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terça-feira, 22 de outubro de 2019

ROMANCE: MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS - CAP.XVIII - MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA - COM GABARITO

Romance: Memórias de um sargento de milícias        
                  Manuel Antônio de Almeida
      Capítulo XVIII – Fragmento
        [...]
        D. Maria chamou por sua sobrinha, e esta apareceu. Leonardo lançou-lhe os olhos, e a custo conteve o riso. Era a sobrinha de D. Maria já muito desenvolvida, porém que, tendo perdido as graças de menina, ainda não tinha adquirido a beleza de moça: era alta, magra, pálida: andava com o queixo enterrado no peito, trazia as pálpebras sempre baixas, e olhava a furto; tinha os braços finos e compridos; o cabelo, cortado, dava-lhe apenas até o pescoço, e como andava mal penteada e trazia a cabeça sempre baixa, uma grande porção lhe caía sobre a testa e olhos, como uma viseira. Trajava nesse dia um vestido de chita roxa muito comprido, quase sem roda, e de cintura muito curta; tinha ao pescoço um lenço encarnado de Alcobaça.
        Por mais que o compadre a questionasse, apenas murmurou algumas frases ininteligíveis com voz rouca e sumida. Mal a deixaram livre, desapareceu sem olhar para ninguém. Vendo-a ir-se, Leonardo tornou a rir-se interiormente.
        Quando se retiraram, riu-se ele pelo caminho à sua vontade. O padrinho indagou a causa da sua hilaridade; respondeu-lhe que não se podia lembrar da menina sem rir-se.
        — Então lembras-te dela muito a miúdo, porque muito a miúdo te ris.
        Leonardo viu que esta observação era verdadeira.
        Durante alguns dias umas poucas de vezes falou na sobrinha da D. Maria; e apenas o padrinho lhe anunciou que teriam de fazer a visita do costume, sem saber por quê, pulou de contente, e, ao contrário dos outros dias, foi o primeiro a vestir-se e dar-se por pronto.
        Saíram e encaminharam-se para o seu destino.
        [...].
                                   ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. 17. ed. São Paulo, Ática, 1990. p. 5-8.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 232-3.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Alcobaça: Vila portuguesa de onde se importavam estes lenços grandes de algodão, em geral vermelhos.

·        A miúdo (ou a miúde): Frequentemente.

02 – Que elementos do enredo podemos classificar como “nada românticos”?
      O encontro dos pais de Leonardo, a rejeição paterna, o caráter de Leonardo, etc.

03 – Com relação à classe social, o que se observa ao compararmos as personagens de Manuel Antônio de Almeida com as personagens dos romances românticos?
      As personagens são gente do povo, não pertencem à burguesia.

04 – Que verdade estaria implícita na observação do padrinho de Leonardo?
      O padrinho sugere que Leonardo estaria interessado na sobrinha de D. Maria, já que não a tirava da cabeça.

05 – Por que Leonardo não pode ser caracterizado como um jovem cavalheiro romântico?
      Porque Leonardo rir-se incontidamente do jeito aparentemente tímido e interiorano da menina.



domingo, 20 de outubro de 2019

ROMANCE: O GUARANI - FRAGMENTO - JOSÉ DE ALENCAR - COM GABARITO

Romance: O Guarani – Fragmento
            VII PELEJA – Jose de Alencar

       Quando a família de D. Antônio de Mariz gozava dos primeiros momentos de tranquilidade que sucediam a tantas aflições, soou um grito na escada de pedra.
        Cecília levantou-se estremecendo de alegria e felicidade; tinha reconhecido a voz de Peri.
        No momento em que ia correr ao encontro do seu amigo, mestre Nunes já tinha abaixado uma prancha que servia de ponte levadiça, e Peri chegava à porta da sala. D. Antônio de Mariz, sua mulher e sua filha ficaram mudos de espanto e terror; Isabel caiu fulminada, como se a vida lhe faltasse de repente.
        Peri trazia nos seus ombros o corpo inanimado de Álvaro; e no rosto uma expressão de tristeza profunda. Atravessando a sala, depôs sobre o sofá o seu fardo precioso, e olhando o rosto lívido daquele que fora seu amigo, enxugou uma lágrima que lhe corria pela face. Nenhuma das pessoas presentes se animava a quebrar o silêncio solene que envolvia aquela cena lúgubre; os aventureiros que haviam acompanhado Peri quando passara no meio deles correndo, pararam na porta, tomados de compaixão e respeito por aquela desgraça. Cecília nem pôde gozar da alegria de ver Peri salvo; seus olhos, apesar dos sofrimentos passados, ainda tinham lágrimas para chorar essa vida nobre e leal que a morte acabava de ceifar. Quanto a D. Antônio de Mariz, sua dor era de um pai que havia perdido um filho; era a dor muda e concentrada que abala as organizações fortes, sem contudo abatê-las.
        Depois dessa primeira comoção produzida pela chegada de Peri, o fidalgo interrogou o índio e ouviu de sua boca a narração breve dos acontecimentos, cuja peripécia tinha diante dos olhos.
        Eis o que havia passado. Partindo na véspera, no momento em que começava a sentir os primeiros efeitos do veneno terrível que tomara, Peri ia cumprir a promessa que tinha feito a Cecília. Ia procurar a vida em um contraveneno infalível, cuja existência só era conhecida pelos velhos pajés da tribo, e pelas mulheres que os auxiliavam nas suas preparações medicinais. Sua mãe, quando ele partira para a primeira guerra, lhe tinha revelado esse segredo que devia salvá-lo de uma morte certa no caso de ser ferido por alguma seta ervada. Vendo o desespero de sua senhora, o índio sentiu-se com forças de resistir ao torpor do envenenamento que começava a ganhar-lhe o corpo, e ir ao fundo da floresta e procurar essa erva poderosa que devia restituir-lhe a saúde, o vigor e a existência. Contudo, quando atravessava a mata parecia-lhe às vezes que já era tarde, que não chegaria a tempo: então tinha medo de morrer longe de sua senhora, sem poder volver para ela o seu último olhar. Arrependia-se quase de ter partido de casa e não deixar-se ficar aos pés de Cecília até exalar o seu último suspiro; mas lembrava-se que a menina o esperava, lembrava-se que ela ainda precisava de sua vida e criava novas forças. Peri entranhou-se no mais basto e sombrio da floresta, e aí, na sombra e no silêncio passou-se entre ele e a natureza uma cena da vida selvagem, dessa vida primitiva, cuja imagem nos chegou tão incompleta e desfigurada. O dia declinou: veio a tarde, depois a noite, e sob essa abóbada espessa em que Peri dormia como em um santuário, nem um rumor revelara o que ai se passou. Quando o primeiro reflexo do dia purpureou o horizonte, as folhas se abriram, e Peri exausto de forças, vacilante, emagrecido como se acabasse de uma longa enfermidade. Saiu do seu retiro. Mal se podia suster, e para caminhar era obrigado a sustentar-se aos galhos das árvores que encontrava na sua passagem: assim adiantou-se pela floresta, e colheu alguns frutos, que lhe restabeleceram um tanto as forças. Chegando à beira do rio, Peri já sentiu o vigor que voltava, e o calor que começava a animar-lhe o corpo entorpecido; atirou-se à água e mergulhou. Quando voltou à margem, era outro homem; uma reação se havia operado; seus membros tinham adquirido a elasticidade natural; o sangue girava livremente nas veias. Então tratou de recuperar as forças que havia perdido, e tudo quanto a floresta lhe oferecia de saboroso e nutriente serviu a este banquete da vida, em que o selvagem festejava a sua vitória sobre a morte e o veneno. O sol tinha raiado havia horas; Peri, acabada a sua refeição, caminhava pensativo, quando ouviu uma descarga de armas de fogo, cujo estrondo reboou pelo âmbito da floresta. Lançou-se na direção dos tiros, e a pouca distância, num claro da mata, descobriu um espetáculo grandioso. Álvaro e os seus nove companheiros divididos em duas colunas de cinco homens, com as costas apoiadas às costas uns dos outros, estavam cercados por mais de cem Aimorés que se precipitavam sobre eles com um furor selvagem. Mas as ondas dessa torrente de bárbaros que soltavam bramidos espantosos, iam quebrar-se contra essa pequena coluna, que não parecia de homens, mas de aço; as espadas jogavam com tanta velocidade que a tornavam impenetrável; no raio de uma braça o inimigo que se adiantava caia morto.
        Havia uma hora que durava esse combate, começado com armas de fogo; mas os Aimorés atacavam com tanta fúria, que breve tinham chegado a luta corpo a corpo e à arma branca.
        No momento em que Peri assomava à margem da clareira, um incidente veio modificar a face do combate.
        O aventureiro que dava as costas a Álvaro, levado pelo ardor da peleja, adiantou-se alguns passos para ferir um inimigo; os selvagens o envolveram, deixando a coluna interrompida e Álvaro sem defesa. Entretanto o valente cavalheiro continuava a fazer prodígios de valor e de coragem; cada volta que descrevia sua espada era um inimigo de menos, uma vida que se extinguia a seus pés num rio de sangue. Os selvagens redobravam de furor contra ele, e cada vez o seu braço ágil movia-se com mais segurança e mais certeza, fazendo jogar como um raio a lamina de aço que mal se via brilhar nas suas rápidas evoluções.
        Desde porém que os Aimorés viram o moço sem defesa pelas costas, e exposto aos seus golpes, concentraram-se nesse ponto; um deles adiantando-se, ergueu com as duas mãos a pesada tangapema e atirou-a ao alto da cabeça de Álvaro.
        O moço caiu; mas na sua queda a espada descreveu ainda um semicírculo e abateu o inimigo que o tinha ferido à traição; a dor violenta dera a esse último golpe uma força sobrenatural.
        Quando os índios iam precipitar-se sobre o cavalheiro, Peri saltou no meio deles, e agarrando a espingarda que estava a seus pés, fez dela uma arma terrível uma clava formidável, cujo poder em breve sentiram os Aimorés. Apenas se viu livre do turbilhão dos inimigos, o índio tomou Álvaro nos seus ombros, e abrindo caminho com a sua arma temível, lançou-se pela floresta e desapareceu.
        Alguns o seguiram; mas Peri voltou-se e fê-los arrepender-se de sua ousadia; livrando-se do peso que levava, carregou a espingarda com as munições que Álvaro trazia e mandou uma bala àquele que o perseguia mais de perto; os outros, que já o conheciam pelo combate da véspera, retrocederam.
        A ideia de Peri era salvar Álvaro, não só pela amizade que lhe tinha, como por causa de Cecília, que ele supunha amar o cavalheiro; vendo porém que o corpo continuava inanimado, acreditou que Álvaro estava morto.
        Apesar disto não desistiu do seu propósito; morto ou vivo devia levá-lo àqueles que o amavam, ou para o restituírem à vida, ou para derramarem sobre o seu corpo o pranto da despedida.

      ALENCAR, José de. “O Guarani”. 11. ed. São Paulo, Ática, 1984. p. 191-3.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p.224-5.

Entendendo o texto:
01 – De acordo com o texto, o que significa a palavra tangapema?
      É o nome da arma tacape.

02 – Que característica da casa de D. Antônio de Mariz nos lembra um castelo medieval?
      O fato de ter uma ponte levadiça.

03 – Como pode ser caracterizado o sentimento de Peri em relação à morte de Álvaro? Justifique sua resposta com duas citações do texto.
      O sentimento de Peri era de tristeza profunda, conforme as passagens: “no rosto uma expressão de tristeza profunda” e “enxugou uma lágrima”.

04 – O que pretendeu o narrador ao demonstrar ao leitor o caráter extremamente humano e sentimental de Peri?
     Em princípio, pode-se afirmar que o narrador procurou demonstrar que não havia diferenças marcantes entre os sentimentos dos chamados civilizados e os sentimentos dos selvagens, igualando Peri aos fidalgos.

05 – Apesar de se inscrever na temática indianista, o narrador focaliza personagens do início da nossa colonização. Que caráter isso dá ao texto?
      Um caráter histórico.

ROMANCE: O PRIMEIRO BEIJO - FRAGMENTO - MACHADO DE ASSIS- COM GABARITO

Romance: O primeiro beijo – Fragmento
              
 Machado de Assis
        [...]

        Tinha dezessete anos; pungia-me um buçozinho que eu forcejava por trazer a bigode. Os olhos, vivos e resolutos, eram a minha feição verdadeiramente máscula. Como ostentasse certa arrogância, não se distinguia bem se era uma criança com fumos de homem, se um homem com ares de menino. Ao cabo, era um lindo garção, lindo e audaz, que entrava na vida de botas e esporas, chicote na mão e sangue nas veias, cavalgando um corcel nervoso, rijo, veloz, como o corcel das antigas baladas, que o romantismo foi buscar ao castelo medieval, para dar com eles nas ruas do nosso século. O pior é que o estafaram a tal ponto, que foi preciso deitá-lo à margem, onde o realismo o veio achar, comido de lazeira e vermes, e, por compaixão, o transportou para os seus livros.
        Sim, eu era esse garção bonito, airoso, abastado; e facilmente se imagina que mais de uma dama inclinou diante de mim a fronte pensativa, ou levantou para mim os olhos cobiçosos. De todas porém a que me cativou logo foi uma... uma... não sei se diga; este livro é casto, ao menos na intenção; na intenção é castíssimo. Mas vá lá; ou se há de dizer tudo ou nada. A que me cativou foi uma dama espanhola, Marcela, a «linda Marcela», como lhe chamavam os rapazes do tempo. E tinham razão os rapazes. Era filha de um hortelão das Astúrias; disse-mo ela mesma, num dia de sinceridade, porque a opinião aceita é que nascera de um letrado de Madri, vítima da invasão francesa, ferido, encarcerado, espingardeado, quando ela tinha apenas doze anos. Cosas de España. Quem quer que fosse, porém, o pai, letrado ou hortelão, a verdade é que Marcela não possuía a inocência rústica, e mal chegava a entender a moral do código. Era boa moça, lépida, sem escrúpulos, um pouco tolhida pela austeridade do tempo, que lhe não permitia arrastar pelas ruas os seus estouvamentos e berlindas; luxuosa, impaciente, amiga de dinheiro e de rapazes.
        [...].
                                           ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas.
18. ed. São Paulo, Ática, 1992. p. 39-0.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 238-9.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Garção: Rapaz.

·        Estafar: Cansar, fatigar.

·        Lazeira: Lepra.

·        Airoso: Esbelto, elegante.

·        Hortelão: Que trata de horta.

·        Rústica: Simples, campestre.

·        Lépida: Alegre, ágil.

·        Estouvamento: Imprudência, leviandade.

·        Berlinda: Pequeno coche de quatro rodas, suspenso entre dois varais.

02 – Por que se pode afirmar que a visão que o narrador tem da sua personalidade ais dezessete anos não é idealizada?
      Porque o narrador reconhece os seus defeitos de vaidoso e arrogante.

03 – Que observações o narrador faz sobre o romantismo?
      O narrador refere-se ao romantismo como algo desgastado.

04 – “De todas porém a que me cativou logo foi uma... uma... não sei se diga; este livro é casto, ao menos na intenção; na intenção é castíssimo. Mas vá lá; ou se há de dizer tudo ou nada.” Este período faz-nos esperar que tipo de descrição da personagem Marcela? Por quê?
      Uma descrição realista, porque o narrador deixa explícito que o que vai contar não tem nada de casto e que haverá de dizer tudo.

05 – Quais os traços marcantes da personalidade de Marcela?
      Mentia, era maliciosa, desconhecia a moralidade, era inescrupulosa, libertina, interessada em dinheiro e em rapazes.


quarta-feira, 11 de setembro de 2019

TEXTO LITERÁRIO: SEBO -(FRAGMENTO) - TELMA G.C. ANDRADE - COM GABARITO

Texto Literário: Sebo(Fragmento)
                               Telma Andrade

   — Moça, eu nunca pisei aqui. Preciso comprar um livro...
    -- Qual? – ela perguntou. – Mistério, suspense, romance, ficção, livro didático, paradidático, ocultismo, religioso, de psicanálise, psicologia, médico, língua estrangeira, tradução, periódico, revista, tese, enciclopédia...
        Ela estava querendo me gozar. Pra falar a verdade, tinha um livro certo pra comprar sim... Mas não sei por que, me ouvi falando:
        — Quero olhar, escolher, ver o que gosto mais... Mas começar por onde? Lado direito, esquerdo, subo a escada em caracol? Preciso de “instruções” de trânsito aqui dentro. Tem muito livro aqui...
        — Esperava o quê? Múmias?
Perdi a paciência.
        — Moça, eu quero saber onde posso achar um livro-lindo-maravilhoso-espetacular romântico para eu dar de presente...
        — Ah, para a namoradinha que só lê Revista Desejo... Já sei o tipo: frases doces, propostas delicadas, abraços, beijos, mais abraços, mais beijos, final feliz. Andar de cima, prateleira 15-A.
        Os preços que ficam na ponta da prateleira são indicados por letras, que ficam na contracapa do livro. Edições filetadas a ouro têm um outro preço...
        Ia dizer pra ela que... Mas achei melhor não falar nada. Dei-lhe as costas e subi a escada.

ANDRADE, Telma G.C. Mistério no sebo de livros.
São Paulo: Atual, 1995.p. 2.
                                                Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p.58-9.
Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo;
·        Sebo: Livraria onde se vendem livros usados.

·        Ficção: Romance, novela ou conto.

·        Periódico: Publicação que aparece com intervalos regulares.

·        Filetar: Estampar (capas ou lombadas de livros) com o filete de dourar.

02 – O que levou o personagem a ir a um espaço onde se vendem livros usados?
A) O fato de nunca ter estado num sebo.
B) O intuito de comprar um presente.
C) A curiosidade em visitar um espaço novo.
D) A intenção de levar algo para a amada.


03 – No trecho “... Moça, eu nunca pisei aqui. Preciso comprar um livro...”, a pontuação que finaliza o período sugere que o cliente sentiu-se:
A) empolgado.
B) explorado.
C) intimidado.
D) maravilhado.

04 – Por que se pode afirmar que a moça não dominava as chamadas “técnicas de vendas”?
      Pelo tratamento antipático dado ao cliente.

05 – Os livros costumam ser arrumados nas estantes por assunto. Em que andar da livraria estavam arrumados os livros de ficção?
      No segundo andar.

06 – Em sua primeira fala, a moça mistura tipos de textos com tipos de publicações. Exemplifique.
      Mistério, suspense, romance (tipos de textos) e periódico, revista (tipos de publicações).

07 – Indique três tipos de livros citados pela moça que podem ser relacionados entre os do gênero didático.
      Livros de psicanálise, de psicologia, de medicina, de língua estrangeira.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

ROMANCE: VIAGENS DE GULLIVER - JONATHAN SWIFT - COM QUESTÕES GABARITADAS

Romance: Viagens de Gulliver
     
    Viagem a Lilliput – Após a tempestade, um reino em miniatura

        A tempestade começou de repente. Ondas de mais de 30 metros envolviam o navio e o jogavam de um lado para outro, como se fosse de brinquedo. Rajadas de vento logo destruíram as velas. 
       Eu era o médico de bordo e fiquei esperando o pior.
        -- Recifes a estibordo!
        O grito desesperado do marinheiro que estava na gávea soou quase ao mesmo tempo que o barulho do choque do majestoso veleiro Antílope, no qual viajávamos, com a pedras. Foi uma confusão dos diabos. Tripulantes correndo em todas as direções, gente gritando, outros jogando-se no mar, cada um tentando salvar a própria pele.
        Estava quase paralisado pelo medo, as mãos grudadas na amurada do convés, quando fui cuspido para fora do navio, que já se inclinava perigosamente. Senti meu corpo envolto na água gelada do mar e no momento em que dei por mim – confesso que não me lembro como consegui – estava num pequeno bote com outros cinco marinheiros, todos remando com fúria para nos afastarmos o máximo possível do Antílope, que começava a afundar. Sabíamos que, se ficássemos por perto, seríamos tragados pelo oceano por causa do redemoinho que sempre se forma em torno de uma embarcação quando está submergindo.
        O esforço valeu, mas foi sobre-humano. Exaustos, largamos um pouco os remos e deixamo-nos levar pelas ondas, apesar do perigo ainda presenta. Foi só o tempo de curvar um pouco o corpo para a frente, a fim de aliviar a tensão nas costas... De repente, uma onda traiçoeira, surgida da escuridão, jogou o bote longe, despejando-nos outra vez na água.
        Ao voltar à tona, apavorado, tentei enxergar algum companheiro do bote. Sentindo que ia afundar, a água entrando em minha boca, gritei por eles como pude, uma, duas, sei lá quantas vezes. A única resposta foi o estrondo das ondas e o zunir do vento. Parecia definitivo: eu estava ali, no meio do oceano, sozinho...
        No entanto, logo reagi. Estava vivo e isto, diante das circunstâncias, já era alguma coisa. Minha preocupação passou a ser só uma: manter-me vivo. Comecei então a nadar às cegas.
        Lutei com as ondas durante horas a fio. De vez em quando, para mexer outros músculos, nadava cachorrinho. Foi assim que, ao esticar uma das pernas, toquei em alguma coisa que parecia o fundo. Seria possível? Não podia acreditar. Estiquei novamente a perna, bem devagarinho, e lá estava, sólido, o fundo do mar. Pude então ficar de pé, com a água batendo no meu queixo. Com o resto das forças, caminhei em direção à praia, onde, exausto, deixei o corpo cair sobre a areia fofa. Estava salvo, pelo menos de morrer afogado. Olhando o céu, ainda com estrelas, a primeira imagem que me apareceu foi a de minha mulher Mary e das crianças.
        Mary havia discordado totalmente desta minha viagem: fez de tudo para que eu desistisse. Lembrou minhas promessas de nunca mais navegar (eu adorava viajar por mar), contou velhas histórias de navios engolidos pelo oceano ou devorados por monstros e disse ainda que eu deveria cumprir minhas obrigações de pai e marido.
        Não adiantou. Minha paixão pela aventura tinha uma força irresistível. Exercia uma atração incontrolável sobre mim e despertava-me uma sensação que eu amava desde a juventude. Logo que me formei em medicina, embarquei como médico de bordo para correr o mundo e os riscos das novas rotas de navegação. Por causa disso tudo, eu embarcara no Antílope, deixando o porto de Bristol, Inglaterra, no dia 4 de maio de 1699.
        Assim, pensando em Mary, nas crianças e em grandes aventuras, adormeci profundamente, longe de imaginar que estava sendo observado por alguns olhinhos escondidos na selva.
        Não sei por quantas horas dormi. Ao acordar, senti o sol nos olhos. Tentei mover a cabeça e não consegui: meus cabelos estavam presos ao chão. Tentei me levantar e não pude: meu corpo estava como que colado na areia. Meu Deus! O que estaria acontecendo? Para piorar a situação, senti algo subindo pela minha perna esquerda. Pensei que fosse algum siri ou caranguejo. Mas aquela coisinha logo alcançou meu peito... Baixei bem os olhos, como se fosse examinar a ponta de meu nariz, e vi uma criaturinha humana de menos de um palmo de altura, observando-me com o mesmo olhar de espanto com que eu a encarava.
        Percebi então que dezenas de outros homenzinhos como aquele corriam pelo meu corpo. Assustado, dei um tremendo berro. Foi como um terremoto para eles. Apavorados, começaram a atirar-se ao chão. Deviam ser centenas, pelo burburinho que produziam.
        Um deles, mais corajoso, gritou:
        -- Hekinah degul!
        Todos começaram a repetir a mesma coisa, cada vez mais alto. Só pensei em sair dali. Concentrei minhas forças no braço esquerdo e consegui libertá-lo. Todo o meu corpo estava amarrado por centenas de linhas a ganchos espetados no chão. Antes que pudesse soltar as outras amarras com a mão esquerda, ouvi um segundo grito uníssono:
        -- Tolgo phonac!
        Era uma ordem de ataque, por que senti centenas de pequenas flechadas em minha mão esquerda e no rosto. Eram como picadas de agulhas. Já irritado, tentei livrar-me delas, mexendo o corpo o quanto podia. Mas recebi uma chuva maior de flechadas e resolvi aquietar-me para pensar melhor no que fazer.
        Enquanto isso, eles construíram rapidamente um minipalanque de meio metro de altura do meu lado esquerdo, próximo à minha cabeça. Alguns deles subiram até lá, e aquele que parecia o chefão do grupo deu um novo grito: então uns 50 homenzinhos cortaram os fios que prendiam minha cabeça, e eu a virei em direção ao palanque.
        Nesse momento, o tal chefe proferiu um longo discurso, do qual não entendi coisa alguma. Pela entonação, imaginei que fazia ameaças. Quando terminou, ficaram todos em silêncio, olhando para mim, como se eu tivesse entendido tudo e devesse responder. Fiz uma cara de bons amigos, de quem não quer briga e, com a mão esquerda, tentei mostrar que estava com fome.
        O chefe entendeu imediatamente, o que foi um alívio. Já haviam mandado preparar a comida: a uma ordem sua, mais de 100 homenzinhos começaram a subir por uma escada, encostada em meu corpo, para trazer os alimentos até minha boca. Eram pernis e lombos assados de carneiro, menores do que asas de passarinho, que eu comia com pãezinhos do tamanho da unha do meu dedo mínimo. Havia também o que beber. Colocaram em minha mão esquerda tonéis de vinho, cada um equivalente a um copo dos nossos. Fui bebendo, um a um, rapidamente.
        Percebi que ficaram surpresos com a quantidade que eu comia e a velocidade com que o fazia, mas notei que estavam completamente à vontade ao me alimentar. Passeavam pelo meu corpo com desenvoltura e eu bem que me senti tentado a pegar uns 30 ou 40 e atirá-los todos no chão. Porém, logo me lembrei das flechadas... Além disso, de alguma maneira, eu tinha firmado um acordo de paz ao ficar submisso e não podia atacar um povo que me dava comida em abundância e com tanta boa vontade.
        Terminada a refeição, todos os homenzinhos que estavam me alimentando desceram pela escada. Logo após, apenas um subiu em mim, pela perna direita. Bem solene, chegou ao meu rosto e mostrou suas credenciais com as armas do reino. Em seguida subiu a comitiva, mais ou menos umas 12 pessoas. Depois, todos desceram e foram novamente para o palanque.
        O homenzinho das credenciais iniciou então novo discurso, só que desta vez acompanhado de muita mímica. Falava várias vezes a palavra Lilliput, que mais tarde eu soube ser o nome do país, e apontava em certa direção: era a capital, para onde o rei havia decidido que eu seria levado. Fiz gestos indicando que eu queria ser desamarrado, mas a autoridade presente foi firme e sacudiu a cabeça negativamente. Fiquei zangado e tentei soltar-me outra vez. Fui atingido então por milhares de flechas, por que agora os meus pequenos inimigos eram muito mais numerosos. Pedi desculpas pelo incidente e demonstrei que concordava com as condições impostas.
        -- Pelom selan – ordenou Sua Excelência.
        Os homenzinhos que estavam no chão começaram a cuidar de mim, passando um unguento para aliviar a dor das flechadas. Ao mesmo tempo foram soltando, aos poucos, as amarras que me prendiam o lado esquerdo do corpo, o que me permitiu, com alívio, mudar de posição. Eu nada podia fazer, mesmo livre pela metade, pois estava com muito sono: os pequenos habitantes daquela terra haviam misturado ao vinho um remédio para dormir.
        Tonto, já quase adormecendo, pude ainda ver chegar perto de mim uma enorme carreta de madeira, sobre rodas.
        [...]
          Jonathan Swift. Viagens de Gulliver. Trad. Cláudia Lopes.
São Paulo: Scipione, 1991. p. 5-10.
Entendendo o romance:
01 – De acordo com o texto qual o significado das palavras abaixo:
·        Recife: formação rochosa, em áreas de pouca profundidade.
·        Estibordo: o lado direito do navio, para quem o vê da popa para a proa.
·        Gávea: plataforma a certa altura dos mastros de um navio.
·        Amurada: lado interno do costado de uma embarcação.
·        Convés: qualquer dos pisos ou pavimentos de um navio.
·        Unguento: tipo de pomada.

02 – O título é sempre um elemento importante em um texto. Após a leitura do título do capítulo apresentado, foi possível prever o que seria narrado? Comente.
      Sim, pois ocorreu uma tempestade e, em seguida, o personagem principal da história conheceu uma ilha com seres muito pequenos, em miniatura, como sugere o título.

03 – No final do texto, o narrador diz que dormiu, pois os homenzinhos haviam misturado um remédio para dormir à bebida oferecida a ele.
a)   Você já conhecia essa história? Comente.
Resposta pessoal do aluno.

b)   Em caso negativo, o que você acha que aconteceu com o médico após ele ter dormido?
Resposta pessoal do aluno.

04 – O texto que você leu é uma narrativa. Identifique qual dos elementos da narrativa permite caracterizá-lo como de aventura.
      O enredo: construído por meio de uma ação envolta de acontecimentos que dão ritmo acelerado e empolgante à narrativa (classifica-se como aventura porque no texto é retratada uma ação arriscada, perigosa, extraordinária); O espaço: mar, ilha distante e desconhecida.

05 – A partir da leitura, é possível descobrir quem narra a história? Em que pessoa do discurso se encontra a narrativa? Explique.
      Sim. A narrativa está em 1ª pessoa, pois quem narra a história é o personagem que vivencia os fatos, no caso, o médico Gulliver.

06 – O narrador constrói a narrativa com poucos diálogos e com uma descrição intensa das cenas e sensações vividas. Comente o efeito que o emprego desse modo de narrar acarreta à narrativa de aventura.
      A narrativa centrada mais nas ações que no diálogo permite ao leitor imaginar os acontecimentos de forma mais próxima da que os personagens viveram.

07 – Nos primeiros parágrafos do texto, o narrador explica como foi iniciada a aventura e descreve uma situação muito perigosa e emocionante. Que situação é essa?
      Uma tempestade em alto-mar.

08 – Ao perceber que estava sozinho, Gulliver ficou apavorado. Em que momento ele se deu conta disso? O que ele fez em seguida?
      Ele percebeu que estava sozinho quando uma onda traiçoeira surgiu na escuridão e jogou o bote longe, fazendo com que seus companheiros sumissem no mar. Em seguida, ele decidiu que ia manter-se vivo e nadou às cegas até encontrar uma praia.

09 – Logo que chegou a praia, o narrador lembrou-se das palavras de sua mulher, que, em vão, tentou impedi-lo de realizar aquela aventura pelo mar.
a)   Por que ela quis impedi-lo?
Porque temia os perigos que ele poderia enfrentar e também porque queria que ele ficasse com ela e com os filhos.

b)   O que o motivava a seguir viagem apesar dos perigos descritos por sua esposa?
Sua paixão pela aventura, que despertava nele uma sensação de prazer muito grande.

10 – Ao acordar na praia após naufragar, o médico encontrou habitantes muito diferentes do que estava acostumado a ver. Tanto Gulliver quanto os homenzinhos ficaram apavorados. O que provocou tanto assombro e espanto?
      A aparência de cada um. Os homenzinhos eram seres muito pequenos e Gulliver um ser “gigante”. Assim, todos ficaram assustados em virtude do diferente, do desconhecido.

11 – O médico não entendia o que os moradores daquela ilha estavam dizendo. No entanto, como ele conseguiu perceber o que aqueles homenzinhos queriam comunicar?
      Por meio da entonação da voz e de alguns gestos que eles faziam.

12 – Quando conheceu os homenzinhos, Gulliver não conseguiu se comunicar de imediato com eles. De que forma Gulliver estabeleceu um acordo de paz com os habitantes da ilha?
      Gulliver demonstrou concordar com as condições impostas.

13 – Releia o trecho seguinte: “Ondas de mais de 30 metros envolviam o navio e o jogavam de um lado para outro, como se fosse de brinquedo”.
a)   A que a palavra em destaque se refere?
A palavra em destaque retoma a palavra navio.

b)   A que classe de palavras a palavra destacada pertence?
Pertence à classe dos pronomes, no caso, pronome pessoal oblíquo.

c)   Que efeito de sentido o uso desse recurso dá ao texto?
Esse recurso elimina a repetição de uma determinada palavra, evitando que ele se torne repetitivo.

14 – Releia o seguinte trecho: “[...] Senti meu corpo envolto na água gelada do mar e no momento em que dei por mim – confesso que não me lembro como consegui – estava num pequeno bote com outros cinco marinheiros, todos remando com fúria para nos afastarmos o máximo possível do Antílope, que começava a afundar.”

a)   De quem é essa fala? Qual é a função dos travessões nesse trecho? Explique.
Essa fala é de Gulliver. O travessão indica o acréscimo de uma informação, um comentário a mais sobre o que está sendo dito.

b)   Que outro sinal gráfico poderia ser usado para desempenhar a mesma função? Encontre no texto um exemplo que justifique sua resposta.
Os parênteses. “Eu adorava viajar por mar”.

15 – Quando percebe que está sozinho, o narrador diz: “Parecia definitivo: eu estava ali, no meio do oceano, sozinho...”.
a)   A que palavra a expressão em destaque se refere?
À palavra definitivo.

b)   Que função sintática essa expressão exerce?
Aposto explicativo.

c)   Identifique outro trecho do texto em que essa mesma estrutura aparece.
“Minha preocupação passou a ser só uma: manter-me vivo”.

16 – Observe as expressões em destaque nos trechos a seguir e escreva o significado com que elas foram empregadas.
a)   Senti meu corpo envolto na água gelada do mar e no momento em que dei por mim [...].
Recuperei a consciência.

b)   O esforço valeu, mas foi sobre-humano.
Fora do comum.

c)   Comecei então a nadar às cegas.
Sem rumo preestabelecido.