sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

MÚSICA(ATIVIDADES): TENHO SEDE - DOMINGUINHOS/ANASTÁCIA - COM GABARITO

Música(Atividades): Tenho Sede

                                            Dominguinhos/Anastácia

Traga-me um copo d'água, tenho sede
E essa sede pode me matar
Minha garganta pede um pouco d'água
E os meus olhos pedem o teu olhar

A planta pede chuva quando quer brotar
O céu logo escurece quando vai chover
Meu coração só pede o teu amor
Se não me deres posso até morrer.

Entendendo a canção:

01 – Quando se lê o título da canção e o primeiro verso que diz “Traga-me um copo d’água” eles nos remetem a uma possível interpretação. Qual seria o assunto tratado nesta canção se levássemos em conta somente o título e o primeiro verso?
      Relacionando o título e o primeiro verso, entende-se que o eu poético sente sede e pede um copo d’água.

02 – A palavra sede pode ter diferentes significados conforme o contexto em que for utilizada, então podemos dizer que o eu poético tem sede do quê? Por quê?
      O eu poético tem sede de ter seu amor correspondido. Porque senão pode até morrer.

03 – A canção utiliza a linguagem poética, como no trecho: “E os meus olhos pedem teu olhar.” Os olhos neste trecho simbolizam quem ou o quê?
      Os olhos simbolizam o amor do eu poético por sua amada.

04 – Como os olhos podem pedir algo? O olhar tem algum poder como sugere o texto na primeira estrofe? Por quê?
      Numa linguagem poética, figurativa. SIM, pois transmite aquilo que o coração está sentindo. É possível fazer esta leitura do olhar.

05 – A água tem uma importante utilidade para a natureza. Retire um verso da canção que comprova esta afirmação.
      “A planta pede chuva quando quer brotar.”

06 – A partir do trecho: “Tenho sede e essa sede pode me matar”, analise e responda: É possível morrer de sede? nesta canção, qual o sentido de “morrer”?

      Sede por falta de água, pode se morrer sim. Também pode morrer de amor sim, é a síndrome do coração partido, uma tristeza tão profunda pela perca de um amor, que seria capaz de causar a morte. Segundo os cientistas, os sintomas da doença, como dor no peito, falta de circulação sanguínea, dificuldade para respirar e fraqueza são muitos semelhantes aos ataque cardíaco.

TEXTO: QUE PAÍS... RICARDO BOECHAT - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

 Texto: QUE PAÍS…

Dissecando os gastos públicos no Brasil, um economista descobriu barbaridades no Orçamento da União deste ano. Por exemplo:
Considerada a despesa geral da Câmara, cada deputado federal custa ao país, diariamente, R$ 3.700. Ou R$ 1,3 milhão por ano.
Entre os senadores, a loucura é ainda maior, pois o custo individual diário pula para R$ 71.900. E o anual, acreditem, para R$ 26 milhões.
Comparados a outras “rubricas”, os números beiram o delírio. É o caso do que a mesma União despende com a saúde de cada brasileiro – apenas R$ 0,36 por dia.
E, com a educação, humilhantes R$ 0,20.


Ricardo Boechat, JB, 6/11/01.
Entendendo o texto:

01. Considerando o sentido geral do texto, o adjetivo que substitui de forma INADEQUADA os pontos das reticências do título do texto é:
A) autoritário
B) injusto;
C) estranho;
D) desigual;
E) incoerente.

02. O gerúndio da primeira frase pode ter como forma verbal desenvolvida adequada ao texto:
A) embora dissecasse;
B) porque dissecou;
C) enquanto dissecava;
D) já que dissecou;
E) logo que dissecou.

03. O termo ”gastos públicos” se refere exclusivamente a:
A) despesas com a educação pública;
B) pagamentos governamentais;
C) salários da classe política;
D) gastos gerais do Governo;
E) investimentos no setor oficial.

04. A explicação mais plausível para o fato de o economista citado no texto não ter sido identificado é:
A) não ser essa uma informação pertinente;
B) o jornalista não citar suas fontes de informações sigilosas;
C) evitar que o economista sofra represálias;
D) desconhecer o jornalista o nome do informante;
E) não ser o economista uma pessoa de destaque social.

05. O item do texto em que o jornalista NÃO inclui termo que indique sua opinião sobre o conteúdo veiculado pelo texto é:
A) ”…um economista descobriu barbaridades no Orçamento da União…”;
B) ”Entre os senadores, a loucura é ainda maior…” ;
C) ”E com a educação, humilhantes R$ 0,20”;
D) ”…os números beiram o delírio.”;
E) ”…cada deputado federal custa ao país, diariamente, R$3.700.”.

06. O Orçamento da União é um documento que:
A) esconde a verdade da maioria da população;
B) só é consultado nos momentos críticos;
C) mostra a movimentação financeira do Governo;
D) autoriza os gastos governamentais;
E) traz somente informações sobre as casas do Congresso.

07. Os exemplos citados pelo jornalista:
A) atendem a seu interesse jornalístico;
B) indicam dados pouco precisos e irresponsáveis;
C) acobertam problemas do Governo;
D) mostram que os gastos com a classe política são desnecessários;
E) demonstram que o país não dispõe de recursos suficientes para as despesas.

08. ”Considerada a despesa geral da Câmara, cada deputado federal custa ao país, diariamente, R$3.700.”; o cálculo para se chegar ao custo diário de cada deputado federal foi feito do seguinte modo:
A) a despesa geral da Câmara foi dividida pelo número de deputados federais;
B) a despesa com os deputados federais foi dividida igualmente por todos eles;
C) os gastos gerais da Casa foram repartidos por todos os funcionários;
D) os gastos da Câmara com os deputados foram divididos pelo seu número total;
E) as despesas gerais da Câmara foram divididas entre os deputados federais.

09. Na oração “Ou R$ 1,3 milhão por ano.”:
A) o termo milhão deveria ser substituído por milhões;
B) a conjunção ou tem valor de retificação do termo anterior;
C) o signo $ se refere ao dólar americano;
D) o termo milhão concorda com a quantidade da fração;
E) o numeral 1,3 é classificado como multiplicativo.

10. “Comparados a outras ‘rubricas’, os números beiram o delírio.”; o comentário correto sobre o significado dos elementos desse segmento do texto é:
A) o termo rubricas, escrito entre aspas, tem valor irônico;
B) o delírio refere-se aos gastos ínfimos com saúde e educação;
C) as outras rubricas referidas no texto são a educação e a saúde;
D) comparados com a educação, os gastos citados são humilhantes;
E) os números referem-se à grande quantidade de deputados e senadores.



CRÔNICA: SER JOVEM - ARTUR DA TÁVOLA - COM GABARITO


CRÔNICA: SER JOVEM

     Ser jovem é não perder o encanto e o susto de qualquer espera. É, sobretudo, não ficar fixado nos padrões da própria formação. Ser jovem é ter abertura para o novo na mesma medida do respeito ao imutável.
          É acreditar um pouco na imortalidade em vida, é querer a festa, o jogo, a brincadeira, a lua, o impossível, o distante. Ser jovem é ser bêbado de infinitos que terminam logo ali. É só pensar na morte de vez em quando. É não saber de nada e poder tudo.
          Ser jovem é ainda acordar, pelo menos de vez em quando, assobiando uma canção, antes mesmo antes de escovar os dentes. Ser jovem é não dar bola para o síndico mas reconhecer que ele está na sua. É achar graça do riso, ter pena dos tristes e ficar ao lado das crianças.
          Ser jovem é estar sempre aprendendo inglês, é gostar de cor, xarope, gengibirra e pastel de padaria. Ser jovem é não ter azia, é gostar de dormir e crer na mudança; é meter o dedo no bolo e lamber o glacê.
          É cantar fora do tom, mastigar depressa e engolir devagar a fala do avô É gostar de barca da Cantareira, carro velho e roupa sem amargura. É bater papo com a baiana, curtir o ônibus e detestar meia marrom.
          Ser jovem é beber chuvas, ter estranhas, súbitas e inexplicáveis atrações. É temer o testemunho, detestar os solenes, duvidar das palavras. Ser jovem é não acreditar no que está pensando exceto se o pensamento permanecer depois. É saber sorrir e alimentar secretas simpatias pelos crentes que cantam nas praças em semicírculo, Bíblia na mão, sonho no coração.
          É gostar de ler e tentar silêncios quase impossíveis. É acreditar no dia novo como obra de Deus. É ser metafísica sem ter metafísica. É curtir trem, alface fresquinha, cheiro de hortelã. É gostar até de talco. Ser jovem é ter ódio de cachimbo, da bala jujuba, de manipulação, de ser usado.
          Ser jovem é ser capaz de compreender a tia, de entender o reclamo da empregada e apoiar seu atraso. Ser jovem é continuar gostando de deitar na grama. É gostar de beijo, de pele, de olho. Ser jovem é não perder o hábito de se encabular. É ir para ser apresentado (“---Já conhece fulano?”) morrendo de medo.
          Ser jovem é permanecer descobrindo. É querer ir a lua ou conhecer Finlândia, Escócias e praias adivinhadas. É sentir cheiros raríssimos: cheiro de férias, cheiro de mãe chegando em casa em dia de chuva, cheiro de festa, aipim, camisa nova, marcenaria ou toalha lá do clube
          Ser jovem é andar confiante como quem salta, se possível de mãos dadas com o ar. É ter coragem de nascer a cada dia e embrulhar as fossas no celofane do não faz mal. É acreditar em frases, pessoas, mitos, forças, sons, é crer no que não vale a pena mas aí da vida se não fosse isso.
          É descobrir um belo que não conta. É recear as revelações e ir para casa com o gosto de seu silêncio amargo ou agridoce.
          Ser jovem é ter a capacidade do perdão e andar com os olhos cheios de capim cheiroso. É ter tédios passageiros, é amar a vida, é ter uma palavra de compreensão. Ser jovem é lembrar pouco da infância por não precisar fazê-lo para suportar a vida. Ser jovem é ser capaz de anestesias salvadoras.
          Ser jovem é misturar tudo isso com a idade que tenha, trinta, quarenta, cinquenta, sessenta, setenta ou dezenove. É sempre abrir a porta com emoção. É esperar dos outros o que ainda não desistiu de querer. Ser jovem é viver em estado de fundo musical de superprodução da Metro. É abraçar esquinas, mundos, espaços, luzes, flores, livros, discos, cachorros e a menininha com um profundo, aberto e incomensurável abraço feito de festa, cocada preta, dentes brancos e dedos tímidos, todos prontos para os desencontros da vida. Com uma profunda e permanente vontade de SER.

                                      Artur da Távola. 8. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. P. 13-4.
Entendendo o texto:
01 – O texto se propõe a discutir o que é ser jovem.
           a) O jovem de que o texto trata é particularizado, ou seja, é um único jovem, ou representa toda a juventude?
       Representa toda a juventude.

           b) O tema é tratado de modo científico e objetivo ou poético e literário?
       De modo poético e literário.

           c) As características do texto associam-na a que tipo de gênero: texto de opinião, crônica argumentativa ou texto científico?
       É uma crônica argumentativa.

           d) Logo, a finalidade central do texto diz respeito a qual ou quais destes elementos: informar, transmitir conhecimentos científicos, promover reflexões acerca do tema, emocionar, propiciar uma experiência estética?
       Promover reflexões acerca do tema, emocionar e propiciar uma experiência estética.

02 – Com base em visão pessoal e abordando múltiplos aspectos da juventude, o autor do texto tenta definir o que é ser jovem. Considerando a natureza do objeto (o jovem), você acha que seria possível definir de modo único e objetivo o que é ser jovem? Por que?
        Resposta pessoal, ou, discussão em grupo.

03 – Troque ideias com os colegas e dê uma interpretação a estes trechos do texto:
           a) “Ser jovem é ser bêbado de infinitos que terminam logo ali.” (2º parágrafo)
      O jovem vive intensa e apaixonadamente as coisas, como se elas representassem tudo na vida; logo depois, entretanto, elas inexplicavelmente perdem a importância.

           b) “É não saber de nada e poder tudo.” (2º parágrafo).
      Não ter conhecimento aprofundados sobre a maioria dos assuntos não incomoda o jovem, pois ele se sente capaz de fazer qualquer coisa.

           c) “É ser metafísica sem ter metafísica.” (7º parágrafo)
      Como ele é uma pessoa que ainda está em formação, ele vive no dia a dia as questões que envolvem o “quem sou eu”, ou “que sentido tem a vida”, etc. Embora não fique preocupado com isso.

04 – O texto aborda diferentes características do jovem.
           a) Em alguma situação, o jovem é descrito fisicamente? Que aspectos do jovem são enfocados?
      Não. O jovem não descrito fisicamente, são enfocados aspectos comportamentais e psicológicos, mas não físicos.

           b) Identifique a característica do jovem destacada em cada um destes trechos:
       - “Ser jovem é ter abertura para o novo” (1º parágrafo)
      Ter capacidade de mudar e se deixar surpreender.

       - “é querer a festa, o jogo, a brincadeira, a lua, o impossível, o distante” (2º parágrafo)
       Apreciar tanto o prazer do lúdico quanto e de romper barreiras.

       - “É [...] detestar o solene, [...] é ter ódio, [...] de manipulação, de ser usado” (6º e 7º parágrafo)
      Ser simples, ser autêntico, ser livre.

       - “Ser jovem é não perder o hábito de se encabular” (8º parágrafo)
      Ser puro, tímido.

       - “É querer ir à lua ou conhecer Finlândia, Escócias e praias adivinhadas.” (9º parágrafo).
      Ser sonhador.

      - “É ter coragem de nascer a cada dia e embrulhar as fossas no celofane do não faz mal.” (10º parágrafo).
      Ter capacidade de se renovar ou recomeçar, de esquecer o passado e viver o presente.

05 – De acordo com o último parágrafo:
           a) Ser jovem depende de idade? Por que?
      Não, pois, de acordo com o texto, é possível ser jovem em qualquer idade.

           b) Interprete: “Ser jovem é viver em estado de fundo musical de superprodução da Metro”.
      É viver cada momento de modo intenso, como se fosse grandioso, especial, único e cinematográfico.

           c) Ser jovem é “Abraçar esquinas, mundos, espaços [...] com um profundo, aberto e incomensurável abraço feito de festa”. Na sua opinião, como seria esse tipo de abraço?
      O braço representa o desejo de conhecer e vivenciar intensamente cada uma das coisas que há no mundo.

           d) Nessa trajetória do jovem, tudo é fácil e maravilhoso? Justifique sua resposta com um trecho do texto.
      Não, pois há “os desencontros da vida”, que também fazem parte da trajetória do jovem.

06 – Na última frase do texto, lemos: “Com uma profunda e permanente vontade de SER”.
          a) Essa frase pode sintetizar a posição do autor sobre o que é ser jovem? Justifique sua resposta.
      Resposta pessoal. Espera-se que os alunos respondam que sim, pois o que resume a juventude, na visão do autor, é o desejo de viver intensamente tudo o que a vida oferece.

           b)    Por que a palavra SER está escrita com letras maiúsculas?
      Ser pra valer, ser ou viver intensamente.



CRÔNICA: O AMOR POR ENTRE O VERDE - VINÍCIUS DE MORAES - COM GABARITO

CRÔNICA: O AMOR POR ENTRE O VERDE
                      Vinícius de Moraes


   Não é sem frequência que, à tarde, chegando à janela, eu vejo um casalzinho de brotos que vem namorar sobre a pequenina ponte de balaustrada branca que há no parque. Ela é uma menina de uns treze anos, o corpo elástico metido nuns blue jeans e num suéter folgadão, os cabelos puxados para trás num rabinho de cavalo que está sempre a balançar para todos os lados; ele, um garoto de, no máximo, dezesseis, esguio, com pastas de cabelo a lhe tombar sobre a testa e um ar de quem descobriu a fórmula da vida. Uma coisa eu lhes asseguro: eles são lindos, e ficam montados, um em frente ao outro, no corrimão da colunata, os joelhos a se tocarem, os rostos a se buscarem a todo momento para pequenos segredos, pequenos carinhos, pequenos beijos. São, na sua extrema juventude, a coisa mais antiga que há no parque, incluindo velhas árvores que por ali espapaçam sua verde sombra; e as momices e brincadeiras que se fazem dariam para escrever todo um tratado sobre a arqueologia do amor, pois têm uma tal ancestralidade que nunca se há de saber a quantos milênios remontam.
      Eu os observo por um minuto apenas para não perturbar lhes os jogos de mão e misteriosos brinquedos mímicos com que se entretêm, pois suspeito de que sabem de tudo o que se passa à sua volta. Às vezes, para descansar da posição, encaixam-se os pescoços e repousam os rostos um sobre o ombro do outro, como dois cavalinhos carinhosos, e eu vejo então os olhos da menina percorrerem vagarosamente as coisas em torno, numa aceitação dos homens, das coisas e da natureza, enquanto os do rapaz mantêm-se fixos, como a perscrutar desígnios. Depois voltam à posição inicial e se olham nos olhos, e ela afasta com a mão os cabelos de sobre a fronte do namorado, para vê-lo melhor e sente-se que eles se amam e dão suspiros de cortar o coração. De repente o menino parte para uma brutalidade qualquer, torce-lhe o pulso até ela dizer-lhe o que ele quer ouvir, e ela agarra-o pelos cabelos, e termina tudo, quando não há passantes, num longo e meticuloso beijo.
      --- Que será --- pergunto-me eu em vão --- dessas duas crianças que tão cedo começam a praticar os ritos do amor? Prosseguirão se amando, ou de súbito, na sua jovem incontinência, procurarão o contato de outras bocas, de outras mãos, de outros ombros? Quem sabe se amanhã quando eu chegar à janela, não verei um rapazinho moreno em lugar do louro ou uma menina com a cabeleira solta em lugar dessa com os cabelos presos?
      E se prosseguirem se amando --- pergunto-me novamente em vão --- será que um dia se casarão e serão felizes? Quando, satisfeita a sua jovem sexualidade, se olharem nos olhos, será que correrão um para o outro e se darão um grande abraço de ternura? Ou será que se desviarão o olhar, pra pensar cada um consigo mesmo que ele não era exatamente aquilo que ela pensava e ela era menos bonita ou inteligente do que ele a tinha imaginado?
      É um tal milagre encontrar, nesse infinito labirinto de desenganos amorosos, o ser verdadeiramente amado... Esqueço o casalzinho no parque para perder-me por um momento na observação triste, mas fria, desse estranho baile de desencontros, em que frequentemente aquela que devia ser daquele acaba por bailar com outro porque o esperado nunca chega; e este, no entanto, passou por ela sem que ela o soubesse, suas mãos sem querer se tocaram, eles olharam-se nos olhos por um instante e não se reconheceram.
      E é então que esqueço de tudo e vou olhar nos olhos de minha bem-amada como se nunca a tivesse visto antes. É ela, Deus do céu, é ela! Como a encontrei, não sei. Como chegou até aqui, não vi. Mas é ela, eu sei que é ela porque há um rastro de luz quando ela passa; e quando ela me abre os braços eu me crucifico neles banhado em lágrimas de ternura; e sei que mataria friamente quem quer que lhe causasse dano; e gostaria que morrêssemos juntos e fôssemos enterrados de mãos dadas, e nossos olhos indecomponíveis ficassem para sempre abertos, mirando muito além das estrelas.

                          Vinícius de Morais. Para viver um grande amor. 
                                                        José Olympio, 1989. P. 39-41.

Entendendo o texto:
01 – O texto narra uma cena do cotidiano presenciada pelo narrador.
           a) Qual é essa cena?
      Ele vê um casalzinho de adolescentes que sempre vem namorar sobre a pequena ponte de balaustrada branca do parque.

           b) De onde o narrador vê a cena?
      Ele vê a cena a partir de sua janela.

           c) Qual é o tempo de duração da cen vista pelo narrador?
      Alguns minutos.

           d) Que relação há entre o título do texto e a cena vista?
      O amor juvenil, visto e descrito pelo narrador, acontece num parque, em meio ao verde das árvores.

02 – Observe estes trechos do 1º parágrafo:
       - “Os rostos a se buscarem a todo momento para pequenos segredos, pequenos carinhos, pequenos beijos”
       - “São, na sua extrema juventude, a coisa mais antiga que há no parque [...] e as Momices e brincadeiras que se fazem dariam para escrever todo um tratado sobre a arqueologia do amor, pois têm uma tal ancestralidade que nunca há de saber a quantos milênios remotam.”
            a) O que a repetição da palavra pequenos, no primeiro trecho, expressa sobre o relacionamento dos jovens?
       Expressa delicadeza, ternura.

            b) Que figura de linguagem se verifica em “na sua extrema juventude, a coisa mais antiga que há no parque”?
       Antítese.

            c) Se os namorados são jovens, como se pode explicar a afirmação de que suas brincadeiras dariam para escrever um tratado sobre a arqueologia do amor?
     Apesar de os namorados serem muito jovem, as momices e brincadeiras deles se repetem há milhares de anos, já que todo casal jovem apaixonado, independentemente da época, faz as mesmas coisas.

03 – Observe que o 3º parágrafo se inicia por um travessão. Nele e no 4º parágrafo, o narrador faz indagações e reflexões acerca do amor.
            a) Com quem o narrador fala?
       Fala consigo mesmo.

            b) O que ele põe em dúvida?
       Põe em dúvida a continuidade do amor entre os jovens.

            c) Que expressão usada pelo narrador mostra que ele não se sente capaz de dar respostas a suas indagações?
         A expressão em vão.

04 – No penúltimo parágrafo, o narrador esquece o casal e faz uma reflexão sobre as relações amorosas das pessoas em geral: “É um tal milagre encontrar, nesse infinito labirinto de desenganos amorosos, o ser verdadeiramente amado”.
           a) Que metáfora expressa o ponto de vista do narrador sobre os relacionamentos amorosos? Como você interpreta?
      Ele emprega a metáfora “infinito labirinto de desenganos amorosos”. Tentar encontrar o ser amado é como caminhar em um labirinto, pois muitas vezes as pessoas se perdem nessa busca e não alcançam o objetivo.

            b) O que justifica o emprego da palavra milagre nesse contexto?
       Encontrar o ser verdadeiramente amado é um acontecimento extraordinário, incomum, pois os desencontros amorosos são frequentes.

            c) Considerando o texto quanto a tema, tempo e espaço, assim como quanto ao seu caráter reflexivo, conclua: A que gênero ele pertence?
       Ao gênero crônica.

05 – Depois de refletir sobre os relacionamentos amorosos, o narrador volta o olhar para a sua bem-amada “como se nunca a tivesse visto antes” e exclama: “É ela, Deus do céu, é ela”.
            a) Por que o narrador tem a sensação de descoberta ou de redescoberta da mulher amada?
       A observação do casal de namorados e a reflexão sobre o amor fazem com que o narrador tenha uma espécie de revelação, isto é, passe a ver as coisas de modo diferente, mais intenso e profundo. Daí reconhecer que a mulher amada é o milagre em sua vida.

            b) Que palavras ou expressões revelam o desejo do narrador de seu amor seja eterno?
       “Gostaria que morrêssemos juntos e fôssemos enterrados de mãos dadas” / “nossos olhos indecomponíveis ficassem para sempre abertos, mirando muito além das estrelas”.

            c) Interprete a última frase do texto: O que os olhos podem ver “muito além das estrelas”?
       Os olhos podem ver não apenas as aparências, o que está ao alcance dos olhos, mas o interior da pessoa amada, sua essência, o amor, o infinito.




CRÔNICA: A PRIMEIRA PASSEATA DE UM FILHO - LOURENÇO DIAFÉRIA - COM GABARITO

Texto: A PRIMEIRA PASSEATA DE UM FILHO

  O frangote despertou mais cedo que o relógio. Mal lavou o rosto Engoliu o café queimando a língua. Enfiou no bolso uma nota de dez paus, a carteirinha de estudante, e não deu a menor bola para a mochila dos livros e apostilas.
 Não estava com cara de quem ia assistir às aulas de química, português e geografia
          O pai ficou na marcação. Esses filhos de hoje... --- ele pensou, lembrando-se do tempo em que também era filho e cabulava a escola para ver os filmes do cinemundi e os jogos de futebol da Várzea do Glicério.
         --- Que folga é essa? --- perguntou sorrindo.
         O garoto, da turma de Humanas, deu resposta exata:
         --- Vou à passeata.
         --- Homessa! (Mesmo os pais modernos têm interjeições antigas.) Que besteira, menino. É assim que tudo começa. De repente dá uma confusão na praça, um corre-corre, você cai, me quebra a perna, vem um cavalo da polícia, te pisa, te amassa, tua vó vai brigar comigo. Que eu que fui culpado. Você não sabe o estrago que faz um cassetete. Já vi esse filme. É melhor ficar em casa bem quietinho, lendo um livro, jogando um game, a passeata vai passar pela TV. Ou então, se não tiver nada que fazer, coce o saco. Pelo menos, não tem perigo.
          Mas o pai (sujeito vivido) não falou nada. Apenas ficou com o coração aflito. Essas coisas bobas de pai. O que tem que acontecer sempre acontece. Como a primeira vez que saltou do bonde andando e se esborrachou na calçada. Como a primeira vez que tragou um cigarrinho, bituca de Aspásia, e ficou com gosto de cabo de guarda-chuva uma semana na garganta. Como o primeiro gole de cachaça, num domingo, num piquenique no Pico do Jaraguá, e soltou o mico, vomitou até as tripas.
          Mas aquela era a primeira passeata do menino.
          --- Mania que o senhor tem de me chamar de menino!
          A primeira passeata não é uma coisa à toa. Daqui a cem anos, quando ele crescer, for um velhinho de bengala e próstata safada, se lembrará desse dia antigo jamais esquecido. Contará aos filhos e aos netos. Roncará papo, como fazem todos os velhinhos depois dos 30. Mas agora ele não passa de um garoto franzino, camiseta de algodão, nem se agasalha o porcaria do filho, uns tênis fedidos, e metido a querer traçar seu próprio destino. É muita presunção! Até outro dia, a única vez que desfilou com o povo foi atrás da bateria da torcida do Corinthians.
          --- Cuidado, filho. A rua tem perigos.
          Mas o pai nada falou. Apenas seu coração batia. Não se pode aparar as asas de um menino (eterno menino). Deixa-lo ir, embandeirado, unir sua voz desafinada de roqueiro fracassado às vozes da cidade enfeitiçada, a qual sorri, embevecida, ao ver que ainda existe a mocidade.
          No alto da passeata, o sol fulgia.

       Lourenço Diaféria. O imitador de gatos e outras crônicas.
São Paulo: Ática, 2001. P. 33-4.
Entendendo o texto:

01 – O texto narra asa preocupações de um pai ao descobrir que o filho está deixando de ser criança. Na narrativa aparecem as vozes do pai, do filho, do narrador e as reflexões do pai. Identifique de quem é a voz ou o pensamento em cada um dos fragmentos a seguir:
           a) “--- Que folga é essa?”
      Voz do pai.

           b) “--- Vou a passeata.”
      Voz do filho.

           c) “Não estava com cara de quem ia assistir às aulas de química, português e geografia.”
      Voz do narrador.

           d) “--- Homessa! [...] É melhor ficar em casa bem quietinho, lendo um livro, jogando um game, a passeata vai passar na TV.”
      Reflexão do pai.

02 – O pai percebe que o filho não vai à aula, mas lembra que, ele próprio, quando jovem, também cabulava aula.
           a) Com que finalidade o pai faltava à aula?
      Para ir ao cinema ou para assistir a jogos de futebol.

           b) Em relação à finalidade, há diferença entre as faltas do pai à aula quando jovem e aquela falta do filho?
      Sim. O pai faltava para divertir-se, e o filho resolve faltar para participar de uma passeata.

03 – O pai não aceita de imediato a decisão do filho.
           a) Qual era a preocupação do pai?
      De que o filho ferisse.

           b) O que o pai preferia que o filho fizesse?
      Que ele ficasse em casa, lendo ou jogando, vendo a passeata pela TV, ou ocioso.

04 – O pai sabe que há na vida passagens que fazem parte do crescimento do jovem e não podem ser evitadas.
            a) Que frase sintetiza esse pensamento dele?
       O que tem de acontecer sempre acontece.

            b) Que fatos da juventude do pai exemplificam essa ideia?
       Suas experiências com o bonde, com o cigarro, com o álcool.

05 – A reflexão do pai a propósito da ida do filho à passeata é contraditória.
            a) Ele valoriza a participação social da juventude? Justifique sua resposta.
       Sim, ao considerar que a primeira passeata não é uma coisa à toa e que o jovem se lembraria dela por toda a vida.

            b) Ele acha o filho preparado para esse momento?
       Não. Ele acha que o filho ainda é um menino, um “garoto franzino”.

06 – No decorrer do texto, o filho é descrito pela voz do narrador, mas sob a ótica do pai.
            a) Como o filho é caracterizado?
       Franzino, com camiseta de algodão, sem agasalho, usa tênis fedidos, tem voz desafinada.

            b) Na ótica do pai, o filho é presunçoso, porque é “metido a querer traçar seu próprio destino”. Essas características são típicas de um jovem específico ou são genéticas, isto é, se aplicam a todo jovem?
       São genéricas, ou seja, se aplicam aos jovens em geral.

07 – Compare estas frases do texto:
        “Mas o pai [...] não falou nada. Apenas ficou com o coração aflito”.
        “Mas o pai nada falou. Apenas seu coração batia.”
        O que as frases expressam quanto ao estado emocional do pai?
       Expressam preocupação e medo e, ao mesmo tempo, a decisão de não tolher a iniciativa do filho, não dizendo a ele o que pensava e sentia.

08 – O pai refere-se ao filho como “franzino”, “porcaria” Essas palavras correspondem a um desejo do pai de desvalorizar o filho, para fazer com que ele desistisse da passeata, ou disfarçar o orgulho que ele sentia do filho?
        Disfarçar o orgulho que ele sentia do filho.

09 – A ideia expressa pelo termo frangote, utilizado em referência ao jovem no início do texto, é retomada no penúltimo parágrafo. Por meio de que expressão é feita essa retomada?
         As asas de um menino.

10 – No final do texto, algumas imagens poéticas são associadas à participação do rapaz na passeata:
        - “Deixá-lo ir, embandeirado, unir sua voz desafinada de roqueiro fracassado às vozes da cidade enfeitiçada, a qual sorri, embevecida, ao ver que ainda existe a mocidade”.
        - “No alto da passeata, o sol fulgia”.
        a) No contexto, qual sentido tem a palavra mocidade: uma fase da vida humana, um estado de espírito ou um período de irresponsabilidade?
         Um estado de espirito.

b)   As imagens de cidade que sorri embevecida e de sol brilhando sobre a passeata revelam cumplicidade e satisfação ou desgosto por parte do pai e do narrador com a participação do jovem na passeata?
            Revelam cumplicidade e satisfação.