sexta-feira, 18 de março de 2022

HISTÓRIA: O NAVEGADOR SOLITÁRIO - FAMÍLIA SCHURMANN - COM GABARITO

 História: O navegador solitário

             Família Schurmann

        Estávamos atracados na marina de Rodney Bay, Santa Lúcia. O ano era 1987. Chovia muito, ainda assim ouvirmos barulho de velas: era um pequeno barco chegando. David e Wilhelm ajudaram o recém-chegado nas manobras. Uma vez atracado, o navegador solitário perguntou se viviam a bordo. Com a resposta positiva, perguntou se não podiam dar uma olhada no seu barco, enquanto ia em terra providenciar os documentos. Curiosos, os meninos perguntaram de onde vinha.

        -- Das Falklands – respondeu. – Vocês sabem onde fica?

        -- Sim, nós somos do Brasil – explicaram as crianças.

        -- Ah, sim? Já estive lá. Comi feijoada com farinha e até ganhei uma figa!

        Wilhelm deixou David conversando com o homem e veio nos contar do navegador que mal chegara das Falklands e já ia partir para Nova York. Esperamos que terminasse o trâmite dos seus papéis e o convidamos para um café. A conversa tornou-se longa e agradável, quando nos contou sua história.

        Chamava-se James Hatefield, era inglês. Desde pequeno adorava o mar, e sempre sonhou em navegar pelo mundo. Mas, quando tinha apenas dezesseis anos, teve sérios problemas cardíacos e precisou ser operado. Aos 28 anos, foi submetido a outras seis operações cardíacas. Os médicos não lhe deram muitas chances de sobrevivência, uns poucos meses que deveriam ser bem aproveitados.

        Assim, no pouco tempo de vida que tinha, resolvera realizar seu sonho: velejar pelo mundo, em contato com a natureza e com o mar. Já tinham se passado três anos, ele agora estava com 31, e continuava mais vivo do que antes.

        Saiu da Inglaterra em 1984 com um pequeno veleiro de 24 pés, o Cornisch Crabbes, com bolina e calado de apenas setenta centímetros. Levou 101 dias para chegar ao Rio, outros 42 até Cape Town e mais 63 até Perth. Deu a volta pelo sul do continente australiano e foi até Auckland. De Auckland seguiu rumo ao cabo Horn. Estava no meio do caminho, no paralelo 45°, quando ouviu um terrível barulho de colisão. Subiu ai convés e não viu nada, só a escuridão ao seu redor. No interior, a água já alcançava os paneiros. Mas o instinto de sobrevivência falou mais alto. Procurou ver o que tinha acontecido, descobriu ter perdido o leme. Tirou água do barco com balde e com a bomba de porão. Contatou seus amigos radioamadores que acompanhavam sua rota e lançou seu pedido de socorro.

        -- Imagine – dizia ele – se meu médico me visse daquele jeito, balde na mão, trabalhando sem parar, mal alimentado, quase sem descanso, tentando me salvar. Eu que, de acordo com seus prognósticos, já deveria ter morrido!

        Depois de seis dias e um trabalho insano, os amigos radioamadores conseguiram encontrar um cargueiro que navegava mais ou menos próximo e ele foi resgatado. O veleiro, infelizmente, naufragou.

        -- Quase morri do coração! – falou emocionado. – Não de doença, mas de tristeza!

        O cargueiro deixou-o na Nova Zelândia. No Hospital do Coração, souberam de sua desventura e se interessaram por ele. Cotizaram-se e deram-lhe um novo veleiro, de 29 pés, batizado com o nome de British Heart. As pessoas e empresas que colaboraram na construção do novo barco tiveram seus nomes registrados na borda do veleiro. Ganhou velas, mastros, roupa, equipamentos, alimentos. Em troca, um compromisso: velejar ao redor da Nova Zelândia, fazendo palestras em escolas, clínicas e hospitais, arrecadando fundos para o Hospital do Coração.

        -- Não sei como agradecer a este povo tão hospitaleiro, que me deu carinho e me alimentou por todo este tempo – dizia emocionado. Confessou também ter sido difícil a despedida, pois era grande a emoção dos amigos ao vê-lo partir.

        De Wellington fez o percurso até o cabo Horn em 42 dias, numa média de 133 milhas diárias, enfrentando muito mar e correntes. Passou pelas ilhas Falklands e depois, sem escalas, velejou diretamente para o Caribe, em Santa Lúcia.

        Permaneceu ao nosso lado apenas dois dias, tempo necessário para abastecer, lavar a roupa, trocar montanhas de livros com outros barcos ancorados e seguir direto até Nova York. Perguntamos-lhe por que não ficava mais um pouco.

        -- Oh, não – respondeu. – Gosto do que faço, estou bem e sou feliz. E o meu coração pertence ao mar!

Diário de uma aventura, Dez anos no mar. Record, 1995. p. 143-145.

Fonte: Português – Linguagem & Participação, 6ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1ª edição – 1998, p. 207-210.

Entendendo a história:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Atracado: preso ao cais do porto.

·        Marina: lugar onde se guardam os barcos.

·        Trâmite: procedimento para conseguir algo.

·        Cardíacas: do coração.

·        Bolina: peça de veleiro, cabo que puxa vela.

·        Calado: parte do barco que fica sob a linha d’água.

·        Colisão: choque, trombada.

·        Convés: assoalho do barco.

·        Posseiro: bancada à ré dos pequenos barcos, destinada aos passageiros.

·        Prognósticos: previsões.

·        Cotizaram-se: reuniram-se para contribuir para uma despesa comum.

·        Insano: que faz mal à saúde.

02 – Observe a importância de algumas pequenas palavras, como a do exemplo abaixo, e explique em seu caderno que ideias elas acrescentam às frases.

        tinham se passado três anos, ele agora estava com 31, e continuava mais vivo do que antes”. O uso do estabelece o pressuposto de que o tempo presente estava além do esperado.

a)   Chovia muito, ainda assim ouvimos barulho de velas...

O uso de ainda indica que, como chovia, era de se esperar que não se ouvisse nada.

b)   Mal chegara das Falklands e ia partir para Nova York.

O pressuposto era de que ele ia partir antes do que se esperava.

c)   Assim, no pouco tempo de vida que tinha, resolvera realizar seu sonho.

A palavra assim estabelece uma relação de continuidade entre esse momento e o vivido anteriormente.

d)   No interior, a água alcançava os paneiros.

Acrescenta uma circunstância de tempo: nesse momento, então.

03 – Qual é o significado da frase: “Quase morri do coração! – falou emocionado. – Não de doença, mas de tristeza!”?

      Fiquei muito triste. O coração aqui é utilizado como o centro dos sentimentos, das emoções e não como órgão do corpo simplesmente

04 – Em que circunstâncias de tempo e espaço os Schurmann encontraram James Hatefield?

      Eles encontraram com o navegador solitário em Rodney Bay, Santa Lúcia, em 1987.

05 – Quais são as características pessoais de James Hatefield?

     É um inglês que teve dos dezesseis aos vinte e oito anos sérios problemas cardíacos.

06 – Por que James começou a viajar?

      Ele foi praticamente desenganado pelos médicos e resolveu aproveitar o pouco tempo de vida que lhe restava realizando um sonho: navegar pelo mundo.

07 – Como o inglês escapou do naufrágio do Cornisch Crabbes?

      Durante seis dias James retirou água do barco e pediu ajuda aos amigos radioamadores que acompanhavam sua rota. Um cargueiro mais ou menos próximo o resgatou.

08 – Como James foi recebido na Nova Zelândia?

      Foi muito bem recebido. Cuidaram da saúde dele e deram-lhe um novo barco bem equipado.

09 – Por meio de suas atitudes o inglês revelou algumas qualidades interiores. Quais são elas? Justifique suas afirmações.

      Ele é inteligente, pois sabe se orientar no mar. Ama o mar e tem muita coragem. É um homem que está de bem com a vida. “Gosto do que faço, estou bem e sou feliz.”

10 – O que há de extraordinário na história de James Hatefield?

      Ele foi considerado sem saúde, deram-lhe pouco tempo de vida. Depois disso, viveu três anos no mar, navegando, solitário, enfrentando um trabalho insano. Com isso, seu problema cardíaco desapareceu.

11 – Por que o navegador inglês ficou apenas dois dias em terra?

      Porque ele ama estar no mar.

12 – Respondendo a estas perguntas, você estará resumindo o texto:

·        Quem? James Hatefield.

·        O quê? Navega solitário no mar.

·        Onde? Pelo mundo.

·        Por quê? Deram-lhe pouco tempo de vida devido a problemas cardíacos.

HISTÓRIA: BRINQUEDO LEGO - MARIA CRISTINA VON ATZINGEN - COM GABARITO

 História: Brinquedo LEGO

        Em 1932, na Dinamarca, um marceneiro chamado Ole Kirk Christiansen começou um pequeno negócio fabricando tábuas de passar roupa, escadas portáteis e brinquedos de madeira.

        Seu filho de 12 anos, Godtfred, o ajudava.

        Dois anos depois, com seis funcionários, deu à sua empresa o nome de LEGO, juntando as primeiras letras das palavras Leg Godt que significavam “boa brincadeira”.

        Seu lema era “Só o melhor é bom o suficiente”. Em 1949, criou o brinquedo LEGO, tijolinhos de plástico que juntos podiam se transformar em casas, carros e em tudo o mais que a imaginação permitisse. Para se ter uma ideia, com seis tijolinhos pode-se obter 102.981.500 combinações diferentes.

        Ole Kirk Christiansen morreu em 1958, aos 67 anos, e seu filho Godtfred assumiu a companhia.

        Hoje o Grupo LEGO emprega mais de 9400 pessoas, em 140 países, ocupando a posição de líder mundial no segmento de brinquedos.

        Os brinquedos LEGO atendem a crianças de três meses a dezesseis anos, que, além de brincar com os famosos tijolinhos, podem conhecer os parques temáticos Legoland localizados na Dinamarca, Inglaterra e Estados Unidos, construídos com milhões de peças. [...]

Maria Cristina Von Atzingen. A história dos brinquedos – Para as crianças conhecerem e os adultos se lembrarem. São Paulo: Alegro, 2001. p. 153-4.

Fonte: Livro- PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 6ª Série – 2ª edição - Atual Editora – 2002 – p. 228-9.

Entendendo a história:

01 – De que se trata esse texto?

      Conta a história da criação do brinquedo LEGO.

02 – Por quem foi criado este brinquedo? Qual era sua profissão?

      Foi criado em 1932, por Ole Kirk Christiansen. Era marceneiro.

03 – Quem ajudava ele no começo? Qual era a sua idade?

      Seu filho Godtfred. Tinha 12 anos de idade.

04 – Quantos empregados possui o Grupo LEGO? E em quantos países ele ocupa a posição de líder?

      Hoje possui mais de 9.400 pessoas. E está em 140 países.

05 – Leia esta oração:

        “Em 1932, um marceneiro dinamarquês começou um pequeno negócio.”

a)   Identifique o sujeito da oração.

Um marceneiro dinamarquês.

b)   Destaque o núcleo do sujeito.

Marceneiro.

c)   Qual é a classe gramatical das palavras que acompanham o núcleo do sujeito?

Um: artigo; Dinamarquês: adjetivo.

06 – Observe o predicado da mesma oração.

a)   Qual é o objeto do verbo começar?

Um pequeno negócio.

b)   Identifique o núcleo do objeto e a classe gramatical a que ele pertence.

Negócio; substantivo.

c)   Identifique a classe gramatical a que pertencem as palavras que acompanham o núcleo do objeto.

Um: artigo indefinido; Pequeno: adjetivo.

07 – Compare:

        Um marceneiro dinamarquês começou um pequeno negócio.

        Marceneiro começou negócio.

        Que papel têm as palavras que acompanham os núcleos do sujeito e do objeto nessa orações?

      Elas determinam, indeterminam e qualificam os núcleos.

 

 

CRÔNICA: O SEGREDO - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

 Crônica: O segredo

              Fernando Sabino

        [...]

        Estava empenhado nisso, quando senti que havia alguém em pé atrás de mim. Uma voz de homem, que soou familiar aos meus ouvidos, perguntou:

        -- Que é que você está fazendo?

        Sem me voltar, tão entretido estava com as formigas, expliquei o que se passava. Logo consegui restabelecer o tráfego delas, recompondo a fila através da ponte. O homem se agachou a meu lado, dizendo que várias formigas seguiam por um caminho, uma na frente de duas, uma atrás de duas, uma no meio de duas. E perguntou:

        -- Quantas formigas eram?

        Pensei um pouco, fazendo cálculos. Naquele tempo eu achava que era bom em aritmética: uma na frente de duas faziam três; uma atrás de duas eram mais três; uma no meio de duas, mais três.

        -- Nove! Exclamei, triunfante.

        Ele começou a rir e sacudiu a cabeça, dizendo que não: eram apenas três, pois formiga só anda em fila, uma atrás da outra. 

        Então perguntei a ele o que é que cai em pé e corre deitado.

        -- Cobra? – ele arriscou, enrugando a testa, intrigado. 

        Foi a minha vez de achar graça:

        -- Que cobra que nada! É a chuva – e comecei a rir também.

        -- Você sabe o que é que caindo no chão não quebra e caindo n'água quebra?

        -- Sei: papel.

        Gostei daquele homem: ela sabia uma porção de coisas que eu também sabia. Ficamos conversando um tempão, sentados na beirada da caixa de areia, como dois amigos, embora ele fosse cinquenta anos mais velho do que eu, segundo me disse. Não parecia. Eu também lhe contei uma porção de coisas. Falei na minha galinha Fernanda, nos milagres que um dia andei fazendo, e de como aprendi a voar como os pássaros, e a minha ventura de escoteiro perdido na selva, as espionagens e investigações da sociedade secreta Olho de Gato, o sósia que retirei do espelho, o Birica, valentão da minha escola, o dia em que me sagrei campeão de futebol, o meu primeiro amor, o capitão Patifaria, a passarinhada que Mariana e eu soltamos. Pena que minha amiga não estivesse por ali, para que ele a conhecesse. Levei-o a ver o Godofredo em seu poleiro:

        -- Fernando! – berrou o papagaio, imitando mamãe: – Vem pra dentro, menino! Olha o sereno!

        -- Hindemburgo apareceu correndo, a agitar o rabo. Para surpresa minha, nem o homem ficou com medo do cachorrão, nem este o estranhou; parecia feliz, até lambeu-lhe a mão. Depois mostrei-lhe o Pastoff no fundo do quintal, mas o coelho não queria saber de nós, ocupado em roer uma folha de couve.

        O homem me disse que tinha de ir embora – antes queria me ensinar uma coisa muito importante:

        -- Você quer conhecer o segredo de ser um menino feliz para o resto da sua vida?

        -- Quero – respondi.

        O segredo se resumia em três palavras, que ele pronunciou com intensidade, mãos nos meus ombros e olhos nos meus olhos:

        -- Pense nos outros.

        Na hora achei esse segredo meio sem graça. Só bem mais tarde vim a entender o conselho que tantas vezes na vida deixei de cumprir. Mas que sempre deu certo quando me lembrei de segui-lo, fazendo-me feliz como um menino.

        O homem se curvou para me beijar na testa, se despedindo:

        -- Quem é você? – perguntei ainda.

        Ele se limitou a sorrir, depois disse adeus com um aceno e foi-se embora para sempre. 

In: SABINO, Fernando, O Menino no espelho. São Paulo, Record, 1984. p. 15-18.

Fonte: Português – Linguagem & Participação, 6ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1ª edição – 1998, p. 64-7.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Soar: fazer barulho, produzir som.

·        Poleiro: vara onde as aves pousam e dormem.

·        Entretido: ocupado; distraído.

·        Pronunciar: falar, expressar verbalmente, articular.

·        Recompondo: formando outra vez.

·        Intensidade: força.

·        Intrigado: curioso; interessado; desconfiado.

·        Aceno: gesto de mão em movimento.

·        Sósia: alguém tão semelhante que parece igual.

02 – Quem são as personagens do texto? Descreva cada uma delas.

      As personagens do texto são um menino e um adulto. O primeiro é arteiro, alegre, comunicativo e mistura fantasia e realidade. O adulto é muito simpático, parece conviver bem com crianças.

03 – Nem todas as características das personagens são claramente apontadas pelo autor: algumas são percebidas pelo leitor por meio de inferências que o texto sugere. A partir dos trechos abaixo, que inferência poderíamos fazer:

a)   Sobre o garoto, em “Sem me voltar, tão entretido estava com as formigas, expliquei o que se passava. Logo consegui restabelecer o tráfego delas, recompondo a fila através da ponte”?

É provavelmente um garoto sensível, imaginativo e bom observador, pois é capaz de dedicar-se a algo tão lento como a caminhada das formigas.

b)   Sobre o adulto em “Ficamos conversando um tempão, sentados na beirada da caixa de areia [...] lhe contei uma porção de coisas [...] tinha de ir embora – antes queria me ensinar uma coisa muito importante”?

Sugestão: gostava de crianças, tinha facilidade de conversar com elas, despertava simpatia e confiança, tinha experiência de vida.

04 – O menino revela simpatia pelo estranho, por reconhecer semelhanças entre eles. Indique o trecho em que isso ocorre.

      “Gostei daquele homem: ele sabia uma porção de coisas que eu também sabia”.

05 – Que segredos sobre sua própria vida o menino revela ao estranho?

      Falou da galinha Fernanda, dos milagres que andou fazendo, de como aprendeu a voar como os pássaros, das suas aventuras como detetive e escoteiro, do sósia que retirou do espelho, do valentão da escola, do dia em que foi campeão de futebol, do primeiro amor, do capitão Patifaria, da passarinhada que soltou junto com Mariana. Levou-o para ver o papagaio Godofredo.

06 – Dessa série de acontecimentos que o menino conta ao estranho, todos lhe parecem verdadeiros? Faça um comentário a respeito.

      Alguns são parte do mundo de fantasia que envolve seu universo de brincadeiras, como o sósia que retirou do espelho e o fato de ter aprendido a voar como os pássaros.

07 – Quando o menino entendeu o conselho do homem? Por quê?

      O menino entendeu o conselho do homem muito mais tarde. Faltava-lhe maturidade.

08 – Por que o menino deixou de seguir o conselho que o homem lhe dera?

      Provavelmente, porque na maioria das vezes estava preocupado consigo mesmo e não com os outros, como age tanta gente.

09 – Qual é a sua opinião sobre o conselho do homem?

      Resposta pessoal do aluno.

 

CRÔNICA: FESTA - WANDER PIROLI - COM GABARITO

 Crônica: Festa

              Wander Piroli

        Atrás do balcão, o rapaz de cabeça pelada e avental olha o crioulão de roupa limpa e remendada, acompanhado de dois meninos de tênis branco, um mais velho e outro mais novo, mas ambos com menos de dez anos.

        Os três atravessam o salão, cuidadosa mas resolutamente, e se dirigem para o cômodo dos fundos, onde há seis mesas desertas.

        O rapaz de cabeça pelada vai ver o que eles querem. O homem pergunta em quanto fica uma cerveja, dois guaranás e dois pãezinhos.

        – Duzentos e vinte.

        O preto concentra-se, aritmético, e confirma o pedido.

        – Que tal o pão com molho? – sugere o rapaz.

        – Como?

        – Passar o pão no molho da almôndega. Fica muito mais gostoso.

        O homem olha para os meninos.

        – O preço é o mesmo – informa o rapaz.

        – Está certo.

        Os três sentam-se numa das mesas, de forma canhestra, como se o estivessem fazendo pela primeira vez na vida.

        O rapaz de cabeça pelada traz as bebidas e os copos e, em seguida, num pratinho, os dois pães com meia almôndega cada um. O homem e (mais do que ele) os meninos olham para dentro dos pães, enquanto o rapaz cúmplice se retira.

        Os meninos aguardam que a mão adulta leve solene o copo de cerveja até a boca, depois cada um prova o seu guaraná e morde o primeiro bocado do pão.

        O homem toma a cerveja em pequenos goles, observando criteriosamente o menino mais velho e o menino mais novo absorvidos com o sanduíche e a bebida.

        Eles não têm pressa. O grande homem e seus dois meninos. E permanecem para sempre, humanos e indestrutíveis, sentados naquela mesa.

Para gostar de ler – Contos. São Paulo, Ática, 1984. v. 9. p. 73.

Fonte: Português – Linguagem & Participação, 6ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1ª edição – 1998, p. 89-91.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Resolutamente: decididamente.

·        Cômodo: quarto, compartimento.

·        Concentrar-se: dirigir o pensamento de modo intenso para.

·        Canhestra: desajeitada.

·        Cúmplice: pessoa que participa, com outra, de algum fato.

·        Criteriosamente: sensatamente, com critérios.

·        Absorvidos: concentrados em.

·        Indestrutíveis: que não podem ser destruídos.

02 – Substitua as palavras em destaque por sinônimos:

a)   O rapaz de cabeça pelada e avental olha o crioulão.

Careca / sem cabelos; homem negro.

b)   Os três atravessam o salão resolutamente e se dirigem para o cômodo dos fundos.

Decididamente; vão; sala / compartimento.

c)   Os três sentam-se de forma canhestra.

Desajeitadamente.

d)   Os meninos aguardam que a mão adulta leve solene o copo até a boca.

Esperam; do pai; formal.

03 – Ao entrar no bar, qual era a grande preocupação do pai dos meninos?

      A grande preocupação do pai era com o preço do que iam pedir.

04 – O que revelou o comportamento do rapaz de cabeça pelada?

      Revelou uma certa simpatia pelo homem e pelas crianças.

05 – Explique melhor o trecho: “Os três sentam-se numa das mesas, de forma canhestra, como se o estivessem fazendo pela primeira vez na vida.”

      Eles eram tão pobres que se sentiam mal no bar modesto; além disso vivam uma experiência nova.

06 – Por que os meninos esperam o pai começar a beber para depois comerem?

      Possivelmente porque o ambiente é estranho e eles se orientam pelo comportamento do pai.

07 – O que revela a atitude do pai ao ficar observando os meninos?

      O grande amor que ele sente pelas crianças, o orgulho e a alegria por eles estarem comendo ali.

08 – Que tipo de pessoas são o pai dos meninos e o garçom?

      São homens simples e sensíveis.

09 – Releia atentamente o último parágrafo do texto e explique:

a)   Por que o negro é o “grande homem”?

Ele representa o homem simples, do povo, pobre mas digno.

b)   O que significa permanecerem para sempre “humanos e indestrutíveis sentados naquela mesa”?

O narrador quer mostrar que a figura humilde do homem que ama seus filhos pode permanecer eterna.

10 – Justifique o título do texto.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Provavelmente, por nunca terem entrado num bar para comer. Ai se tornou um motivo de festa.

11 – Escolha, entre as alternativas abaixo, o que o texto “Festa” transmitiu a você?

        Solidariedadedignidade – desprezo – preconceito – sofisticação – simplicidade.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Solidariedade, dignidade e simplicidade.

 

 

 

CRÔNICA: FESTA DE ANIVERSÁRIO - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

 Crônica: Festa de aniversário

              Fernando Sabino

     Leonora chegou-se para mim, a carinha mais limpa deste mundo:

        -- Engoli uma tampa de Coca-Cola. 

        Levantei as mãos para o céu: mais esta, agora! Era uma festa de aniversário, o aniversário dela própria, que completava seis anos de idade. Convoquei imediatamente a família:

        -- Disse que engoliu uma tampa de Coca-Cola.

        A mãe, os tios, os avós, todos a cercavam, nervosos e inquietos.

        -- Abra a boca, minha filha. Agora não adianta: já engoliu. Deve ter arranhado. Mas engoliu como? Quem é que engole uma tampa de cerveja? De cerveja não: de Coca-Cola. Pode ter ficado na garganta -- urgia que déssemos uma providência, não ficássemos ali, feito idiotas. Tomei-a ao colo: -- Vem cá, minha filhinha, conta só para mim. Você engoliu coisa nenhuma, não é isso mesmo?

        -- Engoli sim, papai -- ela afirmava com decisão.

        Consultei o tio, baixinho:

        -- O que é que você acha?

        Ele foi buscar uma tampa de garrafa, separou a cortiça do metal:

        -- O que você engoliu: isto... ou isto?

        -- Cuidado que ela engole outra -- adverti.

        -- Isto -- e ela apontou com firmeza a parte de metal.

        Não tinha dúvida: Pronto-Socorro. Dispus-me a carregá-la, mas alguém sugeriu que era melhor que ela fosse andando: auxiliava a digestão.

        No hospital, o médico limitou-se a apalpar-lhe a barriguinha, cético:

        -- Dói aqui, minha filha?

        Quando falamos em radiografia, revelou-nos que o aparelho estava com defeito: só no Pronto-Socorro da cidade.

        Batemos para o Pronto-Socorro da cidade. Outro médico nos atendeu com solicitude.

        -- Vamos já ver isto.

        Tirada a chapa, ficamos aguardando ansiosos a revelação. Em pouco o médico regressava:

        -- Engoliu foi a garrafa.

        -- A garrafa?! -- exclamei. Mas era uma gracinha dele, cujo espírito passava ao largo da minha aflição: eu não estava para graças. Uma tampa de garrafa! Certamente precisaria operar -- não haveria de sair por si mesma.

        O médico pôs-se a rir de mim:

        -- Não engoliu coisa nenhuma. O senhor pode ir descansado.

        -- Engoli -- afirmou a menininha.

        Voltei-me para ela:

        -- Como é que você ainda insiste, minha filha?

        -- Que eu engoli, engoli.

        -- Pensa que engoliu -- emendei.

        -- Isso acontece -- sorriu o médico -- até com gente grande. Aqui já teve um guarda que pensou ter engolido o apito.

        -- Pois eu engoli mesmo -- comentou ela, intransigente.

        -- Você não pode ter engolido -- arrematei, já impaciente. -- Quer saber mais que o médico?

        -- Quero. Eu engoli, e depois desengoli -- esclareceu ela.

        Nada mais havendo a fazer, engoli em seco, despedi-me do médico e bati em retirada com toda a comitiva. 

Quadrante. Rio de Janiro, Editora do Autor, 1962.

Fonte: Português – Linguagem & Participação, 6ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1ª edição – 1998, p. 46-7.

Entendendo a crônica:

01 – Qual é o conteúdo desta crônica?

      É de conteúdo humorístico, de mal-entendido que aconteceu durante a festa de aniversário.

02 – Por que ela é considerada uma crônica?

      Porque transforma um assunto corriqueiro, como uma festa de aniversário, em matéria para uma crônica.

03 – Como em todo texto narrativo, tem alguém que conta a história. Quem é o narrador deste texto?

      É o pai de Leonora.

04 – Quem são as personagens do texto?

      Leonora, seu pai, familiares e os médicos do pronto-socorro.

05 – Qual o fato que se narra nesse texto?

      O desespero de um pai que pensa que a filha engoliu uma tampa de refrigerante.