sábado, 25 de abril de 2015

REDAÇÃO ENEM: REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL


 Redação Enem: A Redução da Maioridade Penal

             A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CJC) da Câmara dos Deputados Federais aprovou no último dia 31 de março a PEC 171/93 de autoria do parlamentar Marcos Rogério (PDT-RO) que reduz a maioridade penal dos 18 para os 16 anos no Brasil. Ou seja, a CJC, com essa aprovação, afirma que a redução da maioridade penal é constitucional, argumento rebatido pelos partidos contrários à referida PEC (Psol, PT, PPS, PSB e PcdoB).

           A partir desse momento, a Câmara abrirá uma comissão especial para debater o tema e examinar a proposta que foi apresentada com 46 emendas criadas nos últimos 22 anos, desde quando a proposta original foi inserida. Essa comissão especial terá 40 sessões em Plenário, inclusive audiências públicas, para dar o seu parecer final.

           Após esse trâmite, a PEC será votada pelos deputados federais em dois turnos e, para ser aprovada, precisa de 3/5 de votos favoráveis (308 parlamentares) em cada uma das votações. Caso a PEC seja aprovada na Câmara, passará pelo mesmo sistema de votação no Senado Federal e, se aprovado o texto original, será promulgada; já se for aprovado, mas com alterações, voltará para a Câmara Federal para ser votado novamente.

               A redução da maioria penal sempre foi um tema polêmico e que desperta debates acalorados na população em geral e, com essa movimentação parlamentar, voltou a ocupar espaços importantes nas mídias televisiva, imprensa e digital em todo o país e, por ser algo tão importante, resolvemos trazê-lo nessa coluna que trata de temas relevantes para a redação do Enem .


Em outras ocasiões, afirmamos que acreditamos que temas tão polêmicos, como a redução da maioridade penal e a regulamentação e descriminalização do aborto, por exemplo, não seriam temas de propostas de redação do Enem, mas como o debate tomou proporções nacionais, objetivamos mostrar a vocês, leitores, os argumentos favoráveis e contrários a essa medida a fim de que vocês construam as suas próprias opiniões.

              Segundo a página Congresso em Foco, a PEC não teria a maioria dos votos favoráveis na Câmara dos Deputados e a tendência seria reduzir a maioridade penal apenas para crimes hediondos – algo que também contraria os partidos opositores à proposta. Crimes hediondos, a saber, são crimes como latrocínio (roubo seguido de morte), sequestro, estupro, homicídio dentre outros.

           O deputado Marcos Rogério (PDT-RO), em entrevista à edição da última terça-feira (31/03) do Jornal Nacional, argumentou o seguinte:

           O que a sociedade está pedindo é que haja redução. Já se pode votar aos 16 anos, pode casar aos 16 anos, pode tanta coisa aos 16 anos. Não pode responder pelos crimes? Então, acho que é um avanço o que nós fizemos aqui na CCJ, mas esse debate vai ser muito mais caloroso na comissão especial, onde vai se discutir o mérito da questão.

            Já o deputado Chico Alencar (Psol-RJ), na mesma matéria, rebateu dizendo que já há medidas de punição. O Estatuto da Criança e do Adolescente já prevê uma série de sanções, inclusive com internação. As medidas socioeducativas, quando aplicadas corretamente, têm se mostrado muito mais eficazes para a sociedade do que o encarceramento.

             Parlamentares e ativistas contrários à redução da maioridade penal dos 18 aos 16 anos argumentam que essa medida é inconstitucional, pois a Constituição Federal proibiria essa diminuição, algo interpretado de maneira inversa pelos parlamentares e ativistas favoráveis à redução. O fato é que, na lei máxima do país, está posto, em seu artigo 228, que menores de 18 anos são inimputáveis criminalmente.

           Os argumentos favoráveis à redução da maioridade penal espelham-se em países nos quais a idade mínima para ser acusado e condenado criminalmente é abaixo dos 18 anos, como a Inglaterra, por exemplo, onde, atualmente, a maioridade penal é de 10 anos e o país passa por uma discussão sobre a possibilidade de aumentá-la.




            Outro argumento favorável é o que afirma que a impunidade gera mais violência. Adolescentes são usados por adultos para levarem a culpa pelos crimes por esses receberem, apenas medidas socioeducativas ou, se apreendidos (já que o Estatuto da Criança e do Adolescente não usa o verbo prender ao tratar de menores de idades), podem ficar nas instituições para esse fim por, somente, três anos.

            Dados estatísticos são usados como estratégia argumentativa (como deve-se fazer em uma redação do Enem) para fundamentar a aprovação da redução da maioridade penal, visto que, de acordo com uma pesquisa realizada, em 2013, pelo instituto CNT/MDA, indicou que 92,7% da população brasileira é a favor da medida; já a pesquisa do Datafolha, promovida no mesmo ano, apontou que 97% dos paulistanos querem a redução da maioridade penal e 72% pensam que isso deveria ser feito em relação a qualquer tipo de crime.

          Por outro lado, parlamentares e ativistas contrários também fundamentam seus argumentos em estratégias argumentativas como dados estatísticos. Segundo a página do Movimento 18 razões para a NÃO redução da maioridade penal, o índice de reincidências nas prisões brasileiras é de 70%, ou seja, o sistema carcerário do nosso país não consegue reabilitar o preso para voltar à sociedade e não cometer mais crimes, já que está super lotado e sucateado e possui a 4ª maior população carcerária do mundo com 500 mil presos, perdendo apenas para Estados Unidos, China e Rússia.


 E você, o que pensa sobre isso? Você já tem uma opinião formada ou não? O que escreveria se esse tema fosse um tema em uma proposta de redação do Enem?


REDAÇÃO ENEM: CONSUMO DE ÁLCOOL POR ADOLESCENTES

Redação Enem: Consumo de Álcool por Adolescentes


          O consumo de álcool por adolescentes tem se tornado cada vez mais comum que por vezes até nos esquecemos que trata-se de um ato ilícito. Muitos jovens começam a beber na companhia de amigos mais velhos ou até mesmo junto com a família, em um almoço de domingo, sem ninguém ver perigo nisso. “É só uma dose” ou “é só um golinho” têm sido incentivos inofensivos para o início do consumo de álcool pelos adolescentes.


Na música Duas de cinco, o rapper Criolo critica “um governo que quer acabar com o crack, mas não tem moral pra vetar comercial de cerveja”. Isso também nos traz a possibilidade de reflexão sobre o alto incentivo do governo e da mídia para o consumo de álcool, que apesar de legalizado, não deixa de ser uma droga e, por isso, traz muitos problemas de saúde, emocionais ou físicos.

É claro que “só um golinho“, ou seja, o consumo social do álcool considerar três pontos:

  • O consumo de álcool por adolescentes não é lícito;
  • Independentemente da idade, ao consumir álcool, é necessário saber seus efeitos e danos, para um consumo moderado;
  • Casos extremos como alcoólatras e outros doentes devem ser considerados, já que o efeito sobre esses é muito pior, física e socialmente falando.

Ao considerar esses pontos, algumas reflexões podem ser levantadas. Há necessidade de alteração na legislação sobre o consumo do álcool (quantidade, idade permitida etc)? Como melhorar a informação à população sobre os danos do consumo do álcool sendo que ele é tão incentivado na mídia? A publicidade e propaganda voltada para a venda de álcool é correta? O que pode mudar? Como o alcoolismo é tratado na sociedade? Deveria ser diferente?

O que você acha? Ao se posicionar sobre esses pontos e outros possíveis, você pode dissertar sobre esse assunto. O Portal Terra apresenta os efeitos e as diferenças entre álcool, maconha e crack através da orientação de profissionais na área. Você pode conferir a matéria para utilizar as informações como base de seus argumentos.

Proposta de Redação

Com base na leitura dos seguintes textos motivadores e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em norma culta escrita da língua portuguesa sobre o tema: “O consumo ilícito de álcool por adolescentes: como enfrentar este desafio?“. Apresente uma proposta de intervenção e/ou conscientização social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defender o seu ponto de vista.

TEXTO 1

Vergonha Nacional

(…) As décadas de descumprimento da lei (…) contribuíram para que os adultos se habituassem a ver o consumo de bebida por adolescentes como um “mal menor”, comparado aos perigos do mundo.

“Não é”, afirma o autor do estudo e uma das principais autoridades brasileiras no assunto, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador do Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Drogas. “Os pais precisam entender que o álcool potencializa o risco de que aconteça aos seus filhos o que eles mais temem.” Leia-se: que eles se metam em encrencas, e das grandes.

Levantamentos feitos no Brasil e no exterior comprovam que beber – em qualquer idade – potencializa comportamentos temerários. No adolescente, com sua onipotência e impulsividade características, o risco de o álcool provocar ou facilitar situações como gravidez precoce, contaminação por doenças sexualmente transmissíveis, envolvimento com a criminalidade e uso de drogas ilícitas é perigosamente maior.

Junte-se a isso o fato de que, num organismo jovem, o impacto e as consequências da ingestão de bebida são muito diferentes do que os que incidem sobre um adulto, e a conclusão – unânime – dos especialistas é: menores de 18 anos não devem beber sequer uma gota de álcool (…).







TEMA DE REDAÇÃO ENEM – BARBÁRIE SOCIAL: COMO COMBATER ESSE MAL?

Tema Redação – Barbárie Social: Como Combater Esse Mal?


Os últimos anos tem sido marcado por vários episódios de justiça com as próprias mãos. Segundo o dicionário Michaelis, uma das definições da palavra justiça é “poder de decidir sobre os direitos de cada um, de premir e de punir”. Segundo a Constituição Brasileira, quem tem direito de exercer justiça é o poder Judiciário. Logo, quando pessoas civis se compartam como “justiceiras”, ocorre um ato ilegal, inconstitucional. É fazer crime em cima de crime. É quebrar as regras de convívio da sociedade.

O filósofo Thomas Hobbes utiliza o termo “Estado Natural” para se referir a um Estado com ausência de regras, em que tanto a ordem como liberdade podem ser usadas de qualquer forma. A partir dessa análise, o Estado deve ser visto como o órgão que estabelece e mantém a ordem para a sociedade conviver de forma pacífica.

Os linchamentos, como maneira de combater a violência, são uma forma de retorno ao Estado Natural de Hobbes, de quebra da civilização, de barbárie social. Tendo essa perspectiva, analise a proposta de redação abaixo sobre esse tema que levanta a questão: Como combater o mal da barbárie social?

Para levantar possíveis respostas que respondam a pergunta do tema, analise a charge abaixo.





Agora que você já refletiu sobre o tema, vamos treinar escrevendo uma dissertativa-argumentativa de acordo com a proposta abaixo?

Proposta de Redação

Com base na leitura dos seguintes textos motivadores e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo argumentativo em norma culta escrita da língua portuguesa sobre o tema: “Bárbarie Social: Como Combater Este Mal?“. Apresente uma proposta de intervenção e/ou conscientização social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defender o seu ponto de vista.

TEXTO 1

(…) “Ah, mas bandidos também fazem isso com as pessoas.” O argumento é de uma ignorância infantil, pois a partir do momento em que passarmos todos a agir como eles, e deixar de tentar corrigir e fortalecer as instituições, a sociedade como a conhecemos deixa de existir. Daí, é o salve-se quem puder.

Ninguém está defendendo quem comete crimes. O que está em jogo aqui é que tipo de Estado e de sociedade que estamos nos tornando ao acharmos que Justiça com as próprias mãos é solução e punições severas para crimes ridículos (mesmo reincidentes) têm função pedagógica. (…)

O problema é que, no fundo, coisas valem mais que a vida. Do lado dos “bandidos”. Do lado dos “mocinhos”. (…)

Um homem em situação de rua foi espancado pelo dono de um supermercado, seus empregados e moradores, em Sorocaba (SP), após furtar um xampu nesta quarta (26/02/2014). Ele está internado com afundamento do crânio.

Sueli – Condenada pelo roubo de dois pacotes de bolacha e um queijo minas em uma loja.

Ademir – Assassinado por ter furtado coxinhas, pães de queijo e creme para cabelo de um supermercado. O pedreiro foi levado a um banheiro, agredido com chutes, socos e um rodo e deixado trancado, definhando. Morreu por hemorragia interna e traumatismos.

Valdete – Condenada a dois anos de prisão em regime fechado por ter roubado caixas de chiclete. Teve um habeas corpus negado pelo Supremo Tribunal Federal, pois o princípio da insignificância não se aplicaria, afinal não era para saciar a fome.

Franciely – Acusada de roubo de duas canetas mesmo após ter mostrado o comprovante de pagamento por ambas em um hipermercado.

Januário – Espancado por cinco seguranças, durante 20 minutos, no estacionamento de um hipermercado. Acharam que o vigilante estava roubando o próprio automóvel.

TEXTO 2

(…) Ressuscitou-se o Pelourinho 125 anos após “o fim da escravidão”, para regozijo de quem sempre está pronto para empinar o chicote e fazer justiça com as próprias mãos. Como se essa violência não gerasse mais violência e insegurança, em nome da segurança. Querem substituir o Estado pela barbárie. (…)

Na Alemanha de Hitler, muito antes da guerra, os nazistas formaram grupos paramilitares, milícias aterrorizadoras (os Freikorps) que massacravam “inimigos” (judeus, comunistas, minorias), detonaram o monopólio da força pelo Estado e levaram o ditador ao poder. E deu no que deu. Aqui, o inimigo dos Freikorps do bairro do Flamengo são os jovens, negros e pobres, infratores ou não. Negam o Estado democrático de Direito e pretendem, com a criação de força paralela, com tortura e eliminação física, enfrentar a delinquência esquecendo o sistema que a gera. As históricas desigualdades e injustiças não podem ser resolvidas pela barbárie, mas pelo acolhimento do Estado. (…)

TEXTO 3

A ampla maioria dos cariocas reprova a atitude de moradores de classe média do Flamengo (zona sul) que espancaram e amarraram a um poste um jovem suspeito de praticar roubos no bairro.

O repúdio à ação dos chamados “justiceiros”, que ainda deixaram o acusado nu na rua, chega a 79%, aponta pesquisa Datafolha. Outros 17% disseram aprovar a ação, e 5% não responderam.
A pesquisa mostra que o apoio à atitude dos moradores é maior entre os mais ricos e escolarizados.
Na faixa com ensino superior, 20% dos cariocas dizem aprovar a ação de quem espancou e amarrou o jovem suspeito. Entre os entrevistados com renda familiar acima de dez salários mínimos (R$ 7.240,00), o índice sobe para 24%.

BRANCOS E NEGROS

A pesquisa também revela diferença de opinião conforme a cor da pele dos entrevistados. Entre os negros, o apoio à ação dos moradores do Flamengo é de 12%. Entre os brancos, sobe para 21%.
O jovem espancado era negro. Os suspeitos de agredi-lo já identificados são brancos e de classe média.
O episódio ocorreu no último dia 31. A polícia chegou a deter 14 suspeitos de participar da agressão, mas todos foram liberados após assinar um termo na delegacia.

Extraído de http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/02/1412865-acao-de-justiceiros-ereprovada-por-79-no-rio.shtml em 28/02/2014.

TEMA REDAÇÃO ENEM: REGULAMENTAÇÃO DA TERCEIRIZAÇÃO


Tema Redação Enem : Regulamentação da Terceirização

A coluna sobre a redação no Enem  volta à série Temas Relevantes a fim de colocar em evidência um tema que está em debate na mídia e nas redes sociais desde a semana passada, quando o projeto de lei número 4330/04, cuja autoria é do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), foi aprovado pela Câmara dos Deputados, em Brasília: a regulamentação da terceirização de serviços em empresas de todo o país.

Como trata-se de um tema de cunho social que atinge todos os brasileiros, merece um texto expondo argumentos favoráveis e contrários e incitando o debate entre vocês, leitores, a fim de discuti-lo por meio de estratégias argumentativas, como devemos fazer em dissertações-argumentativas.

No dia 08 de abril, quarta-feira, o referido projeto de lei foi aprovado por 324 deputados favoráveis a 137 votos contrários. Na ocasião, apenas os partidos PT, Psol e PcdoB votaram contra a proposta que previa (pois já houve mudanças recentes, como dissertaremos a seguir) que empresas, públicas e privadas, pudessem terceirizar suas atividades – meio (funções de apoio, como por exemplo, limpeza, jardinagem e segurança) e suas atividades – fim, ou seja, funções principais. No caso de uma montadora, por exemplo, a fabricação de carros; no caso de uma escola, as aulas e a direção.

A proposta inicial previa que apenas empresas especializadas prestassem serviços terceirizados e deveriam pagar 4% do valor do contrato para um seguro que arrecadaria fundos para pagamentos de indenizações trabalhistas; já os encargos trabalhistas, onerosos para as empresas, mas que configuram direitos dos trabalhadores, como PIS/Cofins e o FGTS devem ser recolhidos pelas empresas contratantes.

Na prática, é como se você, empregado com carteira assinada, fosse convidado pelo seu empregador a abrir uma pequena empresa, com CNPJ e, assim, virar uma pessoa jurídica (o famoso PJ) e recomeçar a trabalhar emitindo nota, inclusive. Há muitas pessoas que já atuam como PJ, mas muitas preferem a segurança da carteira assinada.


A proposta previa que essas medidas fossem aplicadas nas empresas e instituições públicas, como estatais, escolas e universidades públicas e demais órgãos públicos, acabando, assim, com os concursos públicos, tão almejados pela estabilidade. No entanto, nessa semana, foi aprovada uma alteração em relação a esse ponto.

Nesse contexto, desde a semana passada, debates acalorados têm movimentado a mídia impressa, televisiva e digital e as redes sociais em todo o país com opiniões favoráveis e contrárias à regulamentação da terceirização e, por esse motivo, esse tema deve ser estudado e analisado pelos candidatos ao Enem 2015.

Além dos debates, manifestações contrárias a esse projeto de lei movimentaram todo o Brasil anteontem, dia 14 de abril. Em várias cidades do país, diversas categorias foram às ruas e promoveram paralisações contra a terceirização: empresas privadas e públicas paralisaram suas atividades, como por exemplo, empresas de transporte público, Correios, em universidades, como a Universidade de São Paulo (USP), metalúrgicas e montadoras de automóveis, bancos, refinarias, polícia militar dentre outras. O portal de notícias UOL noticiou todas as manifestações do dia de ontem.

Especialistas e deputados contrários a essa medida afirmam que as relações trabalhistas serão muito prejudicadas caso esse projeto de lei seja sancionado, pois ocorreria uma precarização do trabalho no Brasil, já que os direitos trabalhistas seriam diminuídos, desprotegendo o trabalhador.

Uma estratégia argumentativa que embasa esse argumento é o resultado de uma pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em parceria com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), divulgada pelo blog do jornalista e professor universitário Leonardo Sakamoto. A pesquisa atestou que trabalhadores terceirizados trabalham, em média, três horas a mais por semana e recebem 27% menos do que um trabalhador registrado.
O Tribunal Superior do Trabalho também colocou-se contra à medida, afirmando que:
ao permitir a generalização da terceirização para toda a economia e a sociedade, certamente provocará gravíssima lesão social de direitos sociais, trabalhistas e previdenciários no País, com a potencialidade de provocar a migração massiva de milhões de trabalhadores hoje enquadrados como efetivos das empresas e instituições tomadoras de serviços em direção a um novo enquadramento, como trabalhadores terceirizados, deflagrando impressionante redução de valores, direitos e garantias trabalhistas e sociais.

o rebaixamento dramático da remuneração contratual de milhões de concidadãos, além de comprometer o bem estar individual e social de seres humanos e famílias brasileiras, afetará fortemente, de maneira negativa, o mercado interno de trabalho e de consumo, comprometendo um dos principais elementos de destaque no desenvolvimento do País. Com o decréscimo significativo da renda do trabalho ficará comprometida a pujança do mercado interno no Brasil.


Leonardo Sakamoto, estudioso do tema sobre trabalhos análogos à escravidão, ainda afirma que situações como essas, ilegais e imorais, poderão aumentar caso a terceirização seja regulamentada, já que esta seria um artifício para as empresas fugirem de suas responsabilidades trabalhistas. O professor traz um dado que corrobora seu argumento:

Entre 2010 e 2014, cerca de 90% dos trabalhadores resgatados nos dez maiores flagrantes de trabalho escravo contemporâneo eram terceirizados, conforme dados do Ministério do Trabalho e Emprego. Casos como esses já acontecem em setores como mineração, confecções e manutenção elétrica.

Já os especialistas e os deputados favoráveis à medida dizem que ela será boa para o Brasil e discordam dos que afirmam que o trabalhador ficará desprotegido. Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP, do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo-CIESP e do Conselho Deliberativo do SEBRAE-SP, em artigo publicado, defende a regulamentação da terceirização argumentando que haverá fiscalização por parte da empresa contratante da empresa contratada (terceirizada) e que haverá consequências caso algo seja descumprido. Para o empresário, há modernidade na medida e esta incentivará o empreendedorismo.

Outros argumentos favoráveis, nessa direção, apontam para um aumento do número de empregos no país aliviando, assim, a carga tributária sobre a iniciativa privada. Segundo Erly Domingues de Syllos, 1º vice-diretor do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp),

Com a lei aprovada, há pesquisa indicando que serão gerados 700 mil novos empregos em São Paulo e no Brasil 3 milhões. É um número interessante. Considere ainda o fato de que no país há pelo menos 1 milhão de empresas prestadoras de serviços terceirizados e que gera cerca de 15 milhões de empregos formais”.

E quanto a você, o que pensa em relação à regulamentação das terceirizações no Brasil? Sua opinião é contrária ou favorável?

sexta-feira, 24 de abril de 2015

TEMAS DE REDAÇÃO ENSINO MÉDIO/ENEM


 TEMAS DE REDAÇÃO ENSINO MÉDIO
1- A polícia se excede contra os manifestantes ou cumpre seu papel?


Segundo Dalmo Dallari: “A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social.”

   
Em janeiro do ano de 2014 , no eixo Rio-São Paulo, ocorreram manifestações que mobilizaram grandes grupos de diferentes setores da população. Para começar, os "rolezinhos", promovidos por jovens da periferia, com intuito declarado de se divertir, de ver e ser visto nos shoppings. A seguir, os "rolezões populares", organizados por movimentos sociais, para protestar e fazer reivindicações, também diante dos shoppings. Finalmente, na capital paulista, no aniversário da fundação da cidade, um protesto contra os gastos da Copa, transformou-se numa batalha campal entre Black Blocs e a Polícia Militar, com os atos de vandalismo sendo duramente reprimidos. A polícia já agira nos rolezinhos e rolezões. De acordo com os meios de comunicação, em todos os casos, exagerou na contenção dos manifestantes, atuando de modo violento e inadequado. Qual a sua opinião sobre a ação dos policiais? Eles extrapolaram o exercício de suas funções e se excederam? Ou se viram obrigados a reagir aos vândalos com dureza, recorrendo a violência para manter a ordem pública?

ELABORE UMA DISSERTAÇÃO CONSIDERANDO AS IDEIAS A SEGUIR:

O preço da civilização

Polícia é fundamental. O primeiro passo para um grupamento humano um pouco mais complexo deixar para trás a barbárie é reservar ao poder público o monopólio do uso legítimo da violência, ou seja, constituir uma polícia.
Para chegar à condição de sociedade civilizada, entretanto, isso ainda não basta. É preciso também ser capaz de controlar essa polícia, já que, excluído o cenário mais catastrófico da guerra de todos contra todos, são as forças do Estado que se tornam um dos principais focos de violência contra os cidadãos.
Em São Paulo, realizamos precariamente o primeiro objetivo, mas só engatinhamos no segundo.[Hélio Schwartsman, Folha de S. Paulo, 28/01/14]

O ano que não vai acabar

O cenário para 2014 é, a um só tempo, maravilhoso e inquietante. Renovadas formas de organização, debate, deliberação e ação emergem nas ágoras improvisadas em escadarias e largos onde a multidão toma a palavra com a coragem de dizer a verdade: do calvário de Amarildo até o trem sempre enguiçado; da tragédia das enchentes até o apartheid dos templos de consumo, agora desafiados pelos "rolezinhos". Os pobres ousam saber e sabem ousar.
O poder responde tornando o apartheid explícito: proibição judicial e truculência policial, e isso logo depois da hipócrita sacralização de Mandela. Mas, como em junho, a repressão só fará o movimento se propagar. Os jovens que circulam pelos shoppings nos dizem que, para sermos livres, precisamos estar e agir juntos na polis. E estar juntos implica que o pressuposto da liberdade seja a igualdade, a igualdade não como aplicação de um critério abstrato de justiça, mas a justiça como constituição da liberdade.[Giuseppe Cocco e Adriano Pilatti, Folha de S. Paulo, 14/01/14]

Onda incendiária

A depredação de patrimônio público ou privado, a título de protesto contra os mais variados problemas, tem se transformado numa perigosa e inaceitável rotina no cotidiano nacional.
Se o direito de manifestação e de reunião é assegurado pela Constituição, nem por isso pode ser exercido de maneira irrestrita. Os atos devem ser pacíficos e, como é óbvio e desnecessário dizer, seus participantes não são autorizados a praticar crimes de nenhuma natureza.
Alguns manifestantes, todavia, parecem se esquecer das regras básicas de civilidade. Em São Paulo, um Fusca foi incendiado e terminou destruído. Ainda que o episódio tenha sido acidental, como se afirma, por pouco não resultou em tragédia, já que cinco pessoas estavam no automóvel.
A piromania, porém, não é nova. Propaga-se, na periferia paulistana, uma onda de incêndios de ônibus municipais. Até sexta-feira, 21 veículos haviam sido queimados neste mês. O número equivale ao total de casos registrados no primeiro semestre de 2013.[Editorial, Folha de S. Paulo, 28/01/14]

Observações:
Seu texto deve ser escrito na norma culta da língua portuguesa;
Deve ter uma estrutura dissertativa-argumentativa;
Não deve estar redigido sob a forma de poema (versos) ou narração;
A redação deve ter no mínimo 15 e no máximo 30 linhas escritas; (LEMBRE-SE DA ESTRUTURA ESTUDADA EM AULA);
Não deixe de dar um título à sua redação.

Elaboração da proposta
Tendo como base as ideias apresentadas nos textos acima, os inscritos fizeram uma dissertação sobre o tema A polícia se excede contra os manifestantes ou cumpre seu papel?



 2- VENCER A VIOLÊNCIA E A INSEGURANÇA, O GRANDE DESAFIO.

Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:

- ação do crime organizado e do narcotráfico na configuração do atual quadro de violência no Brasil;

- importância da ação policial no combate a violência e riscos que estão sujeitos os profissionais de segurança pública;

- alternativas de combate ao crime.


Mínimo de linhas: 15
Máximo: 25 linhas

quarta-feira, 22 de abril de 2015

FILME(ATIVIDADES): O ENIGMA DE KASPAR HAUSER - ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO

FILME(ATIVIDADES): O ENIGMA DE KASPAR HAUSER 


 ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO DE KASPAR HAUSER

 Vygotsky que diz que “a imaginação depende da experiência, e a experiência da criança forma-se e cresce gradativamente, diferenciando-se por sua originalidade em comparação à do adulto.” (VYGOTSKY, 2009, p. 43)

              Baseado em uma história real, Jeder für sich und Gott gegen alle é um filme de 1974, do diretor alemão Werner Herzog, que tem como tradução literal “cada um por si e Deus contra todos”, mas que foi traduzido para o Brasil como O enigma de Kaspar Hauser.
             Kaspar Hauser era um menino criado dentro de um pequeno espaço, escuro, sem qualquer contato com outro ser humano, apenas com um cavalinho de madeira. Mesmo antes de nascer, na perspectiva histórico-social de Vygotsky, o futuro de Kaspar já estava determinado:
             O ato biológico do nascer tem, no mundo humano, o caráter de um evento cultural, […]. Antes mesmo de ser concebido, o futuro ser já faz parte do universo cultural dos homens, seja como objeto do desejo de quem aguarda  ansiosamente sua chegada seja como objeto do medo ou da recusa de quem considera sua chegada uma eventualidade indesejada. De qualquer forma, é um fato inegável que a simples expectativa do nascimento de uma  criança sacode profundamente o mundo das relações sociais no âmbito do grupo familiar, o que permite afirmar que no imaginário social, antes mesmo do nascer, aquela ocupa já um lugar na sociedade humana, estando sua existência atrelada às condições reais de existência que lhe oferecerá seu meio cultural. (apud PINO, 2005, p. 151).
             Passados uns 15 ou 16 anos, o Sr. que lhe deixava a comida e a água, o tirou de seu enclausuramento e o ensinou a andar e a falar uma única frase: “quero ser cavaleiro, igual ao meu pai”. Mesmo pronunciando uma única frase e andando mal, o deixam, em 1828, em uma praça na comunidade de Nuremberg, onde, por não fazer parte do padrão que a sociedade via como certo, e assim chamando a atenção de todos, será ajudado e estudado pelas autoridades locais. Sentindo-se num  mundo estranho, Kaspar vai aprendendo a falar, mas ainda não consegue compreender o mundo. Essa compreensão de mundo só é possível se o desenvolvimento da criança for mediado por outro, fazendo com que ele, passe da condição de ser biológico para um ser cultural (VYGOTSKY, 1995). 
            Para que a  criança chegue a um ser cultural, ela deve ter acesso aos bens culturais, materiais e espirituais, necessários para a existência humana. Quando retirado de seu cativeiro, Kaspar é ensinado a andar e falar uma  única frase: “quero ser cavaleiro, igual ao meu pai”. Seguindo o pensamento  Saussuriano que diz que a língua é “um tesouro depositado pela prática da fala em  todos os indivíduos pertencentes à mesma comunidade, um sistema gramatical que  existe virtualmente em cada cérebro”, essa prática da fala não aconteceu com  kaspar, pois vivia sozinho, enquanto esteve preso no cativeiro ele não tinha contato  com a língua. Durante mais ou menos 15 anos de idade aprendeu, através da  repetição, poucas palavras sem atribuir-lhes sentido, ou seja, sem conseguir  entender os signos linguísticos daquela que deveria ser sua língua materna. Para  Saussure, o signo linguístico é a associação que fazemos em nosso cérebro de um  significante mais um significado. O significante é a imagem acústica, e o significado  é o conceito que damos ao significante, assim o signo é a união do significado mais um significante.
               Kaspar, quando chegou à praça da comunidade, trazia consigo uma carta, um livro com orações, um terço e algumas folhas de ouro. Os moradores, que não conheciam Kaspar, começaram a estranhar aquele jovem que estava imóvel na praça e foram perguntar-lhe o que desejava. Kaspar não soube responder corretamente o que estava fazendo ali, então o morador viu que a carta que Kaspar segurava era endereçada ao Capitão da Cavalaria, e o levou até a casa do capitão.
            Quando o capitão o recebeu, Kaspar só repetia a única frase que sabia. Sem encontrar respostas com o próprio Kaspar, o capitão decidiu ler a carta  que dizia que ele havia sido entregue aos cuidados de um homem muito pobre, que  o criou trancado em um cárcere para que ninguém soubesse de sua existência.
           Para encontrar respostas, o capitão examinou Kaspar, vendo que ele tinha a pele delicada e que tinha marcas idênticas nos tornozelos e nos pulsos, indicando que havia sido acorrentado. Kaspar também tinha a cicatriz de uma vacina o que  indicava que poderia ter origem nobre.
              Em virtude do cárcere em que viveu, desprovido de qualquer contato humano social e educacional, Kaspar não desenvolveu a capacidade da comunicação e não conseguia se comunicar com as pessoas, por isso foi levado para uma torre onde  era comum colocarem as pessoas que estariam à margem da sociedade. 
“A sociedade não é possível a não ser pela língua; e, pela língua, também o indivíduo.O despertar da consciência na criança coincide sempre com a aprendizagem da linguagem, que a introduz pouco a pouco como indivíduo na sociedade.” (BENVENISTE, 1976, p. 27).
           Por não representar uma ameaça, existe uma tentativa de inserção de Kaspar na sociedade. Nesta mesma época, um circo apresentando pessoas com algum  tipo de anomalia física ou psíquica chegou à comunidade. Kaspar foi apresentado, durante o show, como uma atração local. Isso acontece devido a visão que a comunidade tem dele, considerando-o um adolescente imaturo, comparável a uma criança inexperiente e selvagem.
         Nessa apresentação, o professor Daumer conhece Kaspar e o leva para casa no intuito de ensinar a ele os ritos de convivência social como linguagem, música e costumes e também estudar como acontece esse processo em um adolescente.
        A constituição da criança como um ser humano é, portanto, algo que depende duplamente do Outro: primeiro, porque a herança genética da espécie lhe vem por meio dele; segundo, porque a internalização das  características culturais da espécie passa, necessariamente, por ele, como  o deixa claro a análise de Vygotsky. (PINO, 2005, p. 154).
           Kaspar até mais ou menos seus 16 anos nunca interagiu com pessoas ou com a natureza, não tendo aprendido a assimilar conceitos e interagir de nenhuma maneira com pessoas, começando seu processo de aquisição da linguagem e de inserção na sociedade, na adolescência. Kaspar tem a audição e a visão muito aguçadas, o que o ajuda a aprender muitas coisas nos primeiros dois anos em que está com o professor Daumer, processo esse que acontece de uma maneira  parecida no aprendizado de uma criança.
          Com o passar de dois anos, Kaspar adquire a capacidade de comunicação e mostra interesse pela música, aprendendo a tocar piano. Em uma passagem, em que o professor Daumer fala com Kaspar sobre seu aprendizado que deve ser expandido através da sua socialização, Kaspar fala que: “os homens são como lobos”. Uma vez que a comparação é tão semelhante à metáfora, remetemos Cassirer (1972), que diz que a metáfora consiste, além de um fenômeno linguístico de natureza semântica, na representação da semelhança entre a significação e o objeto. Isso significa dizer que as semelhanças tão necessárias para as relações dos seres humanos com a natureza podem ser representadas pela metáfora, que pode transpor significados devido à capacidade criativa de cada indivíduo. Portanto, a utilização de metáforas permite ao indivíduo apresentar conceitos que as palavras com significado literal não poderiam, promovendo uma ligação entre a linguagem e o mundo e as suas relações.
               Para essa socialização, o professor Daumer leva Kaspar a vários locais, e o primeiro deles consiste na torre em que Kaspar ficou detido, enquanto o capitão da  cavalaria decidia qual seria o seu futuro. Nesse momento, Kaspar demonstra claramente uma falta de noção sobre distância, tamanho e proporcionalidade. Fala que apenas um homem muito grande poderia ter construído uma torre tão grande. O  professor Daumer afirma que ele entenderá como é possível construir uma torre tão  alta com a utilização de andaimes, mas que Kaspar só irá entender o dia em que  eles forem ver uma obra em construção. Isso reforça que o desenvolvimento cultural da criança é o processo pelo qual ela deverá apropriar-se, pouco a pouco, nos limites de suas possibilidades reais, das significações atribuídas pelos homens às coisas. (PINO, 2005, p. 152).
              Outra influência sobre a socialização de Kaspar é a da religião. Religiosos tentam descobrir qual a percepção que Kaspar tinha sobre Deus, ou qual força que lhe acalentava a alma durante o cativeiro. Kaspar responde que não entendeu a pergunta, visto que durante o cativeiro, ele não pensava em nada, e nem consegue imaginar o processo do criacionismo neste instante. Assim, tentam impor alguns dogmas, pelo simples acreditar pelo acreditar, admitindo os mistérios da fé sem procurar entender. Kaspar fala que, antes disso, precisa aprender a ler e escrever, para depois conseguir compreender outros conceitos mais complexos.
                O professor Daumer e um dos padres tentam explicar a Kaspar algumas  noções sobre tempo e espaço no pomar, onde eles mostram a diferença entre as maçãs verdes e vermelhas, e seu período de maturação. Quando o professor Daumer derruba uma maça e se abaixa para pegá-la, Kaspar os surpreende, falando que as maças precisam descansar. Fica claro nesta passagem que ele ainda não consegue distinguir ações características de cada objeto ou pessoa, associando características humanas a objetos inanimados e vice-versa. Outro comentário neste mesmo sentido ocorre quando Kaspar pergunta à governanta qual a função das mulheres. Em sua perspectiva, a função das mulheres seria ficarem sentadas fazendo tricô, ou cozinhando.
              O professor Daumer contou a Kaspar sobre o deserto do Saara. Kaspar ficou muito interessado pelo assunto, inventando uma história sobre o deserto. Porém, ele consegue, até este momento, apenas imaginar o início da história, pois lhe faltam experiências para que possa agregar novos fatos, locais e pessoas ao conto.
             Recorremos ao conceito de Vygotsky que diz que “a imaginação depende da experiência, e a experiência da criança forma-se e cresce gradativamente, diferenciando-se por sua originalidade em comparação à do adulto.” (VYGOTSKY, 2009, p. 43). Pode-se dizer que Kaspar não adquiriu experiência suficiente para fazer com que sua imaginação amadureça. Apesar de “ao longo do processo de desenvolvimento da criança, desenvolve-se também a sua imaginação, que atinge a sua maturidade na idade adulta” (VYGOTSKY, 2009, p. 44).
            Ele já está na idade adulta, mas a apendizagem não se deu quando era criança, fazendo com que não adquirisse a experiência necessária para o amadurecimento de sua imaginação.
          Ele fala ao professor Daumer que teve um sonho, e este fica feliz com o desenvolvimento de Kaspar, pois antes, este não conseguia diferenciar sonho de realidade. O professor afirma ser curioso que durante todo o tempo de cativeiro, Kaspar nunca tenha sonhado, mas agora tenha sonhado com o Cáucaso, talvez resultado de novas associações com a experiência.
          Kaspar parece estar deprimido com sua condição, pois fala ao professor Daumer que o único lugar em que se sente bem seria em sua cama. O professor pergunta se ele não gosta mais do jardim, do verde das plantas, das pessoas.
           Claramente, Kaspar mostra reconhecer as suas próprias limitações e questiona o seu lugar no mundo. O professor Daumer chama outro professor para avaliar o desempenho do raciocínio lógico de Kaspar. Este professor faz uma pergunta que teria apenas uma resposta correta, desde que o raciocínio não utilizasse uma hipótese que levasse  em consideração uma redução ao absurdo. Porém, é isso que Kaspar faz, apresenta uma resposta absurdamente incorreta para os padrões do professor, porém logicamente certa.
        Kaspar é apresentado à sociedade da época, como sendo um protegido de um nobre. Esta aparição causa bastante curiosidade sobre seu tempo no cativeiro. Kaspar diz que sua vida no cativeiro era melhor do que a de agora, pois acha que a única coisa interessante de sua vida é a sua própria vida. O nobre diz que existem muitas outras coisas que o enriquecem como ser humano, e cita a música como  uma delas. Assim, Kaspar diz que vai exprimir no piano o que sente em sua alma,  com uma clara alusão de que não consegue por palavras falar tudo que desejaria.
         Algumas escolhas individuais já podem ser vistas no comportamento de Kaspar, como na passagem em que ele saiu da igreja por achar que o canto dos fiéis parecem gritos. Devido a suas escolhas, bem como um comportamento incomum à sociedade da época, alguns moradores não o veem como integrante daquela comunidade.
        Assim, Kaspar sofre um primeiro atentado e fica acamado. Durante esse período, conta uma visão em que várias pessoas estão subindo uma montanha como se fosse uma procissão. Havia neblina e não era possível de se enxergar  claramente. E lá em cima da montanha, estava a morte.
         Segundo Freud (1996), o sonho com morte para a criança (estágio de desenvolvimento em que Kaspar se encontrava), não tem o mesmo significado para  nós, adultos. Para a criança,  estar 'morto' significa aproximadamente o mesmo que ter 'ido embora' – ter  deixado de incomodar os sobreviventes. A criança não estabelece nenhuma  distinção quanto ao modo como essa ausência é provocada: se é devido a  uma viagem, a uma demissão, a uma separação ou à morte. (FREUD, 1996, p. 176).
            Kaspar sofre um segundo atentado, este sim mortal. Em seu leito de morte, consegue contar toda a história sobre o deserto do Saara. A história é sobre uma caravana que deve atravessar o deserto sendo liderada por um velho cego. Em algum momento da sua travessia, a caravana parou achando que estavam perdidos,  pois tinham se deparado com montanhas. Eles não sabiam mais qual caminho seguir, até que o velho cego prova um punhado de areia e diz que não existem  montanhas, que são apenas imaginação. Então, a caravana prosseguiu para o  norte, chegando na cidade. Kaspar diz que a história continua na cidade, mas que  esta história ele não sabe. Uma possível interpretação desse sonho seria uma  alusão à cegueira imposta pela manipulação da sociedade sobre as pessoas, sem  questionamento, apenas aceitação.
           Seu corpo é estudado, e são notadas algumas características biológicas interessantes, tais como: figado aumentado, cerebelo muito desenvolvido e o hemisfério esquerdo do cérebro menos desenvolvido. Estas características biológicas do cérebro eram as que lhe davam habilidades para a música, embora apresentasse outras limitações. Podemos notar que existe uma tendência em colocar a culpa da falta de sociabilização de Kaspar em alguma causa biológica, em uma tentativa de isentar a sociedade da época bem como suas normas sociais que  determinavam um padrão a ser seguido.

terça-feira, 21 de abril de 2015

ENTREVISTA: CLAUDIO NARANJO - A EDUCAÇÃO QUE TEMOS ROUBA DOS JOVENS A CONSCIÊNCIA, O TEMPO E A VIDA

A EDUCAÇÃO QUE TEMOS ROUBA DOS JOVENS A CONSCIÊNCIA, O TEMPO E A VIDA



Quando ouvimos este psiquiatra chileno de 75 anos, temos a sensação de estarmos diante de Jean-Jacques Rousseau do nosso tempo. Ele nos conta que esteve bastante adormecido até os anos 60, quando se mudou para os EUA, se tornou discípulo de Fritz Perls, um dos grandes terapeutas do século XX, e passou a integrar a equipe de terapeutas do Instituto Esalen da Califórnia. A partir deste momento passou a ter profundas experiências no mundo terapêutico e espiritual. Entrou em contato com o Sufismo e tornou-se um dos introdutores do Eneagrama no Ocidente. Ele também se aprofundou nos estudos do budismo tibetano e do zen.

Claudio Naranjo tem dedicado sua vida à pesquisa e ao ensino em universidades como Harvard e Berkeley. Fundou o programa SAT, uma integração de Gestalt-terapia, o Eneagrama e Meditação para enriquecer a formação de terapeutas  professores. Neste momento, lança um alerta contundente: ou mudamos a educação ou o mundo vai afundar.

- Você diz que para mudar o mundo é preciso mudar a educação. Qual é o problema da educação e qual é a sua proposta?

– O problema da educação não é de forma alguma o que os educadores pensam que é. Acreditam que os alunos não querem mais o que eles tem a oferecer. Aos alunos vão querer forçar uma educação irrelevante e estes se defendem com distúrbios de atenção e com a desmotivação. Eu acho que a educação não está a serviço da evolução humana, mas sim da produção ou da socialização. Esta educação serve para adestrar as pessoas de geração em geração, a fim de continuarem sendo manipulados como cordeiros pela mídia. Este é um grande mal social, querer usar a educação como uma maneira de embutir na mente das pessoas um modo de ver as coisas que irá atender ao sistema e a burocracia. Nossa maior necessidade é evoluir na educação, para que as pessoas sejam o que elas poderiam ser.

A crise da educação não é uma crise, entre as muitas crises que temos, uma vez que a educação é o cerne do problema. O mundo está em uma profunda crise por não termos uma educação voltada para a consciência. Nossa educação está estruturada de uma forma que rouba as pessoas de sua consciência, seu tempo e sua vida.

O modelo de desenvolvimento econômico de hoje tem ofuscado o desenvolvimento da pessoa.

- Como seria uma educação para a qual sejamos seres completos?

– A educação ensina as pessoas a passarem por exames, não a pensarem por si mesmas. É um tipo de exame em que não se mede a compreensão e sim a capacidade de repetir. É ridículo, se perde uma grande quantidade de energia! Ao invés de uma educação para a informação, precisamos de uma educação que aborde o aspecto emocional e uma educação da mente profunda. Para mim parece que estamos presos entre uma alternativa idiota, que é a educação secular e uma educação autoritária, que é a educação religiosa tradicional. Está tudo bem separar o Estado e a Igreja mas, por exemplo, a Espanha, tem descartado o espírito, como se religião e espírito fossem a mesma coisa. Precisamos que a educação também atenda à mente profunda.

- Quando você fala sobre a espiritualidade e a mente profunda o que quer dizer exatamente?

Tem a ver com a própria consciência, com essa parte da mente da qual depende o sentido da vida. Está se educando as pessoas, sem este sentido. Tampouco é uma educação de valores, porque a educação de valores é demasiadamente retórica e intelectual. Os valores deveriam ser cultivados através de um processo de transformação pessoal e esta transformação está longe da educação atual.

A educação deve também incluir um aspecto terapêutico. O desenvolvimento pessoal não pode ser separado do crescimento emocional. Os jovens estão muito danificados afetiva e emocionalmente pelo fato de que o mercado de trabalho esta absorvendo os pais que não têm mais disponibilidade para os filhos. Há muita carência amorosa e muitos desequilíbrios nas crianças. Não pode aprender intelectualmente uma pessoa que está emocionalmente danificada.

O lado terapêutico tem muito a ver com resgatar na pessoa a liberdade, a espontaneidade e a capacidade de satisfazer seus próprios desejos. O mundo civilizado é um mundo domesticado, tanto a formação, quanto a criança, são instrumentos desta domesticação. Temos uma civilização doente que os artistas perceberam há muito tempo e agora cada vez mais pensadores, percebem também.

-A educação parece interessada apenas em desenvolver as pessoas racionais. Que outras partes mais poderiam ser desenvolvidas?

-Eu coloco ênfase de que somos seres com três cérebros: temos cabeça (cérebro intelectual), coração (cérebro emocional) e intestino (cérebro visceral ou instintivo). A civilização está intimamente ligada à tomada do poder pelo cérebro racional. No momento em que os homens predominaram no controle político, cerca de 6000 anos atrás, instaurou-se o que chamamos de civilização. E não é só o domínio masculino e nem só o domínio da razão, mas também a razão instrumental e prática, que se associa com a tecnologia; é este predomínio da razão instrumental sobre o afeto e a sabedoria instintiva, que nos tem empobrecido. A plenitude só pode existir em uma pessoa que tem os três cérebros ordenados e coordenados. Deste meu ponto de vista, precisamos de uma educação para os seres com três cérebros. Uma educação que poderia ser chamada de holística ou integral. Se vamos educar a pessoa como um todo, devemos ter em mente que a pessoa não é apenas razão.

Ao sistema convém que cada pessoa não esteja em contato consigo mesma e nem que pense por si mesma. Por mais que se levante a bandeira da democracia, ele tem muito medo que as pessoas tenham uma voz e estejam conscientes. A classe política não está disposta a investir em educação.

- A educação nos faz mergulhar em um mar de conceitos que nos separam da realidade e nos aprisiona em nossa própria mente. Como se pode sair desta prisão?

Esta é uma grande questão, uma questão necessária, no mundo educacional. A ideia de que o conceitual é uma prisão, requer uma certa experiência de que a vida é mais do que isso. Para quem já tem interesse em sair da prisão intelectual, é muito importante ter disciplina para parar a mente, ter a disciplina do silêncio, como praticado em todas as tradições espirituais: cristianismo, budismo, yoga, xamanismo… Parar os diálogos internos, em todas as tradições do desenvolvimento humano, tem sido visto como algo muito importante. A pessoa precisa se alimentar de coisas a mais, do que conceitos. O sistema educacional quer aprisionar o indivíduo, em um lugar onde ele esteja submetido a uma educação conceitual forçada, como se não houvesse outra coisa na vida. É muito importante, por exemplo, a beleza…a capacidade de reverência, de admiração, de veneração e de devoção. Isto não tem a ver necessariamente com uma religião ou um sistema de crenças. É uma parte importante da vida interior que está se perdendo, da mesma forma que estão perdendo, belas áreas da superfície da Terra, a medida que se constrói e se urbaniza.

- Precisamente, quero saber sua opinião sobre a crise ecológica que vivemos.

Ela é uma crise muito evidente, é a ameaça mais tangível de todas. Você pode facilmente prever que, com o aquecimento global, com o envenenamento dos oceanos e outros desastres que estão acontecendo, muitas pessoas não poderão sobreviver.

Estamos vivendo graças ao petróleo e consumimos mais recursos do que a terra produz. É uma contagem regressiva. Quando ficarmos sem o combustível, será um desastre para o mundo tecnológico que temos.

As pessoas que chamamos primitivas, como os índios, têm uma maneira de tratar a natureza que não vem do sentido utilitário. Na ecologia, na economia e em outras coisas, temos dispensado a consciência e trabalhado apenas com argumentos racionais que estão nos levando ao desastre. A crise ecológica só pode ser interrompida com uma mudança pelo coração, com a verdadeira transformação que só um processo educativo pode dar. Com isto, eu não tenho muita fé nas terapias ou religiões. Só uma educação holística poderia evitar a deterioração da mente e do planeta.

- Poderiamos dizer que você encontrou um equilíbrio em sua vida nesse momento?

-Eu diria que mais e mais, apesar de eu não ter terminado a jornada. Eu sou uma pessoa com muita satisfação, a satisfação de ajudar o mundo que estou. Vivo feliz, se é que se pode ser feliz nesta situação trágica em que todos nós estamos.

-A partir de sua experiência, da sua carreira e sua maturidade, como você processa a questão da morte?

-Em todas as tradições espirituais aconselha-se, a viver com a morte ao lado. Você tem que chegar a essa evidência de que somos mortais, e que levar a morte a sério não será tão vaidoso. Não teremos tanto medo das coisas pequenas, quando temos uma coisa maior com que nos preocupar. Acredito que a morte só é superada para aqueles que de alguma forma, morrem antes de morrer. Precisamos morrer para a parte mortal, para a parte que não transcende. Aqueles que tem tempo, suficiente dedicação e que vão suficientemente longe nesta viagem interior, finalmente encontram seu verdadeiro Eu. Este ser interior ou este ser que é um, é algo que não tem tempo, e dá a uma pessoa uma certa paz ou um sentimento de invulnerabilidade. Estamos tão absortos em nossas vidas diárias, em nossos pensamentos de alegria, tristeza, etc…Não estamos em nós mesmos, não temos conhecimento de quem somos. Para isso, precisamos estar muito sintonizados com a nossa experiência de tempo. Esta é a condição humana, estamos vivendo no passado e no futuro, no aspecto horizontal de nossas vidas, porém, desatentos para a dimensão vertical da vida, para o aspecto mais alto e mais profundo, nosso espírito e nosso ser. E a chave para este acesso, é o aqui e o agora.

Às vezes estamos em busca do ‘Ser’ e às vezes ficamos confusos em busca de outras coisas menos importantes, como o sucesso e a fama.