sexta-feira, 5 de julho de 2019

MÚSICA(ATIVIDADES): MARCHA DE QUARTA-FEIRA DE CINZAS - VINÍCIUS DE MORAES - COM GABARITO

Música(Atividades): Marcha de Quarta-Feira de Cinzas

                Vinicius de Moraes

Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais
Brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas
Foi o que restou

Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando
Cantigas de amor

E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade

A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida
Feliz a cantar

Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe

Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza
Dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando
Seu canto de paz
Seu canto de paz.
                      Composição: Carlos Lyra / Vinícius de Moraes

Entendendo a canção:

01 – De que se trata a canção?
      Da conjuntura política que o país se inserira com o Golpe Militar e entrevia os desdobramento funestos deste golpe.

02 – Segundo o eu lírico, qual o significado de cinzas e de pessoas?
      CINZAS é o povo em qualquer regime totalitário e PESSOAS se tornam “gente que nem se vê”.

03 – Poderíamos afirmar que a letra da canção traz uma mensagem otimista ou pessimista? Justifique.
      Pessimista, pois é uma espécie de protesto premonitório contra a realidade imposta pela ditadura militar.

04 – Pesquise e responda.
        A canção foi feita na antevéspera de os militares chegarem ao poder. Meses antes do golpe, em meados de 1963.
        Ela foi considerada música de fundo da deposição de quem? E da ascensão de quem?
      Deposição do presidente João Goulart e da ascensão do marechal Castelo Branco.

POEMA: A NOITE DISSOLVE OS HOMENS - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

Poema: A noite dissolve os homens
            Carlos Drummond de Andrade

A noite desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tão pouco os rumores
que outrora me perturbavam.
A noite desceu. Nas casas,
nas ruas onde se combate,
nos campos desfalecidos,
a noite espalhou o medo
e a total incompreensão.
A noite caiu. Tremenda,
sem esperança… Os suspiros
acusam a presença negra
que paralisa os guerreiros.
E o amor não abre caminho
na noite. A noite é mortal,
completa, sem reticências,
a noite dissolve os homens,
diz que é inútil sofrer,
a noite dissolve as pátrias,
apagou os almirantes
cintilantes! nas suas fardas.
A noite anoiteceu tudo…
O mundo não tem remédio…
Os suicidas tinham razão.

Aurora,
entretanto eu te diviso, ainda tímida,
inexperiente das luzes que vais acender
e dos bens que repartirás com todos os homens.
Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes, vapor róseo, expulsando a treva noturna.
O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda se não modelaram
mas que avançam na escuridão como um sinal verde e peremptório.
Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.
O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez,
uma inocência, um perdão simples e macio…
Havemos de amanhecer. O mundo
se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora.

                                     Carlos Drummond de Andrade. A noite dissolve os homens. In: Reunião: 10 livros de poesia. Rio de Janeiro: José Olympio. 1969.

Entendendo o poema:

01 – No verso: “A noite desceu. Que noite!”. Que figura de linguagem há no verso?
      A figura é metáfora.

02 – Qual o significado metafórico de “noite” no poema?
      Significa um tempo da alienação das massas em relação à realidade histórica, social e política das ruas.

03 – E “aurora”, o que o eu lírico metaforiza?
      Simboliza a grande esperança utópica ou comprometimento ideológico de paz.

04 – De que se trata o poema?
      O poema evidencia a presença do caos provocado pela 2ª Guerra Mundial, sem reticências, ou seja, sem escrúpulos, derradeira e extrema, sem solução.

05 – Nos versos:
“Havemos de amanhecer. O mundo
se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora.”

        O que o eu lírico se expressa?
      Aqui ele deixa de ser solitário, como nos versos anteriores, para se tornar um ser pelo coletivo manifestando as relações com o outro e brindando a paz.

06 – Na primeira estrofe do poema o eu lírico revela:
a)   Um olhar pessimista para uma vida sem amor.
b)   A dissolução de tudo com a chegada da noite.
c)   Uma oposição entre vida/luz e morte/trevas.
d)   O domínio do ódio na vida dos soldados.

07 – Este poema apresenta em sua constituição três imagens. Identifique-as:
a)   Medo, brilho, solidão.
b)   Irmãos, combate, guerra.
c)   Mundo, tristeza, homem.
d)   Noite, aurora, manhã.



PIADA: O DIRETOR E O DETETIVE - COM GABARITO

Piada: O diretor e o detetive

        O diretor-geral está preocupado com um executivo que, depois de um período trabalhando sem descanso, passa a se ausentar do escritório por algumas horas todos os dias. Chama um detetive.
        -- Siga o Lopes durante uma semana – disse.
        Após cumprir o que lhe fora pedido, o detetive informa:
        -- O Lopes sai normalmente ao meio-dia, pega seu carro, vai à sua casa almoçar, descansa em seu sofá, vê filmes em sua TV de plasma, nada em sua piscina e volta ao trabalho.
        -- Ah, bom. Não há nada de mau nisso.
        O detetive observa o diretor com olhar fixo e comenta:
        -- Desculpe. Posso trata-lo por tu?
        -- Sim, claro – responde o diretor.
        -- Bom. O Lopes sai ao meio-dia, pega teu carro, vai à tua casa almoçar, descansa em teu sofá, vê filmes em tua TV de plasma, nada em tua piscina e volta ao trabalho.
                                                                 Domínio Público.

Entendendo a piada:

01 – A quem se referem os pronomes destacados seu e sua? Explique.
      Ao diretor-geral, pois na segunda fala do detetive ele retira a ambiguidade anterior, usando a segunda pessoa.

02 – Por que o diretor diz que não há nada de mau na atitude do executivo?
      Porque ele pensa que o executivo tem saído para ir descansar em casa (na casa dele, executivo).

03 – O mal-entendido poderia ter continuado depois da última fala do detetive? Por quê?
      Não, porque o detetive pediu para tratar o diretor como tu, portanto, os pronomes teu e tua deixam claro que a referência era ao diretor-geral.

04 – Os pronomes possessivos seu e sua podem se referir a duas pessoas do discurso. Quais?
      À segunda pessoa do discurso (a pessoa com quem se fala) e à terceira pessoa do discurso (a pessoa de quem se fala).

05 – Explique o recurso usado pelo detetive para esclarecer a situação.
      O detetive emprega os pronomes teu e tua, que indicam apenas a segunda pessoa do discurso (com quem se fala, no caso o diretor) e, portanto, não dão margem à confusão.

06 – Agora leia esta frase: “O diretor discutiu com o executivo e estragou seu dia”.
a)   A quem teve o dia estragado pela discussão: o diretor ou o executivo?
Não é possível afirmar com certeza quem teve o dia estragado.

b)   Que palavra é responsável pela ambiguidade da frase?
O pronome seu.


quinta-feira, 4 de julho de 2019

MÚSICA(ATIVIDADES): NERVOS DE AÇO - LUPICÍNIO RODRIGUES - COM QUESTÕES GABARITADAS

Música(Atividades): Nervos de Aço

              Lupicínio Rodrigues

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor?
Ter loucura por uma mulher
E depois encontrar esse amor, meu senhor
Nos braços de um tipo qualquer?

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
E por ele quase morrer
E depois encontrá-lo em um braço
Que nem um pedaço do meu pode ser?

Há pessoas de nervos de aço
Sem sangue nas veias e sem coração
Mas não sei se passando o que eu passo
Talvez não lhes venha qualquer reação

Eu não sei se o que trago no peito
É ciúme, é despeito, amizade ou horror
Eu só sei é que quando a vejo
Me dá um desejo de morte ou de dor.

                                     Composição: Lupicínio Rodrigues. In: VIOLA, Paulinho da. O talento de Paulinho da Viola. LP EMI-ODEON, n° 152422165, 1985. L.A., f. 5.
Entendendo a canção:

01 – Em “Nervos de aço”, qual a relação estabelecida pela preposição entre o antecedente (nervos) e o consequente (aço)?
      A relação é de conteúdo.

02 – Extraia da canção um exemplo de verbo impessoal, destacando o verso em que ele aparece.
      É o verbo haver, como mostra o verso: “Há pessoas com versos de aço”.

03 – Qual a função sintática da expressão “Meu senhor”, que aparece várias vezes na canção?
      “Meu senhor”, tem a função de vocativo, pois é um termo isolado dentro da oração, ou seja, não faz parte nem do sujeito nem do predicado.

04 – Explique a regência nominal em “Ter loucura por uma mulher”.
      A regência nominal nesta oração é: loucura por, ou seja, nome transitivo e sua preposição.

05 – Classifique o verbo morrer quanto à transitividade ou intransitividade.
      É um verbo intransitivo, pois tem o significado, completo. Referem-se a ações que iniciam e terminam no próprio sujeito.

06 – Justifique o uso das preposições grifadas nos versos seguintes, comentando a relação estabelecida entre o antecedente e o consequente: “Há pessoas com nervos de aço sem sangue nas veias”.
      Com: relação de modo.
      Sem: relação de ausência, negação.

07 – De que fala a canção?
      É uma história de traição amorosa e de protesto contra o conformismo de pessoas traídas.

08 – Cite os versos onde o eu lírico é passivo, pois não age, limitando-se a se queixar.
      “Eu só sinto que quando a vejo, / Me dá um desejo de morte e de dor”.

HISTÓRIA EM QUADRINHOS - SUJEITO SIMPLES - COM QUESTÕES GABARITADAS


HISTÓRIA EM QUADRINHOS
Gilmar. Para ler quando o chefe não estiver olhando. São Paulo: Devir, 2004. p. 13.

Entendendo a história:

01 – Que situação é retratada na tira?
      A mulher ajuda o marido a encontrar emprego procurando vagas no caderno de classificados de um jornal.

02 – Por que o marido não se interessa pela vaga que a mulher selecionou no jornal?
      Porque a vaga pede funcionário com transporte próprio, e, segundo o marido, ele não tem isso.

03 – Qual é o sujeito da oração “Roça precisa de funcionário com transporte próprio”? Classifique-o.
      Roça. Sujeito simples.

04 – Transforme o sujeito do exercício anterior em indeterminado e explique como fez a alteração.
      “Precisa-se de funcionário com transporte próprio!” Eliminou-se o sujeito roça e utilizou-se o pronome como índice de indeterminação do sujeito com o verbo transitivo indireto precisar.


POESIA: MORTE DO LEITEIRO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poesia: Morte do Leiteiro
   Carlos Drummond de Andrade  

        A Cyro Novaes

Há pouco leite no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.

Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom para gente ruim.
Sua lata, suas garrafas
e seus sapatos de borracha
vão dizendo aos homens no sono
que alguém acordou cedinho

e veio do último subúrbio
trazer o leite mais frio
e mais alvo da melhor vaca
para todos criarem força
na luta brava da cidade.

Na mão a garrafa branca
não tem tempo de dizer
as coisas que lhe atribuo
nem o moço leiteiro ignaro,
morados na Rua Namur,
empregado no entreposto,
com 21 anos de idade,
sabe lá o que seja impulso
de humana compreensão.
E já que tem pressa, o corpo
vai deixando à beira das casas
uma apenas mercadoria.

E como a porta dos fundos
também escondesse gente
que aspira ao pouco de leite
disponível em nosso tempo,
avancemos por esse beco,
peguemos o corredor,
depositemos o litro...
Sem fazer barulho, é claro,
que barulho nada resolve.

Meu leiteiro tão sutil
de passo maneiro e leve,
antes desliza que marcha.
É certo que algum rumor
sempre se faz: passo errado,
vaso de flor no caminho,
cão latindo por princípio,
ou um gato quizilento.
E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.

Mas este acordou em pânico
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.

Mas o homem perdeu o sono
de todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente.
Bala que mata gatuno
também serve pra furtar
a vida de nosso irmão.

Quem quiser que chame médico,
polícia não bota a mão
neste filho de meu pai.
Está salva a propriedade.
A noite geral prossegue,
a manhã custa a chegar,
mas o leiteiro
estatelado, ao relento,
perdeu a pressa que tinha.

Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.
                                           Carlos Drummond de Andrade. In: Obra completa. 2. ed. Rio de Janeiro. Aguilar, 1967. p. 169-71.
Entendendo a poesia:

01 – O poeta faz uma oposição entre a “noite” e a “aurora”. Na realidade, o que significam esses termos no contexto da poesia?
      A noite prossegue mesmo com o leiteiro morte, onde o branco do leite encontrando-se com o sangue do leiteiro unem-se e formam um tom rosado que é identificado com a aurora, com o dia que nasce.

02 – Há um verso que “justifica” (do ponto de vista do assassino) a morte do leiteiro. Qual?
      “Ladrão? se pega com tiro”.

03 – De acordo com o texto, afirma-se:
I – Em plena madrugada, o leiteiro cumpri um papel fundamental na distribuição de um leite bom que alimenta inclusive gente ruim.
II – Na sua ríspida e barulhenta marcha, o leiteiro acorda todos que dormem nas casas nas quais o leite é entregue.
III – De forma premeditada, o morador mata o raivoso leiteiro que se aproxima também para assalta-lo.
IV – Devido a um trágico engano, um cidadão inocente é morto no exercício da profissão.
     As afirmativas corretas são, apenas.
a)   I e IV.
b)   II e III.
c)   II e IV.
d)   I, II e III.
e)   I, III e IV.

04 – Quanto as ideias do trecho acima e à sua estrutura linguística, julgue os itens a seguir.
        Entende-se pela leitura do verso “Há muita sede no país”, que quem tem sede é o povo, o coletivo que representa as pessoas que habitam o país.
a)   Certo.                                  b) Errado.

05 – Na sétima estrofe do poema, há uma construção irônica com relação ao “senhor” que assassina o leiteiro. O verso que expressa essa ironia é:
a)   “Quem quiser que chame médico”.
b)   “Polícia não bota a mão”.
c)   “Neste filho de meu pai”.
d)   “Está salva a propriedade”.
e)   “A noite geral prossegue”.

06 – Que expressão mostra que o morador pegou o revólver com rapidez e sem pensar no que estava fazendo?
      “O revólver da gaveta
      saltou para sua mão.”

07 – “E há sempre um senhor que acorda, resmunga e volta a dormir”. Por que naquela madrugada um morador acordou em pânico?
      Porque os ladrões infestam o bairro.

08 – Sobre a poesia, percebemos que o leiteiro, inconscientemente, deixa em cada manhã uma mensagem. Segundo o poeta, como ele consegue transmitir essa mensagem?
      O leiteiro deixa a mensagem do amor. De acordar cedo e dar a cada dia o melhor de si a quem quer que seja. Ele transfere seu amor em forma de trabalho para pessoas de bem.

09 – Releia os seguintes versos: “Há no país uma legenda, / que ladrão se mata com tiro.” Qual seria o sentido mais apropriado para o vocábulo “legenda”?
a)   Lenda.
b)   Lei.
c)   Norma.
d)   Ditado popular.

10 – O nome do leiteiro não é mencionado:
a)   Para dar a ideia de que se trata apenas de mais uma noite entre tantas outras comuns às grandes cidades.
b)   Para dar um ar de mistério ao texto.
c)   Para não expor o nome da vítima.
d)   Por se tratar de um trabalhador de pouca importância social.

11 – O texto explora a temática do medo, da violência das cidades. A expressão “luta brava da cidade” refere-se:
a)   À criminalidade, que cresce rapidamente.
b)   Ao desentendimento dos moradores, que se distanciam um dos outros à medida que a cidade cresce.
c)   A difícil sobrevivência nas cidades, devido a competitividade nos empregos, ao estresse no trânsito, entre outros problemas.
d)   A luta entre as classes sociais.

12 – Releia a oitava estrofe e diga o que ela expressa?
a)   Indignação.
b)   Compaixão.
c)   Indiferença.
d)   Displicência.


CRÔNICA: HISTÓRIA ESTRANHA - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO


Crônica: História estranha
                  Luís Fernando Veríssimo

       Um homem vem caminhando por um parque quando de repente se vê com sete anos de idade. Está com quarenta, quarenta e poucos.
        De repente dá com ele mesmo chutando uma bola perto de um banco onde está a sua babá fazendo tricô. Não tem a menor dúvida de que é ele mesmo. Reconhece a sua própria cara, reconhece o banco e a babá. Tem uma vaga lembrança daquela cena. Um dia ele estava jogando bola no parque quando de repente aproximou-se um homem e... O homem aproximou-se dele mesmo. Ajoelha-se, põe as mãos nos seus ombros e olha nos seus olhos. Que coisa pior ainda é o tempo. Como eu era inocente. Como meus olhos eram limpos. O homem tenta dizer alguma coisa, mas não encontra o que dizer. Apenas abraça a si mesmo, longamente. Depois sai caminhando, chorando, sem olhar para trás.
        O garoto fica olhando para a figura que se afasta. Também se reconheceu. E fica pensando, aborrecido: quando eu tiver quarenta, quarenta e poucos anos, como eu vou ser sentimental!

               Luís Fernando Veríssimo. Comédias para se ler na escola.
 Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 43.
Entendendo a crônica:

01 – No texto podemos reconhecer dois tempos. Quais são eles? O que acontece em cada um deles?
      O plano do tempo presente e o da memória. No primeiro, o homem caminha no parque; no segundo, reencontra-se com um momento de sua infância.

02 – A maioria dos verbos está conjugada no tempo presente. O que esse tempo expressa no texto?
      O tempo presente expressa a ideia da ação que ocorre no momento em que se fala.

03 – Em algum momento, o narrador utiliza o pretérito perfeito e o imperfeito. Que efeito de sentido tem essa mudança para o que está sendo contado?
      O pretérito prefeito é usado para mostrar o momento específico da lembrança, e o imperfeito detalha como o narrador era.

04 – Copie do texto os advérbios e as locuções adverbiais. Que circunstâncias eles expressam?
      Lugar: “por um parque”, “perto de um banco”, “no parque”, “nos seus ombros”, “nos seus olhos”, “para trás”.
      Modo: “de repente”, “um dia”, “depois”.
      Negação: “não”.
      Modo: “longamente”.

05 – Imagine que o autor queira reescrever o texto sem os advérbios e as locuções adverbiais. Como ficaria a história?
      O leitor não poderá entender bem a história, pois não saberia em que circunstâncias ocorreu o fato.