domingo, 1 de março de 2020

REPORTAGEM: JOVEM LUTA DESDE OS 10 ANOS PARA SALVAR RIO - JAIR ACEITUNO - COM GABARITO


Reportagem: Jovem luta desde os 10 anos para salvar rio
                 
  Campanha levou rapaz de 18 anos e seu grupo a criar viveiro com plantas da região do Batalha

                       Jair Aceituno – Especial para o Estado

        Bauru – Aos 10 anos de idade, Rodrigo Antônio Agostinho fez um trabalho escolar sobre o rio Batalha, afluente do Tietê que banha 12 municípios da região central do Estado e fornece mais da metade da água usada no abastecimento de Bauru. Ali começaria sua luta ecológica: ao verificar a realidade do rio, passou a se preocupar com as questões ambientais.
        Com 14 anos foi à Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a ECO-92, no Rio. Voltando a Bauru, dedicou-se ao trabalho de salvar o rio. Com os amigos, produziu e plantou nas margens do Batalha 6 mil mudas de árvores nativas, denunciou empresas que desrespeitavam o meio ambiente e hoje prepara uma série de ações locais e regionais.
        Rodrigo e os amigos fizeram diversas expedições pelos 220 quilômetros do rio Batalha e encontraram os primeiros 30 quilômetros totalmente devastados, mas também recolheram sementes de 50 espécies de plantas nativas do vale, um misto de cerrado e Mata Atlântica, e criaram um viveiro em terreno emprestado por um dos donos da área.
        Assim que o prefeito Tidei de Lima (PMDB) assumiu o cargo, o trabalho e o “diagnóstico” do rio lhe foram apresentados. Rodrigo, então, foi convidado a colaborar com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Dessa parceria surgiram outros trabalhos e diferentes entidades foram reunidas num fórum permanente de preservação do Batalha.
        O viveiro de Rodrigo foi transferido para o Jardim Botânico e hoje conta com 150 espécies nativas do Batalha: “O trabalho pelo rio é importante e, se não tiver continuidade, em breve Bauru não poderá mais contar com a água do Batalha”.
        Rodrigo e seu grupo, integrado por professores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e representantes de diversos setores, colaboram com o Greenpeace nos últimos anos, identificando empresas locais de acumuladores automotivos que adquiriam lixo tóxico do Exterior e lançavam o material não-reciclável em áreas da periferia. Com kits do programa Observando o Tietê, o grupo também esteve em Barra Bonita, onde descobriu que os peixes estavam morrendo em consequência de despejos da Usina Dabarra.
        Filho de uma advogada e de um comerciante, Rodrigo é o primeiro ecologista da família. Hoje com 18 anos, acaba de entrar para o curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e diz que escolheu essa área porque é por meio das leis que se promove eficazmente a defesa ambiental.
        Para ter força legal, com seu grupo ele fundou no ano passado o Instituto Ambiental Vidágua, uma organização não-governamental (ONG), que começou com 10 e hoje já possui mais de 50 participantes.
                                          O Estado de São Paulo, 14 abr. 1996.
                                            Fonte: Português – Linguagem & Participação, 5ª Série- MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1999, p.95-7.
Entendendo a Reportagem:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·  Ecológica – Relativo a ecologia, parte da biologia que estuda as relações entre os seres vivos e o meio ambiente em que vivem.

·        Ambientais – Do ambiente em que vivemos.

·        Expedição – Viagem com um objetivo.

·        Diagnóstico – Conjunto de dados em que se baseia a determinação de um programa ou de uma doença por sintomas ou exames diversos.

·        Fórum – Lugar de debate.

·  Acumuladores automotivos – Baterias, aparelhos que guardam energia elétrica, feitos de chumbo.

·        Não-reciclável – Que não pode ser reaproveitado.

·        Eficazmente – Que produz bons resultados; de modo eficaz.

02 – Por que Rodrigo se tornou uma pessoa importante e mereceu uma reportagem no jornal?
      Porque ele desenvolveu diversos trabalhos para combater a poluição do rio Batalha.  

03 – Qual é a importância do rio Batalha para a comunidade de Bauru?
      O rio Batalha fornece mais da metade da água consumida no município de Bauru.

04 – O que levou Rodrigo a se interessar pelo rio? Que idade tinha?
      Um trabalho escolar. Ele tinha dez anos.

05 – Quais foram os primeiros “passos” de Rodrigo nessa luta?
      O cultivo de 6 mil mudas de árvores nativas e a denúncia de que empresas desrespeitavam o meio ambiente.

06 – Como é a vegetação do vale do rio Batalha?
      A vegetação do vale do rio Batalha é um misto de cerrado e Mata Atlântica.

07 – Quais fôramos resultados práticos do trabalho de Rodrigo?
      A criação de um viveiro de plantas, além de chamar a atenção da comunidade para os problemas da região.

08 – Por que Rodrigo escolheu a carreira de advogado?
      Ele acredita que por meio de leis pode-se promover eficazmente a defesa ambiental.

09 – Na sua opinião, pessoas como Rodrigo existem de verdade? Você conhece alguém que tenha atitudes parecidas com as dele?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim, e a maior prova disso é a matéria publicada no jornal.

10 – Em sua cidade, quais são as fontes de poluição existentes?
      Resposta pessoal do aluno.

TEXTO: SURPRESA NO AR - LUIZ GALDINO - COM GABARITO

Texto: Surpresa no ar
        
                             Luiz Galdino

     A mulher batia de tal forma o ferro contra a peça de roupa, que o filho não conseguia se concentrar na lição de casa. Geninho afastou a vista do caderno e ficou observando: os lábios comprimidos, a boca riscada de pequenas rugas verticais não deixavam dúvida: a mãe estava prestes a estourar:
    - Já terminou a lição? – perguntou ela, pressentindo o olhar do filho.
        - Não... Ainda não.
        - Que está esperando?
        O garoto ajustou a caneta entre os dedos e voltou a examinar as questões. Entretanto, por mais que se esforçasse, a página do caderno permanecia em branco. Não conseguiria preenche-la sem ajuda.
        O problema da mãe era outro.
        - Parece castigo! – reclamou ela, cheirando uma camisa. – Quanto mais lavo, mais cheira!
        No seu canto, Geninho adivinhava que logo sobraria para o pai. E não demorou a ouvir a confirmação:
        - Eu juro que não entendo! O Eugênio trabalha feito um cavalo e não consegue tirar a gente desse buraco!
        - Ele disse que a situação está difícil... – defendeu o garoto.
        - É... Seu pai fala... E enquanto ele fala, os vizinhos progridem! – retrucou ela, batendo na calça.
        - Ele não se anima porque sabe que a senhora não gosta daqui.
       - Não gosto mesmo! Tão perto de São Paulo, de São Bernardo, e a gente tinha que vir parar num buraco desses, onde o sol aparece uma vez por semana?!
        Na cabeça da mãe, o pai se transformava em culpado até pelos dias de inverno. E se no verão os dias fossem muito quentes, ela o culparia também.
        - O Eugênio não tem ambição. E quem não tem ambição não consegue nada! Como não ouvisse resposta, prosseguiu:
       - Vá lá fora e veja. Quero cair durinha se ele não estiver com o cigarrinho entre os dedos e a cabeça na lua!
        Geninho riu e aproveitou a sugestão para abandonar a tarefa. A caminho da porta pensou no quanto os dois se conheciam. E concordava com a imagem. O pai estaria sentado na banqueta de tronco, com o cigarro entre os dedos, o olhar perdido na direção da mata serrana ou tentando descobrir uma estrela entre a névoa úmida.
         Desta vez, porém, a vida pregou-lhe uma peça. Assim que botou os pés fora de casa, percebeu o engano. A surpresa não poderia ser maior.
         Parado no meio do quintal, o pai olhava para o alto. Entretanto não era uma estrela que ele observava, nem a lua. Sobre sua cabeça, a uma altura pouco superior à do telhado, oscilava levemente o estranho objeto luminoso.
         - Pai, o que é isso? – interrogou Geninho, admirado, agarrando-o pela cintura.
         - Quieto filho... Fique quieto...
         Colado ao corpo do pai, Geninho levantou a vista até o ponto onde o objeto flutuava. O coração batia como um tambor e o corpo tremia de cima a baixo. A curiosidade, porém, venceu. Jamais havia visto algo semelhante. A parte inferior do objeto tinha a forma de uma bacia reluzente; e, em volta, luzes coloridas vermelhas, alaranjadas e amarelas, piscavam sem parar.
          - Pai, isso aí... Isso aí parece...
          - Não diga nada, Geninho.
          Ouviram, então, um zunido surdo, pouco mais que a vibração de um elástico distendido ou um zunzum de colmeia. Ao mesmo tempo as luzes coloridas começavam a piscar mais rápido, transformando-se num facho muito claro e brilhante.
           O objeto subiu verticalmente uns poucos metros, sem qualquer ruído que indicasse deslocamento. Em seguida, vibrou, como se fosse arrebentar em mil estilhaços, e desapareceu numa velocidade louca, raspando as árvores da Serra do Mar.
(A vida secreta de Jonas. São Paulo, Ática, 1989. p.9-10)
Fonte: Português – Linguagem & Participação, 5ª Série- MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1999, p.49-51.
VOCABULÁRIO
comprimidoapertado                                   oscilarbalançar
vertical         - em linha reta                             reluzenteque brilha
pressentir    - adivinhar                                 distendido esticado
progredir      - avançar                                   
facho  - raios de luz emitidos por uma lanterna
retrucar responder
serrana da serra
estilhaço pequeno pedaço de objeto despedaçado

ESTUDO DO TEXTO

1)   Identifique os cenários em que transcorrem os fatos.
a)   No início do texto onde estão as personagens?
O menino e a mãe estão dentro de casa. O pai está lá fora, no quintal.

b)   Há uma fala da mãe que nos permite perceber em que estado do país eles vivem. Localize esse trecho.
“Tão perto de São Paulo, de São Bernardo, e a gente tinha que vir parar num buraco desses...”

2)   Considerando os diferentes lugares onde estão o pai e a mãe de Geninho, bem como as declarações da mãe, o que se pode concluir sobre o relacionamento do casal?
O afastamento do pai e da mãe, aliado às queixas reveladas por ela, levam-nos a concluir que o relacionamento do casal não era bom.

3)   Vamos analisar um pouco mais as personagens de Surpresa no ar:
a)   Que características você percebeu no texto sobre a personalidade do pai de Geninho? Justifique sua resposta com elementos do texto.
Segundo a mãe, ele era um homem sem ambição, que tinha a “cabeça na lua”. De acordo com o narrador, o pai de Geninho era um sonhador.

b)   Que características da mãe de Geninho são reveladas nas seguintes falas:
·        “É... Seu pai fala... E enquanto ele fala, os vizinhos progridem!”
A mãe é revoltada e sente inveja das condições dos vizinhos.

·        “Já terminou a lição? – perguntou ela, pressentindo o olhar do filho.”
Naquele momento ela não estava preocupada com o filho, e sim com a própria mágoa.

·        Como você acha que Geninho se sentia em relação aos pais? Justifique sua resposta com trechos do texto.
Resposta pessoal.

4)   Na sua opinião, a mãe está certa em atribuir a culpa da situação da família ao pai? Faça um comentário a respeito.
Resposta pessoal.

    5)O texto apresenta dois momentos distintos, o que nos permite dividi-lo em duas partes. Identifique-as.
A primeira parte fala do conflito da mãe em relação ao pai, das dificuldades do dia-a-dia. A segunda parte apresenta um fato extraordinário surge um óvni no céu.

     6)Você  vê alguma relação entre a visão do estranho objeto luminoso e a personalidade de quem o viu?
Um sonhador consegue acreditar mais rapidamente num objeto estranho.

7)Qual é a sua opinião sobre a existência de vida em outros planetas? Faça um comentário a respeito.
Resposta pessoal.

FILME(ATIVIDADES): KIRIKOU E A FEITICEIRA - MICHEL OCELOT - COM QUESTÕES GABARITADAS

Filme(ATIVIDADES): KIRIKOU E A FEITICEIRA

Data de lançamento: 1999 (1h 10min)
Direção: Michel Ocelot
Elenco: atores desconhecidos
Gênero: Animação
Nacionalidade: França

SINOPSE E DETALHES

        Na África Ocidental nasce um menino minúsculo, cujo tamanho não alcança nem o joelho de um adulto, que tem um destino: enfrentar a poderosa e malvada feiticeira Karabá, que secou a fonte d'água da aldeia de Kirikou, engoliu todos os homens que foram enfrentá-la e ainda pegou todo o ouro que tinham. Para isso, Kirikou enfrenta muitos perigos e se aventura por lugares onde somente pessoas pequeninas poderiam entrar.

Entendendo o filme:

01 – Kirikou a todo momento quer saber:
a)   Como destruir Karabá.
b)   Porque Karabá é malvada.
c)   Onde está o ouro que Karabá tomou da aldeia.

02 – Por que Karabá não quer que ninguém vá ao sábio da montanha?
a)   Porque ele é mais poderoso que ela.
b)   Porque ele ilude as pessoas.
c)   Porque ele diz a verdade.

03 – O grande cupinzeiro é a porta de entrada da montanha proibida, para quem ele se abre?
a)   Para quem for digno.
b)   Quem disser as palavras mágicas.
c)   Somente para Karabá.

04 – O sábio diz que Kirikou só pode enfrentar Karabá:
a)   Com um talismã.
b)   Quando crescer.
c)   Com inteligência.

05 – O velho contador de histórias da Aldeia é:
a)   Medroso.
b)   Sábio.
c)   Corajoso.

06 – O sábio diz a Kirikou que Karabá é malvada:
a)   Porque só pensa em ouro.
b)   Porque está sofrendo.
c)   Pelo prazer da maldade.

07 – Quantas vezes Kirikou salvou as crianças?
a)   3.
b)   2.
c)   1.
08 – Kirikou vai até a montanha proibida com a ajuda:
a)   Do tio.
b)   Das crianças.
c)   Da mãe.

09 – Os valores: Amor, Verdade, Generosidade, Tolerância, Paciência e Determinação. Em que situações aparecem no filme?
·        Amor: No final do filme quando o feitiço é desfeito, todos os homens voltam para suas famílias.

·        Verdade: O sábio diz a Kirikou a verdade sobre a feiticeira.

·        Generosidade: Quando Kirikou tira o espinho das costas da feiticeira.

·        Tolerância: Quando Kirikou salvou as crianças duas vezes, mesmo sem elas acreditarem nele.

·        Paciência: Kirikou teve muita paciência para chegar até a montanha.

·        Determinação: No momento em que ele entrou no cano para devolver a água ao seu povoado e quando decidiu ir a montanha falar com o sábio (seu avô).



quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

POEMA: OS POEMAS - MÁRIO QUINTANA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: Os poemas


Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fecham o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

                                                                        Mário Quintana.
Entendendo o poema:

01 – O texto é todo construído por meio do emprego de uma figura de estilo. Qual é ela? Justifique sua resposta:
      Metáfora. É um tipo de comparação em que o conectivo está subentendido.

02 – A que tipo textual pertence o poema?    
      Ao tipo textual  descrição.

03 – Qual a função da linguagem predominante no poema? Por quê?
      Função poética. Porque caracteriza pela preocupação com o modo utilizado para transmitir a mensagem.

04 – Ilustre o poema que você acabou de ler, caprichando!
      Resposta pessoal do aluno.

05 – Transcreva do texto um exemplo de metáfora, aproveitando para diferenciá-la de comparação (transcrevendo uma, se houver no texto):
      “Quando fecham o livro, eles alçam voo”. A principal diferenciação entre a comparação e a metáfora é a presença dos nexos comparativos.

06 – Você tem atualmente servido muito de alimento para os pássaros-poema? Justifique sua resposta:
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Que mensagem podemos extrair após a leitura desse texto?
      O poeta usa a metalinguagem, através da metáfora para explicar como se inspira para fazer um poema.

08 – Você concorda com a ideia do autor? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

09 – Observando os três últimos versos do poema, um dos efeitos da compreensão da leitura é:
(  ) alimentar o leitor com novas perspectivas e opções;
(  ) revelar ao leitor suas próprias sensações e pensamentos;
(  ) transformar o leitor em uma pessoa melhor e mais consciente;
(X) deixar o leitor maravilhado com a beleza e o encantamento do poema.

10 – Em "Eles não têm pouso nem porto" podemos ler como uma pressuposição do autor sobre o texto literário e que está ligada ao fato de que tal obra literária, como texto público, apresenta o seguinte traço:
(X) é aberta a várias leituras;
(  ) provoca desejo de transformação;
(  ) integra experiências de contestação;
(  ) expressa sentimentos contraditórios;


CRÔNICA: O VASSOUREIRO - RUBEM BRAGA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: O VASSOUREIRO
          
                  Rubem Braga

        Em um piano distante alguém estuda uma lição lenta, em notas graves. De muito longe, de outra esquina, vem também o som de um realejo. Conheço o velha que o toca, ele anda sempre pelo meu bairro; já fez o periquito tirar para mim um papelucho em que são garantidos 93 anos de vida, muita riqueza, poder e felicidade.
        Ora, não preciso de tanto. Nem de tanta vida, nem de tanta coisa mais. Dinheiro apenas para não ter as aflições da pobreza; poder somente para mandar um pouco, pelo menos, em meu nariz; e da felicidade um salário mínimo tristezas que possa aguentar, remorsos que não doam demais, renúncias que não façam de mim um velho amargo. 
        Joguei uma prata da janela, e o periquito do realejo me fez um ancião poderoso, feliz e rico. De rebarba me concedeu 14 filhos, tarefa e honra que me assustam um pouco. Mas os periquitos são muito exagerados, e o costume de ouvir o dia inteiro trechos de Óperas não lhes fazer bem à cabeça. Os papagaios são mais objetivos e prudentes e só se animam a afirmar uma coisa depois que a ouvem repetidas. 
        Chiquita, a pequenina jabota, passeia a casa inteira, erguendo certa graça o casco pesado sobre as quatro patinhas tortas, e espicha encolhendo o pescoço curioso, tímido e feio. Nunca diz nada, o que é pena, pois deve ter uma visão muito particular das coisas. 
        Agora não se ouve mais no realejo; o piano recomeça a tocar. Sons soltos, e indecisos, teimosos e tristes, de uma lição elementar quer, têm uma grave monotonia. Deus sabe por que acordei hoje tendência a filosofia de bairro; mas agora me ocorre que a vida de gente parece um pouco essa lição de piano. Nunca chega a formar a de uma certa melodia. Começa a esboçar, com os pontos soltos de alguns sons, a curva de uma frase musical; mas logo se detém, e volta, e se numa incoerência monótona. Não tem ritmo nem cadência sensíveis. Quem a vive, essa vida deve ser penosa e triste como o esforço dessa jovem pianista do bairro, que talvez preferisse ir à praia, mas tem de ficar no piano. Na verdade eu é que estou pensando em ir à praia, eu é que preso ao teclado de máquina. Espero que esta crônica, tão cansativa enjoada para mim, possa parecer ao leitor de longe como essa lição piano me parece no meio da manhã clara: alguma coisa monótona e sem sentido, ou às vezes meio desentoada, mas suave. 
        Passa o vassoureiro. É grande, grosso e tem bigodes grossos com todos os de seu ofício. Aos 50 anos darei um bom vassoureiro de barro. De todos os pregões, o seu é o mais fácil: “Vassoura... vassoureiro. E convém fazer a voz um tanto cava. Ele me parece digno, levando entre cruzadas sobre os ombros, numa composição equilibrada e sábia, tantas vassouras, espanadores e cestos. Seu andar é lento, sua voz é grave, presença torna a rua mais solene. É um homem útil. 
        Não ousaria dizer o mesmo de mim mesmo; mas, enfim, já trabalhei já cumpri o meu dever, como o velho do realejo e a mocinha do piano vagamente acho que mereço ir à praia.
Abril, 1949
                                                      Rubem Braga
Entendendo a crônica:
01 – Assinale a figura de linguagem que perpassa o texto e que pode ser observada de modo mais explícito nos dois últimos parágrafos:
a)   Hipérbole.
b)   Antítese.
c)   Gradação.
d)   Metonímia.
e)   Ironia.

02 – Leia as afirmativas a seguir, feitas a respeito de fenômenos sintáticos e linguísticos do texto de Rubem Braga:
I – O primeiro período (que começa com “Em um piano”) é simples e, por desconhecer a identidade de quem pratica a ação, o cronista emprega um pronome indefinido.
II – No período seguinte, a expressão “o som de um realejo” exerce a função sintática do objeto direto.
III – Ao dizer que precisa apenas de um salário mínimo de felicidade, o cronista está empregando uma metáfora.
IV – No último parágrafo, a fim de expressar seu espanto e admiração, o autor empregou e escreveu de modo correto a interjeição “OH!”.

Assinale a alternativa CORRETA:
a)   Somente as afirmações I, II e III estão corretas.
b)   Somente aas afirmativas I, II e IV estão corretas.
c)   Somente as afirmativas I, III e IV estão corretas.
d)   Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas.
e)   Todas as afirmativas estão corretas.

03 – Descreva o lugar onde ocorreu o fato. Confirme com trechos da crônica.
      De uma janela.
      “... joguei uma prata da janela...”.

04 – A partir de que parágrafo o autor menciona o acontecimento que derivou esta crônica?
      Desde o primeiro parágrafo.

05 – Em que pessoa verbal o narrador conta o fato?
      Em primeira pessoa do singular. “...joguei...”.

06 – Quem são os personagens do fato narrado?
      A mocinha do piano, o velho do realejo, Chiquita (a jabota), o vassoureiro e o autor.

07 – Existe uma relação entre a situação vivida pelas personagens da crônica e a de nosso dia-a-dia? Justifique.
      Resposta pessoal do aluno.

08 – Quais características pertinente ao gênero crônica podemos encontrar neste texto?
      Personagem – narrador – espaço – tempo limitado – um fato – ações.

09 – No texto estudado predomina a ação ou a reflexão? Comente.
      Predomina a ação. Vários fatos aconteceram enquanto o narrador estava na janela.

10 – Qual é o foco narrativo?
      O foco é o narrador-personagem, pois usa a primeira pessoa e participa dos fatos.