quinta-feira, 2 de maio de 2019

MÚSICA: CÂNTICO NEGRO - MARIA BETHÂNIA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Música: Cântico Negro
              Maria Bethânia

Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!

Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca princípio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
-- Sei que não vou por aí!

                Composição: José Régio.  Poemas de Deus e do diabo, cit. p. 57-9.

Entendendo a canção:
01 – O eu lírico dirige-se a seus interlocutores, criticando-os por seus valores e por sua visão de mundo. De acordo com o texto:
a)   Quem provavelmente são esses interlocutores e qual a sua visão de mundo?
Os interlocutores representam o grupo social dominante ou a sociedade como um todo. Com a visão de mundo conservadora, eles insistem em querer que todos aceitem seus valores, suas verdades e suas regras.

b)   Em que os valores do eu lírico diferem dos valores de seus interlocutores?
O eu lírico não aceita soluções prontas. Cioso de sua independência moral e ideológica, deseja ele mesmo traçar seu caminho e descobrir suas verdades.

c)   Como se sente o eu lírico em sua relação com o mundo?
Deslocado, inadequado.

02 – Na penúltima estrofe da canção, é apontada uma causa possível da inadaptação do eu ao mundo. Identifique-a e explique-a.
      O eu lírico associa o seu desencontro com a realidade à sua contradição espiritual, que o leva a ficar dividido entre o bem e o mal. Embora Deus e o diabo possam figurar apenas como metáforas de seu conflito emocional, o fato é que, no conjunto da obra do poeta, essas duas entidades têm importância decisiva.

03 – Com base nas ideias da canção, justifique o seu título.
      O título da canção se justifica pela postura de contestação a valores, verdades e regras sociais adotada pelo eu lírico, assim como pela influência que ele diz ser exercida sobre ele pelo diabo.

04 – José Régio persegue, na literatura portuguesa, a tradição de Guerra Junqueiro, cuja poesia é marcada por um tom grandiloquente e dramático. Em “Cântico Negro”, o caráter dramático do texto reside, sobretudo, no tom declamatório dos versos e na força de algumas imagens.

a)   Destaque alguns versos que comprovem essa afirmação.
Entre outros: “Eu tenho a minha Loucura! / Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura, / E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...”.

b)   Que aspectos do poema se identificam com a representação teatral?
Principalmente as frases exclamativas, caracterizadas por um tom declamatório, e o suposto diálogo entre o eu lírico e o seu interlocutor.



ROMANCE: VIDAS SECAS - (FRAGMENTO) - GRACILIANO RAMOS - COM GABARITO

Romance: VIDAS SECAS - (Fragmento)
                  GRACILIANO RAMOS

        Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes. Caíra no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara conta da casa deserta. Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura, pareciam ratos – e a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera.
        Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de ponta, esgaravatou as unhas sujas. Tirou do aió um pedaço de fumo, picou-o, fez um cigarro com palha de milho, acendeu-o ao binga, pôs-se a fumar regalado.

        -- Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
        Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo falar só. E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se, na presença dos brancos e julgava-se cabra.
        Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:
        -- Você é um bicho, Fabiano.
        Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades.
        Chegara naquela situação medonha – e ali estava, forte até gordo, fumando o seu cigarro de palha.
        Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto, passara uns dias mastigando raiz de imbu e semente de mucunã. Viera a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano fizera-se desentendido e oferecera os seus préstimos, resmungando, coçando os cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o patrão aceitara-o, entregara-lhe as marcas de ferro.
        Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho, mas criara raízes, estava plantado. Olhou as quipás, os mandacarus e os xique-xiques. Era mais forte que tudo isso, era como as catingueiras e as baraúnas. Ele, Sinhá Vitória, os dois filhos e a cachorra baleia estavam agarrados à terra.
        Chape-chape. As alpercatas batiam no chão rachado. O corpo do vaqueiro derreava-se, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco.
        Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia! Engano. A sina dele era correr mundo, andar para cima e para baixo, à toa, como judeu errante. Um vagabundo empurrado pela seca. Achava-se ali de passagem, era hóspede. Sim senhor, hóspede que demorava demais, tomava amizade à casa, ao curral, ao chiqueiro das cabras, ao juazeiro que os tinha abrigado uma noite.
                                        Vidas Secas. 27. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1970. p. 53-5.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, de o significado das palavras abaixo:
·        Aió: bolsa usada na caça.
·        Mucunã: trepadeira de grande porte, comum nas Guianas e em alguns Estados brasileiros.
·        Binga: isqueiro.
·        Camarinha: quarto de dormir.
·        Derrear-se: vergar-se, inclinar-se.
·        Quipá: planta brasileira da família dos cactos.
·        Gretado: rachado, com fendas.
·        Regalado: comprazer, satisfeito.

02 – Nesse episódio de Vidas Secas lido, é possível extrair algumas informações a respeito da personagem Fabiano e de sua família.
a)   Que razões teriam levado Fabiano e sua família à fazenda onde ele mora e trabalha como vaqueiro?
A fuga da seca.

b)   Portanto, que tipo de problema social é enfocado pela obra?
O problema da seca, da miséria, da migração, da falta de oportunidades sociais, etc.

03 – Além de abordar temas ligados à realidade nacional, outro traço do romance de 30 é a busca de uma linguagem brasileira. Observe a linguagem empregada no texto e as referências ao homem e à natureza.
a)   Que palavras do texto são típicas do português brasileiro e servem para designar elementos da paisagem nacional?
Aió, mucunã, quipá, mandacaru, xique-xique.

b)   Considerando o tema da obra e as descrições de Fabiano e da paisagem, levante hipóteses: Qual é a região brasileira retratada na obra?
O Nordeste.

c)   Predomina, nessa linguagem, a variedade padrão ou uma variedade não padrão da língua?
Predomina a variedade padrão.

04 – Ao longo do texto, a personagem é caracterizada de três formas diferentes. Observe:
        “-- Fabiano, você é um homem”.
        “...encolhia-se, na presença dos brancos e julgava-se cabra.”
        “-- Você é um bicho, Fabiano.”
        “Parecia um macaco”.

a)   A que elementos da natureza Fabiano é comparado no segundo e no terceiro fragmentos?
É comparado a animais.

b)   Essas comparações lembram procedimentos de outro movimento literário, que também enfocou as relações entre o homem e o meio natural e social. Qual é esse movimento?
O naturalismo.

05 – Observe o 2° e 3° parágrafos do texto. Fabiano, depois de preparar um cigarro de palha, exclama satisfeito: “— Fabiano, você é um homem”. Considerando o histórico da personagem, responda: Para Fabiano, o que é sentir-se um homem?
      É ter um emprego e uma casa para morar, sentir-se útil e ligado a um lugar e ter até direito a pequenos prazeres, como fumar.

06 – Observe estes dois trechos do texto:
        “Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. [...] estava plantado”.
        “Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia! Engano”.

Esses trechos mostram uma mudança no interior do pensamento de Fabiano, como se ele tomasse consciência de sua real condição.
a)   De que Fabiano toma consciência?
Toma consciência de que a terra não é sua e que, a qualquer momento, talvez aconteça outra seca e ele tenha de migrar novamente.

b)   Que tipo de problema social, amplamente denunciado pelo Movimento dos Sem-Terra (MST) no Brasil de hoje, se verifica na base da real condição de Fabiano?
O problema da propriedade rural, isto é, os lavradores não são donos da terra onde trabalham.

07 – Outro traço que caracteriza o romance de 30 é o emprego de novas técnicas narrativas, principalmente aquelas que sustentam a introspecção e a análise psicológica de personagens. É o caso, por exemplo, do discurso indireto livre, que funde a fala do narrador à fala ou ao pensamento da personagem. Observe os fragmentos abaixo:
        “Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se”.
        “Olhou os quipás, os mandacarus e os xique-xiques. Era mais forte que tudo isso, era como as catingueiras e as baraúnas”.
        “Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia!”

Identifique nesses fragmentos os trechos que correspondem ao pensamento de Fabiano.
      “Sim senhor, arrumara-se”; “Era mais forte [...] baraúnas”; “Considerar-se plantado em terra alheia!”.

08 – Com base no estudo de texto feito, conclua: De modo geral, como se caracteriza o romance de 30:
a)   Quanto aos temas e ao recorde da realidade?
Enfoca problemas sociais brasileiros, especialmente de algumas regiões, como Nordeste.

b)   Quanto à linguagem e às técnicas narrativas?
Predomina a variedade padrão; empregam-se técnicas narrativas como o discurso indireto livre.

c)   Quanto ao trabalho com as personagens?
Procura-se trabalhar a personagem do ponto de vista psicológico.






POEMA: CANTIGA SUA PARTINDO-SE - JOÃO RUIZ DE CASTELO BRANCO - COM GABARITO


Poema: CANTIGA SUA PARTINDO-SE
         
João Ruiz de Castelo Branco

Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.


Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.


Partem tão tristes os tristes,
tão fora d'esperar bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

João Ruiz de Castelo Branco, "Cancioneiro Geral". In: S. Spina. Presença da Literatura Portuguesa. São Paulo, Difusão Europeia do Livro, 1969.

Entendendo o poema:

01 – No trovadorismo, as cantigas de amor exprimiam um intenso sofrimento (coito) pela impossibilidade da realização do amor; o homem idealizada a mulher, objeto de sua contemplação distante, à qual ele prestava o serviço amoroso, isto é, a vassalagem. Quais as semelhanças e as diferentes entre a “Cantiga sua partindo-se” e as cantigas de amor?
      A “Cantiga sua partindo-se” assemelha-se às cantigas de amor por ser a voz de um homem, que expressa seu sofrimento amoroso e dá à mulher amada o tratamento de “senhora”. Mas o amor que ele exprime não parece ser idealizado nem impossível.

02 – Por outro lado, as cantigas de amigo, cujo tema era o amor impossível, realizável, muitas vezes exprimiam o sofrimento da mulher pela partida do namorado. Quais as semelhanças e as diferentes entre a “Cantiga sua partindo-se” e as Cantigas de amigo?
      O poema assemelha-se às cantigas de amigo pelo tema da partida do namorado. Mas, neste poema, a voz lírica não é feminina.

03 – Toda a linguagem e a expressividade desse poema organizam-se em torno de uma metonímia. Identifique-a e escreva um pequeno comentário sobre ela.
      Metonímia: ao dizer que seus olhos partem, o sujeito lírico designa a parte (os olhos) pelo todo (ele). Comentário pessoal do aluno.

04 – O sentimento do homem ao partir é expresso pela repetição insistente de um adjetivo.
a)   Que adjetivo é esse?
O adjetivo é “tristes”.

b)   Há um momento em que o autor torna o adjetivo mais expresso, substantivando-o. Transcreva o verso em que isso ocorre.
“Partem tão tristes os tristes”.

c)   Na segunda estrofe há uma longa amplificação da tristeza, que culmina em sua hipérbole. Quais são os adjetivos enumerados na amplificação? Qual é a hipérbole?
Os adjetivos enumerados são: tristes, saudosos, doentes, cansados, chorosos, desejosos. A hipérbole: “da morte mais desejosos / cem mil vezes que da vida”.

TEXTO: ARANHAS - TRADUÇÃO DE CAROLINA COELHO - COM GABARITO


Texto: Aranhas

   Que legal!
   Algumas aranhas fazem teias novas todas as noites. Como são especialistas, demoram apenas uma hora!
   A seda da aranha é mais fina que um fio de cabelo, mas é mais forte que um fio de aço da mesma grossura!




        Por que as aranhas fazem teias?

        Algumas aranhas usam armadilhas grudentas para capturar suas presas. Elas tecem finas teias, usando a seda produzida com a ajuda de glândulas especiais que têm no corpo. A seda é líquida dentro da aranha, mas fora de seu corpo se transforma em um fio resistente. Quando um inseto fica preso na teia, a aranha percebe seus movimentos através de minúsculo pelos que tem nas patas, e corre para matá-lo.

        Qual é o formato da teia das aranhas?

      As aranhas tecem suas teias arredondadas em áreas abertas, geralmente entre três galhos ou caules de flores. Algumas aranhas esperam por perto até que algum inseto fique preso. Outras seguram um fio de seda preso ao centro da teia, chamado linha de armadilha, e se escondem. Quando um inseto cai na armadilha, a linha vibra e a aranha parte para o ataque.

        Onde vivem alguns filhotes de aranha?

        Algumas aranhas não fazem teias para pegar outros animais, e sim usá-las como “viveiro” para proteger os filhotes. As aranhas cuidam de seus ovos até os filhotes estarem prontos para sair (…). Em geral, essas teias são tecidas em plantas ou arbustos.

Como? Onde? Por quê? Tradução de Carolina Coelho. São Paulo: Girassol, 2007.p.22-23.

Entendendo o texto:

01 – Com que frequência algumas aranhas produzem suas teias?
      As aranhas produzem suas teias todas as noites.

02 – O autor do texto compara a seda da aranha com:
a)   Fio de nylon.
b)   Fio de cabelo e fio de aço.
c)   Apenas com fio de cabelo.
d)   Apenas com fio de aço.

03 – Como algumas aranhas capturam suas vítimas?
a)   Algumas aranhas usam armadilhas grudentas.
b)   Algumas aranhas tecem teias finas.
c)   Algumas aranhas usam a seda que é um fio resistente.
d)   Algumas aranhas capturam suas vítimas com suas glândulas especiais.

04 – Qual é o formato da teia de aranha, de acordo com o texto?
a)   A teia de aranha tem formato de um fio de seda.
b)   A teia de aranha tem formato arredondado.
c)   A teia de aranha tem formato de um dispositivo que vibra.
d)   A teia de aranha tem formato de linha de armadilha.

05 – Qual é a intenção de uma aranha ao fazer suas teias?
a)   Elas fazem teias para capturar outros animais.
b)   Elas fazem teias para usá-las como viveiro.
c)   Elas fazem teias para os predadores não se aproximarem.
d)   Elas fazem suas teias para se protegerem de possíveis predadores.


MENSAGEM: O BEM É A META - JOANNA DE ÂNGELIS - O LIVRO DOS ESPÍRITOS - ALLAN KARDEC - PROGRESSÃO DOS ESPÍRITOS - PARA REFLEXÃO

Mensagem: O bem é a Meta

Fonte da imagem - https://www.blogger.com/blog/post/edit/7220443075447643666/2032793799598741819#

        Surge a Era Nova.

   O sol da esperança desbasta as trevas da ignorância.
        Pequenos grupos de servidores verdadeiros do Evangelho, no silêncio da renúncia, estão levantando os pilotis sobre os quais será erguida a Era Nova.


               São minoria, não, porém, grupo ao abandono.

        Todos os grandes ideais da humanidade surgem em pequeninos núcleos, que se alargam em gerações após gerações.
        O Cristianismo restaurado, por sua vez, é a doutrina do amanhã, no enfoque espírita, porque, enquanto a mensagem de Jesus teve de destruir as bases do paganismo para erguer o santuário do amor, o Espiritismo deve apenas erigir, sobre o Cristianismo, o templo luminoso da caridade.
        Chamados para este ministério, não duvidam, alegrando-se por ter seus nomes inscritos, como diz o Evangelho, no livro do reino dos céus e serem conhecidos do Senhor.
        Nossa Casa tem ação. É hoje reduto festivo, santuário que alberga Espíritos mensageiros da luz, oficina onde se trabalha, escola de educação e hospital de recuperação de vidas.
        Com outros Obreiros aqui temos estado, mantendo a chama da verdade acesa - como ocorria com os antigos faróis com a flama ardente, apontando a entrada dos portos e mais tarde dando notícias dos recifes e perigos do mar.
        Filhos da alma, nunca desistam de fazer o bem, face ao aparente triunfo do mal em desgoverno, em torno de suas vidas.
        Passada a tempestade, a luz volta a fulgir.
        A sombra é somente ausência da claridade. Não é real.
        Só Deus é Vida; somente o Bem é meta.
                                                  Joanna de Ângelis

Mensagens Espírita: O livro dos Espíritos

ALLAN KARDEC – Tradução Matheus R. Camargo
Perguntas e respostas

                      Livro Segundo
MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
                       Capítulo I

        SOBRE OS ESPÍRITOS
PROGRESSÃO DOS ESPÍRITOS

114 – Os Espíritos são bons ou maus por natureza, ou eles mesmos procuram melhorar-se?
      -- São os próprios Espíritos que melhoram. Melhorando, passam de uma ordem inferior a uma mais elevada.

115 – Entre os Espíritos, uns foram criados bons e outros maus?
      -- Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem conhecimento. A cada um deu uma missão, com a finalidade de iluminá-los e de conduzi-los progressivamente à perfeição – pelo conhecimento da verdade –, para aproximá-los d’Ele. Para eles, a felicidade pura e eterna consiste nessa perfeição. Os Espíritos adquirem esses conhecimentos passando pelas provações que Deus lhe impõe. Alguns aceitam essas provações com submissão e alcançam mais rapidamente o objetivo de seu destino; outros não conseguem suportá-las sem lamento e, assim, por sua culpa, permanecem afastados da perfeição e da felicidade prometida.

115 a) De acordo com isso, os Espíritos parecem ser, em sua origem, como as crianças, ignorantes e sem experiência, mas que adquirem pouco a pouco os conhecimentos que lhes faltam, percorrendo as diferentes fases da vida?
      -- Sim, a comparação é justa; a criança rebelde permanece ignorante e imperfeita; ela se desenvolve mais ou menos de acordo com sua docilidade; mas a vida do homem tem um término, enquanto a dos Espíritos se estende ao infinito.

116 – Há Espíritos que permanecerão perpetuamente nos níveis inferiores?
      -- Não, todos irão tornar-se perfeitos. Eles mudam, mas isso demora; pois, como já dissemos, um pai justo e misericordioso não pode banir eternamente seus filhos. Pretenderíeis que Deus, tão grande, bom e justo, fosse pior que vós?

117 – Depende dos Espíritos acelerar seu progresso rumo à perfeição?
      -- Certamente. Eles chegam mais ou menos rapidamente, conforme seu desejo e submissão à vontade de Deus. Uma criança dócil não se instrui mais depressa que uma criança teimosa?

118 – Os Espíritos podem degenerar?
      -- Não; à medida que avançam, compreendem o que os afasta da perfeição. Concluindo uma provação, o Espírito adquire conhecimento e não o esquece. Pode permanecer estacionário, mas não retrocede.

119 – Deus não poderia liberar os Espíritos das provações que devem sofrer para chegar à primeira ordem?
      -- Se tivessem sido criados perfeitos, não teriam mérito para desfrutar dos benefícios dessa perfeição. Sem a luta, onde estaria o mérito? Aliás, a desigualdade que existe entre eles é necessária à sua personalidade, e, depois, a missão que cumprem nesses diferentes graus está nos desígnios da Providência, para a harmonia do Universo.
      Uma vez que, na vida social, todos os homens podem chegar aos primeiros postos, caberia também perguntar por que o soberano de um país não faz, de cada um de seus soldados, um general; por que todos os empregados subalternos não são superiores; por que todos os estudantes não são mestres? Ora, entre a vida social e a vida espiritual existe a diferença de que a primeira é limitada e nem sempre permite que se suba os degraus, enquanto a segunda é indefinida e concede a cada um a possibilidade de elevar-se ao posto supremo.

120 – Todos os Espíritos passam pelo caminho do mal para chegar ao bem?
      -- Não pelo caminho do mal, mas pelo caminho da ignorância.

121 – Por que certos Espíritos seguiram o caminho do bem e outros o do mal?
      -- Eles não têm seu livre-arbítrio? Deus não criou Espíritos maus, Ele os criou simples e ignorantes, ou seja, tão aptos para o bem quanto para o mal. Os que são maus tornaram-se assim por sua vontade.

122 – Como os Espíritos, em sua origem, quando ainda não têm consciência de si mesmos, podem ter a liberdade de escolha entre o bem e o mal? Há neles um princípio, uma tendência qualquer que os leve mais para um caminho que para outro?
      -- O livre-arbítrio desenvolve-se à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo. Não mais haveria liberdade se a escolha fosse provocada por uma causa independente da vontade do Espírito. A causa não está nele, e sim fora dele, nas influências a que cede, mas em virtude de sua vontade livre. Esta é a grande figura da queda do homem e do pecado original: uns cederam à tentação, outros resistiram.

122 a) De onde vêm as influências que são exercidas sobre ele?
      -- De Espíritos imperfeitos que procuram envolve-lo, dominá-lo, e que ficam felizes com o fato d fazê-lo sucumbir. Foi o que se quis simbolizar com a figura de satanás.

122 b) Essa influência só é exercida sobre o Espírito em sua origem?
      -- Ela o segue em sua vida de Espírito, até que ele tenha adquirido o domínio de si mesmo a ponto de os maus desistirem de obsidiá-lo.

123 – Por que Deus permitiu que os Espíritos pudessem seguir o caminho do mal?
      -- Como ousais pedir a Deus satisfações sobre Seus atos? Pensais poder invadir Seus desígnios? No entanto, podeis dizer isto: a sabedoria de Deus está na liberdade de escolha que Ele dá a cada um, pois cada um tem o mérito sobre suas obras.
124 – Por haver Espíritos que, desde o princípio, seguem a rota do bem absoluto, e outros a do mal absoluto, há sem dúvida gradações entre esses dois extremos?
      -- Certamente que sim – é a grande maioria.

125 – Os Espíritos que seguirem a rota do mal poderão chegar ao mesmo grau de superioridade que os outros?
      -- Sim, mas as eternidades serão mais longas para eles.
      Por essa palavra eternidades deve-se entender a ideia que os Espíritos inferiores têm da perpetuidade de seus sofrimentos, pois não lhes é permitido ver seu término, e essa ideia se renova em todas as provas em que sucumbem.

126 – Os Espíritos que chegam ao grau supremo após terem passado pelo mal, têm, aos olhos de Deus, menos mérito que os outros?
      -- Deus contempla os desgarrados com o mesmo olhar, e os ama a todos do mesmo modo. Eles são chamados de maus porque sucumbiram: até então, eram apenas Espíritos simples.

127 – Os Espíritos são criados iguais em faculdades intelectuais?
      -- São criados iguais, mas, por não saberem de onde vêm, é preciso que o livre-arbítrio siga seu curso. Eles progridem mais ou menos rapidamente, tanto em inteligência quanto em moralidade.
      Os Espíritos que seguem a rota do bem desde o princípio nem por isso são Espíritos perfeitos. Se não têm más tendências, nem por isso estão livres de ter de adquirir a experiência e os conhecimentos necessários à perfeição. Podemos compará-los às crianças que, não importa qual seja a bondade de seus instintos naturais, têm necessidade de se desenvolver e se instruir, e não o conseguem sem a transição da infância à idade madura. Porém, assim como existem homens que são bons e outros que são maus desde sua infância, também existem Espíritos que são bons ou maus desde sua origem. A diferença fundamental é que a criança tem seus instintos já formados, enquanto o Espírito, em sua transformação, não possui mais maldade do que bondade; ele tem todas as tendências, e torna uma ou outra direção devido a seu livre-arbítrio.