já os participantes do outro grupo foram instruídos a dormir cinco horas. Os estudantes foram avaliados antes, durante e depois dessa semana de experiência. Os pesquisadores revelaram que o grupo que desfrutou de menos horas de sono apresentou mais problemas de função cognitiva, atenção e humor ao longo da semana, quando comparados com os outros estudantes. Além disso, foram necessárias duas noites de “sono de recuperação” para o organismo voltar ao normal.

          As informações acima evidenciam a importância do sono na adolescência. A Academia Americana de Medicina do Sono (American Academy os Sleep Medicine) recomenda que jovens de 13 a 18 anos durmam, pelo menos, de oito a dez horas ininterruptas em um período de 24 horas. Conforme a Escola de Medicina de Harvard, enquanto a quantidade de sono ideal pode variar de pessoa para pessoa, no caso das crianças e adolescentes o fato de não dormir horas suficientes pode ter consequência graves, pois o cérebro está em desenvolvimento e, portanto, é mais sensível aos impactos do sono deficiente.

 Dicas para dormir melhor

 Vinte a trinta minutos antes de dormir, estabeleça como rotina o estímulo a atividades tranquilas, como a prática de meditação, yoga ou leitura.

Evite que televisores, computadores, celulares, tablets e outros dispositivos de mídia eletrônica permaneçam no quarto durante o período programado para dormir.

Não faça ingestão de cafeína à tarde e à noite, pois o corpo pode passar até oito horas sob os efeitos dela, interferindo negativamente na qualidade do sono.

Faça lanches mais leves ou ingira uma porção menor de comida no jantar.

Tome banho quente antes de se deitar. Esse hábito costuma gerar sensações de sonolência e de relaxamento.

Mantenha um horário fixo para dormir e acordar todos os dias, evitando dormir em excesso aos fins de semana.

Evite sonecas após às 15h, pois isso pode dificultar o “pegar no sono” à noite.

                                        FUSIEGER, Rafaela.Viver bem. Unimed.

Disponível em: www.unimed.coop.br/./importancia-do-sono-na-adolescencia Acesso em: 26 fev 2018.

Fonte: Maxi: ensino fundamental 2:multidisciplinar:6 º ao 9º ano/obra coletiva: Thais Ginicolo Cabral. 1.ed. São Paulo: Maxiprint,2019.7º ano Caderno 3 p 56 a 60.

 Entendendo o texto         

 Qual foi o estudo citado pela Escola de Medicina de Harvard?

Pesquisadores de Cingapura dividiram estudantes do ensino médio em dois grupos.

A que esses grupos foram submetidos?

Durante uma semana, os integrantes de um dos grupos dormiram nove horas por noite, já os do outro grupo foram instruídos a dormir cinco horas.

Como foi feito o acompanhamento desse estudo?

Os estudantes foram avaliados antes, durante e depois dessa semana de experiência.

Os que os pesquisadores revelaram?

O grupo que desfrutou de menos horas de sono apresentou mais problemas de função cognitiva, atenção e humor ao longo da semana, quando comparados com os outros estudantes. Além disso, foram necessárias duas noites de “sono de recuperação” para o organismo voltar ao normal.

Qual é a recomendação da Academia Americana de Medicina do Sono com relação à importância do sono?

A Academia Americana de Medicina do Sono recomenda que jovens de 13 a 18 anos durmam, pelo menos, de oito a dez horas ininterruptas em um período de 24 horas.

Por que as consequências podem ser graves no caso das crianças e dos adolescentes que não dormem horas suficientes?

As consequências podem ser graves, pois o cérebro está em desenvolvimento e, portanto, é mais sensível aos impactos do sono deficiente.

Responda às questões que seguem sobre as dicas para dormir melhor.

Cite uma das dicas que você já pratica. Ela realmente faz você dormir melhor? Comente.

Resposta pessoal.

Como está a qualidade de seu sono? Existe alguma dica que consta ou não no texto, mas que você sabe que poderia ajudá-lo(a) a dormir melhor?

Resposta pessoal.

 

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

CONTO FANTÁSTICO: O HOMEM QUE SE ENDEREÇOU - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO - COM GABARITO

 Conto Fantástico: O homem que se endereçou

                              Ignácio de Loyola Brandão

 Apanhou o envelope e na sua letra cuidadosa subscritou a si mesmo:

Narciso, rua Treze, nº 21.

Passou cola nas bordas do papel, mergulhou no envelope e fechou-se. Horas mais tarde a empregada colocou-o no correio. Um dia depois sentiu-se na mala do carteiro. Diante de uma casa, percebeu que o funcionário tinha parado indeciso, consultara o envelope e prosseguira. Voltou ao DCT, foi colocado numa prateleira. Dias depois, um novo carteiro procurou seu endereço. Não achou, devia ter saído algo errado. A carta voltou à prateleira, no meio de muitas outras, amareladas, empoeiradas. Sentiu, então, com terror, que a carta se extraviara. E Narciso nunca mais encontrou a si mesmo.

BRANDÃO, Ignácio de Loyola.

O homem com o furo na mão e outras histórias. São Paulo. Ática, 1998.

Fonte: Maxi: ensino fundamental 2:multidisciplinar:6 º ao 9º ano/obra coletiva: Thais Ginicolo Cabral. 1.ed. São Paulo: Maxiprint,2019.7º ano Caderno 4 p.108-110.

Entendendo o texto

01. A história se inicia em um ambiente doméstico que poderia ser real e narra uma sequência de fatos que não têm a probabilidade de se realizarem. Que acontecimento estranho transpassou a realidade nesse conto?

O personagem ter entrado em um envelope como se fosse uma carta e seguido todo o transcurso de uma correspondência.

02. Qual é o tipo de narrador?

Narrador-observador.

03. Considere o contexto e infira o significado da sigla DCT.

Departamento de Correios e Telégrafos.

04. Sobre a estrutura do conto, indique:

a)   a situação inicial.

Narciso decide escrever uma carta para si mesmo, passa cola nas bordas do papel, mergulha no envelope e fecha-se. Horas mais tarde, a empregada coloca-o no correio.

b)   o conflito.

O carteiro para indeciso diante de uma casa, não encontra o endereço, e prossegue seu caminho.

Narciso acaba voltando ao DCT.

c)   clímax.

Outro carteiro procura o endereço, não encontra; algo deve ter saído errado, a carta volta à prateleira, no meio de muitas outras.

d)   o desfecho.

Narciso nunca mais encontrou a si mesmo.

05. Sobre a intenção do autor ao escrever esse conto, assinale V (verdadeiro) ou F (falso)

( F  ) O autor deseja apenas produzir um conto fantástico.

( V ) Existe uma crítica por trás do homem que “nunca mais encontrou a si mesmo”.

( V ) O nome Narciso faz uma intertextualidade com o mito Narciso.

( F ) Narciso é um nome escolhido aleatoriamente.

06. Ainda sobre esse texto, faça o que se pede.

a)   Retire do texto a palavra proparoxítona que pode, também, ser paroxítona terminada em ditongo.

Funcionário.

b)   O que propicia a dupla possiblidade de classificação quanto à posição da sílaba tônica dessa palavra? Comprove sua resposta.

O que propicia a dupla possibilidade de classificação quanto à posição da sílaba tônica dessa palavra é a separação silábica: fun-cio-ná-ri-o (proparoxítona), fun-cio-ná-rio (paroxítona terminada em ditongo).

c)   Retire a outra palavra acentuada e justifique sua acentuação.

Saído: í tônico, segunda vogal do hiato, sozinho na sílaba.

terça-feira, 29 de novembro de 2022

ROMANCE POLICIAL: O MISTÉRIO DO SOBRINHO PERFUMADO -(FRAG.LIVRO-DEZ MISTÉRIOS PARA RESOLVER)- HÉLIO DE OVERAL - COM GABARITO

 ROMANCE POLICIAL: O MISTÉRIO DO SOBRINHO PERFUMADO

(FRAGMENTO DO LIVRO: DEZ MISTÉRIOS PARA RESOLVER)

                                   Hélio de Overal

          Este caso, que Zezinho Sherlock também esclareceu com a maior facilidade, começou num sábado à tarde. Mas o nosso herói só soube dele no domingo, quando foi visitar o tio, o delegado Orlando Quental, chefe do Departamento Especial da Polícia. [...]

          - O que foi que aconteceu, desta vez?

          - Enforcaram uma velha agiota, em Bonsucesso. Temos um suspeito, mas não podemos provar nada contra ele. Esse suspeito, que esta detido na vigésima primeira delegacia, é um sobrinho da vítima. Também temos uma testemunha que o acusa de ter assassinado a velha, para roubar o dinheiro do cofre.

         - Ah! Essa testemunha viu alguma coisa?

         - Ai é que está. Não viu, mas sentiu. A testemunha é um cego.

         - Puxa! O caso é interessante, titio. Como é que um cego pode ser testemunha de vista?

          - Eu não disse que ele é testemunha de vista. Mas suas declarações comprometem o rapaz. E o cego não teria interesse em acusar o suspeito se não estivesse certo do que diz. O diabo é que o rapaz acabou confessando que esteve no local do crime, mas nega ter enforcado a tia.

           - Ele é o único herdeiro?

           - Parece que sim. A velha não tem outros parentes mais chegados. Morava sozinha e vivia de rendimentos e de emprestar dinheiro a juros.

            - Comece pelo princípio, titio – pediu Zezinho, cruzando as pernas e ajeitando um cacho de cabelos negros que teimava em cair sobre os seus óculos.

            - O caso é o seguinte ontem à tarde, alguém ligou para a delegacia de Bonsucesso e comunicou que havia uma mulher morta, num pardieiro de um beco, na Avenida dos Democráticos. Uma patrulhinha, que estava nas proximidades, correu ao local e ali encontrou o corpo da Sra. Matilde Rezende. A polícia já a conhecia de nome e sabia que ela era agiota e avarenta, mas nunca a incomodou. É difícil provar que os agiotas estão agindo fora da lei. [...] Ora, a empregada jurou que a patroa tinha muito dinheiro naquele cofre.

            - Ah! Então, temos uma empregada, hein?

            - Sim. É uma outra velha, ausente na hora do crime. Tinha ido fazer compras e só voltou quando a polícia já estava na casa. Ela disse que não sabia quem tinha ido visitar a patroa, mas afirmou que o sobrinho dela é um marginal, desempregado crônico, e andava de olho no dinheiro da tia.

            - Nem todo desempregado é marginal, titio. Assim como nem todo pistoleiro é bandido, pois a polícia também usa pistola. Roubaram tudo do cofre? Se a vítima emprestava dinheiro a juros, devia haver alguma promissória, ou  vale, ou essas coisas que eu não conheço direito...

             - Havia outros papéis, na sala, mas jogados no chão. O assassino deve ter obrigado a velha a abrir o cofre, para roubar o dinheiro. Só deixou os documentos.

              - E onde é que entra o cego? – perguntou Zezinho, deleitado com a história. – O cego é um marginal, um camelô sem licença, que estava na entrada do beco. Alguns vizinhos o viram ali, com um cachorro e um tabuleiro, desde manhã cedo.

             - Nem todo camelô é marginal – repetiu Zezinho Sherlock. – A polícia tem o costume de dizer que o que não é direito está torto, mas há um exagero nisso... E o que foi que esse cego viu? Ou melhor: o que foi que ele pressentiu?

             O Dr. Quental apanhou um papel datilografado em cima da escrivaninha e consultou-o.

             - Tenho aqui o depoimento do cego – disse, depois, mostrando o papel. – Ele estava vendendo bijuterias, na entrada do beco, acompanhado pelo cachorro. Quando os patrulheiros chegaram tentou fugir, com o tabuleiro na cabeça, mas um soldado o apanhou logo adiante. Ele pensava que fosse o “rapa”..  Depois que o corpo da velha foi encontrado, o testemunho  do cego tornou-se muito valioso.

            - Por quê?

            - Porque ele identificou o sobrinho da vítima, pelo perfume. Ouça o que ele diz – e o delegado passou a ler um trecho do papel datilografado – “A certa altura, ouvi uns passos pesados e um homem, usando um perfume de alfazema, passou por mim e entrou no beco. E sei que era um homem porque seus passos eram pesados, e ele pigarreou. Um minuto depois, senti uma outra vez o mesmo perfume e o homem passou por mim, andando muito depressa, descabelado, quase correndo, como se estivesse fugindo de alguma coisa. Aprendi a conhecer as pessoas pelos passos e pelo cheiro. Direitinho como o meu cachorro.”

            - Exatamente. O rapaz tem vinte e cinco anos e não exerce nenhuma profissão. Já trabalhou como balconista de uma loja de ferragens, mas foi despedido há três anos. Quando foi detido, negou ter estado na casa da tia, mas o seu perfume o denunciou. Ele usa uma loção de lavanda inglesa.

             - Certo – murmurou Zezinho. – Alfazema e lavanda inglesa é a mesma coisa... E depois o rapaz acabou confessando que esteve no pardieiro?

              - Pois é. Acabou confessando. Mas disse que encontrou a porta aberta e a tia morta, na sala. [...] então saiu correndo e telefonou para a polícia, mas não se identificou. O que é que você acha disso?

              - Tudo me parece claro, titio – disse Zezinho Sherlock. – O sobrinho perfumado pode estar dizendo a verdade, pois o cego é um grande mentiroso! [...]

             Por que Zezinho chegou a essa conclusão?

 OVERAL, Hélio de. Dez mistérios para resolver. Rio de Janeiro. Ediouro,1986. p.30-35.

Fonte: Maxi: ensino fundamental 2:multidisciplinar:6 º ao 9º ano/obra coletiva: Thais Ginicolo Cabral. 1.ed. São Paulo: Maxiprint,2019.7º ano Caderno 4 p.88 a 92.

 ENTENDENDO O TEXTO

01. Que tipo de narrador o texto apresenta? Comprove sua resposta com um trecho do texto.

Narrador-observador. “O Dr. Quental leu e releu o depoimento do cego[...]”

02. Especifique, a seguir, quais características atribuídas a cada um dos personagens.

a)   Zezinho Sherlock:

Usava óculos, tinha cabelos negros e cacheados, é o herói da história.

b)   Orlando Quental:

Delegado, chefe do Departamento Especial da Polícia.

c)   Sra. Matilde Rezende:

Era agiota e avarenta.

d)   Cego:

Um camelô sem licença.

e)   Sobrinho da vítima:

Desempregado há três anos, usava um perfume de alfazema.

03. O mistério da história que você leu corresponde a um crime. Sabendo disso, responda às questões a seguir.

a)   Quando o crime aconteceu?

O crime aconteceu em um sábado à tarde.

b)   Onde?

A vítima foi enforcada em um pardieiro de um beco, na Avenida dos Democráticos.

c)   Quem foi a primeira pessoa a ver a vítima?

Tudo indica que foi o sobrinho, pois ele alega ter encontrado a porta aberta e a tia morta na sala, mas ele fugiu e telefonou para a polícia.

04. Nas histórias de detetive, o modo como a narração acontece acaba por sugerir ao leitor suspeitos que possam ter motivos ou um interesse para realizar o crime.

Que suspeito é sugerido no texto? Justifique sua resposta.

O texto aponta o sobrinho da vítima como suspeito de cometer o crime. A empregada afirma a polícia que ele é um marginal, desempregado crônico e andava de olho no dinheiro da tia.

05. Determine as informações referentes à sequência narrativa da história,

a)   Situação inicial:

Zezito Sherlock visita o tio e fica sabendo do assassinato da Sra. Matilde Rezende.

b)   Conflito:

Há um suspeito detido, sobrinho da vítima, mas nada se pode provar contra ele, pois, a testemunha que o acusa de ter assassinado a tia é um cego.

c)   Clímax:

O delegado Quental faz a leitura do depoimento da testemunha a Zezito.

d)   Desfecho:

Zezito Sherlock esclarece o caso, dizendo que o cego é um grande mentiroso.

06. Na situação inicial, o narrador afirma que Zezito Sherlock esclareceu o caso com a maior facilidade.

a)   Em que momento o herói da história percebe que o sobrinho perfumado pode estar dizendo a verdade?

Zezito Sherlock percebe que o cego está mentindo ao ouvir seu testemunho, lido pelo tio.

b)   Como ele chega à conclusão de que o cego é um grande mentiroso?

O cego afirma ter identificado o sobrinho por meio de seu perfume e de passo pesado, mas também diz que ele estava descabelado, o que faz Zezito concluir que o camelô não era cego (ou completamente cego).

07. Identifique os personagens comuns às histórias de detetive:

a)   Detetives – Zezinho Sherlock e o detetive Orlando Quental

b)   Vítima – Sra. Matilde Rezende

c)   Suspeitos – O cego e o sobrinho perfumado

d)   Culpado – O cego

e)   Inocente – O sobrinho perfumado

 

 

 

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

REPORTAGEM: RAÇA, RACISMO, IDENTIDADE E ETNIA - COM GABARITO

 REPORTAGEM: RAÇA, RACISMO, IDENTIDADE E ETNIA

             O primeiro ouro brasileiro nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, foi conquistado por uma mulher. A judoca Rafaela Silva, 24 anos, foi também a primeira atleta negra, entre homens e mulheres, a subir ao lugar mais alto do pódio na Rio-2016. Depois dela, a norte-americana Simone Manuel, 20, sagrou-se como a primeira negra campeã olímpica de uma prova individual da natação na história das Olimpíadas. Ao lado da colega de time Lia Neal, 21, ela fez com que os Estados Unidos tivessem, pela primeira vez, duas nadadoras negras representando o país em uma mesma prova da modalidade – no revezamento 4 x 100m livre.

            “As mulheres entraram nas Olimpíadas, mas nunca todas as mulheres. Estamos tendo um levante negro, preto, significativo no evento. São mulheres que estão se empoderando em espaços onde antes nunca haviam ocupado”, reflete Yordanna Lara Pereira Rêgo, professora e pesquisadora de relações de gênero da Universidade Federal de Goiás (UFGO).

             Um movimento que não foi planejado internamente no Brasil, mas que se reflete de fora para dentro. “Não é só a mulher preta brasileira que está se empoderando, mas de todo o mundo e as Olimpíadas evidenciam isso, o que se torna uma porta importante”, explica a pesquisadora.

       NUNES, Maira.Há 14 anos, Olimpíadas do Rio-2016 viviam protagonismo de mulheres negra.

Correio Braziliense,14 ago 2020.Disponível em: https:/blogs.correiobraziliense.com.br/elasnoataque/mulheres-negras-olimpiadas-rio-2016. Acesso em: 10 mar.2021.

Fonte: Formação Geral Básico: Ensino Médio: Sociologia: Caderno 8: Caderno do professor/Angelo Pereira Campos, Luiz Cláudio Pinho. 1 ed.- São Paulo: SOMOS Sistemas de Ensino, 2020.p.7/8.

Reflita sobre o conteúdo da reportagem e explique a ideia do empoderamento representado pelo destaque das atletas negras nos Jogos Olímpicos de 2016. Apresente exemplos de outras mulheres negras ocupando espaços sociais anteriormente interditados por razões étnicas.

A reportagem anuncia em tom otimista o fato de muitas atletas negras terem se destacado em um evento de relevância mundial, o que é um sinal de empoderamento da mulher negra em um cenário tradicionalmente ocupado por homens brancos. A noção de empoderamento significa a capacidade de superar condições adversas enfrentadas por uma minoria – neste caso, as mulheres negras – em todos os segmentos sociais e estabelecer uma imagem simbólica de força e poder capaz de inspirar outras pessoas que compartilham da mesma condição. A noção de empoderamento transparece na trajetória de mulheres negras como as cantoras Leci Brandão, Alcione e Iza, a escritora Carolina de Jesus e as filósofas e ativistas Djamila Ribeiro e Angela Davis.

REPORTAGEM: O PAPEL DA JUSTIÇA DIANTE DOS PROCESSOS DE DISCRIMINAÇÃO E RACISMO - COM GABARITO

 REPORTAGEM: O PAPEL DA JUSTIÇA DIANTE DOS PROCESSOS DE DISCRIMINAÇÃO E RACISMO

 TEXTO I

          De acordo com o Censo dos Magistrados, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2013, 64% dos juízes são homens e 82% são ministros dos tribunais superiores. No quesito cor/etnia: 84,5% são brancos, 15,4% são pretos/pardos e 0,1% indígenas. A idade média de juízes é de 45 anos para desembargadores e ministros comuns, e de 42 anos para os juízes da Justiça Federal.

ALVES, Dina. Rés negras, juízes brancos: uma análise da interseccionalidade de gênero, raça e classe na produção da punição em uma prisão paulistana. Revista CS,Cali, n.21. p.97-120, jan.-abr.2017, p.110. Disponível em: www.scielo.org.co/pdf/recs/n21/2011-0324-recs-21-00097.pdf. Acesso em: 20.jan.2021.

 

TEXTO II

          Ser negra, pobre e mulher são fatores decisivos que influenciam as decisões judiciais na aplicação da lei penal e no encarceramento em massa. Entender o legado do sistema da escravatura no Brasil, como constituinte do atual sistema penal pode se revelar importante meio para uma democratização da Justiça. Mais ainda, reconhecer a especificidade da mulher negra encarcerada é importante para perceber como tais categorias produzem um complexo e difuso sistema de privilégios e de desigualdades que se refletem na realidade carcerária em São Paulo, especialmente no que se refere às mulheres negras encarceradas. A igualdade formal preconizada pela Constituição Federal garante a todas as pessoas os direitos fundamentais e sociais de forma isonômica. Mas, o poder judiciário reconhecer a existência do racismo institucional é um passo fundamental, pois mesmo na igualdade formal, em que todos e todas são iguais perante a lei, existem mecanismos “invisíveis” de discriminação que fazem com que algumas pessoas sejam menos iguais ou menos humanas, ou não humanas. As práticas rotineiras de policiamento de comunidade predominantemente negras e o crescimento nas estatísticas prisionais de mulheres negra, bem podem ser lidos como um diagnóstico da insidiosa persistência do racismo e da colonialidade da justiça criminal no Brasil contemporâneo.

ALVES, Dina. Rés negras, juízes brancos: uma análise da interseccionalidade de gênero, raça e classe na produção da punição em uma prisão paulistana. Revista CS,Cali, n.21. p.97-120, jan.-abr.2017, p.110. Disponível em: www.scielo.org.co/pdf/recs/n21/2011-0324-recs-21-00097.pdf. Acesso em: 20.jan.2021.

  Fonte: Formação Geral Básico: Ensino Médio: Sociologia: Caderno 8: Caderno do professor/Angelo Pereira Campos, Luiz Cláudio Pinho. 1 ed.- São Paulo: SOMOS Sistemas de Ensino, 2020.p.11 e 12.

a)   Considerando o perfil sociológico dos magistrados e da população carcerária, explique por que, segundo a autora do texto II, o funcionamento da justiça reforça a desigualdade na sociedade brasileira.

A pesquisa realizada a partir da análise de sentenças judiciais revelou que, em um sistema carente de representatividade em relação às pessoas que exercem cargos na magistratura, a avaliação dos juízes fica prejudicada. Predomina um perfil masculino e de idade avançada.

Há uma sobreposição de desigualdades, o que denominamos de interseccionalidade de gênero, raça e classe. A falta de pessoas negras e mulheres e, ainda, o perfil econômico do magistrado transformam a justiça em um mecanismo reprodutor das desigualdades, uma vez que há poucas pessoas que vivenciaram o racismo, o machismo e o preconceito de classe entre os representantes do Poder Judiciário brasileiro. Sem empatia entre juízes e as mulheres negras como rés, as sentenças são expedidas sem levar em conta a estrutura social.

 

b)  Compare o funcionamento do sistema prisional brasileiro às políticas segregacionistas do apartheid sul-africano. Estabeleça semelhanças e diferenças entre os dois.

Como política de confinamento voltada para grupos étnicos-raciais, o apartheid foi organizado pelo governo da África do Sul quando liderado por descendentes dos colonizadores brancos. As autoridades governamentais sul-africanas impuseram leis que determinavam os padrões de comportamento que deveriam ser adotados pelas maiorias étnicas que foram minorizadas por práticas injustas previstas em leis, como a Lei do Passe, que exigia passaporte para os negros poderem frequentar espaços públicos. No sistema prisional brasileiro, as leis são formalmente livres de preconceitos, são feitas para todos. No entanto, elas são interpretadas e aplicadas de forma racista, devido à atuação dos magistrados que são brancos e estabelecem as sentenças sem levar em conta a estrutura social e as condições sociais dos acusados. Nas periferias, comunidades e favelas, o policiamento age de forma seletiva. A questão racial permeia o tratamento que o Estado dá ao problema da criminalidade e da segurança pública.