Crônica: Dia de
Compras
Walcyr Carrasco
ABRO A GELADEIRA. NEM OVOS! Nos armários, nem sabão! Rendo-me ao inevitável. Faço a lista. Parto. Supermercado sábado de manhã é a sucursal do inferno! Mal entro, quase sou atropelado por um adolescente que corre com um carrinho vazio, a irmãzinha dentro. Deveria haver semáforo para carrinhos de compras! Cuidadoso, mantenho meu carrinho à direita, devagar. Uma senhora enfia o dela nos meus calcanhares. Rosno. Ela pede desculpas e segue. Abro a listinha. O problema é que a ordem dos produtos na lista nunca é a mesma em que estão dispostos. Vou para um corredor e pego a lata de molho de tomate. Parto para outro item. Ando quilômetros. O item seguinte está próximo de onde eu estava antes! Logo tenho a impressão de que fiz o trajeto São Paulo—Rio a pé! Guardo a lista. Decido andar entre as gôndolas, pegando o que deve estar em falta.
— Óleo, preciso.
Arroz, preciso. Chocolate, não preciso. Mas quero!
Que fome! Atolo o
carrinho de bolachas, salgadinhos, geleias, como se fosse
comer tudo imediatamente. Viro à direita e desembarco em um congestionamento.
Senhoras maquiadas passeiam pelas gôndolas, tranquilamente. Comportam-se
como se estivessem pegando as crianças na escola, paradas na faixa dupla. Ou
seja, abandonam os carrinhos no meio do corredor. Empurro um deles. A dona me
encara, brava. Ergo a cabeça e continuo. Mais adiante, alguns casais. As
crianças comportam-se como se estivessem em um playground. Correm. Gritam. Os
pais sorriem, enquanto uma menina derruba uma lata de pêssegos em calda nos
meus pés. Atiro-me para o próximo corredor.
Uma senhora idosa
pede para eu verificar a validade de um produto. Sorrio, mas sei que caí numa
armadilha. A validade é detalhe. Quer puxar papo. Em supermercados é que se
nota a solidão das grandes cidades.
— Como o preço do
arroz subiu! — diz, entabulando uma conversa.
— Hum, hum.
-— Desse jeito não
sei aonde vamos parar.
— Hum, hum.
— Eu venho sempre
aqui porque a minha filha e a minha neta trabalham
fora. Minha neta é
muito inteligente, já vai prestar vestibular!
— Hum, hum.
— Gosto de conversar
com gente como o senhor para me atualizar. O senhor é muito simpático!
— Hum, hum!
Consigo me esgueirar
até a fila. É enorme. Vinte minutos. A minha frente, um casal nervoso. Quando
está terminando, a caixa pára.
— Este produto está
sem código.
Vem um rapazinho.
Some. Descubro que a fila do lado andou muito mais depressa. Que raiva!
Finalmente, vem o preço. Ele faz o cheque. Novo ritual, enquanto é aprovado.
Tenho vontade de abandonar o carrinho e sair correndo.
Chega minha vez.
Esvazio o carrinho. Boto tudo em sacolas. Demoro. A caixa me ajuda. Quem está
atrás me encara com olhar assassino. Pago. Deu mais do que eu previa, sempre dá
mais! Encho o carrinho de novo. Na pressa, boto lataria em cima de frutas, tudo
vira uma confusão! Vou para o carro. Tiro as sacolas, guardo. Chego ao prédio.
Agora, retiro do carro. Boto no elevador. Arranco do elevador. Entro no
apartamento. Estou exausto, mas nada de descansar! Esvazio as sacolas. Ovos se
quebraram. Limpo as latas. Enfio tudo na geladeira, nos armários.
Desabo na cadeira. A
lista cai do meu bolso.
Esqueci metade. Ah, que vida! Semana que vem, vou ter de voltar!
Entendendo o texto
01. O que leva o narrador a fazer uma lista de compras
antes de ir ao supermercado?
a) A falta de
organização.
b) A
necessidade de planejamento.
c) O desejo de
evitar esquecimentos.
d) A tradição
familiar.
02. Por que o narrador compara o
supermercado a "a sucursal do inferno"?
a) Devido ao calor intenso dentro do
estabelecimento.
b) Por causa da multidão e da
confusão.
c) Devido à presença de produtos
inflamáveis.
d) Por ser um lugar escuro e
assustador.
03. Qual é a reclamação do narrador em
relação à ordem dos produtos no supermercado?
a) Os produtos sempre estão em falta.
b) A disposição dos produtos não
corresponde à ordem da lista.
c) Os preços dos produtos são muito
elevados.
d) Os corredores do supermercado são
estreitos demais.
04. O que o narrador afirma que
"deveria haver" para evitar acidentes dentro do supermercado?
a) Semáforos
para carrinhos de compras.
b) Seguranças controlando o fluxo de
pessoas.
c) Um sistema de navegação para
clientes.
d) Mais espaço para circulação.
05. Como o narrador descreve o comportamento
das crianças dentro do supermercado?
a) Disciplinadas e calmas.
b) Correndo e gritando como se
estivessem em um playground.
c) Ajudando os pais nas compras.
d) Sendo repreendidas por seus pais o
tempo todo.
06. Qual é a observação do narrador sobre a
solidão nas grandes cidades, conforme sua experiência no supermercado?
a) As pessoas se encontram com amigos
o tempo todo.
b) Os supermercados são lugares de
socialização.
c) As pessoas frequentemente estão em
busca de interação.
d) É possível notar a solidão nos momentos de interação
superficial, como conversas de caixa de supermercado.
07. O que o narrador esquece de comprar,
mesmo após enfrentar a confusão do supermercado?
a) Ovos.
b) Arroz.
c) Sabão.
d) Chocolate.
08. Como o narrador se sente após terminar
as compras no supermercado?
a) Revigorado e relaxado.
b) Exausto e
frustrado.
c) Satisfeito e contente.
d) Impaciente e irritado.
09. O que o narrador faz quando percebe que
esqueceu metade das coisas que precisava comprar?
a) Decide fazer uma nova lista
imediatamente.
b) Desiste e planeja voltar ao
supermercado na semana seguinte.
c) Liga para alguém ir buscar o que
falta.
d) Tenta se convencer de que pode
passar sem os itens esquecidos.
10. Qual é o sentimento geral do narrador em
relação à experiência de fazer compras no supermercado?
a) Prazer e diversão.
b) Apatia e indiferença.
c) Irritação e cansaço.
d) Empolgação e entusiasmo.