domingo, 3 de setembro de 2017

MÚSICA(ATIVIDADES): O SILÊNCIO (ARNALDO ANTUNES/CARLINHOS BROWN) - COM GABARITO

MÚSICA(ATIVIDADES)  – O SILÊNCIO
                                                Arnaldo Antunes/Carlinhos Brown


Antes de existir computador existia tevê
Antes de existir tevê existia luz elétrica
Antes de existir luz elétrica existia bicicleta
Antes de existir bicicleta existia enciclopédia
Antes de existir enciclopédia existia alfabeto
Antes de existir alfabeto existia a voz
Antes de existir a voz existia o silêncio
O silêncio.
Foi a primeira coisa que existiu
Um silêncio que ninguém ouviu
Astro pelo céu em movimento
E o som do gelo derretendo
O barulho do cabelo em crescimento
E a música do vento
E a matéria em decomposição
A barriga digerindo o pão
Explosão de semente som o chão

Diamante nascendo do carvão
Homem pedra planta bicho flor
Luz elétrica tevê computador
Batedeira, liquidificador
Vamos ouvir esse silêncio meu amor
Amplificado no amplificador
Do estetoscópio do doutor
No lado esquerdo do peito, esse tambor.
                                              

(Arnaldo Antunes / Carlinhos Brown)



1 – O texto apresenta uma gradação de invenções humanas.
a)   Enumere-as na ordem em que teriam surgido.
Silêncio; A voz; Alfabeto; Enciclopédia; Bicicleta; Tevê; Computador.

b)   Releia o texto identificando a última invenção. Já houve outras após a citada? Justifique sua resposta.
Computador. Sim, o celular.

2 – Observe o verso “o silêncio que ninguém ouviu”. Neste verso há:
a)   Paradoxo.
b)   Metáfora.
c)   Pleonasmo.
d)   Antítese.
e)   Personificação.

3 – Justifique a sua resposta dada à questão anterior:
      Se é um silêncio, ninguém ouve. Redundância de termos.

4 – Cite dois pontos negativos e dois positivos em relação à tecnologia:
      Negativo: As pessoas deixam de relacionar-se pessoalmente.
                      Gera o desemprego, o sedentarismo.
      Positivo: Facilita a maneira de trabalhar com eficiência e dinamismo.
                      Avanços na medicina contribuindo para cura de muitas doenças.

5 – Por que às vezes o silêncio é muito importante em nossas vidas? Use bons argumentos:
      Porque é nele que conseguimos encontrar a voz silenciosa que existe dentro de nós, a qual nos fala sobre o bem, o mal, a luz, a beleza que existe em todas as coisas, ou seja, a consciência.

6 – O poeta faz uma comparação no último verso do texto. A que o termo “tambor” está sendo comparado?
      Compara com o coração.

7 – O que, de acordo com a letra, foi a primeira coisa que existiu?
      O silêncio.

8 – Qual é o processo de formação da palavra “tevê”?
      Abreviatura de Televisão.

9 – Qual o tema dessa canção? Explique sua resposta:
      O tema é o silêncio, que as vezes é mórbido, outras conveniente; mas sempre presente, desde que o mundo é mundo... Antes de qualquer tipo de comunicação ou tecnologia. O silêncio muda, junto com as formas de pensar e ser das pessoas, acarretando maiores e menores consequências – na forma de vida da população.

10 – Das coisas que já existiram qual é a que mais faz falta para você?
      Resposta pessoal do aluno.     
      - A família reunida contando histórias, logo após o jantar.

11 – A letra da música repete várias vezes, no início dos versos “antes de existir”; que nome se dá a esta figura de linguagem?
      Anáfora.

12 – Que outro título você daria à canção?
      Família X Tecnologia.

13 – O poeta faz uma gradação em ordem decrescente das coisas, começando pelo computador, que hoje domina o mundo, até chegar ao silêncio, o início de tudo. Na sua opinião, qual é a intensão do poeta com isso?
      Levar o leitor a uma reflexão sobre as mudanças ocorridas gradativamente até chegar aos dias atuais.

14 – Que mensagem a letra de música nos passa?
      Que silêncio nos faz bem e é necessário.

15 – O que o eu lírico critica e o que ele valoriza?
      Critica a evolução e valoriza o silêncio.

16 – No texto predomina sintagmas nominais ou verbais? Por que será?
      Predomina os sintagmas nominais. Porque são os núcleos (nomes) ex.: tevê, luz elétrica, bicicleta, etc.

17 – “Antes de existir computador existia tevê
         Antes de existir tevê existia luz elétrica...”        
Agora é com você: complete de forma coerente:
Antes de existir tevê existia luz elétrica
Antes de existir bicicleta existia enciclopédia
Antes de existir enciclopédia existia alfabeto
Antes de existir alfabeto existia voz
Antes de existir a voz existia silêncio
Antes de existir celular existia telefone fixo
Antes de existir computador existia máquina de escrever
Antes de existir tevê existia rádio
Antes de existir enceradeira existia escovão.

18 – Explique o que o verso “O silêncio que ninguém ouviu” significa para você:
      Resposta pessoal do aluno.

19 – No verso “E o som do gelo derretendo”, temos:
a)   Metonímia.
b)   Sinestesia.
c)   Comparação.
d)   Pleonasmo.
e)   Hipérbole.

20 – Copie da canção alguns verbos no gerúndio e explique o efeito disso para o texto:
      Derretendo; digerindo; nascendo.
    É usado para expressar uma ação em curso ou uma ação simultânea a outra.




      

MÚSICA: MARIA, MARIA - MILTON NASCIMENTO/ COM INTERPRETAÇÃO-GABARITO

MÚSICA: MARIA, MARIA

                                              MILTON NASCIMENTO
Maria, Maria
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece
Viver e amar
Como outra qualquer
Do planeta

Maria, Maria
É o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que ri
Quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta

Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria

Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida

Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria

Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida

Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!
Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!!
Lá Lá Lá Lerererê Lerererê
Lá Lá Lá Lerererê Lerererê
Hei! Hei! Hei! Hei!
Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!
Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!
Lá Lá Lá Lerererê Lerererê!
Lá Lá Lá Lerererê Lerererê!

Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria

Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho, sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida

Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!
Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!!
Lá Lá Lá Lerererê Lerererê
Lá Lá Lá Lerererê Lerererê
Hei! Hei! Hei! Hei!
Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!
Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!
Lá Lá Lá Lerererê Lerererê!
Lá Lá Lá Lerererê Lerererê!
                                           Milton Nascimento e Fernando Brant.

1 – Identifique as características emocionais ou psicológicas da Maria descrita no texto.
      A Maria descrita é ativa, participante, lutadora.

2 – A que classe social pertence a Maria descrita no texto? Transcreva o trecho que comprova sua resposta.
      À classe pobre. Comprova o trecho: “De uma gente que ri quando deve chorar / E não vive, apenas aguenta.”

3 – Os trechos: “Quem traz no corpo a marca/.../ mistura a dor e a alegria” e “Quem traz na pele essa marca / possui a estranha mania / de ter fé na vida” indicam que a Maria da música é:
a)   (   ) Portadora de deficiência física.
b)   (X)  É negra e pobre.
c)   (   ) Branca e rica.

4 – Baseando-se no conteúdo do texto, explique o que afirmam esses versos: “Possui a estranha Maria / de ter fé na vida.”
      As mulheres, principalmente negras e pobres, geralmente não se deixam abater pelas adversidades da vida.

5 – A metáfora é uma figura de linguagem muito usada na linguagem poética. Identifique e transcreva as frases do texto que apresentam essa figura.

      “Maria, Maria / é um dom, uma certa magia / uma força que nos alerta”, “Maria, Maria / é o som, é a cor, é o suor / é a dose mais forte e lenta”.

TEXTO: REFRESCO - SÉRGIO PORTO - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

TEXTO – REFRESCO

        No exato momento em que eu estava no botequim para comprar cigarros, ouvi a voz do homem perguntar por trás de mim:
        --- Tem refresco de cajá?
        O outro, por trás do balcão, olhou espantado:
        --- De caju?
        --- Não senhor, de cajá mesmo.
        Não tinha. Não tinha e ainda ficou danado. Ora essa, por que razão havia de ter refresco de cajá? Ainda se fosse de caju, vá lá.
        É verdade que refresco de caju também não havia, mas, de qualquer modo, era mais viável ter de caju do que de cajá, fruta difícil, que só de raro em raro se encontra e, assim mesmo, por um preço exorbitante.
        E ainda irritado, disse.
        --- Por que não pergunta na Colombo? Aposto que lá também não vendem refresco de cajá. E o senhor sabe disso, o senhor está pedindo aqui para desmoralizar o estabelecimento.
        Não era de briga e nem estava querendo desmoralizar ninguém. De repente – ao entrar ali para tomar café – sentira cheiro de cajá e, como na sua terra havia muito daquela fruta, ficara com vontade de tomar um refresco.
        O que servia caiu em si, esqueceu o seu complexo de trabalhar no café fuleiro e não na Colombo. Depois desculpou-se com um sorriso de poucos dentes e perguntou se não queria uma laranjada. Uma laranjada sempre se pode arranjar.
        O outro recusou com um abano de cabeça e saiu encabulado, talvez por ter revelado em público um tão puro sentimento íntimo – saudade de sua terra.
        Paguei os cigarros e saí atrás dele. Também eu, depois que assistira à cena, senti cheiro de cajá.
        Há dez anos – pensei – eu poderia satisfazer a sua vontade. Era só andar aquele quarteirão, entrar à esquerda e procurar o número 53. Era a nossa casa. Ali nasceram meus irmãos e nasciam cajás todos os anos.

                                     Sérgio Porto. A Casa Demolida, págs. 27-28.
                                                                Editora do Autor, Rio, 1963.

1 – Na frase “O outro olhou espantado”, nota-se:
      (   ) Susto, pavor.
      (   ) Medo, receio.
      (X)  Surpresa, estranheza.
      (   ) Raiva, irritação.

2 – Por que o rapaz do botequim olhou espantado?
      Porque estranhou o pedido, achando que o freguês se tivesse enganado.

3 – O freguês pediu refresco de cajá:
      (   ) Com intenção de desmoralizar o botequim.
      (   ) Para matar a sede.
      (X)  Porque essa fruta despertou nele a lembrança e a saudade de sua terra.

4 – Que seria “um sorriso de poucos dentes”.
      Um sorriso feio, que revelava uma boca quase sem dentes.

5 – Por que o moço do bar pediu desculpas ao freguês?
      Por tê-lo tratado mal.

6 – Releia a seguinte passagem do sexto parágrafo e, depois, responda: “Ora essa, por que razão havia de ter refresco de cajá? Ainda se fosse de caju, vá lá”.
Essa reflexão o rapaz do botequim disse em voz alta ou apenas pensou?
      (   ) Disse em voz alta.     (X) Apenas pensou.

7 – O freguês saiu humilhado, aborrecido, provavelmente porque:
      (   ) Fora tratado com grosseria.
      (X)  Revelara a pessoas estranhas um sentimento íntimo: saudade de sua terra.
      (   ) Não conseguira beber refresco de cajá.

8 – Assinale a interpretação certa da frase “Também eu senti cheiro de cajá”.
      (   ) Sentiu vontade de tomar um refresco de cajá.
      (   ) Sentiu o cheiro dos cajás que vendiam ao lado do botequim.
      (X)  Sentiu saudade da casa onde ele nascera.
      (   )  É um absurdo, pois no botequim não havia refresco de cajá.


sábado, 2 de setembro de 2017

LEITURA: CAMINHO PARA A CIDADANIA E A IMPORTÂNCIA DA LEITURA

LEITURA: CAMINHO PARA A CIDADANIA


        Ler e escrever são duas operações essenciais na sociedade moderna. Além de ser um eficiente instrumento para a exercício das atividades lúdicas e práticas, a leitura proporciona ao indivíduo a oportunidade de alargamento dos horizontes pessoais, culturais e profissionais, uma vez que a maioria das interações sociais e atividades profissionais, acadêmicas e científicas gira em torno da leitura e da escrita.
        O pesquisador e professor Paulo Andrade, doutorando em Estudos Literários na Unesp de Araraquara e autor do livro Torquato Neto: uma poética de estilhaços, além de vários ensaios em revistas especializadas, no artigo publicado na Página LITERATURA, no dia 12 de março de 2004, e reproduzido em partes abaixo, afirma que a “capacidade de leitura é condição fundamental para o exercício pleno da cidadania”.
        A capacidade de leitura, portanto, mais que simples decodificação, é condição fundamental para o exercício da cidadania. A importância cada vez maior da leitura e da escrita os estimula a refletir sobre a primeira, as funções que desempenha e a respeito das relações que se estabelecem entre o ato de ler e a escola, uma das principais matrizes geradoras de educação, como a família, o grupo social e os veículos de comunicação em massa.
        As principais funções sociais da leitura são: a leitura para fruição, deleite ou prazer; a leitura para a aquisição de informações de cultura geral, de atualização sobre o que ocorre na comunidade e no mundo; a leitura para fins de estudo e trabalho e a leitura para fins religiosos e de auto ajuda. A leitura, portanto, deve ser primeiramente uma opção individual prazerosa, não habitual, nem imposta.
        O prazer de ler surge na infância. A criança quando está na alfabetização sente grande prazer quando os adultos leem histórias para ela. A criança ouve, reconta, manuseia o livro e no outro dia pede que lhe contem a mesma história. A curiosidade pelo texto de leitura é marcante nessa faixa etária. Estatísticas educacionais provam que a frequência às bibliotecas, circulação de livros e projetos de leitura entre estudantes das fases iniciais do Ensino Fundamental são expressivas e superiores aos demais níveis. No entanto, ao entrar para o Ensino Médio, o próprio aluno declara que não gosta de ler. Questões como essa motivam pesquisadores a refletir o porquê desse problema e buscar soluções. E no Ensino Superior, para que serve leitura? Por que a maioria dos alunos não lê?
        Muitos, mas muitos alunos mesmo, sentem desgosto pela leitura, porque são mais atraídos pelas coisas mais fáceis, como a televisão, por exemplo. Mas os meios de comunicação não são os culpados, pois, cada um, a sua maneira, cumpre papéis importantes na sociedade. A alienação cultural de uma parcela da classe universitária é proveniente de diversos fatores, entre os quais, a ausência do apego à leitura como prática cultural nas famílias, desde a infância, prática que vai diminuindo e se perdendo com o passar dos anos escolares. A desculpa de ser pobre ou a alegação de não ter condições de acesso à leitura já não convence. Programas de leitura nas bibliotecas garantem o acesso público aos livros. O prazer de ler é, sem dúvida, uma opção de vida e uma escolha inteligente, criativa e muito esperta para quem tem visão empreendedora e busca um exercício digno de cidadania.
        Se o estudante de nossas faculdades conscientizar-se de que, por intermédio da leitura, poderá adquirir novos conhecimentos e mudar sua maneira de pensar o mundo, naturalmente garantirá seu acesso à cidadania. “Sabe que eu escutei, vi, mas não entendi.” Essa declaração é um exemplo da falta de leitura de mundo e da prática do pensamento alienado que muitas pessoas vivem. Não compreendem o que ouvem, nem o que leem. Dançar com o pensamento, segundo Rubem Alves, é garantir novas formas de repensar o mundo e a si mesmo. E a leitura permite isso.
        Caro acadêmico, invista na leitura diária como hábito cultural associado a seu projeto de vida. Só assim a conquista da cidadania pode tornar-se ainda mais fácil e rápida.
    

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA

        A prática da leitura se faz presente em nossas vidas desde o momento em que começamos a “compreender” o mundo a nossa volta. No constante desejo de decifrar e interpretar o sentido das coisas que nos cercam, de perceber o mundo sob diversas perspectivas, de relacionar a realidade ficcional com a que vivemos, no contato com um livro, enfim, em todos estes casos estamos, de certa forma, lendo – embora, muitas vezes, não nos demos conta.
        A atividade de leitura não corresponde a uma simples decodificação de símbolos, mas significa, de fato, interpretar e compreender o que se lê. Segundo Ângela Kleiman, a leitura precisa permitir que o leitor apreenda o sentido do texto, não podendo transformar-se em mera decifração de signos linguísticos sem a compreensão semântica dos mesmos.
        Nesse processamento do texto, tornam-se imprescindíveis também alguns conhecimentos prévios do leitor: os linguísticos, que correspondem ao vocabulário e regras da língua e seu uso; os textuais, que englobam o conjunto de noções e conceitos sobre o texto; e os de mundo, que correspondem ao acervo pessoal do leitor. Numa leitura satisfatória, ou seja, na qual a compreensão do que se lê é alcançada, esses diversos tipos de conhecimento estão em interação. Logo, percebemos que a leitura é um processo interativo.
        Quando citamos a necessidade do conhecimento prévio de mundo para a compreensão da leitura, podemos inferir o caráter subjetivo que essa atividade assume. Conforme afirma Leonardo Boff, cada um lê com os olhos que tem. E interpreta onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender o que alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isto faz da leitura sempre um releitura. [...] Sendo assim, fica evidente que cada leitor é co-autor.
        A partir daí, podemos começar a refletir sobre o relacionamento leitor-texto. Já dissemos que ler é, acima de tudo, compreender. Para que isso aconteça, além dos já referidos processamento cognitivo da leitura e conhecimentos prévios necessários a ela, é preciso que o leitor esteja comprometido com sua leitura. Ele precisa manter um posicionamento crítico sobre o que lê, não apenas passivo. Quando atende a essa necessidade, o leitor se projeta no texto, levando para dentro dele toda sua vivência pessoal, com suas emoções, expectativas, seus preconceitos, etc. É por isso que consegue set tocado pela leitura.
        Assim, o leitor mergulha no texto e se confunde com ele, em busca de seu sentido. Isso é o que afirma Roland Barthes, quando compara o leitor a uma aranha: [...] o texto se faz, se trabalha através de um entrelaçamento perpétuo; perdido neste tecido – nessa textura –, o sujeito se desfaz nele, qual uma aranha que se dissolve ela mesma nas secreções construtivas de sua teia.
        Dessa forma, o único limite para a amplidão da leitura é a imaginação do leitor; é ele mesmo quem constrói as imagens acerca do que está lendo. Por isso ela se revela como uma atividade extremamente frutífera e prazerosa. Por meio dela, além de adquirirmos mais conhecimentos e cultura – o que nos fornece maior capacidade de diálogo e nos prepara melhor para atingir às necessidades de um mercado de trabalho exigente –, experimentamos novas experiências, ao conhecermos mais em que vivemos e também sobre nós mesmos, já que ela nos leva à reflexão.
        E refletir, sabemos, é o que permite ao homem abrir as portas de sua percepção. Quando movido por curiosidade, pelo desejo de crescer, o homem se renova constantemente, tornando-se cada dia mais apto a estar no mundo, capaz de compreender até as entrelinhas daquilo que ouve e vê, do sistema em que está inserido. Assim, tem ampliada sua visão de mundo e seu horizonte de expectativas.
        Desse modo, a leitura se configura como um poderoso e essencial instrumento libertário para a sobrevivência do homem.
        Há entretanto, uma condição para que a leitura seja de fato prazerosa e válida: o desejo do leitor. Como afirma Daniel Pennac, “o verbo ler não suporta o imperativo”. Quando transformada em obrigação, a leitura se resume a simples enfado. Para suscitar esse desejo e garantir o prazer da leitura, Pennac prescreve alguns direitos do leitor, como o de escolher o que quer ler, o de reler, o de ler em qualquer lugar, ou, até mesmo, o de não ler. Respeitados esses direitos, o leitor, da mesma forma, passa a respeitar e valorizar a leitura. Está criado, então, um vínculo indissociável. A leitura passa a ser irmã que atrai e prende o leitor, numa relação de amor da qual ele, por sua vez, não deseja desprender-se.


POEMA: MITOLOGIA DO ONÇA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

POEMA: MITOLOGIA DO ONÇA
                Carlos Drummond de Andrade

Que lugar diferente dos lugares
O Onça!
Custo a crer que exista além da boca,
 Faladeira de sonhos.
 No entanto viajantes vêm do Onça,
 Apeiam, amarram suas mulas
 Na argola do mourão
 E contam, pachorrentos, da viagem.
Contam de sua gente, de seus matos
E seus rios.

        O Onça Grande, o Onça Pequeno
        Me perturbam.
        São rios feitos de onça, águas ferozes
        De onça encachoeirada?
        Nas ruas do Onça passam onças
        E pessoas caminham junto a elas?
        Uma onça maior governa o Onça,
        Cada dia um menino é mastigado
        Em sua mesa rubra a escorrer sangue?
        Riem de mim os viajantes
        Se lhes faço perguntas. Não pergunto.
        Não riem. Ouço apenas
        As estórias do Onça, corriqueiras.
        No Onça não há onças.
        É calma tudo lá. Em mim, tremor.
        Em mim é que elas bramem, noite negra.

                   Carlos Drummond de Andrade. Esquecer para Lembrar.
                                          pág. 16, Editora José Olympio, Rio, 1979.

1 – No texto, o autor se refere a fatos ocorridos na sua:
      (X) Infância.         (   ) Mocidade.       (   ) Velhice.

2 – Para o menino, o Onça era um lugar diferente, estranho:
      (   ) Devido aos costumes de seus moradores.
      (X)  Por causa de seu nome (Onça).
      (   ) Porque lá havia onças em toda parte.

3 – O menino achava o nome tão estranho que chegava a duvidar da existência desse lugar. Talvez não passasse de invenção de gente faladeira e sonhadora. Copie a frase que informa isso.
      Custo a crer que existia além da boca, faladeira de sonhos.

4 – Entretanto, havia uma prova de que o Onça existia mesmo Qual era?
      Viajantes vinham de lá e falavam da gente e das coisas desse lugar.

5 – O trecho que vai do verso 13 ao 19 revela as coisas espantosas que, ao ouvir os nomes Onça, Onça grande, Onça Pequeno, a criança:
      (   ) Perguntava aos viajantes.
      (X)  Imaginava ou “dizia com os seus botões”, perguntava a si mesma.

6 – Por que o menino não perguntava essas coisas aos viajantes?
      Porque os viajantes iam rir (ou caçoar) dele.

7 – As estórias que a criança ouvia os viajantes contar eram:
      (   ) Casos impressionantes, aterradores, de onças comendo gente.
      (X)  Casos banais sobre a vida e as coisas do Onça.

8 – Complete de acordo com o texto:
      Embora tivesse certeza de que o Onça não havia onças, o menino sentia medo, sobretudo durante a noite.

9 – Esse poema de Carlos Drummond de Andrade está composto:
      (X)  Em versos modernos e sem rimas.
      (   ) Em versos tradicionais e com rimas.

TEXTO: A SURPRESA- CRISTINA AGOSTINHO - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

TEXTO: A SURPRESA

        Foi exatamente na sala de televisão que eu dei de cara com todo mundo naquela quinta-feira. Mas a televisão não estava funcionando. Também achei isso muito esquisito. A nossa televisão está sempre ligada na hora do Jornal Nacional. E é proibido conversa. Se a gente esquece, lá vem a maior bronca. Quando eu tenho alguma coisa importante para dizer, fico esperando o plim-plim e falo bem depressinha no intervalo. Por isso fiquei espantada quando abri a porta. Não escutei nem a voz do locutor, nem qualquer bate-papo.
        Eu gosto de dar um assobio, daqueles que aprendi na escola, para anunciar minha chegada. O assobio não é proibido na hora do Jornal Nacional. Mas, naquele dia, fiquei até sem graça, o assobio doeu no meu ouvido e ninguém respondeu.
        --- Oi! – falei baixinho.                                              
        --- Andréia, minha filha, venha cá. Sente aqui – papai me chamou.
        E me puxou para o seu colo. Eu já fiquei com a pulga atrás da orelha. Se tem uma coisa que me deixa com a pulga atrás da orelha é quando me chamam de Andréia aqui em casa. Como sou a caçula da família, o Nando tem dezoito anos e o Ricardo catorze, todos me tratam por Dedéia. A não ser quando faço alguma coisa errada e eles querem me dar aquela bronca. Aí, sim, lembram meu nome inteirinho.
        --- Dedéia – papai viu o meu medo e mudou o jeito de falar: - Escute, filhinha, nós temos uma surpresa para você.
        --- Surpresa? – perguntei meio desconfiada.
        Como podia ter uma surpresa por trás daquelas caras tão sérias? Para mim, surpresa sempre foi uma coisa boa, tipo presente de Natal, de aniversário, ou chocolate escondido debaixo do meu travesseiro.
        --- É, Dedéia – papai continuou: - De hoje em diante sua mãe não vai trabalhar mais. Ela vai ficar em casa cuidando de você.
        Escutei aquilo e fiquei de bico calado. Eu era bem grandinha para precisar de babá. Olhei para mamãe e ela não parecia feliz com isso. Resolvi falar:
        --- Mas, pai, eu já tenho dez anos. Não preciso de ninguém pra cuidar de mim.
        E virei para a mamãe:
        --- Olha, mãe, se é por causa do palavrão que eu xinguei a Teresa hoje, não falo mais, juro.
        Pensei no quanto a Teresa era linguaruda. Me dedurar daquele jeito. Depois eu acertava as contas com ela.
        --- Língua de trapo! – falei para mim mesma.
        --- Não, querida. Não é nada disso – mamãe me acalmou. – Não vou mais trabalhar fora porque me despediram.
        Dei um suspiro de alívio. Perguntei, então, se ela havia alguma coisa de errado para ser mandada embora do emprego. Ela riu da pergunta e disse que não tinha feito nada. Muitos colegas dela tinham sido despedidos também.
        --- Foi por contenção de despesas – ela falou.
        Eu não entendi o que era contenção de despesas. Mas devia ser uma coisa muito ruim, para deixar a mamãe tão triste.

                   Cristina Agostinho. Pai sem terno e Gravata, págs. 9-12.
                                 Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1985.

1 – Onde e em que parte do dia aconteceram os fatos narrados no texto?
      Os fatos aconteceram na casa de uma família, à noite.

2 – Quais são as personagens desta história?
      As personagens são o pai, a mãe e a filha Andréia.

3 – Quem é a personagem principal?
      A personagem principal é Andréia.

4 – Andréia é, ao mesmo tempo, personagem e narradora porque:
      ( X ) Narra a história e participa dos acontecimentos, fala de si mesma.
      (    ) Participa dos acontecimentos, mas não fala de si mesma.

5 – O assunto ou a ideia principal do texto é:
      (  ) Uma menina, ao chegar em casa, estranhou o televisor desligado e a família em silêncio.
      (   ) Conversa dos pais com a filha, quando esta entrou em casa, no início da noite.
      (X) Uma menina, ao chegar em casa no fim do dia, é informada pelo pai de que havia uma surpresa para ela.

6 – Assinale a afirmação que está de acordo com o texto:
      (X) A mãe de Andréia foi despedida do emprego porque a empresa em que trabalhava teve que reduzir as despesas.
      (  ) Devido a um defeito, o televisor não estava funcionando quando Andréia entrou em casa.
      (   ) Andréia costumava anunciar sua chegada ao lar com um toque de campainha.

7 – O que a menina sentiu quando o pai a chamou pelo nome e a mandou sentar-se junto de si? Por quê?
      Ela ficou desconfiada e sentiu medo. Porque pensou que o pai fosse repreendê-la.

8 – Vendo que a filha estava com medo, que fez o pai?
      O pai lhe falou de modo carinhoso.

9 – Andréia não entendia como os pais podiam ter uma surpresa para ela, se todos estavam tristes. Explique por quê.
      Porque para ela “surpresa” só podia ser uma coisa boa.

10 – “Eu era bem grandinha para precisar de babá”. Andréia disse isso ao pai ou apenas pensou? E a frase traduz revolta ou ironia?
      Ela apenas pensou. A frase traduz ironia.

11 – Cite coisas que Andréia erradamente pensou, quando o pai lhe disse que a mãe não trabalharia mais fora de casa.
      Ela pensou que a mãe ia ser sua babá, a fim de vigiá-la, que a culpada era ela, por ter xingado a empregada, que a empregada tinha “dedurado”.

12 – Por que a mãe de Andréia foi despedida do emprego?
      Porque a empresa teve de reduzir as despesas com empregados.

13 – Depois que a mãe falou, por que a menina deu um suspiro de alívio?
      Porque nada daquilo que ela pensava era verdade.

14 – Há no texto diversas frases que não fazem do fio da história, mas que são comentários da personagem narradora. Damos um exemplo. Cite outros.
Como sou a caçula da família, todos me tratam por Dedéia.
      Eu gosto de dar um assobio para anunciar minha chegada.
      Como podia ter uma surpresa por trás daquelas caras tão sérias?

15 – Escreva o que a mãe disse à filha para acalmá-la.

      “Não, querida. Não é nada disso. Não vou mais trabalhar fora porque me despediram.”