segunda-feira, 17 de junho de 2024

MITO: A ORIGEM DA ÁGUA - FORMAÇÃO DOS OCEANOS E RIOS - SEPÉ KUIKURO - COM GABARITO

 Mito: A origem da águaFormação dos oceanos e rios

        Sepé Kuikuro

        Texto 1

        Antigamente não existia água no mundo. Havia somente um homem, chamado Sagakagagu, que tinha seis cabaças de água.

        O deus Taũgi foi procurar esse homem, pois diziam que ele vivia muito melhor do que todos os outros seres. Taũgi foi procurar o dono da água, até que chegou na aldeia onde Sagakagagu morava. O dono da água falou:

        -- Taũgi, você chegou?

        -- Eu cheguei.

        -- O que você quer comigo?

        -- Eu venho atrás do senhor para lhe pedir pelo menos uma cabacinha de água.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQTfz65aLNEI-H9GP9g0zd2rLoYaVW7GHLiwPtbq7WRuuHIog2tWWGnbzddU-cZxP52ySpMMxl6D2L-mtiWO3PskCqOJxJHurv1oidh-QEgESveq4KmtwOVCMdwDHJ0FuspRDxXEIFa1X8VrW2sYM_JyrHkG0H4lQrjF1PTPP3f1-DJZyy7P0_18Xp5-g/s320/CABA%C3%87A.jpg


        -- Senhor Taũgi, eu tenho água aqui, mas não é boa para tomar banho. Eu tenho água salgada e água doce.

        O dono da água, Sagakagagu, não queria mostrar a água para Taũgi. Taũgi já havia percebido que ele não queria lhe dar a água.

        No dia seguinte o deus Taũgi quebrou rodas as cabaças de água que estavam penduradas na casa do dono da água. Então apareceu o mar que tem água salgada, os igarapés, os lagos, os rios e as lagoas. A água se espalhou pelo Brasil e pelo mundo inteiro.

        Foi assim a origem da água no Brasil. Quem trouxe a água para nós foi o deus Taũgi.

Versão de Sepé Kuikuro. Fonte: Livro das Águas – Índios no Xingu (2002). Disponível em: https://bityli.com/YVn36. Acesso em: 14 fev. 2021.

 

        Texto 2

        A água surgiu pela tartaruga há muitos anos atrás. Os antigos tomavam água do cipó, cortavam todos os dias sem parar, eles bebiam com a família. Os homens e as mulheres enchiam a cuia grande com a água do cipó no mato e traziam para casa. Os antigos foram caçar longe, na volta encontraram a tartaruga no mato, ela estava no barranco alto.

        Eles perguntaram para a tartaruga:

        -- Você sabe fazer água?

        A tartaruga respondeu:

        -- Eu sei fazer água.

        Aí ela começou a cavar o chão, porque a tartaruga tinha casco duro e afiado. A tartaruga enorme falava na língua dos antigos, na mesma língua. Ela foi cavando um buraco até encontrar água.

        A tartaruga foi cavando e aumentando a água, bem rápido. Eles voltaram do mato para casa e chegaram. Eles contaram para as pessoas que a tartaruga fez surgir a água e eles acreditaram. Logo pararam de beber a água do cipó. Eles ficaram contentes porque a tartaruga fez os rios. A tartaruga é que deu origem à água.

Versão de Peranko Panará. Fonte: Livro das Águas – Índios no Xingu (2002). Disponível em: https://bityli.com/WOm6Q. Acesso em: 14 fev. 2021.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 2. Língua Portuguesa – 6º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 57-59.

Entendendo o mito:

01 – O que as duas narrativas têm em comum?

      As duas explicam a origem da água de acordo com lendas indígenas.

02 – De acordo com a narrativa do povo Kuikuro, quem era o único a ter água, quando no mundo ela ainda não existia para todos?

      Sagakagagu.

03 – De acordo com a mesma narrativa, onde ficava armazenada a única água que existia?

      Na casa do dono da água, em seis cabaças.

04 – Quem foi procurar o dono da água em busca de um pouco de água?

      O deus Taũgi.

05 – Com a negativa de Sagakagagu em ceder um pouco de água, o que fez o deus Taũgi? Qual foi o resultado do seu ato?

      Percebendo que Sagakagagu não queria dar a água, o deus Taũgi, então quebrou as seis cabaças de água do dono das águas, fazendo surgir os igarapés, os lagos, os rios e as lagoas.

06 – De acordo com o povo Panará, de onde veio a água?

      A água veio da tartaruga.

07 – De acordo com a crença do povo Panará como os antigos conseguiam água, antes da tartaruga?

      Eles conseguiam água por meio do cipó.

08 – Por que os antigos eram capazes de se comunicarem com a tartaruga?

      Eles conseguiam comunicar-se com a tartaruga porque falavam a mesma língua.

09 – Como a tartaruga conseguiu encontrar água?

      A tartaruga conseguiu água cavando com o seu casco que era duro e afiado.

LENDA: UBUNTU - COM GABARITO

 Lenda: Ubuntu

        Essa é uma belíssima lenda africana que aborda valores sobre cooperação, igualdade e respeito.

        Conta-se que um antropólogo, ao visitar uma tribo africana, quis saber quais eram os valores humanos básicos daquele povo. Para isso, ele propôs uma brincadeira às crianças.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEErfAsyDKqWSfUAJ4rY5ijxtThRjB1UfUX06BbmtHU7Pco3Vl5Fufsxpv6W0GeNTBRrDMrS89cHuw2sbtfAfKuvBSZpJzTANOoJkvEY_lhjfq3CYTquwB66HLW8Zh3kuewreUgncRDdrWpye7Vu88w6-Q7I1Dv0QOyybqjR-QXAVSCr9AD8Thyphenhyphen-np59E/s1600/filosofia-ubuntu-lenda-africana-232x250.jpg

        Ele então colocou uma cesta cheia de frutas embaixo de uma árvore e disse para as crianças que a primeira que chegasse até a árvore poderia ficar com a cesta.

        Quando o sinal foi dado, algo inusitado ocorreu. As crianças correram em direção à árvore todas de mãos dadas. Assim, todas chegaram juntas ao prêmio e puderam desfrutar igualmente.

        O homem ficou bastante intrigado e perguntou:

        — Por que vocês correram juntos se apenas um poderia ganhar todas as frutas?

        Ao que uma das crianças prontamente respondeu:

        — Ubuntu! Como um de nós poderia ficar feliz enquanto os outros estivessem tristes?

        O antropólogo ficou então emocionado com a resposta.

        “Ubuntu” é um termo da cultura Zulu e Xhosa que quer dizer "Sou quem sou porque somos todos nós". Eles acreditam que com cooperação se alcança a felicidade, pois todos em harmonia são muito mais plenos.

Disponível em: https://www.todamateria.com.br/lendas-africanas/. Acesso em: 16 fev. 2021.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 2. Língua Portuguesa – 6º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 63-64.

Entendendo a lenda:

01 – Explique a associação entre o termo “Ubuntu” e o que ocorreu no final da história.

      “Ubuntu”, na cultura Zulu e Xhosa, significa “sou quem sou porque somos todos nós”, evidenciando que com a cooperação se alcança a felicidade.

02 – Pense em uma situação de cooperação na escola que dependa de um grande esforço integrado e da união de todos para que seja realizada. Explique o que seria e como, com a participação de todos, isso poderia acontecer.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: uma campanha, na escola, para a arrecadação de agasalhos durante o inverno, por exemplo, depende da cooperação de todos para que seja realizada.

03 – No trecho: O homem ficou bastante intrigado e perguntou:”. Imagine que, no lugar do substantivo homem, estivesse o substantivo mulher. Como ficaria a frase?

      A mulher ficou bastante intrigada e perguntou:

04 – Qual era o objetivo do antropólogo ao visitar a tribo africana e propor uma brincadeira às crianças?

      O antropólogo queria saber quais eram os valores humanos básicos daquele povo. Para isso, ele propôs uma brincadeira às crianças, onde a primeira que chegasse a uma árvore ganharia uma cesta cheia de frutas.

05 – O que aconteceu quando o sinal foi dado para as crianças correrem em direção à cesta de frutas?

      Quando o sinal foi dado, as crianças correram todas de mãos dadas em direção à árvore. Dessa forma, todas chegaram juntas ao prêmio e puderam desfrutar igualmente da cesta de frutas.

06 – Por que as crianças decidiram correr juntas, em vez de competir individualmente?

      Uma das crianças respondeu que fizeram isso por causa do "Ubuntu". Ela explicou que não seria justo e ninguém poderia ficar feliz enquanto os outros estivessem tristes. Eles preferiram compartilhar a alegria e a recompensa.

07 – Como o antropólogo reagiu à explicação das crianças sobre o conceito de Ubuntu?

      O antropólogo ficou emocionado com a resposta das crianças. Ele compreendeu a profundidade do valor de Ubuntu, que representa uma filosofia de vida baseada na solidariedade e na cooperação entre as pessoas.

 

LENDA: DA RAPOSA E O CAMELO - LARISSA GIACOMETTI PARIS - COM GABARITO

 Lenda: Da Raposa e o Camelo

        A lenda da raposa e o camelo é originária do Sudão do Sul, um país que fica no nordeste da África.

        Conta a lenda que havia uma raposa de nome Awan que adorava comer lagartixas. Ela já tinha devorado todas de um lado do rio, mas queria atravessar para a outra margem, para comer mais.


        Acontece que Awan não sabia nadar e teve uma ideia para solucionar o problema. Ela procurou seu amigo Zorol, um camelo, e disse:

        — Olá, amigo! Eu sei que você gosta muito de cevada e se você me levar nas suas

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnbTJQ6moA8PEZ2-73rS41gIBxFS0nYn-k-CUWFFzJ_INw_dKHiv_iMonOW7zALm2QVJPnjHqQrPGAfEe6N71wBJOEqI3truBlmXfNOafz3NsqDZOvWpg9xALGDVSTFyDZA2yG5npVTPZOS8rS9IOVOi-Do1CDgbJ5tZNvIAOKinBHquH6pgRyNK3FUJU/s320/CAMELO.jpg 

costas eu te mostro um caminho!

        Zorol prontamente aceitou:

        — Suba! Vamos!

        Awan então subiu na corcunda de seu amigo e logo lhe indicou para que cruzasse o rio. Quando chegaram lá, Zorol foi até o campo de cevada para comer enquanto Awan se deliciava com as lagartixas.

        A raposa logo ficou satisfeita, mas o camelo ainda comia. Awan então foi até o campo de cevada e começou a gritar e correr.

        A gritaria da raposa chamou a atenção dos donos do campo de cevada, que foram até lá e deram um pedrada fortíssima na cabeça do camelo, que caiu machucado.

        Quando Awan encontrou Zorol caído no chão, disse:

        — Vamos embora, já está anoitecendo.

        Zorol então questionou:

        — Por que você gritou e começou a correr? Por sua culpa eles me machucaram e eu quase morri!

        — Eu tenho a mania de correr e gritar depois que como lagartixas! – Disse Awan.

        — Vamos para casa então! – Falou Zorol.

        Awan subiu nas costas de Zorol e o camelo começou a dançar quando estavam cruzando o rio. Awan ficou desesperada e perguntou:

        — Por que você está fazendo isso?

        — É que eu tenho a mania de dançar depois que como cevada. – Respondeu Zorol.

        Nesse momento, a raposa caiu das costas do camelo e foi levada pelo rio. O camelo por sua vez chegou à outra margem sem problemas. Awan então recebeu uma lição por sua imprudência.

PARIS, Larissa Giacometti. (Lenda africana adaptada pela autora).

Entendendo a lenda:

01 – De onde é originária a lenda da raposa e o camelo?

      A lenda da raposa e o camelo é originária do Sudão do Sul, um país localizado no nordeste da África.

02 – Por que a raposa, Awan, queria atravessar o rio?

      Awan queria atravessar o rio para comer mais lagartixas, pois já tinha devorado todas as lagartixas de um lado do rio.

03 – Qual era a dificuldade de Awan para atravessar o rio?

      Awan não sabia nadar, por isso ela não conseguia atravessar o rio sozinha.

04 – Como Awan convenceu seu amigo camelo, Zorol, a ajudá-la?

      Awan disse a Zorol que se ele a levasse nas costas, ela lhe mostraria um caminho onde ele poderia encontrar muita cevada, que era algo que ele gostava muito.

05 – O que Awan fez depois que ficou satisfeita comendo as lagartixas?

      Depois de ficar satisfeita comendo as lagartixas, Awan foi até o campo de cevada onde Zorol estava e começou a gritar e correr, atraindo a atenção dos donos do campo.

06 – Qual foi a consequência da gritaria de Awan para Zorol?

      A gritaria de Awan fez com que os donos do campo de cevada fossem até lá e acertassem uma pedrada fortíssima na cabeça de Zorol, machucando-o seriamente.

07 – Como Zorol deu uma lição em Awan no final da história?

      Quando voltavam cruzando o rio, Zorol começou a dançar, alegando que ele tinha a mania de dançar depois de comer cevada, fazendo com que Awan caísse no rio e fosse levada pela correnteza. Zorol chegou à outra margem sem problemas, ensinando uma lição a Awan por sua imprudência.

 

LENDA: DOS TAMBORES AFRICANOS - LARISSA GIACOMETTI PARIS - COM GABARITO

 Lenda: Dos Tambores Africanos

        A origem dessa lenda vem das terras de Guiné Bissau e explica como surgiram os tambores, instrumentos tão importantes na cultura de toda a África.

        Conta-se que os macaquinhos de nariz branco da região quiseram um dia trazer a Lua para perto da Terra.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgM2oCmhcYi3_CEweO14uOZ3rLufnS30p38n8gvgLuZUDttIzGJm88kmE_bTQNe0ytkvebh7BrZfrnaxFBE2waNhZM3MoNiVBphI3xH8Z_MGM9MRdHqrfFgrR5APpS2swCE1w1faUTVaBtgV3lPsy1jsxF89L2MESFLTUMKAGaNHhQUWj9cL5rxdlvO7Ag/s320/TAMBORES.png


        Eles não tinham ideia de como executar tal feito. Até que o macaco menor sugeriu que uns subissem nos ombros dos outros a fim de alcançar a Lua.

        O grupo de macacos colocou o plano em ação e o macaquinho menor foi o último a subir, conseguindo chegar no céu e agarrando-se à Lua.

        Mas antes que conseguissem puxar o satélite, a pilha de macacos desmoronou e todos caíram, menos o macaquinho, que continuou agarrado à Lua.

        Uma amizade então cresceu e a Lua presenteou o pequeno animal com um maravilhoso tambor branco, que ele logo aprendeu a tocar.

        O macaquinho ficou por muito tempo morando na Lua, mas um dia começou a sentir saudades da Terra, de seus amigos e da natureza. Ele então pediu à sua amiga que o ajudasse a retornar para sua casa.

        A Lua ficou chateada e respondeu:

        — Mas por que você quer voltar? Não está feliz aqui com o tamborzinho que eu te dei?

        O macaco lhe explicou que gostava muito, mas que tinha saudades.

        A Lua ficou com pena, prometeu ajudá-lo e lhe disse:

        — Não toque o tambor enquanto não estiver em terra firme. Toque apenas quando chegar lá embaixo, assim saberei que chegou e poderei cortar a corda. Então você estará liberto.

        O macaco concordou. Ele sentou em seu tambor e foi amarrado a uma corda, que começou o processo de descida.

        Enquanto descia, o macaquinho olhava seu tambor e surgiu uma vontade irresistível de tocá-lo. Ele começou a tocar bem baixinho, para que a Lua não ouvisse.

        Mas, mesmo assim, a Lua escutou e cortou a corda conforme o combinado. O macaco começou a cair e ao chegar ao chão, não resistiu e morreu. Mas antes, uma menina que passeava por perto viu a queda. Ela foi até o macaco e ele disse:

        — Isso é um tambor. Por favor, entregue ao povo de seu país.

        A menina pegou o instrumento e correu para entregar às pessoas de sua família, contando o que havia acontecido.

        Todos adoraram o tambor e começaram a tocá-lo. Desde então, o povo africano produz seus próprios tambores e sempre que possível toca e dança ao som deles.

PARIS, Larissa Giacometti. (Lenda africana adaptada pela autora).

Entendendo a lenda:

01 – Qual é a origem da lenda dos tambores africanos?

      A origem da lenda vem das terras de Guiné-Bissau e explica como surgiram os tambores, instrumentos importantes na cultura de toda a África.

02 – O que os macaquinhos de nariz branco da região quiseram fazer?

      Os macaquinhos de nariz branco quiseram trazer a Lua para perto da Terra.

03 – Como os macaquinhos tentaram alcançar a Lua?

      Eles decidiram que uns subiriam nos ombros dos outros até alcançar a Lua, com o macaquinho menor sendo o último a subir e conseguindo agarrar-se à Lua.

04 – O que aconteceu quando os macacos tentaram puxar a Lua para a Terra?

      A pilha de macacos desmoronou e todos caíram, exceto o macaquinho menor que continuou agarrado à Lua.

05 – Como o macaquinho recebeu o tambor branco?

      A Lua, que se tornou amiga do macaquinho, presenteou-o com um maravilhoso tambor branco, que ele logo aprendeu a tocar.

06 – Por que o macaquinho quis voltar para a Terra e o que a Lua lhe disse?

      O macaquinho começou a sentir saudades da Terra, de seus amigos e da natureza. A Lua ficou chateada, mas prometeu ajudá-lo e pediu que ele não tocasse o tambor até chegar em terra firme, para que ela soubesse quando cortar a corda e ele estivesse liberto.

07 – O que aconteceu quando o macaquinho desobedeceu a Lua e tocou o tambor durante a descida?

      A Lua escutou o som e cortou a corda conforme o combinado. O macaco começou a cair e ao chegar ao chão, não resistiu e morreu. Antes de morrer, pediu a uma menina que passava por perto que entregasse o tambor ao povo de seu país. Desde então, o povo africano produz e toca tambores em sua cultura.

 

 

CRÔNICA: GALINHA AO MOLHO PARDO - (FRAGMENTO) - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

 Crônica: Galinha ao molho pardo – Fragmento

              Fernando Sabino

        Ao chegar da escola, dei com a novidade: uma galinha no quintal. O quintal de nossa casa era grande, mas não tinha galinheiro, como quase toda casa de Belo Horizonte naquele tempo. Tinha era uma porção de árvores: um pé de manga sapatinho, outro de manga coração-de-boi, um pé de gabiroba, um pé de goiaba branca, outro de goiaba vermelha, um pé de abacate e até um pé de fruta-do-conde. No fundo, junto do muro, um bambuzal. 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR5wNe17ZA7TS0XUobwCO1u9MlRX2cOefsSctkC2EYn6neKlYqnH7oxaVRDF7pMuszY_SCbGy2SDdCXp16g_Ny9ywP58-yczfgKSzViCw8Ivt52B9G9y_7CAzIXAS8e2BPjnwrDR9D4nKcL768vOOUKvLIeue8jf0-ehypxfLnnqYZiuNtTuCFpB4eo3U/s320/GALINHA.jpg


De um lado, o barracão com o quarto da Alzira cozinheira e um quartinho de despejo. Do outro lado, uma caixa de madeira grande como um canteiro, cheia de areia que papai botou lá para nós brincarmos. Eu brincava de fazer túnel, de guerra com soldadinhos de chumbo, trincheira e tudo. Deixei de brincar ali quando começaram a aparecer na areia uns montinhos fedorentos de cocô de gato. Os gatos quase nunca apareciam, a não ser de noite, quando a gente estava dormindo. De dia se escondiam pelos telhados. Tinham medo de Hindemburgo, que era mesmo de meter medo, um pastor alemão deste tamanho. Não sabiam que Hindemburgo é que tinha medo deles. cachorro com medo de gato: coisa que nunca se viu. Quando via um gato, Hindemburgo metia o rabo entre as pernas e fugia correndo.

        Pois foi no fundo do quintal que eu vi a galinha, toda folgada, ciscando na caixa de areia. Havia sido comprada por minha mãe para o almoço de domingo: Dr. Junqueira ia almoçar em casa e ela resolveu fazer galinha ao molho pardo.

        Eu já tinha visto a Alzira matar galinha, uma coisa terrível. […]

        Como se fosse a coisa mais natural deste mundo, a Alzira me contou o que ia acontecer com a nova galinha.

        Revoltado, resolvi salvá-la.

        Eu sabia que o Dr. Junqueira era importante, meu pai dependia dele para uns negócios. Pois no que dependesse de mim, no domingo ele ia poder comer tudo, menos galinha ao molho pardo.

        Era uma galinha branca e gorda, que não me deu muito trabalho para pegar. Foi só correr atrás dela um pouco, ficou logo cansada. Agachou-se no canto do muro, me olhou de lado como as galinhas olham e se deixou apanhar.

        Não sei se percebeu que eu não ia lhe fazer mal. Pelo contrário, eu pretendia salvar a sua vida. O certo é que em poucos minutos ficou minha amiga, não fugiu mais de mim.

        – O seu nome é Fernanda – falei então. e joguei um pouquinho de água na cabecinha dela: – Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém.

        Assim que escureceu, Ela se empoleirou muito fagueira num galho da goiabeira, enfiou a cabeça debaixo da asa e dormiu. Então eu entendi por que dizem que quem vai para a cama cedo dorme com as galinhas.

        No dia seguinte era sábado, não tinha aula. Passei o tempo inteiro brincando com ela. levei horas lhe ensinando a responder sim e não com a cabeça.

        -- Você sabe o que eles estão querendo fazer com você, Fernanda?

        Ela mexia a cabecinha para os lados, dizendo que não.

        -- Pois nem queira saber. Cuidado com a Alzira, aquela magrela de pernas compridas. É a nossa cozinheira. Ruim que só ela. Não deixa a Alzira nem chegar perto de você.

        Ela mexia com a cabecinha para cima e para baixo, dizendo que sim.

        -- Estão querendo matar você para comer. Com molho pardo.

        Os olhinhos dela piscaram de susto. O corpo estremeceu e ali mesmo, na hora, ela botou um ovo. De puro medo.

        -- Mas eu  não vou deixar – procurei tranquilizá-la, apanhando o ovo com cuidado, para enterrar na areia depois e ver se nascia pinto.

        E acrescentei:

        -- Hoje não precisa de ter medo, que o perigo todo vai ser amanhã.

        Eu sabia que para fazer a galinha ao molho pardo tinham de matar quase na hora, por causa do sangue, que era aproveitado para preparar o molho.

        -- Vou esconder você num lugar que ninguém é capaz de descobrir.

        Junto do tanque de lavar roupa costumava ficar uma bacia grande de enxaguar. A Maria lavadeira só ia voltar na segunda-feira. Antes disso ninguém ia mexer naquela bacia. Assim que escureceu, escondi a Fernanda debaixo dela. Fiquei com pena de deixar a coitada ali sozinha:

        -- Você se importa de ficar ai debaixo até passar o perigo?

        Ela fez com a cabeça que não.

        -- Então fica bem quietinha e não canta nem cacareja nem nada. Principalmente se ouvir alguém andando aqui fora.

        Ela fez com a cabeça que sim.

        -- Amanhã, assim que puder eu volto. Dorme bem, Fernanda.

        Naquela noite, para que ninguém desconfiasse, jantei mais cedo e fui dormir com as galinhas.

        […]

SABINO, Fernando. O menino no espelho. Rio De janeiro: Record, 2003, p. 14-19.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 2. Língua Portuguesa – 6º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 88-90.

Entendendo a crônica:

01 – Qual é a razão da presença da galinha no quintal da casa do narrador?

      A galinha tinha sido comprada para o almoço de domingo, cujo prato seria “galinha ao molho pardo”, no qual haveria a presença do Dr. Junqueira.

02 – O narrador descreve o quintal de sua casa de infância. O que você destacaria dessa descrição, que lhe parece muito diferente dos quintais de hoje?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Já inteirado com a galinha, o narrador resolveu batizá-la, dando-lhe um nome. Qual é a relação entre o nome dado à galinha e o narrador?

      O nome dado à galinha foi Fernanda. A relação existente entre os dois fatos é que o narrador se chama Fernando (versão masculina do nome da galinha).

04 – Como o menino descreve a cozinheira Alzira?

      Ele a descreve como magrela de pernas compridas e ruim.

05 – O que fez o narrador para esconder a galinha da família?

      Ele a escondeu debaixo de uma grande bacia.

06 – O narrador revela que foi capaz de estabelecer uma comunicação com a galinha. Como se percebe essa comunicação no texto?

      O narrador afirma que a galinha respondia ao que ele falava, movimentando a cabeça de modo afirmativo ou negativo.

07 – Explique o significado da expressão “dormir com as galinhas” de acordo com o texto.

      A expressão significa dormir mais cedo, isso porque as galinhas dormem muito cedo também.

 

 

sábado, 15 de junho de 2024

CRÔNICA: A NOVATA - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: A Novata

                 Luís Fernando Veríssimo

     Sandrinha nunca esqueceu o seu primeiro dia na redação.

        Os olhares que recebeu quando se encaminhou para a mesa do editor. De curiosidade. De superioridade. Ou apenas de indiferença. Do editor não recebeu olhar algum.

        — Quem é você? — ele perguntou, sem levantar a cabeça. Sandrinha se identificou.

        — Ah, a novata — disse ele. — Você deve ser das boas.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB5gxXNOZpZE_uIT10pzHZoVOQrhmL14g-KHtMlXM1gKrKA0Qsby2CDpdwvNfnycYe3rEe6_tbKC1TNpjwhUU_6Es_er0_CZNH1ZzBGAzf0xC83Joj6xsPNLA7QW30V3LFjzc0WPq6t3aMEnWNnypM-FHvYRnRSi0ukEzNI97B4kgcIJmlis_AcgMmsWg/s320/NOVATA.jpg


        Recém-formada e já botaram a trabalhar comigo. Você sabe o que a espera?

        — Bem, eu...

        — Esqueça tudo o que aprendeu na escola. Isto aqui é a linha de frente do jornalismo moderno. Aqui você tem que ter coragem. Garra. Instinto. Você acha que tem tudo isso?

        — Acho que sim.

        Ele a olhou pela primeira vez. Seu sorriso era cruel.

        — É o que veremos — disse. — Já vi muita gente quebrar a cara aqui. Desistir e pedir transferência para a crônica policial. É preciso ter estômago. Você tem estômago?

    — Tenho.

        Ele gritou:

    — Dalva!

    Uma mulher aproximou-se da mesa. Tinha a cara de quem já viu tudo na vida e gostou de muito pouco. O editor perguntou:

     — Você já pegou o Rudi?

     — Estou indo agora.

     — Leve ela.

    Dalva olhou para Sandra como se tivesse acabado de tirá-la do nariz. Voltou a olhar para o editor.

    — Não sei, chefe. O Rudi...

    — Quero ver do que ela é feita.

   — Está bem.

Luís Fernando Veríssimo. In: Comédias para se ler na escola, Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

Entendendo o texto

01. O que Sandrinha nunca esqueceu?

       a. O seu primeiro dia na escola.

      b. O seu primeiro dia na redação.

      c. O seu primeiro dia na faculdade.

      d. O seu primeiro dia de férias.

 02. Como eram os olhares que Sandrinha recebeu ao se encaminhar para a mesa do editor?

       a. De admiração.

       b. De inveja.

       c. De curiosidade, superioridade ou indiferença.

       d. De medo.

03. Qual foi a reação do editor ao conhecer Sandrinha?

      a. Ele sorriu e a cumprimentou.

      b. Ele a ignorou completamente.

      c. Ele perguntou "Quem é você?" sem levantar a cabeça.

      d. Ele a elogiou imediatamente.

04. O que o editor disse para Sandrinha esquecer?

       a. Tudo o que aprendeu na escola.

       b. Seus medos e inseguranças.

       c. Suas expectativas de sucesso.

       d. Seu trabalho anterior.

 05. Quais são as qualidades que o editor mencionou serem necessárias para trabalhar lá?

      a. Inteligência, paciência e criatividade.

      b. Coragem, garra e instinto.

      c. Organização, pontualidade e ética.

      d. Honestidade, lealdade e dedicação.

 06. O que o editor quis verificar sobre Sandrinha?

      a. Se ela tinha um bom currículo.

      b. Se ela tinha coragem e estômago.

      c. Se ela conhecia bem a redação.

      d. Se ela sabia trabalhar em equipe.

 07.  Quem é Dalva na crônica?

      a. Uma secretária.

      b. Uma jornalista veterana.

      c. Uma amiga de Sandrinha.

      d. A chefe de Sandrinha.

08.  Como Dalva reagiu ao ser chamada pelo editor?

     a. Com entusiasmo.

     b. Com indiferença.

     c. Com uma expressão de quem já viu tudo na vida e gostou de muito pouco.

    d. Com um sorriso.

  09.  O que o editor perguntou a Dalva sobre Rudi?

       a. Se ela já tinha terminado um relatório.

     b. Se ela já tinha pegado o Rudi.

     c. Se ela conhecia o Rudi.

     d. Se ela sabia onde estava o Rudi.

10. Como Dalva olhou para Sandrinha após o pedido do editor?

      a. Com carinho e compreensão.

      b. Como se tivesse acabado de tirá-la do nariz.

     c. Com admiração.

     d. Com desaprovação.