segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

TEXTO: IAIÁ E SUAS HISTÓRIAS - GILBERTO AMADO - COM GABARITO

TEXTO: IAIÁ E SUAS HISTÓRIAS

 Iaiá era contadora de histórias à criançada, que ao  escurecer, tendo levado banho, depois do brinquedo, vinha chegando para nossa calçada.
       De cabelos fouveiros amarrados por uma fita, os olhos muito abertos onde a sensibilidade tremia, olhando para todos e para ninguém, Iaiá começava a contar. Fora eu, santo de casa, toda a pequenada sentava-se ali, em torno dela. Onde tinha ido ela achar tanta história de trancoso, tanto conto da carochinha?
       Saíam-lhe da boca, um atrás do outro, príncipes vestidos de ouro, cavaleiro montado em dragão que botava fogo pelo nariz, bicho falando, velha que come meninos, a passarem pelos olhos da garotada, presos aos olhos dela, uns babando. 
     Que façanhas, sortilégios e proezas de mouras-tortas, de fadas e de velhinhas feiticeiras, de pagens encantados, de corceis, de palácios e de castelos, não trazia para aquela meninada! 
       Vi muito molequinho chorar com as histórias, sobretudo, nas em que ela cantava, como a do “Jardineiro de Meu Pai”; cantava de cortar o coração. Vi-a, lembro-me tanto, consolando os cabrochinhas, que era só história; os cabrochinhas chorando, e ela a contagiar-se das lágrimas que provocava, chorando também. 
        A verdade é que se esquecia de estava inventando; ficava com medo dos próprios fantasmas, figuras e monstros que criava. Como todo verdadeiro artista, acabava acreditando nas próprias criações. Se tivesse vivido em outro meio, teria sido uma atriz.

                                                                  Gilberto Amado.
 Entendendo o texto:
Agora faça o que se pede.
I – Marque com um X, o sinônimo das palavras ou expressões grifadas.
01 – Em: “… à criançada, que ao escurecer, tendo levado banho…”  A expressão grifada pode ser entendida como:
a.(   ) tendo levado um jato de água fria                  
b.(X) tendo tomado banho
c.(   ) tendo molhado as roupas do corpo               
d.(   ) tendo lavado as mãos e o rosto.

02 – Em: “Fora eu, santo de casa, toda a pequenada…”  A expressão grifada indica que o narrador:
a.(   ) vive segundo os preceitos religiosos       c.(   ) é inocente
b.(   ) tem um coração bondoso                        d.(X) é da família.

03 – Em: “…uns babando…”  A palavra grifada pode ser entendida como:
a.(   ) molhando a roupa              b.(X) deliciando-se
c.(   ) gritando de raiva                d.(   ) falando com dificuldade.

04 – Em: “Vi muito molequinho chorar com as histórias, sobretudo nas em que ela cantava…”  A palavra grifada equivale a:
a.(   ) muito menos                   b.(X) principalmente
c.(   ) em compensação           d.(   ) de maneira nenhuma.

05 – Em: “…cantava de cortar o coração.”  A palavra grifada pode ser entendida como:
a.(   ) fazer cortes                  b.(   ) separar                   
c.(   ) fazer parar                    d.(X) sensibilizar.

II – Marque com um X a alternativa correta, de acordo com texto:
06 – A respeito de Iaiá, lemos no texto: “…os olhos muito abertos onde a sensibilidade tremia…”. Através desse trecho, percebemos que:
a.(   ) os olhos de Iaiá eram granes e bonitos.           
b.(X) o olhar de Iaiá transmitia sua emoção
c.(   ) os olhos de Iaiá estavam sempre tristes           
d.(   ) o olhar de Iaiá era terno e meigo.

07 – O narrador diz: “Saíam-lhe da boca, um atrás do outro, príncipes vestidos de ouro, cavaleiros montados em dragão que botava fogo pelo nariz, bicho falando, velha que come menino.”. Isso significa que Iaiá:
a.(   ) era muito falante                  
b.(   ) era muito orgulhosa
c.(   ) demorava muito para começar as histórias           
d.(X) tinha muita facilidade em inventar histórias.

08 – Por que o narrador afirma que, se Iaiá tivesse vivido em outro meio, teria sido atriz?
      Por que ela, com certeza, teria tido oportunidade de aperfeiçoar sua vocação natural de representar personagens de teatro.





CRÔNICA: CASO DE CANÁRIO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

CRÔNICA:  CASO DE CANÁRIO
                        Carlos Drummond de Andrade


     Casara-se havia duas semanas. Por isso, em casa dos sogros, a família resolveu que ele é que daria cabo do canário:
      – Você compreende. Nenhum de nós teria coragem de sacrificar o pobrezinho, que nos deu tanta alegria. Todos somos muito ligados a ele, seria uma barbaridade. Você é diferente, ainda não teve tempo de afeiçoar-se ao bichinho. Vai ver que nem reparou nele, durante o noivado.
      – Mas eu também tenho coração, ora essa. Como é que vou matar um pássaro só porque o conheço há menos tempo do que vocês?
     – Porque não tem cura, o médico já disse. Pensa que não tentamos tudo? É para ele não sofrer mais e não aumentar o nosso sofrimento. Seja bom, vá.
       O sogro, a sogra apelaram no mesmo tom. Os olhos claros de sua mulher pediram-lhe com doçura:
        – Vai, meu bem.
       Com repugnância pela obra de misericórdia que ia praticar, ele aproximou-se da gaiola. O canário nem sequer abriu o olho. Jazia a um canto, arrepiado, morto-vivo. É, esse está mesmo na última lona e dói ver a lenta agonia de um ser tão precioso, que viveu para cantar.
       – Primeiro me tragam um vidro de éter e algodão. Assim ele não sentirá o horror da coisa.
        Embebeu de éter a bolinha de algodão, tirou o canário para fora com infinita delicadeza, aconchegou-o na palma da mão esquerda e, olhando para outro lado, aplicou-lhe a bolinha no bico. Sempre sem olhar para a vítima, deu-lhe uma torcida rápida e leve, com dois dedos no pescoço.
          E saiu para a rua, pequenino por dentro, angustiado, achando a condição humana uma droga. As pessoas da casa não quiseram aproximar-se do cadáver. Coube à cozinheira recolher a gaiola, para que sua vista não despertasse saudade e remorso em ninguém. Não havendo jardim para sepultar o corpo, depositou-o na lata de lixo.
          Chegou a hora de jantar, mas quem é que tinha fome naquela casa enlutada? O sacrificador, esse, ficara rodando por aí, e seu desejo seria não voltar para casa nem para dentro de si mesmo.
         No dia seguinte, pela manhã, a cozinheira foi ajeitar a lata de lixo para o caminhão, e recebeu uma bicada voraz no dedo.
         – Ui!
         Não é que o canário tinha ressuscitado, perdão, reluzia vivinho da silva, com uma fome danada?
         – Ele estava precisando mesmo era de éter – concluiu o estrangulador, que se sentiu ressuscitar, por sua vez.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE.
Elenco de cronistas modernos.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1976.

Entendendo o texto:
I – Assinale a alternativa correta para cada item.
01 – A expressão: “… daria cabo do canário…” significa:
a.(   ) dar o canário a alguém    
b.(   ) soltar o canário da gaiola
c.(X) matar o canário                 
d.(   ) prender o canário na gaiola.

02 – Na frase: “Você ainda não teve tempo de afeiçoar-se ao bichinho”, a palavra em destaque pode ser substituída por:
a.(X) apegar-se                               b.(   ) enfurecer-se
c.(   ) desencantar-se                      d.(   ) preocupar-se.

03 – Na frase: “Com repugnância pela obra de misericórdia que ia praticar…”, a palavra em destaque pode ser substituída por:
a.(X) escrúpulo                               b.(   ) tédio     
c.(   ) ansiedade                              d.(   ) raiva.

04 – Na frase: “O canário …. jazia a um canto…” , a palavra em destaque pode ser substituída por:
a.(   ) cantava                                 b.(   ) arrepiava-se
c.(X) estava deitado                      d.(   ) saltitava.

05 – Na frase: “Tirou o canário com infinita delicadeza…”, a palavra em destaque pode ser substituída por:
a.(   ) arrogante                       b.(X) enorme    
c.(   ) desajeitado                    d.(   ) espontânea.

06 – Nas frases abaixo, aparecem em destaque, expressões da fala coloquial. Relacione as duas colunas, de acordo com o significado dessas expressões:
1. “…esse está mesmo na última lona…”
2. “…achando a condição humana uma droga…”
3. “O canário reluzia vivinho da silva…”
4. “ O canário estava com uma fome danada.” 
a. (2) uma coisa muito ruim
b. (4) muito grande, fora do comum
c. (1) no fim
d. (3) vivo, sem nenhuma dúvida.

II – Responda com base no texto.
07– Por que os sogros e a esposa escolheram o rapaz para sacrificar o canário?
      Porque ele, sendo novo na família, ainda não tivera tempo de se apegar ao canário.

08– O que o genro quis dizer com a frase: “Mas eu também tenho coração.”?
      Ele quis dizer que também era sensível e que tinha pena do bichinho.

09 – Por que a família decidiu matar o canário de estimação?
      Porque o médico afirmara que ele estava muito doente, não tinha cura.

10 – Por que o jovem marido considerou o sacrifício do canário como uma obra de misericórdia?
      Porque seria um ato de caridade abreviar o sofrimento do canário.

11 – Como procedeu ele para matar o canário?
      Deu-lhe éter para cheirar e depois torceu-lhe de leve o pescoço.

12 – Transcreva do texto a frase que mostra o estado de espírito do personagem depois que executou o passarinho.
      “E saiu para a rua, pequenino por dentro, angustiado, achando a condição humana uma droga”. 

13 – As expressões sepultar enlutada referem-se normalmente à morte de pessoas. Por que o narrador as empregou referindo-se ao canário?
      O canário era como uma pessoa da família. Todos lhe queriam bem, como a uma criatura humana.

14 – Como você entende a expressão “voltar para dentro de si mesmo”?
      A expressão significa parar para pensar, para meditar.

15 – Na crônica, não aparece o nome do personagem escolhido para matar o canário. Retire do texto as palavras empregadas para se referir a ele.
      As palavras usadas para se referir ao personagem são sacrificador e estrangulador.

16 – Como se explica o fato de o canário estar vivo?
      Na verdade, o canário não tinha morrido. A torcida rápida e leve no pescoço não foi suficiente para matá-lo.

17 – Por que o personagem, no final, também se sentiu ressuscitado?
      O personagem estava desolado com a morte do canário. Ao saber que ele estava vivo, sentiu grande alivio e felicidade.

18 – Na crônica, o canário aparece em duas situações diferentes. Primeiro, ele está muito mal, semimorto. Depois, ele aparece curado, bem vivo. Transcreva as frases que mostrem o canário nessas duas situações.
      1a. – Jazia a um canto, arrepiado, morto-vivo. 
      2a. – Não é que o canário tinha ressuscitado, perdão, reluzia vivinho da silva com uma fome danada?
              

domingo, 18 de fevereiro de 2018

MÚSICA(ATIVIDADES) : PARATODOS - CHICO BUARQUE - COM GABARITO

Música(Atividades): Paratodos

                                              Chico Buarque
O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Meu maestro soberano
Foi Antônio Brasileiro

Foi Antônio Brasileiro
Quem soprou esta toada
Que cobri de redondilhas
Pra seguir minha jornada
E com a vista enevoada
Ver o inferno e maravilhas

Nessas tortuosas trilhas
A viola me redime
Creia, ilustre cavalheiro
Contra fel, moléstia, crime
Use Dorival Caymmi
Vá de Jackson do Pandeiro

Vi cidades, vi dinheiro
Bandoleiros, vi hospícios
Moças feito passarinho
Avoando de edifícios
Fume Ari, cheire Vinícius
Beba Nelson Cavaquinho

Para um coração mesquinho
Contra a solidão agreste
Luiz Gonzaga é tiro certo
Pixinguinha é inconteste
Tome Noel, Cartola, Orestes
Caetano e João Gilberto

Viva Erasmo, Ben, Roberto
Gil e Hermeto, palmas para
Todos os instrumentistas
Salve Edu, Bituca, Nara
Gal, Bethania, Rita, Clara
Evoé, jovens à vista

O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Vou na estrada há muitos anos
Sou um artista brasileiro.

Dorival Caymmi: cantor e compositor baiano.
Enevoada: pouco clara, com dificuldade de enxergar.
Fel: amargo, sentido figurado: palavras de ódio, amargas.
Jackson do Pandeiro: cantor alagoano, compositor de forró e samba, ritmista.
Redimir (redime): livrar de culpa, libertar-se.
Redondilhas: tipo de verso.
Toada: cantiga popular de melodia simples.

Entendendo a canção:
01 – Na letra da canção, o que descobrimos sobre as origens do compositor
      Chico Buarque mostra que tem origem múltipla, resultado de familiares originados de diferentes lugares do Brasil.

02 – O que esse fato deixa evidente sobre a origem dos brasileiros?
      Somos um povo de múltiplas origens, resultado de miscigenação.

03 – Ao citar Antônio Brasileiro, o compositor refere-se a Tom Jobim, de quem lemos um depoimento neste capítulo.
a)   De que forma o compositor se refere a ele?
Chico usa a expressão “Meu maestro soberano”.

b)   O que esse tratamento revela sobre o que o compositor sente por Tom Jobim?
Ao usar esse tratamento percebe-se o respeito e a admiração do compositor por Tom.

04 – Em determinado trecho o eu lírico diz seguir sua jornada.
a)   De que maneira o eu lírico segue sua jornada? Copie o trecho da canção que comprove sua resposta.
O eu lírico segue com a vista turva, conturbada. “E com a vista enevoada”.

b)   No verso seguinte ele confessa o que vê. Que verso é esse?
“Ver o inferno e maravilhas.”

c)   Essa expressão mistura dois elementos opostos. Explique essa oposição.
Quando o eu lírico refere-se a inferno, cita algo ruim. Ao referir-se a maravilhas, cita algo bom.

d)   Conclua: por que o compositor usaria essa oposição ao referir-se ao que vê?
Ele vê coisas ruins e boas, tudo junto.

05 – A quem o eu lírico chama de ilustre cavalheiro?
      Ao ouvinte da canção.

06 – Que conselho é dado pelo eu lírico a quem encontrar pelo caminho “fel, moléstia, crime”?
      O eu lírico aconselha a usar Dorival Caymmi e Jackson do Pandeiro. Os verbos são use e vá.

07 – A linguagem, nesse trecho, está empregada no sentido figurado ou no sentido real? Justifique.
      A linguagem está no modo figurado. O verbo usar é utilizado, em geral, para objetos, não para pessoas.

08 – Levando-se em conta quem é Dorival Caymmi e Jackson do Pandeiro, explique de que maneira é possível atender à recomendação dada.
      A ideia é a de ouvir músicas de Dorival e Jackson para enfrentar situações difíceis. Essas canções serveriam para compensar os momentos ruins.




CONTO: O CASO DO ESPELHO - RICARDO AZEVEDO - COM GABARITO

CONTO: O CASO DO ESPELHO
                Ricardo Azevedo


    Era um homem que não sabia quase nada. Morava longe, numa casinha de sapé esquecida nos cafundós da mata.
    Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente a uma loja e viu um espelho pendurado do lado de fora. O homem abriu a boca. Apertou os olhos. Depois gritou, com o espelho nas mãos:
       --- Mas o que é que o retrato de meu pai está fazendo aqui?
       --- Isso é um espelho --- explicou o dono da loja.
       --- Não sei se é espelho ou se não é, só sei que é o retrato do meu pai.
       Os olhos do homem ficaram molhados.
       --- O senhor... conheceu meu pai? --- perguntou ele ao comerciante.
       O dono da loja sorriu. Explicou de novo. Aquilo era só um espelho comum, desses de vidro e moldura de madeira.
       --- É não! --- respondeu o outro. --- Isso é o retrato do meu pai. É ele sim! Olha o rosto dele. Olha a testa. E o cabelo? E o nariz? E aquele sorriso meio sem jeito?
       O homem quis saber o preço. O comerciante sacudiu os ombros e vendeu o espelho, baratinho.
       Naquele dia, o homem que não sabia quase nada entrou em casa todo contente. Guardou cuidadoso o espelho embrulhado na gaveta da penteadeira.
       A mulher ficou só olhando.
       No outro dia, esperou o marido sair para trabalhar e correu para o quarto. Abrindo a gaveta da penteadeira, desembrulhou o espelho, olhou e deu um passo atrás. Fez o sinal-da-cruz tapando a boca com as mãos. Em seguida, guardou o espelho na gaveta e saiu chorando.
       --- Ah, meu Deus! --- gritava ela desnorteada. --- É o retrato de outra mulher! Meu marido não gosta mais de mim! A outra é linda demais! Que olhos bonitos! Que cabeleira solta! Que pele macia! A diaba é mil vezes mais bonita e mais moça do que eu!
       Quando o homem voltou, no fim do dia, achou a casa toda desarrumada. A mulher, chorando sentada no chão, não tinha feito nem comida.
       --- Que foi isso, mulher?
       --- Ah, seu traidor de uma figa! Quem é aquela jararaca lá no retrato?
       --- Que retrato? --- perguntou o marido, surpreso.
       --- Aquele mesmo que você escondeu na gaveta da penteadeira!
       O homem não estava entendendo nada.
       --- Mas aquilo é o retrato do meu pai!
       Indignada, a mulher colocou as mãos no peito:
       --- Cachorro sem-vergonha, miserável! Pensa que eu não sei a diferença entre um velho lazarento e uma jabiraca safada e horrorosa?
       A discussão fervia feito água na chaleira.
       --- Velho lazarento coisa nenhuma! --- gritou o homem, ofendido.
       A mãe da moça morava perto, escutou a gritaria e veio ver o que estava acontecendo. Encontrou a filha chorando feito criança que se perdeu e não consegue mais voltar para casa.
       --- Que é isso, menina?
       --- Aquele cafajeste arranjou outra!
       --- Ela ficou maluca --- berrou o homem, de cara amarrada.
       --- Ontem eu vi ele escondendo um pacote na gaveta lá do quarto, mãe! Hoje, depois que ele saiu, fui ver o que era. Tá lá! É o retrato de outra mulher!
       A boa senhora resolveu, ela mesma, verificar o tal retrato.
       Entrando no quarto, abriu a gaveta, desembrulhou o pacote e espiou. Arregalou os olhos. Olhou de novo. Soltou uma sonora gargalhada.
       --- Só se for o retrato da bisavó dele! A tal fulana é a coisa mais enrugada, feia, velha, cacarenta, murcha, arruinada, desengonçada, capenga, careca, caduca, torta e desdentada que eu já vi até hoje!
       E completou, feliz, abraçando a filha:
       --- Fica tranquila: a bruaca do retrato já está com os dois pés na cova!

                                    AZEVEDO, Ricardo. O caso do espelho. In:
 Nova Escola, Maio 1999.p. 28-9.

Entendendo o texto:
01 – Na situação inicial do conto, há um homem do campo que vai a cidade. Ao passar diante de uma loja, ele comete um engano. Qual foi o engano cometido?
       O engano foi confundir um espelho com um retrato.

02 – Ao se referir-se à personagem como “um homem que não sabia quase nada” e que “morava longe, numa casinha de sapé esquecida nos cafundós da mata”, o narrador dessa história dá pistas, indícios sobre a personagem antes mesmo de o leitor saber o que vai acontecer. Como seria uma pessoa que vivesse como essa personagem: tivesse as mesmas características e habitasse o mesmo ambiente?
       O aluno deve perceber que “não saber quase nada” pode estar relacionado a uma condição cultural, de ingenuidade ou simplicidade na forma de encarar a realidade.

03 – Por que ao olhar o espelho o “homem que não sabia quase nada” achou que estava vendo o retrato do pai?
       Provavelmente, ele era muito parecido com seu pai. Além disso, é possível que ele nunca tivesse se olhado num espelho.

04 – Por que motivo o “homem que não sabia quase nada” continuou teimando que estava olhando para o retrato de seu pai mesmo com a explicação do dono da loja?
       Ele confiava somente no que via, e o fato de não saber o que era um espelho o levava a pensar que se tratava de um retrato.

05 – Para tentar ajudar na difícil situação, a mãe da moça foi verificar o retrato. Transcreva do texto as características que ela atribuiu à imagem que viu.
       Enrugada, feia, velha, cacarenta, murcha, arruinada, desengonçada, capenga, careca, caduca, torta e desdentada.





CRÔNICA: O JUSTO - ARMANDO NOGUEIRA - COM GABARITO

CRÔNICA: O JUSTO
                      Armando Nogueira

    O treinador reuniu a turma no vestiário e escalou doze: onze e o goleiro. O capitão do time estranhou, avisando que havia gente demais.
        O técnico, porém, sustentou a escalação:
        – Isso é problema do juiz, o teu é jogar e tentar ganhar a partida.
        E lá se foi o time para o campo.
       Cinco minutos de jogo, a torcida começou a gritar, alertando o árbitro: “O Pipira tem doze!” O árbitro interrompeu a partida, contou os times e deu uma bronca no capitão que, por sua vez, passou a bola ao treinador:
         – Fala co’home ali.
        O juiz foi ao técnico e mandou retirar de campo o excedente. Uma confusão tremenda na pista. O técnico chamou o árbitro para uma conversa em particular. Saíram dos dois na direção do centro do campo. A torcida, aos berros, descompunha todo mundo pelo atraso.
        Os dois isolados no grande círculo, o técnico pôs a mão no ombro do juiz e entrou nas explicações:
        – O problema é o seguinte: eu sou um homem de cinquenta anos, estreando na profissão. E sou novo aqui na terra. Acontece que, hoje de manhã, o presidente do clube me deu um bocado de nome, pra pôr no time. Dois são protegidos do delegado, quatro do comandante do destacamento, o goleiro é filho do gerente do banco, o presidente diz que os dois ponta-de-lança em que jogar de qualquer maneira. Eu fui escalando, escalando…
        – É, mas passou da conta – diz o árbitro, inflexível.
        – E eu não sei que passou? Ia ser mais. Por sorte, o sobrinho do prefeito amanheceu com o pé inchado e pediu para não jogar. Senão, entravam treze.
        – Bom, mas para começar o jogo, o senhor tem que tirar um… – diz o juiz.
       – Eu, tirar um? Deus me livre! Tira o senhor. Por mim, o time joga com doze. Se o senhor está dificultando, vai lá o senhor e tira um, escolhe lá um. O mais que posso fazer é colaborar com o senhor. Por exemplo, não tire nem o cinco nem o seis que dá bolo com o chefe de polícia. E o pior é que agora eu já confundi tudo: não sei mais se o oito é gente do comandante do destacamento ou se é o filho do gerente do banco…
        O árbitro encarou o técnico do Pipira, enfiou o apito no bolso e saiu como uma fera:
        – Doze contra onze, comigo, não. Doze contra onze, só se me expulsarem da Liga.
        Parou diante do banco dos reservas do Serrinha F. C.  E   dirigiu-se ao técnico, sentencioso como nunca:
        – Carvalho, bota mais um dos teus homens em campo, Carvalho. Eu tenho horror à injustiça!

NOGUEIRA, Armando. Bola na rede. Rio de Janeiro, José Olympio, 1973.

Entendendo o texto:
Depois de ter lido o texto responda às questões abaixo:
01 – O técnico do Pipira, ao escalar o time, baseou-se:
a.(   ) na capacidade de cada jogador                              
b.(   ) nas características dos adversários
c.(X) nas recomendações de seus superiores               
d.(   ) nas suas próprias convicções.

02 – Quais foram as três primeira providências do juiz ao perceber a manifestação da torcida?
a) Interrompeu a partida.
b) Contou os jogadores.
c) Advertiu o capitão do Pipira.

03 – O técnico do Pipira informou que o time entraria em campo cm dois jogarias a mais. Por que entrou com doze e não com treze?
      Porque o sobrinho do prefeito pediu para não jogar pois estava com o pé inchado.

04 – O técnico negou-se a tirar de campo um dos jogadores. Por que não acatou a ordem do juiz?
      Porque não queria desagradar seus superiores preferindo que o juiz agisse em lugar dele.

05 – O que o autor da narração deste episódio quis mostrar com o fato?
      Mostrar a interferência de autoridades no esporte, principalmente no futebol.

06 – Na frase: “O técnico, porém, sustentou a escalação.”  A palavra em destaque significa:
a. (X) confirmou, ratificou o time             
b. (   ) fez as despesas do time
c. (   ) aguentou o peso, escorou o time    
d. (   ) alimentou, nutriu o time.

07 – Localize as palavras, no texto, que tenham estes significados:
a)   Aquele que treina ou dirige os treinos e escala os jogadores.
Treinador e técnico.
b)   Aquele que tem autoridade e poder para julgar e dar sentenças.
Juiz e árbitro.
c)   Jogadores que podem substituir os titulares no decorrer da partida.
Reservas.
d)   Pessoas que incentivam o time, desejando vitória.
Torcida.