quinta-feira, 27 de junho de 2019

POEMA: OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

Poema: Os ombros suportam o mundo
                                   Carlos Drummond de Andrade

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
preferiram (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

ANDRADE, Carlos Drummond. Obras completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967. p. 110-111.

Entendendo o poema:

01 – No poema, depois de refletir sobre o tempo presente, o eu lírico constata que é preciso:
a)   Suportar com resignação as dificuldades da vida, sem enganar a si mesmo.
b)   Procurar conviver com os amigos, porque eles são importantes na nossa vida.
c)   Enfrentar com coragem o isolamento, já que ele impede a realização pessoal.
d)   Esperar com paciência a velhice para usufruir as experiências acumuladas.
e)   Lutar contra as dificuldades do dia a dia para poder viver com tranquilidade.

02 – O verso a seguir dispara uma ideia que se repete de diferentes maneiras ao longo do poema: "Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus". Responda: 
a)   Dentro da ideia geral do poema, dizer "meu Deus" equivale a:
pedir ajuda à divindade. 
      não abandonar a relação entre o homem e a religião. 
      indignar-se com os problemas que nos cercam. 
      fugir dos verdadeiros problemas, recorrendo à religião. 

b)   O verso seguinte, "Tempo de absoluta depuração", reforça a ideia apontada no item anterior com uma agravante. Consulte os significados da palavra depuração e reflita sobre a questão a seguir. Com esse verso, é sugerido que:
o ser humano se sente culpado por não fazer nada contra os problemas do mundo, por isso busca a purificação moral. 
o ser humano perdeu sua capacidade de se indignar com os grandes problemas que o cercam e não sente culpa por isso. 

03 – A visão pessimista do comportamento do ser humano diante dos problemas do mundo continua a ser marcada pelos próximos versos: "Tempo em que não se diz mais: meu amor. / Porque o amor resultou inútil". 
a)   Que esperanças geralmente são colocadas no amor?
O amor, em geral, funciona como uma força transformadora, que implica abnegação, paciência, envolvimento, compaixão. 

b)    O que significa, portanto, o amor resultar inútil?
Os esforços envolvidos nesse sentimento, no envolvimento com o outro, não servem para o que realmente importa: viver sem mistificação.  

04 – Releia os versos a seguir. Observe sua força poética (pense em "força poética" como o uso da palavra em seu potencial máximo de significação). 
        "Teus ombros suportam o mundo / e ele não pesa mais que a mão de uma criança." 

a)   Marque as duas expressões que se opõem. 
Ombros e pesam.
      Suportam e mundo.
      Mundo e pesa. 
      Ombros e mão de uma criança. 
      Suportam e mão de uma criança.  

b)   Nesse contexto, o que significa "Teus ombros suportam o mundo"? 
Os esforços envolvidos nesse sentimento, no envolvimento com o outro, não servem para o que realmente importa: viver sem mistificação. 

c)   O que significa, então, suportar o que não pesa mais que a mão de uma criança? 
Significa que o peso está lá, mas não é assumido com a capacidade de indignação, de envolvimento, de exasperação que as questões ali levantadas exigem. 

05 – A capacidade de indignação é vislumbrada em dois versos da terceira estrofe. 
a)   Identifique-os. 
“Alguns, achando bárbaro o espetáculo, / prefeririam (os delicados) morrer.”

b)   O que, segundo o eu lírico, há de errado na atitude dos que se comovem com os problemas?
Eles desejam fugir do problema em lugar de tentar agir e transformá-lo. Isso os torna, apesar da capacidade de indignação, idênticos aos demais.  

06 – Interprete os dois últimos versos do poema.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: São os dois versos mais pessimistas do poema. A ideia é a de que não há um lugar mágico para o qual se possa fugir, nem dentro da própria vida, tampouco fora dela. Vivê-la apenas com tudo o que ela contém de dor, de absurdo e de sem sentido é o que resta. 

07 – Na primeira estrofe, o eu lírico afirma categoricamente que “o coração está seco”. Que imagem, nessa primeira estofe, explica o fato de o coração estar seco? Justifique sua resposta.

      A imagem relacionada à secura do coração é a do verso “E os olhos não choram”, já que a falta de lágrimas sugere o esvaziamento dos sentimentos e dos afetos nesse “tempo de absoluta depuração”.

08 – O último verso: “A vida apenas, sem mistificação.”, fornece para o leitor o sentido fundamental do poema. Levando-se em conta o conjunto do poema, que sentido é sugerido pela palavra mistificação?

      O poema foi produzido no contexto da 2ª Guerra Mundial. Nesse contexto de “absoluta depuração”, em que “o amor resultou inútil”, a vida se impõe como “uma ordem”, pois “não adianta morrer”. Conforme o título sugere, resta apenas suportar o mundo nos ombros e atravessar esse difícil momento da história humana.

09 – Que assunto é abordado nesse poema?

      Trata de uma abordagem direta da vida, sem amores, sem religião, uma coisa necessária aos tempos que se impõem como extremamente reais e urgentes, tempos de guerras e injustiças.

 




MENSAGEM ESPÍRITA - NUNCA DESISTIR - DIVALDO P. FRANCO (JOANNA DE ÂNGELIS)

NUNCA DESISTIR

          Parece haver uma conspiração generalizada contra os princípios ético-morais, as realizações nobilitantes, os trabalhos de engrandecimento humano, as obras de benemerência...
         Fala-se a respeito da violência e da agressividade, dos horrores que se abatem sobre as comunidades, no entanto, sistematicamente, aqueles que repudiam esses comportamentos alienados acomodam-se nos seus interesses e apenas censuram...
        Sonha-se com um mundo mais feliz e propugna-se, verbalmente, pela transformação sócio-moral da Terra, sem embargo, não se vai além do verbalismo ou dos artigos bem urdidos na imprensa, e pouco vivenciados. Estimula-se o homem ao sacrifício, sem que o sacrifício pessoal assinale a conduta de quem encoraja o outro.
         Emocionam-se muitos indivíduos diante daqueles que se exaurem no afã de modificar o estatuto das injustiças sociais vigentes, aberrantes e dominadoras. Oferecem-se, então, ao labor de auxílio sob condições que não abdicam, desejando submeter aqueles a quem admiram ao talante das suas opiniões e experiências, desertando, no entanto, com facilidade, passada a emoção, sem o mínimo respeito pela obra em desenvolvimento.
          Todos sabem que o preço de um ideal custa o sacrifício do idealista, assim como a qualidade de um empreendimento faz-se avaliada pela profundidade do seu conteúdo, no bem que esparge e nas resistências com que suporta todas as forças que se lhe opõem...
         É, portanto, compreensível que haja dificuldades no desempenho das tarefas de elevação da criatura em particular e da sociedade em geral. O ardor da luta forja o herói e a força da coragem se revela no fragor da batalha. Quem desiste não passa de candidato sem as credenciais de legítimo combatente. Raciocina, enquanto ouves os palradores, examinando o que eles fazem, em que se fixam, quais os seus testemunhos de fidelidade aos ideais que dizem esposar. Incapazes de ascender, por acomodação ou sistemática rebeldia, combatem os que lutam, afastam do trabalho, mediante acenos vãos e promessas enganosas, todos quantos se candidatam à ação de crescimento no bem.
         Libera-te do fascínio deles, rompendo as algemas mentais que a eles te ligam. Se adias a tua enobrecida decisão, aquela influência te enfermará. Ausculta a consciência, antes de qualquer decisão. Evita ouvir esta e aquela opinião. Deves saber o que queres da vida, como o desejas e por que o anelas. Ora, buscando as influências superiores, e receberás a correta inspiração. Tens uma tarefa a executar.
          Une-te aos que combatem, já cansados e sofridos, oferecendo-lhes o sangue novo do teu entusiasmo, sem conflitos, nem indecisões. Não aguardes encontrar homens, obras perfeitas. Aperfeiçoa-te, descobrindo quanto é difícil em ti esse processo, e então compreenderás melhor a luta dos outros, o afã dos demais...
          Decide-te ao bem, porquanto a tua decisão fará tua vida, assim, por tua vez, influenciando superiormente, o comportamento de outras pessoas.

CARTAS - CLAVER, RONALD & VIANA, VIVINA DE ASSIS - COM GABARITO

Texto: Cartas
      
      Ana T.

        São Paulo, 28-06-89.

        Ah, Pedro, se eu não andasse triste nos últimos dias, sua carta teria me deixado nas nuvens.
        Li várias vezes, o coração batendo forte. E depois dei um beijo no seu nome, no fim. Acho que você também me beijou.
        Bem de noite, dormi com ela debaixo do travesseiro. Fiquei pensando que isso talvez me ajudasse a sonhar com você. Não aguento mais de vontade de te ver.
        Não te vi. Não sonhei com você de jeito nenhum. Nem de camisa azul. Seria legal, não seria?
        Guardei a carta na mochila e estou andando com ela pra lá e pra cá. Na escola, no ônibus, no supermercado onde fui comprar uns tomates pra minha mãe fazer os sanduíches preferidos do meu irmão. Acabei comprando caquis também. Você sabe por quê.
        Hoje á noite vou tirar a carta da mochila. Outro dia, minha professora de inglês foi assaltada e levaram tudo. Documentos, talões de cheque, dinheiro, agenda, fotos, bilhetes.
        Se levarem sua carta, fico mais triste do que já estou.
        Ando triste por muitos motivos. Nem sei se vou conseguir te falar tudo. Mas o principal você vai entender.
        Perdi um amigo, no último dia 10. Acidente de carro. Óleo na pista, abismo, hospital. Nada que pudesse ser feito.
        Todo mundo gostava dele. Era um cara legal, pra cima. Um cara que fazia bem pra gente. Meio poeta, assim como você. Um dia, sem mais nem menos, ele me disse: “Não há meio das coisas seguirem junto com o homem”.
        Quando ele me disse isso, não dei muita importância, nem entendi direito.
        Agora, depois que ele morreu, essa frase fica diferente, não fica? Parece que ele queria fazer outra coisa. O pior é que eu penso, penso e não adianta nada, porque não tem mais jeito de conversar com ele.
        Outra pessoa que morreu foi a mãe de uma amiga minha. Semana passada, dia 23. Ela morreu no interior, mas a minha amiga vai mandar celebrar uma missa aqui e eu vou. Eu gostava muito da mãe dela e ela também gostava de mim. Vivia dizendo que rezava pra mim um terço que eu tinha levado pra ela, há muito tempo. Agora a minha amiga trouxe o terço de volta, e eu lhe disse: “Fica pra você”.
        E tem também a Nara Leão, que o pessoal mais velho curte muito, não é? Lá em casa, meu pai e minha mãe só admitem tirar o disco de Nara da “radiola” (minha mãe fala assim, você acredita?) se for pra trocar por um do Paulinho da Viola: “as coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender”.
        A Nara morreu dia 7. Três dias antes do meu amigo, que também gostava dela.
        Meu pai disse várias vezes que esse mês de junho tá muito pesado.
        A professora de inglês também. Você sabe que, depois da bolsa, ela ainda ficou sem o relógio e um cordão de ouro? O pior é que foi aí em Belo Horizonte.
        Ela foi visitar uns parentes e roubaram o relógio dela na rua, à noite. Um cara passou correndo e, quando ela viu, o braço estava vazio.
        Poucos dias depois, num sábado de manhã, ela foi fazer compras (na praça Raul Soares, se é que eu entendi o nome direito) e ficou sem o cordão de ouro com um coraçãozinho muito legal, presente do namorado.
        Toma cuidado, viu? Guarda seu relógio e esconde o cordão, se você tiver. Outra coisa: você mora perto dessa praça Raul Soares?
        Eu estava pensando em ir até aí nas férias, mas tô perdendo a coragem. E se sumirem comigo?
        Minha turma vai fazer uma excursão nas cidades históricas, e talvez fosse uma boa, não?
        Preciso conversar em casa, ver se o dinheiro dá, essas coisas.
        Eu queria tanto te conhecer. Começar a trabalhar também. Já pensou que barato ter o próprio dinheiro? Viajar, comprar disco, livro, chicletes, o que te der na cabeça?
        Se eu for aí, como é que eu te encontro? Tenho o seu endereço, é claro, mas acho que me falta coragem de tocar a campainha da sua porta e dizer: “sou a Ana”.
        E se não for você do outro lado? E se perguntarem: “que Ana?” Se eu responder: “Ana Ternura”, fica pior ainda.
        Ninguém acredita que meu nome é de verdade. Quando eu era pequena e ia brincar de faz-de-conta, brincava de Ana T.. Todo mundo achava que eu era de mentira. Quer dizer, que a Ternura era de mentira.
        Ando querendo outras brincadeiras. Sei que sou de verdade, que sonho e que fico triste.
        Sei principalmente que também te amo.
                                                                  Muita ternura de
                                                                          Ana T.
    

        Querida Ana T.

        Faz tempo que não te escrevo. Não tivemos férias. Os professores fizeram greve e agora estamos correndo atrás do prejuízo. Isso é justo? Sei não. Neste Brasil todos saem perdendo. Todos, não. Os que provocam os baixos salários não. Será que estou certo? A única certeza que tenho é que morri de vontade de te ver. Melhor. Te conhecer inteira. Te conheço através da palavra. E palavra não tem corpo. Ou tem? Estou sempre perguntando e nunca respondendo. Sou de natureza inquiridora, daí as dúvidas e dívidas.
        Estou te devendo uma palavra pela morte de seu amigo. Mãe e amigo deveriam ser imortais. Já que são eternos. E o que é a morte? É o fim de tudo? Vou te contar uma história verdadeira: Vovô me levava para ver os aviões. As tardes eram bonitas e os aviões, passarinhos sem gaiolas. Um dia vovô não veio. No outro não apareceu. Passou uma semana. Passaram duas. Mas todas as tardes ia para a esquina esperar vovô e os aviões. Um dia, em vez de vovô, apareceu mamãe, que foi logo falando: “Levo você para ver os aviões, vovô não vem mais. Vovô morreu”. “E por que não me contaram antes?” “Queríamos de poupar”, falou minha mãe chorando. Aí chorei também. Pra me consolar ela disse que vovô hoje é um avião que se esconde atrás da Lua. Até hoje vou à esquina esperando que a Lua traga vovô de volta. Hoje sei que os aviões nunca fugiram da gaiola e que atrás da Lua não há aviões. E seu amigo gostava de aviões? Se gostava deve estar passeando com vovô no outro lado da Lua. Façamos um trato: eu espero vovô e você espera o amigo. Um dia eles aparecem. Esperemos.
        Agora, quando Nara morreu, papai suspirou e deixou escapar uma frase que fez ciúmes em mamãe: “Nara morre e com ela os mais belos joelhos da música popular brasileira”. É engraçado alguém achar joelho bonito. E os seus? São como os de Nara?
        Sei que estamos vivos e isso é ótimo. Sei que o mundo é redondo e nas voltas que ele dá podemos nos encontrar. E como será esse encontro? Será que haverá esse encontro? Perguntas, perguntas, perguntas. Hoje estou perguntador. E nas perguntas que faço, só há uma resposta, que se chama saudade.
                                                     Beijos
                                                                     Pedro
                                                                                    Belô, 8/8/89.

               Claver, Ronald & Viana, Vivina de Assis. Ana e Pedro; cartas.
São Paulo, Atual, 1990. p. 33-35 e 43-44.
Entendendo o texto:
01 – Na carta destinada a Pedro, Ana T. afirma: “... sua carta teria me deixado nas nuvens”.
a)   Explique o sentido da expressão em destaque.
Teria me deixado muito feliz.

b)   Relacione as colunas, identificando o sentido das expressões em destaque:
(1)  Quando ouviu a notícia, ele caiu das nuvens.
(2)  Em Belo Horizonte ele vivia em brancas nuvens.
(3) O professor punha nas nuvens as cartas de Ana.
     (2) Cercado de facilidade e conforto.
     (1) Ter grande surpresa.
     (3) Exaltar muito calorosamente.

02 – Nas cartas, há informações que nos permitem determinar se Ana e Pedro são crianças, adolescentes ou adultos. Transcreva uma passagem do texto situando os personagens na fase em que julgar correta:
      Adolescentes. “Minha turma vai fazer uma excursão nas cidades históricas”.

03 – Retire uma expressão da carta de Ana T. e outra de Pedro comprovando que eles se correspondem sem nunca se terem visto.
      Ana T.: “Eu queria tanto te conhecer”.
      Pedro: “E os seus? São como os de Nara?”.

04 – Observe: “As tardes eram bonitas e os aviões, passarinhos sem gaiolas”. O que há de comum entre as palavras em destaque?
      Os dois tem o poder de voar.

05 – Releia este trecho da carta de Ana. “Ando triste por muitos motivos. Nem sei se vou conseguir te falar tudo. Mas o principal você vai entender.” Pedro terá entendido o “principal” se tiver percebido que o motivo mais forte da tristeza de Ana é:
a)   O roubo de objetos importantes, estimados.
b)   O fato de não conhecer Pedro.
c)   A preocupação com os estudos.
d)   A dependência do dinheiro dos pais.
e)   A morte de pessoas amigas, admiradas.

06 – O personagem Pedro, em sua carta, recorre à fantasia e à realidade para explicar o desaparecimento do avô e do amigo de Ana. Assinale (R) para Realidade e (F) para Fantasia nas dalas de Pedro.
(R) “Hoje sei que os aviões nunca fugiram das gaiolas”.
(R) “E seu amigo gostava de aviões?”
(F) “Um dia eles aparecem”.
(R) “Que atrás da Lua não há aviões”.
(F) “Se gostava deve estar passeando com vovô no outro lado da Lua”.

07 – Pedro afirma: “Mãe e amigo deveriam ser imortais. Já que são eternos”. Observe:
·        Mãe e amigo não são imortais – morrem.
·        Mãe e amigo são eternos – duram para sempre.

Por que mãe e amigo são eternos, apesar de serem mortais?
      Porque são pessoas estimadas e lembradas sempre.


HISTÓRIA EM QUADRINHOS - POLISSEMIA - COM GABARITO


HISTÓRIA EM QUADRINHOS
Turma do Xaxado, de Antônio Cedraz. Extraído do site:
 www.xaxado.com.br/quadrinhos/tiras.html Acesso em: 10 nov. 2010.

Entendendo a tira:

01 – Nessa tirinha há um termo polissêmico. Qual é esse termo?
      Pega.

02 – Que efeito de sentido o emprego dessa polissemia causou ao texto?
      Causou humor, pois o personagem entendeu que pegar estava sendo usado com o sentido de pegar para si, quando na verdade o sentido pretendido era de defender o chute a gol.

03 – Os pares de frases trazem exemplos de polissemias. Explique o sentido das expressões em destaque em cada um deles:
·        Naquela parede havia duas mãos de tinta.
Camadas.

·        Os cidadãos não podem abrir mão de seus direitos.
Desistir, deixar de lado.

·        Aquela menina é uma graça.
Bonita, formosa, graciosa.

·        A entrada era de graça.
Gratuita.

·        O número 13 é associado à falta de sorte.
Quantidade ou referência exata.

·        O palhaço apresentou um número engraçadíssimo.
Cena.



terça-feira, 25 de junho de 2019

CONTO: PROMETEU - BERNARD EVSLIN - COM QUESTÕES GABARITADAS

Conto: PROMETEU
   
         Bernard Evslin

        Prometeu era um jovem Titã que não tinha lá muito respeito por Zeus. Embora soubesse que o soberano dos céus se irritava quando lhe faziam perguntas muito diretas, não hesitava em confrontá-lo sempre que queria saber alguma coisa.
        Certa manhã, dirigiu-se a Zeus e disse:
   − Oh, grande Senhor dos Raios, não compreendo seu propósito. O senhor colocou a raça humana sobre a Terra, mas insiste em mantê-la na ignorância e na escuridão.
      − Da raça humana cuido eu – respondeu Zeus. 
   – O que você chama de ignorância é inocência. O que você chama de escuridão é a sombra da minha vontade. Os mortais estão felizes como estão. E foram concebidos de tal forma que vão continuar felizes até que alguém os convença do contrário. Para mim esse assunto está encerrado.
        Mas Prometeu continuou:
        − Olhe para a Terra. Olhe para os homens. Eles vivem nas cavernas, andam à mercê dos animais selvagens e das mudança do tempo. Comem carne crua! Se existe algum propósito nisso, eu imploro, diga-me qual é! Por que o senhor se recusa a dar aos homens o dom do fogo?
        Zeus respondeu:
        − Por acaso você não sabe, jovem Prometeu, que para cada dom existe uma punição? É assim que as Moiras fiam o destino, ao qual até mesmo os deuses devem se submeter. Os mortais não conhecem o fogo, é verdade, nem os ofícios que dele advêm. Por outro lado, também, não conhecem a doença, a velhice, a guerra, nem aquela peste interior chamada preocupação. Acredite em mim, eles estão felizes sem o fogo. E assim devem permanecer.
        − Felizes como os animais – argumentou Prometeu. – Qual é o sentido de criar os humanos e fazer deles uma raça distinta, dotando-os de escassa pelagem, de certa inteligência e do curioso charme da imprevisibilidade? Se devem viver dessa maneira, por que separá-los dos animais?
        − Os humanos têm ainda outra qualidade – disse Zeus – Eles possuem o dom da adoração: uma para admirar nosso poder, para ficarem intrigados diante de nossos enigmas, para se maravilharem diante de nossos caprichos. Foi para isso que foram criados.
        − Mas não ficariam mais interessantes se dominassem o fogo e criassem maravilhas com ele?
        − Mais interessantes, talvez, porém infinitamente mais perigosos. Pois os humanos contam ainda com mais esta característica: a vaidade, um orgulho próprio que, ao menor estímulo, pode adquirir proporções descomunais. Dê a eles o progresso, e eles imediatamente se esquecerão daquilo que os torna seres assim tão aprazíveis: a humildade e a disposição para adorar. Vão ficar todos cheios de si e vão começar a se considerar deuses também. Corremos o risco de vê-los bem aqui, à nossa porta, prontos para invadir o Olimpo. Agora chega, Prometeu! Tenho sido paciente com você, mas minha paciência tem limites! Agora vá embora, e não me perturbe mais com suas especulações.
        Prometeu não se deu por satisfeito. Passou toda aquela noite acordado, fazendo planos. Na madrugada, levantou-se de seu sofá e, pé ante pé, atravessou o Olimpo. Segurava um caniço dentro do qual havia um pavio de fibras secas. Assim que chegou à beira do monte, esticou o braço em direção ao horizonte leste – onde brilhavam os primeiros raios de sol – e deixou que o pavio se acendesse no fogo. Em seguida, escondeu o caniço em sua túnica e desceu à Terra.
        De início, os homens ficaram assustados com o presente. Era tão quente, tão fugaz... Não se deixava tocar e, por puro capricho, fazia dançar as sombras que criava sobre o chão. Eles agradeceram a Prometeu e pediram que ele levasse o presente de volta. Mas Prometeu buscou a carne de um cervo caçado recentemente e a segurou sobre o fogo. Quando a carne começou a assar e a crepitar, impregnando a caverna com seu cheiro delicioso, as pessoas se deixaram levar pela fome e se lançaram sobre o assado, devorando-o voluptuosamente e queimando suas línguas.
        − Isto que trouxe de presente chama-se “fogo” – explicou Prometeu. – Trata-se de um espírito indomável, um pequeno irmão do Sol. Mas se for tratado com cuidado, poderá mudar a vida de toda a humanidade. Também é um espírito guloso; vocês devem alimentá-lo com galhos e folhas, porém somente até que ele atinja um tamanho adequado. Depois disso, não o alimente mais, ou ele devora tudo que estiver ao seu alcance, inclusive vocês. Somente uma coisa será capaz de detê-lo: a água. O espírito do fogo teme o espírito da água. Se for tocado pela água, ele desaparece até que seja chamado novamente.
        Prometeu saiu da caverna onde estava e deixou ali uma fogueira acesa. Criancinhas com olhos arregalados se juntaram em torno da novidade. Em seguida, percorreu todas as cavernas sobre a face da Terra e repetiu o mesmo discurso.
        Algum tempo depois, Zeus olhou do alto do Olimpo e ficou perplexo. Tudo havia mudado. Os homens haviam deixado suas cavernas. Zeus viu cabanas de lenhadores, fazendas, vilarejos, cidades muradas, e até mesmo um castelo ou dois. Os homens cozinhavam os alimentos e carregavam tochas para iluminar seu caminho à noite. No interior de oficinas flamejantes, fabricavam cochos, quilhas, espadas e lanças. Construíam navios e costuravam velas, ousando se aproveitar da fúria dos ventos para se locomover. Usavam capacetes e travavam batalhas montados em bigas, assim como faziam os próprios deuses.
        Zeus ficou furioso e imediatamente apanhou o maior raio de que dispunha.
        − Se eles querem fogo – disse a si mesmo –, então fogo eles terão! E muito mais do que pediram! Vou transformar aquele mísero planeta que eles chamam de Terra em um monte de cinzas! – Mas, de repente, uma ideia surgiu em sua mente e Zeus abaixou o braço. – Além de vingança – prosseguiu – quero diversão! Que eles se destruam com suas próprias mãos e suas próprias descobertas! Vai ser um espetáculo longo, muito interessante de se ver! Deles posso cuidar depois. Meu assunto agora é com Prometeu!
        Zeus chamou sua guarda de gigantes e ordenou que eles prendessem Prometeu, levassem-no até o Cáucaso e o amarrassem ao pico de uma montanha com correntes tão fortes – especialmente forjadas por Hefesto – que nem um Titã em fúria seria capaz de arrebentá-las. Feito isso, chamou dois abutres e mandou que eles comessem lentamente o fígado daquele obstinado amigo dos mortais.
        Os homens sabiam que algo de terrível acontecia no alto da montanha, mas não sabiam exatamente o quê. O vento uivava como um gigante atormentado e, às vezes, gritava como as aves de rapina.
        Prometeu permaneceu ali durante muitos séculos, até nascer outro herói suficientemente corajoso para desafiar os deuses. Esse herói foi Héracles, que subiu até a montanha, cortou as correntes que prendiam Prometeu e matou os abutres.
        Bernard Evslin. Heróis, deuses e monstros da mitologia grega.  
São Paulo: Benvirá, 2012. (Texto adaptado)

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, de o significado das palavras abaixo:
·        Advir: resultar, ocorrer como consequência.
·    Biga: entre os romanos, carro de duas ou quatro rodas, puxado por dois cavalos.
·        Caniço: cana comprida e flexível.
·        Crepitar: estalar, arder ao fogo fazendo barulho.
·        Quilha: peça estrutural básica do casco das embarcações.

02 – Nesse mito, Prometeu e Zeus se põem em confronto.
a)   Qual é o conflito entre eles?
Prometeu considera injusto manter os seres humanos na ignorância e na escuridão e pretende dar-lhes o dom do fogo. Zeus, no entanto, alega que os humanos não são ignorantes, mas inocentes, e que não estão na escuridão, mas sob a sombra da vontade divina. Para Zeus, se os mortais perderem esse estado em que se encontram, perderão a felicidade.

b)   Zeus é o Deus supremo do Olimpo, a morada grega dos deuses. Ao confrontá-lo, que característica Prometeu revela?
Prometeu revela ser ousado e independente.

03 – Prometeu desejava que os humanos saíssem da escuridão e da ignorância e por isso deu a eles o fogo. O que o fogo simboliza nesse mito?
      O fogo simboliza a possibilidade de ver a realidade com mais clareza, o conhecimento, a sabedoria, a instrução e, como consequência, o desenvolvimento, a evolução.

04 – Releia: “[...] Os mortais não conhecem o fogo, é verdade, nem os ofícios que dele advêm. Por outro lado, também, não conhecem a doença, a velhice, a guerra, nem aquela peste interior chamada preocupação. Acredite em mim, eles estão felizes sem o fogo.”

a)   Você concorda com o argumento usado por Zeus? Se sim, justifique. Se não, apresente um contra-argumento, ou seja, um argumento que se oponha ao usado por Zeus.
Resposta pessoal do aluno.

b)   Ao negar o fogo aos mortais, o que Zeus também está negando?
Zeus está negando aos seres humanos a liberdade. Ele prefere mantê-los na ignorância do bem e do mal da vida a vê-los fazerem escolhas erradas.

c)   Afinal, as previsões de Zeus se cumprem ou não depois que os seres humanos conquistam o fogo?
Sim. Os humanos, que a princípio se encantam com o fogo para cozinhar os alimentos e torna-los mais saborosos, em pouco tempo passam também a usar o fogo para fabricar espadas, lanças, capacetes e travar batalhas.

05 – Prometeu recebe um castigo terrível por ter se rebelado contra Zeus em favor dos humanos.
a)   O que pretendia Prometeu ao roubar o fogo?
Prometeu pretendia das aos humanos um presente que, tratado com cuidado, poderia mudar a vida de toda a humanidade, livrando-a da escuridão e da ignorância.

b)   Na sua opinião, a rebeldia de Prometeu valeu a pena, apesar do castigo sofrido?
Resposta pessoal do aluno.

c)   Zeus não se vinga dos mortais, pois prefere que eles “se destruam com suas próprias mãos e suas próprias descobertas”. O que provavelmente Zeus quis dizer com essa frase?
Ele quis dizer que os seres humanos, em nome de crenças, de ideologias, de desejo de poder, lutarão uns contra os outros, e suas invenções e descobertas os levarão não só ao progresso, mas também à destruição.

06 – Releia: “Algum tempo depois, Zeus olhou do alto do Olimpo e ficou perplexo”.
a)   Se Zeus “Olhou do alto do Olimpo”, onde estão as pessoas para quem ele olha?
Em algum lugar abaixo do Olimpo. Na Terra, de acordo com o texto.

b)   O Olimpo era a morada dos deuses gregos e ficava no alto. Considerando sua função e sua posição, o que o Olimpo podia significar para os seres humanos.
Provavelmente, o Olimpo era considerado um lugar sagrado e digno de reverência. Devia ser um lugar inatingível para os humanos.

07 – O mito que Prometeu nos conta sobre a origem do fogo. É possível determinar em que tempo acontece a história? Explique.
      Não. Sabemos que os fatos narrados se ligam aos primórdios da humanidade, mas não é possível determinar o ano, o século ou o milênio em que ocorreram.

08 – Quais expressões de tempo marcam a narrativa lida?
      As marcas de tempo são imprecisas: “Certa manhã, dirigiu-se a Zeus [...]”; “Algum tempo depois, Zeus olhou do alto do Olimpo [...]”; “Prometeu permaneceu ali durante muitos séculos [...]”.

09 – Quanto tempo dura a história narrada nesse mito?
      Não há um tempo determinado. A história tem início em um tempo relacionado à época da origem da humanidade, quando os seres humanos não haviam começado a usar o fogo. Estende-se por tempo suficiente para que eles abandonem as cavernas, passem a habitar vilas, comecem a produzir artefatos complexos e a guerrear munidos de espadas e capacetes. Faz referência aos séculos posteriores em que Prometeu permanece acorrentado.