domingo, 28 de março de 2021

TEXTO: ROUPA OU UNIFORME: VANTAGENS E DESVANTAGENS - LÍGIA MENEZES - COM GABARITO

 Roupa ou uniforme: vantagens e desvantagens

                              Lígia Menezes

Provavelmente já aconteceu com você: na hora de ir para a escola, o seu filho reclama e não quer colocar o uniforme de jeito nenhum. Ou então uma situação bem diferente: na escola do seu filho, o uniforme não é obrigatório e você gasta muito dinheiro para comprar - e repor - roupas... 

O fato é que algumas escolas exigem o uso do uniforme e são bem rígidas quanto a isso, impondo regras até na cor da meia e do tênis dos alunos. Outras são mais maleáveis, mas, ainda assim, acreditam que o uniforme pode trazer benefícios. Há ainda um terceiro tipo de escola, que não impõe seu uso e ainda acha que ele tira a individualidade e pode até prejudicar o desenvolvimento das crianças. Diante disso, os pais, claro, ficam confusos. Afinal quem está certo?

 

A má notícia é que, para essa pergunta, não há uma única resposta. Existem argumentos contrários e favoráveis ao uso do uniforme. O EDUCAR PARA CRESCER conversou com especialistas sobre o tema para esclarecer algumas das dúvidas que surgem na cabeça dos pais. A seguir, você vai ficar sabendo quais são os prós e os contras do uso do uniforme da escola. Leia, reflita e tome uma posição.

 

Alguns argumentos favoráveis ao uso do uniforme

É prático

Quando a escola oferece uniforme, há menos perda de tempo na hora de a criança se preparar para ir estudar. (...) na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental, fase em que as crianças brincam muito, elas sujam e estragam mais as roupas. Isso pode tornar o uniforme vantajoso, pois ele costuma ser mais fácil de lavar.

Preserva a Infância

A partir do Ensino Fundamental II, quando a criança já tem 11 anos, ela acaba ganhando força na escolha da roupa, caso a escola permita. E é aí que mora o perigo. Segundo Edimara de Lima, da Prima Escola Montessori, muitas vezes, nessa idade, ela não tem discernimento para escolher a roupa adequada. Há casos até em que a situação pode preocupar. "Pode acontecer de a criança usar vestimenta inadequada à sua faixa etária, como decote ou salto, e até criar um estilo sensual. Nesses casos, a mãe deve ser chamada para conversar e receber orientações", afirma Edimara.

Inibe o consumo

Quando o uso do uniforme não é obrigatório, as crianças podem ser expostas precocemente a valores consumistas e distorcidos, como valorizar apenas quem usa roupas de grife. "Em casos extremos, isso reforça sentimentos de inferioridade e a baixa autoestima", diz a psicóloga Margareth Scherschmidt, de São Paulo. "Mas é claro que a situação acima também pode ocorrer em escolas onde o uso do uniforme é obrigatório, com modelos diferentes de tênis, relógios, aparelhos celulares e iPods", pondera Luciana Fevorini, orientadora educacional do Colégio Equipe, de São Paulo, onde o uso do uniforme é opcional.

Minimiza a vaidade

O desejo consumista, associado à falta de uniforme escolar, pode estimular a vaidade infantil, segundo a psicóloga Vivian Zanfolin. Se essa vaidade é controlada, tudo bem. O problema é quando a criança coloca a vaidade como prioridade na vida dela. "Por exemplo, uma garota com menos de dez anos que vai de salto alto para a escola no dia em que temos recreação no playground. Explico que ela terá de ir descalça brincar ou não ir. Se ela decide não ir apenas por não querer ser vista sem sapato, o caso é preocupante", explica Edimara de Lima, da Prima Escola Montessori.

É econômico

Alguns uniformes oferecem um custo de vestimenta mais em conta do que as roupas comuns. Além disso, eles proporcionam um desgaste menor das roupas das crianças. Porém, as escolas não podem obrigar a compra do uniforme em estabelecimento próprio ou indicar somente uma determinada loja, se o mercado em geral comercializar o produto. A escola deve informar qual o modelo de uniforme utilizado e quais são os locais em que possa ser adquirido.

Diminui o risco de bullying

Oferece pouco risco de comparação com outras crianças. "Ele é ‘programado’ para todos os tipos de corpo e evita comparações entre as crianças. Isso diminui até o risco de bullying", diz Edimara de Lima, da Prima Escola Montessori.

Proporciona segurança na hora de brincar

Por ter um tecido flexível (e, principalmente, as escolas que exigem o uso do tênis), o uniforme dá segurança no exercício das atividades escolares, principalmente na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I e nas aulas de Educação Física.

Impõe disciplina

O uniforme ajuda na assimilação de normas e regras, contribuindo com o aprendizado da organização e da disciplina, indispensáveis para o desenvolvimento da criança.

Equilibra as diferenças sociais

O uso do uniforme diminui a ostentação e deixa o aluno com menor poder aquisitivo em pé de igualdade diante do grupo.

Confere responsabilidade

O uso diário do uniforme cria um distanciamento entre o momento de estudo e os momentos de lazer. "Isso, de certa forma, influencia no comportamento e na responsabilidade", diz Débora Vaz, diretora pedagógica da Escola Castanheiras.

 

Alguns argumentos contrários ao uso do uniforme

Tira a individualidade

O uniforme, como o próprio nome sugere, serve para uniformizar, ou seja, criar um padrão. Para Luciana Fevorini, do Colégio Equipe, não há necessidade de fazer isso dentro de uma escola. "Achamos interessante os alunos se mostrarem como são e que sejam reconhecidos como diferentes uns dos outros. E não é porque não tem uniforme que não tem regras", explica ela.

Não passa noções de como se vestir

Se a escola impõe o uso do uniforme, a criança não aprende a se vestir. "Isso pode prejudicar o futuro dela. Quanto mais rígido for o colégio, menos a criança terá essa noção no futuro, quando estiver na faculdade ou no mercado de trabalho", afirma Edimara de Lima, da Prima Escola Montessori.

Dificulta a formação de grupos

O uso diário do uniforme não permite que, dentro do coletivo escolar, os pequenos se organizem por tribos, por estilos, se identifiquem e façam amizades.

Padroniza a diferença

Segundo alguns especialistas, com o uniforme, a criança não é vista como um indivíduo, e sim como apenas mais uma no grupo.

Dificulta a busca de identidade

O uso diário do uniforme limita o aparecimento de marcas pessoais de estilo. "Isso se torna um problema principalmente para os adolescentes, que estão em busca de identidade", reflete Luciana Fevorini. 

http://secretariamunicipalmarilia.blogspot.com/2013/07/roupa-ou-uniforme-vantagens-e.html

https://ligiagmenezes.files.wordpress.com/2011/08/uniforme-educar.jpg

Fonte: Livro - Tecendo Linguagens - Língua Portuguesa: 6º ano/Tania Amaral Oliveira, Lucy Aparecida Melo Araújo - 5.ed. - Barueri(SP): IBEP, 2018 - p.90/91.

GLOSSÁRIO

Bullying: atitude agressiva causada por um ou mais indivíduos a outra pessoa com a intenção de intimidá-la ou ataca-la com atos ou palavras que a ofendam física ou moralmente.

Entendendo o texto

1 – Qual é o público-alvo desse texto?

      Estudantes de qualquer faixa etária, pais e professores.

2 – Qual características do texto justifica a resposta dada por você na pergunta anterior?

      Mesmo que no texto a autora se dirija aos alunos, o tema (assunto) pode ser útil aos pais e professores se os argumentos forem usados para refletir sobre o uso ou não do uniforme.

3 – Releia os argumentos a seguir, favoráveis ao uso do uniforme.

·        Inibe o consumismo.

·        Minimiza a vaidade.

- Como você entende esses argumentos apresentados pela especialista.

Resposta pessoal.

4 – Dos argumentos apresentados pela especialista em relação às vantagens em usar o uniforme:

a)   com qual(is) você concorda? Por quê?

Resposta pessoal.

 b)   com qual(is) você discorda? Por quê?

Resposta pessoal.

5  – Dos argumentos que o texto traz contrários ao uso do uniforme:

a)   com qual(is) você concorda? Por quê?

Resposta pessoal.

 b)   com qual(is) você discorda? Por quê?

Resposta pessoal.

 

 

 

 

 

 

sábado, 27 de março de 2021

POEMA: SAPATO DE MENINO - NYE RIBEIRO - COM GABARITO

 POEMA: SAPATO DE MENINO

                 Nye Ribeiro


Menino,

amarra esse sapato,

senão...

 

Você vai acabar

pisando

nesse cordão!

 

Leva um tombo,

esfola o joelho,

arma um berreiro

de cara no chão...

 

A mãe vem correndo,

o cachorro late,

a porta bate e amassa o dedão...

 

O pai chega assustado,

o gato mia,

o papagaio fala um nome feio,

o irmão faz birra,

 

o avô desmaia,

o vizinho reclama do barulho...

Pronto!

Está armada a confusão!

 

Menino,

amarra esse sapato,

senão...!

                    Ribeiro, Nye. Roda de letrinhas. São Paulo: Rada & Cia.2004.

Fonte: Livro - Tecendo Linguagens - Língua Portuguesa: 6º ano/Tania Amaral Oliveira, Lucy Aparecida Melo Araújo - 5.ed. - Barueri(SP): IBEP, 2018 - p.111/112.

Entendendo o poema

 1.   O poema apresenta um ritmo bastante marcado, como nos versos “o cachorro late, a porta bate, e amassa o dedão...”.

a)   Que relação tem o ritmo com os acontecimentos?

O ritmo das ações são sequenciais e consiste na repetição ordenada de sons vocálicos.

b)   Que expressões resume as consequências de não amarrar o sapato?

“...pisando nesse cordão...”,

“...leva um tombo...”

“...esfola o joelho...”

“...arma um berreiro...”

“...de cara no chão...”.

2.   Os pronomes esse e aquele usados no poema são chamados de pronomes demonstrativos.

3.   Ao usar a palavra esse para se referir ao sapato e ao cordão, o eu lírico indica que o sapato está próximo ou longe do menino?

É possível perceber que o eu lírico está se referindo ao sapato que o menino está usando, ou seja, está próximo do menino.

4.   Caso o eu lírico se referisse a um sapato que estivesse distante de si mesmo e do menino, que palavra substituiria o termo esse?

Aquele.

5.   Qual o pronome de tratamento que substitui no texto a palavra menino?

O pronome você.

 

 

quinta-feira, 25 de março de 2021

POEMA: NO MUNDO HÁ MUITAS ARMADILHAS - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

POEMA: NO MUNDO HÁ MUITAS ARMADILHAS

        Ferreira Gullar

 No mundo há muitas armadilhas

e o que é armadilha pode ser refúgio

e o que é refúgio pode ser armadilha


Tua janela por exemplo

aberta para o céu

e uma estrela a te dizer que o homem é nada


ou a manhã espumando na praia

a bater antes de Cabral, antes de Troia

(há quatro séculos Tomás Bequimão

tomou a cidade, criou uma milícia popular

e depois foi traído, preso, enforcado)


No mundo há muitas armadilhas

e muitas bocas a te dizer

que a vida é pouca

que a vida é louca

E por que não a Bomba? te perguntam.

Por que não a Bomba para acabar com tudo, já

que a vida é louca?


Contudo, olhas o teu filho, o bichinho

que não sabe

que afoito se entranha à vida e quer

a vida

e busca o sol, a bola, fascinado vê

o avião e indaga e indaga


A vida é pouca

a vida é louca

mas não há senão ela.

E não te mataste, essa é a verdade.


Estás preso à vida como numa jaula.

Estamos todos presos

nesta jaula que Gagárin foi o primeiro a ver

de fora e nos dizer: é azul.

E já o sabíamos, tanto

que não te mataste e não vais

te matar

e aguentarás até o fim.


O certo é que nesta jaula há os que têm

e os que não têm

há os que têm tanto que sozinhos poderiam

alimentar a cidade

e os que não têm nem para o almoço de hoje


A estrela mente

o mar sofisma. De fato,

o homem está preso à vida e precisa viver

o homem tem fome

e precisa comer

o homem tem filhos

e precisa criá-los

Há muitas armadilhas no mundo e é preciso quebrá-las.

 GULLAR, Ferreira. Melhores poemas de Ferreira Gullar. Seleção e apresentação de Alfredo Bosi. 6. ed. São Paulo: Global, 2000. p. 58-59.

Fonte: Livro – APROVA BRASIL- Língua Portuguesa – 9º Ano -  Editora Moderna;editora responsável, Thaís Ginícolo Cabral. --São Paulo : Moderna, 2019, p.48-51

 

1.   Denomina-se eu lírico a voz que fala no poema. No poema, que sentimentos são manifestados pelo eu lírico na comparação que faz nos versos a seguir?

 “No mundo há muitas armadilhas

e o que é armadilha pode ser refúgio

e o que é refúgio pode ser armadilha”

 O eu lírico compara o mundo (a vida) a uma armadilha e a um refúgio. Como armadilha, o mundo é visto negativamente, trazendo problemas, surpresas desagradáveis; como refúgio, ele é visto como proteção.

 2. Na estrofe citada na questão anterior, a palavra refúgio tem o sentido de

a) esconderijo.

b) perigo.

c) abrigo.

d) fuga.

 3. Assinale a alternativa que expressa uma possível interpretação para a estrofe a seguir.

 “Contudo, olhas o teu filho, o bichinho

que não sabe

que afoito se entranha à vida e quer

a vida

e busca o sol, a bola, fascinado vê

o avião e indaga e indaga”

 a) As crianças são deslumbradas porque não conhecem a vida.

b) As crianças são ingênuas porque jogam bola e admiram o sol e os aviões.

c) As crianças não se sentem presas e são ávidas por conhecer o novo.

d) As crianças aproveitam a vida porque ela é pouca e louca.

 4.4A linguagem dos poemas geralmente é figurada, metafórica. Que metáfora é empregada na estrofe a seguir para referir-se à Terra?

Lembre: metáfora é o emprego de uma palavra ou expressão em lugar de outra, com a qual guarda alguma semelhança.

 “Estás  preso à vida como numa jaula.

Estamos todos presos

nesta jaula que Gagárin foi o primeiro a ver

de fora e nos dizer: é azul.

E já o sabíamos, tanto

que não te mataste e não vais

te matar

e aguentarás até o fim.”

 No poema, a palavra jaula é utilizada como metáfora para Terra; “Estamos todos presos / nesta jaula que Gagárin foi o primeiro a ver / de fora e nos dizer: é azul”.

 5.Extraia do poema a estrofe em que o eu lírico aborda as desigualdades sociais.

“O certo é que nesta jaula há os que têm / e os que não têm / há os que têm tanto que sozinhos poderiam / alimentar a cidade / e os que não têm nem para o almoço de hoje”.

POEMA: O RIO - VINICÍUS DE MORAES - COM GABARITO

 POEMA: O RIO


Vinicius de Moraes

 

Uma gota de chuva

A mais, e o ventre grávido

Estremeceu, da terra.

Através de antigos


Sedimentos, rochas

Ignoradas, ouro

Carvão, ferro e mármore

Um fio cristalino

Distante milênios

Partiu fragilmente

Sequioso de espaço

Em busca de luz.

Um rio nasceu.

 

MORAES, Vinicius de. O rio. Disponível em: <www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/

poesia/poesias-avulsas/o-rio>. Acesso em: 24 jun. 2019.

 ENTENDENDO O POEMA

1.1 Qual é o tema do texto?

     O nascimento de um rio.

 2.2 Explique, com suas palavras, o que o poema conta.

      Resposta pessoal. Sugestão de resposta: Uma gota de chuva a mais cai sobre a terra fértil, formando um fio de água cristalina que futuramente se transforma em rio.

 

MÚSICA(ATIVIDADES): CASA AMARELA - BENZIÊ - COM GABARITO

 MÚSICA(ATIVIDADES): CASA AMARELA

Benziê

 Comprei uma casa amarela de frente pro mar

Com uma varanda pra nossa ninhada brincar

Vendi nosso apartamento

E troquei a televisão

Por uma prancha de surf

Duas magrelas e um violão

 

Comprei uma casa amarela de frente pro mar

Com uma janela pro céu como você sonhou

Em cada pequeno detalhe

Da simplicidade ao amor

Percebo a beleza

Desse mundão que Deus criou


E um belo pôr do sol
Com vista para o mar
Dinheiro passa a ser pequeno
Diante de tudo que posso abraçar

E cada momento da vida
Pode ser mais lindo de viver
Vou fugir de tudo com você
Iê iê iê iê iê

BENZIÊ. Casa amarela. Disponível em: <www.letras.com/benzie/casa-amarela>.Acesso em: 22 jun. 2019.

ENTENDENDO A  CANÇÃO 

1. A letra da canção deixa subentendido um contraste entre dois estilos de vida diferentes. Explique-o.

Pode-se inferir que o eu lírico fez a opção por um estilo de vida diferente do anterior: de uma vida urbana para uma vida mais simples e com mais contato com a natureza.

 2. O que destaca o eu lírico, na letra de música?

Na letra de canção, o eu lírico destaca a importância de viver com tranquilidade e junto à natureza. Sugestões de exemplos: “Vendi nosso apartamento / E troquei a televisão / Por uma prancha de surf / Duas magrelas e um violão”.

CONTO: A HISTÓRIA DE PLATTNER - H.G. WELLS - COM GABARITO

 CONTO: A HISTÓRIA DE PLATTNER

              H. G. Wells

 É uma pena que a aversão de Plattner pela ideia de dissecação post--mortem* possa adiar, talvez para sempre, a comprovação definitiva de que os seus lados direito e esquerdo foram invertidos. A credibilidade de sua história repousa principalmente na demonstração desse fato. Não existe nenhuma maneira de pegar um homem e movê-lo no espaço, do modo como este é compreendido pelas pessoas comuns, que possa resultar numa transposição dos seus lados. Não importa o que se faça, seu lado direito continua à direita, o esquerdo, à esquerda. Claro que, por outro lado, é possível fazer isso com alguma coisa que seja fina e achatada. Se cortarmos um bonequinho de papel, uma figura qualquer que tenha um lado direito e um lado esquerdo, podemos inverter esses lados simplesmente erguendo essa figura, virando-a e depositando-a de volta, com os lados invertidos.

Mas com um sólido é diferente. Os teóricos matemáticos nos dizem que a única maneira de inverter os lados de um corpo sólido é retirar esse corpo do espaço como o conhecemos — retirá-lo da nossa existência normal — e girá-lo sobre si mesmo em algum lugar fora do espaço. Isto é um tanto abstruso*, sem dúvida; mas qualquer pessoa familiarizada com a teoria matemática pode confirmar ao leitor que é algo verdadeiro. Para exprimir este fato em linguagem técnica, essa curiosa inversão dos lados direito e esquerdo de Plattner é uma prova de que ele foi movido, para fora do espaço, para aquilo que chamamos a Quarta Dimensão, e depois foi trazido de volta ao nosso mundo. A menos que admitamos ter sido objeto de uma maquinação complicada e sem propósito, somos conduzidos a crer que foi exatamente isso que ocorreu.

 WELLS, H. G. A história de Plattner (excerto).

O país dos cegos e outras histórias.

Rio de Janeiro: Objetiva, 2014.

GLOSSÁRIO

 *post-mortem: após a morte.

*abstruso: difícil de entender, obscuro.

 Questão 01

D7 – Identificar a tese de um texto.

 O narrador do conto, no excerto reproduzido, defende a tese de que

( A ) não há como inverter os lados esquerdo e direito de um homem a não ser que ele seja movido para a Quarta Dimensão.

( B ) não é possível mover o corpo de um homem para o espaço; isso seria uma invenção para enganar as pessoas.

( C ) a dissecação post-mortem é a melhor forma de inverter os lados direito e esquerdo de uma pessoa.

( D ) se cortarmos um bonequinho de papel, é possível inverter seus lados apenas girando o boneco sobre si mesmo em algum lugar fora do espaço.

 

Questão 02

D9 – Diferenciar as partes principais das secundárias em um texto.

 O trecho que contém uma das informações principais desse texto é:

( A ) “A menos que admitamos ter sido objeto de uma maquinação complicada e sem propósito, somos conduzidos a crer que foi exatamente isso que ocorreu. ”.

( B ) “A credibilidade de sua história repousa principalmente na demonstração desse fato. ”.

( C ) “[...] a única maneira de inverter os lados de um corpo sólido é retirar esse corpo do espaço como o conhecemos [...] e girá-lo sobre si mesmo em algum lugar fora do espaço. ”.

( D ) “Isto é um tanto abstruso, sem dúvida; mas qualquer pessoa familiarizada com a teoria matemática pode confirmar ao leitor que é algo verdadeiro. ”.

 

 

 

CRÔNICA: COM LICENÇA: A BARATA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 CRÔNICA: COM LICENÇA: A BARATA

                  Carlos Drummond de Andrade

 

A barata. Por que este velho tema (chamemo-lo assim) volta sempre à máquina de escrever e daí passa ao jornal e entra na casa de todo mundo?

Há assuntos graves, eu sei, mas o teclado quer escrever é a palavra “barata”, assunto que no máximo pede inseticida. E, se for possível, certa expressão de asco. Se possível. Os emissários submarinos e outros despertadores de náusea reclamam prioridade e mal dão ensejo a que se sinta nojo diante de uma barata.

Há mesmo, até, quem cultive um sentimentozinho de ternura pela barata.

Pobre que ela é, desamparada, furtiva, aguardando a noite, o sono dos moradores, para cuidar da vida. Então, certa alma pura, como duas que conheci, consagra aos ortópteros* blatídeos* um amor feito de piedade, alimenta-os, deixa-os prosperar, salva-os do ataque indiscriminado de quem cultiva outro ponto de vista sobre a relação gente-barata:

— Essa não! Essa é minha amiga, não posso consentir que você liquide com ela!

— E como é que você sabe que essa aí é a sua amiga e não outra qualquer, se todas as baratas são iguais?

O protetor (ou protetora) de barata olha com desprezo quem lhe faz objeção tão boba. Há personalidade nas baratas, já não falando na variedade de espécies caseiras: a periplaneta americana, a blatella germanica, a blatta orientalis… Não se deve discutir com ignorantes. Basta mostrar ao desinformado que a baratinha sob nossa especial proteção tem cabeça alaranjada, com duas listras castanhas. As de sua raça ostentam (ostentar* é modo de dizer, barata não gosta de se exibir) cabeça amarela com listras pretas. Então você não vê, não sente a diferença?

Entenda-se. Não estou aqui para promover campanha sentimental em favor das baratas. Pertenço ao grupo fero* que trata de eliminá-las de qualquer jeito, e tanto recorre à dedetização como à pancada direta, aplastante*, com a sola do sapato. O naturalista Von Ihering recomendava que fossem caçadas a água fervendo. Recurso perigoso, que pode afetar tanto a caça como o caçador. Mas o próprio Von Ihering [...], ao descrever as baratas, põe de lado o nojo, para admitir: “Há delas de várias cores e tamanho, algumas até bem bonitas (se for permitida tal expressão), verde-gaio ou pintadas”.

Assim, esteticamente, a barata pode ser objeto de admiração, em alguns casos, e até mesmo, se for bastante colorida, ganhar capa de Manchete.

Temos de nos defender contra os insetos daninhos, e a barata é dos que mais fazem jus ao título. Para isto há o inseticida. Já não é tão eficaz a exclamação que assinala sua presença numa gaveta:

— Nojenta!

— Repugnante!

— Repelente!

— Imunda!

— Asquerosa!

— Sórdida!

— Porcaria!

— Vil!

Não lhes parece excesso de artilharia para alvo tão miúdo? Além do

mais, canhoneio* vão. A barata ignora nossos xingos, que não lhe atingem a estrutura. E daí, se formos tão severos com ela, que palavras terríveis guardaremos para qualificar indivíduos incomparavelmente mais daninhos, pois não devastam só uma gaveta, mas regiões inteiras do globo, e fazem recair seu poder maléfico sobre a humanidade em geral?

É prudente economizar certo tipo de objurgatórias*, para que não nos falte munição em hora adequada. E barata não merece tanto. Já é, por si, animal condenado à clandestinidade e ao desprezo. Se uma consegue despertar sentimento amistoso no peito de alguém, maravilha é, sobre me render mais este papocrônica.

 ANDRADE, Carlos Drummond de. Boca de Luar.

São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

Fonte: Livro – APROVA BRASIL- Língua Portuguesa – 7º Ano -  Editora Moderna;editora responsável, Thaís Ginícolo Cabral. --São Paulo : Moderna, 2019, p. 36/37/38.

GLOSSÁRIO

 *ortóptero: ordem de insetos de corpo alongado, tamanho médio

a grande (grilos, gafanhotos, esperanças, bichos-paus, louva-a-deus, baratas).

*blatídeo: família de insetos ortópteros que compreende as baratas.

*ostentar: mostrar-se, exibir-se com alarde.

*fero: perverso, cruel.

*aplastante: cansativo, fatigante.

*canhoneio: tiros de canhão simultâneos ou sucessivos.

*objurgatória: repreensão severa.

Questão 1

D7 – Identificar a tese de um texto.

O autor desse texto defende a ideia de que as baratas

( A ) não merecem o desprezo e a severidade com que as tratamos, pois há indivíduos mais daninhos no mundo.

( B ) só podem ser exterminadas com o uso de água quente, pois qualquer outra forma seria excesso de crueldade com esses animais.

( C ) são admiradas pela maioria das pessoas, as quais somente não têm a coragem de admitir que gostam delas.

( D ) conseguem resistir aos inseticidas porque são as únicas que sobreviveriam a uma explosão nuclear.

 

Questão 2

D10 – Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa.

 No trecho “— Essa não! Essa é minha amiga, não posso consentir que você liquide com ela!”, há uma fala

( A ) do narrador-personagem da história.

( B ) do narrador observador da história.

( C ) da personagem principal da história.

( D ) de uma personagem secundária da história.

 Questão 3

D12 – Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros.

 Esse texto tem como finalidade

( A ) ensinar ao leitor as melhores formas de exterminar baratas.

( B ) discorrer sobre um fato cotidiano: a difícil relação do ser humano com as baratas.

( C ) fazer uma crítica às pessoas que conseguem enxergar alguma beleza nas baratas.

( D ) divulgar informações científicas sobre as principais espécies de baratas existentes.