sexta-feira, 22 de maio de 2020

POEMA: PELA RUA - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

Poema: Pela Rua
                                                                     Ferreira Gullar

Sem qualquer esperança
Detenho-me diante de uma vitrina de bolsas
Na avenida nossa senhora de Copacabana, domingo,
Enquanto o crepúsculo se desata sobre o bairro.

Sem qualquer esperança
Te espero.
Na multidão que vai e vem
Entra e sai dos bares e cinemas
Surge teu rosto e some
Num vislumbre
E o coração dispara.
Te vejo no restaurante
Na fila do cinema, de azul
Diriges um automóvel, a pé
Cruzas a rua
Miragem
Que finalmente se desintegra com a tarde acima dos edifícios
E se esvai nas nuvens.

A cidade é grande
Tem quatro milhões de habitantes e tu és uma só.
Em algum lugar estás a esta hora, parada ou andando,
Talvez na rua ao lado, talvez na praia
Talvez converses num bar distante
Ou no terraço desse edifício em frente,
Talvez estejas vindo ao meu encontro, sem o saberes,
Misturada às pessoas que vejo ao longo da avenida.
Mas que esperança! tenho
Uma chance em quatro milhões.
Ah, se ao menos fosses mil
Disseminada pela cidade.

A noite se ergue comercial
Nas constelações da avenida.
Sem qualquer esperança
Continuo
E meu coração vai repetindo teu nome
Abafado pelo barulho dos motores
Solto ao fumo da gasolina queimada.
                                                                       GULLAR, Ferreira.

Entendendo o poema

1)   Quem fala no poema?
O eu lírico é um homem à espera de sua amada.

2)   Qual é o assunto do poema?
É uma busca desesperada pelas ruas da pessoa amada.

3)   A busca do homem é bem-sucedida? Por quê?
Não, pois ele a cada rosto que vê pela rua vislumbra e o coração dispara imaginando ser ela.

4)   Desde o início, o homem tem um sentimento em relação ao que busca. Qual é esse sentimento? Copie o verso que indica esse sentimento.
Desde o começo se mostra sem qualquer esperança.
“Sem qualquer esperança
continuo.”

5)   O poema de Ferreira Gullar apresenta vários recursos da linguagem figurada. Há trechos que apresentam ideias ou palavras de sentidos contrários, chamadas de antíteses.
Encontre esses trechos no poema.
“...abafado pelo barulho dos motores.”
“Na multidão que vai e vem”.
“...entra e sai dos bares e cinemas”.
“...parada ou andando”.

6)   Quais as duas palavras que se opõem, entre o início e o final do poema?
No início ... te espero
No final...continuo.

7)   O poeta usa uma metáfora muito criativa nos versos:
A noite se ergue comercial
Nas constelações da avenida

a)   Qual a ligação entre “noite” e “constelações”?
São opostas, pois a noite é escura e constelações são agrupamentos de estrelas.

b)   O que significa algo que é “comercial”?
É algo que é para ser vendido ou comprado.

c)   Agora escreva, o que seriam as “constelações da avenida”, em uma “noite que se ergue comercial”?
Muitas luzes na avenida em uma noite de grandes vendas.

8)   A hipérbole é o exagero de expressão. Encontre essa figura no poema.
“Ah, se ao menos fosses mil
disseminada pela cidade”.


quarta-feira, 20 de maio de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): CUITELINHO - RENATO TEIXEIRA - VARIEDADE LINGUÍSTICA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Música(Atividades): Cuitelinho

              Renato Teixeira

Cheguei na beira do porto
Onde as onda se espáia
As garça dá meia volta
E senta na beira da praia
E o cuitelinho não gosta
Que o botão de rosa caia, ai, ai

Ai quando eu vim
da minha terra
Despedi da parentáia
Eu entrei no Mato Grosso
Dei em terras paraguaias
Lá tinha revolução
Enfrentei fortes batáia, ai, ai

A tua saudade corta
Como aço de naváia
O coração fica aflito
Bate uma, a outra faia
E os óio se enche d´água
Que até a vista se atrapáia, ai...

Eu vou pegar seu retratinho
E colocar numa medalha
Com seu vestidinho branco
E um laço de cambraia
Coloca-la no meu peito
Onde o coração trabalha, ai, ai.

                                 Composição: Antônio Carlos Xando / Paulo Emílio Vanzolini / Milton Silva Campos do Nascimento / Wagner Tiso Veiga.
Entendendo a canção:

01 – O verso que faz uso de linguagem formal é:
a)   “Que até a vista se atrapáia”.
b)   “Cheguei na beira do porto”.
c)   “O coração fica aflito”.
d)   “Ai quando eu vim”.

02 – A letra da canção apresenta uma linguagem:
(   ) Formal.
(X) Informal.

03 – Usando a linguagem formal:
a)   Faça a concordância nominal, onde for necessário, da 1ª estrofe.
         “Cheguei na beira do porto
         Onde as onda se espalham
         As garças dão meia volta
         E sentam na beira da praia
         E o cuitelinho não gosta
         Que o botão de rosa caia, ai, ai”.

b)   Transcreva a última estrofe.
“Eu vou pegar seu retratinho
E colocar numa medalha
Com seu vestidinho branco
E um laço de cambraia
Coloca-la no meu peito
Onde o coração trabalha, ai, ai.”

04 – Retire da canção todas as palavras que rimam com espáia.
      Espáia – parentáia – bataia – navaia – atrapaia – faia – caia.

05 – Esta escrita favoreceu a rima. Quais palavras, se escrita na língua culta, não estariam neste grupo de palavras?
      Parentada – cair.

06 – Mesmo o texto sendo escrito numa linguagem informal, foi possível compreendê-lo? Faça um resumo do texto.
      Sim. Conta a história de um soldado que despede dos parentes, entra no Mato Grosso e vai para o Paraguai enfrentar uma guerra. Sente saudade e chora.

07 – Em que sentido foi usado os seguintes versos: “A saudade corta / Feito aço de navaia”.
      (X) Conotativo.
      (   ) Denotativo.

08 – Nos seus primeiros versos da canção, o eu poético diz que chegou em um determinado lugar. Nesse lugar, ele narra alguns acontecimentos. Explique seu entendimento sobre essa narração.
      O eu poético chega à beira do porto, observa as ondas da praia, vê as garças voando por sobre as ondas e percebe que o cuitelinho não gosta de que os botões da rosa caiam no chão.

09 – O que é o cuitelinho?
      Nome dado ao beija-flor na região centro-oeste.

10 – Quando é o provável conflito a que refere o poema?
      A Guerra do Paraguai.

11 – Transmitida por gerações, a canção “Cuitelinho”, manifesta aspectos culturais de um povo, nos quais se inclui sua forma de falar, além de registrar um momento histórico. Depreende-se disso que a importância em preservar a produção cultural de uma nação consiste no fato de que produções como a canção Cuitelinho evidenciam a:
a)   Recriação da realidade brasileira de forma ficcional.
b)   Criação neológica na língua portuguesa.
c)   Formação da identidade nacional por meio da tradição oral.
d)   Incorreção da língua portuguesa que é falada por pessoas do interior do Brasil.
e)   Padronização de palavras que variam regionalmente, mas possuem mesmo significado.


CONTO: UM CHÁ BEM FORTE E TRÊS XÍCARAS - LYGIA FAGUNDES TELLES - COM GABARITO

Conto: Um chá bem forte e três xícaras
         
(Conto da obra Antes do baile verde)
        Lygia Fagundes Telles

      A borboleta pousou primeiramente na haste de uma folha de roseira que vergou de leve. Em seguida, voou até a rosa e fincou as patas dianteiras na borda das pétalas. Juntou as asas que se coloram palpitantes. Desenrolou a tromba. E inclinando o corpo para frente, num movimento de seta, afundou a tromba no âmago da flor. 
        Maria Camila chegou a estender a mão para prendê-la pelas asas. Não completou o gesto. Entrelaçou novamente as mãos no regaço e ficou olhando. Era uma borboleta amarela, com um fino riso negro debruando-lhe as asas.  
        -- Deve ser uma borboleta jovem – disse Maria Camila.
        -- Jovem? – repetiu a mulher debruçada na janela que dava para o jardim.
        -- Veja, as asas ainda estão intactas. E está sugando com tamanha força ... Haverá tanto suco assim?
        -- Essa rosa abriu ontem cedo, a senhora lembra? E já está murchando – disse a mulher prendendo com o alfinete do
        -- Maria Camila voltou-se para janela. Estava sentada numa cadeira de vime, entre os dois canteiros do jardim.
        No céu azul- claro, as nuvens iam tomando uma coloração rosada. Havia uma poeira de ouro em suspensão no ar. 
        -- Você ainda não pregou essa alça, Matilde?
        -- Não sei onde o botão foi parar.
        -- Pegue outro na minha caixa. Mas agora não! – pediu ela ao ver que a empregada já se dispunha a voltar para o interior da casa. Baixou o olhar até a roseira. – A gente vai clareando à medida que envelhece, mas as rosas vermelhas vão escurecendo, veja, ela está quase preta.
        -- E essa borboleta ainda...
        -- Deixa – atalhou Maria Camila. Uniu as mãos espalmadas no mesmo movimento com que a borboleta unira as asas. Suas mãos tremiam.  – Há de ver que a rosa está feliz por ter sido escolhida. 
        -- Mas desse jeito ela vai morrer mais depressa. 
        -- É melhor deixar. 
        A empregada passou lentamente a ponta do avental no peitoril da janela. Acompanhou com um olhar uma andorinha que cruzou o jardim num voo raso e desapareceu atrás do muro. Da casa vizinha. Suspirou.
        -- Acho que essa borboleta já esteve ontem por aqui, a senhora não viu?
        -- Maria Camila concordou com um leve movimento de cabeça. Examinou com espanto as mãos cheias de sardas. 
        -- É a mesma. 
        -- Acostumou - disse a mulher num tom indiferente.
        Fixou o olhar vadio nos ombros estreitos da patroa. – A senhora não quer que traga o chá?
        -- Estou esperando a menina. 
        -- Mas a que hora ficou de aparecer?
        -- Às cinco – disse Maria Camila apertando os olhos. 
        Inclinou-se para o relógio-pulseira. E escondeu no regaço as mãos fechadas. – Às cinco em ponto.
        -- Foi emergindo do silêncio da tarde o zunido poderoso de uma abelha. O riso de uma criança explodiu tão próximo que pareceu brotar de dentro do canteiro. 
        -- Essa menina... – E a empregada fez uma pausa para ajustar para ajustar melhor o pente nos cabelos grisalhos: – Eu conheço?
        -- Não, não conhece.
        -- Quantos anos ela tem?
        -- Uns dezoito.
        -- Mas então não é menina!
        Maria Camila fixou no céu o olhar perplexo. Voltou a examinar o relógio-pulseira. E cruzou os braços tentando dominar o tremor das mãos. 
        -- Desde ontem ela já rondava por aqui. Cismou com essa rosa, tinha que ser essa rosa.
        -- Trabalhei na casa de um padre que tinha um canteiro só de roseiras brancas. Como duravam aquelas rosas!
        Por um breve instante Maria Camila fixou-se de novo na borboleta. Teve uma expressão de repugnância. 
        -- Chega a ser obsceno...
        -- Mas é sabido que as vermelhas têm mais perfumes – prosseguiu a empregada apoiando-se nos cotovelos.
        Duas crianças atravessaram a rua aos gritos. A borboleta recolheu precipitadamente a tromba e fugiu num voo atarantado. Uma pétala desprendeu-se da corola e foi pousar na relva.  Outra pétala desprendeu-se em seguida e desenhando um giro breve, caiu num tufo de violetas. Maria Camila estendeu as mãos até a corola da flor.  Não chegou a tocá-la. Recolheu as mãos e ficou olhando para as veias intumescidas com a mesma expressão que olhara para a rosa.
        -- Ela é conhecida do doutor?
        -- Quem, Matilde?
        -- Essa moça que vem tomar chá...
        -- Trabalham juntos – disse Maria Camila passando nervosamente a ponta do dedo sobre a rede de veias. – Ela está fazendo um estágio no laboratório.
        -- Estágio?
        -- Sim, estágio. 
        -- A mulher ficou pensativa. Pôs-se a coçar o braço.
        -- E a senhora conhece ela?
        -- Já vi de longe.
        -- É bonita?
        -- Não sei, Matilde, não sei.
        -- Estágio – repetiu a empregada. – Então é essa que às vezes telefona pra ele.
        Alguém iniciou na vizinhança um exercício de piano. O exercício era elementar e tocado sem vontade. 
        -- Deve ser- sussurrou Maria Camila apanhando a pétala que caíra na relva Levou-a aos lábios que estavam lívidos. – Deve ser.
        -- Hoje cedo ela telefonou, não perguntei quem era porque o doutor não quer mais que a gente pergunte. Mas reconheci a voz, só podia ser ele. 
        -- São muito amigos. Os velhos, os mais velhos gostam da companhia dos jovens – acrescentou a mulher dilacerando a pétala entre os dedos.  Fez um gesto brusco. – Esse menino era melhor no violino, não era?
        A empregada fungou, impaciente.
        -- Nem no violino! A gente ficava com dor de cabeça quando ele começava com aquela atormentação. Diz que a mãe cismou que ele tem que tocar alguma coisa...
        -- Quem foi que disse?
        -- A Anita, que trabalha lá. Diz que a mãe fica o dia inteiro atrás dele, dando castigo se ele não estuda. São estrangeiros.
        -- Maria Camila olhou furtivamente o relógio. Abriu e fechou as mãos num movimento exasperado. Manteve-as fechada. 
        -- Ele tocava melhor violino. 
        A mulher fez uma careta.  E ficou seguindo com um olhar gelado. Uma adolescente que passava na calçada. Franziu a cara como se enfrentasse o sol. 
        -- Como é que ela se chama? Essa do chá...
        O menino interrompeu o exercício. O Zunido da abelha voltou mais nítido, fechando o círculo em redor de um único ponto.  Maria Camila respirou com esforço.
        -- Acho que estou gripada.  
        -- Gripada? – E a mulher apoiou o queixo nas mãos.  – A senhora está com os olhos inchados. Quer que eu vá buscar uma aspirina?
        -- Não, não é preciso – disse Maria Camila movendo a cabeça num ritmo fatigado. Encarou a empregada: – Não vai mesmo pregar esse botão? Não vai?
        -- Mas se não sei dele...
        -- Pegue um na minha caixa, já disse.
        A mulher empertigou-se com solenidade. Passou ainda a ponta do avental na janela, a fisionomia concentrada. Chegou a abrir a boca. E enveredou para o interior da casa. 
        Maria Camila relaxou a posição tensa. Olhou o relógio, sacudiu a cabeça e fechou com força os olhos cheios de lágrimas.  " Que é que eu faço agora?", murmurou inclinando-se para a rosa. "Eu gostaria que você me dissesse o que é que eu devo fazer! ..." Apoiou a nuca no espaldar da cadeira. “Augusto, Augusto, me diga depressa o que é que eu faço! Me diga! ...”
        A janela abriu-se. A empregada estendeu o braço num gesto digno. A voz saiu sombria.
        -- Não achei botão igual. Posso pegar este amarelo?
        Maria Camila tirou do bolso do casaco o estojo de pó. 
        Examinou-se ao espelho. Consertou as sobrancelhas. Umedeceu com a ponta da língua os lábios ressequidos e fechou o estojo. Ficou com ele apertado entre as mãos. Voltou-se para a janela.
        -- Pregue esse mesmo.
        A mulher vacilava, rodando o botão entre os dedos. 
        -- É o mais parecido que achei.
        -- Está bem, está bem – repetiu a outra reabrindo o estojo. Passou a esponja em torno dos olhos. Examinando as mãos. – Veja, Matilde, minhas mãos estão ficando da cor da tarde, tudo nesta hora vai ficando rosado... 
        -- O céu parece brasa, que bonito!
        A gente vai ficando rosada também – disse atirando a cabeça para trás. Expôs a face à luz incendiada do crepúsculo. E riu de repente: – Acho a vida tão maravilhosa!
        -- Maravilhosa?
        O menino parou de tocar. Maria Camila ficou alerta, os olhos brilhantes, as narinas acesas. Olhou para o relógio. Falou com energia  
        -- Assim que a moça chegar, sirva o chá aqui mesmo, faça um chá bem forte. E traga três xícaras.
        -- Mas é só a senhora e ela...
        -- O doutor pode aparecer de surpresa, é quase certo que ele apareça – acrescentou a mulher limpando do vestido os pedaços da pétala dilacerada que ficara por entre as pregas da saia. Levantou-se. Respirava ofegante. – Quero os guardanapos novos, não vá esquecer, hein? Os novos.
        Passos ressoaram na calçada. Quando ficaram mais próximos, a empregada pôs-se na ponta do pés, tentando ver além do muro da casa vizinha:
      -- Deve ser ela... É ela! – sussurrou excitadamente. – É ela!
        Maria Camila levantou a cabeça. E caminhou decidida em direção ao portão.
                                                                   Lygia Fagundes Telles  
Entendendo o conto:

01 – Dentro deste tipo textual (conto) há que narrador?
a)   Narrador-personagem.
b)   Narrador-observador.
c)   Narrador-onisciente.

02 – Qual o cenário em que se acontece a história?
      Num jardim.

03 – Que fato provocou o desenrolar dos acontecimentos descritos no conto?
      A visita de uma jovem de dezoito anos, convidada para um chá.

04 – Quantos personagens participam da ação apresentada no texto? Quem são eles?
      Maria Camila, Matilde, Augusto e a Estagiária.

05 – Maria Camila observa a borboleta e a flor e faz comentários com Matilde relacionando com sua vida. Por quê?
      A imagem da borboleta que suga a flor com força, forma uma analogia com a situação que ela está enfrentando.
      O ato de sugar talvez provoque a morte mais rápida da flor, pode ser comparada com a jovem estagiária que, para ela, é a causada morte do amor entre ela e Augusto.

06 – Neste trecho: “[...] A gente vai clareando à medida que envelhece mas as rosas vermelhas vão escurecendo, veja, ela está quase preta. Pode-se observar a utilização de que figura de linguagem?
      Uma antítese.

07 – O nervosismo de Maria Camila é traduzido em alguns gestos, principalmente relacionados às mãos. Cite alguns trechos que comprove a afirmação.
      “Suas mãos tremiam”; “As mãos fechadas”; “Tentando dominar o tremor das mãos”; “Abriu e fechou as mãos num movimento exasperado”.

08 – Em que passagem do texto ocorre o clímax, ou seja, o momento de maior tensão da história? Explique.
      Quando ouvem passos ressoarem na calçada e Matilde olha, vê que a estagiária chegou.
      Maria Camila levanta a cabeça e caminha em direção do portão.




POEMA: CÉU - MANUEL BANDEIRA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: Céu
             Manuel Bandeira

A criança olha
Para o céu azul.
Levanta a mãozinha,
Quer tocar o céu.

Não sente a criança
Que o céu é ilusão:
Crê que o não alcança,
Quando o tem na mão.
                                Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. 2ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1970. p. 195.
                    Fonte: Livro – PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 7ª Série – Atual Editora -1998 – p. 217-8.
Entendendo o poema:

01 – O poema apresenta duas estrofes.
a)   Na 1ª estrofe, é feita uma descrição. O que se descreve?
As ações de uma criança: ela olha o céu, levanta a mão.

b)   Na 2ª estrofe, o eu lírico faz uma consideração sobre o gesto da criança. Quem é o eu lírico: um adulto ou uma criança? Por quê?
Um adulto, porque reflete sobre as atitudes de uma criança.

02 – Observe os períodos e orações que estruturam a 1ª estrofe.
a)   Qual é o número de períodos?
Dois períodos.

b)   Os períodos são simples ou compostos?
O 1° é simples, e o 2° composto.

c)   Quantas orações há no 2° período dessa estrofe?
Duas orações.

d)   As orações do 2° período são coordenadas ou subordinadas entre si?
São orações coordenadas.

03 – Com relação à 2ª estrofe:
a)   Qual é o número de orações existentes nessa estrofe?
Possui cinco orações.

b)   As orações se ligam predominantemente entre si por coordenação ou por subordinação?
Por subordinação.

04 – Compare as duas estrofes quanto às ideias. Em qual delas predomina:
a)   A ingenuidade, a simplicidade e a pureza?
Na 1ª estrofe.

b)   O pensamento abstrato, a reflexão?
Na 2ª estrofe.

05 – Na 2ª estrofe, o eu lírico afirma que “o céu é ilusão” e que a criança “o tem na mão”. Observe algumas das associações que normalmente são feitas com céu e criança:
·        Céu: paraíso, pureza, leveza, inocência.
·        Criança: pureza, inocência, ingenuidade.
Com base nos sentidos dessas palavras, explique por que, segundo o texto, a criança tem o céu na mão.
      Porque ela é o próprio céu, ou seja, é a pureza, a leveza, a inocência.

06 – Como conclusão, relacione as ideias de cada uma das estrofes com a maneira como estão estruturados os períodos e as orações que apresentam. Em seguida, identifique as afirmativas verdadeiras:
a)   Na 1ª estrofe, predominam o período simples e a coordenação. No plano das ideias, essa estrutura, mais simples, corresponde a formas mais sofisticadas do pensamento.
b)   Na 1ª estrofe, predominam o período simples e a coordenação. Essa estrutura, sintaticamente mais simples, corresponde à simplicidade e à pureza dos gestos infantis.
c)   Na 2ª estrofe, predomina o período composto por subordinação. Essa estrutura corresponde normalmente, a formas mais complexas do pensamento, o que coincide, no plano das ideias, com as abstrações e reflexões feitas pelo eu lírico.
d)   Na 2ª estrofe, predomina o período composto por subordinação, estrutura sintática que coincide com o pensamento simples e direito do eu lírico, que se coloca no lugar de uma criança.


CRÔNICA: ESTES JOVENS ENTREVISTADORES E SEUS FANTÁSTICOS GRAVADORES - MOACYR SCLIAR - COM GABARITO


Crônica: Estes jovens entrevistadores e seus fantásticos gravadores
          
                  Moacyr Scliar

    Se há coisa que comove e estimula um escritor gaúcho é o apoio, sempre dedicado e muitas vezes anônimo, que a literatura rio-grandense recebe em centenas de esmolas, às vezes no mais remoto interior. Ainda na semana que passou, vários colégios fizeram realizar a Semana do Escritor Gaúcho. Muitos escritores, entre eles eu, foram procurados para palestras, sessões de autógrafos e entrevistas.
        Não são todos os escritores que gostam de falar para estudantes, ou para quem quer que seja; Dalton Trevisan, por exemplo, distribui uma entrevista-padrão mimeografada, e pronto, todo o resto está em seus livros. Eu, porém, gosto de conversar com jovens ou com qualquer pessoa sobre literatura. É um oficio muito solitário, este, de modo que romper a casca de vez em quando é benéfico. Não essencial, mas benéfico; sempre é algum feedback. E também é bom ajudar gente moça, que está se iniciando na literatura, e que muitas vezes se aflige com o misterioso código dos textos. Eu às vezes recebo telefonemas aflitos:
        -- Rápido! Tenho prova amanhã! O que é que o senhor quer dizer com a sua obra?
        Não há dúvida que é um bom exercício de síntese e que deve ter alguma utilidade: acredito que, no dia do Juízo, o Senhor nos cobrará mais ou menos nesses termos – Rápido! Qual foi o sentido de sua vida? –, de modo que é bom a gente estar preparado. Mas mesmo quando não estão a algumas horas de um exame, os estudantes entram em ansiedade aguda ante a perspectiva de fazer perguntas a um escritor. Uma das causas deve ser o próprio escritor, sempre uma figura mítica; outra causa deve ser o temor de fazer perguntas inadequadas; mas eu acho que o principal fator de perturbação dos jovens é o gravador.
        Nas mãos de um aluno de primeiro ou segundo grau, o gravador se revela um instrumento maligno, simplesmente incapaz de ser controlado – ao menos na ocasião de entrevistar um escritor. É uma rotina que constantemente se repete: entra o grupo de alunos, e em meio a risinhos nervosos, se prepara para a entrevista de antemão combinada. A primeira providência é desdobrar a folha de papel com as mil quatrocentas e vinte perguntas preparadas; a segunda – conditio sine qua non para a entrevista – é fazer funcionar o gravador. A primeira coisa que descobrem é que está sem pilhas; nenhum problema, só que a dona do gravador esqueceu de coloca-las. Mas aí, quando ela procura na bolsa, vê que só tem três pilhas, não quatro. A quarta, simplesmente sumiu, e deve ser fornecida pelo escritor, de cujo equipamento intelectual as pilhas são hoje componente indispensável. Colocada a pilha, deveria começar a gravação – e então é aquela atrapalhação com as teclas; em vez de Record a menina aperta o Fast Forward ou Rewind.
        O resultado disto é que, quando a entrevista finalmente começa, os entrevistadores não conseguem desgrudar os olhos da cassete, para ver se ela está rodando mesmo, o que acaba contagiando o escritor – e no fim, estão todos mais preocupados com o gravador que com a literatura. Mesmo que a cassete tenha rodado, contudo, não há garantia de que a entrevista tenha saído boa, é possível que os entrevistadores se lembrem que esqueceram de regular o volume, com o que a cassete, tocada, revela apenas uns débeis murmúrios que nem a professora de mais boa vontade poderá identificar com uma voz poderosa da literatura. Começa tudo de novo: onde é que o senhor nasceu? Que livros já escreveu? – etc. E desta vez então dá certo, e os alunos sorriem triunfantes, o escritor se solidariza com eles – bom trabalho, pessoal! – e, como convém à literatura e à vida, chega-se a um final feliz. Que é, afinal, o supremo consolo para os ofícios solitários. Enquanto houver jovens dispostos a – com ou sem gravador – perguntar, valerá a pena escrever e falar sobre o escrever.
  Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar e outras crônicas. Porto Alegre, L&PM 2001.
 Fonte: Livro – Ler, entender, criar – Português – 6ª Série – Ed. Ática, 2007 – p. 160-2.

Entendendo a crônica:

01 – Releia esta frase, do primeiro parágrafo do texto: “Muitos escritores, entre eles eu, foram procurados para palestras, sessões de autógrafos e entrevistas.”
A quem se refere o pronome eu nesse trecho? O que lhe permitiu chegar a essa conclusão?
      Refere-se a Moacyr Scliar. A identificação é possível porque o nome do autor do texto vem registrado logo abaixo do título.

02 – No texto acima ficamos conhecendo a visão de um entrevistado sobre um tipo de entrevista. Qual é esse tipo?
      As entrevistas realizadas por estudantes para a escola.

03 – Com base nas informações contida no texto, responda: qual é a função de Moacyr Scliar?
      Ele é escritor.

04 – De acordo com o texto “Estes jovens entrevistadores e seus fantásticos gravadores”, os alunos ficam ansiosos ante a perspectiva de fazer perguntas a um escritor. Um dos motivos é o próprio escritor, sempre uma figura mítica. O que você entende por “figura mítica”?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: nesse contexto, é uma “figura idealizada, fabulosa, legendária”.

05 – Ainda que de modo brincalhão, o escritor faz duas críticas à organização das entrevistas pelos estudantes. Quais são essas críticas?
      O excesso de perguntas (possivelmente causado pela falta de seleção das mais significativas para os objetivos da entrevista) e o descuido e a inabilidades dos estudantes no manejo do gravador.

06 – Segundo Moacyr Scliar, nem todos os escritores gostam de conceder entrevistas. Que exemplo ele menciona para comprovar seu ponto de vista?
      O caso de Dalton Trevisan, que distribui uma entrevista-padrão mimeografada e espera que quaisquer outras informações sejam encontradas em sua própria obra.

07 – Em que trechos Moacyr Scliar justifica sua boa vontade em conceder entrevistas?
      “É um ofício muito solitário, este, de modo que romper [...] se aflige com o misterioso código dos textos”, “[...] e, como convém à literatura e à vida, chega-se a um final feliz. [...] valerá a pena escrever e falar sobre o escrever”.