domingo, 16 de junho de 2019

CONTO: NÃO CHORE, PAPAI - SÉRGIO FARACO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Conto: Não chore, papai
        
    Sérgio Faraco

   Embora você proibisse, tínhamos combinado: depois da sesta iríamos ao rio e a bicicleta já estava no corredor que ia dar na rua. Era uma Birmingham que Tia Gioconda comprara em São Paulo e enlouquecia os piás da vizinhança, que a pediam para andar na praça e depois, agradecidos, me presenteavam com estampas do Sabonete Eucalol.
        Na hora da sesta nossa rua era como as ruas de uma cidade morta. Os raros automóveis pareciam sestear também, à sombra dos cinamomos, e nenhum vivente se expunha ao fogo das calçadas. Às vezes passava chiando uma carroça e então alguém, querendo, podia pensar: como é triste a vida de cavalo.
        Em casa a sesta era completa, o cachorro sesteava, o gato, sesteavam as galinhas nos cantos sombrios do galinheiro. Mariozinho e eu, você mandava, sesteávamos também, mas naquela tarde a obediência era fingida.
        Longe, longíssimo era o rio, para alcançá-lo era preciso atravessar a cidade, o subúrbio e um descampado de perigosa solidão. Mas o que e a quem temeríamos, se tínhamos a Birmingham? Era a melhor bicicleta do mundo, macia de pedalar coxilha acima e como dava gosto de ouvir, nos lançantes, o delicado sussurro da catraca!
        Tínhamos a Birmingham, mas era a primeira vez que, no rio, não tínhamos você, por isso redobrei os cuidados com o mano. Fiz com que sentasse na areia para juntar seixos e conchinhas e enquanto isso, eu, que era maior e tinha pernas compridas, entrava n’água até o peito e me segurava no pilar da ponte ferroviária.
        Estava nu e ali mesmo me deixei ficar, a fruir cada minuto, cada segundo daquela mansa liberdade, vendo o rio como jamais o vira, tão amável e bonito como teriam sido, quem sabe, os rios do Paraíso. E era muito bom saber que ele ia dar num grande rio e este num maior ainda, e que as mesmas águas, dando no mar, iam banhar terras distantes, tão distantes que nem a Tia Gioconda conhecia.
        Eu viajava nessas águas e cada porto era uma estampa do cheiroso sabonete.
        Senhores passageiros, este é o Taj Mahal, na Índia, e vejam a Catedral de Notre Dame na capital da França, a Esfinge do Egito, o Partenon da Grécia e esta, senhores passageiros, é a Grande Muralha da China – isso sem falar nas antigas maravilhas, entre elas a que eu mais admirava, os Jardins Suspensos que Nabucodonosor mandara fazer para sua amada, a filha de Ciáxares, que desafeita ao pó da Babilônia vivia nostálgica das verduras da Média.
        E me prometia viajar de verdade, um dia, quando crescesse, e levar meu irmãozinho para que não se tornasse, ai que pena, mais um cavalo nas ruas da cidade morta, e então vi no alto do barranco você e seu Austin.
        Comecei a voltar e perdi o pé e nadei tão furiosamente que, adiante, já braceava no raso e não sabia. Levantei-me, exausto, você estava à minha frente, rubro e com as mãos crispadas.
        Mariozinho foi com você no Austin, eu pedalando atrás e adivinhando o outro lado da ventura: aquele rio que parecia vir do Paraíso ia desembocar no Inferno.
        Você estacionou o carro e mandou o mano entrar. Pôs-se a amaldiçoar Tia Gioconda e, agarrando a bicicleta, ergueu-a sobre a cabeça e a jogou no chão. Minha Birmingham, gritei. Corri para levantá-la, mas você se interpôs, desapertou o cinto e apontou para a garagem, medonho lugar dos meus corretivos.
        Sentado no chão, entre cabeceiras de velhas camas e caixotes de ferragem caseira, esperei que você viesse. Esperei sem medo, nenhum castigo seria mais doloroso do que aquele que você já dera. Mas você não veio. Quem veio foi mamãe, com um copo de leite e um pires de bolachinha-maria. Pediu que comesse e fosse lhe pedir perdão. E passava a mão na minha cabeça, compassiva e triste.
        Entrei no quarto. Você estava sentado na cama, com o rosto entre as mãos. “Papai”, e você me olhou como se não me conhecesse ou eu não estivesse ali. “Perdão”, pedi. Você fez que sim com a cabeça e no mesmo instante dei meia-volta, fui recolher minha pobre bicicleta, dizendo a mim mesmo, jurando até, que você podia perdoar quantas vezes quisesse, mas que eu jamais o perdoaria.
        Mas não chore, papai.
        Quem, em menino, desafeito ao pó de sua cidade, sonhou com os Jardins da Babilônia e outras estampas do Sabonete Eucalol não acha em seu coração lugar para o rancor. Eu jurei em falso. Eu perdoei você.

                 Sérgio Faraco. Dançar tango em Porto Alegre. 2. ed. Porto Alegre: L&PM, 2004.

Entendendo o conto:
01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo.
·        Birmingham: bicicleta produzida na cidade de Birmingham, Inglaterra.
·        Bracear: mover os braços ao nadar.
·        Cinamomo: nome de um arbusto ou árvore.
·        Crispado: contraído.
·        Lançante: ladeira, descida.
·  Seixo: pedra pequena e arredondada, muito comum em leitos e margens de rios.

02 – O primeiro parágrafo do conto já revela ao leitor que a história está construída sobre um ato de desobediência.
a)   Que expressão revela isso?
“Embora você proibisse”.

b)   De que desobediência se trata?
Os meninos vão sozinhos de bicicleta até o rio no horário da sesta, o que havia sido proibido pelo pai.

c)   Encontre nesse parágrafo uma frase que expresse a ansiedade do protagonista em relação ao passeio até o rio.
“[...] e a bicicleta já estava no corredor que ia dar na rua”.

03 – No conto que você leu, há um conflito presente desde o início da narrativa. Qual é esse conflito?
      O conflito entre a proibição do pai e a decisão do menino de ir até o rio.

04 – Banhar-se no rio traz uma dupla satisfação para o menino: o contato físico com a água e o que essa água representa para ele.
a)   Que sensações o menino experimenta ao entrar no rio?
O menino sente-se tranquilo, livre e feliz, como se estivesse no paraíso.

b)   Que outras impressões a água do rio traz à imaginação do menino?
O menino sente-se conectado à vastidão do mundo por meio do rio, pois sabe que a água do rio vai desembocar em um outro rio, maior, e dali chegará ao mar, que banha terras muito distantes, cuja existência ele conhece pelas estampas do Sabonete Eucalol.

05 – Releia: “Eu viajava nessas águas e cada porto era uma estampa do cheiroso sabonete”.
a)   Que sentido tem a palavra viajava nesse trecho?
A palavra viajava tem sentido de “imaginava”, “fantasiava”, “transportava-me para outra realidade”.

b)   Que relação há entre a viagem do menino e as estampas do sabonete?
As estampas do Sabonete Eucalol revelam lugares muito distantes, fantásticos, maravilhosos, que mexem com a imaginação do menino.

c)   Que característica da personalidade do narrador-personagem fica evidente nessa passagem?
A característica de ser muito imaginativo e sonhador.

06 – Em determinado momento, a tensão da narrativa cresce, em uma sucessão de eventos, até explodir em um ato violento.
a)   Que fato determina esse momento de maior tensão?
O aparecimento do pai.

b)   Qual é a expectativa do menino com relação à atitude do pai?
Ele acredita que o pai vai brigar com ele, puni-lo pela desobediência.

c)   Quais eventos acrescentam tensão ao conto?
O pai leva o irmãozinho do narrador de volta para casa; o pai amaldiçoa a tia Gioconda por ter dado a bicicleta ao menino.

d)   Que ato violento fecha a cena do rio?
O ato, praticado pelo pai, de levantar a bicicleta e atirá-lo ao chão.

07 – Após o clímax, a situação se transforma. Enquanto espera pelo castigo do pai na garagem, o que muda no sentimento do menino? Por quê?
      O menino não sente mais medo, pois nenhum castigo seria mais doloroso do que ter a bicicleta jogada ao chão pelo pai.

08 – Releia:
        “Mas não chore, papai.
        Quem, em menino, desafeito ao pó de sua cidade, sonhou com os Jardins da Babilônia e outras estampas do Sabonete Eucalol não acha em seu coração lugar para o rancor. Eu jurei em falso. Eu perdoei você.”

a)   Por que motivo o pai choraria?
Talvez por ter sentido muito medo do que poderia ter acontecido aos meninos quando nadavam no rio; pelo alívio de tê-los encontrado bem; e, ainda, por imaginar que se excedera ao jogar a bicicleta violentamente no chão.

b)   Embora a frase: “Mas não chore, papai.”, dita pelo narrador, já tivesse sido anunciada no título, ao aparecer no final do conto causa uma quebra de expectativa na leitura. Por quê?
A frase surpreende o leitor, pois quem tinha bons motivos para chorar, por tudo o que foi narrado, era o menino.

09 – Embora jurasse que não iria jamais perdoar o pai, o narrador surpreende o leitor no final do conto: “Eu jurei em falso. Eu perdoei você”. Essas frases indicam que o narrador-personagem está contando os fatos em um tempo diferente do acontecido.
a)   Em que momento da vida do protagonista ocorreram os fatos narrados?
Na época de sua infância.

b)   Em que momento de sua vida o protagonista nos conta sua história? Justifique sua resposta com elementos do conto.
O protagonista já é adulto quando narra essa história. A frase: “Quem em menino [...] sonhou com os jardins da Babilônia [...]” e o próprio ato de ter perdoado o pai, embora tivesse jurado que não faria na ocasião, indicam uma análise mais madura do episódio, compreendendo a fúria do pai.

10 – Quem escreveu o conto “Não chore, papai”?
      O autor Sérgio Faraco.

11 – Quem é o narrador da história?
      O narrador é um menino que sai de casa escondido do pai, com o irmão mais novo, para ir nadar no rio.

12 – Que papel tem o narrador nessa história?
      O narrador desempenha o papel de personagem principal da história, tendo participado de todos os acontecimentos.

TEXTO: SORRIR OU RIR SÓ FAZ BEM - DR. EDUARDO LAMBERT - COM QUESTÕES GABARITADAS

Texto: Sorrir ou rir só faz bem
          
  Dr. Eduardo Lambert

        O sorriso e o riso são gestos simples de linguagem universal, que abrem semblante, fazem brilhar os olhos, relaxam a face, o corpo e a mente, despertam a alegria, exteriorizam nossa criança interior, melhoram a nossa saúde, desopilam nosso corpo, nos fortalecem, revigoram, nos deixam à vontade, nos descontraem, nos soltam, nos tornam sociáveis, aliviam nossas tensões, nos enchem de paz, libertam energias positivas e preenchem o nosso vazio interior; são uma demonstração de amor por nós mesmos. Eles nos valorizam, nos enaltecem, nos tornam simpáticos e comunicativos. Como uma bandeira de paz, derrubam muralhas, quebrando o gelo até de um iceberg; abrem nossos caminhos, abrem-nos portas e corações; são uma doação de alegria, são de graça e gratificantes. Eles nos deixam felizes, cheios de prazer de vive, deixam lembranças agradáveis, transmitem alegria e felicidade.
           LAMBERT, Dr. Eduardo. A terapia do riso – A cura pela alegria.
São Paulo, Editora Pensamento, 1999.

Entendendo o texto:

01 – “O sorriso e o riso são gestos simples de linguagem universal...”. Reescreva a oração:
a)   Substituindo o termo sujeito por um pronome pessoal do caso reto.
Eles são gestos simples de linguagem universal.

b)   Substituindo o predicado por outro de sua preferência.
Resposta pessoal do aluno.

c)   Classifique o predicado da oração criada por você.
Resposta pessoal do aluno.

d)   Responda: O que você entende por “gestos de linguagem universal”?
Gestos compreendidos em todo o mundo.

02 – Classifique o sujeito das orações seguintes:
a)   “... despertam a alegria...”.
Sujeito indeterminado.

b)   “Eles nos deixam felizes...”.
Sujeito simples.

c)   “... transmitem alegria e felicidade.”
Sujeito indeterminado.

03 – A função dos pronomes oblíquos “nos” é:

(   ) Os dois primeiros são objeto direto e o último predicativo do sujeito.
(   ) Os dois primeiros são objeto indireto e o último predicativo do sujeito.
(   ) Os três são predicativos do sujeito.
(X) Os três são objetos diretos.
(   ) Os três são objetos indiretos.

04 – “Como uma bandeira de paz, o sorriso e o riso, derrubam muralhas, quebrando o gelo até de um iceberg”. Como ficaria o período se o termo sujeito fosse indeterminado?
      Como uma bandeira de paz, derrubam muralhas, quebrando o gelo até de um iceberg.


sábado, 15 de junho de 2019

CRÔNICA: UM CASO DE BURRO - MACHADO DE ASSIS - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: Um Caso de Burro
            Machado de Assis

        Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
        Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia com um amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente que parecia estar próximo do fim.
        Diante do animal havia algum capim espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quem quer que é que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos.
        Meia dúzia de curiosos tinham parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para esperta-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Diga-se a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos. Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos.
        O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha no olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular: por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas, mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
        “Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade.”
        “Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direito não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regímen, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, em resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conformidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei.”
        “A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia no bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscos, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim ...”
        Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam, não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior?
        Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
        Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, como a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste mundo. Sem exagerar o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace.
                                                                              Machado de Assis.
Entendendo a crônica:

01 – A crônica correspondeu às expectativas levantadas pelo título?
      Sim, pois realmente se refere a um burro.

02 – Qual é o foco narrativo? O autor é personagem, usa a primeira pessoa ou não se envolve, apenas conta o que aconteceu com os outros?
      Foco narrativo: primeira pessoa. O autor apenas conta o que aconteceu como burro.

03 – De que se trata a crônica?
      Trata-se de uma crítica a sociedade da época, usando principalmente a ironia.

04 – Que tipo de comparação o autor faz na crônica?
      Compara um burro a um ser humano, provavelmente um negro, denunciando os maus tratos sofridos por eles naqueles tempos.

05 – Que ideias e emoções foram despertadas pela leitura?
      Pena do burro por morrer praticamente abandonado na rua. E esperança que ele sobrevivesse.

06 – Cite o trecho do texto que mostra as condições físicas do burro, depois de já ter sofrido bastante.
      “Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente que parecia estar próximo do fim.”

07 – Já no terceiro parágrafo, percebemos uma forte ironia do autor. Cite uma destas citações de ironia.
      “O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos”.

08 – Para o autor, o burro é metáfora de quem ou de que?
      Metáfora de um ser humano provavelmente um negro, denunciando os maus tratos sofridos por eles naqueles tempos.

09 – Onde é empregada a figura de linguagem Prosopopeia? Exemplifique.
      Em todos os pensamentos do burro, por exemplo: “Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa”.

10 – Pesquise o significado da expressão que o autor finaliza a crônica: “Requiescat in pace”. Por que ela foi usada?
      Significa descanse em paz. Porque o burro morreu

FÁBULA: A RAPOSA E A MÁSCARA - ADAPTAÇÃO NICÉAS ROMEO ZANCHETT - COM GABARITO

Fábula: A RAPOSA E A MÁSCARA 
                
    Adaptação: Nicéas Romeo Zanchett 

     Num certo dia de verão, uma raposa passeava pelos campos e encontrou em seu caminho uma máscara de homem. Pegou-a com grande curiosidade e, examinando-a detidamente, reparou que era oca por dentro. 
        Ao ver isso ela não conteve o riso e disse: 
        -- É pena que uma cabeça de rosto tão lindo não tenha miolos!
        E foi-se embora rindo e julgando aquela máscara que lhe parecia tão insignificante. 
        Moral da história: De nada vale uma boa aparência se não tiver juízo. 

                                                             Fábula ESOPO
Entendendo a fábula:

01 – Quando se passa a história?
      Num certo dia de verão.

02 – Em que local acontece a história?
      Nos campos.

03 – O que a raposa encontrou em seu caminho?
      Uma máscara de homem.

04 – Para que serve uma fábula?
(   ) Divertimento.
(X) Ensinamento.
(   ) Informação.

05 – A raposa pegou a máscara, examinou bem e percebeu o quê?
      Que a máscara era oca por dentro.

06 – Ao ver que a máscara era oca, não se conteve o riso e disse o quê?
      “-- É pena que uma cabeça de rosto tão lindo não tenha miolos!”

07 – Numa fábula há sempre uma crítica a determinado tipo de comportamento, que se deveria evitar. Nessa fábula, a crítica refere-se a quê?
      Que existe muitas pessoas bonitas fisicamente, mas feias por dentro (egoístas, fúteis, etc.)

08 – Qual o desfecho (situação final) da fábula?
      Resposta pessoal do aluno.
     


MENSAGEM ESPÍRITA: AMOR E PAZ - JOANNA DE ÂNGELIS - DIVALDO P. FRANCO - PARA REFLEXÃO


Amor e Paz
Joanna de Angelis

      O desânimo é pântano venenoso onde se asfixiam as mais belas aspirações da vida.
        A precipitação torna-se fogaréu a arder sem finalidade, muitas vezes prejudicando a lavoura do bem.
        O receio sistemático constitui campo onde medram as plantas daninhas que destroem a sementeira da esperança.
        A maledicência é geratriz de males incontáveis.
        A preguiça urde a destruição do trabalho, tanto quanto a má vontade inspira a insensatez.
        Comenta-se sobre a violência com exagerada cooperação dos veículos da moderna informática, estimulando mentes enfermas e personalidades psicopatas a se entregarem à alucinação.
        A terapia para a terrível epidemia que toma conta do mundo é o amor em todas as suas expressões.
        Amor fraternal que sustenta a amizade e dissemina a confiança.
        Amor espiritual que generaliza o interesse de todos pelo bem comum.
     Amor cristão em serviço ativo, que desenvolve o trabalho e espraia a solidariedade.
      O amor que compreende o erro é êmulo do amor que reeduca, da mesma forma que o amor que perdoa promove o amor que salva.
        São formas de violência cruel: o torpe desânimo e a rude precipitação, o infeliz receio, a cruel maledicência e a maléfica preguiça, filhos espúrios do egoísmo que é, em si mesmo, o gerador dos males que desgovernam o mundo.
        Contribui para a ordem e a paz mediante a utilização do verbo feliz, falando para ajudar – distendendo o conforto moral e as diretrizes de equilíbrio: mediante o pensamento – resguarda-te do pessimismo, irradiando ondas mentais de simpatia, orando em silêncio; através da ação produzindo no bem, mesmo que seja com a dádiva modesta de uma luz acesa na escuridão, de um vaso de água fria na ardência da sede, de uma côdea de pão estendida ao esfaimado, de um grão rico de vida na vala fértil com olhos postos no futuro.
        Cada um pode oferecer a sua melhor parte, doar a mais importante quota que, em palavras simples e plenas, é o amor.
        Jesus, em todas as circunstâncias, não obstante pudesse modificar as estruturas do seu tempo e solucionar os problemas daqueles que O buscavam, por amor ajudou cada criatura que a Ele recorria, influenciando-a a mudar de atitude perante a vida e a crescer no bem, avançando em paz na direção de Deus, o Amor Total.

FRANCO, Divaldo Pereira. Receitas de Paz. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. LEAL.


TEXTO: A VERDADE E A MENTIRA - DILÉA FRATE - COM QUESTÕES GABARITADAS

Texto: A verdade e a mentira
         Diléa Frate


        A verdade marcou um encontro com a mentira. A verdade chegou na hora, pontual e certa. A mentira chegou atrasada e se justificou: "Minhas pernas são curtas e bambas. Mas não conte a ninguém". A verdade nada disse. Apenas sorriu. A mentira prosseguiu: "O que você quer de mim? Eu sou bonita, você é feia, eu sou jovem, você é velha, eu sou extrovertida, você é tímida, eu sou agradável, você é desagradável, eu sou, enfim, aquilo que as pessoas querem. Posso ser qualquer coisa, estar em qualquer lugar, posso fazer tudo o que quero e francamente, não vejo porquê de estar aqui, nesse momento, perdendo meu tempo com alguém que não é bem-aceita em todos os lugares. O que você quer de mim afinal?" disse a mentira com a voz ligeiramente esganiçada.
        A verdade com voz límpida e cristalina, respondeu apenas: "Quero lhe dizer que, apesar de sua beleza e formosura, eles querem a mim. As pessoas buscam a mim, mesmo quando encontram você".
        Na hora de ir embora, sempre apressada, a mentira botou o casaco da verdade e saiu correndo. A verdade, para não passar frio, botou a roupa da mentira. E todo mundo achou que a verdade era a mentira e a mentira era a verdade. Mas foi só por um tempo. Logo um vento soprou revelando as pernas curtas e bambas da mentira disfarçada.

Diléa Frate Histórias para acordar 
São Paulo - Companhia das Letrinhas, 1996.

Entendendo o texto:

01 – O que você acha de uma pessoa que mente muito?
      Resposta pessoal do aluno.

02 – Você gostaria de ser conhecido(a) como uma pessoa mentirosa?
      Resposta pessoal do aluno.

03 – O que você diria para uma pessoa que conta muitas mentiras?
      Resposta pessoal do aluno.

04 – É possível confiar em alguém que conta muitas mentiras?
      Não é possível, pois nunca saberá quando ela estará falando a verdade.

05 – Existem mentiras mais graves do que outras?
      Sim. No geral todos já contamos uma mentira para se livrar de uma bronca, ter algum benefício ou evitar machucar alguém. Porém, existem indivíduos que fazem da mentira um estilo de vida, e é constituído um distúrbio de personalidade chamado mitomania em que a pessoa mente a respeito de todos os assuntos, sem nunca demonstrar constrangimento quando suas histórias são descobertas.

06 – Como fazer para não ser considerado um mentiroso?
      Estar sempre vigilante em falar pequenas mentiras e isto se tornar um hábito.

07 – Se uma pessoa é muito mentirosa, ela pode lutar contra isso e mudar?
      Sim, se é um distúrbio de personalidade ela deve procurar ajuda de profissionais da psicologia.

08 – Você se definiria como uma pessoa que mente muito, que não mente ou que mente pouco?
      Resposta pessoal do aluno.




sexta-feira, 14 de junho de 2019

POEMA: DISPERSÃO - FRAGMENTO - MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO - COM GABARITO


Poema: Dispersão - Fragmento
        
      Mário de Sá-Carneiro

Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.

Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...

Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem. 


(O Domingo de Paris
Lembra-me o desaparecido
Que sentia comovido
Os Domingos de Paris:

Porque um domingo é família,
É bem-estar, é singeleza,
E os que olham a beleza
Não têm bem-estar nem família).

O pobre moço das ânsias...
Tu, sim, tu eras alguém!
E foi por isso também
Que te abismaste nas ânsias.

A grande ave dourada
Bateu asas para os céus,
Mas fechou-as saciada
Ao ver que ganhava os céus.

Como se chora um amante,
Assim me choro a mim mesmo:
Eu fui amante inconstante
Que se traiu a si mesmo.

Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que projeto:
Se me olho a um espelho, erro -
Não me acho no que projeto.

Regresso dentro de mim,
Mas nada me fala, nada!
Tenho a alma amortalhada,
Sequinha, dentro de mim.

Não perdi a minha alma,
Fiquei com ela, perdida.
Assim eu choro, da vida,
A morte da minha alma. 
[...]
  Obras completas de Mário de Sá-Carneiro. Poesias. Lisboa: Ática, sd. v. 2. p. 61-5.

Entendendo o poema:

01 – No poema, o eu lírico faz uma espécie de avaliação de sua trajetória de vida, tratando de momentos vividos no passado e de momentos vividos no presente.

a)   Observe os tempos verbais empregados. Eles confirmam ou negam essa divisão temporal? Por quê?
Confirmam: as formas verbais do pretérito perfeito e do imperfeito do indicativo referem-se ao tempo passado; as formas verbais do presente do indicativo referem-se ao tempo presente.

b)   Tomando por base a 3ª estrofe, que tipo de expectativa o eu lírico tem para o presente e para o futuro?
Tem uma expectativa pessimista. Para ele, não há presente nem futuro, há apenas passado.

c)   Que significado tem o passado para o eu lírico?
O passado, para ele, significa a unidade e a perfeição de um eu do qual sente saudades e que, no presente, se desdobrou em um ser sem identidade. Imagens como "Astro doido a sonhar" e "A grande ave dourada" comprovam a idealização do passado.

d)   Como se sente o eu lírico no presente? Comprove sua resposta retirando um ou dois versos do poema.
Sente-se perdido, frustrado, morto interiormente, sem forças para voltar a ser o que era. " Não me acho no que projeto" / "Tenho a alma amortalhada".

02 – Como é comum nos escritos de Sá-Carneiro, o poema põe em questão a identidade do eu lírico.
a)   Interprete os versos:
“Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que projeto:
Se me olho a um espelho, erro -
Não me acho no que projeto.”

Esses versos revelam a falta de identidade; o eu lírico não reconhece a si mesmo.

b)   Retire do texto exemplos de desdobramento da personalidade ou da busca de um "outro" dentro do eu.
"E hoje, quando me sinto, / É com saudades de mim", e toda a 9ª estrofe.

03 – Justifique o título do poema a partir das ideias nele contidas.
      O título está relacionado com a diluição do ser, com a perda da identidade original e com a busca de uma nova identidade.

04 – Um tema recorrente na obra do autor é a valorização do passado, o desperdício do presente e a não espera do futuro. Cite os versos do poema.
      “E hoje, quando me sinto,
       É com saudades de mim.”

      “Passei pela minha vida
       Um astro doido a sonhar. 
      Na ânsia de ultrapassar, 
      Nem dei pela minha vida...”

05 – Na sétima estrofe nota-se a presença de uma metáfora. Explique-a.
      Onde a ave seria o poeta buscando, assim, um objetivo e a partir do momento que conseguiu “fechou as asas”, porque poeta é um permanente insatisfeito.

06 – Em que versos nota-se o tema do “eu” em combate consigo mesmo e com a vida?
      “Não perdi a minha alma,
       Fiquei com ela, perdida”.