sábado, 10 de março de 2018

TEXTO: COMUNICAÇÃO E SOCIALIZAÇÃO - JUAN E. DÍAZ BORDENAVE - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Texto: COMUNICAÇÃO E SOCIALIZAÇÃO


        Lembre-se o leitor como se fez gente: sua casa, seu bairro, sua escola, sua patota. A comunicação foi o canal pelo qual os padrões de vida de sua cultura foram-lhe transmitidos, pelo qual aprendeu a se “membro” de sua sociedade – de sua família, de seu grupo de amigos, de sua vizinhança, de sua nação. Foi assim que adotou a sua “cultura”, isto é, os modos de pensamento e de ação, suas crenças e valores, seus hábitos e tabus. Isso não ocorreu por “instrução”, pelo menos antes de ir para a escola: ninguém lhe ensinou propositadamente como está organizada a sociedade e o que pensa e sente a sua cultura. Isso aconteceu indiretamente, pela experiência acumulada de numerosos pequenos eventos, insignificantes em si mesmos, através dos quais travou relações com diversas pessoas e aprendeu naturalmente a orientar seu comportamento para o que “convinha”. Tudo isso foi possível graças à comunicação. Não foram os professores na escola que lhe ensinaram sua cultura: foi a comunicação diária com pais, irmãos, amigos, na casa, na rua, nas lojas, no ônibus, no jogo, no botequim, na igreja, que lhe transmitiu, menino, as qualidades essenciais da sociedade e a natureza do ser social.
        Contrariamente, então, ao que alguns pensam, a comunicação é muito mais que os meios de comunicação social. Esses meios são tão poderosos e importantes na nossa vida atual, que às vezes esquecemos que representam apenas uma mínima parte de nossa comunicação total.
        Alguém fez, uma vez, uma lista dos atos de comunicação que um homem qualquer realiza desde que se levanta pela manhã até a hora de deitar-se, no fim do dia. A quantidade de atos de comunicação é simplesmente inacreditável, desde o “bom-dia” à sua mulher, acompanhado ou não por um beijo, passando pela leitura do jornal, a decodificação de número e cores do ônibus que o leva ao trabalho, o pagamento ao cobrador, a conversa com o companheiro de banco, os cumprimentos aos colegas no escritório, o trabalho com documentos, recibos, relatórios, as reuniões e entrevistas, a vista ao banco e as conversas com seu chefe, os inúmeros telefonemas, o papo durante o almoço, a escolha do prato no menu, a conversa com os filhos no jantar, o programinha de televisão, o diálogo amoroso com sua mulher antes de dormir, e o ato final de comunicação num dia cheio dela: “boa-noite”.
        A comunicação confunde-se, assim, com a própria vida. Temos tanta consciência de que comunicamos como de que respiramos ou andamos. Somente percebemos a sua essencial importância quando, por um acidente ou uma doença, perdemos a capacidade de nos comunicar. Pessoas que foram impedidas de se comunicar durante longos períodos enlouqueceram ou ficaram perto da loucura.
        A comunicação é uma necessidade básica da pessoa humana, do homem social.
                                Díaz Bordenave, Juan E. O que é comunicação.
                          São Paulo, Nova Cultura/Brasiliense, 1986. p. 17-9.

Entendendo o texto:
01 – Releia atentamente o primeiro parágrafo e responda: Qual a relação entre comunicação e cultura?
       A cultura é adquirida por meio da comunicação, numa infindável sequência de pequenos atos comunicativos cotidianos. Destacar que o texto lido com um conceito de cultura amplo: A cultura é entendida como o conjunto dos hábitos, padrões e valores de um grupo social.

02 – O segundo parágrafo nos fala em “meios de comunicação social”. O que você sabe sobre eles.
        Essa expressão se relaciona com os meios de comunicação de massa, aos quais normalmente se remete quando se pensa em comunicação.

03 – O que pensa o autor sobre os meios de comunicação social?
       O autor deixa claro que os meios de comunicação de massa, apesar de poderosos, constituem apenas uma parte mínima da nossa comunicação.

04 – O terceiro parágrafo é construído por enumeração: uma longa série de atos de comunicação cotidianos nos é apresentada pelo autor. Como podemos relacionar esses atos com os meios de comunicação social do parágrafo anterior?
        Essa enumeração coloca em evidência aquilo que o autor havia declarado no parágrafo anterior: note-se que, nessa lista bastante extensa, a maioria absoluta dos atos de comunicação escapa do circuito dos meios de comunicação de massa, realizando-se nos níveis mais pessoais do cotidiano.

05 – O quarto parágrafo nos coloca uma conclusão sobre o assunto levantado e discutido pelo texto. Qual a frase ou passagem que sintetiza essa conclusão?
        “A comunicação confunde-se, assim, com a própria vida”. Destacar o valor da palavra assim nesse momento conclusivo do texto.

06 – Relendo cuidadosamente as questões anteriores, é possível detectar o percurso seguido pelo autor para atingir sua conclusão no quarto parágrafo. Comente esse percurso.
       O autor principia seu texto relacionando cultura e comunicação;
Alude aos meios de comunicação social; mostra que a comunicação vai muito além desses meios, sendo parte de cada pequeno ato cotidiano, e se encaminha assim para a conclusão de que a comunicação se confunde com a própria vida, pois é uma necessidade básica do ser humano. O aluno deve opinar sobre a eficiência argumentativa desse percurso.

07 – O último parágrafo sintetiza todo o conteúdo do texto. Reflita sobre o que ele diz e responda: sua experiência de vida comprova essa afirmação? Por quê?
        Incentivar o aluno a relacionar o conteúdo do texto estudado com sua própria vivência. É importante que ele se habitue a justificar suas posições.

CRÔNICA: BILHETE AO FUTURO - AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA - COM GABARITO

Bilhete ao Futuro

Bilhete ao Futuro de Affonso Romano de Sant´Anna.

        Bela ideia essa de Cristóvam Buarque, ex-reitor da Universidade de Brasília e ex-ministro da Educação, de pedir às pessoas do nosso país que escrevessem um “bilhete ao futuro”. O projeto teve a intenção de recolher, no final dos anos 80, no século passado, uma série de mensagens que seriam abertas em 2089, nas quais os brasileiros expressariam suas esperanças e perplexidades diante do tumultuado presente do fabuloso futuro.
        Oportuníssima e fecunda ideia.
        Ela nos colocou de frente ao século XXI, nos incitou a liquidar de vez o século XX e a sair da hipocondria político-social. Pensar o futuro sempre será um exercício de vida.
        O que projetar para amanhã? (...)

Entendendo o texto:

01 – Os dois parágrafos acima fazem parte do texto cujo autor é Affonso Sant’Anna. Esse tipo de produção textual é chamado de crônica, porque:
a) defende um tema.
b) tenta ludibriar o leitor.
c) faz o registro do dia-a-dia.
d) conta uma história antiga.
e) exalta as belezas do país amado.

02 – O acontecimento que originou esse texto está relacionado:
a) à promoção do reitor da Universidade de Brasília.
b) à realização do reitor como mestre da Universidade de Brasília.
c) ao pedido feito pelo reitor da Universidade às pessoas de Brasília.
d) à liquidação dos problemas do século XX.
e) ao pedido feito pelo ex-reitor da Universidade de Brasília aos brasileiros.

03 – Segundo o cronista, o bilhete ao futuro:
a) incitaria as pessoas a “sair da hipocondria político-social”.
b) incitaria as pessoas à revolta social e política no presente e no futuro.
c) incitaria as pessoas a liquidarem de vez com as ideias do século XX e do século XXI.
d) incitaria as pessoas a escreverem mensagens de desilusão.
e) incitaria as pessoas a se comunicarem por bilhetes, algo incomum nos dias atuais.

04 – Segundo o cronista:
a) futuro jamais deverá ser pensado pelos hipocondríacos político-sociais.
b) o amanhã é algo imprevisível; sempre haverá momentos tumultuados.
c) o estímulo à fuga da hipocondria político-social seria a oportunidade que a redação do bilhete oferece.
d) o povo não queria se comprometer com as políticas sociais da década.
e) a população tinha muita dificuldade para redigir o bilhete do futuro.

05 – A frase que exprime a conclusão do cronista sobre o significado de escrever um bilhete ao futuro é:
a) “O futuro e o presente só interessam ao passado.”
b) “O passado é importante e, no futuro, seja o que Deus quiser.”
c) “O presente é hoje e não é necessário preocupação com o futuro.”
d) “Pensar o futuro é um exercício de vida.”
e) “O futuro, a gente deixa para pensar amanhã.”

06 – As mensagens que as pessoas enviariam ao futuro são representadas, no texto, pelas palavras:
a) belezas e possibilidades
b) esperanças e perplexidades
c) angústias e esperanças
d) realizações e lembranças
e) frustrações e melancolias

07 – O tratamento adequado para se referir ao reitor de uma Universidade é:
a) Ilustríssimo Senhor
b) Vossa Magnificência
c) Excelentíssimo Senhor
d) Vossa Senhoria
e) Vossa Excelência

08 – As duas vírgulas que aparecem na primeira frase foram empregadas para expressar uma:
a) explicação
b) contrariedade
c) adversidade
d) enumeração
e) oposição.

09 – Um ser humano que sofra de hipocondria, segundo o texto, e considerando o sentido conotativo, é assim conhecido por:
a) apresentar obesidade descontrolada
b) possuir seríssimos  problemas de saúde
c) ser extremamente romântico
d) isolar-se socialmente
e) ser dependente de medicamentos.

10 – O pronome ela, destacado no texto, relaciona-se à palavra:
a) mensagem
b) hipocondria
c) esperança
d) intenção
e) ideia.

sexta-feira, 9 de março de 2018

MÚSICA: PONTEIO - EDU LOBO - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Música: Ponteio
                                         Edu Lobo
Era um, era dois, era cem
Era o mundo chegando e ninguém
Que soubesse que eu sou violeiro
Que me desse o amor ou dinheiro...

Era um, era dois, era cem
Vieram pra me perguntar:
"Ô você, de onde vai
de onde vem?
Diga logo o que tem
Pra contar"...

Parado no meio do mundo
Senti chegar meu momento
Olhei pro mundo e nem via
Nem sombra, nem sol
Nem vento...

Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Pra cantar...(4x)

Pra cantar!

Era um dia, era claro
Quase meio
Era um canto falado
Sem ponteio
Violência, viola
Violeiro
Era morte redor
Mundo inteiro...

Era um dia, era claro
Quase meio
Tinha um que jurou
Me quebrar
Mas não lembro de dor
Nem receio
Só sabia das ondas do mar ...

Jogaram a viola no mundo
Mas fui lá no fundo buscar
Se eu tomo a viola
Ponteio!
Meu canto não posso parar
Não! ...

Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Pra cantar, pra cantar
Ponteio! ...(4x)

Pontiarrrrrrrr!

Era um, era dois, era cem
Era um dia, era claro
Quase meio
Encerrar meu cantar
Já convém
Prometendo um novo ponteio
Certo dia que sei
Por inteiro
Eu espero não vá demorar
Esse dia estou certo que vem
Digo logo o que vim
Pra buscar
Correndo no meio do mundo
Não deixo a viola de lado
Vou ver o tempo mudado
E um novo lugar pra cantar...

Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Pra cantar
Ponteio! ...(4x)

Lá, láia, láia, láia...
Lá, láia, láia, láia...
Lá, láia, láia, láia...

Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Pra cantar
Ponteio! ...(4x)

Pra cantar
Pontiaaaaarrr! ...(4x)

Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Pra Cantar!

Entendendo a canção:

01 – Segundo o dicionário, quais são os significados da palavra Ponteio?
      Ponteio: substantivo masculino que pode significar.
1.   Ato ou efeito de pontear (com os dedos).
2.   Toque resultante de pontear instrumentos de corda (ponteado).
3.   Composição instrumental baseada na maneira de pontear instrumentos de corda.

02 – Cite alguns trechos da música, onde há com certeza, a descrição da situação vivida no Brasil da época, sufocada pela Ditadura Militar, principalmente na tentativa de censura e calar os compositores da época.
      “Olhei pro mundo e nem via, nem sombra, nem sol, nem vento... Era morte redor, mundo inteiro... Tinha um que jurou me quebrar, mas não lembro de dor, nem receio... Meu canto não posso parar... Vou ver o tempo mudado, e um novo lugar pra cantar...”.

03 – Que elementos encontramos na música que revive figuras simplórias do povo brasileiro?
      O homem do campo na citação da viola e o ato de tocar (ponteio ou pontear), e outros aspectos do folclore brasileiro com inovações musicais da classe estudantil.

04 – Releia a segunda estrofe da música. Nela, pode-se observar referência a uma situação recorrente no período político em que foi concebida a música:
a)   Interrogatório policial.
b)   Prisão de militares.
c)   Censura a obras de arte.
d)   Desaparecimento de pessoas.
e)   Críticas ao regime político.

05 – Quais versos dessa canção apontam para a possibilidade de mudanças no rumo da situação?
a)   Não deixo a viola de lado
Vou ver o tempo mudado
E um novo lugar pra cantar...
b)   Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Pra Cantar!
c)   Tinha um que jurou
Me quebrar
Mas não lembro de dor
Nem receio
d)   Violência, viola
Violeiro
Era morte redor
Mundo inteiro...
e)   Parado no meio do mundo
Senti chegar meu momento.

06 – Nos versos: “Era um, era dois, era cem
                             Nem sombra, nem sol
                             Nem vento...”, percebemos aqui que uma mesma palavra repetiu várias vezes para dar ênfase na mensagem. Que figura de linguagem é esta?
      Anáfora.

07 – Quando o autor disse: “Correndo no meio do mundo”, que figura de linguagem ele usou?
      Hipérbole.

08 -  Nos versos:
      “Violência, viola
       Violeiro”, que figura de linguagem há?
      Aliteração.




FILME/TEXTO/ATIVIDADES : MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS - MACHADO DE ASSIS - COM GABARITO


FILME/TEXTO(ATIVIDADES): Fragmento de Memórias Póstumas de Brás Cubas


       Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco. (Machado de Assis, in Memórias Póstumas de Brás Cubas)

01 – “A narrativa machadiana em Dom Cas­murro Memórias póstumas de Brás Cubas obedece à tradição da narrativa linear, de acordo com a passagem do tempo no reló­gio, pela qual o leitor observa a evolução da vida dos personagens, desde o nascimento ou a idade tenra, até a velhice, passando antes pela juventude, idade madura e morte.”
      Concorde ou não com esse comentário, mas justifique sua resposta.
          A narrativa machadiana, diferentemente do apontado pelo trecho acima, não obedece à tradição da narrativa, muito pelo contrário. Machado de Assis, por meio de um texto ziguezagueante, apoiado muitas vezes apenas na memória do narrador, traz uma literatura que faz saltos, que deixa espaços a serem preenchidos pelo leitor.

        Óbito do autor
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia - peneirava - uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova: - "Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado".   
                     
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas.
São Paulo, Abril Cultural, 1978. P. 15.

Glossário - campa: sepulcro; galante: garboso, gracioso.

Entendendo o filme:

02 – Explique porque se pode dizer que esse trecho é metalinguístico.
           Pelo narrador fazer referências à obra que está produzindo, pode-se dizer que este trecho é metalinguístico. Como exemplo: “Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim (...)”

03 – Explicite um trecho em que se encontre a famosa “ironia machadiana”.
           A ironia consiste em um expediente linguístico que apresenta um enunciado que, semanticamente, quer dizer o inverso do que está dito de fato, revelando uma atitude de humor sutil por parte do narrador. O trecho em que melhor se percebe esse expediente é “que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova”, já que o discurso proferido não tem nada de original ou engenhoso.

04 – Em que pessoa é narrado o texto?
           O texto é narrado em primeira pessoa (1ª pessoa do singular “EU”).

05 – Quem é o narrador?
           O narrador das “Memórias” é Brás Cubas, um defunto autor.

06 – Ao dizer “Onze amigos!”, o narrador mostra que é pequeno o número de pessoas com que se pode realmente contar. Isso revela uma certa atitude do narrador diante da amizade e das relações interpessoais. Que atitude é essa?
           O narrador revela seu ceticismo, isto é, sua desconfiança na existência de uma amizade verdadeira. A rememoração da teoria do humanitismo nos ajuda a entender que a amizade, nos textos de Machado de Assis, só vale a partir do momento em que há alguém que aproveite dessa amizade, isto é, o humanitismo nos revela como sendo egoístas e egocêntricos, pouco voltados para o cultivo de relações interpessoais sinceras, transparentes e abertas.

07 – Qual a diferença que se pode estabelecer entre “autor defunto” e “defunto autor”?
           Autor defunto é aquele que escrevia em vida e morreu, defunto autor é aquele que morre e, em seguida, torna-se autor (caso de Brás Cubas).

08 – (FUVEST - Adaptada) Imagine que você tenha uma prova do livro Memórias póstumas de Brás Cubas e que não tenha entendido a seguinte metáfora “a campa foi outro berço”. Xavier, seu amigo de longa data, leu e interpretou muito bem, segundo o professor, o texto.
Sendo assim, demonstre a interpretação dada por Xavier para a metáfora “a campa foi outro berço”.
           A interpretação dada por Xavier só pode ser a de que após a morte, o enterro, o sepultamento (vocábulos pertencentes ao campo semântico de “campa”), o autor renasce, isto é, a morte do HOMEM Brás Cubas faz nascer o AUTOR Brás Cubas.

09 – (ENEM) No trecho a seguir, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmen­te um outro estilo de época: o Romantismo.
        Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida cria­tura de nossa raça e, com certeza, a mais volun­tariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o ros­to nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson, 57.
        A frase do texto em que se percebe a críti­ca do narrador ao Romantismo está transcrita na alternativa:
a) “... o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas ...”
b) “... era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça ...”
c) “Era bonita, fresca, saía das mãos da na­tureza, cheia daquele feitiço, precário e eter­no, ...”
d) “Naquele tempo contava apenas uns quin­ze ou dezesseis anos ...”
e) “... o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.”

10 – Quincas Borba, personagem criado por Machado de Assis, era autor de Humanitas, filosofia única, eterna, comum, indivisível e indestrutível, que pregava a eterna luta do homem pela sobrevivência, ressaltando o pre­domínio dos mais espertos.
        Existe uma máxima sobre a qual ele re­sume suas explanações sobre essa filosofia. Assinale-a.
a) Devagar se vai ao longe.
b) Ao vencedor, as batatas.
c) Quem tudo quer tudo perde.
d) O essencial é invisível para os olhos.
e) Não se jogam pérolas aos porcos.

AUXILIARES

     Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto que o uso vulgar seja co­meçar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; o segundo é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.
     Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis

11 – Essa é a abertura do famoso romance de Machado de Assis. Dentro desse contexto, já dá para se ver o tipo de narrativa que será explorada. Assinale a alternativa correta a esse respeito.
a) A narrativa decorre de forma cronologi­camente correta, de acordo com a passagem do tempo: infância, juventude, maturidade e velhice.
b) A linearidade das ações apresenta cenas de suspense, dado o comportamento inusi­tado dos personagens.
c) Não há como prever o final da narrati­va, já que seu enredo é, propositadamente, complicado.
d) A ação terá, como cenário, os diversos centros cosmopolitas do mundo.
e) O autor usa o recurso do flashback devi­do a sua intenção de iniciar o romance pelo “fim”.

12 – Em relação à questão anterior, infere-se que a linguagem dispõe de um recurso enriquecedor: a disposição das palavras no espaço frasal. Sendo assim, que tipo de lei­tura pode-se fazer dessas duas expressões: “autor defunto” e “defunto autor”?
a) A colocação da palavra defunto após a pa­lavra autor leva-nos a pensar que o segundo elemento está em fase final de carreira.
b) Defunto autor remete à ideia de que a pessoa irá escrever suas memórias dentro de um cemitério.
c) Ambas as expressões transmitem a mes­ma ideia, com iguais valores semânticos.
d) A expressão defunto autor aparece de forma metaforizada, original, privilegiando uma nova forma de narração autobiográfica.
e) Ambas as construções não têm expressão na obra biográfica de Machado de Assis.

13 – Considerando o que você já leu e/ou­ viu sobre o livro Memórias póstumas de Brás Cubas e atentando ainda para as conside­rações que Brás Cubas faz no trecho lido quanto à maneira de começar a escrever seu livro, responda: Brás Cubas contou sua his­tória pelo “uso vulgar” ou ele fez de forma diferente?
        Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai logo que teve aragem dos quinze contos sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil.
    — Dessa vez, disse ele, vais para Europa, vais cursar uma Universidade, provavelmente Coimbra, quero-te homem sério e não arruador e não gatuno.
    E como eu fizesse um gesto de espanto:
    — Gatuno, sim senhor, não é outra coisa um filho que me faz isso.
    Machado de Assis – Memórias póstumas de Brás Cubas.
           Brás Cubas narra a sua história de modo original, de maneira ziguezagueante e digressiva, fazendo intervenções e conversando com o leitor e, principalmente, deixando de lado a linearidade da narrativa e, portanto, indo contra o que seria o “modo vulgar” de se narrar.


14 – De acordo com essa passagem da obra, po­de-se antecipar a visão que Machado de Assis tinha sobre as pessoas e sobre a sociedade. A esse respeito, assinale a alternativa correta.
a) O amor é fruto de interesse e compõe o pilar das instituições hipócritas.
b) O amor, se sincero, supera todas as barrei­ras, inclusive as financeiras.
c) O caráter autoritarista moldava as relações familiares, principalmente entre pai e filho.
d) Havia medo de que a marginalidade envolvesse os jovens daquela época.
e) O amor era glorificado e apontado como o único caminho para redimir as pessoas.

15 – Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pen­durada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.
    Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis.
Sobre o texto mostrado, pode-se dizer que:
a) o autor faz uma abordagem superficial da situação.
b) o autor preocupa-se com os detalhes, por meio de minuciosa descrição.
c) o autor dá relevância a outras circunstân­cias, negligenciando o foco do assunto.
d) o autor não mostra preocupação com o discer­nimento do leitor, pois apenas sugere situações.
e) contempla a si próprio, num ritual egocêntrico e narcisista.

  O emplasto
  Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até formar um X: decifra-me ou devoro-te.
Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa me­lancólica humanidade. Na petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão. (...)
Machado de Assis – Memórias póstumas de Brás Cubas.

16 – Relativamente ao trecho lido, responda em que tipo de foco narrativo ele está es­truturado?
           O texto está estruturado na 1ª pessoa do singular, com narrador onisciente.

17 – Destaque uma frase que contenha palavra que justifique sua resposta.
           Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro.” Os pronomes “me” e “eu” deixam claro que é o próprio narrador quem conta a história.

18 – Traduza a expressão anti-hipocondríaco, que aparece no 2º parágrafo.
           Como a “ideia fixa” do narrador era a de inventar um emplasto que eliminasse TODOS os males do mundo, tal emplasto seria, por certo, anti-hipocondríaco, uma vez que o hipocondríaco tende a se medicar muitas vezes mais do que o necessário. A medicação exagerada seria extinta com a invenção do emplasto, portanto.

19 – Memórias póstumas de Brás Cubas utiliza recursos estilísticos extraordinários, como a digressão e a metalinguagem. Defina-os.
           A digressão é o expediente usado pelo narrador para desviar o foco principal da história e introduzir um comentário (crítico, literário, filosófico) alheio à narrativa de base. A metalinguagem, por sua vez, consiste no fato da linguagem se debruçar sobre a própria linguagem, é quando o autor nos conta sobre o processo narrativo, ou quando nos conta acerca das ideias que o cercavam para a construção do livro dentro do próprio livro.    

20 – A cronologia tradicional dos fatos, dentro da narrativa, faz com que a assimi­lação do enredo seja mais fácil. Machado de Assis, em Memórias póstumas de Brás Cubas, rompe essa tradição e opta por um início “às avessas”. Identifique esse recurso es­tilístico e explique-o, considerando a obra citada.
       Esse recurso é identificado como FlashBack ou, ainda, como mera “narrativa não-linear”, nele o autor foge da estruturação clássica de “início, meio e fim” e coloca esses pontos aos acaso, sem se preocupar com a ordem. Em “Memórias póstumas de Brás Cubas”, nosso defunto autor vai nos contando sua trajetória através da morte e passando aleatoriamente pelas outras fazes da vida.