segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

ARTIGO DE OPINIÃO: A IMPLANTAÇÃO DA PENA DE MORTE NO BRASIL - COM GABARITO


TEXTO: A IMPLANTAÇÃO DA PENA DE MORTE NO BRASIL


    Não é de hoje que, no Brasil, vem-se discutindo acaloradamente sobre a implantação da pena de morte, sem que se tenha posição firmada, já que se trata de questão bastante polêmica.
    Os que defendem a pena de morte argumentam a partir do fato de ser o nosso país detentor de um alto índice de criminalidade de diversas naturezas. Essa legislação vira intimidar os assassinos perigosos, impedindo-os de cometer os crimes denominados hediondos. Acrescentam, ainda, a certeza de, com ela, vermos resolvido o problema da superlotação dos presídios.
        Outros, no entanto, não aceitam a ideia de ser humano tirar a vida de um semelhante, por mais tenebroso que seja o delito cometido. Argumentam que injustiças seriam cometidas nos julgamentos de cidadãos inocentes, em um país onde o sistema judiciário é tão falho. Apoiam-se, além disso, em princípios religiosos que desdenham a ideia e ainda citam que em algumas partes do mundo onde a pena de morte foi implantada crimes bárbaros não deixaram de acontecer.
        Diante do que foi exposto, percebemos o quanto é difícil estabelecer uma posição definitiva sobre o assunto, mas o que todos nós gostaríamos de ver acontecer é que o país passasse por uma profunda reformulação, atingindo o combate às causas de tantos crimes violentos que fazem parte do nosso dia a dia.

1 – Qual o ponto de vista do autor?
       Diante de tema tão polêmico, fica difícil estabelecer uma posição definitiva sobre a questão.

2 – Que argumentos foram utilizados para defender a implantação da pena de morte?
        Ser o país detentor de um alto índice de criminalidade de diversas naturezas, a intimidação dos assassinos e a superlotação dos presídios.

3 – Que argumentos contrários foram utilizados?
       O ser humano não tem o direito de tirar a vida de seu semelhante, injustiças seriam cometidas nos julgamentos de cidadãos inocentes e, mesmo em alguns países onde a pena de morte foi implantada, crimes bárbaros ainda ocorrem.

4 – Qual a conclusão apresentada?
       Embora seja difícil assumir uma posição sobre o assunto, o pais está necessitando de passar por uma reformulação penal, para combater crimes violentos.

5 – Apresente o seu ponto de vista.
       Resposta pessoal.

6 – Exponha argumentos: favoráveis e contrários.
       Resposta pessoal.



CONTO: A BARBA DO FALECIDO - STANISLAW PONTE PRETA - COM GABARITO

CONTO: A BARBA DO FALECIDO
                 Stanislaw Ponte Preta

    Aconteceu em Jundiaí. Orozimbo Nunes estava passando mal e foi internado pela família no Hospital São Vicente de Paula, para tratamento. Orozimbo tem muitos parentes, é muito querido e tem uma filha que cuida dele. Foi a filha, aliás, que internou Orozimbo.
        Anteontem telefonaram para a filha de Orozimbo Nunes. Era do hospital e a notícia dada foi lamentável. Orozimbo tinha abotoado o paletó – como dizem os irreverentes. Isto é, tinha posto o bloco na rua, como dizem os super irreverentes, comparando enterro a bloco carnavalesco. Enfim, Orozimbo tinha morrido. A filha de Orozimbo que fizesse o favor de aguardar, porque lá do hospital iam fazer o carreto, ou seja, iam mandar o defunto a domicílio.
        A filha do extinto caiu em prantos e convocou logo os parentes. Conforme ficou dito acima, Orozimbo era muito querido. Veio parente da capital, veio parente de Minas, parente do Rio, enfim, Jundiaí ficou assim de parente de Orozimbo. As providências para o velório foram logo tomadas, gastou-se dinheiro, compraram-se flores. Estava um velório legal se não faltasse um detalhe: não havia defunto.
        O corpo de Orozimbo não tinha chegado. A família ligou para o hospital e reclamou. Tinha saído no expresso-rabecão das seis – informaram. E, de fato, pouco depois Orozimbo (à sua revelia) chegava. Puseram o embrulho lá dentro, houve aquela choradeira regulamentar e, na hora de desembrulhar para preparar o cadáver, alguém notou que a barba de Orozimbo crescera.
        – Ele estava tão doente que nem podia fazer a barba – comentou um dos que ajudavam, com a filha de Orozimbo, que esperava lá fora.
        A filha de Orozimbo estranhou a coisa. Entregara Orozimbo doente, é verdade, mas Orozimbo chegara ao hospital perfeitamente escanhoado e não dava tempo de a barba ter crescido assim tão depressa.
        – A barba tá muito grande? – perguntou a filha de Orozimbo.
        Estava. Estava que parecia barba de músico da Bossa-Nova. Aí a moça desconfiou e foi conferir. Simplesmente não era Orozimbo. Tinham trocado as encomendas, e talvez naquele momento, outra família, noutro local, estivesse chorando o Orozimbo errado. Mais que depressa ligaram para o Hospital São Vicente de Paula e reclamaram contra a ineficiência do serviço de entregas rápidas.
        Nova verificação, para se saber qual era o embaraço, e a direção do eficiente nosocômio descobriu que Orozimbo nem sequer morrera. Não houvera uma troca de cadáveres, mas uma troca de fichas. O que morrera não era Orozimbo, era um barbadinho anônimo. Orozimbo estava lá, vivinho e, por sinal, passando muito melhor. Podia até ter alta, assim que desejasse.
        Claro, parou a bronca, e a raiva contra o desleixo transformou-se em pungente alegria. A família foi buscar Orozimbo (Depois de devolver o barbicha, naturalmente) e o contentamento foi geral, em receber de volta aquele que já fora pranteado por antecipação e para o qual já tinham feito aquela vasta despesa para o enterro. Não sei se é verdade, mas dizem que a família, em sinal de regozijo pela volta de Orozimbo e também para aproveitar o que sobrara das despesas, ofereceu aos amigos um velório-dançante.

           STANISLAW PONTE PRETA. Garoto Linha Dura. 3ª Edição,
      Editora Sabiá, Rio de Janeiro, 1968.

Entendendo o texto:
Após a leitura do texto, respondas às questões abaixo.
01 – Ao saber do falecimento de Orozimbo, a filha chorou, como era de se esperar, e imediatamente:
a. (  ) foi ao hospital conferir o fato
b. (X) comunicou o fato aos parentes
c. (  )providenciou os serviços funerais
d. (  ) preparou a casa para o velório
02 – Segundo os dicionários, velório significa passar noite em claro na sala onde está exposto um morto. De acordo com o texto, podemos entender que o velório:
a. (   ) aconteceu por pouco tempo
b. (   ) começou com a chegada do defunto
c. (   ) terminou com a descoberta do erro
d. (X) não chegou realmente a acontecer.

03 – Os parentes de Orozimbo comentaram o tamanho da barba do falecido com a filha e, então, ela se admirou. Por quê?
      A barba não poderia ter crescido tanto em tão poucos dias, e a filha ficou admirada porque ainda não tinha visto o defunto.

04 – O narrador diz que “talvez naquele momento, outra família, noutro local, estivesse chorando o Orozimbo errado”. Analisada a situação, haveria essa possibilidade?  
Sim (   )           não (X). Justifique sua resposta.
      Porque só havia um defunto.

05 – Embora Orozimbo estivesse vivo, a família teve despesas com o velório. Na sua opinião, a quem cabe a culpa por essa despesa inútil? E por quê?
      Há duas possibilidades de culpados.
      1 – A família de Orozimbo, que não esperou o defunto chegar para se certificar do falecimento.
      2 – A direção do hospital, que deu a informação errada a família.

06 – O narrador informa de modo irreverente que: “Orozimbo tinha abotoado e paletó” e “posto o bloco na rua”. Reescreva a frase dentro do português padrão.
      Orozimbo tinha falecido (ou morrido).

07 – Localize no texto e transcreva para os espaços uma palavra que tenha o mesmo significado de:
a) pormenor, particularidade: detalhe.
b) deficiência, inutilidade: ineficácia.
c) hospital: nosocômio.
d) negligência, descuido: desleixo.
e) comovente, incitante: pungente.
f) chorado, lamentado: pranteado.
g) alegria, contentamento: regozijo.

08 – Antigamente, dava-se o nome de rabecão ao contrabaixo (instrumento musical semelhante do violino, porém muito maior). No texto rabecão tem outro significado. Qual é?
      Carro fúnebre.





CRÔNICA: MEUS PRIMOS - ANTONIO MARIA DE ARAÚJO DE MORAIS -COM GABARITO

CRÔNICA: MEUS PRIMOS


O texto abaixo é do autor  pernambucano Antonio Maria de Araújo de Morais, que se destacou como cronista, compositor, locutor esportivo, jornalista e radialista.

     R. G. era um demônio. Mais atleta, mais afeito à terra que qualquer um de nós, era uma espécie de Tarzan, filho do mato e do rio, diante da nossa meia tendência para o asfalto.
      Numa tarde, resolvemos caminhar pela estrada de ferro – e outra coisa não pretendíamos senão dar uma olhada na filha de um vigia novato, morena carregada, de olhos verdes e longas tranças que, de tardinha, lavava os pés, enfeitava a cabeça com uma flor e vinha para o patamar de casa tocar viola de 12 cordas e cantar “Suçuarana”.
       No meio do caminho, demos com a ponte de ferro feita de trilho, dormentes e mais nada, onde só o trem podia passar. R. G. teimou que atravessar seria uma canja, andando por cima dos dormentes. E se o trem viesse? – aventamos essa perigosa possibilidade. Não ligou. Nós ficamos no barranco do rio e ele começou, sozinho, a travessia.
        De repente, parecia coisa do diabo, o trem saiu da curva, a 100 metros da ponte. R. G. ia exatamente na metade e não tinha tempo de correr para frente ou para trás. Fechamos os olhos, pensamos em Deus por sua alma de 16 anos. O trem passou, houve um minuto de pausa e, depois, R. G. apareceu no mesmo lugar, (…), gritando que não seria a locomotiva da Great Western que o mataria tão jovem.
        Garoto de incrível presença de espírito, quando viu o trem à sua frente, agachou-se, segurou, com as mãos, um dos dormentes e deixou o corpo pendurado. Depois que passaram os 12 vagões, suspendeu-se como num exercício de barra e começou a rir do estado de pânico em que estávamos.
       O maquinista, ao chegar à estação de Gameleira, a dois quilômetros dali, entregou-se à polícia, confessando que tinha matado um menino da usina Cachoeira Lisa.

Entendendo o texto:
Marque com X o sinônimo da palavra ou expressão em destaque.
01 – Em: “R. G. era um demônio.”  A palavra destacada pode ser substituída por:
a. (   ) animal                      b. (   ) moleque malvado
c. (X) rapaz travesso         d. (   ) ignorante

02 – Em: “Mais atleta, mais afeito à terra…”, a expressão destacada pode ser substituída por:
a. (   ) mais insensível à terra           b. (X) mais acostumado à terra
c. (   ) mais desabituada à terra    d. (   ) mais preocupado com a terra.

03 – Em: “… diante da nossa meia tendência…”, a expressão destacada significa:
a. (   ) desprezo             b. (X) inclinação    
c.(   ) amor                     d. (   ) preocupação.

04 – Em: “… dar uma olhada na filha de um vigia novato…”, a palavra destacada indica que o vigia:
a. (   ) tinha pouca idade           b. (   ) era ingênuo
c. (   ) ano tinha experiência     d. (X) estava a pouco tempo naquele lugar
05 – Em: “E se o trem viesse? – aventamos essa perigosa possibilidade.” A palavra destacada pode ser substituída por:
a. (X) insinuamos                   b. (   ) verificamos
c. (   ) investigamos                d. (   ) propusemos.

06 – Em: “Garoto de incrível presença de espírito…”, a palavra destacada significa:
a. (   ) irreal                         b. (   ) inútil     
c. (X) inacreditável             d. (   ) incansável.

07 – O autor caracteriza R.G. como uma espécie de Tarzan, mais afeito à terra, enquanto que os outros meninos estavam mais habituados à vida da cidade. Explique a expressão “nossa meia tendência para o asfalto.”
      A expressão foi utilizada pelo autor para indicar que esses meninos estariam mais habituados à vida da cidade, porque uma das características das cidades são as ruas asfaltadas.

08 – Ter presença de espírito significa saber sair de situações difíceis, inesperadas ou embaraçosas. Como R. G. conseguiu sair da situação difícil que, de repente, lhe apareceu?
      Quando viu o trem à sua frente e não tendo tempo para recuar ou avançar, R.G. agachou-se, segurou os dormentes com as mãos e então, soltou o corpo, ficando pendurado.

09 – A partir do texto, encontre três características do personagem R. G.
      O texto indica as seguintes características: corajoso, travesso, decidido, brincalhão.

10 – Transcreva o trecho do texto que indica o motivo pelo qual os meninos saíram de casa naquela tarde.
      Numa tarde, resolvemos caminhar pela estrada de ferro – e outra coisa não pretendíamos senão dar uma olhada na filha de um vigia novato, morena carregada, de olhos verdes e longas tranças que, de tardinha, lavava os pés, enfeitava a cabeça com uma flor e vinha para o patamar de casa tocar viola de 12 cordas e cantar “Suçuarana”.

11. Identifique e transcreva o trecho do texto em que há momento de intensa expectativa e emoção, em que não se sabe o que vai acontecer.
      De repente, parecia coisa do diabo, o trem saiu da curva, a 100 metros da ponte. R. G. ia exatamente na metade e não tinha tempo de correr para frente ou para trás. Fechamos os olhos, pensamos em Deus por sua alma de 16 anos.

12. Por que o maquinista entregou-se à polícia?
      Porque julgara haver matado R. G.


quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

TEXTO: O FIM DA REPETÊNCIA - CAUTELA NECESSÁRIA - COM GABARITO


TEXTO: O FIM DA REPETÊNCIA
         CAUTELA NECESSÁRIA


      O índice médio de repetência nas escolas do Rio foi de 15% em 1997. Ainda estão sendo levantados os dados referentes ao ano seguinte, que a secretária municipal de Educação, Carmen Moura, espera terem sidos mais baixos. Mesmo assim, há motivo para preocupação, pois esse resultado interrompe uma trajetória de progresso que vinha desde 1992, com o porcentual de repetência caindo de 22% para 12% em 1996.
        Em reação, a secretaria pretende este ano tornar automática a aprovação na primeira e na quinta séries do Ensino Fundamental, nas quais é maior o índice de reprovação.
        Em princípio, a ideia é positiva. O problema maior do ensino público é a evasão, que tem como principal causa a repetência. Ainda que o aluno chegue à segunda (e mais tarde à sexta) série com alguma deficiência no aprendizado, isso será melhor do que abandonar a escola.
        Mas a aprovação automática não pode ser adotada sem que sejam instituídos mecanismos de avaliação e cobrança de desempenho. Basta ver o que aconteceu em Niterói, que há cinco anos adotou um programa exagerado: aprovação automática da primeira à oitava séries. Uma avaliação dos alunos revelou graves deficiências de aprendizado, e a Prefeitura vai modificar o sistema, introduzindo exames a cada dois ou três anos. Também no Estado do Rio, a aprovação automática foi instituída e depois abandonada.
        Os precedentes, portanto, mostram a necessidade de muita cautela. O fim da repetência, em tese desejável, exige que paralelamente exista um monitoramento rigoroso do progresso que os alunos estejam fazendo.

        REPROVAR É BOM?

        Escola boa, dizem, é a que reprova. Por quê? Desde quando ser reprovado em alguma coisa é bom?
        Quantas pessoas foram reprovadas na sua trajetória escolar porque ficaram faltando alguns décimos para alcançar a nota final? E tiveram que repetir um ano inteiro, ouvindo as mesmas coisas do ano anterior? Isso significa um ano na vida de uma pessoa. Será que é pouco?
        E o desestímulo que uma reprovação acarreta? E o sentimento de “sou burro”, “não consigo aprender”? Em que isto ajudou as pessoas a serem mais felizes ou mais sabidas?
        É preciso que fique claro que, por trás de uma medida institucional, como a atribuição de conceitos OS (Plenamente Satisfatório), S (Satisfatório) e EP (Em Processo) adotada pela disciplina, é importante, e muito menos, usar a avaliação (testes e provas) para “dominar” a turma ou ameaça-la.
        Avaliação faz parte do processo pedagógico, da rotina escolar, e serve apenas para redirecionar o meu trabalho. Serve apenas para que eu verifique em que as coisas não vão bem, para que eu possa melhorá-las. Se existe a “cultura da nota”, e não acreditamos mais nela, cabe a nós mesmos mudar o que está aí.
        Não é reprovando que se garante seriedade. Se assim fosse, do jeito que reprovamos tanto, todo esse tempo, seríamos um povo carioca seríssimo. E a SME/RJ não quer a aprovação automática. Quer, sim, que os professores ensinem e que os alunos aprendam; que sejam vistos, professores e alunos, como sujeitos, cidadãos que estão fundando um novo tempo.
        Tempo de compreensão, de sabedoria, de solidariedade, de respeito.

          Denise Guimarães é professora da Secretaria Municipal de Educação.
                                                                                            O Globo – 15/02/1999.

1 – Qual o assunto tratado em ambos os textos?
       A repetência escolar.

2 – Qual o tema, que também é coincidente?
       O fim da repetência.

3 – Qual o ponto de vista dos autores o tema abordado?
       A reprovação escolar desestimula o aluno.

4 – De que argumento cada um dos autores se utiliza para defender a tese apresentada?
       Em ambos os textos: o abandono escolar; a partir daí, há necessidade de se procurarem estratégias para que a educação seja vitoriosa.

5 – No segundo texto, qual é o verdadeiro compromisso dos professores no processo educacional?
       O compromisso é com o ensinar e aprender.

6 – Quanto a você, qual o seu ponto de vista sobre a repetência de um aluno ao longo de sua vida estudantil?
       Resposta pessoal.

7 – Apresente 03 (três) argumentos para fundamentar seu ponto de vista:
       Resposta pessoal.

8 – “Desde quando ser reprovado em alguma coisa é bom? Você concorda com essa afirmação? Justifique.
       Resposta pessoal.

9 – Que precauções tomar para ser reprovado pela vida o mínimo possível ou (não ser reprovado)?
        Resposta pessoal.


CONTO: O CICLISTA - DALTON TREVISAN - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

Conto: O CICLISTA
           
Dalton Trevisan

      Curvado no guidão lá vai ele numa chispa. Na esquina dá com o sinal vermelho e não se perturba – levanta voo bem na cara do guarda crucificado. No labirinto urbano persegue a morte com o trim-trim da campainha: entrega sem derreter sorvete a domicílio.
        É sua lâmpada de Aladino a bicicleta e, ao sentar-se no selim, liberta o gênio acorrentado ao pedal. Indefeso homem, frágil máquina, arremete impávido colosso, desvia de fininho o poste, o caminhão; o ciclista por muito derrubou o boné.
        Atropela gentilmente e, vespa furiosa que morde, ei-lo defunto ao perder o ferrão. Guerreiros inimigos trituram com chio de pneus o seu diáfano esqueleto. Se não se estrebucha ali mesmo, bate o pó da roupa e – uma perna mais curta – foge por entre nuvens, a bicicleta no ombro.
        Opõe o peito magro ao para-choque do ônibus. Salta a poça d`água no asfalto. Num só corpo, touro e toureiro, golpeia ferido o ar nos cornos do guidão.
        Ao fim do dia, José guarda no canto da casa o pássaro de viagem. Enfrenta o sono trim-trim a pé e, na primeira esquina, avança pelo céu na contramão, trim-trim.

                            DALTON TREVISAN. In: Alfredo Bosi, org. O conto brasileiro contemporâneo. 14. ed. São Paulo: Cultrix, 1997. p. 189.

Entendendo o texto:

01 – O conto é exemplo da prosa urbana da literatura contemporânea: Explique por quê.
       Por tratar de uma situação típica dos grandes centros urbanos.

02 – A linguagem do conto é figurada. Explique as seguintes expressões:
a)   “Lâmpada d’Aladino”.
A bicicleta é um objeto mágico, dando ao ciclista sensações de liberdade.

b)   “... touro e toureiro, golpeia ferido o ar nos cornos do guidão”.
O autor compara a relação entre o ciclista e o guidão da bicicleta com a que existe entre os cornos do touro, havendo entre ambos uma fusão.

03 – Dê uma interpretação à última frase do conto.
       O ciclista, cansado e sonolento, ainda ouve o som da campainha, a despeito do estado em que se encontra.

04 – A personagem do Conto “O ciclista” mostra ter controle absoluto sobre a bicicleta, habilidade exigida por seu tipo de trabalho. Que tipo de trabalho o ciclista faz?
      É entregador de sorvetes.

05 – Dê uma interpretação à última frase do conto de Trevisan.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O ciclista, cansado e sonolento, ainda ouve o som da campainha que usa durante suas viagens. A expressão “avança pelo céu na contramão” sugere um estado de leveza, um espairecer após o “voo ciclístico”.






CONTO: O DIREITO DE NÃO AMAR - LYGIA FAGUNDES TELLES - COM GABARITO

CONTO: O DIREITO DE NÃO AMAR
                 LYGIA FAGUNDES TELLES


        Se o homem destrói aquilo que mais ama como afirmava Oscar Wilde, a vontade de destruição se aguça demais quando aquilo está amando um outro. O egoísmo, sem dúvida o traço mais poderoso de qualquer sexo, transborda então intenso e borbulhante como água em pia entupida, artérias e canos congestionados na explosão aguda: “nem comigo nem com ninguém!” Deste raciocínio para o tiro, veneno ou faca, vai um fio.
        A segunda porta foi a que escolheu aquele meu colega de Academia quando descobriu que a pior das vinganças é não matar mas deixar o objeto amado viver, viver à vontade, “pois que ela viva!” – decidiu ele na sua fúria vingativa.
        Amou-a perdidamente. Acho que nunca vi ninguém amar tanto assim, talvez com a mesma intensidade com que amava o primo, disse isso mesmo numa hora de impaciência, estou apaixonada por outro, quer ter a bondade de desaparecer da minha frente? Mas o meu colega (vinte anos?) acreditava na luta e como ele lutou, meu Deus, como ele lutou! Tentou conquista-la com presentes, era rico. Depois, com intermináveis poemas de amor, era poeta. Na fase final, no auge da cólera – era violento – começou com as ameaças. Ela guardou os presentes, rasgou os poemas, fez a queixa a um tio que era delegado da seção de homicídios e foi cair nos braços do primo sem o recurso das rimas e dos diamantes mas que conseguia fazê-la palpitar mais branca e perfumada do que a açucena do campo.
        Meu colega dava murros nas paredes, nos móveis. Puxava os cabelos, “ela não tem o direito de me fazer isso!”. Com a débil voz da razão, tentei dizer-lhe que ela bem que tinha esse direito de amar ou não amar, vê se entende essa coisa tão simples! Mas ele era só ilogicidade e desordem: “Vou lá, dou-lhe um tiro no peito e me mato em seguida!” -  jurou. Mas a tantos repetiu esse juramento que fiquei mais tranquilizada, com a presença de que a energia canalizada para o ato acabaria se exaurindo nas palavras.
        O que aconteceu. Uma noite me procurou todo penteado, todo contido, com um sorrisinho no canto da boca, sorriso meio sinistro, mas lúcido: “Achei uma solução melhor”, foi logo dizendo. “Vou ficar quieto, que se case com esse tipo, ótimo que se casem depressa porque é nesse casamento que está minha vingança. No casamento e no tempo. Se nenhum casamento dá certo, por que o deles vai dar? Vai ser infeliz à beça! Pobre, com um filho debiloide, já andei investigando tudo, ele tem retardados na família, ih! O quando ela vai se arrepender, por que não me casei com o outro? Vai ficar gorda, tem propensão para engordar e eu estarei jovem e lépido porque sou esportista e rico, vou me conservar, mas ela, velha, obesa, ô delícia!”.
        Há ainda uma terceira porta, saída de emergência para os desiludidos do amor, não, nada de matar o objeto da paixão ou esperar com o pensamento negro de ódio que ela vire uma megera jogando moscas na sopa do marido hemiplégico, mas renunciar. Simplesmente renunciar com o coração limpo de mágoa ou rancor, tão limpo que em meio do maior abandono (difícil, hem!) ainda tenha forças para se voltar na direção da amada como um girassol na despedida do crepúsculo. E desejar que ao menos ela seja feliz.
                                           TELLES, Lygia Fagundes. A disciplina do amor. 2 ed.
                                                  Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980, p. 118-9.

ENTENDENDO O CONTO


01 – Em relação à estrutura textual do conto:
a)   Quantos parágrafos tem o conto?
Tem seis parágrafos.

b)   Narrador: (   ) Participa da história.
                     (X) Conta os fatos sem participar da história.

     c) Em relação ao discurso das personagens:
         Presença de discurso: (   ) Direto.
                                               (X) Indireto.

     d) Qual é a tipologia predominante no conto:
         (X) Narrativa.
         (   ) Argumentativa.
         (   ) Descritiva.

02 – Dentro deste tipo textual (conto) há que narrador?
a)   Narrador-personagem.
b)   Narrador-observador.
c)   Narrador-onisciente.

03 – Que fatos provocou o desenrolar dos acontecimentos descritos no conto?
      O conto menciona três possíveis saídas de emergência para os desiludidos no amor.

04 – Relaciona:
a)   1ª porta.
b)   2ª porta.
c)   3ª porta.

(b) Trata da pior das vinganças é não matar, mas deixar o objeto amado viver, viver à vontade.
(c) Consiste na renúncia do objeto amado e desejar que ao menos ela seja feliz.
(a) Relaciona-se com o egoísmo intenso daquele que foi abandonado, de não suportar ser trocado por outra pessoa, culminando no ato extremo de matar.
   05 – “Tentou conquista-la com presentes, era rico. Depois, com intermináveis poemas de amor, era poeta”. (3° parágrafo).
O sentido deste trecho não sofrerá alteração se a primeira ou a última vírgula for substituída pelo conectivo:
a)   Ou.
b)   Já que.
c)   Embora.
d)   Mas.
e)   A fim de que.

   06 - O valor intensivo do termo sublinhado em: “Se o homem destrói aquilo que mais ama...” (1° parágrafo) é idêntico ao dos termos destacados nos frases abaixo, exceto:
a)   “... acreditava na luta e como ele lutou, meu Deus, como ele lutou.” (3° parágrafo).
b)   “... a vontade de destruição se aguça demais quando aquilo está amando um outro”. (1° parágrafo).
c)   “... vê se entende essa coisa tão simples!” (4° parágrafo).
d)   “Mas a tantos repetiu esse juramento que fiquei mais tranquilizado...” (4° parágrafo).
e)   “Vai ser infeliz à beça!” (5° parágrafo).

     07– Qual o assunto e tema do texto lido?
       O assunto é o amor, e o tema são as reações humanas diante da perda de um amor.

    08– Por que o texto poderia exemplificar a prosa praticada contemporaneamente pela autora?
       Por tratar da manifestação e da reação humana provocada por uma condição interior, sentimental, íntima.

    09 -  Segundo o narrador, há três “portas” de saída para a crise amorosa. Cite-as:
       A vontade de destruição do outro, deixar o outro viver para sofrer e renunciar.

     10 - Segundo o texto, qual o traço mais marcante da personalidade humana?
       O egoísmo.