domingo, 3 de novembro de 2019

CRÔNICA: ME DÁ A SUA MÃO - HELENINHA BORTONE - COM GABARITO

Crônica: Me dá a sua mão
               Heleninha Bortone

        Marcos convivia com seus sonhos, numa casa grande demais para seu tamanho. Uma casa que tinha tudo. Piscina, quarto de brinquedos, um pai, uma mãe, duas irmãs moças e quatro empregados.
        Da porta da entrada da casa até o portão era um espaço enorme de jardins e grama. O portão dava para a rua. Lá sim, era animado. Carros passando, gente carregando pacotes, sorveteiros gritando, meninos brincando, muitas coisas alegres. Este era o mundo do outro lado do portão da casa de Marcos.
        Ele passava horas agarrado às grades bonitas. Um dia arriscou uma pergunta, com o coração aos pulos:
        -- Menino, onde você mora?
        Um garoto um pouco maior que ele se aproximou do portão e com a maior naturalidade respondeu:
        -- Moro longe. Você mora nesta casa aqui?
        -- Moro.
        -- Bacana, sua casa, né?
        -- É. Quer entrar?
        -- Quero.
        Marcos correu contente a pedir ao Luís que abrisse o portão. Mas não conseguiu fazer seu novo amigo entrar.
        Marcos voltou ao portão muito sem jeito, não sabendo o que dizer ao menino. Vinha triste e com raiva do Luís. Não entendia ainda que o motorista só cumpria ordens.
        -- Olha, menino, eu procurei a chave do portão mas não achei.
Volta outra hora, tá bom?
        -- Não faz mal. Eu pulo o portão. Pode?
        -- Pode.
        -- Como é seu nome?
        -- Marcos, e o seu?
        -- Meu nome é Zeca. Puxa, você deve ser muito rico, heim? Você tem tudo que quer?
        -- Não.
        -- Ah, então não é rico. Gente rica tem tudo que quer.
        Passaram um bom tempo brincando. Agora, era hora de ir embora, antes que alguém o visse. Marcos disse ao amigo que voltasse outras vezes.
        No quarto dia de espera, Marcos ouviu uma voz vinda do portão.
        -- Marquinhoooo!
        O amigo tinha voltado. Marcos saiu em disparada. Feliz.
        -- Pula logo o portão. Entra.
        Nesse momento, o carro de Dona Lúcia encostava.
        -- Quem é esse menino, Marcos?
        -- É o Zeca, meu amigo.
        Zeca desistiu da subida. Voltou para trás.
        -- Menino, sabia que é muito feio pular o portão da casa dos outros?
        Zeca fez que sim com a cabeça.
        -- Pois então vá para sua casa. Aqui não é pra brincar mais viu?
        Zeca abanou a mão para o Marcos e se afastou.
        -- Quantas vezes te pedi para não conversar com os meninos de rua?
        -- Mas Zeca não é um menino de rua.
        -- Por que você não faz amigos na escola? Podia trazê-los aqui para brincar. Será possível que tenho que te colocar no colégio o dia inteiro? Quem sabe assim você faz amigos...
        Marcos chorou. Foi para o quarto. Enxugou as lágrimas, mas não adiantou. A tristeza não secou.
        A vida voltou ao que era antes. Da escola para casa, televisão, brinquedos, sempre sozinho.
        Numa 2ª feira, quando todos haviam saído, Marcos aproveitou para brincar no portão. Pegou dois carrinhos e imaginando estradas e pontes passou algum tempo. De repente surge o Zeca.
        -- Oi, Marcos, tudo bom?
        -- Oi.
        -- Não vim antes porque não queria que você levasse castigo por minha causa. Vamos brincar?
        -- De que jeito?
        -- Ué, um dum lado do portão, outro do outro. Me dá um carrinho. Você fica com o outro. Vamos imaginar que do meu lado é uma rua, do seu é outra.
        Fizeram isso. Brincaram por mais de meia hora.
        Deste dia em diante Zeca só chegava quando via que Marcos estava sozinho.
        Marcos andava feliz. Pensava: "Puxa, o Zeca é a melhor pessoa do mundo. Nem se importa de ficar de fora do portão". É bem verdade que cansava os braços brincar pela grade, mas valia a pena. Valia a pena qualquer sacrifício para ter o amigo.
        -- Zeca, amanhã à noite acho que vai dar pra você entrar.
        -- Como?
        -- Tem festa. O portão vai ficar aberto. Quando você perceber que já entrou uma porção de pessoas, entra também e me espera no jardim.
        -- Marcos, topa fazer um *trato*?
        -- Topo. Que trato?
        -- De ser amigo pro resto da vida.
        Marcos esticou o braço, deu a mão para o amigo e "fecharam" o compromisso.
        -- Sabe, quando eu crescer vou abrir esse portão.
        -- Claro, aí ninguém vai dizer nada, né?
        Tudo aconteceu conforme o combinado. Zeca entrou, sentou no banco e esperou. Marcos não demorou chegar. Se jogou nos braços do amigo para um abraço.
        Mas o inesperado aconteceu. Dona Lúcia.
        -- Marquinhos, esse não é o menino que vi em cima do portão?
        -- É.
        -- E você menino, não disse que fosse embora? Você é maior que o Marcos, pensei que tivesse mais juízo.
        Marcos continuava agarrado à mão do Zeca.
        -- Marcos, como é que você traz pra casa uma pessoa que não conhece, filho?
        Nesse instante Marcos começou a se defender.
        -- Mãe, o Zeca é meu amigo. Meu único amigo. Aqui não tem ninguém pra brincar comigo. Eu gosto dele. O Zeca faz comida em casa, ajuda a tia e ainda vem todo dia brincar. Pensa que não cansa ficar de braço esticado no portão? Essa casa é muito grande, cabe muito bem o Zeca e eu. O Zeca não é um menino de rua. Lembra aquele carro vermelho? Dei pra ele. E ele já me deu 26 bolinhas de gude. Ele joga, ganha e me dá. Nunca aprendi a jogar. Como é que posso aprender com aquela grade no meio? Pode me colocar no colégio o dia inteiro. Lá também deve ter portão. Fizemos um trato de ser amigos pro resto da vida. O Zeca, mãe... O Zeca é o meu próximo, viu?
        Dizendo isso, Marcos pegou a mão do Zeca e iam se encaminhando para o portão.
        Dona Lúcia tinha um nó na garganta e os olhos cheios d'água. Disse baixinho ao marido:
        -- Chame esses meninos de volta... parecem tão iguais...

     Me dá a sua mão. Heleninha Bortone.
Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 5ª Série - Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 91-5.
Entendendo a crônica:

01 – Reescreva as frases, substituindo as palavras destacadas por um sinônimo do quadro abaixo:

Desacordo – acordo – vivia junto – queria – previsto – imprevisto – responsabilidade – renúncia.

a)   Marcos convivia com seus sonhos.
Marcos viva junto com seus sonhos.

b)   Valia a pena qualquer sacrifício para ter o amigo.
Valia apena qualquer renúncia para ter o amigo.

c)   Marcos, topa fazer um trato?
Marcos, topa fazer um acordo?

d)   Mas o inesperado aconteceu.
Mas o imprevisto aconteceu.

02 – Onde os meninos se encontram?
      No portão da casa de Marcos.

03 – Como era o mundo em que Marquinhos vivia?
      Morava numa casa muito grande, que tinha tudo, piscina, quarto de brinquedos, um pai, uma mãe, duas irmãs moças e quatro empregados.

04 – Por que o “mundo do lado de lá do portão” era muito melhor do que o seu mundo?
      Porque era animado. Havia muito movimento e alegria.

05 – Identifique, no primeiro parágrafo, uma expressão que comprove que Marquinhos era rico.
      “... numa casa grande demais para seu tamanho”.

06 – Você percebe a diferença entre as expressões “meninos de rua” e “meninos da rua”? Justifique sua resposta e indique que palavras fazem essa diferença.
      Meninos de rua são meninos que geralmente vivem nas ruas. Meninos da rua são meninos que moram numa determinada rua.

07 – Um acontecimento no início da história muda a rotina de Marcos. Que acontecimento é esse?
      O contato com Zeca.

08 – “O amigo tinha voltado. Marcos saiu em disparada. Feliz.” Um conflito interrompe a felicidade de Marcos. Identifique-o.
      O fato de a mãe proibi-lo de ver o Zeca.

09 – “Deste dia em diante Zeca só chegava quando via que Marcos estava sozinho. Marcos andava feliz.”
a)   Uma nova rotina foi estabelecida. Identifique-a.
Marcos não brinca sozinho. Brinca com Zeca.

b)   Desde o começo da história, a rotina de Marcos mudou. O acontecimento que causou essa mudança ainda é o mesmo? Justifique sua resposta.
Sim, pois o acontecimento é o contato com Zeca.

10 – “Mas o inesperado aconteceu”. A que o texto se refere?
      Ao fato de sua mãe descobrir que os dois continuavam amigos.

11 – Qual a influência do acontecimento inesperado sobre o conflito (a proibição da mãe de Marcos)?
      A descoberta da mãe de Marcos.

12 – O último parágrafo determina uma nova mudança. Identifique-a.
      Determina a solução do conflito.

13 – O texto “Me dá a sua mão” é narrativo. Ele pode ser dividido em 5 etapas. Com base nas respostas das questões anteriores, relacione os acontecimentos às etapas a seguir:

·        Situação inicial: Marcos brinca triste e sozinho.

·        Quebra da situação inicial: Marcos conhece Zeca.

·        Estabelecimento de um conflito: A mãe de Marcos proíbe a amizade com Zeca.

·        Clímax (momento de maior tensão na narrativa): A mãe de Marcos descobre que estava sendo desobedecida.

·        Solução do conflito ou estabelecimento de uma nova situação: A mãe de Marcos resolve permitir a amizade.

14 – Quais são as personagens dessa narração?
      Marcos, seu pai, sua mãe, Luís, Zeca.

15 – Que qualidades você atribuiria ao Zeca? E ao Marcos? Justifique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

16 – As características comuns as duas personagens são imaginação fértil e criativa, igualdade no modo de pensar. Justifique essa afirmação através do texto.
      Para superar as dificuldades, as personagens encontram soluções criativas como brincar através do portão.

17 – Zeca disse: “—Não vim antes porque não queria eu você levasse castigo por minha causa”. Que sentimento demonstra Zeca com esse gesto?
      De preocupação, amor ao próximo, justiça.


MENSAGEM ESPÍRITA: O ARADO - LIVRO - PÃO NOSSO - EMMANUEL- CHICO XAVIER

O arado


“E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás é apto para o reino de Deus.” – (Lucas, 9:62.)
Aqui, vemos Jesus utilizar na edificação do Reino Divino um dos mais belos símbolos.
Efetivamente, se desejasse, o Mestre criaria outras imagens. Poderia reportar-se às leis do mundo, aos deveres sociais, aos textos da profecia, mas prefere fixar o ensinamento em bases mais simples.
O arado é aparelho de todos os tempos. É pesado, demanda esforço de colaboração entre o homem e a máquina, provoca suor e cuidado e, sobretudo, fere a terra para que produza. Constrói o berço das sementeiras e, à sua passagem, o terreno cede para que a chuva, o sol e os adubos sejam convenientemente aproveitados.
É necessário, pois, que o discípulo sincero tome lições com o Divino Cultivador, abraçando-se ao arado da responsabilidade, na luta edificante, sem dele retirar as mãos, de modo a evitar prejuízos graves à “terra de si mesmo”.
Meditemos nas oportunidades perdidas, nas chuvas de misericórdia que caíram sobre nós e que se foram sem qualquer aproveitamento para nosso espírito, no sol de amor que nos vem vivificando há muitos milênios, nos adubos preciosos que temos recusado, por preferirmos a ociosidade e a indiferença.
Examinemos tudo isto e reflitamos no símbolo de Jesus.
Um arado promete serviço, disciplina, aflição e cansaço; no entanto, não se deve esquecer que, depois dele, chegam semeaduras e colheitas, pães no prato e celeiros guarnecidos.

TEXTO: O CORAÇÃO DE CORALI - ELIANE GANEM - COM GABARITO

Texto: O coração de Corali
     
     Eliane Ganem

     O coração de Corali e tão grande que é capaz de caber num caminhão. Mas caminhão não é coisa reservada no coração de ninguém. Por isso, no coração de Corali tem um espaço pro pai, pra mãe, pra tia gorda, pra avó Joana, pro avô Pedro e pro Sapoti, um cachorro peludo, vira-lata, do mais puro sangue que o pai de Corali conseguiu. Mas, mesmo com esse mundo de gente dentro do coração, ainda sobrava espaço. E o espaço, Corali não sabia por que tinha mais é cara de buraco. Um buraco vazio no fundo do peito. Corali sentia que faltava alguma coisa.
        Um dia teve até uma reunião para discutir o coração de Corali. Isso porque a coisa já estava virando um problema sério. Corali ficava às vezes parada, triste, pensando um jeito de tapar o buraco vazio, que impedia até de brincar com o pessoal da rua e da escola. A professora notou, falou pra mãe, a mãe falou pro pai e o pai se encarregou de espalhar pro resto da família.
        Um dizia uma coisa, outro dizia outra e ninguém chegava a lugar nenhum. O pai dizia que era falta de um amigo o que Corali sentia, a mãe achava que era falta de brincadeira com os colegas da escola, a avó dizia que era falta de um irmão pra brincar todo dia, o avô dizia que era mania de menina que tem tudo em casa e, na verdade, não sentia falta de nada. Só a tia gorda não dizia. Ficava olhando Corali com um olhar comprido, como se dissesse “tanta confusão por causa de um buraco vazio no peito”. Até o Sapoti, se soubesse falar, tinha metido o focinho na história...
        E ficaram nessa discussão mais de duas horas. Corali já estava cansada, com vontade de dizer que não tinha importância. Um dia, quem sabe, alguém tapava o buraco com cimento depois pintava de vermelho, a cor que Corali mais gostava, que nem o avô fazia na obra onde trabalhava quando era mais moço. Mas ninguém deixava ela falar. Gente grande, às vezes, acha que gente pequena não tem opinião. Queriam resolver a todo custo o problema. E acabaram não resolvendo nada.
                                  O coração de Corali. Eliane Ganem.
Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 5ª Série - Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p.72-5.    
Entendendo o texto:

01 – Comente, nas frases a seguir, se as características são físicas ou psicológicas.
a)   O coração de Corali é grande.
Psicológica.

b)   Sua tia é gorda.
Física.

c)   Sapoti é um cachorro peludo.
Física.

d)   Corali ficava triste.
Psicológica.

e)   A professora é observadora.
Psicológica.

f)    Corali sentia um vazio no fundo do peito.
Psicológica.

02 – No texto, as palavras lembram imagens. Assim o leitor em uma visão poética do que acontece com Corali. Substitua as palavras ou expressões em destaque por outras, sem mudar o sentido do texto.
a)   “E o espaço, Corali não sabia bem por quê, tinha mais é cara de buraco”.
Parecia ser fundo.

b)   “Ficava olhando Corali com um olhar comprido...”
Com um olhar demorado, olhando por um longo tempo.

c)   “Até o Sapoti, se soubesse falar, tinha metido o focinho na história...”
Tinha se envolvido, dado palpite.

d)   “Gente grande, às vezes, acha que gente pequena não tem opinião...”
Adultos / crianças.

03 – “Isso porque a coisa já estava virando um problema sério”. Substitua o termo destacado por outro termo ou expressão sem alterar o sentido da frase.
      A dificuldade de Corali, o espaço no coração de Corali.

04 – Corali tinha um espaço no peito com cara de buraco. O que Corali poderia estar sentindo?
      Angústia, um sentimento indefinido.

05 – “O coração de Corali” é um texto narrativo. Responda:
a)   Está escrito em 1ª ou 3ª pessoa? Justifique sua resposta.
Está em 3ª pessoa.

b)   O narrador é personagem?
Não.

06 – No texto, há uma frase entre aspas. Identifique-a e estabeleça a função das aspas nesse texto.
      “Tanta confusão por causa de um buraco vazio no peito”: as aspas marcam a introdução do pensamento de uma das personagens.

07 – O penúltimo parágrafo termina com reticências. Por quê?
      Para dar ênfase à continuação do processo de tentar achar uma solução para Corali.

08 – Uma narrativa, muitas vezes, pode ser dividida em: Situação Inicial, Quebra da Situação Inicial e Conclusão. Identifique no texto os parágrafos em que ocorre cada uma dessas divisões.
      Situação Inicial: 1° parágrafo.
      Quebra da Situação Inicial: 2° e 3° parágrafos.
      Conclusão: 4° parágrafo.

09 – A interferência da família parece ter ajudado Corali. O que você acha?
      Resposta pessoal do aluno.

10 – E você? Já sentiu um espaço no coração com cara de buraco? Fale sobre a sua experiência.
      Resposta pessoal do aluno.


sexta-feira, 1 de novembro de 2019

CRÔNICA: PAI, ME COMPRA UM AMIGO? PEDRO BLOCH - COM GABARITO

CRÔNICA: Pai, me compra um amigo?
                    Pedro Bloch

        -- Mamãe...
        -- Que é menino?
        -- Você gosta de mim?
        Aquilo saiu sem querer. Quando viu já tinha dito.
        Lúcia se surpreendeu com a pergunta.
        Na realidade não vivia manifestando afeto. Ela mesma precisava que a aprovassem a cada instante. O erro de Ronaldo talvez fosse o de não lhe dar aquela dose de palavras doces que fazem bem à alma de cada um. Achava que qualquer manifestação de afeto era tolice.
        Há gente assim. Pensa que qualquer ato de ternura, qualquer palavra mais açucarada, é pieguice. Há pessoa que têm medo de sentir. Talvez porque tivessem sido muito magoadas quando crianças, quando tentaram manifestar seu carinho e foram repelidos sem querer. Talvez também tivesse ocorrido o problema do filho mais querido, embora muitas vezes isso nem corresponda à realidade, fica como que sobrando na vida e no mundo, pisando terreno inseguro, areia movediça, como naquela fita em que o mocinho ficou preso sem poder sair e afundando cada vez mais.
        -- Claro que eu gosto de você, meu querido!
        Abraçou-o mas, entre eles, estava o neném, que tinha vindo para mamar justo naquela hora.
        -- Quando é que o neném vai pra casa?
        -- Na quinta.
        -- Por que é que o papai não gosta de mim?
        Mal acabou de dizer levou até um susto com as próprias palavras.
        -- Papai tem uma vida muito cheia de trabalho. Garanto que ele adora você. Só que há gente que mostra isso com abraço e beijo. Outras mostram sentindo. Só sentindo.
        -- E como é que a gente vai saber, se a pessoa não fala?
        -- Estamos falando agora. Está vendo como é bom ter diálogo? Você quase não se comunica...
        -- É que você e papai estão sempre muito ocupados – pausa.  – Sabe que papai nunca me levou no escritório dele?
        -- O que é que você queria lá?
        -- Só olhar. Ver as coisas. Ver como ele trabalha. É meu pai, né?
        -- Você pede a ele.
        -- Acha que não vai zangar?
        -- Claro que não.
     Pai, me compra um amigo? Pedro Bloch.
Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 5ª Série - Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 61-3.
Entendendo o texto:

01 – O título deste texto, “Pai, me compra um amigo? Também é uma frase interrogativa. Qual seria a diferença de significado se a frase fosse exclamativa?
      Pareceria uma ordem.

02 – O texto é uma narração em 1ª ou em 3ª pessoa? Justifique sua resposta.
      Em 3ª pessoa. Espera que o aluno identifique os verbos e pronomes que determinam que a narração é em 3ª pessoa.

03 – O narrador, neste caso, é personagem?
      Não.

04 – Descreva o filho de Lúcia.
      Parece ser um menino tímido, que tem medo de dizer as coisas como afirma o texto: “Mal acabou de dizer, levou até um susto com as próprias palavras.

05 – E como são os pais do menino? Retornando ao texto, procure descobrir suas características.
      As características da mãe estão descritas nas linhas: 6-7; 20-21-22; 32-33.
      As características do pai estão nas linhas: 8-9; 28-29-30; 34-35.

06 – Aquilo saiu sem querer”. O pronome “aquilo” não se refere somente à pergunta feita pelo menino. A que mais pode se referir?
      Pode referir-se ao sentimento do menino, à sua angustia.

07 – Qual a diferença de significado entre as frases a seguir?
I – “Achava que qualquer manifestação de afeto era tolice”.
II – “Achava que uma manifestação de afeto qualquer era tolice”.
      A “I” toda manifestação de afeto seria considerada tolice. Na “II” apenas algumas manifestações, consideradas menores, seriam tolice.

08 – Identifique o significado da palavra “justo” na frase a seguir: “Abraçou-o, mas, entre eles, estava o neném, que tinha vindo para mamar justo naquela hora”.
      Significado de exatamente.

09 – O emprego de justo na questão anterior permite concluir o quê sobre o comportamento do neném?
      Permite concluir que ele não foi bem-vindo pelo menino, que atrapalhou o carinho da mãe.

10 – O que representa a presença do neném, no meio do abraço da mãe? Justifique.
      Representa um intruso, alguém que roubou um momento mágico, que chegou na hora errada.

11 – “Só que há gente que mostra isso com abraço e beijo. Outras mostram sentindo. Só sentindo.” Como é possível perceber o que uma pessoa sente quando ela não se expressa por palavras?
      Observando os gestos, as expressões, as circunstâncias.

12 – “Talvez também tivesse ocorrido o problema do filho mais querido...” Que problema seria esse?
      O problema de um irmão acreditar que o outro é mais querido.





MENSAGEM ESPÍRITA: O LIVRO DOS ESPÍRITOS - ALLAN KARDEC - RETORNO A VIDA CORPORAL À VIDA ESPIRITUAL - PARA REFLEXÃO


Mensagens Espírita: O livro dos Espíritos
ALLAN KARDEC – Tradução Matheus R. Camargo
Perguntas e respostas
                      Livro Segundo
MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
                          Capítulo III
RETORNO DA VIDA CORPORAL À VIDA ESPIRITUAL
     
 A alma após a morte; sua individualidade. Vida eterna – Separação da Alma e do Corpo – Perturbação espiritual.
 A alma após a morte; sua individualidade. Vida eterna.

149 – No que se transforma alma no instante da morte?
      Ela volta a ser Espírito, isto é, retorna ao mundo dos Espíritos, que havia deixado momentaneamente.

150 – Após a morte, a alma conserva a sua individualidade?
      Sim, jamais a perde. O que seria dela se não a conservasse?

150.a) Como a alma constata sua individualidade, já que não tem mais corpo material?
      Ela ainda tem um fluído que lhe é próprio, que retira da atmosfera de seu planeta e que representa a aparência de sua última encarnação: seu perispírito.

150.b) A alma nada leva consigo deste mundo?
      Nada além da lembrança e do desejo de ir para um mundo melhor. Essa lembrança é cheia de doçura ou amargura, conforme o emprego que tiver feito de sua vida; quanto mais pura for a alma, melhor compreenderá a futilidade do que deixa na Terra.

151 – O que pensar da opinião segundo a qual, após a morte, a alma retorna ao todo universal?
      O conjunto dos Espíritos não constitui um todo? Não é esse todo um mundo completo? Quando fazes parte de uma assembleia, és parte integrante dela, e, no entanto, sempre conservas a tua individualidade.

152 – Que prova podemos ter da individualidade da alma após a morte? 
      Não tendes essa prova por meio das comunicações que recebeis? Se não fósseis cegos, veríeis; e, se não fôsseis surdos, escutaríeis, pois com muita frequência uma voz vos fala e vos revela a existência de um ser fora de vós.

      Os que pensam que com a morte a alma retorna ao todo universal estão errados se com isso entendem que, semelhante a uma gota d’água que cai no oceano, ela perde a sua individualidade; e estão certos se entendem por todo universal o conjunto de seres incorpóreos do qual cada alma ou Espírito é um elemento.
      Se as almas fossem confundidas na massa, elas só teriam qualidades no conjunto, e nada as distinguiria entre si. Não teriam nem inteligência nem qualidades próprias; ao passo que, em todas as comunicações, elas revelam a consciência do eu e uma vontade distinta. A infinita diversidade que apresentam, sob todos aspectos, é a própria consequência das individualidades. Se após a morte houvesse apenas o que se chama de Grande Todo – que observe todas as individualidade –, esse Todo seria uniforme e, por consequência, todas as comunicações que se recebesse do mundo invisível seriam idênticas. Uma vez que lá se encontram seres bons e outros maus, sábios e ignorantes, felizes e infelizes, e com todo o tipo de caracteres, alegres e tristes, levianos e sérios, etc., evidentemente são seres distintos. A individualidade se torna ainda mais evidente quando esses seres provam sua identidade por meio de sinais incontestáveis, de detalhes pessoais relativos à sua vida terrestre que podem ser constatados. Essa individualidade não pode ser posta em dúvida quando os seres se manifestam à visão em aparições. A individualidade da alma nos foi ensinada, em teoria, como um artigo de fé; o Espiritismo a torna patente e, de certa forma, material.

153 – Em que sentido se deve entender a vida eterna?
      É a vida do Espírito que é eterna; a do corpo é transitória e passageira. Quando o corpo morre, a alma regressa à vida eterna.

153.a) Não seria mais exato chamar vida eterna à dos Espíritos puros, daqueles que, tendo atingido o grau da perfeição, não têm mais provas a cumprir?
      Isto seria antes felicidade eterna; mas isso é uma questão de palavras. Chamai as coisas como quiserdes, contanto que vos entendais.

MENSAGEM ESPÍRITA- LIVRO PÃO NOSSO - EMMANUEL - FRANCISCO C.XAVIER - PARA REFLEXÃO

Pensa um pouco

“As obras que eu faço em nome de meu Pai, essas testificam de mim.” – Jesus. (João, 10:25.)
É vulgar a preocupação do homem comum, relativamente às tradições familiares e aos institutos terrestres a que se prende, nominalmente, exaltando-se nos títulos convencionais que lhe identificam a personalidade.
Entretanto, na vida verdadeira, criatura alguma é conhecida por semelhantes processos. Cada Espírito traz consigo a história viva dos próprios feitos e somente as obras efetuadas dão a conhecer o valor ou o demérito de cada um.
Com o enunciado, não desejamos afirmar que a palavra esteja desprovida de suas vantagens indiscutíveis; todavia, é necessário compreender-se que o verbo é também profundo potencial recebido da Infinita Bondade, como recurso divino, tornando-se indispensável saber o que estamos realizando com esse dom do Senhor Eterno.
A afirmativa de Jesus, nesse particular, reveste-se de imperecível beleza.
Que diríamos de um Salvador que estatuísse regras para a Humanidade, sem partilhar-lhe as dificuldades e impedimentos?
O Cristo iniciou a missão divina entre homens do campo, viveu entre doutores irritados e pecadores rebeldes, uniu-se a doentes e aflitos, comeu o duro pão dos pescadores humildes e terminou a tarefa santa entre dois ladrões.
Que mais desejas? Se aguardas vida fácil e situações de evidência no mundo, lembra-te do Mestre e pensa um pouco.

CONTO: EU NUNCA VOU CRESCER - FERNANDA LOPES DE ALMEIDA - COM GABARITO

CONTO: Eu nunca vou crescer
       
    Fernanda Lopes de Almeida

        Walter nasceu antes de mim. Ele tem uma sorte!
        Agora ele está com dez anos e eu estou com sete. Quando estiver com onze, vou estar com oito. Mesmo quando eu estiver com trinta anos, não vou conseguir alcança-lo: ele vai ter trinta e três.
        Dificilmente eu uso roupas novas.
        Quando Walter ganha camisas novas, fico com as velhas. Quando ganha jeans novos, fico com os velhos.
        As vezes as calças já estão remendadas. Odeio jeans remendados.
        As chuteiras que ficaram pequenas para Walter, passam para mim. A bola de futebol que ele não usa mais, passa para mim.
        Quando Walter ganhou patins de gelo, os de roda vieram para mim – sem a chave de regular o tamanho.
        Fico até com os seus antigos professores.
        Às vezes minha professora diz:
        -- David, por que você não consegue se parecer um pouquinho com seu irmão?
        Ou:
        -- Walter nunca falava comigo dessa maneira.
        Ou:
        Walter sempre fazia a lição de casa.
        Às vezes parece que as pessoas nem se lembram do meu nome. De vez em quando vovó me chama de Walter.
        -- Eu sou o David – digo para ela.
        Mas ela se esquece e daí a pouco torna a dizer:
        -- Vem cá, Walter.
        São essas coisas que às vezes me fazem desejar que não existisse Walter.

                                 Eu nunca vou crescer? Trad. de Fernanda Lopes de Almeida.
Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 5ª Série - Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 60-1.
Entendendo o texto:

01 – Quais são as características de Walter? E as de David?
      Walter: filho mais velho; pratica esportes; cumpridor de suas obrigações escolares.
      David: ciumento; pratica esportes; mais displicentes; filho caçula.

02 – É a idade de Walter que incomoda David ou a sua própria idade que o incomoda?
      É a sua idade que o incomoda, pois, sendo mais novo, além de ter de herdar as coisas de Walter, ainda é sempre comparado a ele.

03 – Retire do texto falas do David que comprovam seu ciúme em relação ao irmão.
      “Walter nasceu antes de mim. Ele tem uma sorte!” / “São essas coisas que às vezes me fazem desejar que não existisse Walter”.

04 – As falas da professora sobre Walter e David deixam claro o quê?
      Que Walter e David eram pessoas diferentes.

05 – O título do texto, “Eu nunca vou crescer?”, é uma frase.
a)   Como classificamos essa frase?
Frase interrogativa.

b)   Essa frase indica a reflexão da personagem. Se fosse uma frase afirmativa, como poderíamos interpretá-la? E se fosse exclamativa?
Se fosse afirmativa, significaria a certeza de que a personagem nunca iria crescer. Se fosse exclamativa, poderia significar espanto, raiva ou indignação.

06 – O texto “Eu nunca vou crescer?” é uma narração.
a)   Identifique no texto elementos que comprovem que ele é uma narração em 1ª pessoa.
Espera-se que o aluno identifique verbos e pronomes em 1ª pessoa.

b)   Considere a resposta do item (a) e responda: o narrador é personagem?
Espera-se que o aluno perceba que o narrador é personagem.

c)   Se a narração fosse em 3ª pessoa, quem seria o narrador?
Seria um narrador onisciente.

07 – Leia com atenção as comparações feitas pelos professores de Walter e David.
I – “David, por que você não consegue se parecer um pouquinho com seu irmão?”
II – “Walter nunca falava comigo dessa maneira.”
III – “Walter sempre fazia a lição de casa.”

a)   Alguns professores gostariam que David se parecesse com Walter. O que essa expectativa indica sobre David?
Indica que provavelmente ele não era um aluno tão “bom” quanto Walter.

b)   O que o comentário do item II indica sobre David?
Indica que ele nem sempre era educado com os professores.

c)   E o que indica o comentário do item III?
Indica que Walter nem sempre fazia a lição de casa.

08 – Os patins de Walter foram passados para David sem a chave de regular tamanho.
a)   Qual a consequência desse fato?
David não podia usar os patins, pois estavam regulados para Walter.

b)   As pessoas olhavam para David esperando que ele se comportasse como Walter. Faltava ao olhar das pessoas a chave de regular tamanho que faltava aos patins. Qual a consequência desse fato?
David se sentia injustiçado.