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sábado, 13 de agosto de 2022

ROMANCE: CAPITU - OLHOS DE RESSACA - CAP. XXXII - MACHADO DE ASSIS - COM GABARITO

 Romance: Capitu – Olhos de ressaca – Cap. XXXII

    Machado de Assis

        [...]

        Tudo era matéria às curiosidades de Capitu. Caso houve, porém, no qual não sei se aprendeu ou ensinou, ou se fez ambas as coisas, como eu. É o que contarei no outro capítulo. Neste direi somente que, passados alguns dias do ajuste com o agregado, fui ver a minha amiga; eram dez horas da manhã. D. Fortunata, que estava no quintal, nem esperou que eu lhe perguntasse pela filha.

        — Está na sala, penteando o cabelo, disse-me; vá devagarzinho para lhe pregar um susto.

        Fui devagar, mas ou o pé ou o espelho traiu-me. Este pode ser que não fosse; era um espelhinho de pataca (perdoai a barateza), comprado a um mascate italiano, moldura tosca, argolinha de latão, pendente da parede, entre as duas janelas. Se não foi ele, foi o pé. Um ou outro, a verdade é que, apenas entrei na sala, pente, cabelos, toda ela voou pelos ares, e só lhe ouvi esta pergunta:

        — Há alguma coisa?

        — Não há nada, respondi; vim ver você antes que o Padre Cabral chegue para a lição. Como passou a noite?

        — Eu bem. José Dias ainda não falou?

        — Parece que não.

        — Mas então quando fala?

        — Disse-me que hoje ou amanhã pretende tocar no assunto; não vai logo de pancada, falará assim por alto e por longe, um toque. Depois, entrará em matéria. Quer primeiro ver se mamãe tem a resolução feita...

        — Que tem, tem, interrompeu Capitu. E se não fosse preciso alguém para vencer já, e de todo, não se lhe falaria. Eu já nem sei se José Dias poderá influir tanto; acho que fará tudo, se sentir que você realmente não quer ser padre, mas poderá alcançar?... Ele é atendido; se, porém... É um inferno isto! Você teime com ele, Bentinho.

        — Teimo; hoje mesmo ele há de falar.

        — Você jura?

        — Juro! Deixe ver os olhos, Capitu.

        Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra ideia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que...

        Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios. Há de dobrar o gozo aos bem-aventurados do céu conhecer a soma dos tormentos que já terão padecido no inferno os seus inimigos; assim também a quantidade das delícias que terão gozado no céu os seus desafetos aumentará as dores aos condenados do inferno. Este outro suplício escapou ao divino Dante; mas eu não estou aqui para emendar poetas. Estou para contar que, ao cabo de um tempo não marcado, agarrei-me definitivamente aos cabelos de Capitu, mas então com as mãos, e disse-lhe, — para dizer alguma coisa, — que era capaz de os pentear, se quisesse.

        — Você?

        — Eu mesmo.

        — Vai embaraçar-me o cabelo todo, isso sim.

        — Se embaraçar, você desembaraça depois.

        — Vamos ver.

        [...].

ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. In: COUTINHO, Afrânio (Org.). Machado de Assis: obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. v. 1, p. 842-843. Fragmento.

      Fonte: Língua Portuguesa – Se liga na língua – Literatura, Produção de texto, Linguagem – 2 Ensino Médio – 1ª edição – São Paulo, 2016 – Moderna – p. 88-90.

Entendendo o romance:

01 – Com um propósito bastante objetivo, o narrador estabelece uma relação entre a metonímia (“espelhinho de pataca”, “comprado de um mascate italiano”, de “moldura tosca”, “argolinha de latão”, etc.) e a condição social de Capitu e de sua família. Qual é o interesse do narrador em revelar a condição econômica de Capitu?

      Capitu cobra insistentemente de Bentinho uma posição sobre a intervenção de José Dias junto a D. Glória para que o filho deixe o seminário. Logo depois é indicada ao leitor a condição social da moça. Com isso, o narrador talvez tenha querido dizer que Capitu estava interessada em casar-se logo com ele por causa da condição social privilegiada do rapaz.

02 – A agressividade explícita contida na fala de Capitu, reproduzida a seguir, permite-nos inferir duas leituras sobre suas motivações para desejar tanto a saída de Bentinho do seminário.

        “— Que tem, tem, interrompeu Capitu. E se não fosse preciso alguém para vencer já, e de todo, não se lhe falaria. Eu já nem sei se José Dias poderá influir tanto; acho que fará tudo, se sentir que você realmente não quer ser padre, mas poderá alcançar?... Ele é atendido; se, porém... É um inferno isto! Você teime com ele, Bentinho.”

a)   Qual seria a primeira leitura (a favor de Capitu)?

A primeira leitura – mais romântica – estaria ligada ao profundo amor que Capitu nutre por Bentinho, o que justificaria seu aborrecimento com ele, com José Dias e com D. Glória.

b)   Qual seria a segunda leitura (contra ela)?

A segunda leitura estaria ligada aos interesses de ascensão social de Capitu. Nesse ponto de vista, não se casar com Bentinho – pelo fato de ele ser obrigado a ser padre – representaria permanecer naquela situação financeira modesta, cuja metonímia do espelho denuncia e reforça.

c)   Explique de que maneira essas duas possibilidades de leitura reforçam a ambiguidade de Capitu.

Capitu – filtrada pelos olhos de Bentinho – Dom Casmurro – poderia ser vista tanto como uma mulher ingênua, motivada unicamente pelo amor, quanto como uma mulher manipuladora, motivada por interesses financeiros.

03 – Por que Bentinho se lembra de observar os olhos de Capitu depois de ela pedir a ele que jure que José Dias vai tentar convencer D. Glória?

      Porque, de alguma forma, Bentinho – ainda que adolescente e ingênuo – desconfia de que está sendo manipulado, o que confirmaria a definição de José Dias para os olhos de Capitu: “[...] de cigana oblíqua e dissimulada”.

04 – Uma das metáforas mais conhecidas da literatura brasileira, ligadas à caracterização dos olhos de uma mulher, está no capítulo que você acabou de ler.

a)   Que comparação o narrador faz para construir sua metáfora?

O narrador compara os olhos de Capitu à ressaca do mar.

b)   Explique a metáfora utilizada por Betinho ao falar dos olhos de Capitu.

Bentinho defende que, assim como as ondas do mar quando recuam da praia em dias de ressaca, os olhos de Capitu possuíam uma força misteriosa que poderia arrastar o observador “para dentro” deles e, eventualmente, afoga-lo.

 

domingo, 15 de maio de 2022

CONTO: CANTIGA DE ESPONSAIS - MACHADO DE ASSIS - COM GABARITO

 Conto: CANTIGA DE ESPONSAIS

          Machado de Assis                      

        Imagine a leitora que está em 1813, na igreja do Carmo, ouvindo uma daquelas boas festas antigas, que eram todo o recreio público e toda a arte musical. Sabem o que é uma missa cantada; podem imaginar o que seria uma missa cantada daqueles anos remotos. Não lhe chamo a atenção para os padres e os sacristães, nem para o sermão, nem para os olhos das moças cariocas, que já eram bonitos nesse tempo, nem para as mantilhas das senhoras graves, os calções, as cabeleiras, as sanefas, as luzes, os incensos, nada. Não falo sequer da orquestra, que é excelente; limito-me a mostrar-lhes uma cabeça branca, a cabeça desse velho que rege a orquestra, com alma e devoção.

        Chama-se Romão Pires; terá sessenta anos, não menos, nasceu no Valongo, ou por esses lados. É bom músico e bom homem; todos os músicos gostam dele. Mestre Romão é o nome familiar; e dizer familiar e público era a mesma coisa em tal matéria e naquele tempo. "Quem rege a missa é mestre Romão" — equivalia a esta outra forma de anúncio, anos depois: "Entra em cena o ator João Caetano"; — ou então: "O ator Martinho cantará uma de suas melhores árias." Era o tempero certo, o chamariz delicado e popular. Mestre Romão rege a festa! Quem não conhecia mestre Romão, com o seu ar circunspecto, olhos no chão, riso triste, e passo demorado? Tudo isso desaparecia à frente da orquestra; então a vida derramava-se por todo o corpo e todos os gestos do mestre; o olhar acendia-se, o riso iluminava-se: era outro. Não que a missa fosse dele; esta, por exemplo, que ele rege agora no Carmo é de José Maurício; mas ele rege-a com o mesmo amor que empregaria, se a missa fosse sua.

        Acabou a festa; é como se acabasse um clarão intenso, e deixasse o rosto apenas alumiado da luz ordinária. Ei-lo que desce do coro, apoiado na bengala; vai à sacristia beijar a mão aos padres e aceita um lugar à mesa do jantar. Tudo isso indiferente e calado. Jantou, saiu, caminhou para a rua da Mãe dos Homens, onde reside, com um preto velho, pai José, que é a sua verdadeira mãe, e que neste momento conversa com uma vizinha.

        — Mestre Romão lá vem, pai José, disse a vizinha.

        — Eh! eh! adeus, sinhá, até logo.

        Pai José deu um salto, entrou em casa, e esperou o senhor, que daí a pouco entrava com o mesmo ar do costume. A casa não era rica naturalmente; nem alegre. Não tinha o menor vestígio de mulher, velha ou moça, nem passarinhos que cantassem, nem flores, nem cores vivas ou jucundas. Casa sombria e nua. O mais alegre era um cravo, onde o mestre Romão tocava algumas vezes, estudando. Sobre uma cadeira, ao pé, alguns papéis de música; nenhuma dele...

        Ah! se mestre Romão pudesse seria um grande compositor. Parece que há duas sortes de vocação, as que têm língua e as que a não têm. As primeiras realizam-se; as últimas representam uma luta constante e estéril entre o impulso interior e a ausência de um modo de comunicação com os homens. Romão era destas. Tinha a vocação íntima da música; trazia dentro de si muitas óperas e missas, um mundo de harmonias novas e originais, que não alcançava exprimir e pôr no papel. Esta era a causa única da tristeza de mestre Romão. Naturalmente o vulgo não atinava com ela; uns diziam isto, outros aquilo: doença, falta de dinheiro, algum desgosto antigo; mas a verdade é esta: — a causa da melancolia de mestre Romão era não poder compor, não possuir o meio de traduzir o que sentia. Não é que não rabiscasse muito papel e não interrogasse o cravo, durante horas; mas tudo lhe saía informe, sem ideia nem harmonia. Nos últimos tempos tinha até vergonha da vizinhança, e não tentava mais nada.

        E, entretanto, se pudesse, acabaria ao menos uma certa peça, um canto esponsalício, começado três dias depois de casado, em 1779. A mulher, que tinha então vinte e um anos, e morreu com vinte e três, não era muito bonita, nem pouco, mas extremamente simpática, e amava-o tanto como ele a ela. Três dias depois de casado, mestre Romão sentiu em si alguma coisa parecida com inspiração. Ideou então o canto esponsalício, e quis compô-lo; mas a inspiração não pôde sair. Como um pássaro que acaba de ser preso, e forceja por transpor as paredes da gaiola, abaixo, acima, impaciente, aterrado, assim batia a inspiração do nosso músico, encerrada nele sem poder sair, sem achar uma porta, nada. Algumas notas chegaram a ligar-se; ele escreveu-as; obra de uma folha de papel, não mais. Teimou no dia seguinte, dez dias depois, vinte vezes durante o tempo de casado. Quando a mulher morreu, ele releu essas primeiras notas conjugais, e ficou ainda mais triste, por não ter podido fixar no papel a sensação de felicidade extinta.

        — Pai José, disse ele ao entrar, sinto-me hoje adoentado.

        — Sinhô comeu alguma coisa que fez mal...

        — Não; já de manhã não estava bom. Vai à botica...

        O boticário mandou alguma coisa, que ele tomou à noite; no dia seguinte mestre Romão não se sentia melhor. É preciso dizer que ele padecia do coração: — moléstia grave e crônica. Pai José ficou aterrado, quando viu que o incômodo não cedera ao remédio, nem ao repouso, e quis chamar o médico.

        — Para quê? disse o mestre. Isto passa.

        O dia não acabou pior; e a noite suportou-a ele bem, não assim o preto, que mal pôde dormir duas horas. A vizinhança, apenas soube do incômodo, não quis outro motivo de palestra; os que entretinham relações com o mestre foram visitá-lo. E diziam-lhe que não era nada, que eram macacoas do tempo; um acrescentava graciosamente que era manhã, para fugir aos capotes que o boticário lhe dava no gamão, — outro que eram amores. Mestre Romão sorria, mas consigo mesmo dizia que era o final.

        — Está acabado, pensava ele.

        Um dia de manhã, cinco depois da festa, o médico achou-o realmente mal; e foi isso o que ele lhe viu na fisionomia por trás das palavras enganadoras:

        — Isto não é nada; é preciso não pensar em músicas...

        Em músicas! justamente esta palavra do médico deu ao mestre um pensamento. Logo que ficou só, com o escravo, abriu a gaveta onde guardava desde 1779 o canto esponsalício começado. Releu essas notas arrancadas a custo e não concluídas. E então teve uma ideia singular: — rematar a obra agora, fosse como fosse; qualquer coisa servia, uma vez que deixasse um pouco de alma na terra.

        — Quem sabe? Em 1880, talvez se toque isto, e se conte que um mestre Romão...

        O princípio do canto rematava em um certo lá; este lá, que lhe caía bem no lugar, era a nota derradeiramente escrita. Mestre Romão ordenou que lhe levassem o cravo para a sala do fundo, que dava para o quintal: era-lhe preciso ar. Pela janela viu na janela dos fundos de outra casa dois casadinhos de oito dias, debruçados, com os braços por cima dos ombros, e duas mãos presas. Mestre Romão sorriu com tristeza.

        — Aqueles chegam – disse ele –, eu saio. Comporei ao menos este canto que eles poderão tocar...

        Sentou-se ao cravo; reproduziu as notas e chegou ao lá....

        — Lá, lá, lá...

        Nada, não passava adiante. E contudo, ele sabia música como gente.

        — Lá, dó... lá, mi... lá, si, dó, ré... ré... ré...

        Impossível! nenhuma inspiração. Não exigia uma peça profundamente original, mas enfim alguma coisa, que não fosse de outro e se ligasse ao pensamento começado. Voltava ao princípio, repetia as notas, buscava reaver um retalho da sensação extinta, lembrava-se da mulher, dos primeiros tempos. Para completar a ilusão, deitava os olhos pela janela para o lado dos casadinhos. Estes continuavam ali, com as mãos presas e os braços passados nos ombros um do outro; a diferença é que se miravam agora, em vez de olhar para baixo. Mestre Romão, ofegante da moléstia e de impaciência, tornava ao cravo; mas a vista do casal não lhe suprira a inspiração, e as notas seguintes não soavam.

        — Lá... lá... lá...

        Desesperado, deixou o cravo, pegou do papel escrito e rasgou-o. Nesse momento, a moça embebida no olhar do marido, começou a cantarolar à toa, inconscientemente, uma coisa nunca antes cantada nem sabida, na qual coisa um certo lá trazia após si uma linda frase musical, justamente a que mestre Romão procurara durante anos sem achar nunca. O mestre ouviu-a com tristeza, abanou a cabeça, e à noite expirou.

ASSIS, Machado de. O alienista e outros contos. São Paulo: Moderna, 1997.

Fonte: Livro – Viva Português 2° – Ensino médio – Língua portuguesa – 1ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2011. Ed. Ática. p. 137-141.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Botica: farmácia.

·        Capote: vitória em um jogo, em geral pelo dobro dos pontos alcançados pelo adversário.

·        Circunspecto: sério, reservado.

·        Cravo: instrumento de cordas.

·        Esponsais: noivado.

·        Esponsalício: relativo a noivado.

·        Idear: idealizar.

·        Jucundo: jovial, alegre.

·        Macacoa: doença sem importância, indisposição.

·        Mantilha: tipo de manta grossa com que as mulheres cobrem a cabeça e parte do corpo.

·        Missa: peça musical composta para ser executada em missa cantada.

·        Sanefa: cortina.

·        Suprir: fazer as vezes de, prover.

·        Valongo: bairro da cidade do Rio de Janeiro.

·        Vulgo: povo.

02 – Complete a frase a seguir no caderno. O narrador apresenta a personagem principal, mestre Romão, apenas no final do primeiro parágrafo, após enumerar diversos elementos da cena. Essa forma de apresenta-lo permite inferir que ..............

a)   Mestre Romão tinha menos importância que todos os elementos que compunham aquela cena.

b)   Se o narrador não chamasse a atenção para aquela personagem naquela cena, ninguém a perceberia, tal seu acanhamento.

c)   Num primeiro momento o narrador exclui todos os elementos que seriam importantes numa festa religiosa para destacar a figura realmente importante da cena.

03 – Segundo o texto, mestre Romão era uma pessoa reconhecida pela sociedade de seu tempo. Que trecho justifica essa afirmação?

      “Mestre Romão é o nome familiar; e dizer familiar e público era a mesma coisa em tal matéria e naquele tempo. [...] Era o tempero certo, o chamariz delicado e popular. Mestre Romão rege a festa! Quem não conhecia mestre Romão [...]?”

04 – Nos dois primeiros parágrafos, a situação é de equilíbrio, ou seja, não há tensões, não há problemas, trata-se apenas da apresentação de um regente de orquestra bastante popular e reconhecido. No início do terceiro parágrafo, porém, uma informação sugere que a situação descrita inicialmente não á assim tão livre de tensões:

        “Acabou a festa; é como se acabasse um clarão intenso, e deixasse o rosto apenas alumiado da luz ordinária. Ei-lo que desce do coro, apoiado na bengala; vai à sacristia beijar a mão aos padres e aceita um lugar à mesa do jantar. Tudo isso indiferente e calado.”

a)   Qual é essa informação? Explique.

Acabada a festa (a missa cantada que o mestre regia), é como se Romão Pires ficasse apagado: não há mais clarão intenso, e ele se torna indiferente e calado.

b)   Retire do conto um trecho que evidencia o problema vivido por mestre Romão Pires e que já é insinuado no começo do terceiro parágrafo.

“Ah! se mestre Romão pudesse seria um grande compositor. [...] Tinha a vocação íntima da música; trazia dentro de si muitas óperas e missas, um mundo de harmonias novas e originais, que não alcançava exprimir e pôr no papel. Esta era a causa única da tristeza de mestre Romão.”

05 – O narrador desse conto, além de onisciente, é parcial. Com uma ou outra expressão aparentemente sem muita importância, ele deixa transparecer sua opinião sobre certos comportamentos, certos acontecimentos. Reconhecer a forma como o narrador conduz a construção de sua narrativa também pode colaborar para a compreensão do conto. Releia o trecho que vai de “Quem não conhecia” até “se a missa fosse sua”. (Linhas 24 a 30). Segundo o narrador, em que situação teria mais sentido o comportamento iluminado, vivo, amoroso e efusivo de mestre Romão ao reger uma missa? Que frase desse trecho justifica sua resposta?

      Para o narrador, o comportamento efusivo de mestre Romão teria mais sentido se a missa fosse dele. Trechos que justificam a resposta: “não que a missa fosse dele” ou “mas ele rege-a com o mesmo amor que empregaria, se a missa fosse sua”.

06 – “A casa não era rica naturalmente; nem alegre”. Por que não se poderia esperar que a casa de mestre Romão fosse rica ou alegre?

      O narrador possivelmente sugere que a profissão de regente não era bem remunerada, além disso a casa parece retratar a própria insatisfação de Mestre Romão. Em síntese, trata-se de um recurso estilística para aproximar as características do espaço (pobre e triste) ás características psicológicas da personagem.

07 – No trecho “Naturalmente o vulgo não atinava com ela; uns diziam isto, outros aquilo: doença, falta de dinheiro, algum desgosto antigo [...]”, o que o narrador revela pensar das pessoas comuns ao afirmar ser natural que o vulgo não identificasse a real causa da tristeza de mestre Romão?

      Que as pessoas comuns veem razão para tristeza apenas nos fatos concretos.

08 – Releia:

        “Parece que há duas sortes de vocação, as que têm língua e as que a não têm. As primeiras realizam-se; as últimas representam uma luta constante e estéril entre o impulso interior e a ausência de um modo de comunicação com os homens. Romão era destas.”

        A ideia principal do conto está resumida nesse trecho. Mas, procurando traduzir a dificuldade de criação de mestre Ramão, o narrador não se restringe a enunciar o problema, ele busca também exemplifica-lo. Há duas situações na história em que está clara a “luta constante e estéril entre o impulso interior e a ausência de um modo de comunicação com os homens”. Quais são essas situações?

      Romão Pires, recém-casado, tentou escrever um conto esponsalício que traduzisse sua felicidade conjugal, mas não conseguiu. Pouco antes de morrer, tentou mais uma vez e de novo fracassou.

09 – Todas as informações relacionadas às características da narrativa podem ajudar o leitor a compreender um conto como “Cantiga de esponsais”.

a)   Em que ponto da narrativa se dá o clímax do conto?

No último parágrafo, o trecho que vai de “Nesse momento, a moça [...]” até “[...] sem achar nunca”.

b)   E em que ponto se dá o desfecho?

Na última frase: “O mestre ouviu-a com tristeza, abanou a cabeça, e à noite expirou”.

c)   Explique por que o desfecho, em certa medida, é irônico.

Mestre Romão morre após ouvir a moça cantarolar intuitivamente a melodia que ele buscara por tanto tempo.

 

domingo, 10 de outubro de 2021

CRÔNICA: DEUS SABE O QUE FAZ! (FRAGMENTO: O ALIENISTA) - MACHADO DE ASSIS

 CRÔNICA: DEUS SABE O QUE FAZ(FRAGMENTO: O ALIENISTA)

                       Machado de Assis

  A ilustre dama, ao fim de dois meses, achou-se a mais desgraçada das mulheres; caiu em profunda melancolia, ficou amarela, magra, comia pouco e suspirava a cada canto. Não ousava fazer-lhe nenhuma queixa ou reprove, porque respeitava nele o seu marido e senhor, mas padecia calada, e definhava a olhos vistos. Um dia, ao jantar, como lhe perguntasse o marido o que é que tinha, respondeu tristemente que nada; depois atreveu-se um pouco, e foi ao ponto de dizer que se considerava tão viúva como dantes. E acrescentou:

– Quem diria nunca que meia dúzia de lunáticos...

Não acabou a frase; ou antes, acabou-a levantando os olhos ao teto – os olhos, que eram a sua feição mais insinuante – negros, grandes, lavados de uma luz úmida, como os da aurora. Quanto ao gesto, era o mesmo que empregara no dia em que Simão Bacamarte a pediu em casamento. [...]

– Consinto que vás dar um passeio ao Rio de Janeiro.

D. Evarista sentiu faltar-lhe o chão debaixo dos pés. [...] Ver o Rio de Janeiro, para ela, equivalia ao sonho do hebreu cativo. [...]

– Oh! mas o dinheiro que será preciso gastar! Suspirou D. Evarista sem convicção.

– Que importa? Temos ganho muito, disse o marido. Ainda ontem o escriturário prestou-me contas. Queres ver?

E levou-a aos livros. D. Evarista ficou deslumbrada. Era um via-láctea de algarismos.

E depois levou-a às arcas, onde estava o dinheiro. Deus! eram montes de ouro, eram mil cruzados sobre mil cruzados, dobrões sobre dobrões; era a opulência. Enquanto ela comia o ouro com os seus olhos negros, o alienista* fitava-a, e dizia-lhe ao ouvido com a mais pérfida das alusões:

– Quem diria que meia dúzia de lunáticos...

* médico especialista em doenças mentais.

ASSIS, Machado de. Papéis avulsos. São Paulo: Escala Educacional, 2008. Fragmento.

 Entendendo o texto

01.O termo destacado em “Era uma via-láctea de algarismos.” (ℓ. 33) assume, nesse texto, o sentido de

A) beleza.

B) disposição.

C) luminosidade.

D) organização.

E) quantidade.

 02. Dona Evarista se sentia abandonava pelo marido e culpava quem?

     Culpava “essa meia dúzia de loucos”.

 03. O que aconteceu para que Dona Evarista mudasse de humor?

         O marido disse: – Consinto que vás dar um passeio ao Rio de Janeiro.

04. Bacamarte revelou então a fortuna que havia acumulado com a renda da Casa Verde e Dona Evarista passou a agradecer “essa meia dúzia de loucos”, afirmando o quê?

  “Deus sabe o que faz”.

sábado, 14 de agosto de 2021

ROMANCE(FRAGMENTO): ESAÚ E JACÓ - MACHADO DE ASSIS - ATIVIDADES SOBRE DÍGRAFOS/ENCONTRO CONSONANTAIS - COM GABARITO

 ROMANCE(FRAGMENTO): ESAÚ E JACÓ

                                         Machado de Assis:

Um dos meus propósitos neste livro é não lhe pôr lágrimas. Entretanto, não posso calar as duas que rebentaram certa vez dos olhos de Natividade, depois de uma rixa dos pequenos. Apenas duas, e foram morrer-lhe aos cantos da boca. Tão depressa as verteu como as engoliu, renovando às avessas e por palavras mudas o fecho daquelas histórias de crianças: “entrou por uma porta, saiu pela outra, manda el-rei nosso senhor, que nos conte outra”. E a segunda criança contava a segunda história, a terceira a terceira, a quarta, a quarta, até que vinha o fastio ou o sono. [...]

Machado de Assis. Esaú e Jacó. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Entendendo o texto

1) Você já ouviu a expressão “Entrou por uma porta, saiu pela outra, quem puder que conte outra”? Em caso positivo, em que situação você a ouviu? O que ela significa?

Resposta pessoal. Significa que, ao acabar de ouvir uma história, pode-se contar outra e mais outra e, assim, sucessivamente.

2) Em quais palavras do trecho destacado no fragmento há ocorrência de encontro consonantal? Escreva-as nas linhas a seguir.

Há encontro consonantal nas palavras: entrou e outra.

3) Em qual outra palavra do texto ocorre o mesmo encontro consonantal das palavras mencionadas na questão 2? Registre-a.

Entretanto.

A ideia é que os alunos releiam o fragmento e encontrem exemplos de ocorrências de encontros consonantais formados pelas mesmas consoantes verificadas nas palavras “entrou e outra”. Você pode ampliar a atividade pedindo que, conjuntamente, listem todas as ocorrências em sala.

4) Em quais palavras do trecho destacado no fragmento há ocorrência de dígrafo? Escreva-as nas linhas a seguir.

Há dígrafos nas palavras: entrou; manda; nosso; senhor; que e conte.

5) Em quais outras palavras do texto há ocorrência de dígrafos como os encontrados nas palavras mencionadas no item d? Registre-as:

Há ocorrência de dígrafos semelhantes nas palavras: entretanto; posso; rebentaram; pequenos; cantos; depressa; engoliu; renovando; avessas; daquelas; crianças; contava e vinha.

CONTO(FRAGMENTO): A CARTEIRA - MACHADO DE ASSIS - COM GABARITO

 CONTO(Fragmento): “A carteira”        

     Machado de Assis

De repente, Honório olhou para o chão e viu uma carteira. Abaixar-se, apanhá-la e guardá-la foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo:

– Olhe, se não dá por ela; perdia-a de uma vez.

– É verdade, concordou Honório envergonhado.

Para avaliar a oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de pagar amanhã uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis, e a carteira trazia o bojo recheado. A dívida não parece grande para um homem da posição de Honório, que advoga; mas todas as quantias são grandes ou pequenas, segundo as circunstâncias, e as dele não podiam ser piores. Gastos de família excessivos, a princípio por servir a parentes, e depois por agradar à mulher, que vivia aborrecida da solidão; baile daqui, jantar dali, chapéus, leques, tanta cousa mais, que não havia remédio senão ir descontando o futuro. Endividou-se. Começou pelas contas de lojas e armazéns; passou aos empréstimos, duzentos a um, trezentos a outro, quinhentos a outro, e tudo a crescer [...] um turbilhão perpétuo, uma voragem.

– Tu agora vais bem, não? – dizia-lhe ultimamente o Gustavo C..., advogado e familiar da casa.

– Agora vou – mentiu o Honório.

A verdade é que ia mal. [...]

Machado de Assis. A carteira. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/

DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1877>. Acesso em: 21 mar 2015.

Fonte da imagem - https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.fkvcalcados.com.br%2Fcarteira-em-couro-legitimo-completa-marrom---porta-cheque-plastico-documentos-e-porta-moeda-130m%2Fp&psig=AOvVaw031hQIwGtp2_E-oVJRPwLW&ust=1629047036173000&source=images&cd=vfe&ved=0CAsQjRxqFwoTCPCr8KP_sPICFQAAAAAdAAAAABAD

Entendendo o texto

1) A quais nomes se referem os pronomes destacados no fragmento?

Os “-se”, os “o”, os “lhe” e o “tu” referem-se a Honório, os “-la”, o “ela” e o “-a” referem-se à carteira.

2) A quais pessoas do discurso os pronomes destacados se referem? Justifique a sua resposta.

Todos os pronomes à exceção de “tu” referem-se à terceira pessoa do discurso, pois indicam a quem o narrador se refere no excerto (“-se”, os “o” e o “lhe”) ou a que está se referindo (os “-la”, o “ela” e o “a”). O “tu” refere-se à segunda pessoa do discurso, pois corresponde a um pequeno excerto da narrativa em que outro personagem (Gustavo C) se dirige diretamente a Honório, ou seja, indica com quem se fala.

3) Reescreva o primeiro parágrafo do fragmento substituindo os pronomes “-se”, “o” e “lhe” por pronomes oblíquos correspondentes à primeira pessoa do singular. Para tanto, faça todas as alterações necessárias no fragmento para adequá-lo.

De repente, olhei para o chão e vi uma carteira. Abaixar-me, apanhá-la e guardá-la foi obra de alguns instantes. Ninguém me viu, salvo um homem que estava à porta de uma loja, e que, sem me conhecer, disse-me rindo/me disse rindo.

 

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

CONTO: A CAUSA SECRETA - MACHADO DE ASSIS - COM GABARITO

 CONTO: A CAUSA SECRETA   

  Machado de Assis

Garcia, em pé, mirava e estalava as unhas; Fortunato, na cadeira de balanço, olhava para o teto; Maria Luísa, perto da janela, concluía um trabalho de agulha.

Havia já cinco minutos que nenhum deles dizia nada. Tinham falado do dia, que estivera excelente, — de Catumbi, onde morava o casal Fortunato, e de uma casa de saúde, que adiante se explicará. Como os três personagens aqui presentes estão agora mortos e enterrados, tempo é de contar a história sem rebuço. Tinham falado também de outra coisa, além daquelas três, coisa tão feia e grave, que não lhes deixou muito gosto para tratar do dia, do bairro e da casa de saúde.

Toda a conversação a este respeito foi constrangida. Agora mesmo, os dedos de Maria Luísa parecem ainda trêmulos, ao passo que há no rosto de Garcia uma expressão de severidade, que lhe não é habitual. Em verdade, o que se passou foi de tal natureza, que para fazê-lo entender é preciso remontar à origem da situação.

Garcia tinha-se formado em medicina, no ano anterior, 1861. No de 1860, estando ainda na Escola, encontrou-se com Fortunato, pela primeira vez, à porta da Santa Casa; entrava, quando o outro saía. Fez-lhe impressão a figura; mas, ainda assim, tê-la-ia esquecido, se não fosse o segundo encontro, poucos dias depois. Morava na rua de D. Manoel. Uma de suas raras distrações era ir ao teatro de S. Januário, que ficava perto, entre essa rua e a praia; ia uma ou duas vezes por mês, e nunca achava acima de quarenta pessoas. Só os mais intrépidos ousavam estender os passos até aquele recanto da cidade. Uma noite, estando nas cadeiras, apareceu ali Fortunato, e sentou-se ao pé dele.

A peça era um dramalhão, cosido a facadas, ouriçado de imprecações e remorsos; mas Fortunato ouvia-a com singular interesse. Nos lances dolorosos, a atenção dele redobrava, os olhos iam avidamente de um personagem a outro, a tal ponto que o estudante suspeitou haver na peça reminiscências pessoais do vizinho. No fim do drama, veio uma farsa; mas Fortunato não esperou por ela e saiu; Garcia saiu atrás dele. Fortunato foi pelo Beco do Cotovelo, Rua de S. José, até o Largo da Carioca. Ia devagar, cabisbaixo, parando às vezes, para dar uma bengalada em algum cão que dormia; o cão ficava ganindo e ele ia andando. No Largo da Carioca entrou num tílburi, e seguiu para os lados da Praça da Constituição. Garcia voltou para casa sem saber mais nada.

Decorreram algumas semanas. Uma noite, eram nove horas, estava em casa, quando ouviu rumor de vozes na escada; desceu logo do sótão, onde morava, ao primeiro andar, onde vivia um empregado do arsenal de guerra. Era este que alguns homens conduziam, escada acima, ensanguentado. O preto que o servia acudiu a abrir a porta; o homem gemia, as vozes eram confusas, a luz pouca. Deposto o ferido na cama, Garcia disse que era preciso chamar um médico.

— Já aí vem um, acudiu alguém.

Garcia olhou: era o próprio homem da Santa Casa e do teatro. Imaginou que seria parente ou amigo do ferido; mas, rejeitou a suposição, desde que lhe ouvira perguntar se este tinha família ou pessoa próxima. Disse-lhe o preto que não, e ele assumiu a direção do serviço, pediu às pessoas estranhas que se retirassem, pagou aos carregadores, e deu as primeiras ordens. Sabendo que o Garcia era vizinho e estudante de medicina pediu-lhe que ficasse para ajudar o médico. Em seguida contou o que se passara.

— Foi uma malta de capoeiras. Eu vinha do quartel de Moura, onde fui visitar um primo, quando ouvi um barulho muito grande, e logo depois um ajuntamento.

Parece que eles feriram também a um sujeito que passava, e que entrou por um daqueles becos; mas eu só vi a este senhor, que atravessava a rua no momento em que um dos capoeiras, roçando por ele, meteu-lhe o punhal. Não caiu logo; disse onde morava e, como era a dois passos, achei melhor trazê-lo.

— Conhecia-o antes? perguntou Garcia.

— Não, nunca o vi. Quem é?

 — É um bom homem, empregado no arsenal de guerra. Chama-se Gouvêa.

 — Não sei quem é.

Médico e subdelegado vieram daí a pouco; fez-se o curativo, e tomaram-se as informações. O desconhecido declarou chamar-se Fortunato Gomes da Silveira, ser capitalista, solteiro, morador em Catumbi. A ferida foi reconhecida grave. Durante o curativo ajudado pelo estudante, Fortunato serviu de criado, segurando a bacia, a vela, os panos, sem perturbar nada, olhando friamente para o ferido, que gemia muito. No fim, entendeu-se particularmente com o médico, acompanhou-o até o patamar da escada, e reiterou ao subdelegado a declaração de estar pronto a auxiliar as pesquisas da polícia. Os dois saíram, ele e o estudante ficaram no quarto.

Garcia estava atônito. Olhou para ele, viu-o sentar-se tranquilamente, estirar as pernas, meter as mãos nas algibeiras das calças, e fitar os olhos no ferido. Os olhos eram claros, cor de chumbo, moviam-se devagar, e tinham a expressão dura, seca e fria. Cara magra e pálida; uma tira estreita de barba, por baixo do queixo, e de uma têmpora a outra, curta, ruiva e rara. Teria quarenta anos. De quando em quando, voltava-se para o estudante, e perguntava alguma coisa acerca do ferido; mas tornava logo a olhar para ele, enquanto o rapaz lhe dava a resposta. A sensação que o estudante recebia era de repulsa ao mesmo tempo que de curiosidade; não podia negar que estava assistindo a um ato de rara dedicação, e se era desinteressado como parecia, não havia mais que aceitar o coração humano como um poço de mistérios.

Fortunato saiu pouco antes de uma hora; voltou nos dias seguintes, mas a cura fez-se depressa, e, antes de concluída, desapareceu sem dizer ao obsequiado onde morava. Foi o estudante que lhe deu as indicações do nome, rua e número.

— Vou agradecer-lhe a esmola que me fez, logo que possa sair, disse o convalescente.

Correu a Catumbi daí a seis dias. Fortunato recebeu-o constrangido, ouviu impaciente as palavras de agradecimento, deu-lhe uma resposta enfastiada e acabou batendo com as borlas do chambre no joelho. Gouvêa, defronte dele, sentado e calado, alisava o chapéu com os dedos, levantando os olhos de quando em quando, sem achar mais nada que dizer. No fim de dez minutos, pediu licença para sair, e saiu.

 — Cuidado com os capoeiras! disse-lhe o dono da casa, rindo-se.

O pobre-diabo saiu de lá mortificado, humilhado, mastigando a custo o desdém, forcejando por esquecê-lo, explicá-lo ou perdoá-lo, para que no coração só ficasse a memória do benefício; mas o esforço era vão. O ressentimento, hóspede novo e exclusivo, entrou e pôs fora o benefício, de tal modo que o desgraçado não teve mais que trepar à cabeça e refugiar-se ali como uma simples ideia. Foi assim que o próprio benfeitor insinuou a este homem o sentimento da ingratidão.

Tudo isso assombrou o Garcia. Este moço possuía, em gérmen, a faculdade de decifrar os homens, de decompor os caracteres, tinha o amor da análise, e sentia o regalo, que dizia ser supremo, de penetrar muitas camadas morais, até apalpar o segredo de um organismo. Picado de curiosidade, lembrou-se de ir ter com o homem de Catumbi, mas advertiu que nem recebera dele o oferecimento formal da casa. Quando menos, era-lhe preciso um pretexto, e não achou nenhum.

Tempos depois, estando já formado e morando na Rua de Mata-cavalos, perto da do Conde, encontrou Fortunato em uma gôndola, encontrou-o ainda outras vezes, e a frequência trouxe a familiaridade. Um dia Fortunato convidou-o a ir visita-lo ali perto, em Catumbi.

— Sabe que estou casado?

— Não sabia.

— Casei-me há quatro meses, podia dizer quatro dias. Vá jantar conosco domingo.

— Domingo?

— Não esteja forjando desculpas; não admito desculpas. Vá domingo.

Garcia foi lá domingo. Fortunato deu-lhe um bom jantar, bons charutos e boa palestra, em companhia da senhora, que era interessante. A figura dele não mudara; os olhos eram as mesmas chapas de estanho, duras e frias; as outras feições não eram mais atraentes que dantes. Os obséquios, porém, se não resgatavam a natureza, davam alguma compensação, e não era pouco. Maria Luísa é que possuía ambos os feitiços, pessoa e modos. Era esbelta, airosa, olhos meigos e submissos; tinha vinte e cinco anos e parecia não passar de dezenove. Garcia, à segunda vez que lá foi, percebeu que entre eles havia alguma dissonância de caracteres, pouca ou nenhuma afinidade moral, e da parte da mulher para com o marido uns modos que transcendiam o respeito e confinavam na resignação e no temor. Um dia, estando os três juntos, perguntou Garcia a Maria Luísa se tivera notícia das circunstâncias em que ele conhecera o marido.

— Não, respondeu a moça.

— Vai ouvir uma ação bonita.

— Não vale a pena, interrompeu Fortunato.

— A senhora vai ver se vale a pena, insistiu o médico.

Contou o caso da Rua de D. Manoel. A moça ouviu-o espantada. Insensivelmente estendeu a mão e apertou o pulso ao marido, risonha e agradecida, como se acabasse de descobrir-lhe o coração. Fortunato sacudia os ombros, mas não ouvia com indiferença. No fim contou ele próprio a visita que o ferido lhe fez, com todos os pormenores da figura, dos gestos, das palavras atadas, dos silêncios, em suma, um estúrdio. E ria muito ao contá-la. Não era o riso da dobrez. A dobrez é evasiva e oblíqua; o riso dele era jovial e franco. "Singular homem!" pensou Garcia.

Maria Luísa ficou desconsolada com a zombaria do marido; mas o médico restituiu-lhe a satisfação anterior, voltando a referir a dedicação deste e as suas raras qualidades de enfermeiro; tão bom enfermeiro, concluiu ele, que, se algum dia fundar uma casa de saúde, irei convidá-lo.

— Valeu? Perguntou Fortunato.

— Valeu o quê?

— Vamos fundar uma casa de saúde?

— Não valeu nada; estou brincando.

— Podia-se fazer alguma coisa; e para o senhor, que começa a clínica, acho que seria bem bom. Tenho justamente uma casa que vai vagar, e serve.

Garcia recusou nesse e no dia seguinte; mas a ideia tinha-se metido na cabeça ao outro, e não foi possível recuar mais. Na verdade, era uma boa estreia para ele, e podia vir a ser um bom negócio para ambos. Aceitou finalmente, daí a dias, e foi uma desilusão para Maria Luísa. Criatura nervosa e frágil, padecia só com a ideia de que o marido tivesse de viver em contato com enfermidades humanas, mas não ousou opor-se-lhe, e curvou a cabeça. O plano fez-se e cumpriu-se depressa.

Verdade é que Fortunato não curou de mais nada, nem então, nem depois. Aberta a casa, foi ele o próprio administrador e chefe de enfermeiros, examinava tudo, ordenava tudo, compras e caldos, drogas e contas.

Garcia pôde então observar que a dedicação ao ferido da Rua D. Manoel não era um caso fortuito, mas assentava na própria natureza deste homem. Via-o servir como nenhum dos fâmulos. Não recuava diante de nada, não conhecia moléstia aflitiva ou repelente, e estava sempre pronto para tudo, a qualquer hora do dia ou da noite. Toda a gente pasmava e aplaudia. Fortunato estudava, acompanhava as operações, e nenhum outro curava os cáusticos.

— Tenho muita fé nos cáusticos, dizia ele.

A comunhão dos interesses apertou os laços da intimidade. Garcia tornou-se familiar na casa; ali jantava quase todos os dias, ali observava a pessoa e a vida de Maria Luísa, cuja solidão moral era evidente. E a solidão como que lhe duplicava o encanto. Garcia começou a sentir que alguma coisa o agitava, quando ela aparecia, quando falava, quando trabalhava, calada, ao canto da janela, ou tocava ao piano umas músicas tristes. Manso e manso, entrou-lhe o amor no coração. Quando deu por ele, quis expeli-lo, para que entre ele e Fortunato não houvesse outro laço que o da amizade; mas não pôde. Pôde apenas trancá-lo; Maria Luísa compreendeu ambas as coisas, a afeição e o silêncio, mas não se deu por achada.

No começo de outubro deu-se um incidente que desvendou ainda mais aos olhos do médico a situação da moça. Fortunato metera-se a estudar anatomia e fisiologia, e ocupava-se nas horas vagas em rasgar e envenenar gatos e cães. Como os guinchos dos animais atordoavam os doentes, mudou o laboratório para casa, e a mulher, compleição nervosa, teve de os sofrer. Um dia, porém, não podendo mais, foi ter com o médico e pediu-lhe que, como coisa sua, alcançasse do marido a cessação de tais experiências.

— Mas a senhora mesma...

Maria Luísa acudiu, sorrindo:

— Ele naturalmente achará que sou criança. O que eu queria é que o senhor, como médico, lhe dissesse que isso me faz mal; e creia que faz... Garcia alcançou prontamente que o outro acabasse com tais estudos. Se os foi fazer em outra parte, ninguém o soube, mas pode ser que sim. Maria Luísa agradeceu ao médico, tanto por ela como pelos animais, que não podia ver padecer. Tossia de quando em quando; Garcia perguntou-lhe se tinha alguma coisa, ela respondeu que nada.

— Deixe ver o pulso.

— Não tenho nada. Não deu o pulso, e retirou-se. Garcia ficou apreensivo. Cuidava, ao contrário, que ela podia ter alguma coisa, que era preciso observá-la e avisar o marido em tempo.

Dois dias depois, — exatamente o dia em que os vemos agora, — Garcia foi lá jantar. Na sala disseram-lhe que Fortunato estava no gabinete, e ele caminhou para ali: ia chegando à porta, no momento em que Maria Luísa saía aflita.

— Que é? perguntou-lhe.

 — O rato! O rato! exclamou a moça sufocada e afastando-se.

Garcia lembrou-se que, na véspera, ouvira ao Fortunado queixar-se de um rato, que lhe levara um papel importante; mas estava longe de esperar o que viu. Viu Fortunato sentado à mesa, que havia no centro do gabinete, e sobre a qual pusera um prato com espírito de vinho. O líquido flamejava. Entre o polegar e o índice da mão esquerda segurava um barbante, de cuja ponta pendia o rato atado pela cauda. Na direita tinha uma tesoura. No momento em que o Garcia entrou, Fortunato cortava ao rato uma das patas; em seguida desceu o infeliz até a chama, rápido, para não matá-lo, e dispôs-se a fazer o mesmo à terceira, pois já lhe havia cortado a primeira. Garcia estacou horrorizado.

— Mate-o logo! disse-lhe.

— Já vai.

E com um sorriso único, reflexo de alma satisfeita, alguma coisa que traduzia a delícia íntima das sensações supremas, Fortunato cortou a terceira pata ao rato, e fez pela terceira vez o mesmo movimento até a chama. O miserável estorcia-se, guinchando, ensanguentado, chamuscado, e não acabava de morrer. Garcia desviou os olhos, depois voltou-os novamente, e estendeu a mão para impedir que o suplício continuasse, mas não chegou a fazê-lo, porque o diabo do homem impunha medo, com toda aquela serenidade radiosa da fisionomia. Faltava cortar a última pata; Fortunato cortou-a muito devagar, acompanhando a tesoura com os olhos; a pata caiu, e ele ficou olhando para o rato meio cadáver. Ao descê-lo pela quarta vez, até a chama, deu ainda mais rapidez ao gesto, para salvar, se pudesse, alguns farrapos de vida.

Garcia, defronte, conseguia dominar a repugnância do espetáculo para fixar a cara do homem. Nem raiva, nem ódio; tão-somente um vasto prazer, quieto e profundo, como daria a outro a audição de uma bela sonata ou a vista de uma estátua divina, alguma coisa parecida com a pura sensação estética. Pareceu-lhe, e era verdade, que Fortunato havia-o inteiramente esquecido. Isto posto, não estaria fingindo, e devia ser aquilo mesmo. A chama ia morrendo, o rato podia ser que tivesse ainda um resíduo de vida, sombra de sombra; Fortunato aproveitou-o para cortar-lhe o focinho e pela última vez chegar a carne ao fogo. Afinal deixou cair o cadáver no prato, e arredou de si toda essa mistura de chamusco e sangue.

Ao levantar-se deu com o médico e teve um sobressalto. Então, mostrou-se enraivecido contra o animal, que lhe comera o papel; mas a cólera evidentemente era fingida.

"Castiga sem raiva", pensou o médico, "pela necessidade de achar uma sensação de prazer, que só a dor alheia lhe pode dar: é o segredo deste homem".

Fortunato encareceu a importância do papel, a perda que lhe trazia, perda de tempo, é certo, mas o tempo agora era-lhe preciosíssimo. Garcia ouvia só, sem dizer nada, nem lhe dar crédito. Relembrava os atos dele, graves e leves, achava a mesma explicação para todos. Era a mesma troca das teclas da sensibilidade, um diletantismo sui generis, uma redução de Calígula.

Quando Maria Luísa voltou ao gabinete, daí a pouco, o marido foi ter com ela, rindo, pegou-lhe nas mãos e falou-lhe mansamente:

— Fracalhona! E voltando-se para o médico:

— Há de crer que quase desmaiou?

Maria Luísa defendeu-se a medo, disse que era nervosa e mulher; depois foi sentar-se à janela com as suas lãs e agulhas, e os dedos ainda trêmulos, tal qual a vimos no começo desta história. Hão de lembrar-se que, depois de terem falado de outras coisas, ficaram calados os três, o marido sentado e olhando para o teto, o médico estalando as unhas. Pouco depois foram jantar; mas o jantar não foi alegre. Maria Luísa cismava e tossia; o médico indagava de si mesmo se ela não estaria exposta a algum excesso na companhia de tal homem. Era apenas possível; mas o amor trocou-lhe a possibilidade em certeza; tremeu por ela e cuidou de os vigiar.

Ela tossia, tossia, e não se passou muito tempo que a moléstia não tirasse a máscara. Era a tísica, velha dama insaciável, que chupa a vida toda, até deixar um bagaço de ossos. Fortunato recebeu a notícia como um golpe; amava deveras a mulher, a seu modo, estava acostumado com ela, custava-lhe perdê-la. Não poupou esforços, médicos, remédios, ares, todos os recursos e todos os paliativos. Mas foi tudo vão. A doença era mortal.

Nos últimos dias, em presença dos tormentos supremos da moça, a índole do marido subjugou qualquer outra afeição. Não a deixou mais; fitou o olho baço e frio naquela decomposição lenta e dolorosa da vida, bebeu uma a uma as aflições da bela criatura, agora magra e transparente, devorada de febre e minada de morte. Egoísmo aspérrimo, faminto de sensações, não lhe perdoou um só minuto de agonia, nem lhos pagou com uma só lágrima, pública ou íntima. Só quando ela expirou, é que ele ficou aturdido. Voltando a si, viu que estava outra vez só.

De noite, indo repousar uma parenta de Maria Luísa, que a ajudara a morrer, ficaram na sala Fortunato e Garcia, velando o cadáver, ambos pensativos; mas o próprio marido estava fatigado, o médico disse-lhe que repousasse um pouco.

 — Vá descansar, passe pelo sono uma hora ou duas: eu irei depois.

Fortunato saiu, foi deitar-se no sofá da saleta contígua, e adormeceu logo. Vinte minutos depois acordou, quis dormir outra vez, cochilou alguns minutos, até que se levantou e voltou à sala. Caminhava nas pontas dos pés para não acordar a parenta, que dormia perto. Chegando à porta, estacou assombrado.

Garcia tinha-se chegado ao cadáver, levantara o lenço e contemplara por alguns instantes as feições defuntas. Depois, como se a morte espiritualizasse tudo, inclinou-se e beijou-a na testa. Foi nesse momento que Fortunato chegou à porta. Estacou assombrado; não podia ser o beijo da amizade, podia ser o epílogo de um livro adúltero. Não tinha ciúmes, note-se; a natureza compô-lo de maneira que lhe não deu ciúmes nem inveja, mas dera-lhe vaidade, que não é menos cativa ao ressentimento. Olhou assombrado, mordendo os beiços.

Entretanto, Garcia inclinou-se ainda para beijar outra vez o cadáver; mas então não pôde mais. O beijo rebentou em soluços, e os olhos não puderam conter as lágrimas, que vieram em borbotões, lágrimas de amor calado, e irremediável desespero. Fortunato, à porta, onde ficara, saboreou tranquilo essa explosão de dor moral que foi longa, muito longa, deliciosamente longa.

 Fonte da imagem acima:https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3DPlQOHkOIy08&psig=AOvVaw3iUz56bEmnhq3QvgQQHLcP&ust=1611146282435000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCLjcwOWBqO4CFQAAAAAdAAAAABAF

ENTENDENDO O CONTO

 01. O clímax se dá quando Garcia e Maria Luiza flagram Fortunato torturando um pequeno rato, cortando-lhe pata por pata com uma tesoura e levando-lhe ao fogo, sem deixar que morresse. É assim que se percebe a causa secreta dos atos daquele homem: o sofrimento alheio lhe é prazeroso. Comprove essa afirmação com outros fragmentos que demonstrem seu prazer na dor.

“Fortunato, à porta, onde ficara, saboreou tranquilo essa explosão de dor moral que foi longa, muito longa, deliciosamente longa.”

“Fortunato recebeu-o constrangido, ouviu impaciente as palavras de agradecimento, deu-lhe uma resposta enfastiada e acabou batendo com as borlas do chambre no joelho. Gouvêa, defronte dele, sentado e calado, alisava o chapéu com os dedos, levantando os olhos de quando em quando, sem achar mais nada que dizer. No fim de dez minutos, pediu licença para sair, e saiu.

 — Cuidado com os capoeiras! disse-lhe o dono da casa, rindo-se.”

 02. Os nossos jornais todos os dias trazem muitas notícias de tragédias, e os editores justificam a exploração desse tema explicando que o ser humano gosta de ver sofrimento alheio. Vocês concordam com essa explicação? Vocês gostam de ler sobre isso? Podemos chamar isso de sadismo?


 

       Resposta pessoal.

 03. Dizem que os temas explorados pela música sertaneja são principalmente traição e amor não correspondido. Cite exemplo de uma música e comprove através de trecho que explore o gosto pelo autossofrimento como vimos em Fortunato na última frase do conto A Causa Secreta.

      Resposta pessoal.

 04. A partir da análise do conto, podemos dizer que o texto classifica-se como?

     a) Um texto do tipo carta argumentativa, muito comum em jornais e revistas. Apresenta argumentos incisivos com intenção de influenciar ou rebater a opinião de outros leitores.

    b) Um texto dissertativo, cuja principal intenção é a exposição de opiniões com a intenção de persuadir o leitor;

      c) Um texto narrativo-descritivo, pois é predominantemente narrativo com passagens descritivas;

     d) Um texto de relato, pois transmite os fatos acontecidos com foco no acontecimento;

    e) Um texto narrativo, seu material é o fato e a ação que envolve os personagens.

 05. Qual é a causa secreta no conto de Machado​

     A causa secreta é o sadismo de Fortunato, o prazer que ele sente com o sofrimento alheio, de pessoas ou de animais.

 06.Qual o foco narrativo em cada um dos contos?

     Um texto narrativo-descritivo, pois é predominantemente narrativo com passagens descritivas.

07. Os nossos jornais todos os dias trazem muitas notícias de tragédias, e os editores justificam a exploração desse tema explicando que o ser humano gosta de ver sofrimento alheio. Vocês concordam com essa explicação? Vocês gostam de ler sobre isso? Podemos chamar a isso de sadismo?

      Resposta pessoal.

 08. Dizem que os temas explorados pela música sertaneja são principalmente traição e amor não correspondido. Tragam para a sala exemplos de músicas que explorem o gosto pelo auto-sofrimento como vimos em Fortunato na última frase do texto Causa secreta.

       Resposta pessoal.