sábado, 2 de setembro de 2017

TEXTO: A SURPRESA- CRISTINA AGOSTINHO - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

TEXTO: A SURPRESA

        Foi exatamente na sala de televisão que eu dei de cara com todo mundo naquela quinta-feira. Mas a televisão não estava funcionando. Também achei isso muito esquisito. A nossa televisão está sempre ligada na hora do Jornal Nacional. E é proibido conversa. Se a gente esquece, lá vem a maior bronca. Quando eu tenho alguma coisa importante para dizer, fico esperando o plim-plim e falo bem depressinha no intervalo. Por isso fiquei espantada quando abri a porta. Não escutei nem a voz do locutor, nem qualquer bate-papo.
        Eu gosto de dar um assobio, daqueles que aprendi na escola, para anunciar minha chegada. O assobio não é proibido na hora do Jornal Nacional. Mas, naquele dia, fiquei até sem graça, o assobio doeu no meu ouvido e ninguém respondeu.
        --- Oi! – falei baixinho.                                              
        --- Andréia, minha filha, venha cá. Sente aqui – papai me chamou.
        E me puxou para o seu colo. Eu já fiquei com a pulga atrás da orelha. Se tem uma coisa que me deixa com a pulga atrás da orelha é quando me chamam de Andréia aqui em casa. Como sou a caçula da família, o Nando tem dezoito anos e o Ricardo catorze, todos me tratam por Dedéia. A não ser quando faço alguma coisa errada e eles querem me dar aquela bronca. Aí, sim, lembram meu nome inteirinho.
        --- Dedéia – papai viu o meu medo e mudou o jeito de falar: - Escute, filhinha, nós temos uma surpresa para você.
        --- Surpresa? – perguntei meio desconfiada.
        Como podia ter uma surpresa por trás daquelas caras tão sérias? Para mim, surpresa sempre foi uma coisa boa, tipo presente de Natal, de aniversário, ou chocolate escondido debaixo do meu travesseiro.
        --- É, Dedéia – papai continuou: - De hoje em diante sua mãe não vai trabalhar mais. Ela vai ficar em casa cuidando de você.
        Escutei aquilo e fiquei de bico calado. Eu era bem grandinha para precisar de babá. Olhei para mamãe e ela não parecia feliz com isso. Resolvi falar:
        --- Mas, pai, eu já tenho dez anos. Não preciso de ninguém pra cuidar de mim.
        E virei para a mamãe:
        --- Olha, mãe, se é por causa do palavrão que eu xinguei a Teresa hoje, não falo mais, juro.
        Pensei no quanto a Teresa era linguaruda. Me dedurar daquele jeito. Depois eu acertava as contas com ela.
        --- Língua de trapo! – falei para mim mesma.
        --- Não, querida. Não é nada disso – mamãe me acalmou. – Não vou mais trabalhar fora porque me despediram.
        Dei um suspiro de alívio. Perguntei, então, se ela havia alguma coisa de errado para ser mandada embora do emprego. Ela riu da pergunta e disse que não tinha feito nada. Muitos colegas dela tinham sido despedidos também.
        --- Foi por contenção de despesas – ela falou.
        Eu não entendi o que era contenção de despesas. Mas devia ser uma coisa muito ruim, para deixar a mamãe tão triste.

                   Cristina Agostinho. Pai sem terno e Gravata, págs. 9-12.
                                 Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1985.

1 – Onde e em que parte do dia aconteceram os fatos narrados no texto?
      Os fatos aconteceram na casa de uma família, à noite.

2 – Quais são as personagens desta história?
      As personagens são o pai, a mãe e a filha Andréia.

3 – Quem é a personagem principal?
      A personagem principal é Andréia.

4 – Andréia é, ao mesmo tempo, personagem e narradora porque:
      ( X ) Narra a história e participa dos acontecimentos, fala de si mesma.
      (    ) Participa dos acontecimentos, mas não fala de si mesma.

5 – O assunto ou a ideia principal do texto é:
      (  ) Uma menina, ao chegar em casa, estranhou o televisor desligado e a família em silêncio.
      (   ) Conversa dos pais com a filha, quando esta entrou em casa, no início da noite.
      (X) Uma menina, ao chegar em casa no fim do dia, é informada pelo pai de que havia uma surpresa para ela.

6 – Assinale a afirmação que está de acordo com o texto:
      (X) A mãe de Andréia foi despedida do emprego porque a empresa em que trabalhava teve que reduzir as despesas.
      (  ) Devido a um defeito, o televisor não estava funcionando quando Andréia entrou em casa.
      (   ) Andréia costumava anunciar sua chegada ao lar com um toque de campainha.

7 – O que a menina sentiu quando o pai a chamou pelo nome e a mandou sentar-se junto de si? Por quê?
      Ela ficou desconfiada e sentiu medo. Porque pensou que o pai fosse repreendê-la.

8 – Vendo que a filha estava com medo, que fez o pai?
      O pai lhe falou de modo carinhoso.

9 – Andréia não entendia como os pais podiam ter uma surpresa para ela, se todos estavam tristes. Explique por quê.
      Porque para ela “surpresa” só podia ser uma coisa boa.

10 – “Eu era bem grandinha para precisar de babá”. Andréia disse isso ao pai ou apenas pensou? E a frase traduz revolta ou ironia?
      Ela apenas pensou. A frase traduz ironia.

11 – Cite coisas que Andréia erradamente pensou, quando o pai lhe disse que a mãe não trabalharia mais fora de casa.
      Ela pensou que a mãe ia ser sua babá, a fim de vigiá-la, que a culpada era ela, por ter xingado a empregada, que a empregada tinha “dedurado”.

12 – Por que a mãe de Andréia foi despedida do emprego?
      Porque a empresa teve de reduzir as despesas com empregados.

13 – Depois que a mãe falou, por que a menina deu um suspiro de alívio?
      Porque nada daquilo que ela pensava era verdade.

14 – Há no texto diversas frases que não fazem do fio da história, mas que são comentários da personagem narradora. Damos um exemplo. Cite outros.
Como sou a caçula da família, todos me tratam por Dedéia.
      Eu gosto de dar um assobio para anunciar minha chegada.
      Como podia ter uma surpresa por trás daquelas caras tão sérias?

15 – Escreva o que a mãe disse à filha para acalmá-la.

      “Não, querida. Não é nada disso. Não vou mais trabalhar fora porque me despediram.”

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

SIMULADO - SIMBOLISMO - COM GABARITO


EXERCÍCIOS E TESTES DE VESTIBULARES – SIMBOLISMO        

1 – (VUNESP-SP) Dos trechos poéticos abaixo, apenas um contém o conjunto das seguintes características: estilo simbolista, imagens tendentes a eludir a realidade sensível, várias aliterações, várias sinestesias, repetições visando à musicalidade da composição literária. Assinale-o:

               
               a)Eu não busco saber o inevitável
   Das espirais da tua vão matéria.
   Não quero cogitar da paz funérea
   Que envolve todo o ser inconsolável.
     b)E o teu perfil oscila, treme, ondula,
         Pelos abismos eternais circula...
         Circula e vai gemendo e vai gemendo
         E suspirando outro suspiro horrendo.
         E a sombra rubra que te vai seguindo
         Também parece ir soluçando e rindo
         Ir soluçando, de um soluço cavo
         Que dos venenos traz o torvo avo.
      c)Envelheces de tédio, de cansaço,
         De ilusões e de cismas e de penas,
         Como envelhece no celeste espaço
         O turbilhão das estrelas serenas.
         O amor os corações fez interdito
         Ao teu magoado coração cativo
         E apagou-te os sublimes infinitos
         Do seu clarão fecundar e vivo.
   
 d)Oh! vós que não dormis e que nas noites tristes,
     Falais à Natureza – esta Esfinge embusteira,
     Revolvendo este abismo eternamente mudo;
     Dizei-me se isto tudo, acaso não sentistes,
     A rir como Voltaire, a rir como caveira,
     A rir de vós, a rir de mim, a rir de tudo? ...
  e)Não procureis qualquer nexo naquilo
     Que os poetas pronunciam acordados,
     Pois eles vivem no âmbito intranquilo
     Em que se agitam seres ignorados.

2 – (MACK-SP):
               “Nomear um objeto é suprimir três quartos do prazer do poema, que é feito da felicidade em adivinhar pouco a pouco; sugeri-lo, eis o sonho... deve haver sempre enigma em poesia, e é o objetivo da Literatura – e não há outro – evocar os objetos”.
O trecho acima resume parte da ideologia de importante movimento literário. Assinale a alternativa em que se encontra o nome do mesmo.
a – Simbolismo.
b – Romantismo.
c – Barroco.
d – Parnasianismo.
e – Modernismo.


3 – (FATEC-SP):
    E sons soturnos, suspiradas mágoas,
mágoas amargas e melancolias,
   No sussurro monótono das águas,
   Noturnamente, entre ramagens frias.

  Vozes veladas, veludosas vozes,
   Volúpias dos violões, vozes veladas,
   Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.

a)Indique o recurso literário evidente no trecho de Violões que choram, poema de Cruz e Souza, e:
O recurso literário evidente é a aliteração.
b)Explique o efeito obtido pelo autor através deste recurso.
O efeito obtido é a sugestão musical (som do violão).

4 – (CEFET-MG):
                 Do imenso mar maravilhoso, amargos
                 Marulhos murmurem compungentes,
                 Cânticos virgens de emoções latentes
                 Do sol nos mornos, mórbidos letargos...

A estrofe acima apresenta características de um poeta:
a – Romântico.
b – Barroco.
c – Modernista.
d – Simbolista.
e – Parnasiano.

5 – (PUC-RS) A teoria da correspondência entre o material e o espiritual, a teoria de que a imaginação é a faculdade essencial do poeta, porque lhe permite recriar a realidade segundo nova perspectiva, a afirmação de que “as imagens não são um ornamento poético, mas uma revelação da realidade profunda das cousas”, são traços da estética:
a – Romântica.
b – Parnasiana.
c – Simbolista.
d – Impressionista.
e – Modernista.


6 – (PUC-RS):

        O ser que é ser e que jamais vacila
    Nas guerras imortais entra sem susto
     Leva consigo este brasão augusto
  Do grande amor, da grande fé tranquila.

      Os abismos carnais da triste argila
      Ele o vence sem ânsias e sem custo
      Fica sereno, num sorriso justo,   
      Enquanto tudo em derreter oscila.







Fugindo do mundo material, a poesia simbolista de Cruz e Souza, como ilustram as duas estrofes, busca a:
a – Utopia.
b – Transcendência.
c – Amargura.
d – Humildade.
e – Saudade.

7 – (PUC-SP):
                Mãos que os lírios invejam; mãos eleitas
                Para aliviar de Cristo os sofrimentos
                Cujas veias azuis parecem feitas
                Da mesma essência astral dos óleos bentos.
O vocabulário litúrgico, a religiosidade, a musicalidade da estrofe acima vinculam-na ao:
a – Romantismo.
b – Parnasianismo.
c – Simbolismo.
d – Impressionismo.
e – Modernismo.

8 – (FATEC-SP) O Simbolismo tem mais correlação com a música que com a pintura ou arquitetura. Por quê?
     Porque os interesses simbolistas estão muito mais ligados à sensibilidade que à concretude.

9 – (PUC-RS):
                 Ninguém anda com Deus mais do que eu ando,
                 Ninguém segue os seus passos como eu sigo,
                 Não bendigo a ninguém e nem maldigo:
                 Tudo é morte num peito miserando.

                 Vejo o sol, vejo a luz e todo bando
                 Das estrelas no olímpico jazigo.
                 A misteriosa mão de Deus o trigo
                 Que ela plantou aos poucos vai ceifando.

Um dos temas marcantes da poesia simbolista de Alphonsus Guimaraens é a ... profunda e pessoal, como ilustram as estrofes citadas.
a – Delicadeza.
b – Melancolia.
c – Religiosidade.
d – Ternura.
e – Evasão.

10 – (MACK-SP) O estilo literário que mais procurou aproximar a poesia da música foi:
a – Romantismo.
b – Simbolismo.
c – Parnasianismo.
d – Realismo.
e – Arcadismo.

11 – (USF-SP):
                   A Música da Morte, a nebulosa,
                   Estranha, imensa música sombria,
                   Passa a tremer pela minh’alma e fria
                   Gela, fica a tremer, maravilhosa...

Os versos acima são característicos da época:
a – Barroca, por seu sentimento religioso.
b – Romântica, pelo acentuado subjetivismo e pela presença da morte.
c – Parnasiana, por sua preocupação formal e pela descrição objetiva.
d – Simbolista, por seus recursos expressivos que sugerem mistério e fluidez.
e – Pré-modernista, pelo reflexo dos conhecimentos científicos na poesia.


12 – (MACK-SP) Assinale a alternativa onde há um texto que não pode ser encaixado no Simbolismo brasileiro:

a – Indefiníveis músicas supremas,
      Harmonias da Cor e do Perfume...
      Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
      Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...
b – Mas essa dor da vida devora
      A ânsia de glória, o dolorido afã...
      A dor no peito emudecera ao menos
      Se eu morresse amanhã.
c – Harmonias que pungem, que laceram,
      Dedos nervosos e ágeis que percorrem
      Cordas e um mundo de dolências geram,
      Gemidos, prantos, que no espaço morrem...
d – Vê como a Dor te transcendentaliza!
      Mas no fundo da Dor crê nobremente,
      Transfigura o teu ser na força crente
      Que tudo forma belo e diviniza.
e – Sinto-as agora, ao luar, descendo juntas,
      Grandes, magoadas, pálidas, tateantes,
      Cerrando os olhos das visões defuntas...
      Brumosas mãos que vêm brancas, distantes,
      Fechar ao mesmo tempo tantas bocas...

13 – (PUCCAMP-SP) São características da poesia de Cruz e Sousa:
a – Crença de que o espírito pode apreender a realidade das coisas, traçando firmemente seus contornos; versos livres; musicalidade a serviço do espiritualismo.
b – Abandono das visões ideais sobre o amor, por uma descrição mais direta do corpo e dos desejos; anti-romantismo; busca das “correspondências” entre os seres.
c – Cuidado formal, através do verso bem ritmado, do vocabulário raro r preciso, dos efeitos plásticos e sonoros capazes de impressionar os sentidos; objetividade na descrição do mundo.
d – Repúdio ao sentimentalismo; adoção dos temas divulgados pela ciência e pela filosofia naturalista; apego ao soneto
e – Crença de que o poema representa uma tentativa de aproximação da realidade oculta das coisas, que a sugerem sem esgotá-la; busca de ritmos musicais e insinuantes; vocabulário litúrgico, para acentuar o mistério.

14 – (UEL-PR) Assinale a alternativa que contém apenas características da estética simbolista:
a – Temática social; hermetismo; valorização dos tons fortes; materialismo; antítese.
b – Temática intimista; ocultismo; valorização dos tons fortes; espiritualidade; sinestesia.
c – Temática intimista; hermetismo; valorização do branco e da transparência; espiritualidade; sinestesia.
d – Temática bucólica; hermetismo; valorização do branco e da transparência; espiritualidade; antítese.
e – Temática bucólica; ocultismo; valorização das tonalidades verdes; materialismo; sinestesia.


15 – (UFV-MG):
                   Eternas, imortais origens vivas 
                   Da luz, do Aroma, segredantes vozes
                  Do mar e luares de contemplativas
                  Vagas visões volúpicas, velozes...

                  Aladas alegrias sugestivas
                  De asa radiante e branda de albornozes,
                  Tribos gloriosas, fúlgidas, altivas,
                  De condores e de águias e albatrozes...

                  Espiritualizai nos Astros loucos,
                  Do sol entre os clarões imorredouros
                 Toda esta dor que na minh’alma clama...

                   Quero vê-la subir, ficar cantando
                   Nas chamas das Estrelas, dardejando
                   Nas luminosas sensações da chama.
                                                                                   Cruz e Sousa.
Das alternativas que se seguem, apenas uma não corresponde à leitura interpretativa do poema. Assinale-a:
a – Visão objetiva da realidade, em que a técnica sobrepõe-se à imaginação.
b – Preferência por uma luminosidade que torna os elementos nebulosos e imprecisos.
c – Valorização da sinestesia, acentuando a correspondência entre imagens acústicas, visuais e olfativas.
d – Sublimação, através dos astros, de toda a dor que a alma clama.
e – Predomínio da sugestão e uso de símbolos para a representação do mundo.

16 – (PUC-RS) Uma obra simbolista expressa o culto ao vago, o poder sugestivo da palavra e o lirismo nebuloso e transcendente. A alternativa que exemplifica tal afirmação é:
a – Ai, palavras, ai, palavras,
      Que estranha potência a vossa!
      Ai, palavras, ai, palavras,
      Sois de vento, ides no vento,
      No vento que não retorna,
      E, em tão rápida existência,
      Tudo se forma e transforma!
b – Busca palavras límpidas e castas
       Nova e raras, de clarões ruidosos,
       Dentre as ondas mais pródigas, mais vastas
       Dos sentimentos mais maravilhosos.
c – Eu fiz um poema belo e alto
      Como o girassol de Van Gogh
      Como um copo d chope sobre o mármore
      De um bar
      Que o raio de sol atravessa.
d – Minha mãe, manda comprar um quilo de papel almaço na venda
      Quero fazer uma poesia
      Diz a Amélia para preparar um refresco bem gelado
      E me trazer muito devagarinho.
      Não corram, fechem todas as portas a chave
      Quero fazer uma poesia.
e – Oh! Bendito o que semeia
      Livros, livros à mão cheia...
      E manda o povo pensar!
      O livro caindo n’alma
      É germe – que faz a palma,
      É chuva – que faz o mar.


(VUNESP-SP) As questões de números 17 e 18 se baseiam num fragmento do poema-canção Trilhos urbanos, do artista Caetano Veloso, e numa passagem de Viagens na minha terra, do simbolista Antônio Nobre (1967 – 1900), escritor que retoma princípios estéticos do Romantismo Português, sendo precursor da modernidade.


        TRILHOS URBANOS



                               O melhor o tempo esconde
                               Longe, muito longe,
                               Mas bem dentro aqui,
                               Quando o bonde dava a volta ali.
                               No cais de Araújo Pinho,
                               Tamarindeirinho,
                               Nunca me esqueci
                               Onde o Imperador fez xixi.

                               Cana doce, Santo Amaro,
                               O gosto muito raro
                               Trago em mim por ti,
                               E uma estrela sempre a luzir.
                               Bonde da Trilhos Urbanos
                               Vão passando os anos
                               E eu não te perdi:
                               Meu trabalho é te traduzir...
                                                             Caetano Veloso. Cinema transcendental.
                                                                                 LP 6349 436, Polygram, 1979.
                             
           

          VIAGENS NA MINHA TERRA
                   Às vezes, passo horas inteiras
                   Olhos fitos nestas braseiras,
                   Sonhando o tempo que lá vai;
                   E jornadeio em fantasia
                   Essas jornadas que eu fazia
                Ao velho Douro, mais meu Pai.

                  Que pitoresca era a jornada!
                  Logo, ao subir da madrugada,
                  Prontos os dois para partir:
          Adeus! Adeus! É curta a ausência,
                  Adeus! – rodava a diligência
                  Com campainhas a tinir!


                  E, dia e noite, aurora a aurora,
                  Por essa doida terra fora,
                  Cheia de Cor, de Luz, de Som,
                  Habituado à minha alcova
                  Em tudo eu via coisa nova,
                  Que bom era, meu Deus! que bom!

                  Moinhos ao vento! Eiras! Solares!
                  Antepassados! Rios! Luares!
                  Tudo isso eu guardo, aqui ficou:
                  Ó paisagem etérea e doce,
                  Depois do Ventre que me trouxe,
                  A ti devo eu tudo que sou!

                                  Só, 1892. In: NOBRE, Antônio. Poeta – Nossos clássicos.
                                                                      Rio de Janeiro, Agir, 1959. p. 45-46.

17 – Os textos em pauta atualizam um tema muito frequente no Romantismo, e recorrente a literatura de todos os tempos. Levando-se em consideração que se trata de poemas autobiográficos, releia com atenção os versos de Caetano Veloso e Antônio Nobre e, a seguir:
a – Responda qual é a temática dominante em ambos os textos;
A temática dominante em ambos é a da saudade dos tempos da infância.

b – Explique a significação conotativa do signo “traduzir”, em Trilhos urbanos.
O verbo traduzir conota “interpretar”, “dar significância”.

18 – O estilo simbolista, do qual Antônio Nobre é um dos principais representantes na literatura portuguesa, costuma extrair efeitos poéticos através da utilização de recursos gráficos: emprego de iniciais maiúsculas em substantivos comuns, palavras grafadas com letras em itálico e negrito. Esses procedimentos – acreditavam os simbolistas – ajudariam a enriquecer o sentido simbólico das palavras no contexto. Tendo em vista este comentário:
a – Interprete a significação do substantivo “Ventre” (grafado com inicial maiúscula), na última estrofe de Viagens na minha terra;
“Ventre” representa a figura materna.

b – Responda se é possível estabelecer uma relação de identidade simbólica entre o advérbio aqui (em itálico), no poema de Antônio Nobre, e “aqui”, na primeira estrofe de Trilhos urbanos.
SIM. Em ambos, o advérbio indica “dentro do peito”.

As questões de números 19 e 20 tomam por base um texto do poeta simbolista brasileiro Alphonsus de Guimaraens (1870 – 1921).
                    Eras a sombra do poente
                    Eras a sombra do poente
                    Em calmarias bem calmas;
                    E no ermo agreste, silente,
                    Palmeira cheia de palmas.
                   
                    Eras a canção de outrora,
                    Por entre nuvens de prece;
                    Palidez que ao longe cora
                    E beijo que aos lábios desce.

                     Eras a harmonia esparsa
                     Em violas e violoncelos:
                     E como um vôo de garça
                     Em solitários castelos.
 
                     Eras tudo, tudo quanto
                     De suave esperança existe;
                     Manto dos pobres e manto
                     Com que as chagas me cobriste.

                     Eras o Cordeiro, a Pomba,
                     A crença que o amor renova...
                     És agora a cruz que tomba
                     À beira da tua cova.
                                                 Pastoral aos crentes do amor e da morte, 1923.
                                              In: Guimaraens, A. de. Poesias – I. Rio de Janeiro.
                                                                                       Org. Simões, 1955. p. 284.


19 – O texto em pauta, de Alphonsus de Guimaraens, apresenta nítidas características do Simbolismo literário brasileiro. Releia-o com atenção e, a seguir:
a – Aponte duas características tipicamente simbolistas do poema;
Uma característica é a preferência pela hora crepuscular; outra é a referência à música.
b – Com base em elementos do texto, comprove sua resposta.
“A sombra do poeta”; “a harmonia esparsa. Em violas e violoncelos”.

20 – A reiteração é um procedimento que, aplicado a diferentes níveis do discurso, permite ao poeta obter efeitos de musicalidade e ênfase semântica. Para tanto, o escritor pode reiterar fonemas (aliterações, assonâncias, rimas), vocábulos, versos, estrofes, ou, pelo processo denominado “Paralelismo”, retomar as mesmas estruturas sintáticas de frases, repetindo alguns elementos e fazendo variar outros. Tendo em vista estas observações:
a – Identifique no poema de Alphonsus um desses procedimentos.
O uso do verbo ser, na segunda pessoa do singular do pretérito imperfeito do indicativo, consiste em reiteração – trata-se da anáfora.
b – Servindo-se de uma passagem do texto, demonstre o processo de reiteração que você identificou no item a.
“Eras a sombra do poente”; “Eras a canção de outrora”.