Conto: O gato malhado e a Andorinha
Sinhá
A história em questão acontece entre o
gato malhado e a andorinha Sinhá e se desenvolve em um parque muito arborizado
e habitado por animais de várias espécies. Com o desenrolar da história
percebemos que o tempo, com suas estações, cria uma atmosfera que influencia
o humor dos personagens.
“É
tão impossível avivar o fogo com a neve quanto apagar o fogo do amor com
palavras”.
Willian
Shakespeare
Jorge Amado descreve o gato malhado
como alguém de meia idade, distante da juventude. “Não existia nos
arredores nenhuma criatura mais egoísta e solitária que o gato
malhado. Ele não tinha relações de amizade com os seus vizinhos e quase
nunca respondia aos raros cumprimentos que por medo, e não por gentileza,
alguns transeuntes lhe dirigiam.
Nada alterava o dia a dia do parque até
que a primavera chegou com as suas cores alegres, aromas inebriantes e sonoras
melodias. O gato malhado estava dormindo quando a primavera chegou,
repentina e poderosa. Mas a sua presença era tão insistente e forte que o
acordou do seu sono sem sonhos, abriu os seus olhos castanhos e esticou os
braços”.
Neste novo estado primaveril, o gato
malhado experimentou um estado de otimismo incomum. “Ele se sentia leve, queria
falar sem compromisso, andar sem rumo e até mesmo conversar com alguém. Olhou
em volta com seus olhos castanhos, mas não viu ninguém. Todos tinham fugido”.
No entanto, “no galho de uma árvore a
andorinha Sinhá piava e sorria para o gato malhado. Enquanto isso, dentro dos
seus esconderijos, todos os habitantes do parque olhavam espantados para a
andorinha Sinhá”.
Jorge Amado relata como era a outra
protagonista da história: “Quando ela passeava, risonha e coquete, não havia
nenhum pássaro em idade de casar que não suspirasse por ela. Era
muito jovem ainda, mas onde quer que estivesse, todos os jovens do
parque se aproximavam.
Ela
ria com todos, mas não amava ninguém. Voava despreocupadamente de árvore em
árvore pelo parque; era curiosa, gostava de conversar e era inocente de
coração. Na verdade, não existia em nenhum parque da redondeza uma
andorinha tão bela e gentil como a andorinha Sinhá”.
A andorinha conversou com o gato
malhado e chegou até a insultá-lo, um fato que os demais habitantes do parque
viram como uma sentença de morte para o pássaro. Seus pais a haviam
proibido de se relacionar com os gatos, pois eles eram os predadores naturais
dos pássaros. Mas ela ignorou o conselho e conversou com ele.
Naquela noite, a andorinha “deitou
suavemente a cabeça na pétala de rosa que lhe servia de travesseiro e decidiu
continuar a sua conversa com o gato no outro dia: – Ele é feio, mas é
simpático… – murmurou ao adormecer.
Quanto ao gato malhado, ele também
pensava na arisca andorinha Sinhá. No entanto, havia algo que ele não possuía:
um travesseiro. Além de feio e mau, o gato malhado era pobre e descansou a
cabeça sobre os braços”.
A doença do gato
O gato estava muito cansado e
achou que estava doente. Depois percebeu que tinha febre e foi buscar água
do lago para se refrescar do ardor que sentia por dentro. E ali, nas águas do
lago, ele viu o reflexo da andorinha Sinhá que o observava: “ele a reconheceu
em cada folha, em cada gota de orvalho, em cada raio de sol do crepúsculo e em
cada sombra da noite que se aproximava”. Quando ele conseguiu dormir, “sonhou
com a andorinha e era a primeira vez que sonhava em muitos anos”.
O gato malhado não percebeu que havia
se apaixonado; não conseguiu reconhecer os seus sentimentos. Quando era jovem
havia se apaixonado muitas vezes, quase todas as semanas, mas nunca deu muita
importância a esses sentimentos. Na verdade, ele tinha machucado muitos
corações. Quando acordou, se lembrou que tinha sonhado durante toda a noite com
a andorinha, mas decidiu não se preocupar com isso.
No entanto, durante toda a primavera
ele seguiu a andorinha Sinhá para conversar e nunca faltava assunto. Logo,
começaram a passear juntos pelo parque; ele caminhava pelo parque e ela o
acompanhava voando ao seu lado. Vagavam sem rumo e comentavam sobre a cor das
flores e a beleza do mundo.
O gato malhado passou por uma
transformação. Já “não ameaçava os outros seres vivos, não despedaçava as
flores com suas patadas, não eriçava os pelos quando um estranho se aproximava,
não repelia os cães eriçando os bigodes, os insultando entre dentes. Ele se
tornou um ser suave e gentil, era o primeiro a cumprimentar os habitantes do
parque, ele que antigamente não respondia aos cumprimentos que lhes dirigiam”.
O amor tem fronteiras?
No final do verão, a andorinha e o gato
jantaram juntos. Enquanto conversavam, o gato não se conteve e lhe disse
que se não fosse um gato, a pediria em casamento. “Naquela noite, a andorinha
não retornou. O gato tentava entender o que estava acontecendo com ele e se
debatia com sentimentos contraditórios. Envolto em tristeza e solidão, decidiu
conversar com a coruja”.
No início, conversaram sobre vários
assuntos sem importância. Mas a coruja era sábia e percebeu o que estava
acontecendo. Sem esperar que ele perguntasse, ela lhe contou sobre os rumores que
haviam no parque sobre os seus encontros com a andorinha.
Todos pensavam mal dele e isso o
enfureceu. No final, a velha coruja deu a sua opinião: “Velho amigo, não há
nada a fazer. Como você pôde imaginar que a andorinha o aceitaria como
marido? Nunca houve um caso assim, mesmo que ela o amasse”.
No entanto, quando o outono chegou, o
gato malhado procurou novamente a andorinha. Ela estava séria e
distante, já não sorria mais e não demonstrava a mesma simpatia de outros
tempos. O gato não conseguia esconder que estava muito triste. No seu coração
ressoavam as palavras da coruja e só conseguia passear com a andorinha em
silêncio.
Nessa noite, o gato malhado voltou a
ser o vilão de sempre. Ele perseguiu o pato preto, assustou o papagaio,
arranhou o focinho de um cão e roubou e jogou fora os ovos do galinheiro. Todos
os habitantes do parque espalharam a notícia e voltaram a temer o gato que
parecia a encarnação da maldade.
O final da história
Depois de alguns dias, o gato recebeu
uma carta da Andorinha Sinhá, graças a um pombo correio. Nele, ela dizia
que uma andorinha nunca poderia se casar com um gato e que não deviam voltar a
se ver.
No entanto, também acrescentou que
nunca havia sido tão feliz como durante os passeios pelo parque com
ele. Terminou o bilhete com uma declaração que lhe queimou o coração: “Sempre
sua, Sinhá”. O gato malhado leu essa carta várias vezes até guardar tudo
na memória.
Algum tempo depois, a andorinha
apareceu sem aviso prévio. Ela estava tão linda e terna, como na primavera.
Agia como se nada tivesse acontecido, como se a distância que os separava
tivesse se diluído. O gato estava comovido, mas no final da tarde ele soube da
verdade. “Ficaram juntos até que a noite chegou e então ela lhe disse que
seria a última vez que ele a veria, porque iria se casar com um rouxinol. Por
quê? Porque uma andorinha não pode se casar com um gato”.
O gato malhado ficou arrasado com a
notícia. Durante o casamento, ele não conseguiu aguentar e foi à festa. A andorinha,
que conhecia o som dos seus passos, sabia que ele estava lá, deixou que uma das
suas lágrimas fossem levadas pelo vento e caíssem nas mãos do gato.
“Isto iluminou o caminho solitário do
gato malhado na noite sem estrelas. O gato tomou a direção dos caminhos
estreitos que conduzem para a encruzilhada do fim do mundo”.
Definitivamente, uma bela história
que nos lembra da eterna tristeza dos amores impossíveis.
Moral
da história: Todos nós temos preconceitos. Por muito que o mundo evolua, é
quase impossível haver alguém que não tenha um único preconceito. Muitas vezes
nem nos apercebermos que certas ideias ou gostos que manifestamos são
preconceitos: aproximarmos-nos de pessoas mais magras ou mais gordas, mais
altas ou mais baixos, gostar de estar só com pessoas mais novas ou mais
velhas... Todos nós temos as nossas preferências e nem sempre nos apercebemos
de que se trata de preconceitos. Se estes não nos levarem a afastar ou
discriminar pessoas apenas por aquilo que aparentam ser, o problema não é
grave. Mais ainda há quem marginalize os outros, baseado em conceitos de raça,
crença, poder...
Esta história do Gato Malhado e da
Andorinha Sinhá mostra como isso pode acontecer, como a felicidade de dois
animais é colocado em causa porque pertencem a mundos diferentes.
Entendendo o conto:
01 – Indique o nome da
primeira personagem que aparece neste capítulo?
É o gato
malhado.
02 – Faça a característica
física e psicológica do gato.
Características
física: um gato feio, gordo, forte, às riscas amarelas e negras, gato de meio
idade, com olhos que transmitem maldade e grande bigodes.
Características psicológica: solitário,
egoísta, mal humorado, antipático, desagradável, convencido e insensível.
03 – por que motivo se
assustaram os animais do parque?
Os animais do
parque assustaram-se porque pensavam que o gato ia matar a Andorinha.
04 – A Andorinha não fugiu.
Por quê?
A Andorinha não
fugiu porque como não conseguia voar, não a podia alcançar.
05 – Na opinião da
Andorinha, o Gato Malhado era.
Tolo, feíssimo e convencido.
06 – De que modo reagiu o
Gato Malhado à crítica da Andorinha?
O Gato Malhado,
fez o inesperado: riu-se da crítica da Andorinha.
07 – O que significa a
expressão: “riso espantosa de quem se havia desacostumado de rir”?
A expressão
significa que o Gato já não se ria há muito tempo.
08 – Reações dos outros
animais:
A árvore Pau-Brasil tremeu de medo, o Cã
Dinamarquês pensou que o Gato se ia vingar da Andorinha, o Reverendo Papagaio
fechou os olhos e a Andorinha voou um galho mais alto.
09 – Sensações visuais,
olfativas e auditivas presentes nesta estação.
Sensações
visuais: “vestidas de luz e de cores”; “riscas amarelas e negras”; ...
Sensações auditivas: “seguem o cacarejar
da orgulhosa galinha”; “murmuravam”; ...
Sensações olfativas: “olorosa de perfumes
sutis”; “botões nasciam perfumados”; ...
10 – Como se designam as
expressões “Santo Deus!”; “Ui” e “Ai, Meu Deus”? Quais os sentimentos que exprimem?
As expressões
“Santo Deus”; “Ui” e “Ai, Meu Deus!” são interjeições que exprimem medo, susto
e terror.
11 – A estação do verão é
curta, por quê?
A estação do
verão é curta, passou rapidamente “com o seu sol ardente e noites cheias de
estrelas”, pois é sempre rápido o tempo de felicidade. “O tempo é um ser
difícil”, isto é, quando queremos que o tempo passe depressa (momentos de infelicidade)
ele vai andando devagar, pormenorizando cada momento. Quando há o desejo de
viver para sempre um capítulo de uma vida o tempo corre. Então, esta estação
ser curta deve-se ao facto do tempo em que a Andorinha e o Gato estiveram
juntos passasse num ápice. A Andorinha pergunta ao Gato o porque da sua
infelicidade.
12 – O que é que o Gato lhe
responde?
O Gato diz-se que se ela não fosse uma Andorinha lhe pedia
para casar com ele.
13 – Qual a reação da
Andorinha?
A Andorinha não ficou surpreendida pois
já sabia o que se passava no coração do Gato; zanga também não deveria ser pois
aquelas palavras foram-lhe gratas, mas tinha medo, ele era um Gato e os gatos
são inimigos das andorinhas.
14 – Como se sente o Gato
Malhado quando resolve ir conversar com a Coruja?
O Gato Malhado
sente-se só, triste e confuso.
15 – A Coruja sugere a única
solução para vencer a lei das andorinhas. Qual?
A solução que a
Coruja sugere é uma revolução de mentalidades e de comportamentos.
16 – Na opinião da Coruja a
lei das andorinhas impede o casamento entre o Gato e a Andorinha. Transpondo
para o plano humano, esta lei representa...
Representa um
tipo de conduta social e racial interiorizada pela sociedade.
17 – Tristes e em silêncio,
o Gato e a Andorinha “tinham ambos o ar de quem quer evitar um assunto que se
impõe”. Que assunto é esse?
O assunto que é
evitado pelo Gato e a Andorinha é a separação inevitável deles, devido aos
rumores e à lei das andorinhas.
18 – O que aconteceu durante
o casamento da Andorinha e do Rouxinol?
Durante o
casamento da Andorinha e do Rouxinol, onde estavam presentes todos os animais
do parque menos o Gato Malhado que permanecia solitário, caiu sobre o Gato uma
pétala das rosas vermelhas e este colocou-a no seu peito.
19 – A andorinha deixou cair
uma pétala de rosa com que intensão?
A Andorinha
deixou cair uma pétala de rosa com a intensão de iluminar o caminho do gato que
estava só e triste.
20 – Por que era este amor
impossível?
Este amor era impossível porque a
Andorinha e o Gato são seres de espécies diferentes e, até, inimigos.
21 – Qual é o acontecimento
mais importante desta narrativa?
O acontecimento
mais importante desta narrativa é o desenrolar da paixão entre o Gato Malhado e
a Andorinha Sinhá.