terça-feira, 4 de agosto de 2020

CRÔNICA: A ALIANÇA - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

Crônica: A aliança

              Luís Fernando Veríssimo

        Esta é uma história exemplar, só não está muito claro qual é o exemplo. De qualquer jeito, mantenha-a longe das crianças. Também não tem nada a ver com a crise brasileira, o apartheid, a situação na América Central ou no Oriente Médio ou a grande aventura do homem sobre a Terra. Situa-se no terreno mais baixo das pequenas aflições da classe média. Enfim. Aconteceu com um amigo meu. Fictício, claro.

        Ele estava voltando para casa como fazia, com fidelidade rotineira, todos os dias à mesma hora. Um homem dos seus 40 anos, naquela idade em que já sabe que nunca será o dono de um cassino em Samarkand, com diamantes nos dentes, mas ainda pode esperar algumas surpresas da vida, como ganhar na loto ou furar-lhe um pneu. Furou-lhe um pneu. Com dificuldade ele encostou o carro no meio-fio e preparou-se para a batalha contra o macaco, não um dos grandes macacos que o desafiavam no jângal dos seus sonhos de infância, mas o macaco do seu carro tamanho médio, que provavelmente não funcionaria, resignação e reticências… Conseguiu fazer o macaco funcionar, ergueu o carro, trocou o pneu e já estava fechando o porta-malas quando a sua aliança escorregou pelo dedo sujo de óleo e caiu no chão. Ele deu um passo para pegar a aliança do asfalto, mas sem querer a chutou. A aliança bateu na roda de um carro que passava e voou para um bueiro. Onde desapareceu diante dos seus olhos, nos quais ele custou a acreditar. Limpou as mãos o melhor que pôde, entrou no carro e seguiu para casa. Começou a pensar no que diria para a mulher. Imaginou a cena. Ele entrando em casa e respondendo às perguntas da mulher antes de ela fazê-las.

        — Você não sabe o que me aconteceu!

        — O quê?

        — Uma coisa incrível.

        — O quê?

        — Contando ninguém acredita.

        — Conta!

        — Você não nota nada de diferente em mim? Não está faltando nada?

        — Não.

        — Olhe.

        E ele mostraria o dedo da aliança, sem a aliança.

        — O que aconteceu?

        E ele contaria. Tudo, exatamente como acontecera. O macaco. O óleo. A aliança no asfalto. O chute involuntário. E a aliança voando para o bueiro e desaparecendo.

        — Que coisa – diria a mulher, calmamente.

        — Não é difícil de acreditar?

        — Não. É perfeitamente possível.

        — Pois é. Eu…

        — SEU CRETINO!

        — Meu bem…

        — Está me achando com cara de boba? De palhaça? Eu sei o que aconteceu com essa aliança. Você tirou do dedo para namorar. É ou não é? Para fazer um programa. Chega em casa a esta hora e ainda tem a cara-de-pau de inventar uma história em que só um imbecil acreditaria.

        — Mas, meu bem…

        — Eu sei onde está essa aliança. Perdida no tapete felpudo de algum motel. Dentro do ralo de alguma banheira redonda. Seu sem-vergonha!

        E ela sairia de casa, com as crianças, sem querer ouvir explicações. Ele chegou em casa sem dizer nada. Por que o atraso? Muito trânsito. Por que essa cara? Nada, nada. E, finalmente:

        — Que fim levou a sua aliança? E ele disse:

        — Tirei para namorar. Para fazer um programa. E perdi no motel. Pronto. Não tenho desculpas. Se você quiser encerrar nosso casamento agora, eu compreenderei.

        Ela fez cara de choro. Depois correu para o quarto e bateu com a porta. Dez minutos depois reapareceu. Disse que aquilo significava uma crise no casamento deles, mas que eles, com bom-senso, a venceriam.

        — O mais importante é que você não mentiu pra mim.

Luís Fernando Veríssimo

Entendendo a crônica:

01 – Do que trata o texto?

      Retrata fatos do cotidiano, que são muitas vezes, banais ou comuns.

02 – O tema é cotidiano?

      Sim, discutindo o cotidiano do casamento, levantando fatos sobre fidelidade x traição e tomando a aliança como um símbolo de compromisso e respeito mútuo.

03 – Qual o tipo de linguagem?

      Linguagem informal (coloquial).

04 – É um texto longo ou curto?

      O texto é curto.

05 – A trama se desenvolve em torno de um único conflito? Explique.

      Sim. A perda da aliança que caiu no bueiro, enquanto ele trocava o pneu.

06 – Existem muitos personagens? Quem são?

      Não. É apenas o marido e a mulher.

07 – Analise o foco narrativo, ou seja, o autor escolhe o ponto de vista que vai adotar:  escreve na primeira pessoa (eu vi, eu fiz, eu senti) e se transforma em parte da narrativa – é o autor-personagem; ou fica de fora e escreve na terceira pessoa (ele fez, eles sentiram) – é o autor – observador. O narrador narra em primeira ou terceira pessoa?

      A crônica é narrativa e tem por base uma história contada em terceira pessoa do singular.

08 – Qual é o tom da crônica: bem-humorado, poético, irônico, reflexivo ou sério?

      O tom é bem-humorado, pois o marido conhecendo a mulher, sabia que ela não acreditaria na verdade, então resolveu mentir sobre sua infidelidade, na qual ela acreditou.

09 – Determine a classe gramatical da palavra “muito” nos trechos a seguir, informando também a que classe gramatical pertence a palavra que está sendo modificada por aquela primeira palavra (“muito”):

a)   “... só não está muito claro qual é o exemplo”.

“Muito” é advérbio e está modificando o adjetivo “claro”.

b)   “... mas o macaco do seu carro tamanho médio, que muito provavelmente não funcionaria...”

“Muito” é advérbio e está modificando o advérbio “provavelmente”.

c)   “... diante dos seus olhos, nos quais ele custou muito a acreditar”.

“Muito” é advérbio e está modificando a forma verbal “custou”.

10 – Leia a crônica com bastante atenção e copie as palavras-chave do texto.

      Aliança, mentira, casamento, homem, mulher, relacionamento, crise, traição, verdade, bom-senso, fidelidade, rotina, namorar, meia-idade.

 

 


CONTO: AS MARGENS DA ALEGRIA - JOÃO GUIMARÃES ROSA - COM GABARITO

Conto: As margens da alegria

João Guimarães Rosa

        Esta é a estória.

        Ia um menino, com os tios, passar dias no lugar onde se construía a grande cidade. Era uma viagem inventada no feliz; para ele, produzia-se em caso de sonho. Saíam ainda com o escuro, o ar fino de cheiros desconhecidos. A mãe e o pai vinham trazê-lo ao aeroporto. A tia e o tio tomavam conta dele, justínhamente. Sorria-se, saudava-se, todos se ouviam e falavam. O avião era da companhia, especial, de quatro lugares. Respondiam-lhe a todas as perguntas, até o piloto conversou com ele. O voo ia ser pouco mais de duas horas. O menino fremia no acorçoo, alegre de se rir para si, confortavelzinho, com um jeito de folha a cair. A vida podia às vezes ralar numa verdade extraordinária. Mesmo o afivelarem-lhe o cinto de segurança virava forte afago, de proteção, e logo novo senso de esperança: ao não-sabido, ao mais. Assim um crescer e desconter-se — certo como o ato de respirar — o de fugir para o espaço em branco. O menino. E as coisas vinham docemente de repente, seguindo harmonia prévia, benfazeja, em movimentos concordantes: as satisfações antes da consciência das necessidades. Davam-lhe balas, chicles, à escolha. Solicito de bem-humorado, o tio ensinava-lhe como esta reclinável o assento bastando a gente premer manivela. Seu lugar era o da janelinha, para o amável mundo.

        Entregavam-lhe revistas, de folhear, quantas quisesse, até um mapa, nele mostravam os pontos em que ora e ora se estava, por cima de onde. O menino deixava-as, fartamente, sobre os joelhos, e espiava: as nuvens de amontoada amabilidade, o azul de só ar, aquela claridade à larga, o chão plano em visão cartográfica, repartido de roças e campos, o verde que se ia a amarelos e vermelhos e a pardo e a verde; e, além, baixa, a montanha. Se homens, meninos, cavalos e bois — assim insetos? Voavam supremamente. O menino, agora, vivia; sua alegria despedindo todos os raios. Sentava-se, inteiro, dentro do macio rumor do avião: o bom brinquedo trabalhoso.

        Ainda nem notara que, de fato, teria vontade de comer, quando a tia já lhe oferecia sanduíches. E prometia-lhe o tio as muitas coisas que ia brincar e ver, e fazer e passear, tanto que chegassem. O menino tinha tudo de uma vez, e nada, ante a mente. A luz e a longa-longa-longa nuvem.

        Chegavam.

II

        Enquanto mal vacilava a manhã.

        A grande cidade apenas começava a fazer-se, num semi-ermo, no chapadão: a mágica monotonia, os diluídos ares. O campo de pouso ficava a curta distância da casa — de madeira, sobre estações, quase penetrando na mata. O menino via, vislumbrava.

        Respirava muito. Ele queria poder ver ainda mais vívido — as novas tantas coisas — o que para os seus olhos se pronunciava. A morada era pequena, passava-se logo à cozinha, e ao que não era bem quintal, antes breve clareira, das árvores que não podem entrar dentro de casa. Altas, cipós e orquideazinhas amarelas delas se suspendiam. Dali, podiam sair índios, a onça, leão, lobos, caçadores?

        Só sons. Um — e outros pássaros — com cantos compridos. Isso foi o que abriu seu coração. Aqueles passarinhos bebiam cachaça?

        Senhor! Quando avistou o peru, no centro do terreiro, entre a casa e as árvores da mata. O peru, imperial, dava-lhe as costas, para receber sua admiração. Estalara a cauda, e se entufou, fazendo roda: o rapar das asas no chão brusco, rijo se proclamara.

        Grugulejou, sacudindo o abotoado grosso de bagas rubras; e a cabeça possuía laivos de um azul-claro, raro, de céu e sanhaços; e ele, completo, torneado, redondoso, todo em esferas e planos, com reflexos de verdes metais em azul-e-preto — o peru para sempre. Belo, belo! Tinha qualquer coisa de calor, poder e flor, um transbordamento. Sua ríspida grandeza tonltriante. Sua colorida empáfia. Satisfazia os olhos, era de se tanger trombeta. Colérico, encachiado, andando, gruzlou outro gluglo. O menino riu, com todo o coração. Mas só bis-viu. Já o chamavam, para o passeio.

III

        Iam de jipe, iam aonde ia ser um sítio do Ipê. O menino repetia-se em íntimo o nome de cada coisa.

        A poeira, alvissareira. A malva-do-campo, os lentiscos. O velame-branco, de pelúcia. A cobra-verde, atravessando a estrada. A arnica: em candelabros pálidos. A aparição angélica dos papagaios.

        As pitangas e seu pingar. O veado campeiro: o rabo branco. As flores em pompa arroxeadas da canela-de-ema. O que o tio falava: que ali havia “imundície de perdizes”. A tropa de seriemas, além, fugindo, em fila, índio-a-índio. O par de garças. Essa paisagem de muita largura, que o grande sol alagava.

        O buriti, à beira do corguínho, onde, por um momento, atolaram. Todas as coisas, surgidas do opaco. Sustentava-se delas sua incessante alegria, sob espécie sonhosa, bebida, em novos aumentos de amor. E em sua memória ficavam, no perfeito puro, castelos já armados. Tudo, para a seu tempo ser dadamente descoberto, fizera-se primeiro estranho e desconhecido. Ele estava nos ares. Pensava no peru, quando voltavam. Só um pouco, para não gastar fora de hora o quente daquela lembrança, do mais importante, que estava guardado para ele, no terreirínho das árvores bravas. Só pudera tê-lo um instante, ligeiro, grande, demoroso. Haveria um, assim, em cada casa, e de pessoa?

        Tinham fome, servido o almoço, tomava-se cerveja. O tio, a tia, os engenheiros. Da sala, não se escutava o galhardo ralhar dele, seu grugulejo? Esta grande cidade ia ser a mais levantada no mundo.

        Ele abria leque, impante, explodido, se eunava… Mal comeu dos doces, a marmelada, da terra, que se cortava bonita, o perfume em açúcar e carne de flor. Saiu, sôfrego de o rever.

        Não viu: imediatamente. A mata é que era tão feia de altura. E — onde? Só umas penas, restos, no chão. — “Uê se matou. Amanhã não é o dia-de-anos do doutor?”

        Tudo perdia a eternidade e a certeza; num lufo, num átimo, da gente as mais belas coisas se roubavam. Como podiam? Por que tão de repente? Soubesse que ia acontecer assim, ao menos teria olhado mais o peru aquele. O peru-seu desaparecer no espaço. Só no grão nulo de um minuto, o menino recebia em si um miligrama de morte.

        Já o buscavam: — “Vamos aonde a grande cidade vai ser, o lago.

IV

        Cerrava-se, grave, num cansaço e numa renúncia à curiosidade, para não passear com o pensamento.

        Ia. Teria vergonha de falar do peru. Talvez não devesse, não fosse direito ter por causa dele aquele doer, que põe e punge, de dó, desgosto e desengano. Mas, matarem-no, também, parecia-lhe obscuramente algum erro. Sentia-se sempre mais cansado. Mal podia com o que agora lhe mostravam, na circuntristeza: o um horizonte, homens no trabalho de terraplenagem, os caminhões de cascalho, as vagas árvores, um ribeirão de águas cinzentas, o velame-do-campo apenas uma planta desbotada, o encantamento morto e sem pássaros, o ar cheio de poeira. Sua fadiga, de impedida emoção, formava um medo secreto: descobria o possível de outras adversidades, no mundo maquinal, no hostil espaço; e que entre o contentamento e a desilusão, na balança infidelíssima, quase nada medeia. Abaixava a cabecinha.

        Ali fabricava-se o grande chão do aeroporto — transitavam no extenso as compressoras, caçambas, cilindros, o carneiro socando com seus dentes de pilões, as betumadoras.

        E como haviam cortado lá o mato? — a tia perguntou.

        Mostraram-lhe a derrubadora, que havia também: com à frente uma lâmina espessa, limpa-trilhos, à espécie de machado. Queria ver? Indicou-se uma árvore: simples, sem nem notável aspecto, à orla da área matagal. O homenzinho tratorista tinha um toco de cigarro na boca.

        A coisa pôs-se em movimento.

        Reta, até que devagar. A árvore, de poucos galhos no alto, fresca, de casca clara…, e foi só o chofre: uh… sobre o instante ela para lá se caiu, toda, toda.

        Trapreara tão bela. Sem nem se poder apanhar com os olhos o acertamento — o inaudito choque — o pulso da pancada. O menino fez ascas.

        Olhou o céu — atônito de azul. Ele tremia. A árvore, que morrera tanto. A limpa esguiez do tronco e o marulho imediato e final de seus ramos — da parte de nada.

        Guardou dentro da pedra.

V

        De volta, não queria sair mais ao terreirinho, lá era uma saudade abandonada, um incerto remorso.

        Nem ele sabia bem. Seu pensamentozinho estava ainda na fase hieroglífica. Mas foi, depois do jantar. E — a nem espetaculosa surpresa — viu-o, suave inesperado: o peru, ali estava! Oh, não. Não era o mesmo. Menor, menos muito. Tinha o coral, a arrecauda, a escova, o grugulhar grufo, mas faltava em sua penosa elegância o recacho, o englobo, a beleza esticada do primeiro. Sua chegada e presença, em todo o caso, um pouco consolavam.

        Tudo se amaciava na tristeza. Até o dia; isto era já o vir da noite.

        Porém, o subir da noitinha é sempre e sofrido assim, em toda a parte. O silêncio saía de seus guardados. O menino, timorato, aquietava-se com o próprio quebranto: alguma força, nele, trabalhava por arraigar raízes, aumentar-lhe alma.

        Mas o peru se adiantava até a beira da mata. Ali adivinhara o quê? Mal dava para se ver, no escurecendo. E era a cabeça degolada do outro, atirada ao monturo. O menino se doía e se entusiasmava.

        Mas: não. Não por simpatia companheira e sentida o peru até ali viera, certo, atraído. Movia-o um ódio. Pegava de bicar, feroz, aquela outra cabeça. O menino não entendia. A mata, as mais negras árvores, eram um montão demais; o mundo.

        Trevava.

        Voava, porém, a luzinha verde, vindo mesmo da mata, o primeiro vagalume. Sim, o vagalume, sim, era lindo! — tão pequenino, no ar, um instante só, alto, distante, indo-se. Era, outra vez em quando, a alegria.

João Guimarães Rosa, no livro “Primeiras estórias”. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

Entendendo o conto:

01 – O título “As margens da alegria” constitui uma chave de interpretação: se o leitor identifica quais são as margens da alegria, em relação ao protagonista menino, estabelece o eixo que sustenta e estrutura o conto.

        Pela leitura global do texto, pode-se dizer que, para o menino, as margens da alegria se definem pelos seguintes fatores:

a)   Encantamento com a luz e medo perante a escuridão.

b)   Deslumbramento com a beleza e dor frente à morte.

c)   Curiosidade da criança e descrença do homem.

d)   Construção da cidade e destruição das árvores.

02 – Esta é a estória.

        Ao escolher a frase acima para iniciar seu texto, o autor promove o seguinte efeito de sentido junto ao leitor.

a)   Ficcionalidade.

b)   Realidade.

c)   Diacronia.

d)   Ação.

03 – O conto, publicado em 1962, refere-se à construção de uma cidade cujo nome não é mencionado. Trechos da narrativa permitem supor que se trata de Brasília, fundada em 1960. O trecho do conto que torna mais provável essa suposição é:

a)   Ia um menino, com os tios, passar dias no lugar onde se construía a grande cidade.

b)   A grande cidade apenas começava a fazer-se, num semi-ermo, no chapadão.

c)   Esta grande cidade ia ser a mais levantada do mundo.

d)   “Vamos aonde a grande cidade vai ser, o lago...”.

04 – Os episódios que envolvem os dois perus são fundamentais para o menino e seu conhecimento de mundo.

        No que diz respeito à violência, esses episódios indicam a seguinte percepção do menino:

a)   Nem os homens nem os animais são violentos.

b)   Os homens são violentos sem motivo aparente.

c)   Tanto os homens quanto os animais são violentos.

d)   Os animais são violentos por motivo de sobrevivência.

05 – Guimarães Rosa é conhecido por seus neologismos, isto é, pelas palavras que criava. O trecho que contém um neologismo se encontra em:

a)   Era uma viagem inventada no feliz; para eles, produzia-se em caso de sonho.

b)   E as coisas vinham docemente de repente, seguindo harmonia prévia.

c)   Mal podia com o que agora lhe mostravam, na circuntristeza.

d)   O que o Tio falava: que ali havia “imundície de perdizes”.

06 – Quem é a personagem principal?

      A personagem é o Menino e, assim como ele, as outras personagens são apenas identificadas pelo grau de parentesco.

07 – Que tipo de narrador traz o conto?

      O conto é narrado em terceira pessoa.

08 – Em que tom o conto é narrado?

      Em um tom lírico reflexivo.

09 – Que fatos provocaram o desenrolar dos acontecimentos descritos no texto?

      A primeira viagem de um menino, a descoberta do mundo: a crueldade representada pela morte do peru e a beleza e a alegria representadas pelo vagalume.

10 – De que forma o autor se identifica profundamente com o protagonista?

      Como se ele espelhasse sua própria trajetória, sua infância, nessas delicadas passagens, em seus estados de alma, nos dolorosos conflitos, nas fascinantes descobertas.

11 – O clímax de tanta felicidade após a viagem se dá por qual motivo?

      Quando o menino encontra um peru majestoso.

12 – Por que durou pouco tempo a felicidade do menino por ter encontrado um peru?

      O menino fica sabendo que a ave havia sido morta para o aniversário do Tio.

13 – A luz do vagalume em meio a escuridão da floresta simboliza o quê?

      Simboliza a esperança que se deve ter após a queda do Paraíso, após o mergulho nas imperfeições da condição humana.

     

 

 


quinta-feira, 30 de julho de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): LÍNGUA - CAETANO VELOSO - COM GABARITO

Música(Atividades): Língua      

                                  Caetano Veloso

Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões

Gosto de ser e de estar

E quero me dedicar a criar confusões de prosódias

E uma profusão de paródias

Que encurtem dores

E furtem cores como camaleões

Gosto do Pessoa na pessoa

Da rosa no Rosa

E sei que a poesia está para a prosa

Assim como o amor está para a amizade

E quem há de negar que esta lhe é superior?

E deixe os Portugais morrerem à míngua

Minha pátria é minha língua

Fala Mangueira! Fala!

 

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó

O que quer

O que pode esta língua?

 

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas

E o falso inglês relax dos surfistas

Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!

Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda

E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate

E (xeque-mate) explique-nos Luanda

Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo

Sejamos o lobo do lobo do homem

Lobo do lobo do lobo do homem

Adoro nomes

Nomes em ã

De coisas como rã e ímã

Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã

Nomes de nomes

Como Scarlet, Moon, de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé

E Maria da Fé

 

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó

O que quer

O que pode esta língua?

 

Se você tem uma ideia incrível é melhor fazer uma canção

Está provado que só é possível filosofar em alemão

Blitz quer dizer corisco

Hollywood quer dizer Azevedo

E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo

A língua é minha pátria

E eu não tenho pátria, tenho mátria

E quero frátria

Poesia concreta, prosa caótica

Ótica futura

Samba-rap, chic-left com banana

 

(Será que ele está no Pão de Açúcar?

Tá craude brô

Você e tu

Lhe amo

Qué queu te faço, nego?

Bote ligeiro!

Ma'de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!

Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!

I like to spend some time in Mozambique

Arigatô, arigatô!)

 

Nós canto-falamos como quem inveja negros

Que sofrem horrores no Gueto do Harlem

Livros, discos, vídeos à mancheia

E deixa que digam, que pensem, que falem.

                                  Composição: Caetano Veloso.

Entendendo a canção:

01 – Que temática é destacada nessa canção?

      O autor destaca a valorização da pluriculturalidade brasileira.

02 – No verso: “Gosta de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões”, o que o poeta quis dizer?

      Ele relata que gosta de sentir sua língua roçar a língua de Luís de Camões, de falar, de escrever, se pronunciar e de se comunicar através da mesma língua que o poeta.

03 – Em que verso o poeta relata e valoriza a pluriculturalidade brasileira, que possui as mais variadas culturas, seja estas: musicais, poéticas, literárias entre diversas outras?

      “Encurtem a dores e furtem as cores como camaleões”.

04 – A quem o poeta se refere nesses versos: “Gosto do pessoa na pessoa / Da rosa no Rosa...”?

      Aqui temos a utilização dupla dos substantivos: Pessoa – Fernando Pessoa e Rosa – Guimarães Rosa, ambos sendo, ao mesmo tempo pessoas e rosas.

05 – Em toda a canção Caetano cita diversos personagens da música e da literatura. Escreva o nome de alguns.

      Luís de Camões, Fernando Pessoa, João Guimaraes Rosa, Carmem Miranda, Chico Buarque de Holanda, Arrigo Barnabé.

06 – Na expressão: “Nós canto-falamos como quem inveja negros”. Por que Caetano usa esta expressão?

      Ele metaforiza a fala dos brasileiros, incluindo-se por meio da marca linguística de primeira pessoa do plural “nós”.

07 – Que reflexão faz Caetano nessa canção?

      Reflete sua preocupação com o uso da língua, que deve ser feito a partir de cidadãos críticos, sabendo discernir o que é o bom uso, do que é mera cópia, e que por isso, não constrói sentidos.

08 – Em toda a canção Caetano faz menção a diversos personagens da música, da literatura, entre outros. Cite alguns.

·        Luís de Camões – poeta português.

·        Carmem Miranda – Cantora e atriz brasileira.

·        Fernando Pessoa – poeta, filósofo.

·        Guimarães Rosa – escritor, contista.

·        Chico Buarque de Holanda – músico, dramaturgo, escritor e ator.

·        Scarlet Moon – jornalista e atriz.

·        Glauco Mattoso – poeta, ficcionista.

·        Arrigo Barnabé – compositor.

·        Maria da Fé – poeta portuguesa.

09 – Leia as afirmativas abaixo sobre as ideias apresentadas no texto.

I – Em “Gosto de ser e de estar”, a ideia de plenitude, desejada pelo autor, é expressa com os verbos “ser” e “estar”, que implicam o aspecto do ser permanente e do ser transitório.

II – Utilizando a expressão “Fala Mangueira”, grito de guerra de uma escola de samba, o autor alude à ideia de que, sendo “pátria”, uma língua expressa os valores culturais de seu povo.

III – O verso “Lusamérica latim em pó” alude não só à pulverização do latim que deu origem às línguas latinas como a divisão-união de Portugal e Brasil.

IV – Os neologismos “mátria” e “fátria” disfarçam o sentimento de união que o autor pretende esteja envolvido na sua percepção de “língua”.

Está(ão) correta(s) apenas:

a)   I, II e III.

b)   I, III e IV.

c)   II e IV.

d)   II.

e)   III e IV.

10 – Os enunciados abaixo referem-se aos recursos utilizados na criação de língua.

I – Com os versos “E sei que a poesia está para a prosa / Assim como o amor está para a amizade”, o autor estabelece uma relação de proporcionalidade.

II – O autor incorpora à sua canção elementos relacionados à expressão sensorial, como “roçar”, “dores”, “cores”.

III – Nos versos “Gosto do Pessoa na pessoa / Da rosa no Rosa”, o autor utiliza o recurso da inversão.

IV – Nas expressões “confusões de prosódia”, “profusão de paródias” e “furtem cores como camaleões”, perpassa a ideia comum de “pluralidade”.

Estão corretas:

a)   I, II e III apenas.

b)   I e IV apenas.

c)   I, II, III e IV.

d)   II e IV.

e)   III e IV.

 


TEXTO: SEJA UM DESERTOR, ESSA GUERRA NÃO É SUA - FOLHA DE SÃO PAULO - COM GABARITO

Texto: Seja um desertor, essa guerra não é sua

           Folha de São Paulo          

            "Resolvi cuidar mais de mim"

    "Meus pais se separaram há dois anos, quando eu tinha 16. Durante sete anos, eles discutiram muito. A separação foi horrível. Ele não estava querendo falar o motivo, e minha mãe pressionou até ele revelar que era por causa de outra. Ai ela ficou louca, começou a jogar coisas nele e o mandou embora.

        Fiquei mal. Peguei minha mãe querendo se matar, tomando remédios Ele foi arrumar as malas e mandou eu ligar para os amigos da mamãe e para os parentes para pedir ajuda.

        Fiquei envergonhada de ligar para os outros, pedindo ajuda para cuidar da mamãe e das minhas duas irmãs menores.

        Só fui pensar em mim quando comecei a fazer terapia um ano depois. Não aguentava mais servir de muleta para minha mãe. Eu mesma estava tendo dificuldade de me reestruturar. No começo eu me sentia muito responsável por ela, mas agora resolvi me distanciar um pouco, cuidar mais de mim.

        Tenho muita carência afetiva e dificuldade de me relacionar. Tive muito ciúmes quando vi meu pai com a outra pela primeira vez. Comecei a chorar e fui embora. Mas nunca tomei partido, achava que eles é que tinham que decidir, apesar de as brigas estarem afetando muito a mim e as minhas irmãs.

        Acho que nesses momentos as pessoas não devem se fechar, precisam conversar muito, precisam de colo dos amigos para se localizar no meio da confusão toda. Terapia é fundamental. Outra coisa que aprendi é que você não pode deixar sua rotina se desmantelar, porque ela é importante para sair da confusão. Você encontra nos outros ambientes, na escola, por exemplo, uma forma de desabafar.

                                   (Juliana, 18 anos) Folha de São Paulo, 25/Agosto/1997.

                             Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 54-5.

Entendendo o texto:

01 – O que é um desertor?

      Aquele que desiste da guerra, da luta.

02 – Qual é a guerra mencionada no título?

      A guerra entre os pais de Juliana.

03 – “Seja um desertor, essa guerra não é sua”.

a)   Há duas orações no título. Identifique-as.

Seja um desertor. / Essa guerra não é sua.

b)   A primeira frase apresenta um verbo no imperativo. Qual a sua função?

Dar uma ordem, um conselho.

c)   Qual a relação entre as duas orações?

A segunda justifica o conselho dado na primeira.

d)   A quem se dirige a frase do título?

Ela se dirige a outros filhos de pais separados.

04 – Considere a atitude de Juliana diante da separação dos pais.

a)   No primeiro ano após a separação, ela se comportou como uma desertora? Por quê?

Não, pois assumiu o controle da casa e até passou a apoiar a mãe e as irmãs.

b)   Após começar a fazer terapia, a atitude de Juliana mudou. Por quê?

Porque passou a distanciar um pouco dos problemas e responsabilidades dos pais e passou a cuidar melhor de si mesma.

c)   Você acha que Juliana desertou da família depois de ter começado a fazer terapia? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal do aluno.

05 – Reescreva as frases a seguir, substituindo os trechos grifados sem alterar o sentido original do texto.

a)   “Meus pais se separaram há dois anos...”.

Faz dois anos.

b)   “... Até ele revelar que era por causa de outra”.

Tinha outra mulher / que tinha uma namorada.

c)   “... Aí ela ficou louca...”.

Então ela se descontrolou.

d)   “Fiquei mal”.

Fiquei deprimida.

e)   “Peguei minha mãe querendo se matar...”.

Flagrei, vi, surpreendi.

f)    “... precisam de colo dos amigos...”.

Precisam de ajuda / do carinho dos amigos.

06 – “Não aguentava mais servir de muleta para minha mãe”.

a)   Qual a função de uma muleta?

Dar apoio, sustentação.

b)   Considerando a resposta do item a, descreva a relação entre Juliana e sua mãe após a separação.

Juliana passou a dar apoio, sustentação para a mãe.

07 – Você conhece alguém que já tenha passado por uma situação semelhante à experimentada por Juliana? Conte como foi.

      Resposta pessoal do aluno.