quarta-feira, 18 de setembro de 2024

CONTO: O BOQUINHA DA NOITE - JAIR VITÓRIA - COM GABARITO

 Conto: O BOQUINHA DA NOITE

             Jair Vitória

        Boca da noite, Boquinha da Noite – um apelido bem dado e bem certo. E que não vinha de coisas estranhas. Gostava tanto de dança que chegava à casa da pagodeira logo à boca da noite. Dançava de dar íngua nas virilhas e debaixo dos braços. Homenzinho já beirando os cinquenta mas que era uma espoleta nas gafieiras. Os rapazes ficavam basbacados com os mandos deles nas rodas de
dança. E as moças gostavam de dançar com ele...

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      Andava ele quase de felicidade malvivida; mas, se sabia disso, não se importava. Pulava o Rio Grande toda vez que havia um baile no Triângulo Mineiro. Dançava até molhar toda a roupa de suor. Saía para o terreiro, torcia a camisa, secava um pouco, depois voltava e, enquanto houvesse o fole falando música e houvesse dama, estava ele sacolejando as cadeiras. Cabelo já empainando. Tinha um cavalo castanho de encher os olhos. E só, também.

        -- Pacatau, pacatau, pacatau – era o Boquinha da Noite enforquilhado no lombo do Castanho, esfregando na sela as carnes do fundo. Tinha também um cachorro pintado que era seu amigo fiel. Meio de bem, meio de mal com a tal felicidade. Por outros tempos, longe, ele tinha ficado de mal com ela. Tinha sido lá nas margens do São Francisco, para as bandas de Xique-Xique. Naquele rincão ele perdeu a bem-amada. Ficou sorumbático um naco de tempo. Andou de bico virado para as coisas do mundo. Mas um dia pegou a trouxa e, sonhando com as terras de São Paulo, apontou o nariz para o sul. E tinha vivido e vivia sozinho – sem mulher. Pererecava e sambangava daqui e dali e achava pedaços de alegria nos bailes de roça. Morava numa espelunca em vivência com outro rapaz solteiro já meio também chegado nos anos. Era o Ninico.

        -- Pacatau, pacatau, pacatau – sempre o Boquinha enforquilhado no Castanho. Queria ver as mulheres-esposas e moças com os olhos brilhantes para o lado dele. O cavalo era bonito, sabia muito bem daquilo. Enganar a si mesmo não era tolice tanta. As mulheres olhavam para o cavalo, mas olhavam para ele
também. Era bom demais dar de possuir um cavalo bonito.

        -- Castanho, vai comer um pouco de capim, que a gente vai mais de noitinha num baile.

        O cavalo começava a pastar o capim-jaraguá bem depressa.

        -- Tigre, sai pra lá, sá bichinho. Esse cachorrinho anda de maus modos, Ninico.

        Ninico pôs o prato vazio no jirau e não falou nada. A noite vinha
pingando orvalho no capinzal.

        Mas apareceu uma mudança e encheu a tapera onde o Boquinha passava em frente aos pacataus, pacataus, pacataus. Família de grande prole. Havia uma moça de beleza pequena e de sorriso malfeito. Entretanto, tinha o corpo de bom feitio. Voz até grossa e de falar áspero.

        -- Sabe o nome da moça que mudou pra tapera do Jorginho, Ninico?

        -- Sei não, inda não. Só vi pelas costas ainda. É bonita?

        -- Bonita até falar chega, pois...

        -- Mas você não pode mais não nem pensar em moça.

        -- Tu é besta, sô; sou homem de cativar mulher demais ainda.

        -- Ora Boquinha, deixa de pensamento bobo.

        -- Pois vou ganhar a Odete pra mim. esse é o nome dela, ODETE, nome doce de fazer arrepio pelo corpo afora.

        -- Você pega com muita coisa que eu vou lá e tomo essa moça de você, Boquinha...

        -- Pensa nem isso não, Ninico... vou ser o dono dela.

        A noite estava no terreiro, pretinha de fazer medo. Boquinha da Noite dormiu com a cabeça cheia de primaveras. No dia seguinte bateu visita na casa da família novata. Castanho estava no terreiro da sala mastigando o freio e o cachorro Tigre foi cheirar a lata de lavagem na cozinha. Boquinha tagarelou com o chefe. Conversou com os rapazotes. Depois ganhou uma xícara de café da moça. Ficou trêmulo e queimou a boca de apuro de beber café pelando. Minou até água dos olhos do homenzinho, mas ele aguentou firme. O que mais fervia era o sangue dele em doidura de amor. Estava de bater a cabeça sem rumo de paixão pela Odete. Ofereceu ajuda que não dispunha à família pobre. O Boquinha da Noite conversou o que não sabia. O chefe da espelunca que era folgado aceitou tudo. Disse que era bom fazer amizade com os vizinhos novos.

        -- Pacatau, pacatau, pacatau – foi-se o Boquinha enforquilhado no arreio do Castanho. Rindo sozinho pela estrada. A Odete tinha gostado dele sim. Dera-lhe a xícara de café mais um sorriso. Agora ele estava em doidura séria de amor. Ninico iria morrer de inveja.

        Os outros rapazes iriam ficar de olhos arregalados ao vê-lo nos bailes com a mão no ombro da Odete. Ela era mais alta que ele, mas tinha nada não.

        Chegou em casa e conversou com os animais, porque o Ninico não estava. Notava toda a beleza da floresta num pedação de natureza que começava do outro lado do córrego. Beleza maior era casar de novo e com uma doninha de dezessete anos. Ele, o dançarino fanático de cabelos empainando. Feliz mais que sabiá em tardes de sol e em manhãs radiosas. Ria de falar chega a si mesmo
e de fazer graça aos animais. Sacudia a cabeça à toa.

        Quando a noite vinha de novo e o Ninico ainda não havia chegado da roça, Boquinha saiu com um frango carijó debaixo do braço. Era o primeiro de uma série de presentes que ele levaria para a família de Odete.

        -- Seo Roque, tá aqui um franguinho que eu trouxe de presente pra vocês. Na Bahia tinha desse costume com o vizinho novo.

        No vaivém da conversa, na luz mortiça da sala, Odete saiu para ajudar a esticar o assunto. O Boquinha da Noite sentiu o sangue ferver de amor. Conversou o que não sabia. O Sr. Roque disse que ele podia ficar na sala conversando com os meninos enquanto ele ia lavar os pés. Odete de amizade com o homenzinho de língua elástica sentou no mesmo banco. Quando ele foi embora, saiu tonto de paixão olhando para as estrelas. O vento sacudia as ramas e a lua começava a nadar no céu. Boquinha enchia os pulmões de ar e o coração de esperança. Decerto ela também tinha gostado dele.

        O Boquinha agora estava dando de toda a noite passar um pedaço de tempo na casa de Odete. Não era nada a casa dos velhos, mas casa da Detinha. Mandou mais frangos de presente e esqueceu um pouco dos pagodes. Odete não ia aos bailes no começo, pois não tinha roupa. Mas apareceram cortes de vestido de presente. O velho Roque viu o gosto do Boquinha da Noite pela filha. Deixou aquilo acontecer como água de regato que corre normalmente. Era
proveitoso, não precisava comprar vestido para a Detinha, ela ganhava do homenzinho atacado de paixão. Boquinha passava de galope três ou quatro vezes por dia em frente à casa da moça.

        -- Ninico, vê se gosta desse pano. Vou dá pra Detinha.

        -- É bonito sim. Mas tira isso da cabeça, sô. A moça tá aí querendo te enganar, sô.

        -- Enganar. Tu que não sabe. Já peguei na mão dela lá embaixo daquela figueirinha e dei até bicota nela. Ela riu, sô.

        -- Então o negócio tá sério mesmo, uai.

        -- Falo com o velho daqui uns tempos.

        Os rapazes da vizinhança abusavam do Boquinha. Achavam que Odete queria apenas presente dele.

        -- A Odete vai casar com Baianinho, seo Roque? – era um desses homens de língua elástica que perguntava ao pai da moça.

        -- Ham – rosnou o Sr. Roque erguendo o cutelo de cortar arroz. – Eu vou dar uma pedrada só, mas a minha pedrada vai ser certeira, eu não erro não, vou dar uma pedrada só; onde já se viu coisa dessa?!

        Roque falava daquilo, mas ficava muito contente quando a filha ganhava um corte de vestido do Boquinha da Noite e a família ganhava um frango para almoçar no domingo.

        Boquinha da Noite estava de deitar e levantar pensando na Detinha. Remediava o tempo com alegrias sonhadas de amor. Mulher mais bonita do mundo!

        Mulher mais bonita do mundo, sim senhor. Passar noites com ela num colchão de palha era viver de verdade. Aquela de outros tempos, noutro lugar, nem menos chegava perto da Detinha. Estava iludido mais que peixe pela isca. Veio a primavera de verdade e as árvores floresceram sem medo. Os ipês já tinham ficado carregadinhos de flor. Era a coisa mais bonita do mundo pensar
na Detinha com os olhos cheios de flor. Cabelo empainando, sem mentira, mas sentindo amor de verdade. Nunca deixava de levar presente à moça. Quando saía da casa da amada, depois de tempão de namoro, tinha vontade de voltar para trás quando chegava no meio do caminho. Os noitibós faziam frejo no charco, mas aquilo não espaventava seu querer de amor. Estava de não dormir direito. Dava agora de trabalhar no roçado do pai da criatura amada só para dar
de mão, sem cobrar nada. No fundo, no fundo mesmo do íntimo, Roque até gostava do Boquinha da Noite. Ele era amigo dos leais que ajudavam sem medir esforço. Mas aquele homenzinho dos cabelos empainando casar com a filha dele, isso era neca. Queria o sérico dele, os presentes. Deixava o Boquinha namorar com a filha só para iludi-lo com momentos de alegria.

        -- Sabe, Ninico, já três vezes fiz ameaça de falar com o velho no meu casamento com a Detinha.

        -- Ela aceita?

        -- Falei com ela ainda não de casamento, mas aceita sim, ora.

        -- Sei não. Acho que ela tá só te iludindo.

        -- Sou eu algum bobo... lá minha cara, sô.

        Passou mais um pedaço de tempo e o povo da redondeza comentava o caso com galhofa. Boquinha da Noite nem queria saber de nada. Era ele e ele mesmo o dono da Detinha. Estava de botar orgulho em si mesmo. Cabeça erguida enforquilhado na sela do Castanho.

        Um dia, voltando da roça por uma vereda onde as formigas passeavam também, o Boquinha ensaiou demoradamente para pedir Detinha em casamento. Com muito esforço o pedido de casamento saiu com voz tremida. Roque ouviu com naturalidade, sem dar importância.

        -- Sei, sei, eu não sou contra nada, Severino – Roque respondeu falando o nome de batismo do Boquinha da Noite.

        Boquinha da Noite pegou o trilho e foi para casa com um sufocamento de felicidade. Contou ao companheiro Ninico o caso que tinha acontecido. Ninico torceu o bigode e até acreditou que o Boquinha da Noite conseguiria mesmo casar com a Detinha. Ficou matutando aquilo muito tempo. O Boquinha da Noite era um homenzinho de língua solta mesmo, dono de uma lábia comprida.
Até ele próprio estava com inveja do Boquinha. Ah, sujeitinho de sorte. Como era possível um homem feito beirando os cinquenta anos casar com uma menina de dezessete?

        Detinha precisava arranjar um namorado de verdade mesmo. Roque falou isso com um risinho sarcástico pendurado nos lábios. Boquinha da Noite pensava que aquilo fosse namoro sério. Mas Detinha precisava de um namorado jovem.

        E foi o que aconteceu num baile. Detinha toda cheirosa e bonita dentro de um vestido presenteado pelo Boquinha. Ele, feliz que nem um passarinho. Naquela noite namoraria à beça. Mas Detinha deu-se de esquerda e olhou firme para outro moço. Depois de pouco tempo trançaram as mãos. Noite alta de amargura. Severino... Boquinha da Noite ficou macambúzio num canto. Desapontado mais que nunca. Detinha rindo à solta com o braço do rapaz enlaçado em sua cintura mesmo com a sanfona calada. Uma provocação ferindo fundo!

        Madrugada de amargura. Boquinha da Noite saiu com palpite de morte no coração. Ninico ficou no pagode. Em casa pegou o Castanho, botou a arreata no lombo do animal, encavalou-se e saiu com palpite de morte já mais crescido ainda. Que presente e que presentes tinha dado à Detinha.

        -- Pacatau, pacatau, pacatau – a madrugada acordando sob os cascos do Castanho na estrada do Rio Grande. E mais vontade de morrer aparecendo. E o rio, cheio de roncar medo. Era uma baixada longa e perigosa. Um palpite sem limite de morte. Nadar ele não sabia, tinha até medo d'água.

        Disparou o Castanho apertando com cegueira as esporas e batendo o chicote com alucinação. Um cavalo bom de rédea e obediente até demais. Foi o cavalo disparado e sem parar caiu no rio até de meio-mergulho. Uma loucura na madrugada. A lua não estava olhando e nem velando por ninguém. A água brava! Foi-se o corpo do homem para não mais ser encontrado. O cavalo amanheceu pastando no varjão, ainda arreado; Detinha chorou umas lágrimas
sentidas quando soube de tudo aquilo, mas depois o tempo apagou o sentimento de culpa.

        Contam os visionários demais, que, pela boquinha da noite, um homem dança no meio do rio, sobre as águas, e uma sanfona soa indefinidamente. Mas o vulto some quando os visionários demais afirmam a visão, e o som da sanfona vai embora quando eles aguçam os ouvidos.

VITÓRIA, Jair. O Boquinha da Noite. In: Cuma-João. 2. ed. São Paulo: Ática, 1978. p. 49-54.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 1 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 111-115.

Entendendo o conto:

01 – Qual a principal característica de Boquinha da Noite que dá nome ao conto?

      Sua paixão por dança, que o levava a frequentar bailes até altas horas da noite.

02 – Qual a relação de Boquinha da Noite com o cavalo Castanho?

      O cavalo era seu fiel companheiro, um símbolo de status e um meio de transporte para os bailes.

03 – Como o passado de Boquinha da Noite influencia seu comportamento presente?

      A perda da bem-amada no passado o deixou solitário e em busca constante de afeto, o que o leva a perseguir a paixão por Odete.

04 – Qual o papel de Odete na vida de Boquinha da Noite?

      Odete representa a esperança de amor e felicidade para Boquinha, mas também se torna o objeto de sua obsessão e, posteriormente, a causa de sua tragédia.

05 – Como o ambiente rural e os bailes são retratados no conto?

      O ambiente rural é retratado como um espaço de sociabilidade e onde os bailes são eventos importantes para a comunidade.

06 – Qual a importância da figura de Ninico na narrativa?

      Ninico serve como contraponto a Boquinha, oferecendo uma visão mais realista da situação e tentando alertá-lo sobre as ilusões de Odete.

07 – Como o final do conto pode ser interpretado?

      O final é trágico e ambíguo. Pode ser interpretado como uma punição por sua obsessão, uma libertação de sua dor ou até mesmo uma elevação ao status de lenda local.

08 – Quais os temas principais abordados no conto?

      Amor, paixão, obsessão, ilusão, morte, solidão e a busca por felicidade são alguns dos temas presentes na narrativa.

09 – Qual a importância da linguagem utilizada pelo autor para contar a história?

      A linguagem simples e direta, com expressões populares, contribui para a construção de um universo realista e próximo do universo dos personagens.

10 – Qual a sua opinião sobre a atitude de Boquinha da Noite ao longo da história?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Esta é uma pergunta aberta que incentiva a reflexão individual sobre as ações e motivações do personagem.

 






CONTO: A MARGARIA ENLATADA - (FRAGMENTO) - CAIO FERNANDO ABREU - COM GABARITO

 Conto: A margarida enlatada – Fragmento

           Caio Fernando Abreu

        Foi de repente. Nesse de repente, ele ia indo pelo meio do aterro, quando viu um canteiro de margaridas. Margarida era um negócio comum: ele via sempre margaridas quando ia para sua indústria, todas as manhãs. Margaridas não o comoviam, porque não o comoviam levezas. Mas exatamente de repente, ele mandou o chofer estacionar e ficou um pouco irritado com a confusão de carros às suas costas. O motorista precisou parar um pouco adiante, e ele teve que caminhar um bom pedaço de asfalto para chegar perto do canteiro. Estavam ali, independentes dele ou de qualquer outra pessoa que gostasse ou não delas: aquelas coisas vagamente redondas, de pétalas compridas e brancas agrupadas em torno dum centro amarelo, granuloso. Margaridas. Apanhou uma e colocou-a no bolso do paletó.

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        Diga-se em seu favor que, até esse momento, não premeditara absolutamente nada. Levou a margarida no bolso, esqueceu dela, subiu pelo elevador, cumprimentou as secretárias, trancou-se em sua sala. Como todos os dias, tentou fazer todas as coisas que todos os dias fazia. Não conseguiu. Tomou café, acendeu dois cigarros, esqueceu um no cinzeiro do lado direito, outro no cinzeiro do lado esquerdo, acendeu um terceiro, despediu três funcionários e passou uma descompostura na secretária. Foi só ao meio-dia que lembrou da margarida, no bolso do paletó. Estava meio informe e desfolhada, mas era ainda uma margarida.

        [...]

        No dia seguinte, acordou mais cedo do que de costume e mandou o chofer rodar pela cidade. Os cartazes. As ruas cheias de cartazes, as pessoas meio espantadas, desceu, misturou-se com o povo, ouviu os comentários, olhou, olhou. Os cartazes. O fundo negro com uma margarida branca, redonda e amarela, destacada, nítida. Na parte inferior, o slogan:

        Ponha uma margarida na sua fossa.

        Sorriu. Ninguém entendia direito. Dúvidas. Suposições: um filme underground, uma campanha antitóxicos, um livro de denúncia. Ninguém entendia direito. Mas ele e sua equipe sabiam. Os jornais e revistas das duas semanas seguintes traziam textos, fotos, chamadas:

        O índice de poluição dos rios é alarmante.
        Não entre nessa.
        Ponha uma margarida na sua fossa.

                                Ou

        O asfalto ameaça o homem e as flores.
        Cuidado.
        Use uma margarida na sua fossa.

                                Ou

        A alegria não é difícil.
        Fique atento no seu canto.
        Basta uma margarida na sua fossa.

        Jingles. Programas de televisão. Horário nobre. Ibope. Procura desvairada de margaridas pelas praças e jardins. Não eram encontradas. Tinham desaparecido misteriosamente dos parques, lojas de flores, jardins particulares. Todos queriam margaridas. E não havia margaridas. As fossas aumentaram consideravelmente. O índice de alcoolismo subiu. A procura de drogas também. As chamadas continuavam.

        O índice de suicídios no país aumentou em 50%.

        Mantenha distância.

        Há uma margarida na porta principal.

        Contratos. Compositores. Cibernéticos. Informáticos. Escritores. Artistas plásticos. Comunicadores de massa. Cineastas. Rios de dinheiro corriam pelas folhas de pagamento. Ele sorria. Indo ou vindo pelo meio do aterro, mandava o motorista ligar o rádio e ficava ouvindo notícias sobre o surto de margaridite que assolava o país. Todos continuavam sem entender nada. Mas quinze dias depois: a explosão.

        As prateleiras dos supermercados amanheceram repletas do novo produto. As pessoas faziam filas na caixa, nas portas, nas ruas. Compravam, compravam. As aulas foram suspensas. As repartições fecharam. O comércio fechou. Apenas os supermercados funcionavam sem parar. Consumiam. Consumavam. O novo produto:
margaridas cuidadosamente acondicionadas em latas, delicadas latas acrílicas. Margaridas gordas, saudáveis, coradas em sua profunda palidez. Mil utilidades: decoração, alimentação, vestuário, erotismo. Sucesso absoluto. Ele sorria. A barriga aumentava. Indo e vindo pelo aterro, mergulhado em verde, manhã e noite — ele sorria. Sociólogos do mundo inteiro vieram examinar de perto o fenômeno. Líderes feministas. Teóricos marxistas. Porcos chauvinistas. Artistas arrivistas. Milionários em férias. A margarida nacional foi aclamada como a melhor do mundo: mais uma vez a Europa se curvou ante o Brasil.

        Em seguida começaram as negociações para exportação: a indústria expandiu-se de maneira incrível. Todos queriam trabalhar com margaridas enlatadas. Ele pontificava. Desquitou-se da mulher para ter casos rumorosos com atrizes em evidência. Conferências. Debates. Entrevistas. Tornou-se uma espécie de guru tropical. Comentava-se em rodinhas esotéricas que seus guias seriam remotos mercadores fenícios. Ele havia tornado feliz o seu país. Ele se sentia bom e útil e declarou uma vez na televisão que se julgava um homem realizado por poder dar amor aos outros. Declarou textualmente que o amor era o seu país. Comentou-se que estaria na sexta ou sétima grandeza. Místicos célebres escreviam ensaios onde o chamavam de mutante, iniciado, profeta da Era de Aquarius. Ele sorria. Indo e vindo. Até que um dia, abrindo uma revista, viu o anúncio:

        Margarida já era, amizade.

        Saca esta transa:

        O barato é avenca.

        Não demorou muito para que tudo desmoronasse. A margarida foi desmoralizada. Tripudiada. Desprestigiada. Não houve grandes problemas. Para ele, pelo menos. Mesmo os empregados, tiveram apenas o trabalho de mudar de firma, passando-se para a concorrente. O quente era a avenca. Ele já havia assegurado o seu futuro — comprara sítios, apartamentos, fazendas, tinha gordos depósitos bancários na Suíça. Arrasou com napalm as plantações deficitárias e precisou liquidar todo o estoque do produto a preços baixíssimos. Como ninguém comprasse, retirou-o de circulação e incinerou-o.

        Só depois da incineração total é que lembrou que havia comprado todas as sementes de todas as margaridas. E que margarida era uma flor extinta. Foi no mesmo dia que pegou a mania de caminhar a pé pelo aterro, as mãos cruzadas atrás, rugas na testa. Uma manhã, bem de repente, uma manhã bem cedo, tão de repente quanto aquela outra, divisou um vulto em meio ao verde. O vulto veio se aproximando. Quando chegou bem perto, ele reconheceu sua ex-esposa.

        Ele perguntou:

        – Procura margaridas?

        Ela respondeu:

        – Já era.

        Ele perguntou:

        – Avencas?

        Ela respondeu:

        – Falou.

ABREU, Caio Fernando. A margarida enlatada. In: O novo conto brasileiro. Rio de Janeiro. INL 1985. p. 194-7.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 1 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 52-54.

Entendendo o conto:

01 – Qual a principal ironia presente no conto?

      A ironia reside na transformação da margarida, um símbolo de simplicidade e beleza natural, em um produto de consumo em massa, perdendo sua essência e gerando um frenesi consumista. A intenção inicial de criar um alerta ambiental acaba sendo pervertida, resultando em um novo tipo de poluição: a obsessão por um produto artificial.

02 – Qual o papel do protagonista na história?

      O protagonista é um manipulador que, a partir de uma ideia aparentemente inofensiva, desencadeia uma verdadeira histeria coletiva. Ele se beneficia financeiramente da situação, mas sua manipulação acaba tendo consequências imprevistas e destrutivas.

03 – Qual a crítica social presente no conto?

      O conto critica o consumismo desenfreado, a manipulação da mídia, a superficialidade das relações humanas e a busca incessante por novidades. A sociedade retratada é facilmente influenciável e disposta a consumir qualquer produto, mesmo que este seja artificial e sem valor real.

04 – Qual o significado da "margarida enlatada"?

      A margarida enlatada simboliza a perda da autenticidade, a alienação e a padronização. Ela representa a transformação de algo natural e espontâneo em um produto industrializado e homogêneo, perdendo sua beleza e significado original.

05 – Qual o papel da natureza no conto?

      A natureza, representada pela margarida, é inicialmente um elemento de beleza e simplicidade. No entanto, ela é transformada em um produto artificial e explorado comercialmente. A natureza é vista como mais um objeto de consumo, perdendo sua importância e valor intrínseco.

06 – Qual a relação entre o protagonista e a sociedade?

      O protagonista manipula a sociedade, explorando suas necessidades e desejos mais profundos. Ele se torna uma figura de poder e influência, mas sua relação com a sociedade é baseada na manipulação e na exploração.

07 – Qual o final do conto?

      O final do conto é irônico e trágico. A moda da margarida enlatada passa rapidamente, e o protagonista, após ter acumulado uma grande fortuna, vê seu império ruir. A margarida, que antes era um símbolo de poder e riqueza, torna-se obsoleta e é descartada.

08 – Qual o papel da mídia no conto?

      A mídia desempenha um papel fundamental na criação e na disseminação da histeria coletiva. Os anúncios, as notícias e os programas de televisão são utilizados para manipular a opinião pública e gerar um desejo insaciável pelo produto.

09 – Qual a mensagem principal do conto?

      A mensagem principal do conto é um alerta sobre os perigos do consumismo desenfreado e da manipulação da mídia. A história nos convida a refletir sobre o valor das coisas simples e a importância de preservar a autenticidade e a individualidade.

10 – Como o conto pode ser relacionado com a sociedade contemporânea?

      O conto "A margarida enlatada" é uma crítica à sociedade contemporânea, marcada pelo consumismo exacerbado, pela busca incessante por novidades e pela superficialidade das relações humanas. A história continua relevante, pois os temas abordados, como a manipulação da mídia, a obsessão por produtos e a alienação, são cada vez mais presentes em nosso cotidiano.

 

 

 

 

POEMA: A RIBEIRINHA - PAIO SOARES DE TAVEIRÓS - COM GABARITO

 Poema: A Ribeirinha

             Paio Soares de Taveirós            

No mundo ninguém se assemelha a mim
Enquanto a vida continuar como vai,
Porque morro por vós e - ai! -
Minha senhora alva e de pele rosadas,
Quereis que vos retrate
Quando eu vos vi sem manto.
Maldito seja o dia em que me levantei
E então não vos vi feia!

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E minha senhora, desde aquele dia, ai!
Tudo me ocorreu muito mal!
E a vós, filha de Dom Paio
Moniz, parece-vos bem
Que me presenteeis com uma guarvaia,
Pois eu, minha senhora, como presente,
Nunca de vós recebera algo,
Mesmo que de ínfimo valor.

Paio Soares de Taveirós.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 1 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 164.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal inovação da Cantiga da Ribeirinha em relação às demais cantigas de amor?

      A principal inovação da Cantiga da Ribeirinha reside na quebra de alguns dos padrões do amor cortês. Ao descrever a amada sem o manto, o trovador expõe um momento de intimidade que foge à idealização característica do gênero. Além disso, a solicitação de um presente, a guarvaia, materializa o desejo amoroso, aproximando a cantiga de uma realidade mais cotidiana.

02 – Qual o significado da guarvaia solicitada pelo trovador à dama?

      A guarvaia, um pequeno presente, simboliza o reconhecimento do amor do trovador pela dama. Ao solicitar este presente, ele busca uma prova concreta de que seus sentimentos são correspondidos, mesmo que de forma sutil. A guarvaia representa, portanto, um desejo de reciprocidade e um passo além da idealização amorosa.

03 – Como a figura da dama é retratada na cantiga?

      A dama é retratada como uma figura de grande beleza, "alva e de pele rosadas". No entanto, a descrição da dama sem o manto revela uma mulher real, com imperfeições e vulnerabilidades. Essa representação mais humana da amada contrasta com a idealização comum nas cantigas de amor.

04 – Que emoções são expressas pelo trovador na cantiga?

      O trovador expressa uma gama de emoções, desde o amor intenso e a paixão até a frustração e o desejo de reconhecimento. Ele demonstra um sofrimento profundo pela ausência da amada e pela falta de reciprocidade de seus sentimentos. Ao mesmo tempo, a cantiga revela um tom mais coloquial e direto, aproximando o leitor da experiência pessoal do trovador.

05 – Qual a importância da Cantiga da Ribeirinha para a literatura portuguesa?

      A Cantiga da Ribeirinha é considerada uma das mais importantes cantigas de amor da lírica trovadoresca portuguesa. Ela representa uma transição entre o amor cortês idealizado e uma expressão mais realista e individual do sentimento amoroso. Além disso, a cantiga demonstra a capacidade dos trovadores em inovar e adaptar os códigos literários às suas próprias experiências e à realidade social da época.

 

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

FÁBULA: OS DOIS AMIGUINHOS - ESOPO - COM GABARITO

 Fábula: Os dois amiguinhos 

        Uma vez uma garça adotou um filhote de tigre órfão e criou o bebê junto com seu próprio filho. Os dois viraram grandes amigos, e todo dia faziam a maior bagunça, sem jamais brigar. 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDLwfXMFx9NDbfQKg3EYJXP0mB165Y1N3hcO4uLcR7Id1sR04SWjCuKf7m3c4wUYGDXta4TvogroXG0vIGEZrqp_NbAbHKqIJSsZ4rNNYDmW7a_g4SEIWUgfRfkNlw2ng_Lh9ELxSDFcNnpZPjTl2DvkimMfGCwVMrsGz2h693T82bp1hM-8c58Xo-_Bo/s1600/AMIGO.jpg


Na realidade, eram as crianças mais boazinhas do mundo. Um dia apareceu outra garça que era uma encrenqueira; essa garça tratou muito mal o bebê garça. O bebê garça pediu socorro, e o tigre veio correndo: num instante engoliu a encrenqueira. Só ficou um ossinho e um punhado de penas para contar a história. O tigre, que tinha sido criado num regime vegetariano, achou aquela comida diferente uma maravilha. Lambendo os bigodes, piscou o olho e disse:

        – Eu te adoro, minha pequena garça!

        E zás, lá se foi sua companheira de brincadeiras servir de sobremesa para o piquenique improvisado.

        Moral: Nada elimina o que a natureza determina.

Fábulas de Esopo. Compilação de Russel Ash e Bernard Higton. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1994. p. 44.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 6º ano. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. 7ª edição reformulada – São Paulo: ed. Saraiva, 2012. p. 17.

Entendendo a fábula:

01 – Qual é o enredo principal da fábula "Os dois amiguinhos"?

      A fábula conta a história de uma garça que adota um filhote de tigre órfão, que se torna grande amigo do filho da garça. Apesar de serem inseparáveis, a natureza do tigre prevalece quando ele, instintivamente, come tanto uma garça encrenqueira quanto seu próprio amigo.

02 – Por que o tigre engoliu a garça encrenqueira?

      O tigre, criado de forma vegetariana, correu para socorrer seu amigo e, seguindo seus instintos, devorou a garça encrenqueira sem perceber que estava matando outro ser.

03 – O que acontece após o tigre comer a garça encrenqueira?

      O tigre, depois de provar carne pela primeira vez, se encanta com o sabor e, instintivamente, come também seu amigo garça, apesar de terem sido companheiros de brincadeiras por muito tempo.

04 – Qual é a moral da fábula?

      A moral da fábula é que "Nada elimina o que a natureza determina", ressaltando que, mesmo criado de maneira diferente, o tigre não pode fugir de seus instintos naturais de predador.

05 – O que a relação entre o tigre e a garça nos ensina sobre amizade e instintos?

      A fábula ensina que, apesar da amizade entre espécies diferentes, os instintos naturais podem prevalecer sobre os vínculos criados, mostrando os limites da adaptação e da convivência.

 

ARTIGO: MAS AFINAL, O QUE É EMPREENDEDORISMO? (FRAGMENTO) -JEFFERSON REIS BUENO - COM GABARITO

 Artigo: Mas afinal, o que é empreendedorismo? – Fragmento

Publicado em 27 de novembro de 2019. Por Jefferson Reis Bueno

        Houve um tempo em que a palavra "empreendedorismo" não fazia parte oficial da língua portuguesa. No entanto, há empreendedores por aí há séculos, contribuindo com mudanças importantes na humanidade. Hoje, o termo é cada vez mais utilizado para definir pessoas capazes de identificar problemas, oportunidades e encontrar soluções inovadoras.

 
Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLj8Iyej5lGbHAgUEXyQ0kB8haG2YvZnROfJsoI0ZA_SlbZTT1QHWpUPRoceOjV0A6SZ6Cnh9p6CNTj4UWYJD8GjzpIxD9Ujg7ukg2k6uAd0MtfoVUryFWXouJ9SA3Vl9HEHF7LlxkT7VSVC-yPP0AAQmQsbGwWfYCpgezJzRcnS281Y6LJzf8IyF3UOI/s320/empreendedorismode-impacto-scaled.jpeg

        Isso não significa que um empreendedor seja, necessariamente, um empresário e vice-versa. Neste artigo, você vai finalmente entender o que é empreendedorismo e descobrir algumas qualidades comuns aos empreendedores de sucesso.

        O que é empreendedorismo?

        Empreendedorismo é a capacidade que uma pessoa tem de identificar problemas e oportunidades, desenvolver soluções e investir recursos na criação de algo positivo para a sociedade. Pode ser um negócio, um projeto ou mesmo um movimento que gere mudanças reais e impacto no cotidiano das pessoas.

        [...]

        A introdução de um novo bem, a criação de um método de produção ou comercialização e até a abertura de novos mercados, são algumas atividades comuns do empreendedorismo. [...]

        O Brasil apresenta grande potencial para o empreendedorismo. De acordo com A Global Entrepreneurship Monitor (GEM), a Taxa de Empreendedorismo Total no Brasil é de 38% (2018). São 52 milhões de brasileiros se dedicando ao próprio negócio. [...]

        O que é ser empreendedor?

        Agora que você já sabe o que é empreendedorismo, precisa saber o que significa ser um verdadeiro empreendedor. Alguns entendem como empreendedor quem começa algo novo, que enxerga oportunidades que ninguém viu até o momento. Em outras palavras, é aquela pessoa que faz, sai da zona de conforto e da área de sonhos e parte para a ação.

        Portanto, um empreendedor é um realizador que coloca em prática novas ideias, por meio de criatividade. Isso muitas vezes significa mudar tudo o que já existe. Já viu aquelas pessoas que conseguem transformar crises em oportunidades e que influenciam os outros com suas ideias? Provavelmente são bons empreendedores.

        [...] Dados do Relatório de Empreendedorismo no Brasil de 2018, mostram que houve um aumento no número de pessoas que empreendem por oportunidade.

        De acordo com o levantamento, 61,8% dos empreendedores abriram o próprio negócio porque identificaram uma oportunidade. O saldo é o maior desde 2014, quando atingiu a marca de 70,6%. Enquanto isso, a necessidade tem influenciado cada vez menos a decisão de empreender. O índice caiu para 37,5% em 2018. A menor taxa desde 2014.

        A pesquisa também mostra que houve um crescimento no número de jovens empreendedores. De 2017 para 2018, a participação de pessoas de 18 a 24 anos subiu de 18,9% para 22,2%. [...]

        Características de um empreendedor

        Ninguém nasce empreendedor. É o contato social e estudos que favorecem o desenvolvimento de talentos e características na personalidade que podem ser fortalecidos ao longo da vida. Todos os contatos e referências influenciam diretamente no nível de empreendedorismo de uma pessoa, já que um empreendedor é um ser social. Abaixo, elencamos algumas peculiaridades encontradas nos diversos perfis de empreendedores:

        Otimismo: [...]. O otimista sempre espera o melhor e acredita que tudo vai dar certo no final, mas faz de tudo para chegar aos seus objetivos. [...]

        Autoconfiança: acreditar em si mesmo é fundamental para valorizar seus próprios talentos e defender suas opiniões. [...]

        Coragem: sem temer fracasso e rejeição, um empreendedor faz tudo o que for necessário para ser bem-sucedido. Essa característica não impede que seja cauteloso e precavido contra o risco, mas o faz entender a possibilidade de falhar.

        Persistência e resiliência: motivado, convicto e entusiasmado, um bom empreendedor pode resistir a todos os obstáculos, até que as coisas finalmente entrem nos eixos. [...]

        Quem reúne essas características já está em vantagem quando o assunto é empreendedorismo, mas isso não é suficiente. Para ter sucesso como empreendedor, em alguma atividade é fundamental ter um bom projeto, investir no planejamento e no plano de negócios.

        [...]

BUENO, Jefferson Reis. Mas afinal, o que é empreendedorismo? Blog do Sebrae Santa Catarina, 27 nov. 2019. Disponível em: https://blog.sebrae-sc.com.br/o-que-e-empreendedorismo/. Acesso em: 23 ago. 2020.

Fonte: Linguagens em Interação – Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Juliana Vegas Chinaglia – 1ª edição, São Paulo, 2020 – IBEP – p. 309-310.

Entendendo o artigo:

01 – O que é empreendedorismo segundo o artigo?

      Empreendedorismo é a capacidade de identificar problemas e oportunidades, desenvolver soluções inovadoras e investir recursos para criar algo positivo para a sociedade. Isso pode incluir negócios, projetos ou movimentos que gerem mudanças reais no cotidiano das pessoas.

02 – Empreendedorismo está restrito ao mundo dos negócios?

      Não. Embora muitos empreendedores sejam empresários, empreendedorismo não está restrito ao mundo dos negócios. Ele envolve a inovação em várias áreas, como introdução de novos produtos, métodos de produção, ou até abertura de novos mercados.

03 – Qual é o papel do Brasil no empreendedorismo global, segundo o artigo?

      O Brasil tem grande potencial para o empreendedorismo, com uma Taxa de Empreendedorismo Total de 38% em 2018, o que representa cerca de 52 milhões de brasileiros dedicados ao próprio negócio.

04 – O que significa ser um empreendedor?

      Ser empreendedor é ser uma pessoa que transforma ideias em realidade, saindo da zona de conforto para buscar oportunidades que outros não viram. Os empreendedores são criativos, inovadores e muitas vezes transformam crises em oportunidades.

05 – Qual é a principal razão que leva os brasileiros a empreender, segundo o Relatório de Empreendedorismo de 2018?

      A maioria dos brasileiros (61,8%) empreende por oportunidade, ou seja, porque enxergaram uma chance de negócio, e não por necessidade, uma tendência que tem aumentado desde 2014.

06 – Como o número de jovens empreendedores evoluiu de 2017 para 2018?

      Houve um aumento no número de jovens empreendedores no Brasil. A participação de pessoas entre 18 e 24 anos passou de 18,9% em 2017 para 22,2% em 2018.

07 – Quais são algumas características fundamentais de um bom empreendedor?

      Um bom empreendedor é otimista, autoconfiante, corajoso, persistente e resiliente. Essas qualidades são essenciais para enfrentar desafios e criar soluções inovadoras, embora também seja necessário planejamento e um bom plano de negócios para alcançar o sucesso.

 

 

CONTO: SENHORA HOLLE - IRMÃOS GRIMM & PERRAUT - COM GABARITO

 Conto: SENHORA HOLLE

         Uma senhora tinha duas filhas, sendo uma bonita e aplicada e outra, feia e preguiçosa, que era sua filha legítima, e, por isso, a outra era obrigada a realizar todo o trabalho doméstico e ser a Gata Borralheira da casa. Diariamente a pobrezinha tinha de ir fiar, sentada junto a um poço na rua, e tanto fiava que lhe machucava os dedos a ponto de sangrar. Aconteceu uma vez que o fuso ficou todo ensanguentado e para lava-lo, a menina inclinou-se no poço, momento em que ele saltou de sua mão e caiu. Em prantos, ela correu para contar `madrasta o infortúnio, mas a viúva ficou tão furiosa que lhe disse, sem misericórdia:

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkMmkhiJkBkz6-YOKBD6RMBfJfE97VSH252Fh9rCYq_Tje41X7n3WPWhd9YhxZdIYsx_ptsV4tu2wi8Anx7mMB_WtzMw8ngQ8zerPbJJVC59JZwGbEao4LicnZ7l611oieW5JQSFvhdZ40C2Ou4O3S3bYWktlgObfVFRghxBhdjE6ZSq8I2J7laYWztiI/s1600/GATA.jpg

        -- Se deixou o fuso cair lá embaixo, vá pegá-lo de volta.

        Então a menina retornou ao poço, sem saber o que fazer. Na angústia, atirou-se dentro dele, a fim de trazer o fuso para cima. Acabou perdendo os sentidos e, ao voltar a si, encontrou-se num belíssimo campo de ensolarado, no qual havia milhares de flores. Após sair daquele prado, ela chegou a um forno onde um monte de pães esperneava, dizendo:

        -- Ah, tire-nos daqui, senão vamos queimar! Já estamos no ponto faz tempo!

        Foi quando ela se aproximou e, com a pá, tirou os pães um a um. Continuando a caminhar, ela chegou próximo a uma árvore carregada de maçãs, que lhe pediu:

        -- Ah, sacuda-me, sacuda-me, que as maçãs já estão todas maduras!

        Então ela balançou a árvore para que as maçãs caíssem como chuva, sacudindo até que mais nenhuma ficasse dependurada lá em cima. Após reuni-las num montinho, prosseguiu andando. Finalmente chegou a uma casinha, de onde uma velha senhora a olhava: a menina ficou tão assustada com os enormes dentes que a velha senhora tinha, que ameaçou fugir. Mas a outra a chamou de volta:

        -- Do que você está com medo, linda criança? Fique aqui comigo. Se fizer o trabalho doméstico direitinho, tudo correrá bem. Você só deve prestar atenção ao arrumar minha cama, pois tem de sacudi-la bem para que as penas voem e cais neve no mundo*. Sou a Senhora Holle.

        Essas palavras tranquilizaram tanto a menina que ela ficou animada, concordando com o solicitado e pondo mãos à obra. Ela providenciava tudo de modo a satisfazer a senhora e sempre sacudia violentamente sua cama, em torno da qual as penas esvoaçavam como flocos de neve. Em troca, ela tinha uma vida muito agradável, sem broncas e comendo todo dia do bom e do melhor. Mas depois de algum tempo morando com a Senhora Holle, começou a ficar triste, ela mesma no início não sabendo bem o que é que lhe faltava; logo percebeu que o que sentia era saudades de casa. Apesar de agora estar vivendo ali mil vezes melhor o que lá, desejava voltar assim mesmo. Finalmente ela disse:

        -- Senhora Holle, a senhora tem sido muito boa para mim, mas a minha tristeza é tão grande que não posso mais permanecer aqui embaixo. Preciso retornar para junto dos meus. 

        -- Agrada-me saber que deseja voltar para casa. E por você ter me servido tão fielmente, vou eu mesma levá-la de volta para cima.

        Ela deu-lhe a mão e a conduziu até um portão enorme. Assim que o portão se abriu e a menina o atravessou, caiu um espessa chuva de ouro que ficou todo preso nela, cobrindo-a inteirinha.

        -- Isso é para você por ter sido tão aplicada. – disse a Senhora Holle, dando-lhe de volta o fuso que havia caído dentro do poço.

        Depois o portão fechou-se e a menina se achou do lado de cima do mundo, aliás não muito longe da casa de sua mãe.

        E, ao chegar ao quintal, o galo sentado sobre o poço cantou:

        -- Cocorocó, chegou a donzela dourada, olhem só!

        Assim que entrou por estar toda coberta de ouro, ela foi muitíssimo bem recebida por sua mãe e irmã.

        A menina relatou tudo o que lhe ocorrera e, ao ouvir como havia alcançado tanta riqueza, a mãe quis que também a outra filha, a feia e preguiçosa, tivesse a mesma sorte. Ela teve de se sentar junto ao posso e fiar. E para que seu fuso se ensanguentasse, picou com ele todos os dedos e enfiou a mão num espinheiro. Depois jogou o fuso no poço e se atirou dentro dele. Como a outra, chegou também a um belo prado e seguiu pelo mesmo caminho. Ao chegar ao forno, estavam os pães novamente a espernear:

        -- Ah, tire-nos daqui, tire-nos daqui, senão vamos queimar! Já estamos no ponto faz tempo!

        Mas a preguiçosa respondeu:

        -- Até parece que vou me sujar toda por causa de vocês!

        E foi embora, logo se deparando com a macieira, que gritava:

        -- Ah, sacuda-me, que as maçãs já estão todas maduras!

        Mas ela respondeu:

        -- Você deve estar brincando! E se me cair um na cabeça?

        E continuou andando. Como já havia escutado a respeito dos dentões da velha senhora, ela não se assustou ao chegar à casa de Senhora Holle, e logo se dispôs ao trabalho. No primeiro dia ele se esforçou bastante, aplicou-se e seguiu todas as orientações, pois só pensava naquele monte de ouro com que mais tarde seria presenteada. Mas no segundo dia já começou a ficar preguiçosa, no terceiro dia mais ainda, tanto que nem queria se levantar de manhã. Nem mesmo a cama de Senhora Holle ela arrumava como devia ser, e nem a sacudia de modo que as penas esvoaçassem. A velha senhora logo desanimou e cancelou os serviços. A preguiçosa ficou então contente, achando que receberia enfim a chuva e ouro. a Senhora Holle conduziu-a até o portão, mas, ao atravessá-lo, em vez de ouro, despejou-se um caldeirão de piche sobre a menina. 

        -- Esta é a recompensa pelos meus serviços – disse a Senhora Holle, e trancou o portão.

As melhores história dos Irmãos Grimm & Perraut. São Paulo: Nova Alexandria, 2004. p 11-16. Coleção Volta e Meia.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 6º ano. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. 7ª edição reformulada – São Paulo: ed. Saraiva, 2012. p. 12-14.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Espesso: grosso, denso.

·        Fiar: trançar fios, confeccionar com fios.

·  Fuso: pequeno instrumento de madeira, arredondado, grosso no centro e pontiagudo nas extremidades, usado para fiar.

·        Prado: campina.

02 – Qual é a diferença entre as duas filhas da história?

      A mãe tinha duas filhas: uma bonita e aplicada, que fazia todo o trabalho doméstico, e outra feia e preguiçosa, que era sua filha legítima e não tinha responsabilidades.

03 – Por que a menina aplicada se jogou no poço?

      A menina aplicada se jogou no poço para recuperar o fuso que havia caído lá dentro após ela o manchar de sangue enquanto fiava.

04 – O que a menina encontrou quando acordou no mundo de Senhora Holle?

      Ela encontrou um lindo campo ensolarado com flores. Depois, passou por um forno cheio de pães prontos e por uma macieira carregada de maçãs maduras, ambos pedindo ajuda.

05 – O que a Senhora Holle pediu que a menina fizesse?

      A Senhora Holle pediu que a menina arrumasse sua cama e sacudisse bem as penas, para que caísse neve no mundo.

06 – Qual foi a recompensa da menina aplicada por seu trabalho com a Senhora Holle?

      A menina recebeu uma chuva de ouro que a cobriu por completo como recompensa por ser trabalhadora e fiel em seus serviços.

07 – O que aconteceu com a irmã preguiçosa quando ela tentou seguir os passos da outra?

      A irmã preguiçosa não ajudou os pães no forno nem a macieira, e foi desleixada com o trabalho na casa da Senhora Holle. Como resultado, em vez de ouro, recebeu uma chuva de piche.

08 – Qual é a lição principal do conto?

      A história ensina que aqueles que são trabalhadores e prestativos serão recompensados, enquanto a preguiça e a negligência levam a consequências negativas.

 

 

CONTO: ERA UMA VEZ... FRAGMENTO - GABRIELA ROMEU - COM GABARITO

 Conto: Era uma vez... – Fragmento

           Gabriela Romeu

        Ao cair da noite, enquanto o sono não vem, um ser chamado Homem da Areia aparece no quarto de meninos e meninas para contar histórias de lugares repletos de criaturas estranhas, princesas caprichosas, palácios construídos com pedras raras e objetos que falam.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhe5QKi-wgCBp8V23DM99vVRT3-2k77052HK8iZ0aBFEnMwO8VoHf7NDrstEZ7NlZQXxhyMPq4W6wB6u_RhJK9o5Rf0zVj0hEK4jjAcolzwzmh0Fk7MNe_s5SAhPHP4-_2aCYl_H7_766reQwZ0XPlXQrOOMfSBy8S172VE6Ct8kG-n1g6j8_AZtykzyFI/s320/andersen.jpg


        Esse é o reino imaginário de Hans Christian Andersen (1805-1875), escritor dinamarquês que completa 200 anos de nascimento neste ano. Andersen criou contos infantis que ficaram conhecidos em todo o mundo, por muitas gerações de crianças, como "O Patinho Feio", "A Pequena Sereia", "Polegarzinha" e "O Soldadinho de Chumbo". Não faltam reis no país dos contos de Andersen, mas é bem provável que esse reino seja comandado pelo Homem da Areia, um personagem que conhece mais histórias do que qualquer outra pessoa desse lugar encantado.

        [...]

        Os contos mostram uma infância difícil, as desigualdades entre nobres e pobres, a busca pela identidade, a importância da fé e da religião. E, se você procurar bem, há sempre um riso escondido na obra desse autor, que também escreveu romances, poemas e óperas.

Gabriela Romeu. Folha de São Paulo, 19/3/2005. Folhinha. Licenciado por Folhapress.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 6º ano. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. 7ª edição reformulada – São Paulo: ed. Saraiva, 2012. p. 21.

Entendendo o conto:

01 – Quem é o Homem da Areia mencionado no fragmento?

      O Homem da Areia é um ser que aparece no quarto de meninos e meninas ao cair da noite para contar histórias cheias de criaturas estranhas, princesas caprichosas, palácios e objetos que falam. Ele é retratado como um personagem que conhece mais histórias do que qualquer outro no reino imaginário de Hans Christian Andersen.

02 – Qual é a relação entre o Homem da Areia e Hans Christian Andersen?

      O Homem da Areia habita o reino imaginário criado por Hans Christian Andersen, um famoso escritor dinamarquês. Ele simboliza a figura que narra as histórias que Andersen criou, como "O Patinho Feio" e "A Pequena Sereia", contos conhecidos mundialmente.

03 – O que os contos de Hans Christian Andersen revelam sobre a vida?

      Os contos de Andersen refletem uma infância difícil, as desigualdades entre nobres e pobres, a busca pela identidade, além de destacarem a importância da fé e da religião. Suas histórias, apesar de terem uma atmosfera mágica, abordam questões humanas profundas.

04 – Quais são algumas das obras mais conhecidas de Hans Christian Andersen mencionadas no fragmento?

      Algumas das obras mais conhecidas de Hans Christian Andersen mencionadas no fragmento são "O Patinho Feio", "A Pequena Sereia", "Polegarzinha" e "O Soldadinho de Chumbo".

05 – Como o humor está presente nas histórias de Andersen, segundo o fragmento?

      O humor nas histórias de Hans Christian Andersen está presente de maneira sutil, como um riso escondido que pode ser encontrado ao longo de sua obra, equilibrando o tom muitas vezes melancólico e reflexivo de seus contos.