Romance infantojuvenil (fragmento)- Um bom sujeito
Leia um fragmento do romance Um bom sujeito, que conta a história
de Reinaldo, um garoto decidido a conquistar Valéria, a garota por quem está
apaixonado. Sabendo que ela adora garotos inteligentes, Reinaldo resolve ter
aulas de Língua Portuguesa com seu amigo Ricardo para chamar a atenção da garota
durante a aula. Confira.
[...] Foram cinco tardes
de muito estudo. E Reinaldo tinha um objetivo a atingir. Por isso, tratou de
prestar atenção às lições de Ricardo e raciocinar. Resultado: aprendeu
direitinho o que queria.
– Hoje, vou dar um show! –
garantiu a uma colega, no início da aula, alguns dias depois.
Era só esperar a
professora chamá-lo, pensou. Vinte minutos passados, bateu a impaciência. Será que
a professora tinha esquecido dele? No quadro-negro, outro menino tinha acabado
de grifar os sujeitos das orações que Márcia pedira.
– Parabéns! – a professora
cumprimentou os acertos.
Reinaldo levantou a mão. Olhava para a
primeira oração escrita no quadro. Ela era:
O sujeito da oração, O time da
escola, tinha sido sublinhado.
– Só pra confirmar, professora... –
Reinaldo esclareceu o motivo do aparte. – Time é o núcleo do sujeito?
– Exatamente – concordou Márcia.
– Eu sabia! – exclamou o garoto, para
marcar que sabia mesmo.
Algumas caras de espanto, outras de
gozação se viraram para ele. Com o canto do olho, Reinaldo pescou o olhar que
lhe interessava. Parece que Valéria tinha gostado da exibição.
Eduardo não gostou nem um pouco. Resolveu se intrometer, falando com a
professora.
– Esse negócio de núcleo do sujeito a
gente ainda não aprendeu – disse, numa queixa.
Gol contra. Reinaldo aproveitou e
continuou o show. Falou de peito cheio para os colegas:
– O núcleo é a palavra central do
sujeito. A mais importante de todas que fazem parte do sujeito. No caso,
trata-se de time. Time é o elemento principal. O vencedor dos
visitantes.
E se voltou para Valéria, lembrando:
– Com a modesta participação dos meus
passes para o Chico.
A classe estava de queixo caído. Será que Reinaldo tinha tomado chá de
enciclopédia? Até Márcia estava calada. Como todas as atenções continuassem
nele, Reinaldo soltou mais um exemplo:
– Naquela outra oração, A professora
de Matemática não veio hoje, professora é o núcleo do sujeito.
É a palavra que exerce o papel
central.
– Como é que dá para garantir isso? –
perguntou a Regininha, lá no fundo da classe. Reinaldo não vacilou:
– Se a gente tirar a palavra professora,
a oração fica até sem sentido.
– A... de Matemática não veio hoje –
repetiu a Regininha em voz alta.
– Fica sem sentido mesmo! – concordou
Valéria.
Amigo de Eduardo, Filipe sussurrou
alguma coisa em seu ouvido. O garoto levantou a cabeça.
Seus olhos brilharam.
– E você sabe dizer, Reinaldo, se esse
sujeito é simples ou composto? – perguntou Eduardo, certo de que colocava o
colega contra a parede.
– Quero ver ele sair dessa – comentou
Filipe, apertando a mão do amigo.
Muita gente ficou de orelha em pé para escutar a resposta. Márcia ainda
não ensinara a classificação do sujeito. Para a maioria da turma, esse assunto
não podia ser coisa fácil.
– É sujeito simples – Reinaldo
respondeu, superior. – Só tem um núcleo, professora. Aliás, como eu já
disse.
Todo mundo se voltou para Márcia, esperando a confirmação.
– Muito bem, Reinaldo! – a professora
estava mesmo
surpresa. – Continue assim.
A essa altura, o garoto queria mesmo
esbanjar.
– Aí no quadro, só tem uma oração com sujeito composto. É: Meu irmão e a prima de Maria foram ao cinema – Reinaldo foi em frente. – Dá licença, Márcia?
Chegou até o quadro, grifando as palavras irmão e prima.
– Estas são palavras principais do
sujeito, são seus núcleos.
Quando o sujeito de uma oração tem
mais de um núcleo, ele é um sujeito composto. Certo, professora?
– Certíssimo!
O sinal tocou. A confusão da saída começou. Reinaldo largou o giz. Foi
buscar o material na sua carteira. Antes parou ao lado de Valéria. Respirou
fundo.
– Não era má ideia um cineminha hoje à
tarde... – convidou.
– Se a minha mãe deixar – a menina
sorriu. – Me telefona...
Na volta para casa, Teleco estranhou o
silêncio de Eduardo.
– O que é que está acontecendo com
você? – quis saber curioso.
– Não dá pra explicar – resmungou
Eduardo, carrancudo. – Na sua idade, você não vai entender.
A diferença de idade dos dois era pequena. Mas Eduardo a usava, quando
queria evitar que Teleco se intrometesse nas suas coisas. O irmão menor ficava
bravo:
– Deixa de ser crica...
Eduardo precisava desabafar:
– É a Valéria, você sabe... – falou
vagamente.
– Se soubesse não tava perguntando...
– retrucou Teleco, impaciente.
OLIVIERA, Antônio Carlos. Um bom sujeito. Belo
horizonte: Formato, 1997.
Fonte:
Livro - Tecendo Linguagens - Língua Portuguesa: 8º ano/Tania Amaral Oliveira,
Lucy Aparecida Melo Araújo - 5.ed. - Barueri(SP): IBEP, 2018 - p.49/50/51.
Fonte da imagem - https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fbr.freepik.com%2Fvetores-premium%2Festudante-de-desenho-animado-escrevendo-no-quadro-negro_4740943.htm&psig=AOvVaw14GkSA8EFLxk39jHYDJNcQ&ust=1617749169014000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCMC9hLmX6O8CFQAAAAAdAAAAABAD
POR DENTRO DO TEXTO
a) Que estratégia Eduardo
utilizou para prejudicar a exposição de Reinaldo?
Auxiliado pelo amigo Filipe,
Eduardo perguntou se o sujeito de quem Reinaldo falava era simples ou composto.
b) Eduardo atingiu seu objetivo?
Justifique.
Não, pois Reinaldo também
havia aprendido sobre isso e conseguiu responder à pergunta.
c) Por que Eduardo estava
tão interessado em prejudicar o colega?
Porque ele também estava interessado
em Valéria, ficamos sabendo disso no final do texto, quando ele desabafa com o
irmão: “– É a Valéria, você sabe…”.
a) Como Reinaldo definiu o
conceito de núcleo do sujeito aos colegas?
“– O núcleo é a palavra
central do sujeito. A mais importante de todas que fazem parte do sujeito.”
b) Que orações do quadro
ele utilizou para exemplificar sua explicação? Qual é o núcleo do sujeito em
cada uma delas?
O time da
escola venceu os visitantes por dois a zero.”, em que o núcleo do
sujeito é “time”, e “A professora de Matemática não veio hoje”, em que
“professora” é o núcleo do sujeito.
Quando o sujeito tem apenas
um núcleo, é sujeito simples, e quando o sujeito de uma oração tem mais de um
núcleo, ele é um sujeito composto. O exemplo que ele deu era a única oração do
quadro de giz com sujeito composto: “Meu irmão e a prima de Maria foram ao
cinema”.