Conto: O VEADO E A ONÇA – Parte 1
Ana Maria Machado
Há muitos e muitos anos, quando as
mulheres e os homens que viviam por aqui eram índios, quando o chão era só de
terra e quem voava mais alto no céu era o gavião, morava lá no fundo da mata um
veado que um dia resolveu fazer uma casa.
Andou de um lado para outro para
escolher um lugar. Descobriu um platô interessante, no alto de um barranco,
onde não ficava passando bicho toda hora. Era perto de um rio encachoeirado, se
ele quisesse beber água. Era protegido por umas árvores grandes, que não
deixavam o vento forte chegar.
O veado resolveu que era aquele lugar
que queria e começou a limpar o terreno. Arrancou uns matos rasteiros, tirou
umas moitas que estavam atrapalhando, cortou os galhos mais baixos das árvores.
Trabalhou o dia inteiro. Quando o sol
foi se pondo, estava cansado e foi dormir na casa dos pais, para voltar no dia
seguinte.
Quando já era noite alta e a lua
brilhava no céu, apareceu por ali uma onça que ultimamente vinha pensando muito
em fazer uma casa. Aproveitava quando saía para caçar e procurava um terreno
bom.
A onça viu aquela clareira já limpinha
e disse:
– Que bom! Este lugar é perfeito! O
deus da mata está me ajudando! Vou logo cortar umas varas para fazer esteios da
casa e amanhã à noite eu começo ...
Trabalhou a noite inteira. Quando o sol
foi nascendo, estava cansada e foi dormir na casa dos pais, para voltar na
noite seguinte.
Daí a pouco chegou o Veado. Viu aquela
pilha de varas cortadas e preparadas e disse:
–
Que bom, estas varas estão perfeitas! O deus da mata está me ajudando! Vou
marcar o lugar da casa e fincar os esteios no chão, bem firme...
Trabalhou o dia inteiro. Quando o sol
foi se pondo, estava cansado e foi dormir na casa dos pais, para voltar no dia
seguinte.
Daí a pouco chegou a onça. Viu os
esteios já colocados e disse:
– Que bom! O deus da mata continua me
ajudando!
Foi até um taquaral ali perto e tirou
uma porção de taquaras, que são uma espécie de bambu, levinho. Fez uma pilha
enorme.
Trabalhou a noite inteira. Quando o sol
foi nascendo, estava cansada e foi dormir na casa dos pais, para voltar na
noite seguinte.
Daí a pouco chegou o veado. Viu aquela
pilha de taquaras e disse:
– Que bom! O deus da mata continua me
ajudando!
Foi pegando as taquaras uma a uma e
fincando entre os esteios, nuns espacinhos pequenos, só deixando livre o lugar
das portas e janelas. Depois, cortou uma porção de cipós e embiras para no
outro dia amarrar o resto das taquaras atravessadas por cima daquelas, fazendo
uns quadrados.
Trabalhou o dia inteiro. Quando o sol
foi se pondo, estava cansado e foi dormir na casa dos pais, para voltar no dia
seguinte.
Daí a pouco chegou a onça. Viu as paredes
adiantadas, os cipós e as embiras cortados, e disse:
– Que bom! O deus da mata continua
me ajudando!
Tratou de usar os cipós e as embiras
para prender o resto das taquaras, fazendo uma malha forte de quadrados.
Trabalhou noite inteira. Quando o sol
foi nascendo, estava cansada e foi dormir na casa dos pais, para voltar na
noite seguinte.
Daí a pouco chegou o veado. Viu aquela
malha de taquaras pronta e disse:
– Que bom! O deus da mata continua me
ajudando!
Foi buscar água no rio, misturou com a
terra do alto do barranco, fez um barro bem barrento e foi jogando sobre a
malha de taquaras para fechar os quadrados e ir fazendo as paredes. Conseguiu
completar duas antes de escurecer.
Trabalhou o dia inteiro. Quando o sol
foi se pondo, estava cansada e foi dormir na casa dos pais, para voltar no dia
seguinte.
Daí a pouco chegou a onça. Viu aquelas
duas paredes fechadas e disse:
– Que bom! O deus da mata continua me
ajudando!
Foi buscar mais água no rio, misturou
com mais terra do alto do barranco, fez um barro bem barrento, trabalhou a
noite toda e completou as outras duas paredes.
Quando o sol foi nascendo, estava
cansada e foi dormir na casa dos pais. Para voltar na noite seguinte.
E assim ficaram os dois. O veado alisou
as paredes, a onça fez a cumeeira; o veado cortou folhas da palmeira, a onça
cobriu o telhado; o veado foi buscar bambu grosso, a onça fez um encanamento
que levava água do rio até a casa; o veado serrou umas tábuas, a onça fez as
janelas e portas.
Trabalharam muito, dia e noite, sempre
achando que o deus da mata estava ajudando. Até que a casa ficou pronta.
No fim do último dia trabalhado, todo
animado, o Veado resolveu que não ia dormir na casa dos pais: ia ficar ali para
passar a primeira noite em sua casinha nova.
Tomou banho, comeu umas folhas
gostosas, fez uma fogueirinha no quintal para espantar mosquito e ficou em
frente da casa olhando as estrelas e esperando o sono chegar.
Mas quem chegou foi a Onça. Quando viu
aquela cena, ficou furiosa:
– Mas que folga! Então não se pode mais
nem sair para visitar parentes que logo aparece um malandro para invadir a
nossa casa? Saia daqui imediatamente!
MACHADO, Ana Maria. Histórias à
brasileira. A moura torta e outras. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002.
p. 35-9.
Fonte: Língua portuguesa – Coleção
Brasiliana – 5° ano – Ensino Fundamental – IBEP – 2ª ed. São Paulo – 2011. p.
32-7.
Entendendo o conto:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Clareira: terreno desmatado ou com poucas árvores, em mata ou bosque.
·
Cumeeira: parte mais alta do telhado.
·
Embiras
(embira): árvore cuja casca produz um cipó
usado para fabricar cordas, redes, cestos e outros utensílios; cipó usado para
amarrar.
·
Esteios
(esteio): peça de madeira ou ferro que
serve para segurar ou escorar alguma coisa.
·
Platô: lugar elevado e plano.
02 – Como você imaginou que
seria a construção de uma casa numa “parceria” entre um veado e uma onça?
Resposta pessoal do aluno.
03 – Como foi possível o
veado e a onça construírem uma casa sem se encontrar?
Porque o veado trabalhava na construção
durante o dia, e a onça trabalhava durante a noite.
04 – Onde eles moravam antes
de terminar a casa?
Na casa dos pais.
05 – Os dois animais, embora
escolhessem o mesmo lugar para construir a casa, tiveram motivos diferentes.
Reproduza a tabela abaixo em seu caderno e explique quais foram as razões de
cada um para a escolha do lugar.
·
Veado: 2° parágrafo.
·
Onça: 7° parágrafo.
06 – Tanto o veado quanto a
onça trabalharam na construção da casa. Escreva quem fez o quê.
a) Cortou varas para o esteio. Onça.
b) Marcou o lugar da casa e fincou os esteios. Veado.
c) Pegou taquaras e fez uma pilha enorme. Onça.
d) Fincou as taquaras entre os esteios e cortou cipós e embiras. Veado.
e) Usou os cipós e as embiras para prender o resto das taquaras. Onça.
f) Buscou água no rio, misturou com terra e fez as paredes com esse barro. Veado.
g) Alisou as paredes. Veado.
h) Fez a cumeeira. Onça.
i) Cortou folhas de palmeiras. Veado.
j) Cobriu o telhado. Onça.
k) Buscou bambu grosso. Veado.
l) Fez o encanamento. Onça.
m) Serrou umas tábuas. Veado.
n) Fez janelas e portas. Onça.
07 – Quando a onça e o veado
voltaram para o local onde a casa estava sendo construído, não estranhavam o
fato da construção continuas avançando. Por quê? A quem eles atribuíram o fato?
Atribuíram ao
deus da mata.
08 – Apenas quatro
alternativas respondem à próxima pergunta. Copie as alternativas corretas. O
que o veado fez no fim do último dia da construção da casa?
Ele resolveu que iria mais cedo para a casa dos pais.
·
Decidiu que passaria a primeira
noite em sua casinha nova.
·
Deitou-se observando o teto e tirou um longo
cochilo.
·
Tomou banho e comeu umas folhas
gostosas.
·
Fez uma fogueirinha no quintal para
espantar os mosquitos.
·
Ficou em frente da casa olhando as
estrelas e esperando o sono chegar.
09 – Releia, a seguir, a
introdução do conto e copie somente as três alternativas corretas, referentes a
ela.
“Há
muitos e muitos anos, quando as mulheres e os homens que viviam por aqui eram índios,
quando o chão era só de terra e quem voava mais alto no céu era o gavião,
morava lá no fundo da mata um veado que um dia resolveu fazer uma casa.”
·
Nessa introdução estão
apresentados: o tempo, o local da ação e os personagens.
·
Na introdução do conto, o tempo e o local são
definidos de uma forma precisa.
·
Nessa introdução são apresentados:
tempo, lugar e personagens.
·
O tempo “há muitos e muitos anos” e
o local “lá no fundo da mata” não são tão importantes no conto, por isso
aparecem de forma imprecisa.
10 – Nesta primeira parte do
conto “O veado e a onça”, quais são as personagens?
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: O veado e a onça.
11 – Junto com um colega,
localize no texto as expressões que se referem a essas personagens. Veja o
exemplo e transcreva essas repetições. Exemplo: “Trabalhou o dia inteiro. /
trabalhou a noite inteira”.
Resposta pessoal
do aluno.
12 – Os contos populares são
histórias contadas oralmente de geração a geração. Na sua opinião, qual a
importância das repetições para essas histórias?
Resposta pessoal
do aluno.