sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

CRÔNICA: NÃO DÊ COMIDA AOS ANIMAIS - GISELDA LAPORTA NICOLELIS - COM GABARITO

 Crônica: Não dê comida aos animais

               Giselda Laporta Nicolelis

    Adílson chegou ao zoológico, feliz da vida. Era uma linda tarde de sol e ele economizara a semana toda para ver os animais. Deixara até de andar de ônibus e fora a pé para a escola! Agora, com certeza, ia se divertir pra valer.

        O zoo estava cheio de gente. Famílias inteiras sentadas nos bancos ou passeando pelas alamedas, num clima de muita festa.

        Animado, jogou o resto das pipocas dentro da jaula do leão, que olhou com indiferença para as pipocas e com arrogância para o menino.

        Foi então que viu, lá embaixo, no fundo de um fosso, uns animais engraçados que pareciam lontras, com caudas grandes e achatadas. Eram seis, semienrolados uns nos outros, no seu habitat predileto: água!

        Curioso, leu a tabuleta:

        ARIRANHAS: carnívoros da família dos mustelídeos (Pterunura brasiliensis). Habitam os grandes rios do Brasil.

        NOME VULGAR: “onça-d’água”.

        Na sua frente, uma grade alta separava os visitantes dos animais. Por que seria? Uns bichinhos tão inofensivos tomando sol... Por certo só comiam peixes.

        Será que também gostavam de pipoca? Pena que tivesse gasto todo o saquinho com o leão lá da jaula. Dariam uns belos animais de estimação!

        E uma ideia se formava na sua cabeça... Por que não pular a grade (nem era tão alta assim pra um garoto como ele, acostumado a ser goleiro nas peladas do campinho) e ir lá embaixo, ver se elas eram mesmo tão pacatas quanto pareciam aqui de longe? Deviam ter umas pernas tão curtas e ser tão molengas que jamais alcançariam um moleque na corrida, mas nunca!...

        Olhou à sua volta: ninguém por perto. É a tua chance, Adílson! Sem pensar duas vezes, saltou rapidamente a grade e começou a descer o paredão que dava para o fosso. As ariranhas nem se mexeram, continuavam dormindo tranquilas.

        Ralou os joelhos na descida, nem ligou. Estava emocionante demais. Quando contasse pros colegas, eles nem iam acreditar! Um bando de frouxos... nunca que iam ter a coragem dele!

        Quando estava quase lá embaixo, uma das ariranhas o farejou e ergueu a cabeça. Mas logo mais dormia, aparentemente indiferente.

        Foi andando em direção aos bichos... bem de fininho. Eles continuavam dormindo... ou pareciam... Entrou pela água do fosso e foi chegando perto, determinado a encostar a mão naqueles dorsos peludos que brilhavam ao sol...

        A ariranha maior tornou a farejá-lo, erguendo novamente a cabeça. Só que dessa vez não voltou a dormir. Encarou-o. E ele sentiu a fúria no olhar do animal, mistura de medo e raiva ao mesmo tempo. Como num passe de mágica, a ariranha firmou o longo pescoço de lontra e emitiu um rugido que soou como alerta para as demais, que se desenrolaram uma das outras e puseram-se, num átimo, em posição de sentido! Ele agora tinha pela frente as ariranhas prontas para o ataque. Por trás, o paredão do fosso que o levaria à segurança e à liberdade...

        Um grito soou lá de cima, uma voz de mulher, apavorada:

        -- Deus, tem um menino no fosso, façam alguma coisa!

        Recobrando o próprio domínio sobre o espanto e o medo, o garoto tentou correr. Virou-se e preparou os músculos para escalar de uma só vez o paredão salvador. Mas as ariranhas foram mais rápidas. Certeiras, atiraram-se contra o menino, que tentava escapar. Adílson ainda gritou, transido de pavor:

        -- Socorro!

        João, que passeava com a família no zoo, abriu caminho:

        -- Sou policial, deixem-me passar!

        -- O menino caiu no fosso! – gritou a mulher, desesperada. – Ariranhas estão comendo ele vivo!

        João debruçou-se sobre a grade, um arrepio pelo corpo. O menino tinha o rosto virado para cima, pedindo socorro, enquanto tentava se livrar dos bichos... Era um garoto moreno, de olhos angustiados, que se debatia entre a vida e a morte... E alguma coisa precisava ser feita, urgentemente... Olhou ao seu redor.

        Os outros não faziam nada, impotentes.

        Chamar a segurança do zoo, quanto tempo levaria?... Minutos preciosos que poderiam significar a vida para o garoto lá embaixo... Poderia ser seu filho numa situação dessas... Todos olhando e ninguém fazendo nada!...

        Ainda ouviu o grito de sua mulher quando pulou a grade e começou a descer o paredão:

        -- Não, não vá!...

        Ele já descia, agarrando-se às pedras e a uma pequena árvore fincada ali quase por acaso. O garoto gritava, desesperado, ambos os braços nas bocas das ariranhas. João gritou:

        -- Aguente firme, estou indo! Vou te salvar, aguente firme!

        A mulher e os filhos, estáticos de pavor, olhavam tudo lá de cima do paredão.

        Os demais o animavam.

        -- Depressa, moço! Mais depressa, o garoto não aguenta mais!

        Num último arranco deu conta do paredão. Atirou-se na água. As ariranhas viraram-se para encarar o novo inimigo, largando o menino por instantes.

        Foi sua chance. Agarrou o garoto e correu com ele para o paredão, gritando:

        -- Suba rápido, o mais rápido que você puder!

        O garoto tentou escalar o paredão, escorado em João. Caiu, rolou por terra.

        João ergueu-o, sacudiu-o:

        -- É nossa única chance! Vamos, temos de subir!

        Um homem pulou a grade do fosso, amparou-se na pequena árvore e gritou para João, lá embaixo:

        -- Dá aqui o garoto que eu puxo ele!

        João ergueu o garoto e, num supremo esforço, colocou-o sobre os ombros, enquanto o outro se esforçava para agarrar as mãos de Adílson.

        Começou a puxá-lo para cima e, quando o garoto finalmente firmou as pernas no paredão, João, com um suspiro de alívio, preparou-se para subir. Foi então que sentiu os focinhos molhados e as patas pegajosas nas suas costas, e uma força brutal arrastando-o pelas pedras, enquanto a mulher gritava desesperada:  

        -- Façam alguma coisa, elas pegaram meu marido!...

        -- Vou chamar ajuda – disse alguém e saiu correndo da multidão.

        A mulher continuo gritando:

        Façam alguma coisa, alguém atire nelas, peço amor de Deus! Elas estão matando o meu marido!

        Lá embaixo, João ainda resistia... Desarmado, seu corpo sob as ariranhas que, enfim, davam vazão a toda sua fúria. João lutou, gritou, se debateu e, finalmente, não reagiu mais.

NICOLELIS, Giselda Laporta. Histórias verdadeiras. São Paulo: Scipione, 1994, p. 27-32.

                     Fonte: Língua Portuguesa – Coleção Mais Cores – 5° ano – 1ª ed. Curitiba 2012 – Ed. Positivo p. 117-122.

Entendendo a crônica:

01 – Ao ler o texto, você percebeu, nas informações apresentadas na tabuleta, que os animais possuem nomes científicos (que é o seu registro na literatura científica) e vulgares (modo popular pelo qual são conhecidos).

·        Família a que pertencem: família dos mustelídeos.

·        Nome científico: Pterunura brasilienses.

·        Nome vulgar: Onça-d’água.

02 – Escolha três animais de sua preferência e pesquise as informações a seguir.

·        Família a que pertencem: Resposta pessoal do aluno.

·        Nome científico: Resposta pessoal do aluno.

·        Nome vulgar: Resposta pessoal do aluno.

03 – Discuta com seus colegas e professor as questões a seguir.

·        O que levou o policial a tentar salvar o menino? Em sua opinião, esse herói agiu de modo correto ao arriscar sua própria vida? Por quê?

Resposta pessoal do aluno.

·        Você conhece alguém que já colocou sua vida em risco para tentar socorrer alguém? Conte como isso aconteceu.

Resposta pessoal do aluno.

04 – Em todos os zoológicos, existem tabuletas afixadas, solicitando aos visitantes que não deem comida aos animais. Em sua opinião, por que há pessoas que não respeitam essa solicitação?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Por falta de instrução ou porque é um pessoa que não gosta de respeitar as regras.

05 – Agora, imagine que o diretor do zoológico precisa escrever nas tabuletas frases que levem os visitantes a perceber o perigo que os animais enjaulados apresentam. Ajude-o, elaborando três frases. Lembre-se de que você deve dar conselhos, como este: “Não dê comida aos animais”.

        Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Não suba nas grades é perigoso; Não encoste nas grades, pode ser arriscado; Não tire fotos com flash, eles podem assustar; etc.

06 – O policial dessa história arriscou a própria vida para salvar a de um menino. Como ele, muitos outros profissionais arriscam-se diariamente para manter a segurança e a tranquilidade das pessoas. Em equipe, indiquem outros profissionais que arriscam sua vida em benefício das pessoas.

      Resposta pessoal do aluno.

 

sábado, 12 de fevereiro de 2022

CARTA ABERTA: VAMOS RESGATAR O RIO PINHEIROS (SP) #VOLTAPINHEIROS - COM GABARITO

 Carta aberta: Vamos resgatar o Rio Pinheiros (SP)

#VOLTAPINHEIROS

                        Volta Pinheiros criou este abaixo-assinado para pressionar Governo do Estado de São Paulo (SP) e 3 outros

        Carta-aberta a todos os Paulistanos:

        Qual foi a última vez que as pessoas, as empresas e o poder público se uniram em busca de uma grande melhoria para nossa comunidade sem qualquer interesse político, partidário ou financeiro? Difícil responder a essa pergunta sem questionar nossa inércia social e nosso frágil engajamento coletivo. No dia 5 de setembro de 2017, nosso pequeno grupo de sonhadores cidadãos brasileiros iniciou um movimento que busca atrair a atenção da sociedade para o maltratado Rio Pinheiros.

        Todo dia, milhões de pessoas passam por ali, e esse ali está em todo lugar. São 25 quilômetros de descaso, sujeira e desrespeito. Nós até esquecemos que ali vivia um rio de verdade. Esse é o nosso rio? Podre, morto, imundo. É isso que os moradores de uma das maiores cidades do mundo chamam de rio? Não, nós não acreditamos nisso e pedimos o seu apoio.

        O movimento #VoltaPinheiros tem um único objetivo: tirar o rio do esgoto do esquecimento, colocá-lo de volta no centro das atenções e convidar a sociedade civil a discutir seriamente o seu futuro. Impossível? Se ninguém fizer nada, sim. Por isso, o Movimento #VoltaPinheiros convida cada um dos paulistanos, de origem ou coração, a compartilhar esse movimento.

        Vamos convidar os poderes públicos, as empresas que margeiam o rio, as empresas que não margeiam, mas sentem o seu cheiro, todos nós, cidadãos, a ajudar. Vamos mobilizar todo mundo. Vamos pedir a cobertura e o holofote dos veículos de comunicação. Vamos, juntos, resgatar o nosso rio. Sim, os problemas do Brasil são inúmeros, mas esse não deixa de ser um deles. Para isso, precisamos nos sentar em volta da mesa e debater soluções viáveis, patrocínios e esforço político e ético consciente. Está na hora de dar o exemplo para o país inteiro de que a mudança é possível. E esse exemplo tem que vir das pessoas. Portanto, não fique indiferente. Afinal, que rio vamos deixar para os nossos filhos?

        Hoje, o que pode parecer um simples abaixo-assinado se transformará em um grande movimento com a sua ajuda. Mas isso só vai acontecer pra valer se você compartilhar essa ideia. Participe do #VoltaPinheiros e seja parte da mudança que o nosso rio e a nossa cidade precisam.

Volta Pinheiros. Vamos resgatar o Rio Pinheiros (SP) #voltapinheiros. Disponível em: www.charge.org/p/vamos-resgatar-o-rio-pinheiros-sp-voltapinheiros. Acesso em: 21 jun. 2018.

        Fonte: Língua Portuguesa – Português – Apoema – Editora do Brasil – São Paulo, 2018. 1ª edição – 6° ano. p. 203-5.

Entendendo a carta aberta:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Engajar: dedicar-se com afinco.

·        Ética: conjunto de normas e regras de valor moral que devem ser seguidas para que se estabeleça um comportamento exemplar.

·        Patrocínio: financiamento concedido por empresas ou instituições a atividades artísticas, culturais, científicas, comunitárias, educacionais, esportivas ou promocionais.

·        Sociedade civil: a sociedade considerada como conjunto de associações e interações entre os cidadãos organizados segundo valores, ideias ou interesses relativos aos vários aspectos da vida social por oposição à ação universalista do Estado.

02 – Qual é a convocação feita pelo título do texto?

      Uma convocação para resgatar o Rio Pinheiros.

03 – O texto, que é um abaixo-assinado, tem início com a frase: “Carta aberta a todos os paulistanos”.

a)   Carta pessoais tratam de assuntos particulares, são enviadas ao destinatário geralmente lacradas e têm caráter privado. Violar a correspondência pessoal alheia, no Brasil, é crime. Com base nessas informações, reflita sobre o nome carta aberta. O que seria esse tipo de carta?

Uma carta pública, que alcança muitas pessoas, em geral relacionada a assuntos de interesse coletivo.

b)   O movimento #voltapinheiros convida que pessoas a compartilhar o abaixo-assinado?

Todos os paulistanos, de origem ou de coração.

c)   A quem o abaixo-assinado se dirige?

Aos poderes públicos, às empresas e a todos os cidadãos.

04 – Releia a introdução do primeiro parágrafo.

        “Qual foi a última vez que as pessoas, as empresas e o poder público se uniram em busca de uma grande melhoria para nossa comunidade sem qualquer interesse político, partidário ou financeiro? [...]”.

a)   O trecho questiona a falta de união entre quem?

As pessoas, as empresas e o poder público.

b)   O poder público é formado pelos órgãos de autoridade do Estado e reúne os três poderes: Legislativo (responsável por criar e modificar leis), Executivo (responsável por aplicar as leis e as políticas sociais e econômicas) e Judiciário (responsável por avaliar as leis cridas e julgar possíveis infrações a elas). Com base nessa explicação e em seus conhecimentos, diga o que os setores da sociedade, apontados no texto, representam.

As pessoas representam a esfera individual; as empresas, a esfera privada; e o poder público representa o governo.

c)   Por que o texto expõe a necessidade de união?

Para que haja melhorias para a comunidade, independentemente das escolhas políticas, dos partidos e dos interesses econômicos.

d)   Escreva em seu caderno a alternativa que caracteriza a pergunta feita na introdução do texto.

·        É dirigida aos cidadãos e critica seus interesses financeiros nas obras do governo.

·        Duvida da capacidade da classe dirigente para solucionar problemas coletivos.

 

CRÔNICA: UMA AULA ESPECIAL - ANA MARIA MACHADO - COM GABARITO

 Crônica: Uma aula especial

              Ana Maria Machado

        [...]

        -- Isabel, eu mostrei à turma o retrato de sua bisavô e todo mundo começou a trazer retratos dos bisavós também. Então, resolvemos fazer uma pesquisa sobre o tempo em que eles viveram. Vamos passar algumas semanas estudando esse tempo, o final do século XX. Que é que você acha?

        Eu estava tão feliz de ter achado o retrato de Bisa Bia que não conseguia achar nada para falar. Ainda mais agora, com essa boa ideia, de ficar sabendo montes de coisas do tempo dela, ah! Ia ser ótimo!... Foi me dando um nó na garganta, uma vontade de chorar de alegria, de emoção, sei lá, nem consigo explicar. Aí, de repente, reparei que Vitor, o novo aluno, também estava disfarçando e enxugando uma lágrima no canto do olho. Não entendi por quê. Ainda bem que Dona Sônia não esperou minha resposta nem reparou no choro do Vítor (que menino mais esquisito... será que ele nunca ouviu falar que homem não chora?) e foi começando a aula, contando que havia escravos no tempo da minha bisavó, que os escravos tinham donos, como se fossem coisas, trabalhavam a vida inteira sem descanso, não tinham salário, não tinham direitos, enfim, uma porção de coisas assim, algumas até que a gente já tinha ouvido falar, mas nunca tinha reparado direito.

        De repente, quando ela perguntou se alguém tinha alguma dúvida, queria fazer uma pergunta ou algum comentário, o Vítor levantou a mão e, ainda com um jeito bem emocionado, começou a falar:

        -- Sabe, Dona Sônia, me deu um aperto no coração quando a senhora começou a falar da bisavó dela, porque eu comecei a pensar no meu avô e descobri que estou com muita vontade de falar dele. Posso?

        -- Claro que pode, Vítor.

        -- Vocês sabem que nós moramos muito tempo fora do Brasil. Por isso, eu conheci pouco o meu avô, porque ele ficou aqui. Mas o conheci muito bem. Quando nós fomos para o exílio, éramos muito pequenos e não nos lembramos de quase nada. Mas ele foi lá nos visitar algumas vezes. Depois, a gente sempre se escrevia, às vezes falava no telefone. E ele morreu enquanto nós estávamos lá longe, nunca deu para a gente curtir o avô direito, e isso dá muita saudade, muita tristeza, essa vontade de chorar, até hoje.

        Puxa! Ele enxugou outra lágrima! Não tinha medo de que ninguém risse dele... Na mesma hora descobri que o Vítor era o menino mais corajoso que eu já tinha conhecido. Tinha até coragem de chorar na frente da turma toda!

        Mas ele continuava:

        -- Lembro-me de uma noite, quando nós estávamos em Roma e ele tinha ido nos visitar. Era na véspera do embarque dele de volta para o Brasil. Maria e eu queríamos viajar com ele, queríamos que papai e mamãe também voltassem para a terra da gente, estávamos todos meio tristes... Eu não entendia direito por que não podíamos voltar. Aí vovô explicou que um dia íamos poder, mas falou que quem quer construir os tempos novos geralmente não é compreendido, é perseguido e sofre muito, e era isso que estava acontecendo com meus pais. Aí ele contou muita coisa da História do Brasil e do mundo. Disse que no tempo dele já tinha sido melhor do que no tempo do pai dele, não tinha mais escravos, os trabalhadores já recebiam salário, mas ele se lembrava de que, quando era pequeno, na cidade dele (que era cheia de fábricas), os trabalhadores ficavam nas máquinas catorze ou dezesseis horas por dia – nem lembro mais – e não podiam fazer greve também, criança pequena trabalhava, uma porção de coisas assim.

        Eu não lembro direito, porque isso tudo ficou misturado na minha cabeça, quer dizer, os detalhes da conversa, quando foi que cada coisa foi mudando. Conversamos muito sobre isso e não dá para lembrar tudo. Mas nunca vou esquecer o brilho dos olhos do meu avô quando me falava dessas coisas. Nem vou esquecer também que essa foi a primeira vez que eu vi meu pai chorar, enquanto escutava o papo do vovô.

        Até na gente, que não era da família nem nada, estava dando uma vontade de chorar. Era só ouvir o jeito emocionado do Vítor contando essas coisas acontecidas há alguns anos numa noite fria, lá longe do Brasil, no outro lado do mar, numa conversa com um velho que não existia mais.

        -- Nesse dia eu entendi que vovô ia sempre existir dentro de mim – continuava ele, como se estivesse lendo meus pensamentos.

        -- Depois de muito papo, vovô disse que cada vez nós tínhamos que fazer força para melhorar, para deixar um mundo melhor para nossos filhos, como papai fazia no trabalho de jornalista, e como mamãe fazia dando as aulas dela. Disse que estava muito orgulhoso dos meus pais e que o exílio estava sendo uma espécie de preço que a gente estava pagando par que o futuro fosse melhor, que havia muita gente pagando esse preço e outros preços mais duros ainda, mas que ia valer a pena... Agora, quando a gente estava falando da bisavó da Isabel, fiquei com saudade do meu avô, com pena de pensar que ele morreu antes da festa da nossa volta. Mas eu vi também como, em algumas coisas, nosso tempo já está sendo melhor do que o dele. E fiquei pensando nisso: como vai ser o mundo dos nossos netos? E dos nossos bisnetos? Acho que a gente podia pesquisar isso também. Era isso o que eu queria dizer.

        Disse e sentou.

MACHADO, Ana Maria. Bisa Bia, Bisa Bel. 4. ed. Rio de Janeiro: Salamandra, 2000. Adaptação.

                     Fonte: Língua Portuguesa – Coleção Mais Cores – 5° ano – 1ª ed. Curitiba 2012 – Ed. Positivo p. 31-5.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, quais as informações abaixo.

a)   Sobrenome da autora do texto: Machado.

b)   Nome da personagem narradora: Isabel.

c)   Local onde ocorre a história: Escola.

d)   Dois outros personagens dessa história: Vítor e Sônia.

e)   Local do exílio da família de Vítor: Roma.

02 – Leia a opinião de Isabel sobre Vítor.

        “[...] (que menino mais esquisito... será que ele nunca ouviu falar que homem não chora)?”

a)   Você concorda com a opinião de Isabel? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal do aluno.

b)   Por que esse trecho do texto aparece entre parênteses?

Porque tratasse de um pensamento da personagem.

03 – No decorrer do texto, Isabel muda de opinião a respeito do seu colega de turma.

        “Na mesma hora descobri que o Vítor era o menino mais corajoso que eu já tinha conhecido.” Que motivo levou Isabel a modificar sua opinião?

      Porque ele chorou na frente da turma e, isto é um ato corajoso.

04 – Vítor comenta com seus colegas que, quando pequeno, ele e sua família estiveram no exílio.

a)   Procure no dicionário o significado da palavra em destaque.

Degredo, expatriação, desterro, expulsão de sua pátria.

b)   Discuta com seus colegas e professor sobre o significado da palavra exílio.

Resposta pessoal do aluno.

c)   Você tem conhecimento de alguém que tenha se exilado por algum motivo? Comente essa questão com seus colegas.

Resposta pessoal do aluno.

05 – Vitor tem opinião formada a respeito do tempo em que ele vive.

        “[...] fiquei com saudade do meu avô, com pena de pensar que ele morreu antes da festa da nossa volta. Mas eu vi também como, em algumas coisas, nosso tempo já está sendo melhor do que o dele.”. Converse com seus colegas sobre as questões a seguir.

a)   Você concorda com a opinião de Vítor sobre o tempo em que você está vivendo ser melhor que o de seus avós e bisavós? Em que sentido? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal do aluno.

b)   O que precisa ser modificado para que o nosso país fique ainda melhor?

Resposta pessoal do aluno.

c)   O que você pode fazer para que o Brasil se torne um país melhor no presente e no futuro?

Resposta pessoal do aluno.

06 – Dona Sônia começou a aula contando como era o tempo em que vivia a bisavó de Isabel. Que fatos ela relata a respeito dessa época no que se refere aos trabalhos e aos direitos humanos?

      Naquele tempo havia escravos que tinham donos e trabalhavam sem receber e também não tinham direito a nada.

 

TEXTO: PÁSCOA: SOLIDARIEDADE FOI O PRESENTE - INFORMATIVO ESCOLAR - COM GABARITO

 Texto: Páscoa: solidariedade foi o presente

        A Páscoa Solidária, que neste ano teve por tema “Páscoa: solidariedade é o presente”, foi um verdadeiro sucesso. Não apenas pela alegria que incentivou os alunos nas diversas atividades realizadas na escola, mas, principalmente, pelo verdadeiro espírito de solidariedade que tomou conta de todos, levando-os a promover uma arrecadação muito especial para s 13 entidades que foram escolhidas para serem beneficiadas com as doações.

        Assim, para dar início à Páscoa Solidária, grupos de alunos do 6° ao 9° ano, acompanhados pelos professores, visitaram algumas das entidades que seriam beneficiadas, para conhecer a realidade e as necessidades que cada uma apresentava. O trabalho dos alunos foi despertar a sensibilidade diante da situação de abandono, necessidade e carência por que passam muitas crianças e adultos.

        Para M., do 8° ano, muitas dessas pessoas não tiveram oportunidades na vida: “Você ouvir falar das crianças carentes é diferente de vê-las pessoalmente, brincar, conversar com elas e saber das suas necessidades”, afirmou na volta da visita à Creche Uberlândia. Além disso, M. conta ainda que sempre teve o exemplo da solidariedade em casa: “Minha mãe sempre doa brinquedos e, neste ano, também procuramos ajudar os desabrigados por causa das enchentes”, contou.

        R., também do 8° ano, concorda com a amiga: “Nós, muitas vezes, temos tanto e ainda reclamamos. Depois de ver a situação destas crianças, dá vontade de dar tudo o que se tem. A gente tem muito!”, desabafou. A importância da visita se reflete na emoção de quem vive outra realidade.

        “Muitas crianças e jovens como nós não têm a mínima noção ou interesse pelas pessoas carentes, talvez até por não terem tido a oportunidade de ver isso de perto: crianças que usam camisas como fraldas, que brincam com pedaços de pano, que foram vítimas de violência... e que ficam felizes só em poder brincar conosco!”, concluiu.

INFORMATIVO ESCOLAR. Páscoa: solidariedade foi o presente.

                   Fonte: Língua Portuguesa – Coleção Mais Cores – 5° ano – 1ª ed. Curitiba 2012 – Ed. Positivo p.163-5.

Entendendo o texto:

01 – Do que trata a notícia divulgada nesse informativo?

      Informa como o feriado de páscoa foi comemorado na escola.

02 – Qual foi a primeira etapa realizada na campanha da Páscoa Solidária desse colégio?

     Grupos de alunos do 6° ao 9° ano, acompanhados pelos professores, visitaram algumas das entidades que seriam beneficiadas, para conhecer a realidade e as necessidades que cada uma apresentava.

03 – Por que a campanha da Páscoa foi um sucesso?

      Porque o verdadeiro espírito de solidariedade tomou conta de todos os alunos, os quais promoveram uma arrecadação muito especial.

04 – Segundo a opinião de R., por que muitos jovens não têm interesse pelas pessoas carentes?

      “[...] talvez até por não terem tido a oportunidade de ver isso de perto: crianças que usam camisas como fraldas, que brincam com pedaços de pano, que foram vítimas de violência... e que ficam felizes só em poder brincar conosco!”

05 – Se você fosse convidado a participar de uma campanha solidária par pessoas carentes, que tipo de instituição gostaria de ajudar? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.

06 – O que significa a palavra solidariedade?

      É praticar a bondade e ajuda aos mais necessitados, ser solidário.

07 – Você já foi solidário com alguém ou com alguma entidade? Como foi essa experiência?

      Resposta pessoal do aluno.

     

     

CONTO: LUNA, MINHA HEROÍNA - HELOÍSA PRIETO - COM GABARITO

 Conto: Luna, minha heroína

             Heloísa Prieto

        Quando se fala em um herói, sempre se pensa em um homem alto e forte, uma espécie de guerreiro, com uma espada ou arma na mão.

        Mas agora, que já tenho quarenta e cinco anos, sei que todos nós podemos ser heróis. E que muitos daqueles que nos ajudaram durante a vida, nossos heróis íntimos, quase sempre ficam guardados anônimos, em uma lista secreta no fundo de nossa memória.

        Luna foi uma das heroínas da minha infância, minha querida amiga da espécie canina dos dobermanns. Linda, negra, brilhante, musculosa, rápida como ninguém, Luna era nossa babá. Dormíamos, minha irmã Sandra e eu, com a cabeça apoiada em sua barriga macia.

        Passávamos a maior parte do tempo metidos em brincadeiras malucas no quintal, ainda não tínhamos uma televisão, e, às vezes a folia ia longe demais. Como no dia em que resolvemos dar um susto em nossa mãe e costuramos com muito cuidado uma longa “cobra” de pano verde, amarramos uma linha nela e a fizemos rastejar lentamente pelo meio do gramado.

        Mamãe ficou louca. Apanhou a vassoura para matar a “cobra” e, quando descobriu que era tudo brincadeira, virou-se furiosa, com a vassoura ainda levantada, e saiu correndo atrás de nós. No começo não conseguíamos parar de rir, mas depois ficamos com medo – mamãe estava tão brava que quase não a reconhecíamos. Foi nesse momento atroz que Luna se colocou entre nós e mamãe, protegendo-nos da vassoura. Sentou-se na nossa frente a não deixou que ela nos tocasse.

        Hoje sei que mamãe não bateria em nós com a vassoura. Jamais apanhamos. Ela sempre nos disse: “Quem bate está ensinando a bater.” Mas daquele dia em diante, sempre que mamãe ficava brava, antes de nos pôr de castigo ou simplesmente nos dar uma bronca, ela trancava Luna no canil, só para prevenir. Assim, durante boa parte de minha infância, mãe brava virou sinônimo de cachorro preso.

                       Heloísa Prieto – “Minhas três heroínas”. In: Heróis e guerreiros. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1995.

                    Fonte: Língua Portuguesa – Coleção Mais Cores – 5° ano – 1ª ed. Curitiba 2012 – Ed. Positivo p. 128-131.

Entendendo o conto:

01 – Qual é a diferença entre a imagem de herói que as pessoas geralmente fazem e a heroína desse texto?

      O herói que as pessoas falam, não existe. Mas, já o da história é um personagem real, que quando precisamos ele está pronto a nos ajudar.

02 – Ao contar a história, a narradora resgata de sua memória fatos de sua infância. Que parte do texto comprova essa afirmação?

      “Mas agora, que já tenho quarenta e cinco anos, sei que todos nós podemos ser heróis.”

03 – Relate, resumidamente, como Luna se tornou a heroína das crianças daquela casa.

      Luna defendeu-as quando sua mãe iria bater nelas.

04 – Você concorda com as palavras da mãe das crianças? Justifique sua resposta.

          “Quem bate está ensinando a bater.”

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Não, porque ela só queria ensina-las que o que fizeram foi errado.

05 – Analise os dois trechos em que as aspas foram usadas. A seguir, justifique o uso desse sinal de pontuação em ambos os casos.

        [...] e costuramos com muito cuidado uma longa “cobra” [...] (4° parágrafo). Apanhou a vassoura para matar a “cobra” [...] (5° parágrafo).

        Ela sempre nos disse: “Quem bate está ensinado a bater”. (6° parágrafo).

      Ela é usada para ressaltar o tema empregado (não tem significado real).

a)   Que outro sinal de pontuação poderia substituir as aspas no 2° caso apresentado anteriormente?

Travessão.

b)   Reescreva esse trecho, usando o sinal de pontuação indicado por você na resposta do item anterior. Faça as devidas adequações.

Ela sempre nos disse: -- Quem bate está ensinado a bater.

06 – Nem sempre o travessão é usado para indicar a fala direta de personagens. Analise o uso da travessão no trecho a seguir. Depois, explique por que foi usado.

        “No começo não conseguíamos parar de rir, mas depois ficamos com medo – mamãe estava tão brava que quase não a reconhecíamos.”

      Porque isso é tipo um diálogo.

07 – A que substantivo do texto se referem estes adjetivos?

a)   Linda, negra, brilhante, musculosa, rápida.

Luna.

b)   Malucas.

As brincadeiras.

c)   Louca, furiosa, brava.

Mãe.

08 – Observe os pronomes em destaque no parágrafo abaixo. A seguir, resolva as questões propostas.

        “Mamãe ficou louca. Apanhou a vassoura para matar a “cobra” e, quando descobriu que era tudo brincadeira, virou-se furiosa, com a vassoura ainda levantada, e saiu correndo atrás de nós. No começo não conseguíamos parar de rir, mas depois ficamos com medo – mamãe estava tão brava que quase não a reconhecíamos. Foi nesse momento atroz que Luna se colocou entre nós e mamãe, protegendo-nos da vassoura. Sentou-se na nossa frente a não deixou que ela nos tocasse.”

a)   A quem se refere o pronome se de “virou-se”?

A mãe.

b)   Que expressão está sendo substituída pelo pronome a?

A mãe.

c)   A quem se refere o pronome nos?

As meninas.

d)   A quem se refere o pronome se de “sentou-se”?

Luna.

e)   O pronome ela está no lugar de que palavra?

Mãe.