terça-feira, 19 de novembro de 2019

CRÔNICA: RITINHA DOS SONHOS DOS OUTROS - HARDY GUEDES - COM GABARITO

CRÔNICA: Ritinha dos sonhos dos outros
                     Hardy Guedes

        Quando Ritinha tinha 8 anos, sua madrinha perguntou:
        -- O que é que você vai ser quando crescer, Ritinha?
        -- Não sei ainda, Dindinha!
        -- Eu acho que você devia ser professora. Já imaginou, você ensinando uma porção de crianças a ler e escrever?
        -- É, Dindinha! Acho que vou ser professora.
        -- Depois, isso é que é profissão boa para uma moça.
        A partir desse dia, toda vez que alguém perguntava a Ritinha o que ela ia ser quando crescesse, ela respondia:
        -- Vou ser professora! A Dindinha falou que é bom.
        Mas a tia Vilma, que era professora, quando ouviu a Ritinha dizendo isso, falou:
        -- Eu acho que a sua Dindinha não sabe o que diz. Isso lá é conselho que se dê? Olhe só para a sua tia. Eu sou professora. Sou obrigada a aturar um bando de desordeiros, tenho sempre um montão de cadernos para corrigir, carrego um peso danado e, no fim do mês, ganho uma miséria. Se eu fosse você, Ritinha, ia ser artista de teatro ou de televisão.
        -- Ser artista é bom, titia?
        -- Bom, não, é ótimo! Viaja para diversos lugares, fica famosa, ganha muito dinheiro.
        -- Então, vou ser artista.
        Um dia, o pai de Ritinha pegou a menina em frente ao espelho, fazendo poses e trejeitos, usando pintura.
        -- O que é que você está fazendo, menina?
        -- Estou treinando para ser artista!
        -- E eu, por acaso, quero filha artista?
        -- A tia Vilma disse que é legal.
        -- Legal, que nada! Artista não tem paradeiro. É igual a cigano. Além do que, todo artista é malfalado. Trate de tirar essa pintura do rosto e essas ideias da cabeça.
        -- O que é que eu vou ser então?
        -- Dona de casa. Quando você crescer o bastante, vai aparecer um bom rapaz na sua vida. Você vai se casar, ter filhos e cuidar da sua casa, que é o lugar certo para a mulher.
        -- Então é isso que eu vou ser: uma boa dona de casa!
        Ritinha foi pra cozinha e começou a mexer nas panelas.
        -- Ritinha! Saia já daí! Quer se queimar?
        -- Foi o papai que mandou, mamãe. Ele quer que eu seja uma dona de casa, igualzinha à senhora.
        -- E isso lá é vida que se deseje pra alguém? A mulher, hoje em dia, tem que ser independente. Trabalhar fora, ter a sua profissão, ganhar o seu próprio dinheiro... Se eu fosse você, ia ser tudo, menos dona de casa. Olhe só para as minhas mãos! Estão ásperas de tanto lavar roupa, lavar louça...
        Ritinha se sentia perdida. Cada pessoa queria que ela fosse algo que as outras não queriam. O que fazer? A quem agradar?
        Ritinha foi ficando triste, muito triste. Sempre pensativa.
        Um dia, o vô Almir notou a sua inquietação.
        -- O que é que você tem, Ritinha?
        -- Ai, vô! Não sei o que faço da vida...
        -- Por que, queridinha?
        -- A Dindinha quer que eu seja professora! A tia Vilma quer que eu seja artista. O pai não pode nem ouvir falar nisso. Quer que eu seja dona de casa. A mãe só reclama da vida de dona de casa...
        -- E o que é que você quer ser?
        -- Agora é que eu não sei mesmo, vô.
        -- Ritinha, você é muito nova ainda para se preocupar com essas coisas. Não ligue para o que as pessoas falam ou querem. Você tem tempo para escolher.
                                                 Hardy Guedes.
Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 5ª Série - Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 109-12.
Entendendo o texto:

01 – O narrador é também personagem? Justifique.
      Não. O narrador apenas conta o fato. Ele não participa da história.

02 – “-- Depois, isso é que é profissão boa para uma moça.”
a)   Substitua a palavra boa por uma palavra ou expressão sem alterar o sentido do texto.
Adequada, ideal.

b)   Houve um tempo em que as mulheres não podiam sequer sonhar em ser médicas, engenheiras, arqueólogas, motoristas de táxi, etc. Essa ideia ainda é válida hoje? Justifique sua resposta.
Não. Esse conceito já está ultrapassado.

03 – “Já imaginou, você ensinando uma porção de crianças a ler e escrever?”.
a)   Saber ler e escrever é importante para as pessoas? Justifique sua resposta.
Sim. Porque permite a comunicação pela linguagem escrita e o acesso a inúmeras informações.

b)   O comentário da madrinha de Ritinha leva a crer que ser professor é bom ou ruim?
Leva a crer que é bom.

04 – “Eu sou professora. Sou obrigada a aturar um bando de desordeiros, tenho sempre um montão de cadernos para corrigir, carrego um peso danado e, no fim do mês, ganho uma miséria.”

a)   Qual o significado de desordeiro?
Aquele que aprecia ou cria a desordem.

b)   Todos os alunos são desordeiros? Tome como base você mesmo e a sua sala de aula.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: nem todos os alunos são desordeiros.

c)   Com base nas respostas do exercício 2, responda: O texto mostra aspectos positivos ou negativos da profissão de professor?
De acordo com o texto, ele mostra tanto aspectos positivos e negativos da profissão. 

05 – Segundo o texto, a tia Vilma é professora, não é artista. Mas ela demonstra ter uma opinião formada sobre os artistas.
a)   Qual a opinião de tia Vilma sobre a vida de artista?
Ela acha que é uma vida boa, em que há muitas viagens, fama e dinheiro.

b)   Tia Vilma diz que, se fosse Ritinha, ia ser artista. O que podemos concluir dessa afirmação?
Podemos concluir que ser artista é o sonho de tia Vilma.

06 – O pai de Ritinha não concorda com a opinião de tia Vilma. Compare as opiniões dos dois.
·        Tia Vilma: artistas viajam muito, artistas são famosos.
·        Pai de Ritinha: artistas não têm paradeiro, artistas são malfalados.

     Observe que viajar muito é considerado bom por tia Vilma e ruim pelo pai de Ritinha. Ser uma pessoa conhecida é considerado bom por tia Vilma. Já o pai de Ritinha acha que de um artista só se pode falar mal.

a)   O que podemos concluir então sobre a profissão de artista?
Que ela pode ser boa para alguns, mas é ruim para outras.

b)   A conclusão do item a vale para outras profissões?
Sim.

07 – O pai de Ritinha sugere que ela se torne uma dona de casa. Essa sugestão pode ser comparada à sugestão de Dindinha de duas maneiras. Identifique-as:
a)   Em relação ao papel da mulher na sociedade.
Tanto a Dindinha quanto o pai de Ritinha têm opiniões ultrapassadas sobre o papel da mulher na sociedade.

b)   Em relação à opção profissional sugerida.
Assim como a Dindinha não conhece a vida de professora, o pai de Ritinha nunca esteve no papel de dona de casa.

08 – A atitude da mãe de Ritinha é semelhante à atitude de tia Vilma. O que as duas mulheres têm em comum?
      Ambas estão insatisfeitas com suas vidas.

09 – Por que cada personagem oferece um sonho para Ritinha?
      Porque cada uma oferece à menina o seu próprio sonho.

10 – Considerando-se as respostas do exercício 6, responda: Por que o sonho de uma personagem não agrada à outra?
      Porque cada um tem uma maneira diferente de ver a vida.

11 – O título, “Ritinha dos sonhos dos outros”, parece ser coerente com o texto? Justifique sua resposta.
      Sim, pois durante a narrativa cada personagem fala sobre o sonho que tinha para si mesma e que tenta transferir para Ritinha.


terça-feira, 12 de novembro de 2019

POEMA: É PRECISO FAZER SINAL AO MOTORISTA - JOSÉ PAULO PAES - COM GABARITO

Poema: É preciso fazer sinal ao motorista
              José Paulo Paes

A senhora esperava o ônibus.
O senhor esperava o ônibus.
Passa um cachorro preto que manca.
A senhora fica olhando o cachorro.
O senhor fica olhando o cachorro.
Nesse meio tempo o ônibus passou.

José Paulo Paes. Seleção e tradução. Ri melhor quem ri primeiro – poemas para crianças (e adultos) inteligentes. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1998. p. 46.
Fonte: Livro- PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 6ª Série – Atual Editora -2002 – p. 91.
Entendendo o poema:

01 – No ponto de ônibus, duas pessoas esperam o ônibus.
a)   Que fato chama a atenção dessas pessoas e as distrai?
O fato de passar um cachorro preto mancando.

b)   Por que o título desse poema também poderia ser sua conclusão?
Porque é uma espécie de explicação do que aconteceu: as pessoas ficaram olhando o cachorro e se esqueceram de dar o sinal para o motorista do ônibus.

02 – Na oração: “A senhora esperava o ônibus”, o verbo está no singular. Como ficaria o verbo nas construções a seguir?
a)   A senhora e o senhor (esperar) o ônibus. (Esperavam).

b)   Os senhores (esperar) o ônibus. (Esperavam).

03 – As orações geralmente apresentam dois elementos essenciais: um que informa de quem ou do que se fala, chamado sujeito; e outro que apresenta informações sobre o ser de que se fala, chamado predicado. Na oração “O senhor esperava o ônibus”.

a)   A respeito de quem se fala alguma coisa?
A respeito de o senhor.

b)   Que parte dessa oração informa algo sobre esse ser?
Esperava o ônibus.

04 – O sujeito apresenta como núcleo (palavra mais significativa, mais importante) um substantivo ou um pronome ou uma palavra substantivada. Já o predicado sempre apresenta verbo, que geralmente é seu núcleo. Em “O senhor esperava o ônibus”:

a)   Qual é o núcleo do sujeito?
Senhor.

b)   Qual é o núcleo do predicado?
Esperava.


HISTÓRIA EM QUADRINHOS - PALAVRAS COM S QUE TÊM SOM DE Z - COM GABARITO


Palavras com S que têm som de Z (tirinha)

01 – No 2º quadrinho, ao dizer que o homem que passou está em fase terminal da vida, o que o leitor pensa que vai acontecer com esse homem?
      Pensa que ele está com uma doença terminal e vai morrer.

02 – O 3º quadrinho é responsável pelo humor do texto, pois nele o leitor descobre do que se trata a fase terminal da vida do homem. O que de fato aconteceria com ele?
      Ele vai se casar.

03 – Pela tirinha, que visão os dois personagens sentados no bar têm do casamento?
      Que o casamento é o fim da vida.

04 – As palavras FASE e CASAR são escritas com S, mas têm som de Z. Descubra as palavras a seguir que também se escrevem assim, seguindo as pistas:
a) Língua falada no Brasil e em Portugal: PORTUGUESA.
b) Percepção do mundo exterior pelos olhos: VIO.
c) Ato de ir ver alguém por cortesia ou obrigação: VISITA.
d) Casa de detenção, penitenciária: PRESÍDIO.
e) Gasto: DESPESA.
f) Separar, afastar do convívio social: ISOLAR.
g) Acontecimento trágico: DESASTRE.
h) Fase crítica de uma situação ou doença; momento de desequilíbrio emocional: CRISE.
i) Quem tem medo de tudo: MEDROSO.
j) Membro superior das aves que permite que elas voem: ASA.
k) Lugar muito belo e agradável: PARAÍSO.
l) Destruir, danificar; fazer muito sucesso: ARRASAR.



HISTÓRIA EM QUADRINHOS - PRONOMES OBLÍQUOS - COM GABARITO


Pronomes Oblíquos



01 – A mulher diz a sua amiga que o marido e sua mãe estão se dando bem, porque estão brincando juntos, mas isso não é verdade. Por quê?
      Porque ele enterrou a sogra e escreveu "Aqui jaz anaconda", chamando-a de cobra.

02 – Essa tirinha é atual. Como é possível saber disso?
      Porque ele fala que a foto vai para o Facebook.

03 – Na fala da mulher, em: “Ele tá brincando de enterrá-la na areia!!!”, o pronome destacado refere-se a que palavra dita anteriormente por ela?
      Mamãe.

04 – Identifique a que palavra se referem os pronomes em destaque a seguir:
a)   Minha amiga ligou e estou saindo para ajudá-la.
b)   Perdi meu celular, você me ajuda a encontrá-lo?
c)   Marina está chorando porque cortaram-na da peça.
d)   Já terminei de ler seu livro, vou deixá-lo na sua casa.
e)   O garoto está chorando porque o acusaram de um crime.
f)    Você viu minhas chaves? Tinha certeza de que as esqueci aqui.
g)   Deixei meus livros na sua mesa. Não os jogue fora.
h)   Pedro está apaixonado por Laura. Ele vai pedi-la em casamento.
i)     Entrou uma barata no meu quarto. Ajude-me a matá-la.


CRÔNICA: QUAL DESTES É SEU PAI? MOACYR SCLIAR - COM GABARITO

Crônica: Qual destes é seu pai?
               Moacyr Scliar

        Lamento dizer, meu filho, mas não sou nenhum desses.
   Não sou, por exemplo, o Superman. Não consigo sair por aí voando, embora muitas vezes tenha vontade de fazê-lo; tenho de me mover no atrapalhado trânsito desta cidade num modesto Gol, com a esperança de não chamar a atenção dos assaltantes nem de ficar na rua com o pneu furado. Também não tenho, como o Superman, a visão de Raio-X; mal consigo ler, com muita dificuldade e incredulidade, as notícias que aparecem diariamente nos jornais e que nos falam de um mundo convulsionado e de um país perplexo.
        Não sou o Homem Invisível. Não consigo passar despercebido; tenho que ocupar o meu lugar na sociedade, goste dele ou não.
       Não sou o He-Man. Não tenho a Força; pelo menos não aquela força. Tenho uma pequena força, o suficiente para garantir o pão nosso de cada dia, e mesmo alguma manteiga, o que não é pouco, neste país em que muita gente morre de fome.
       Não sou o Rambo; não tenho aquela formidável musculatura, nem as armas incríveis, nem o feroz ódio contra os inimigos (aliás, quem são os inimigos?). Não sou o Tio Patinhas, não sou um Transformer, não sou o Príncipe Valente. Não sou o Rei Arthur, nem Merlin, o Mago, nem Fred Astaire. O que sou então?
        Sou o que são todos os pais. Homens absolutamente comuns, a quem um filho transforma de repente (porque os pais são criados pelos filhos, assim como os filhos são criados pelos pais: a criança é o pai do homem). Homens comuns que levantam de manhã e vão trabalhar. Homens que se angustiam com as prestações a pagar, com os preços do supermercado, com as coisas que estão sempre estragando em casa. Homens que de vez em quando jogam futebol, que às vezes fazem churrasco, que ocasionalmente vão a um teatro ou a um concerto. Destes homens é que são feitos os pais.
        Quando os filhos precisam, estes homens se transformam. Se o filho está doente, se o filho está com fome, se o filho precisa de roupa - estes homens adquirem a força do He-Man, a velocidade do Superman, os poderes mágicos de Merlin. Mas a verdade é que isto não dura sempre, e também nem sempre resolve. A inflação, por exemplo, nocauteia qualquer pai.
        Não, filhos, não somos os seres poderosos que vocês gostariam que fôssemos. Mas somos os pais de vocês, que um dia serão pais como nós. Os heróis são eternos. Os pais não. E é nisso que está a sua força.

                Moacyr Scliar. Um país chamado infância. São Paulo: Ática, 1995. p. 76-7.
Fonte: Livro- PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 6ª Série – Atual Editora -2002 – p. 51-3.
Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Incredulidade: descrença.
·        Perplexo: estupefato, admirado.

02 – Os estudiosos das histórias em quadrinhos afirmam que a invenção dos heróis está relacionada com as necessidades do ser humano em certas épocas. Sentindo-se fraco, deprimido, impotente, ele cria na ficção um super-herói, capaz de realizar tudo aquilo que deseja fazer. No texto, o narrador cita alguns dos super-heróis mais famosos; veja o que distingue alguns deles:
·        Superman: o voo, a velocidade a visão de raios X.
·        Homem Invisível: a invisibilidade.
·        He-Man: a força.
·        Rambo: a musculatura.
·        Merlin: os poderes mágicos.
a)   Como o narrador caracteriza a si mesmo e aos outros pais?
Como homens absolutamente comuns, sem nenhum poder especial: jogam futebol, fazem churrasco, eventualmente vão a teatros, etc.

b)   De que serviriam ao narrador, por exemplo, os poderes do Superman?
Serviriam para muito pouco; talvez para fugir do trânsito, apenas.

c)   Os super-heróis, desde que são criados, já apresentam poderes. Levando em conta esse dado, o que é mais difícil: ser um super-herói ou um cidadão comum? Por quê?
É mais difícil ser um cidadão comum, porque ele precisa enfrentar os problemas sem ter superpoderes.

03 – Muitos super-heróis têm inimigos permanentes.
a)   Quais são os principais inimigos permanentes dos pais?
O dia-a-dia, a inflação, o trânsito.

b)   Os poderes dos super-heróis serviriam para combater esses inimigos?
Não ajudariam em quase nada, pois não serviriam para combater os preços dos supermercados, por exemplo.

04 – Apesar de serem comuns e apenas humanos, os pais podem eventualmente adquirir “a força do He-Man, a velocidade do Superman, os poderes mágicos de Merlin”.
a)   Quando isso ocorre?
Quando os filhos precisam de comida, remédios e roupas.

b)   Esses poderes são duradouros?
Não.

05 – No 6° parágrafo, o narrador afirma: “Os pais são criados pelos filhos, assim como os filhos são criados pelos pais”.
a)   Explique essa afirmação.
Não existe pai sem filho, e vice-versa. Assim, ambos aprendem a exercer seu papel conjuntamente.

b)   Dê dois sentidos possíveis a esta outra frase: “A criança é o pai do homem”.
Toda criança será, amanhã, um adulto; portanto, o que o adulto será depende do que a criança é hoje.
Os adultos aprendem com as crianças.

06 – “Os heróis são eternos. Os pais não. E é nisso que está a sua força”. De acordo com essas frases, os pais não são eternos, porque são mortais. Então como explicar essa força dos pais?
      A força dos pais (de enfrentar o dia-a-dia, de defender os filhos com unhas e dentes), só eles a têm. Cada pai, com seus pequenos recursos, tem de descobrir sozinho como exercer bem seu papel – eis sua grandeza e sua força.


CRÔNICA: GODÓ - PEDRO BLOCH - COM QUESTÕES GABARITADAS

CRÔNICA: Godó
       
   Pedro Bloch

        Naquele momento Marianete chega pra perto de Godó.
        -- Godó!
        -- Marianete!
        -- Você, hoje, está com uma carinha muito triste. Que foi?
        -- É que eu pensei que tinha encontrado meus pais.
        -- E não encontrou? – fez a bailarina.
        -- Não eram eles. Estive pensando. Pensar, às vezes, é triste. Mas é boniiito!
        -- Pensando em quê?
        -- Eu queria ser igual a todo mundo. Ter cara de gente.
        -- E você não tem?
        Godó baixa a cabeça grande:
        -- Minha cara não é cara. É careta.
        Marianete, que o olha com olhos de carinho, nem quer ouvir aquilo:
        -- Que é isso, Godó? Uma cara linda!
        -- Não debocha. Você, não.
        -- É, sim. Juro. É uma cara toda enfeitada.
        -- Enfeitada de feiúra, né? – faz Godó.
        -- Enfeitada de bem-querer. Cheia de benquerença.
        -- Você acha?
        -- Pelo mais sagrado.
        -- E você era capaz de, um dia, gostar de mim... um anão?
        -- Você não é anão. É menino. E, mesmo que fosse!
        -- Você sabe que eu nem ser ler?
        -- Aprende, ué! Deixe de inventar defeito, tá?
        -- Você me ensina?
        -- É pra logo. Perfeito. Esse lance de escrever é muito fácil.
        Godó está cheio de lágrimas de gratidão:
        -- Oh, Marianete!
        Pegou a mãozinha dela e botou, junto do coração dele, para que ela visse como batia depressa.
        Coração também faz mágica, ué!
         Godó – o bobo alegre. Pedro Bloch.
Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 5ª Série - Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p.101-3.
Entendendo o texto:

01 – Como podemos classificar o texto? Justifique sua resposta.
      É uma narração em 3ª pessoa com diálogo.

02 – Godó fica triste por não ter encontrado seus pais, como imaginava. Essa tristeza faz com que ele fique pensativo.
a)   O que pensa Godó?
Godó pensa que gostaria de ser igual a todo mundo. Ter cara de gente.

b)   Por que esse acontecimento provoca esse pensamento em Godó?
Porque ele é órfão, sente-se carente, rejeitado.

c)   Existe, portanto, uma relação entre o fato de Godó não ter encontrado seus pais e o seu pensamento. Que relação é essa?
Causa e consequência.

03 – “Pensar, às vezes, é triste. Mas é boniiito!”.
a)   Qual o efeito da repetição do i em boniiito?
Faz com que seu som seja prolongado na leitura.

b)   Nessas frases, há duas afirmações:
Pensar é triste. / Pensar é bonito.
A tristeza é, em geral, associada à beleza?
Não.

c)   Qual seria então a função de mas nesse caso?
Abrir uma exceção na associação entre tristeza e beleza. Mas, apesar de ser triste, é bonito.

d)   E, afinal, para Godó, pensar é triste ou é bonito?
Para ele, A tristeza, não diminui a beleza do ato de pensar. Por isso, é as duas coisas.

04 – “Minha cara não é cara. É careta”. Qual a diferença entre cara e careta?
      Cara: rosto; Careta: contração muscular; máscara.

05 – Godó enxerga a si mesmo de uma maneira e Marianete enxerga-o de outra forma.
a)   Como Godó descreve a si mesmo?
Considera-se um anão, com cara de careta, cabeça grande, cara enfeitada de feiúra, analfabeto.

b)   Como Marianete enxerga Godó?
Um menino com uma cara linda, toda enfeitada de bem-querer, cheia de benquerença.

c)   O que você acha: o espelho de Godó está com defeito ou Marianete não enxerga bem? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal do aluno.

06 – “Não debocha. Você não.”
a)   Por que Godó não queria que Marianete debochasse dele?
Porque, como a conclusão do texto torna evidente, Godó gosta de Marianete.

b)   O que a frase indica sobre a relação de Godó com as outras pessoas?
Que outras pessoas debochavam dele por alguma razão.

c)   Para Godó, a opinião de outras pessoas a seu respeito é tão importante quanto a de Marianete?
A frase permite concluir que a opinião de Marianete é mais importante para Godó do que a opinião das outras pessoas.

07 – O que Marianete deseja transmitir para Godó na frase “Enfeitada de bem-querer. Cheia de benquerença?
      Uma cara de amor, mesmo quando pintada de palhaço.

08 – “Pelo mais sagrado”.
a)   Qual o significado de sagrado? Consulte o dicionário.
Relativo ou inerente a Deus, à religião, ao culto ou aos ritos; santo.

b)   Com base na resposta do item a, responda: Qual o significado da afirmação de Marianete?
Para garantir a Godó que realmente acha a cara do amigo linda, Marianete fala em nome de tudo o que é sagrado, ou seja, relativo a Deus, à religião.

09 – Em “E você era capaz de um dia gostar de mim... um anão?”, há uma pergunta e uma afirmação.
E você era capaz de gostar de mim que sou um anão?
                     Pergunta                              Afirmação

a)   Qual a função das reticências nessa frase?
Unir pergunta e afirmação.

b)   Que efeito causa a utilização desse recurso?
Causa um suspense antes que Godó anuncie aquilo que, para ele, é um defeito. Marca a dificuldade de Godó em anunciar sua característica.

10 – “Você sabe que eu nem sei ler?”
a)   Qual o significado de nem no texto?
Sequer, ao menos.

b)   Se substituíssemos nem por não, haveria mudança de sentido? Justifique sua resposta.
Sim. O emprego do nem, neste caso, indica que não saber ler é apenas mais um dos defeitos que Godó se atribui.

11 – Substitua a palavra lance por uma outra palavra ou expressão sem alterar o significado da frase. “Esse lance de escrever é muito fácil”.
      Escrever é muito fácil; a tarefa de escrever; o ato de escrever.

12 – A linguagem do diálogo é coloquial. Identifique os significados das palavras destacadas em itálico.
a)   “Enfeitada de feiúra, né?”
Não é? Marcador conversacional que expressa um pedido de confirmação, de concordância.

b)   “Deixe de inventar defeito, tá?”
Tá, interjeição, o mesmo que “está bem?”. Expressa um pedido de concordância.

c)   “Aprende, ué!”
Ué, interjeição, exprime espanto, admiração.