domingo, 26 de junho de 2022

TEXTOS: O UNIVERSOS - COM GABARITO

 Textos: O Universos

Texto 1

        A pulsação era suave, contínua, incessante. Não havia nada além dela. Tudo- o calor, o alimento, até as ondas confusas de pensamentos e sua mente – embalava-se ao ritmo daquela pulsação eterna, compassada, confortável.

        Conforto. O Universo inteiro era um lugar morno e macio. Existir era flutuar naquele líquido desde sempre, sentindo-se crescer aos poucos. Sem interrupções. Sem peso. Sem esforço. O alimento chegando em intervalos pausados, a força e o prazer de mover os membros vagarosamente, chutar as membranas em volta. Flexíveis, macias ... Dormir e acordar tranquilamente, como se os sonhos fossem apenas o outro lado dos pensamentos. Tão parecidos! Era bom existir.

        O movimento começara imperceptivelmente, pequena variação no pulsar costumeiro. Nada de mais, apenas um novo balanço a embalar seu sono. Porém com o passar dos minutos foi se intensificando, sobrepondo-se ao outro pulsar, sacolejando as membranas macias que de repente pareciam enrijecer.

        Desconforto. Urgência. O universo todo de repente empurrando seu corpo como se o quisesse expelir. E o movimento ficando mais forte, anulando a pulsação conhecida, causando dor, impedindo o prazer de flutuar. Pela primeira vez sentiu medo.

        Subitamente todo o líquido pareceu escoar-se, e absurda sensação de frio envolveu-o. Um empurrão mais forte e o frio se tornou insuportável: o universo como que explodia em dolorosa luz, ofuscando-lhe os olhos, penetrando-lhe à força. Uma lufada gelada ardeu-lhe, das narinas até as profundezas do corpo.

        Quis voltar ao calor e à maciez da existência de antes, mas seu universo não mais existia. E ao frio intenso, ao desconforto e à agressão respondeu tentando expulsar o ar gelado pela boca. Gritou.

Texto 2

        Os pensamentos confusos, que durante um bom tempo se haviam misturado a sonhos em sua mente, finalmente se concentraram em um só. Estou acordado.

        Precisou de todas as forças de que dispunha para controlar o medo e não gritar. Repassou mentalmente o treinamento, os exercícios, as noções teóricas que agora testaria na prática.

        Desenvolvendo equações mentais, conseguiu evitar a lembrança do desconforto que lhe causava a roupa, os aparelhos gelados pressionando seu corpo, tubos invadindo-lhe a pele para a introdução de alimentos e a retirada de resíduos.

        Nada além de dor e frio, luzes incomodando-lhe os olhos, ardores e arrepios maltratando-lhe o corpo. Tentou ajustar-se ao assento da nave. Anatômico, asseguravam os técnicos. Mas desconfortável para quem ali permanecesse por muito tempo.

        Finalmente tomou coragem e abriu os olhos. A cápsula continuava com o mesmo aspecto de que se lembrava, antes de ser induzido ao sono. Os aparelhos indicavam exatamente o que deveriam indicar. Checou os números e mapas, aproveitando a concentração da atenção nos detalhes técnicos para amenizar o desconforto físico. Sim, estava acordado e em boas condições. Sobrevivera aos testes, ao lançamento, ao longo período em estado de hibernação. E localizava-se agora na região desconhecida.

        Foi então que teve coragem de olhar pela primeira vez o visor. Invadiu-o sensação estranha, inesperada. Aquela região não lhe era desconhecida.

        Soltou as travas que o retinham no assento. Deixou o corpo flutuar com a falta de gravidade, como se tivesse feito aquilo a vida toda, e aproximou-se do visor agarrando os corrimões instalados para essa finalidade. Junto ao posto de observação teve melhor visão.

        Sim, nacionalmente sabia que as estrelas que via através do visor da nave não eram as que poderia ver no céu de seu planeta. Eram outras, as que seus mapas e cálculos indicavam como posicionadas nos confins da galáxia. E mesmo assim, ele conhecia o lugar. Embora aquela missão fosse uma das primeiras e ele um dos poucos a explorar a região, sentia-se em casa. A vista diante de seus olhos era magnífica. À frente, o universo.

        Conforto. O Universo inteiro era um lugar morno e macio. Existir era flutuar ali desde sempre. Sem interrupções. Sem peso. Sem esforço. O alimento chegando em intervalos pausados, a força e o prazer de mover os membros vagarosamente, acompanhando a pulsação do universo... Dormir e acordar, como se os sonhos fossem apenas o outro lado dos pensamentos. Era bom existir.

        Sorriu dentro da roupa que já não parecia desconfortável e preparou-se para enviar as primeiras mensagens à Terra.

Estes textos foram produzidos especialmente para você ler e responder.

Fonte: Português em outras palavras – 8ª série – Maria Sílvia Gonçalves – ed. Scipione – São Paulo, 2002. 4ª edição. p. 30-4.

Entendendo os textos:

01 – Os textos narrativos podem ser divididos em quatro partes:

Parte I: Situação inicial (normalidade na vida da personagem).

Parte II: Apresentação do conflito (algo que vem desequilibrar a situação inicial).

Parte III: Exploração do conflito (coloca-se a personagem em situação de grande tensão; é a parte mais importante porque as reações da personagem provocam o suspense e possibilitam questionamentos da situação).

Parte IV: Desfecho (deve surpreender pelo inesperado; é curto).

a)   Os textos que você leu são narrativos. Escreva em seu caderno onde começam e onde terminam essas partes em cada um deles.

I: de “A pulsação era...” até “Era bom existir.” II: de “O movimento começara...” até “de repente pareciam enrijecer”. III: de “Desconforto. Urgência.” Até “... até as profundezas do corpo”. IV: de “Quis voltar ao calor...” até “... gritou”. Texto 2. I: de “Os pensamentos confusos...” até “... permanecesse por muito tempo”. II: de “Finalmente tomou coragem...” até “... agora na região desconhecida.” III: de “Foi então que teve coragem...” até “... era bom existir.” IV: de “Sorriu dentro da roupa...” até “primeiras mensagens à Terra.”

b)   Dê um título a cada parte.

I: Conforto. II: Movimento. III: Desconforto. IV: Grito. Texto 2. I: Dor e frio ou Acordar. II: Sobrevivência aos testes ou Localizar-se. III: O Universo é o Lar ou Flutuar. IV: Primeiras mensagens ou Enviar mensagens.

02 – Reescreva a frase correta em seu caderno. Do ponto de vista das sensações das personagens, seria possível afirmar que:

a)   No texto I, a sensação de conforto permanece do princípio ao fim.

b)   No texto II, a sensação de desconforto permanece do princípio ao fim.

c)   No texto I, a sensação inicial de conforto transforma-se em desconforto, enquanto no texto II ocorre o oposto.

d)   No texto I, a sensação inicial de desconforto transforma-se em conforto, enquanto no texto II ocorre o oposto.

03 – Nos dois parágrafos iniciais do primeiro texto, parece qe a personagem é colocada num berço. Como se consegue, pela linguagem, transmitir a ideia de embalo ao leitor?

      A ideia do embalo é criada com a utilização de um grande número de frases nominais curtas, que acabam imprimindo um ritmo lento ao texto. Nas orações, os verbos são usados nas formas nominais, o que acaba intensificando essa ideia.

04 – Nesta passagem: “Nada de mais, apenas um novo balanço a embalar seu sono. Porém com o passar dos minutos foi se intensificando”, observe a palavra que anuncia uma mudança na situação. A que classe ela pertence?

      A palavra que anuncia uma mudança na situação (introduzindo o conflito na narrativa) é a conjunção coordenativa adversativa porém.

05 – Releia o trecho:

        “Subitamente todo o líquido pareceu escoar-se, e absurda sensação de frio envolveu-o”.

a)   O líquido realmente escoa. Por que então o verbo em destaque foi usado?

A personagem está confusa, perdeu o controle da situação.

b)   A sensação de frio é absurda. O que esse adjetivo reafirma?

Até aquele momento, tudo era morno, quente; a mudança de temperatura parece-lhe, portanto, absurda.

06 – Observe: “O universo como que explodia em dolorosa luz”. Essa frase revela o momento exato de que fato?

      Revela o momento exato do nascimento da personagem.

07 – No texto I, o que representou para a personagem sair de seu universo e entrar no universo dos outros seres?

      A saída representou dor, sofrimento.

08 – Os textos são narrados em terceira pessoa. Em sua opinião, por que esse foco narrativo foi utilizado?

      Pretendeu-se um certo distanciamento dos fatos, ao narrar. Além disso, no texto I, seria inverossímil um recém-nascido narrar seu próprio nascimento.

09 – Retire do último parágrafo do texto I, a expressão que revela uma situação irreversível para a personagem.

      “... seu universo não mais existia.”

10 – Comente a última palavra do texto I.

      O grito é a primeira manifestação da personagem em sua nova vida, e é de dor e sofrimento.

11 – No texto II, na frase “Estou acordado”, usa-se um tipo de letra diferente. Por quê?

      É uma fala da personagem, sem nenhuma pontuação que pudesse distingui-la da fala do narrador. Daí usar-se tipo diferente.

12 – Em nenhum momento se revela que a personagem é um astronauta, mas isso está claro no texto II. Explique como.

      Pela descrição da nave (aparelhos, máquinas) e do céu. Além disso, a personagem acorda de testes, de um sono induzido, e sobrevive ao lançamento.

13 – A que você atribuiria a familiaridade da personagem do texto II com uma região que lhe era totalmente desconhecida?

      A personagem tem paixão pela vida, pela aventura que está vivendo e pelo universo como um todo. Sabe que é parte desse universo maior e, por isso, sente-se à vontade, em casa, em qualquer lugar, até nos confins da galáxia.

14 – Faça uma comparação entre os dois textos, mostrando as semelhanças e diferenças entre eles, com relação a:

a)   Pensamentos das personagens.

Texto I: confusos, misturados a sonhos. Texto II: confusos, misturados a sonhos.

b)   Alimentação.

Texto I: O alimento chega pausadamente, naturalmente. Texto II: O alimento vem por tubos, de forma artificial.

c)   Sono.

Texto I: Tranquilo, natural. Texto II: Induzido, artificial.

d)   Sensações iniciais.

Texto I: De conforto. Texto II: De conforto.

e)   Evolução das sensações.

Texto I: Começa a sentir dor, perde o controle. Texto II: Começa a conscientizar-se da situação, readquire o controle.

f)    Pulsação.

Texto I: Suaves e ritmadas no início; desconhecidas no final. Texto II: Vão adquirindo a regularidade do universo.

g)   Relação com a luz.

Texto I: É dolorosa quando ocorre, no final. Texto II: É incômoda quando ocorre, no início.

h)   Relação com o calor e frio.

Texto I: O calor dá lugar ao frio. Texto II: O frio dá lugar ao calor.

i)     Relação com o desconhecido.

Texto I: Causa medo. Texto II: Causa prazer.

15 – Compare o segundo parágrafo do texto I com o penúltimo parágrafo do texto II. O que você nota?

      Nota-se uma semelhança muito grande. Essas semelhanças adquirem sentidos diferentes em razão do momento em que aparecem nos dois textos. No texto I: é a situação de partida; no texto II: a situação de chegada.

16 – Após ler os dois textos, dê a sua versão do que seja Universo.

      Resposta pessoal do aluno.

17 – Ambos os textos constroem-se sobre pares de antônimos. Quais?

      Conforto/desconforto; calor/frio; dor/prazer.

18 – Qual o resultado desse jogo de antônimos?

      O resultado desse jogo de antônimos é mostrar ao leitor que a existência humana oscila entre dois sentimento contraditórios.

19 – Comente o emprego de frases nominais nos textos.

      As frases nominais são empregadas com o objetivo de recriar na escrita as sensações vividas pelas personagens: conforto, bem-estar, segurança, embalo, flutuação, mistura de realidade e sonho. As sensações, no caso, se sobrepõem às ações; daí a forte presença de frases nominais.

20 – Comente o emprego das formas nominais dos verbos nos textos.

      Já que as sensações se sobrepõem às ações, predominam verbos de estado e frases sem verbo. Os verbos de ação, quando aparecem, vêm conjugados em suas formas nominais, no gerúndio principalmente, uma vez que essa forma verbal descreve o lento desenrolar de uma ação.

 

REPORTAGEM: MARINA: DO SERINGAL AO SENADO - MÁRCIA TURCATO - COM GABARITO

 Reportagem: Marina: do seringal ao senado

                     Márcia Turcato

        Aos 37 anos recém-completados, tendo sobrevivido a cinco crises de malária, três hepatites e uma infância desgraçadamente pobre e trabalhosa num remoto seringal no Acre, a senadora Marina Silva (PT – AC) tinha tudo para estar no bagaço. Bagaço, aliás, era o nome do seringal onde se criou, terceira de 12 filhos, mãos-de-obra enjeitada numa atividade pesada e predominantemente masculina.

        Mas o destino, que a pôs no mundo pelas portas do inferno verde da Amazônia, traçou para Marina planos inesperadamente grandes. Hoje, embelezada e fortalecida pelas surpreendentes vitórias que vem conquistando, Marina é um ser aparentemente delicado em seus 50 quilos distribuídos por 1,622 metro de altura. Só aparência. Ela não leva mais o peso da borracha, mas carrega o fardo da responsabilidade de dar melhores condições de vida aos 65 mil acreanos que votaram nela nas últimas eleições – a maior votação da história do Acre – e a outros milhares que continuam no bagaço na faina diária e insana dos seringais.

        “Minha missão é defender todos os excluídos e trabalhar pelo desenvolvimento sustentado da Amazônia”, diz ela, num tom firme adquirido nos tempos de militância política ao lado do seringueiro Chico Mendes, mas com a suavidade de quem sabe o que busca.

        A saga da senadora acreana tem proporções amazônicas. Seus relatos de infância são instantâneos de miséria explícita, recheados de doença e morte. Marina só descobriu a existência de um mundo além das seringueiras aos nove anos, quando seu pai foi tentar a sorte e um emprego em Manaus. Foi uma descoberta fugaz. Devido ao insucesso da tentativa paterna, a futura senadora acabou voltando ao Bagaço, onde passou o resta da infância e início da adolescência convivendo com problemas respiratórios decorrentes do desumano processo de defumação na preparação da borracha. Foi nessa fase que teve os piores problemas de saúde, aos quais resistiu por pura providência divina, na medida em que não havia nenhum médico nas imediações. Do Bagaço ela só saiu aos 16 anos, quando já tinha perdido duas irmãs para a malária e para o sarampo, além da mãe, dona Maria Augusta, vítima de um aneurisma cerebral.

        0s 20 anos que se seguiram marcaram a grande, virada em sua vida. Trabalhando como doméstica, aprendeu a ler no Mobral e revelou-se uma estudante acima da média ao completar o segundo grau apenas seis anos depois de ser alfabetizada. Os novos conhecimentos fizeram com que ela desistisse do antigo sonho de ser freira e optasse por tornar-se estudante de História na Universidade Federal do Acre. A explosiva mistura de um passado triste na extração do borracha com a efervescência universitária nos estertores da ditadura militar fizeram de Marina uma militante política de esquerda que, nos anos seguintes, liderou diversos movimentos contra a derrubada indiscriminada da floresta amazônica, já estão ao lado do amigo e companheiro Chico Mendes, que mais tarde seria assassinado.

        “Chico e Mary [a antropóloga Mary Allegretti, que divulgou a luta dos seringueiros no Brasil e no exterior] conseguiram grandes avanços na demarcação das áreas para o extrativismo, que é uma boa saída para a região Norte”, relembra Marina. E emenda: “Essa vai ser uma das minhas principais bandeiras de luta no Senado”.

        Quando fala de seus planos, o tom que ela usa volta a ser inflamado como o dos tempos em que se tornou a vereadora mais votada de Rio Branco e, mais tarde, deputada estadual. Sem contudo perder a singeleza de quem cresceu no meio do povo mais sofrido da Amazônia. Ainda ambientando-se na aridez de Brasília, onde instalou-se com o segundo marido e as duas menores de seus quatro filhos, a senadora garante que está pronta para enfrentar, em nome de seus ex-companheiros de Bagaço, a batalha pela preservação da Amazônia.

        “Quero legislar em defesa da mata e criar mecanismos que defendam o seringueiro, que ainda vive quase escravizado”, conclui sintetizando em poucas palavras suas metas para este primeiro mandato. E, a julgar pela sua irresistível ascensão, o primeiro mandato da senadora Marina é apenas mais um passo em direção a destinos ainda maiores. Profecia, aliás, já feita pela revista americana Time, que incluiu Marina Silva em sua lista de cem possíveis lideranças mundiais do futuro, uma seleta relação dos destaques da política que estão na casa dos 30 anos. Para quem já esteve no Bagaço, Marina definitivamente deu a volta por cima.

                   Márcia Turcato. Marina: do seringal ao Senado. Os caminhos da Terra. Ano 4, n° 3. São Paulo: Azul, mar. 1995. p. 30-1.

Fonte: Português em outras palavras – 8ª série – Maria Sílvia Gonçalves – ed. Scipione – São Paulo, 2002. 4ª edição. p. 106-8.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual destas atividades Marina não exerceu: senadora, deputada, vereadora, doméstica, estudante, militante de esquerda, antropóloga, ecologista, seringueira?

      Antropóloga.

02 – Esse texto é uma biografia ou um perfil? Qual a diferença entre ambos?

      Trata-se de um perfil. A biografia costuma ser mais “comportada” limitando-se a fazer um relato dos fatos mais importantes da vida de uma pessoa, em ordem cronológica.

03 – Observe as primeiras linhas do texto. Por que a autora o inicia dando ao leitor essas informações?

      Ela inicia o parágrafo com a idade de Marina para realçar o fato de que ela é muito jovem para exercer a função de senadora. Fala da infância miserável da jovem senadora para valorizar ainda mais sua vitória.

04 – Que palavra inicia o segundo parágrafo? Qual sua função no texto?

      Mas. A função é mostrar que, contrariando o que se poderia esperar para uma pessoa que teve a infância de Marina, ela se tornou uma vencedora.

05 – A autora intercala às suas afirmações algumas falas da senadora.

a)   Como é possível identifica-las?

Por meio das aspas.

b)   Como ela encaixou essa falas em seu texto?

Misturando-as estrategicamente com dados que mostram a vida das pessoas que a elegeram e que esperam dela algo que possa ajuda-los.

c)   Qual será a possível reação dos eleitores da senadora diante dessas falas?

Eles, provavelmente, as aprovarão; não se arrependerão do voto.

06 – A autora chega a afirmar que Marina só não morreu por providência divina. Você concorda com ela? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Considerar, contudo, as condições precárias da vida que levou e sua frágil constituição física.

07 – Infância miserável + engajamento político = político verdadeiro. Você acha que esta é a fórmula ideal? Como explicar o desempenho de Marina, considerando que até os 16 anos era analfabeta?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Essa foi a fórmula de que resultou Marina, mas não significa que seja ideal. Sem dúvida sua militância deve ter influenciado sua formação, mas há um enorme esforço pessoal em sua trajetória.

08 – É correto afirmar que a senadora renunciou à vida pessoal para participar da política?

      Não. Ela já se casou duas vezes e tem quatro filhos.

09 – Que informação comprova o fato de que Marina é uma pessoa realmente especial? Em que momento do texto a autora revela essa informação e com que intenção o faz?

      Marina foi incluída numa lista da revista americana Time como uma das cem possíveis lideranças mundiais no futuro. A autora revela isso no final do texto para surpreender o leitor e também para mostrar que a senadora já tem reconhecimento internacional, apesar de toda a sua simplicidade.

10 – O que mais impressionou você na trajetória de Marina? Verifique se o perfil de Marina corresponde ao conceito de cidadão que a classe elaborou.

      Resposta pessoal do aluno.

11 – O que há de especial no título do texto que você estudou?

      A autora escolheu duas palavras que começam com se e poderiam estabelecer alguma relação de semelhança, mas que, do ponto de vista do significado, designam lugares díspares. A expressão: do seringal ao senado mostra o salto de Marina do local onde passou sua infância ao local onde hoje luta para concretizar seus ideais.

12 – A autora usa o nome do local onde Marina se criou para quê? Veja especialmente o último período do texto.

      Para fazer um trocadilho. Bagaço é o nome do seringal onde ela se criou. A própria Marina tinha tudo para estar “no bagaço”, devido à infância que teve.

13 – Observe esta construção:

        “Mas o destino, que a pôs no mundo pelas portas do inferno verde da Amazônia” [...]. Sobre qual relação de semelhança é feita essa metáfora?

      A Amazônia é como um inferno, devido ao sofrimento dos que nela vivem e trabalham. A cor verde é óbvio, refere-se à floresta.

14 – Que recurso a autora usou em: “Ela não leva mais o peso da borracha, mas carrega o fardo da responsabilidade”? Faça um comentário sobre a linguagem utilizada pela autora.

      Opôs duas expressões, sendo a primeira usada no sentido literal e a segunda, no sentido figurado: peso / fardo; borracha / responsabilidade.

15 – Dê um sinônimo para as expressões destacadas.

a)   “A saga da senadora acreana tem proporções amazônicas”.

Dimensões imensas.

b)   “Essa vai ser uma das minhas principais bandeiras de luta”.

Lemas.

c)   “Ainda ambientando-se na aridez de Brasília...”.

Frieza.

16 - O que essas palavras têm de especial? O que têm em comum?

      São palavras usadas com um sentido diferente do que lhes é usual. São usadas metaforicamente.

CRÔNICA: O PRIMEIRO AMOR - ANA MIRANDA - COM GABARITO

 Crônica: O Primeiro amor

               Ana Miranda

        Numa noite eu estava no clube, esperando meus pais terminarem uma conversa, quando ouvi no ginásio esportivo o barulho de uma bola batendo no chão pá pá pá sem parar. Subi os degraus, e fui até o alto da arquibancada deserta.

        Na quadra de basquete um rapaz treinava, sozinho. Ele era alto e magro, cabelos pretos, sobrancelhas grossas, olhos escuros. Estava de uniforme esportivo vermelho.

        Ele sentiu a minha chegada, parou um instante de correr, deu uma olhada rápida na minha direção, secou o suor da testa com a manga da jaqueta e continuou seu treino. Quando ele se virou de costas, vi na jaqueta o escudo do time que tinha vindo de fora para competir com o time do nosso clube. Sentei no último degrau, numa parte meio escura, e fiquei olhando o jogador.

        Ele corria, batendo a bola no chão, pá pá pá levantando a bola dessa maneira até perto da cesta, ali ele dava um salto, levantava o braço, segurando a bola, e às vezes dava um salto bem alto, às vezes hesitava e desistia. Sempre recomeçava com a mesma disposição e velocidade a jogada. Dava para perceber que ele já tinha feito aquilo mais de mil vezes. Senti que estava se exibindo para a moça magra, de cabelos pretos e compridos, que o assistia do escuro, parada, que era eu. Parecia que tinha se criado um fio invisível entre nós. E meu coração começou a bater fortemente, ao pensar nesse fio. Percebi que alguma coisa estava acontecendo dentro de mim. Parecia que um líquido quente corria por todo o meu corpo, e se derramava, e fiquei tão inquieta que dei um salto, me levantei de um salto, para ir embora, mas vi que o jogador perdeu o controle da bola, parou, e olhou para mim. Fiquei paralisada, ali em pé, pulsando e suando.

        Num instante ele tirou a jaqueta, e vi seus braços compridos e fortes, que eram apenas braços, eu conhecia muitos braços, os braços de papai, os braços de um ator, mas aqueles braços se desenharam na minha cabeça de uma maneira diferente, parecia que tinham alma, vida própria, atração. E o jogador voltou a jogar, agora com mais velocidade, mais emprenho, como se quisesse me prender ali, e ele parecia de repente cercado de fogo e luz, como se fosse um sonho, minha respiração ficou difícil, meus ouvidos zuniam, e percebi que a buzina que tocava lá fora sem parar era do carro de meu pai, e saí correndo, desci as escadas, cruzei o gramado, atravessei a rua escura, abri a porta, entrei no carro, pá.

         Minha mãe perguntou o que tinha acontecido, por que eu estava tão agitada, o que eu tinha visto que me assustou tanto? Nada, eu disse.

        Sozinha, no banco de trás do carro, eu olhava a paisagem do lago, do mato, da lua que brilhava no céu e se refletia na água, que era a mesma paisagem de sempre, do caminho de volta ao clube para casa à noite, mas havia alguma coisa diferente naquela paisagem, lobos nas sombras, ruídos, ameaças, frutas de sabor estranho, ela me convidava a entrar, e eu me vi correndo no mato, desabalada como se fugisse, enquanto ouvia as batidas da bola na quadra batendo batendo pá pá pá repetidamente, e eu chegava à beira do lago, e me jogava na água prateada, e pensava na prova de matemática amanhã e u não tinha estudado a matéria e ia precisar aguar o gramado pá pá pá e as minhas meias preferidas estavam sujas e eu não gostava de ovo cru e eu ia ter aula de italiano e eu tinha ido mal na expressão oral e o disco ainda não tinha chegado e pensava nessas coisas prosaicas mas nada tirava de meu corpo a sensação estranha que eu sentia, pá pá pá ouvia meu coração a bater também, e via a imagem do jogador treinando na quadra, debaixo de uma luz que iluminava apenas ele, tudo escuro em volta, e a cada vez eu via seu rosto mais perto, mais perto, até que ele ficou tão grande que levei um susto, essa menina está tão quieta, dizia mamãe, e continuei quieta na hora do jantar, comi  pouco, pouquíssimo, deixei até mesmo a sobremesa sem tocar, deitei na cama e não consegui dormir, rolava de um lado para outro, agarrava o travesseiro, via o jogador na parede escura, nas frestas da persiana, ouvia a bola batendo na quadra batendo no meu peito fechava os olhos e via a imagem do jogador dentro da minha cabeça como se tivesse sido marcada a fogo, a luz, como se fosse um filme se repetindo e o barulho da bola na quadra, os braços dele me abraçavam, as persianas deixaram entrar aos poucos os raios daquela lua cheia do lago, e ele era aquela luz e era o silêncio da noite era o quarto e cada estrela, eu via o rosto dele e pensava, como podia estar vendo o rosto dele? Devia ser um rosto imaginado, não podia ser o seu rosto verdadeiro, o que estava acontecendo comigo? Via sua face e sentia ali a existência de algum mistério, o que era aquele jogador? Não era ele, era o que acontecia dentro de mim, o que ele tinha feito acontecer, como se tivesse me empurrando num precipício, eu guiada por outra força, como se não fosse mais eu, mas a força da vida, lutando contra minha força, e eu me deixava arrastar, sem nenhuma dúvida, mesmo sem saber nada do que podia acontecer comigo, quem era ele, se eu ao menos soubesse o nome dele, e fiquei olhando a noite inteira para ele dentro de minha memória jogando jogando pá pá pá sem precisar saber nada dele, só sentindo aquele movimento dentro de mim e pá pá os cabelos pretos os braços tudo era tão macio ele olhou para mim os olhos pretos dele a luz nos seus cabelos de fogo ele se apaixonou por mim ele parou de jogar e me olhou e me viu ele se apaixonou por mim, era isso, eu me apaixonei por ele, e ele por mim e eu por ele e quando amanheceu eu ainda estava apaixonada, ah sonâmbula, eu tinha acordado e sentia maior vontade viver, ir à escola, chegar o outro domingo, comi ovo cru sem sentir nojo e fui para a escola tonta de paixão, eu via o jogador no asfalto que eu pisava, via o jogador no bico do meu sapato no portão da escola no tronco da árvore na saia xadrez das meninas no rosto dos meninos, via o jogador no caderno no pó do giz e no quadro-negro pá pá pá fazia fantasias e eu via o jogador jogando uma partida eu no meio da multidão e ele parava no meio do jogo e olhava para mim e ele estava numa festa no clube e passava ao meu lado tão perto de mim que eu sentia o calor da sua pele e ele não me via, ele passava perto de mim e sorria para mim, ele tirava para dançar ele dançava com outra menina abraçado ele casava com outra menina e eu chorava ele casava comigo ele vinha ser professor na minha escola ele batia o carro no nosso e me levava no colo até o hospital, ele me chamava para fugir no seu barco à vela ele tinha um avião e pilotava e jogava milhares de rosas sobre a minha casa ele batia na janela do meu quarto ele me beijava os lábios ele me levava ao cinema e segurava a minha mão ele passava na frente da minha varanda e me olhava ele vinha de noite namorar ele me pedia em casamento ele mergulhava comigo nas águas do lago ele me dava um filho ele me beijava os lábios segurava a minha mão me levava a voar sobre os telhados, passei dias e dias assim pensando nele sem um instante de descanso, achei que estava ficando louca mas adorava me sentir assim, sem prestar atenção nas aulas, sentindo beijos nos meus lábios e calor no meu corpo cheguei a ter febre ele não saía da minha cabeça pá pá pá beijo nos lábios eu lia os jornais inteiros em busca de uma notícia e só queria ir ao clube ao clube ao clube e ia à quadra vazia e escura mas ele não estava mais lá, e em lugar nenhum, e ninguém sabia dizer quem tinha treinado na quadra na noite do domingo e ele nunca se apagava de minha memória pá pá pá e tantos anos se passaram e nunca o esqueci nem deixei de sentir o que ele me fez sentir, pela primeira vez, o amor.

MIRANDA, Ana. In: PIETRO, Heloisa (Org.). De primeira viagem. São Paulo: Cia das Letras, 2004. p. 13-17.

Fonte: Livro Língua Portuguesa – Singular & Plural – 7° ano – Laura de Figueiredo – 2ª edição. São Paulo, 2015 – Moderna. p. 18-21.

Entendendo a crônica:

01 – Do que se trata o texto que você acabou de ler?

      O texto se trata da história de como uma menina achou e sentiu pela primeira vez o "amor".

02 – Duas personagens recebem destaque no texto.

a)   Quem são?

Uma garota e um garoto, por quem ela sentiu-se envolvida.

b)   Qual delas está narrando os acontecimentos?

A garota.

c)   O texto é uma história real ou ficcional? Explique sua resposta.

Pode ser tanto real quanto ficcional, já que os sentimentos da personagem podem sim ser sentidos na realidade em que vivemos.

03 – O narrador conta algo que:

a)   Está acontecendo no presente.

b)   Aconteceu num passado bem próximo.

c)   Aconteceu num passado mais distante.

d)   Acontecerá num futuro bem próximo.

·        Encontre no texto trechos ou expressões que confirmem sua resposta.

“... e ele nunca se apagava de minha memória ...”; “... e tantos anos se passaram e nunca esqueci ...”.

04 – Como você sintetizaria:

a)   Os acontecimentos da narrativa?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A garota se apaixona por um garoto que encontra na quadra do clube, vai embora e nunca mais o vê.

b)   As emoções da personagem?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A personagem fala sobre as reações físicas e mentais que o encontro lhe causou; fica totalmente entregue ao que está sentindo, ao mesmo tempo feliz e angustiada; não consegue parar de pensar no garoto, de fantasiar a sua vida com e sem ele.

05 – Você diria que nesse texto há mais destaque para os acontecimentos ou para as emoções? Explique.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Há mais destaque para as emoções, porque os acontecimentos se limitam basicamente ao encontro dos dois, enquanto, em quase todo o texto, a narradora-personagem fala sobre como se sentiu em relação ao encontro.     

06 – Considerando sua resposta à questão anterior, você acha que a escolha que a autora fez sobre quem narraria a história ajudou a construir o texto com esse destaque?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim, sendo a personagem mesma quem narra o que lhe aconteceu, ela pode abusar da exploração dos seus sentimentos, tornando o texto mais emotivo.

07 – Releia o trecho a seguir:

        “Parecia que tinha se criado um fio invisível entre nós. E meu coração começou a bater fortemente, ao pensar nesse fio.”. O que seria esse “fio invisível” criado entre as personagens, segundo o narrador?

      O sentimento que os unia, a atração entre os dois.

08 – Que reação do garoto é descrita pelo narrador para sinalizar que ele também sentiu algo pela garota?

      Quando ela se levantou de um salto, o garoto se desconcentrou e olhou para ela, retomando o seu treino em uma velocidade maior, como que para prendê-la ali.

09 – Você acredita que essa reação do garoto é suficiente para afirmarmos que ele se interessou por ela? Explique.

      Resposta pessoal do aluno.

10 – Leia novamente:

        “Num instante ele tirou a jaqueta, e vi seus braços compridos e fortes, que eram apenas braços, eu conhecia muitos braços, tinha visto diversos tipos de braços, mas aqueles braços se desenharam na minha cabeça de uma maneira diferente [...]”. O Narrador diz que os braços do jogador eram “apenas braços”, mas que “se desenharam” em sua cabeça de “uma maneira diferente”. Por quê?

      Porque, para o narrador-personagem, eles pareceram especiais por causa de paixão que a menina estava sentindo pelo garoto.

11 – O que você achou do final do relato? Situações como essa podem de fato acontecer?

      Resposta pessoal do aluno.

REPORTAGEM: AS MENINAS DA LINHA 174 - UM ELOGIO - ROBERTO POMPEU DE TOLEDO - COM GABARITO

 Reportagem: As meninas da linha 174 – um elogio

        Dentro do ônibus havia mais sensatez e competência para lidar com situações extremas do que fora

Roberto Pompeu de Toledo

        Nem tudo está perdido. Enquanto houver gente capaz de escrever ao contrário, num vidro, para que a mensagem possa ser lida sem esforço por quem está do outro lado, e escrever com correção e clareza, reproduzindo com precisão o desenho das letras, apesar de circunstâncias mais do que adversas – não, nada estará perdido. Experimente o leitor desenhar as letras ao contrário. Talvez já tenha experimentado, num momento de tédio, enquanto se dava ao desafogo de deitar rabiscos erráticos numa folha de papel, e então conhece as dificuldades que, mesmo quando se trata de letras de fôrma, e maiúsculas, as mais fáceis de reproduzir, o exercício oferece. Algumas letras são iguais, tanto do lado direito quanto do avesso: o “A”, o “T”, ou o “V”, além do “O” e do “I”, as de formatos mais elementares. Destas não há do que reclamar. A maioria, porém, exige a habilidade de um contorcionista da caligrafia.

        É preciso lembrar de fazer para a esquerda o que se fez a vida inteira para a esquerda o que se fez a vida inteira para a direita – os três dentes do “E”, a base do “L”, a perna e a meia bola do “R”. De súbito, é preciso conceber uma representação invertida do mundo, como se, exagerando um pouco, a noite virasse dia, o seco molhado e os machos fêmeas. É preciso ter em mente que o rabinho do “Q” agora vai para o outro lado. Porventura a maior dificuldade será não se perder nas curvas do “S”. Agora imagine-se praticar o exercício de escrever ao contrário sob as ordens de um alucinado que tem um revólver na mão, e os leitores já sabem de que e de quem se está falando – do sequestro do ônibus, no Rio de Janeiro, e de Janaína Lopes Neves, uma das reféns, obrigada a escrever com batom, nas janelas do veículo, as mensagens ditadas pelo sequestrador. Uma das mensagens era: “Ele tem pacto com o diabo. Tem um punhal e o diabo desenhados no braço. Ele vai matar”. A outra: “Ele vai matar geral às 6hs. Arrancaram a cabeça de sua mãe.” Não foi esquecida a crase no “às 6 horas”.

        Nada pode distrair da tragédia que acometeu o ônibus da linha 174, Gávea-Central do Brasil, na parada do Jardim Botânico. Nada pode aliviar o choque da morte de Geisa Firmo Gonçalves, sacrificada no bojo de uma das mais grotescas manifestações de incompetência policial já encenadas sobre a orbe terrestre. Mas olhemos em volta. O drama teve outros personagens. Janaina, de 23 anos, natural de Campo Grande e estudante de administração na PUC do Rio, ao escrever as mensagens, uma demonstração de autocontrole de humilhar os profissionais da polícia, ainda que, por dentro, não parasse de rezar e achasse que ia morrer. Nem tudo está perdido.

        O sequestro do ônibus 174 foi o sequestro das meninas. A elas é que o sequestrador agarrava, o revólver apontando-lhes para a nuca ou a têmpora, quando não enfiado na boca. Se não era Janaína era Geisa, se não era Geisa era Luanna, num sinistro baile em que não poderia haver maior desgraça do que ser tirada para dançar. Mas eram meninas de estofo, e quanto, aquelas. Elas se provariam capazes de enfrentar a emergência indizível que viviam. Geisa, cearence de 20 anos professora de artes das crianças da Rocinha, deu-se, antes de ser arrastada de encontro a um perigo ainda maior do que um alucinado de revólver, que é a incompetência da polícia, à iniciativa de pedir ao sequestrador, e obter dele, a libertação da amiga com quem viajava, mais velha e muito nervosa. Janaína foi vítima de um fuzilamento simulado: a certa altura o sequestrador forçou-a a se deitar no chão e disparou um tiro que, até o último milionésimo de segundo, ela pensou que fosse mesmo acertá-la. Nem por isso aniquilou-se emocionalmente. Luanna Guimarães Belmont, estudante de comunicações da PUC, e a mais novinha do grupo – 19 anos –, ajudou a pôr um pouco de ordem no caos, ao dispor-se a recolher para o bandido o dinheiro, colares e relógios dos passageiros e ao tentar o tempo todo acalmar as pessoas. As três vieram de diferentes partes, com diferentes histórias, para, num momento de suprema provação, terem como ponto comum um comportamento lúcido e altivo. A Luanna, numa declaração ao Jornal do Brasil, coube a frase definitiva sobre um sequestrador destrambelhado, menino de rua desde os sete anos, sobrevivente da chacina em que oito companheiros foram mortos pela polícia em frente à Igreja da Candelária, em julho de 1993: “Não desejei a morte dele, só queria que ele nunca tivesse existido”.

        Há muitas razões para desânimo, numa hora dessas. O episódio em si é a maior. Segue-se a parlapatice das promessas de reformas e providências que, sabe-se, nunca virão, e de anúncios de planos de segurança que, adivinha-se, nunca vão fundo, e, se forem não se terá coragem de implementar. Fiquemos com as meninas – com Janaína e Luanna, pelo menos, uma vez que com Geisa não é mais possível. Elas convidam a um olhar sobre o episódio na direção inversa das mensagens nos vidros. Dentro do ônibus havia mais sensatez e competência para lidar com situações extremas, sem falar de mais sensibilidade e humanidade, do que do lado de fora.

Roberto Pompeu de Toledo. Veja, ano 33, n° 25, 21 jun. 2000. p. 170.

Fonte: Português em outras palavras – 8ª série – Maria Sílvia Gonçalves – ed. Scipione – São Paulo, 2002. 4ª edição. p. 109-111.

Entendendo a reportagem:

01 – Escreva em um parágrafo o assunto desse ensaio.

      O autor comenta, de forma sarcástica, o sequestro de um ônibus da linha 174, na cidade do Rio de Janeiro, no qual um marginal mantém passageiras como reféns. Após longo período de tensão e violência dentro do ônibus, uma delas, de 20 anos, acaba morrendo no momento em que o sequestrador se entrega, por inabilidade policial.

02 – Observe que o autor inicia seu texto com uma frase que é, posteriormente, retomada com pequenas alterações e depois repetida literalmente. Por que ele faz isso?

      Essa é uma forma de estabelecer coesão no texto.

03 – Observe ainda que os dois primeiros parágrafos são destinados a considerações sobre as dificuldades em se escrever uma mensagem ao contrário. Você acredita que o autor usaria praticamente metade de seu espaço na coluna para falar ingenuamente sobre as mudanças das letras invertidas? Que outra dimensão adquirem esses parágrafos, quando se considera o todo do texto? (Leia, principalmente, o último parágrafo).

      Não. É claro que o autor não quer apenas comentar o fato de Janaína ter habilmente escrito as mensagens com as letras ao contrário. Ele quer mostrar que as garotas, mesmo sendo bem jovens, tiveram o equilíbrio necessário para enfrentar situação tão tensa, enquanto, do lado de fora, policiais experientes não souberam ter a calma necessária para conduzir a situação de maneira satisfatória. O autor fala em “representação invertida” do mundo: as letras ao contrário seria uma forma emblemática de dizer que está tudo ao contrário do que deveria estar.

04 – No quarto parágrafo, o autor relata os fatos ocorridos no fatídico sequestro do ônibus. Qual a diferença entre esse relato e a notícia do fato propriamente dito, que deve ter circulado nos principais jornais do país no dia do acontecimento?

      O autor relata o fato de maneira extremamente subjetiva, deixando transparecer toda sua indignação. Os jornais provavelmente publicaram notícias sobre o fato, relatando-o da forma como ocorreu, sem comentários apreciativos.

05 – Segundo o articulista, o que é pior que a violência do sequestrador?

      A incompetência da polícia.

06 – Que críticas são feitas no texto? E especialmente contra quem?

      As críticas são feitas ao governo, aos responsáveis pela segurança, à polícia e aos policiais.

07 – “Fiquemos com as meninas”; o elogio final do autor para as duas jovens (já que “com Geisa não é mais possível”) contrasta com qual ideia?

      O elogio às meninas contrasta com a crítica às autoridades que permitiram que chegássemos a esse estágio de violência.

08 – De que maneira os conceitos de cidadania e cidadão poderiam ser aplicados aos envolvidos na tragédia relatada no texto?

      Os passageiros do ônibus não tiveram seus direitos de cidadãos preservados; foram brutalmente atacados pelo sequestrador. Esse, por sua vez, também teve seu direito à educação ignorado; ele não foi tratado pela sociedade como cidadão. Nenhuma das pessoas envolvidas no incidente goza de sua cidadania.

09 – Na sua opinião, a história de vida do sequestrador justifica sua atitude?

      Em parte, sim. Talvez se ele tivesse tido oportunidades de estudar, preparar-se para o futuro, não estaria naquele ônibus, aterrorizando as pessoas. Por outro lado, não se podem justificar todos os atos de um indivíduo considerando apenas sua infância.

10 – Explique o sentido da frase “Nem tudo está perdido” em relação a essa tragédia relatado no texto.

      No texto, simbolizaria que, apesar de todos os acontecimentos terríveis pelos quais passa nossa sociedade atual, ainda há pessoas que têm um comportamento digno e ético, como é o caso das jovens do ônibus.798

ARTIGO DE OPINIÃO: VIOLÊNCIA NA TV E COMPORTAMENTO AGRESSIVO - DRAUZIO VARELLA - COM GABARITO

 Artigo de opinião: VIOLÊNCIA NA TV E COMPORTAMENTO AGRESSIVO

                  Drauzio Varella

        Nunca se assistiu a tanta violência na televisão como nos dias atuais. Dada a enormidade de tempo que crianças e adolescentes das várias classes sociais passam diante da TV, é lógico o interesse pelas consequências dessa exposição. Até que ponto a banalização de atos violentos, exibidos nas salas de visita pelo País afora, diariamente, dos desenhos animados aos programas de “mundo-cão”, contribui para a escalada da violência urbana?

        Essa questão é mais antiga do que se imagina. Surgiu no final dos anos 1940, assim que a televisão entrou nas casas de família. Nos Estados Unidos, país com o maior número de aparelhos por habitante, a autoridade máxima de saúde pública do país (Surgeon General) já afirmava em comunicado à nação, no ano de 1972: “A violência na televisão realmente tem efeitos adversos em certos membros de nossa sociedade”.

        Desde então, a literatura médica já publicou sobre o tema 160 estudos de campo que envolveram 44.292 participantes, e 124 estudos laboratoriais com 7.305 participantes. Absolutamente todos demonstraram a existência de relações claras entre a exposição de crianças à violência exibida pela mídia e o desenvolvimento de comportamento agressivo.

        Ao lado deles, em 2001, foi publicado um estudo interessantíssimo numa das mais importantes revistas de psicologia, que evidenciou efeitos semelhantes em crianças expostas a videogames de conteúdo violento. Em fevereiro de 2002, Jeffrey Johnson e colaboradores da Universidade de Columbia publicaram na revista Science os resultados de uma pesquisa abrangente que estende as mesmas conclusões para adolescentes e adultos jovens expostos diariamente às cenas de violência na TV.

        A partir de 1975, os pesquisadores passaram a acompanhar um grupo de 707 famílias, com filhos entre um e dez anos de idade. No início do estudo, as crianças tinham em média 5,8 anos e foram seguidas até 2000, quando atingiram a média de 30 anos.

        Nesse intervalo de tempo, periodicamente, todos os participantes e seus pais eram entrevistados para saber quanto tempo passavam na frente da televisão. Além disso, respondiam a perguntas para avaliar a renda familiar, a possível existência de desinteresse paterno pela sorte dos filhos, os níveis de violência na comunidade em que viviam, a escolaridade dos pais e a presença de transtornos psiquiátricos nas crianças, fatores de risco sabidamente associados ao comportamento agressivo.

        A prática de atos agressivos pelos jovens foi avaliada por meio de sucessivas aplicações de um questionário especializado e de consulta aos arquivos policiais. Depois de cuidadoso tratamento estatístico, os autores verificaram que, independentemente dos fatores de risco citados acima, o número de horas que um adolescente com idade média de 14 anos fica diante da televisão, por si só, está significativamente associado à prática de assaltos e à participação em brigas com vítimas e em crimes de morte mais tarde, quando atinge a faixa etária dos 16 aos 22 anos. Essa conclusão vale para homens ou mulheres, mas não vale para os crimes contra a propriedade, como furtos e vandalismo, que aparentemente parecem não guardar relação com a violência presenciada na TV.

        Conclusões idênticas foram tiradas analisando-se o número de horas que um jovem de idade média igual a 22 anos (homem ou mulher) dedica a assistir à televisão: quanto maior o número de horas diárias, mais frequente a prática de crimes violentos. Entre adolescentes e adultos jovens expostos à TV por mais de três horas por dia, a probabilidade de praticar atos violentos contra terceiros aumentou cinco vezes em relação aos que assistiam durante menos de uma hora.

        O estudo do grupo de Nova York é importante não só pela abrangência (707 famílias acompanhadas de 1975 a 2000) ou pela metodologia criteriosa, mas por ser o primeiro a contradizer de forma veemente que a exposição à violência da mídia afeta apenas crianças pequenas. Demonstra que ela exerce efeito deletério sobre o comportamento de um universo de pessoas muito maior do que aquele que imaginávamos.

        Apesar do consenso existente entre os especialistas de que há muito está caracterizada a relação de causa e efeito entre a violência exibida pelos meios de comunicação de massa e a futura prática de atos violentos pelos espectadores, o tema costuma ser abordado com superficialidade irresponsável pela mídia, como se essa associação ainda não estivesse claramente estabelecida.

        Em longo comentário ao artigo citado, na revista Science, Craig Anderson, da Universidade de Iowa, responsabiliza a imprensa por apresentar até hoje como controverso um debate que deveria ter sido encerrado anos atrás. Segundo o especialista, esse comportamento é comparável ao mantido por décadas diante da discussão sobre as relações entre o cigarro e o câncer de pulmão, quando a comunidade científica estava cansada de saber e de alertar a população para isso.

        Seis das mais respeitadas associações médicas americanas (entre as quais as de pediatria, psiquiatria, psicologia e a influente American Medical Association) publicaram, em 2001, um relatório com a seguinte conclusão sobre o assunto: “Os dados apontam de forma impressionante para uma conexão causal entre a violência na mídia e o comportamento agressivo de certas crianças”.

        As associações médicas e a imprensa brasileira dariam importante contribuição ao combate à violência urbana se trouxessem esse tema a debate.

Drauzio Varella. In: Folha de S. Paulo, 4 maio 2002. p. E – 10. Folha ilustrada.

Fonte: Português em outras palavras – 8ª série – Maria Sílvia Gonçalves – ed. Scipione – São Paulo, 2002. 4ª edição. p. 174-5.

Entendendo o artigo de opinião:

01 – Como você percebeu, esse texto jornalístico tem estrutura dissertativa. Em três parágrafos, reescreva as ideias principais de cada parte do texto em questão: faça um resumo da introdução, explique como o autor desenvolve o texto e a que conclusão ele chega.

      Introdução: o autor expõe claramente o que vai falar. A violência, mais do que nunca, invade os lares pela tela da tevê, vista principalmente por crianças por um longo período diário. Até que ponto a banalização da violência pode ter efeitos negativos sobre a sociedade.

      Desenvolvimento: cita dados numéricos de pesquisas realizadas sobre o assunto. Muitos estudos já provaram que existe uma relação direta entre a violência virtual e o desenvolvimento do comportamento agressivo nas crianças. A publicação em 2002 de um estudo recente, realizado a partir de 1975, num grupo de 707 famílias, com filhos entre um e dez anos (que, ao final do estudo, atingiram a média de 30 anos), vem comprovar essa relação, estendendo-a aos jovens. Excetuando-se crime contra a propriedade, tanto para adolescente como para jovens adultos, a pesquisa, a partir de criteriosa metodologia, comprovou que, quanto maior o número de horas diante da tevê, maior a ocorrência, na vida dessas pessoas, de brigas com vítima e crimes de morte.

      Conclusão: critica imprensa e associações médicas do consenso sobre a existência da conexão causal entre a violência na mídia e o comportamento agressivo das pessoas, a imprensa apresenta o assunto como controverso, omite-se ou não dá a ele o devido destaque.

02 – Que estratégia o autor usou para conseguir provar o que queria?

      O autor usa dados numéricos irrefutáveis, descrevendo pesquisa realizada por estudiosos da universidade de Colúmbia, por mais de vinte anos.

03 – O autor afirma que, mesmo havendo consenso sobre os efeitos negativos da programação violenta da tevê sobre os jovens, o “tema costuma ser abordado com superficialidade irresponsável pela mídia, como se essa associação ainda não estivesse claramente estabelecida”. A que poderia ser atribuída essa omissão?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Considerar os interesses que estão em jogo: das empresas anunciantes e das empresas jornalísticas que muitas vezes mantêm canais de televisão, sem contar os interesses inconfessáveis de alguns que se beneficiam com a manutenção dessa situação.

04 – De acordo com o texto de Varella, as cenas de programas de tevê citadas no texto anterior seriam prejudiciais ao telespectador? Por quê?

      Sim. Segundo ele, a sequência de cenas apresentadas interferiria no comportamento da personagem.

CRÔNICA: CARTA AO PREFEITO - RUBEM BRAGA - COM GABARITO

 Crônica: Carta ao Prefeito

               Rubem Braga

        Senhor Prefeito do Distrito Federal:

        Eu sou um desses estranhos animais que têm por habitat o Rio de Janeiro; ouvi-me, pois, com o devido respeito.

        Sou um monstro de resistência e um técnico em sobrevivência – pois o carioca é, antes de tudo, um forte. Se às vezes saio do Rio por algum tempo para descansar de seus perigos e desconfortos (certa vez inventei até ser correspondente de guerra, para ter um pouco de paz) a verdade é que sempre volto. Acostumei-me, assim, a viver perigosamente. Não sou covarde como esses equilibristas estrangeiros que passeiam sobre fios entre os edifícios. Vejo-os lá em cima, longe, dos ônibus e lotações, atravessando a rua pelos ares e murmuro: eu quero ver é no chão.

        Também não sou assustado como esse senhor deputado Tenório Cavalcanti, que mora em Caxias e vive armado; moro bem no paralelo 38, entre Ipanema e Copacabana, e às vezes, nas caladas da noite, percorro desarmado várias boates desta zona e permaneço horas dentro da penumbra entre cadeiras que esvoaçam e garrafas que se partem docemente na cabeça dos fiéis em torno. E estou vivo.

        Ainda hoje tenho coragem bastante para tomar um ônibus ou mesmo um lotação e ir dentro dele até o centro da cidade. Vivo assim, dia a dia, noite a noite, isto que os historiadores do futuro, estupefatos, chamarão a Batalha do Rio de Janeiro. Já fiz mesmo várias viagens na Central. Eu sou um bravo, senhor.

        Sei também que não me resta nenhum direito terreno; respiro o ar dos escapamentos abertos e me banho até no Leblon, considerado um dos mais lindos esgotos do mundo; aspiro o perfume da curva do Mourisco e a brisa da Lagoa e – sobrevivo. E compreendo que, embora vós administreis à maneira suíça, nós continuaremos a viver à maneira carioca.

        Eu é que não me queixo; já me aconteceu escapar de morrer dentro de um táxi em uma tarde de inundação e ter o consolo de, chegando em casa, encontrar a torneira perfeitamente seca.

        Prometestes, senhor, acabar em 30 dias com as inundações no Rio de Janeiro; todo o povo é testemunha desta promessa e de seu cumprimento: é que atacaste, senhor, o mal pela raiz, que são as chuvas. Parou de chover, medida excelente e digna de encômios.

        Mas não é para dizer isso que vos escrevo. É para agradecer a providência que vossa administração tomou nestas últimas quatro noites, instalando uma esplêndida lua cheia em Copacabana. Não sei se a fizestes adquirir na Suíça para nosso uso permanente, ou se é nacional. Talvez só possamos obter uma lua cheia definitiva reformando a Constituição e libertando Vargas.

        Mas a verdade é que o luar sobre as ondas me consolou o peito. E eu andava muito precisado. Obrigado, Senhor.

Rubem Braga – Rio, junho de 1951.

Rubens Braga. Carta ao prefeito. São Paulo: Ática, 1979. p. 43-4. (Para gostar de ler, 4).

Fonte: Português em outras palavras – 8ª série – Maria Sílvia Gonçalves – ed. Scipione – São Paulo, 2002. 4ª edição. p. 112-3.

Entendendo a crônica:

01 – A crônica que você leu foi escrita em forma de uma carta. Está endereçada ao prefeito do Distrito Federal (na época, o Rio ainda era o Distrito Federal). Que cuidados em relação à linguagem o autor tomou, para fazer a carta parecer verdadeira?

      O autor dirige-se a um interlocutor, a quem ele chama de “senhor”, e usa a segunda pessoa do plural. Escreve em primeira pessoa e inicia seu texto com a evocação: “Senhor prefeito do Distrito Federal”.

02 – Explique como o autor consegue fazer críticas contundentes à administração da cidade, sem atacar diretamente as autoridades.

      Ele usa a ironia: diz exatamente o contrário do quer fazer parecer. Faz os piores ataques à administração da cidade, ao mesmo tempo que elogia o prefeito.

03 – Raramente os políticos cumprem o que prometem, mas o prefeito do Rio acabou com as inundações e mereceu os elogios do cronista. Você concorda com essa afirmação? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno: Sugestão: O aluno deverá discordar. Dizer que o prefeito atendeu seu pedido providenciando o final das chuvas para acabar com as inundações também é ironia.

04 – Relendo os três últimos parágrafos do texto, a quem seria possível atribuir o pronome de tratamento “senhor” utilizado pelo autor?

      Nos três últimos parágrafos do texto, fica claro que o “senhor” não é o prefeito. Pode ser uma referência a um ser sobrenatural poderoso, que teria poderes sobre a natureza.

05 – Na sua opinião, o que seria administrar à maneira suíça? E viver à maneira carioca?

      Administrar à maneira suíça seria administrar uma cidade como se ela fosse de primeiro mundo; viver à maneira carioca seria viver num país de terceiro mundo.

06 – Na “Carta ao Prefeito”, escrita em junho de 1951, Rubem Braga faz referência à “Batalha do Rio de Janeiro”. Comparando esse texto com os acontecimentos citados em “As meninas da linha 174 – um elogio”, a que conclusões é possível chegar?

      Pode-se concluir que a violência no Rio de Janeiro, já descrita em 1951, continua, apresentando-se de forma ainda mais acentuada.

07 – Verifique se a descrição do Rio de Janeiro, da forma feita pelo autor, corresponde ao conceito de cidade elaborado pela classe na abertura da unidade.

      Provavelmente, não haverá correspondência. O conceito de cidade, elaborado pela classe, deve referir-se à cidade como um lugar no qual o cidadão poderá viver em condições dignas.