quarta-feira, 22 de novembro de 2023

CONTO: O JARDINEIRO TIMÓTEO - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: O jardineiro Timóteo

            Monteiro Lobato

        O casarão da fazenda era ao jeito das velhas moradias: – frente com varanda, uma ala e pátio interno. Neste ficava o jardim, também à moda antiga, cheio de plantas antigas cujas flores punham no ar um saudoso perfume d’antanho. Quarenta anos havia que lhe zelava dos canteiros o bom Timóteo, um preto branco por dentro. Timóteo o plantou quando a fazenda se abria e a casa inda cheirava a reboco fresco e tintas d’óleo recentes, e desd’aí – lá se iam quarenta anos – ninguém mais teve licença de pôr a mão em “seu jardim”.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicmHmimWJZkASkPJAri-tOPB4KQan5cBpzcp1GCOvrPgXavFTAeFTxGX6ajt7yj18bypuEJcrtO3sCfUqCYqiP1mHlnTI3r_pcgsCz6lGSI1-ARotlQv01ibEmAfMNxdv6F7v1De8G_HPR3W0YU5JEHzsG6Msme6mbLZi6T5ENojAfpXEnai12KdAkI4s/s1600/JARDIM.jpg


        Verdadeiro poeta, o bom Timóteo.

        Não desses que fazem versos, mas desses que sentem a poesia sutil das coisas. Compusera, sem o saber, um maravilhoso poema onde cada plantinha era um verso que só ele conhecia, verso vivo, risonho ao reflorir anual da primavera, desmedrado e sofredor quando junho sibilava no ar os látegos do frio.

        O jardim tornara-se a memória viva da casa. Tudo nele correspondia a uma significação familiar de suave encanto, e assim foi desde o começo, ao riscarem-se os canteiros na terra virgem ainda recendente à escavação.

        O canteiro central consagrava-o Timóteo ao “Sinhô-velho”, tronco da estirpe e generoso amigo que lhe dera carta d’alforria muito antes da Lei Áurea. Nasceu faceiro e bonito, cercado de tijolos novos vindos do forno para ali ainda quentes, e embutidos no chão como rude cíngulo de coral; hoje, semidesfeitos pela usura do tempo e tão tenros que a unha os penetra, esses tijolos esverdecem nos musgos da velhice.

        Veludo de muro velho, é como chama Timóteo a essa muscínea invasora, filha da sombra e da umidade. E é bem isso, porque o musgo foge sempre aos muros secos, vidrentos, esfogueados de sol, para estender devagarinho o seu veludo prenunciador de tapera sobre os muros alquebrados, de emboço já carcomido e todo aberto em fendas.

         Bem no centro erguia-se um nodoso pé de jasmim-do-cabo, de galhos negros e copa dominante, ao qual o zeloso guardião nunca permitiu que outra planta sobrexcedesse em altura. Simbolizava o homem que o havia comprado por dois contos de réis, dum importador de escravos de Angola.

        – Tenha paciência, minha negra! – conversa ele com as roseiras de setembro, teimosas em espichar para o céu brotos audazes. Tenha paciência, que aqui ninguém olha de cima para o Sinhô-velho.

        E sua tesoura afiada punha abaixo, sem dó, todos os rebentos temerários.

        Cercando o jasmineiro havia uma coroa de periquitos, e outra menor cravinas.

        Mais nada.

        – Ele era um homem simples, pouco amigo de complicações. Que fique ali sozinho com o periquito e as irmãzinhas do cravo.

        Dos outros canteiros dois eram em forma de coração.

        – Este é o de Sinhazinha; e como ela um dia há de casar, fica a par dele o canteiro do “Sinhô-moço”.

        O canteiro de Sinhazinha era de todos o mais alegre, dando bem a imagem de um coração de mulher rico de todos as flores do sentimento. Sempre risonho, tinha a propriedade de prender os olhos de quantos penetravam no jardim. Tal qual a moça, que desde menina se habituara a monopolizar os carinhos da família e a dedicação dos escravos, chegando esta a ponto de, ao sobrevir a Lei Áurea, nenhum ter ânimo de afastar-se da fazenda. Emancipação? Loucura! Quem, uma vez cativo de Sinhazinha, podia jamais romper as algemas da doce escravidão?

        Assim ela na família, assim o seu canteiro entre os demais. Livro aberto, símbolo vivo, crônica vegetal, dizia pela boca das flores toda a sua vidinha de moça. O pé de flor-de-noiva, primeira “planta séria” ali brotada, marcou o dia em que foi pedida em casamento. Até então só vicejavam neles flores alegres de criança: – esporinhas, bocas-de-leão, “borboletas”, ou flores amáveis da adolescência – amores-perfeitos, damas-entre-verdes, beijos-de-frade, escovinhas, miosótis.

        Quando lhe nasceu, entre dores, o primeiro filho, plantou Timóteo os primeiros tufos de violeta.

        – Começa a sofrer…

        E no dia em que lhe morreu esse malogrado botãozinho de carne rósea, o jardineiro, em lágrimas, fincou na terra os primeiros goivos e as primeiras saudades. E fez ainda outras substituições: as alegres damas-entre-verdes cederam o lugar aos suspiros roxos, e a sempre-viva foi para o canto onde viçavam as ridentes bocas-de-leão.

        Já o canteiro de Sinhô-moço revelava intenções simbólicas de energia. Cravos vermelhos em quantidade, roseiras fortes, ouriçadas de espinhos; palmas de Santa Rita, de folhas laminadas; junquilhos nervosos.

        E tudo mais assim.

        Timóteo compunha os anais vivos da família, anotando nos canteiros, um por um, todos os fatos dalgumas significações. Depois, exagerando, fez do jardim um canhenho de notas, o verdadeiro diário da fazenda. Registrava tudo. Incidentes corriqueiros, pequenas rusgas de cozinha, um lembrete azedo dos patrões, um namoro de mucama, um hóspede, uma geada mais forte, um cavalo de estimações que morria – tudo memorava ele, com hieróglifos vegetais, em seu jardim maravilhoso.

        A hospedagem de certa família do Rio – pai, mãe e três sapequíssimas filhas – lá ficou assinalada por cinco pés de ora-pro-nóbis. E a venda do pampa calçudo, o melhor cavalo das redondezas, teve a mudança de dono marcada pela poda de um galho do jasmineiro.

        Além desta comemoração anedótica, o jardim consagrava uma planta a subalterno ou animal doméstico. Havia a roseira-chá da mucama de Sinhazinha; o sangue-de-adão do Tibúrcio; a rosa-maxixe da mulatinha Cesária, sirigaita enredeira, de cara fuxicada como essa flor. O Vinagre, o Meteoro, a Manjerona, a Teteia, todos os cães que na fazenda nasceram e morreram, ali estavam lembrados pelo seu pezinho de flor, um resedá, um tufo de violetas, uma touça de perpétuas. O cão mais inteligente da casa, Otelo, morto hidrófobo, teve as honras duma sempre-viva rajada.

        – Quem há de esquecer um bico daqueles, que até parecia gente?

        Também os gatos tinham memória. Lá estava a cinerária da gata branca morta nos dentes do Vinagre, e o pé de alecrim relembrativo do velho gato Romão.

        Ninguém, a não ser Timóteo, colhia flores naquele jardim. Sinhazinha o tolerava desde o dia em que ele explicou:

        – Não sabem, Sinhazinha! Vão lá e atrapalham tudo. Ninguém sabe apanhar flor…

        Era verdade. Só Timóteo sabia escolhê-las com intenção e sempre de acordo com o destino. Se as queriam para florir a mesa em dia de anos da moça, Timóteo combinava os buquês como estrofes vivas. Colhia-as resmungando:

        – Perpétua? Não. Você não vai pra mesa hoje. É festa alegra. Nem você, dona violetinha!… Rosa-maxixe? Ah! Ah! Tinha graça a Cesária em festa de branco!…

        E sua tesoura ia cortando os caules com ciência de mestre. Às vezes parava, a filosofar:

        – Ninguém se lembra hoje do anjinho… Pra que, então, goivo nos vasos? Quieto fique aqui o senhor goivo, que não é flor de vida, é flor de cemitério…

        E sua linguagem de flores? Suas ironias, nunca percebidas de ninguém? Seus louvores, de ninguém suspeitados? Quantas vezes não depôs na mesa, sobre um prato, um aviso a um hóspede, um lembrete à patroa, uma censura ao senhor, composto sob forma dum ramalhete? Ignorantes da língua do jardim, riam-se eles da maluquice do Timóteo, incapazes de lhe alcançar o fino das intenções.

        Timóteo era feliz. Raras criaturas realizam na vida mais formoso delírio de poeta. Sem família, criara uma família de flores; pobre, vivia ao pé de um tesouro.

        Era feliz, sim. Trabalhava por amor, conversando com a terra e as plantas – embora a copa e a cozinha implicassem com aquilo.

        – Que tanto resmunga o Timóteo! Fica ali mamparreando horas, a cochichar, a rir, como se estivesse no meio duma criançada!…

        É que na sua imaginação as flores se transfiguravam em seres vivos. Tinham cara, olhos, ouvidos… O jasmim-do-cabo, pois não é que lhe dava a benção todas as manhãs? Mal Timóteo aparecia, murmurando “A benção, Sinhô”, e já o velho, encarnado na planta, respondia com voz alegre: “Deus te abençoe, Timóteo”.

        Contar isso aos outros? Nunca! “Está louco”, haviam de dizer. Mas bem que as plantinhas falavam…

        – E como não hão de falar, se tudo é criatura de Deus, hom’essa!…

        Também dialogava com elas.

        – Contentinha, hein? Boa chuva a de ontem, não?

        – …

        – Sim, lá isso é verdade. As chuvas miúdas são mais criadeiras, mas você bem sabe que não é tempo. E o grilo? Voltou? Voltou, sim, o ladrão… E aqui roeu mais esta folhinha… Mas deixe estar, que eu curo ele!

        E punha-se a procurar o grilo. Achava-o.

        – Seu malfeitor!… Quero ver se continua agora a judiar das minhas flores.

        Matava-o, enterrava-o. “Vira esterco, diabinho!”

        Pelo tempo da seca era um regalo ver Timóteo a chuviscar amorosamente sobre as flores com o seu velho regador. – O sol seca a terra? Bobice!… Como se o Timóteo não estivesse aqui de chovedor na mão.

        – Chega também, ué! Então quer sozinho um regador inteiro? Boa moda! Não vê que as esporinhas estão com a língua de fora?

        – E esta boca-de-leão, ah! ah! está mesmo com uma boca de cachorro que correu veado! Tome lá, beba, beba!

        – E você também, seu rosedá, tome lá seu banho pra depois, namorar aquela dona hortênsia, moça bonita do “zóio” azul…

        E lá ia…

        Plantas novas que abrolhavam o primeiro botão punham alvoroço de noivo no peito do poeta, que falava do acontecimento na copa provocando as risadinhas impertinentes da Cesária.

        – Diabo do negro velho, cada vez caducando mais! Conversa com flor como se fosse gente.

        Só a moça, com seu fino instinto de mulher, lhe compreendia as delicadezas do coração.

        – Está aqui Sinhá, a primeira rainha margarida deste ano!

        Ela fingia-se extasiada e punha a flor no corpete.

        – Que beleza!

        E Timóteo ria-se, feliz, feliz…

        Certa vez falou-se na reforma do jardim.

        – Precisamos mudar isto – lembrou-se o moço, de volta dum passeio a São Paulo. – Há tantas flores modernas, linda, enormes, e nós toda a vida com estas cinerárias, estas esporinhas, estas flores caipiras… Vi lá crisandálias magníficas, crisântemos deste tamanho e uma rosa nova, branca, tão grande que até parece flor artificial.

        Quando soube da conversa, Timóteo sentiu gelo no coração. Foi agarrar-se com a moça. Ele também conhecia essas flores de fora, vira crisântemos na casa do Coronel Barroso, e as tais dálias mestiças no peito duma faceira, no leilão do Espírito Santo.

        – Mas aquilo nem é flor, Sinhá! Coisas da estranja que o Canhoto inventa para perder as criaturas de Deus. Eles lá que plantem. Nós aqui devemos zelar das plantas de família. Aquela dália rajada, está vendo? É singela, não tem o crespo das dobradas; mas quem troca uma menina de sainha de chita cor-de-rosa por uma semostradeira da cidade, de muita seda no corpo, mas sem fé no coração? De manhã “fica assim” de abelhas e cuitelos em volta delas!… E eles sabem, eles não ignoram quem merece. Se as das cidades fossem mais de estimação, por que é que esses bichinhos de Deus ficam aqui e não vão pra lá? Não, Sinhá! É preciso tirar essa ideia da cabeça de Sinhô-moço. Ele é criança ainda, não sabe a vida. É preciso respeitar as coisas de dantes…

        E o jardim ficou.

        Mas um dia… Ah! Bem sentira-se Timóteo tomado de aversão pela família dos ora-pro-nóbis! Pressentimento puro… O ora-pro-nóbis pai voltou e esteve ali uma semana em conciliábulo com o moço. Ao fim deste tempo, explodiu como bomba a grande notícia: estava negociada a fazenda, devendo a escritura passar-se dentro de poucos dias.

        Timóteo recebeu a nova como quem recebe uma sentença de morte. Na sua idade, tal mudança lhe equivalia a um fim de tudo. Correu a agarrar-se à moça, mas desta vez nada puderam contra as armas do dinheiro os seus pobres argumentos de poeta.

        Vendeu-se a fazenda. E certa manhã viu Timóteo arrumarem-se no trole os antigos patrões, as mucamas, tudo o que constituía a alma do velho patrimônio.

        – Adeus, Timóteo! – disseram alegremente os senhores-moços, acomodando-se no veículo.

        – Adeus! Adeus!…

        E lá partiu o trole, a galope… Dobrou a curva da estrada… Sumiu-se para sempre…

        Pela primeira vez na vida Timóteo esqueceu de regar o jardim. Quedou-se plantando a um canto, a esmoer o dia inteiro o mesmo pensamento doloroso:

        – Branco não tem coração…

        Os novos proprietários eram gente da moda, amigos do luxo e das novidades. Entraram na casa com franzimentos de nariz para tudo.

        – Velharias, velharias…

        E tudo reformaram. Em vez da austera mobília de cabiúna, adotaram móveis pechisbeques, com veludinhos e friso. Determinaram o empapelamento das salas, a abertura de um hal l, mil coisas esquisitas…

        Diante do jardim, abriram-se em gargalhadas. – É incrível! Um jardim destes, cheirando a Tomé de Sousa, em pleno século das crisandálias!

        E correram-no todo, a rir, como perfeitos malucos.

        – Olhe, Ivete, as esporinhas! É inconcebível que inda haja esporinhas no mundo!

        – E periquito, Odete! Pe-ri-qui-to!… – disse uma das moças, torcendo-se em gargalhadas.

        Timóteo ouvia aquilo com mil mortes n’alma. Não restava dúvida, era o fim de tudo, como pressentira: aqueles bugres da cidade arrasariam a casa, o jardim e o mais que lembrasse o tempo antigo. Queriam só o moderno.

        E o jardim foi condenado. Mandariam vir o Ambrogi para traçar um plano novo, de acordo com a arte moderníssima dos jardins ingleses. Reformariam as flores todas, plantando as últimas criações da floricultura alemã. Ficou decidido assim.

        – E para não perder tempo, enquanto o Ambrogi não chega ponho aquele macaco e me arrasar isto – disse o homem apontando para Timóteo.

        – Ó tição, vem cá!

        Timóteo aproximou-se com ar apatetado.

        – Olha, ficas encarregado de limpar de limpar este mato e deixar a terra nuazinha. Quero fazer aqui um lindo jardim. Arrasa-me isto bem arrasadinho, entendes?

        Timóteo, trêmulo, mal pôde engrolar uma palavra:

        – Eu?

        – Sim, tu! Por que não?

        O velho jardineiro, atarantado e fora de si, repetiu a pergunta:

        – Eu? Eu, arrasar o jardim?

        O fazendeiro encarou-o, espantado da sua audácia, sem nada compreender daquela resistência.

        – Eu? Pois me acha com cara de criminoso?

        E, não podendo mais conter-se, explodiu num assomo estupendo de cólera – o primeiro e o único de sua vida.

        – Eu vou mas é embora daqui, morrer lá na porteira como um cachorro fiel. Mas, olhe, moço, que hei de rogar tanta praga que isto há de virar um tapera de lacraias! A geada há de torrar o café. A peste há de levar até as vacas de leite! Não há de ficar aqui nenhuma galinha, nem um pé de vassoura! E a família amaldiçoada, coberta de lepra, há de comer na gamela com os cachorros lazarentos!… Deixa estar, gente amaldiçoada! Não se assassina assim uma coisa que dinheiro nenhum paga. Não se mata assim um pobre negro velho que tem dentro do peito uma coisa que lá na cidade ninguém sabe o que é. Deixa estar, branco de má casta! Deixa estar, caninana! Deixa estar!…

        E fazendo com a mão espalmada o gesto fatídico, saiu às arrecuas, repetindo cem vezes a mesma ameaça:

        – Deixa estar! Deixa estar!

        E longe, na porteira, ainda espalmava a mão para a fazenda, num gesto mudo:

        – Deixa estar!

        Anoitecia. Os curiangos andavam a espacejar silenciosamente voos de sombra pelas estradas desertas. O céu era todo um recamo fulgurante de estrelas. Os sapos coaxavam nos brejos e vaga-lumes silenciosos piscavam piques de luz no sombrio das capoeiras.

        Tudo adormecera na terra, em breve pausa de vida para o ressurgir do dia seguinte.

        Só não ressurgirá Timóteo. Lá agoniza ao pé da porteira. Lá morre.

        E lá encontrará a manhã enrijecido pelo relento, de borco na grama orvalhada, com a mão estendida para a fazenda num derradeiro gesto de ameaça:

        – Deixa estar!…

Monteiro Lobato.

Entendendo o conto:

01 – Quem é Timóteo e qual é a relação dele com o jardim da fazenda?

      Timóteo é um jardineiro que cuida do jardim da fazenda há quarenta anos. Ele tem uma conexão profunda com o jardim, tratando-o como um poema vivo, onde cada planta tem um significado especial.

02 – Qual é a importância do jardim na história?

      O jardim é uma representação viva da história da família e da fazenda. Cada planta e arranjo floral têm significados ligados aos acontecimentos e às pessoas que passaram pela fazenda.

03 – Por que Timóteo se recusa a mudar ou modernizar o jardim?

      Timóteo se opõe à modernização do jardim porque ele vê nas plantas e na disposição atual um registro sentimental e histórico da família. Ele acredita na importância de preservar as tradições e os significados das plantas antigas.

04 – Qual é a reação dos novos proprietários da fazenda em relação ao jardim?

      Os novos proprietários consideram o jardim antiquado e caipira, ridicularizando as plantas e desejando modernizá-lo com espécies exóticas e atuais.

05 – Como Timóteo reage diante da possibilidade de destruição do jardim?

      Timóteo fica revoltado e expressa sua fúria, amaldiçoando a família e a fazenda. Ele se recusa a ser parte da destruição do jardim e parte, fazendo um gesto de maldição em direção à propriedade.

06 – O que as plantas e o jardim representam para Timóteo?

      As plantas e o jardim são mais do que apenas vegetação para Timóteo. Eles são como uma família para ele, representando suas memórias, emoções e uma conexão profunda com a terra.

07 – Qual é a visão dos novos proprietários sobre as plantas tradicionais do jardim?

      Os novos proprietários veem as plantas tradicionais como antiquadas e desprezíveis, considerando-as inadequadas para um jardim moderno.

08 – Qual é a reação de Timóteo diante da ordem de destruir o jardim?

      Timóteo se recusa categoricamente a destruir o jardim e lança maldições à família e à fazenda, expressando seu desgosto e revolta diante da situação.

09 – Por que Timóteo se sente tão ligado ao jardim e às plantas?

      O jardim e suas plantas são símbolos das memórias, sentimentos e eventos importantes da vida de Timóteo. Ele se conecta emocionalmente a eles, vendo cada planta como um ser vivo e tendo um profundo respeito pela história que representam.

10 – Como termina a história de Timóteo e o destino do jardim?

      Timóteo, devastado pela destruição iminente do jardim, parte da fazenda e morre próximo à porteira, expressando sua raiva e desgosto pela situação. O destino final do jardim não é explicitamente mencionado, mas a história sugere que ele enfrentará mudanças e possíveis transformações irreparáveis.

 

 

CONTO: MARABÁ - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: Marabá

            Monteiro Lobato

        Ela não tinha a face da cor do jambo maduro, nem seus olhos eram escuros como as amoras da selva, e nem seu cabelo negro e corredio como o das outras virgens do sertão.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwyRRZsO7EIIYfDg1wstDkz45f-ih0cJlAdr-JLbqyyPq_VXofoY372OMzdNXAZSXMpZRFaceZb8mSg_C9zjRa89H23DTijlFQnAT8hyYys4BnhJYSSt68BepNw-PsieysRQqmgZcmxi2fX9BwFFlImNulhyphenhyphenGrZAqGg24LLQvmXir5aadgYu1UQJpi-hk/s320/URUMBELA.jpg


        — Branca e loura era à flor dos cactos, a formosa rainha da noite, que tem a face de neve e a coma de pálido ouro. Seus olhos azuis quais mimosas graciolas do prado, eram brilhantes de vida como as estrelas de uma noite escura.

        Não era mais alvo o jasmim da mata do que a sua branca tez, nem a flor do Pequiá mais vermelha que sua boca mimosa, e nem o cacho do coqueiro mais dourado que sua opulenta cabeleira.

        Mas a virgem Marabá não tinha sorriso...

        Era a branca flor da urumbeba que desabrocha entre espinhos!

        Se, gentil como a graça da ribeira, ela ia banhar-se à corrente, apenas a grande estrela aparecia no Céu, a formosa princesa das águas, a linda napê-jaçanau que abre nas ilhas verdejantes do igapê do rio, invejava-lhe a brancura dos seios, e, quando o sol nascente feria com suas setas de ouro as sossegadas águas, a flor rodeava de amargura e zelos, que no cristalino espelho sempre se via menos bela do que a virgem da floresta.

        Um dia a Marabá voltou pensativa...

        Ela vira a grande Igara do guerreiro do mar.

        E o guerreiro branco era formoso e sorria; e o guerreiro da tribo desprezava-a porque era Marabá!

        Ele tinha o rosto levemente tostado pela brisa dos mares; seus cabelos, suavemente ondeados, tinham a cor mais escura que a do fruto do castanheiro, porém não eram negros e ásperos como os das filhas do sertão.

        Os olhos, da cor dos cabelos, brilhavam como o fulgor da glória e enlanguesciam com o quebranto do amor.

        E o guerreiro branco sorria fitando-a...

        Mas a virgem selvagem fugiu como a gazela gentil.

         No outro dia, a beira do rio, a Marabá cantou o triste e meigo canto da mestiça; era um queixume terno e melodioso como o gemer da juriti sem companheiro.

        Ela suspirava assim:

Sou branca e linda como a açucena,

sou, como ela, pura e gentil;

tenho os cabelos em cachos de ouro,

tenho nos olhos a cor do anil.

 

Sou bela e triste e sou chorosa

qual entre espinhos a flor que abriu;

meus olhos garços só sentem lágrimas

como o rocio que a flor cobriu.

 

não tem meus lábios doce sorriso,

não tem meu peito fogo de amor;

mas, ah! bem sinto, no seio virgem,

De estranho anelo prazer e dor!

        O guerreiro do mar ouviu o canto da virgem infeliz...

        Uma tarde a Igara chegou pertinho; o guerreiro branco sorria; já tantas vezes sorria assim...

        Ele colheu a napê-jaçanan que se levanta das águas, beijou-a, apertou-a ao peito; depois, atirou-a a virgem formosa, e o guerreiro falou: — Vem!

        O som do boré estrugio na mata; os filhos da selva iam chegar.

        Assustada, a virgem selvagem lançou-se as águas serenas do rio...

        Um momento após a desventurada sobre o valente coração do guerreiro branco, já sorria feliz!

        E a grande igara partiu, mais veloz do que a uirá do guerreiro tupi.

               Escrito Iba Mendes às 14:19 – conto brasileiro. Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)

Entendendo o conto:

01 – Quem é Marabá?

      Marabá é uma jovem virgem da floresta descrita como branca e loura, sendo diferenciada das outras virgens do sertão por sua aparência.

02 – Qual é o contraste entre Marabá e a "formosa rainha da noite"?

      Enquanto a "formosa rainha da noite" é descrita com uma pele escura e cabelos negros, Marabá é descrita como branca e loura, destacando-se por sua aparência única na selva.

03 – Por que Marabá é desfavorecida em comparação com a "napê-jaçanau"?

      A "napê-jaçanau", uma flor das ilhas verdejantes do igapê do rio, invejava a brancura dos seios de Marabá. No entanto, quando o sol nascente refletia nas águas, a flor se via menos bela do que a virgem da floresta.

04 – O que acontece quando Marabá encontra um guerreiro branco da tribo do mar?

      Marabá se depara com um guerreiro branco da tribo do mar, que parece demonstrar interesse nela. No entanto, ela foge, agindo como uma gazela gentil.

05 – Como o guerreiro branco da tribo do mar reage ao canto triste de Marabá?

      O guerreiro branco da tribo do mar parece ser tocado pelo canto triste de Marabá e, em uma tarde, se aproxima dela em sua Igara, sorrindo como já havia feito antes.

06 – Qual é o desfecho entre Marabá e o guerreiro branco?

      O guerreiro branco colhe a napê-jaçanau das águas, beija-a e depois a atira para Marabá. Ele a convida, e, assustada com a aproximação dos filhos da selva, Marabá lança-se às águas do rio.

07 – Qual é a conclusão do conto em relação a Marabá e ao guerreiro branco?

      Após um momento tenso e assustador, Marabá sorri feliz, deitada sobre o peito do guerreiro branco, enquanto a grande igara parte velozmente pelo rio, sugerindo um desfecho de união entre os dois personagens.

 

CRÔNICA: SUFLÊ DE CHUCHU - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: Suflê de Chuchu

               Luís Fernando Veríssimo

 Houve uma grande comoção em casa com o primeiro telefonema da Duda, a pagar, de Paris. O primeiro telefonema desde que ela embarcara, mochila nas costas (a Duda, que em casa não levantava nem a sua roupa do chão!), na Varig, contra a vontade do pai e da mãe. Você nunca saiu de casa sozinha, minha filha! Você não sabe uma palavra de francês! Vou e pronto. E fora. E agora, depois de semanas de aflição, de "onde anda essa menina?", de "você não devia ter deixado, Eurico!", vinha o primeiro sinal de vida. Da Duda, de Paris.



- Minha filha...

- Não posso falar muito, mãe. Como é que se faz café?

- O quê?

- Café, café. Como é que se faz?

- Não sei, minha filha. Com água, com... Mas onde é que você está, Duda?

- Estou trabalhando de "au pair" num apartamento. Ih, não posso falar mais. Eles estão chegando. Depois eu ligo. Tchau! O pai quis saber detalhes. Onde ela estava morando?

- Falou alguma coisa sobre "opér".

- Deve ser "operá". O francês dela não melhorou... Dias depois, outra ligação. Apressada como a primeira. A Duda queria saber como se mudava fralda. Por um momento, a mãe teve um pensamento louco. A Duda teve um filho de um francês! Não, que bobagem, não dava tempo. Por que você quer saber, minha filha?

- Rápido, mãe. A criança tá borrada! Ninguém em casa podia imaginar a Duda trocando fraldas. Ela, que tinha nojo quando o irmão menor espirrava.

- Pobre criança... - comentou o pai. Finalmente, um telefonema sem pressa da Duda. Os patrões tinham saído, o cagão estava dormindo, ela podia contar o que estava lhe acontecendo. "Au pair" era empregada, faz-tudo. E ela fazia tudo na casa. A princípio tivera alguma dificuldade com os aparelhos. Nunca notara antes, por exemplo, que o aspirador de pó precisava ser ligado numa tomada. Mas agora estava uma opér "formidable". E Duda enfatizara a pronúncia francesa. "Formidable." Os patrões a adoravam. E ela prometera que na semana seguinte prepararia uma autêntica feijoada brasileira para eles e alguns amigos.

- Mas, Duda, você sabe fazer feijoada?

- Era sobre isso que eu queria falar com você, mãe. Pra começar, como é que se faz arroz? A mãe mal pôde esperar o telefonema que a Duda lhe prometera, no dia seguinte ao da feijoada.

- Como foi, minha filha. Conta!

- Formidable! Um sucesso. Para o próximo jantar, vou preparar aquela sua moqueca.

- Pegue o peixe... - começou a mãe, animadíssima. A moqueca também foi um sucesso. Duda contou que uma das amigas da sua patroa fora atrás dela, na cozinha, e cochichara uma proposta no seu ouvido: o dobro do que ela ganhava ali para ser opér na sua casa. Pelo menos fora isso que ela entendera. Mas Duda não pretendia deixar seus patrões. Eles eram uns amores. Iam ajudá-la a regularizar a sua situação na França. Daquele jeito, disse Duda a sua mãe, ela tão cedo não voltava ao Brasil. É preciso compreender, portanto, o que se passava no coração da mãe quando a Duda telefonou para saber como era a sua receita de suflê de chuchu. Quase não usavam o chuchu na França, e a Duda dissera a seus patrões que suflê de chuchu era um prato típico brasileiro e sua receita era passada de geração a geração na floresta onde o chuchu, inclusive, era considerado afrodisíaco. Coração de mãe é um pouco como as Caraíbas. Ventos se cruzam, correntes se chocam, e uma área de tumultos naturais. A própria dona daquele coração não saberia descrever os vários impulsos que o percorreram no segundo que precedeu sua decisão de dar à filha a receita errada, a receita de um fracasso. De um lado o desejo de que a filha fizesse bonito e também - por que não admitir? - uma certa curiosidade com a repercussão do seu suflê de chuchu na terra, afinal, dos suflês, do outro o medo de que a filha nunca mais voltasse, que a Duda se consagrasse como a melhor opér da Europa e não voltasse nunca mais. Todo o destino num suflê. A mãe deu a receita errada. Com o coração apertado. Proporções grotescamente deformadas. A receita de uma bomba. Passaram-se dias, semanas, sem uma notícia da Duda. A mãe imaginando o pior. Casais intoxicados. Jantar em Paris acaba no hospital. Brasileira presa. Prato selvagem enluta famílias, receita infernal atribuída à mãe de trabalhadora clandestina, Interpol mobilizada. Ou imaginando a chegada de Duda em casa, desiludida com sua aventura parisiense, sua carreira de opér encerrada sem glória, mas pronta para tentar outra vez o vestibular. O que veio foi outro telefonema da Duda, um mês depois. Apressada de novo. No fundo, o som de bongos e maracas.

- Mãe, pergunta pro pai como é a letra de Cubanacã!

- Minha filha...

- Pergunta, é do tempo dele. Rápido que eu preciso pro meu número. Também houve um certo conflito no coração do pai, quando ouviu a pergunta. Arrá, ela sempre fizera pouco do seu gosto musical e agora precisava dele. Mas o segundo impulso venceu:

- Diz pra essa menina voltar pra casa. JÁ!

Entendendo o texto

01. Qual foi o acontecimento da família quando a Duda fez o primeiro telefonema de Paris?

a) Felicidade e ruptura.

b) Desconfiança e preocupação.

c) Indiferença e surpresa.

d) Despreocupação e descontração.

   02. Por que o pai e a mãe estavam preocupados com a viagem da Duda para Paris?

         a) Porque ela não sabia falar francês.

         b) Porque ela não tinha experiência em viajar sozinha.

         c) Porque ela tinha embarcado contra a vontade deles.

         d) Porque ela não gosta de café.

     03. O que a Duda pergunta à mãe no segundo telefonema?

          a) Como fazer um suflê de chuchu.

          b) Como trocar fralda de bebê.

          c) Como fazer café.

         d) Como preparar uma feijoada.

    04. Como a mãe reage quando a Duda pede a receita de suflê de chuchu?

         a) Ela dá a receita correta.

         b) Ela fica curiosa com a repercussão do suflê na França.

         c) Ela dá a receita errada.

         d) Ela se recusou a ajudar.

    05. Por que a mãe dá a receita errada do suflê de chuchu para a Duda?

         a) Para treinar a filha.

         b) Por curiosidade sobre a repercussão na França.

         c) Por medo de que a Duda não volte para casa.

         d) Porque a mãe não sabia a receita correta.

   06. Como a mãe descreve o coração quando a Duda liga pedindo a receita de suflê de chuchu?

        a) Como um deserto sem emoções.

        b) Como as Caraíbas, cheias de ventos cruzados e correntes chocadas.

        c) Como uma floresta afrodisíaca.

        d) Como uma bomba dispara a destruição.

    07. Quais foram as consequências da receita errada do suflê de chuchu?

       a) Duda se tornou uma cozinheira renomada em Paris.

       b) Duda teve sucesso e foi elogiada pelos patrões.

       c) A família ficou sem notícias da Duda por semanas.

       d) A mãe nunca mais deu receitas à Duda.

     08. O que a mãe imaginou como possível resultado da receita errada?

         a) Duda sendo elogiada na França.

         b) Problemas de saúde causados ​​pelo suflê.

         c) Duda desiludida com a aventura parisiense.

         d) Duda se consagrando como a melhor ópera da Europa.

  09. Qual foi a ocorrência do pai quando o Duda pediu a letra de "Cubanacã"?

        a) Ele ficou feliz em ser útil para a filha.

        b) Ele decidiu ajudar.

        c) Ele ficou irritado e mandou a filha voltar para casa.

       d) Ele não se importou com o pedido.

   10. Qual foi a última instrução do pai para a Duda no final da crônica?

       a) Pedir desculpas à mãe.

       b) Voltar para casa imediatamente.

       c) Continuar sua carreira como ópera em Paris.

      d) Não se preocupe com a letra de "Cubanacã".

 

CRÔNICA: O MARAJÁ - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: O Marajá

               Luís Fernando Veríssimo

A família toda ria de dona Morgadinha e dizia que ela estava sempre esperando a visita do Marajá de Jaipur. Dona Morgadinha não podia ver uma coisa fora do lugar, uma ponta de poeira em seus móveis ou uma mancha em seus vidros e cristais. Gemia baixinho quando alguém esquecia um sapato no corredor, uma toalha no quarto ou - ai, ai, ai - uma almofada torta no sofá da sala. 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhT6tlc7oXnyf3lSppBZAHL7lwC2oUHjNh8HTggyrxswP91-0Yr_r_9EuIkiCFsMBbyiso5Hwb8ZfYejq-GqclayPoNCxwCzbdKJw_KuX78O3QX7cLyejphOomonxD2mtVxleeGqxaPI3prTdE28YkHwzyOQzutcz28l819P1JoNn7J_-no4UsFaY5VkJw/s1600/LIMPEZA.jpg


Baixinha, resoluta, percorria a casa com uma flanela na mão, o olho vivo contra qualquer incursão do pó, da cinza, do inimigo nos seus domínios. Dona Morgadinha era uma alma simples. Não lia jornal, não lia nada. Achava que jornal sujava os dedos e livro juntava mofo e bichos. O marido de dona Morgadinha, que ela amava com devoção apesar do seu hábito de limpar a orelha com uma tampa de caneta Bic, estabelecera um limite para sua compulsão de limpeza. Ela não podia entrar na sua biblioteca. Sua jurisdição acabava na porta. Ali dentro só ele podia limpar, e nunca limpava. E, nas raras vezes em que dona Morgadinha chegava à porta do escritório proibido para falar com o marido, este fazia questão de desafiá-la. Botava os pés em cima dos móveis. Atirava os sapatos longe. Uma vez chegara a tirar uma meia e jogar em cima da lâmpada só para ver a cara da mulher. Sacudia a ponta do charuto sobre um cinzeiro cheio e errava deliberadamente o alvo. Dona Morgadinha então fechava os olhos e, incapaz de se controlar, lustrava com a sua flanela o trinco da porta. O marido de dona Morgadinha contava, entre divertido e horrorizado, da vez que levara a mulher a uma recepção diplomática.

- Percorremos a fila de recepção, e quando vi a Morgadinha estava sendo apresentada ao embaixador. O embaixador se curvou, fez uma reverência, e de repente a Morgadinha levou a mão e tirou um fio de cabelo da lapela do embaixador!

- Não pude resistir - explicava dona Morgadinha, séria, entre as risadas dos outros.

- E ainda deu uma espanada, com a mão, no seu ombro.

- Caspa - suspirava dona Morgadinha, desiludida com o corpo diplomático. Quis o destino que os filhos de dona Morgadinha puxassem pelo pai no relaxamento e na irreverência. Todos os três.

- Meu filho, aí não é lugar de deixar os livros da escola.

- Qual é, mãe? Está esperando o Marajá?

- Minha filha, a sala não é lugar de cortar as unhas.

- Ih, hoje é dia do Marajá chegar.

- Oscar, na mesa?!

- Quando o Marajá vier almoçar, eu prometo que não faço isto. Certa manhã bateram à porta. Dona Morgadinha, que comandava a faxina diária da casa com severidade militar, fez sinal para as empregadas de que ela mesma iria abrir. Na porta estava um homem moreno, de terno, gravata - e turbante! Dona Morgadinha, que uma vez brigara com o carteiro porque a sua calça estava sem friso, olhou o homem de alto a baixo e não encontrou o que dizer.- Dona Morgadinha?

- Sim.

- Meu amo manda o seu cartão e pede permissão para vir visitá-la às cinco. Dona Morgadinha olhou o cartão que o homem lhe entregara. Ali estava, com todas as letras douradas, "Marajá de Jaipur". Não conseguiu falar. Fez que sim com a cabeça, desconcertada. O homem fez uma mesura e desapareceu antes que dona Morgadinha recuperasse a fala. As empregadas receberam ordens de recomeçar a faxina, do princípio. Dona Morgadinha anunciou para a família que naquele dia não haveria almoço. Não queria cheiro de comida na casa. E era bom todos saírem para a rua até a noite, para não haver perigo de deslocarem as almofadas. Pai e filhos se entreolharam e concordaram:

- O Marajá vem hoje. Dona Morgadinha apenas sorriu. E estava com o mesmo sorriso quando o marido e os filhos chegaram em casa à noite, depois de comerem um cheeseburger na esquina, fazendo bastante barulho e manchando a roupa. Dona Morgadinha não contou para ninguém da visita do Marajá. Do seu terno branco, do rubi no seu turbante, da sua barba grisalha e distinta. E da conversa que tinham tido, das cinco às sete, sozinhos, entre goles de chá e mordiscadas em sanduíches de aspargo, sobre coisas distantes, sobre o linho e o mármore e a purificação dos espíritos. Naquela noite o marido de dona Morgadinha surpreendeu a mulher com o olhar perdido na frente do espelho. Ela estava tão distraída que foi para a cama sem escovar as unhas, usar o colírio e rearrumar os armários, como fazia sempre. O Marajá combinou com dona Morgadinha que voltaria dois dias depois, à mesma hora. Estes dois dias dona Morgadinha passou sentada, sem notar nada, esquecida até da sua flanela. O filho mais velho chegou a trazer um vira-lata da rua para fazer xixi no pé da poltrona, mas não conseguiu despertar dona Morgadinha do seu devaneio. Depois de duas semanas de visitas constantes do Marajá e do mais absoluto descaso de dona Morgadinha pela higiene da família e da casa, o marido resolveu que já era demais. Procurou o seu amigo Turcão, que era árabe e tinha cara de hindu e que ele contratara para se fingir de Marajá e fazer uma brincadeira com a mulher, e disse que era hora de acabar com a brincadeira. Turcão, meio sem jeito, disse que com ele tudo bem, mas dona Morgadinha...

- O quê? - quis saber o marido, desconfiado...

- Ela levou a sério. Está falando até em fugir comigo e ir morar no mew-palácio em Jaipur. Negócio chato. Acho melhor contar a verdade para ela e... Mas o marido de dona Morgadinha percebeu o que fizera. E percebeu que com as almas simples não se brinca. Se descobrisse que fora enganada, dona Morgadinha era capaz de se matar, engolindo detergente. Não, não. Ela não merecia aquilo. Compungido, o marido pediu ao Turcão que continuasse a visitar a mulher. Mas tentasse desiludi-la. Dando um arroto. Sei lá.

Entendendo o texto

01. Qual é o comportamento obsessivo de dona Morgadinha descrito na crônica?

a) Ela coleciona selos raros.

b) Ela está sempre esperando uma visita ao Marajá de Jaipur. c) Ela gosta de colecionar livros antigos.

d) Ela é uma aficionada por jardinagem.

          02. Por que o marido da dona Morgadinha distribuiu um limite para sua compulsão de limpeza?

          a) Ele não suportava a obsessão da esposa por limpeza.

          b) Ele queria preservar sua biblioteca pessoal.

        c) Ele gostava de provocar a esposa desafiando suas regras.

       d) Ele era extremamente organizado e não precisava de interferências.

        03. O que aconteceu na recepção diplomática mencionada na crônica?

          a) Dona Morgadinha se entendeu muito bem com o embaixador.

         b) O marido da dona Morgadinha fez uma apresentação formal.

         c) Dona Morgadinha tirou um fio de cabelo da lapela do embaixador.

         d) O marido de dona Morgadinha desafiou as regras da etiqueta.

      04.  Como os filhos da dona Morgadinha se comportam em relação às suas obsessões por limpeza?

        a) Eles herdam a compulsão da mãe.

        b) Eles a provocam e desafiam suas regras.

        c) Eles não se importam com a limpeza.

        d) Eles são tão obsessivos quanto ela.

    05.  O que dona Morgadinha faz quando descobre uma visita ao Marajá?

       a) Ela pede para a família sair de casa.

       b) Ela cancela o almoço e proíbe cheiros de comida em casa.   

       c) Ela prepara uma recepção especial para o Marajá.

       d) Ela decidiu se mudar para Jaipur.

  06.  O que o marido de dona Morgadinha resolve fazer para acabar com a brincadeira do Marajá?

      a) Ele contratou um detetive para seguir dona Morgadinha.

      b) Ele pede a um amigo para se passar pelo verdadeiro Marajá.

      c) Ele conta a verdade para dona Morgadinha e enfrentará as consequências.

      d) Ele continua a brincadeira, mas de uma maneira diferente.

      07. Como dona Morgadinha reage quando descobre a verdade sobre o Marajá?

        a) Ela fica aliviada e volta à sua rotina de limpeza.

        b) Ela fica furiosa e decide se divorciar do marido.

        c) Ela leva a sério e planeja fugir com o falso Marajá.

        d) Ela se recusa a acreditar na verdade.

    08. Qual é a ocorrência dos filhos de dona Morgadinha diante da situação com o Marajá?

      a) Eles apoiam o pai na brincadeira.

      b) Eles ficam chateados com a mentira.

      c) Eles decidem contar a verdade para a mãe.

     d) Eles se juntam à brincadeira e fingem ser súditos do Marajá.

   09. O que dona Morgadinha faz durante os dois dias em que o Marajá não visita?

      a) Ela continua sua rotina de limpeza normalmente.

      b) Ela passou sentada, esquecida de tudo.

      c) Ela organiza uma recepção surpresa para o Marajá.

      d) Ela planeja uma fuga para Jaipur.

10. Como o marido de dona Morgadinha decidiu lidar com a situação ao perceber que ela levou a sério a brincadeira do Marajá?

       a) Ele decide contar a verdade imediatamente.

       b) Ele pede desculpas e tenta reclamar a situação.

      c) Ele continua a brincadeira para evitar magoar dona Morgadinha.

      d) Ele consultou um especialista em relacionamentos para orientação.

 

 

domingo, 19 de novembro de 2023

MÚSICA(ATIVIDADES): DISSERAM QUE EU VOLTEI AMERICANIZADA - CARMEN MIRANDA - COM GABARITO

 MÚSICA(ATIVIDADES): DISSERAM QUE EU VOLTEI AMERICANIZADA

                       (Vicente Paiva/Luiz Peixoto/Carmen Miranda)

E disseram que eu voltei americanizada
Com o burro do dinheiro
Que estou muito rica
Que não suporto mais o breque do pandeiro
E fico arrepiada ouvindo uma cuíca

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-FqcfMJi1lZe_mzg-iSh8RRDWgmTrxF-XGVOmsOWO4X50nhsfjL6o1qDripPJzD6wyISIDK0TTUzg9Vb9RKa7ekwny_F7362neauSZdGGnMq1TocjbdH5TPvYqratmZd-mvNpxwrmEzKdeWr1jdvOcj10C7fUPrtXqQIv3iiNU7brTUnyI-ZvqzZrYJw/s320/cARMEN.jpg


Disseram que com as mãos
Estou preocupada
E corre por aí
Que eu sei certo zum-zum
Que já não tenho molho, ritmo, nem nada
E dos balangandans já nem existe mais nenhum

Mas pra cima de mim, pra que tanto veneno?
Eu posso lá ficar americanizada?
Eu que nasci com o samba e vivo no sereno
Topando a noite inteira a velha batucada

Nas rodas de malandro minhas preferidas
Eu digo mesmo eu te amo, e nunca I love you
Enquanto houver Brasil
Na hora da comidas
Eu sou do camarão ensopadinho com chuchu!

 

Entendendo a canção

01. Qual é a temática principal da música?

a) Amor platônico.

b) Crítica social.

c) Celebridade.

d) Natureza.

    02. Como o eu poético é retratado em relação à sua suposta americanização na música?

         a) Com orgulho.

         b) Com indiferença.

         c) Com preocupação.

       d) Com alegria.

      03. Que características são atribuídas ao personagem na música em relação à sua suposta americanização?

             a) Riqueza e sofisticação.

             b) Desinteresse por dinheiro.

             c) Desconhecimento de ritmos.

             d) Falta de habilidade com as mãos.

     04. Qual é o sentimento expresso pelo que eu poético em relação aos barcos sobre sua americanização?

           a) Desprezo.

           b) Raiva.

           c) Desdém.

           d) Ironia.

     05. Que elementos da linguagem coloquial são usados ​​na música?

           a) Termos técnicos.

           b) Gírias e expressões populares.

           c) Arcaísmos.

           d) Jargão acadêmico.

      06. Como o eu poético demonstra sua conexão com as raízes culturais brasileiras na música?

           a) Valorizando a música estrangeira.

           b) Esquecendo as tradições do samba.

           c) Afirmando seu amor pelo camarão com chuchu.

           d) Adotando fantasias americanas.

     07. Existe uma crítica social na música? Se sim, qual é o alvo da crítica?

          a) Sim, a crítica é dirigida à cultura brasileira.

         b) Não, a música é apenas humorística.

         c) Sim, a crítica é dirigida à americanização da sociedade.

         d) Não, a música celebra a americanização.

     08. Quais figuras de linguagem são usadas na música para expressar a declarada à americanização?

          a) Metáforas e aliterações.

          b) Anáforas e paralelismos.

          c) Ironia e antítese.

          d) Eufemismo e pleonasmo.

     09. Como a música reflete a reflexão do eu poético sobre sua identidade cultural?

          a) Celebrando a assimilação de influências estrangeiras.

          b) Demonstrando resistência à perda de identidade cultural.

           c) Desprezando as tradições locais em favor de modismos estrangeiros.

           d) Abraçando plenamente a cultura americana.

        10. A letra da música foi elaborada para a interpretação de Carmen Miranda, que a gravou em 1940, e responde a acusações da mídia e de setores da sociedade de que, como símbolo da cultura nacional, a cantora estaria se “americanizando”.  

Essa polêmica faz parte de um contexto histórico maior, ocorrido durante a chamada “política da boa vizinhança” da ditadura de Getúlio Vargas, que consistia em/na:

a.   um plano para atrair o apoio político dos Estados Unidos à ditadura de Vargas; consistia em demonstrar a vasta produção cultural nacional e seu poder mercadológico em países estrangeiros.

b.   percepção de como a cultura é parte importante na construção de uma nação; com isso, o governo dos Estados Unidos solicitou à América Latina exemplos culturais para serem integrados na sociedade estadunidense.

c.   aproximação cultural entre o Brasil e os EUA em um período anterior à Segunda Guerra Mundial e de simpatia por governos autoritários, o que atrapalharia a intenção hegemônica estadunidense no País.

d.   construção de símbolos nacionais artificializados, condizentes com o ufanismo fascista pensado por Vargas, e que, durante as tensões pré-Segunda Guerra Mundial, foram apropriados indevidamente pelos EUA.

e.   valorização das matérias-primas brasileiras, formando arquétipos da cultura nacional e financiando suas apresentações em países com grande potencial de compra, como os Estados Unidos, como forma de divulgar a nação.