1 – (ENEM) Leia com atenção
o texto:
[Em Portugal], você poderá ter alguns
probleminhas se entrar numa loja de roupas desconhecendo certas sutilezas da
língua. Por exemplo, não adianta pedir para ver os ternos – peça para ver os
fatos. Paletó é casaco. Meias são peúgas. Suéter é camisola – mas não se
assuste, porque calcinhas femininas são cuecas. (Não é uma delícia?)
Castro, Ruy. Viaje bem, ano VIII, n. 3, 78.
O texto destaca a diferença
entre o português do Brasil e o de Portugal quanto:
a)
Ao vocabulário.
b)
À derivação.
c)
À pronuncia.
d)
Ao gênero.
e)
À sintaxe.
2 – (UNICAMP-SP) O jornal
Folha de São Paulo introduz com o seguinte comentário uma entrevista recente (8
dez. 1988) com o professor Paulo Freire:
A gente cheguemos não será uma
construção gramatical errada na gestão do Partido dos trabalhadores em São
Paulo.
Os trechos da entrevista nos
quais a Folha se baseou para fazer tal comentário foram os seguintes:
·
A criança terá uma escola na qual a sua
linguagem seja respeitada [...]
Uma escola em que a criança aprenda a sintaxe dominante,
mas sem desprezo pela sua.
·
Esses oito milhões de meninos vêm da
periferia do Brasil [...] Precisamos respeitar a (sua) sintaxe mostrando que
sua linguagem é bonita e gostosa, às vezes é mais bonita que a minha. E,
mostrando isso, dizer a ele: “mas para tua própria vida tu precisas dizer ‘a
gente chegou’ [em vez de “a gente cheguemos”]. Isso é diferente, [a abordagem]
é diferente. É assim que queremos trabalhar, com abertura, mas dizendo a
verdade.
Responda
de forma sucinta:
a)
Qual é a posição defendida pelo professor
Paulo Freire com relação à correção de erros gramaticais na escola?
A posição que implicitamente defende é a de que se devem respeitar
todas as variedades linguísticas, o que, em última análise, é uma atitude de
respeito aos falantes dessas variedades. Ele defende, assim, que as pessoas não
sejam discriminadas pela maneira como falam.
b)
O comentário do jornal faz justiça ao
pensamento do educador? Justifique sua resposta.
Não. O comentário do jornal dá a entender que o professor Paulo Freire,
por ser membro do Partido dos trabalhadores, defende uma espécie de “vale-tudo
linguístico” na sociedade, o que não é, obviamente, a posição por ele
defendida. Ele deixa claro que a norma culta deve ser ensinada na escola.
3 – (UERJ-RJ):
Os homens aqui mudam de nome quando têm
um filho homem. Maxi-hú é o pai de Maxi-. Teró por muito tempo foi Jaguarhú. Eu
seria Luicuihí se minha filha se chamasse Luicui? Ou Mairahú se meu filho
pudesse chamar-se Maíra? Será que pode?
Levando em conta apenas os substantivos
próprios citados no texto, é possível entender que, na língua dos mairus, o
novo nome do pai de um filho homem contém:
a)
O nome da criança seguido do morfema –hí.
b)
O nome do filho seguido do morfema
–hú.
c)
O nome da mãe seguido do morfema –hí.
d)
O nome do pai seguido do morfema –hú.
4 – (ENEM):
Só falta o senado aprovar o projeto de
lei [sobre o uso de termos estrangeiros no Brasil] para que palavras como
shopping center, delivery e drive-through sejam proibidas em nomes de
estabelecimentos e marcas. Engajado nessa valorosa luta contra o inimigo
ianque, que quer fazer área de livre comércio com nosso inculto e belo idioma,
venho sugerir algumas outras medidas que serão de extrema importância para a
preservação da soberania nacional, a saber:
·
Nenhum cidadão carioca ou gaúcho poderá dizer
“Tu vai” em espaços públicos do território nacional;
·
Nenhum cidadão paulista poderá dizer “Eu lhe
amo” e retirar ou acrescentar o plural em sentenças como “Me vê um chopps e
dois pastel”;
·
Nenhum dono de borracharia poderá escrever
cartaz com a palavra “borraxaria” e nenhum dono de banca de jornal anunciará
“Vende-se cigarros”;
·
Nenhum livro de gramática obrigará os alunos
a utilizar colocações pronominais como “casar-me-ei” ou “ver-se-ão”.
Piza, Daniel. Uma proposta
imodesta. O Estado de São Paulo:
São Paulo, 8 abril 2001.
No texto acima, o autor:
a)
Mostra-se favorável ao teor da proposta por
entender que a língua portuguesa deve ser protegida contra deturpações de uso.
b)
Ironiza o projeto de lei ao sugerir
medidas que inibam determinados usos regionais e socioculturais da língua.
c)
Denuncia o desconhecimento de regras
elementos de concordância verbal e nominal pelo falante brasileiro.
d)
Revela-se preconceituoso em relação a certos
registros linguísticos ao propor medidas que os controlem.
e)
Defende o ensino rigoroso da gramática para
que todos aprendam a empregar corretamente os pronomes.
(FUVEST-SP) Texto para as
questões 5 e 6.
S. Paulo, 13-XI-42
Murilo
São 23 horas e estou honestissimamente
em casa, imagine! Mas é doença que me prende, irmão pequeno. Tomei com um gripe
na semana passada, depois, desensarado, com uma chuva, domingo último, e o
resultado foi uma sinusitezinha infernal que me inutilizou mais esta semana
toda. E eu com tanto trabalho! Faz quinze dias que não faço nada, com o
desânimo de após-gripe, uma moleza invencível, e as dores e tratamento atrozes.
Nesta noitinha de hoje me senti mais animado e andei trabalhandinho por aí.
[...]
Quanto a suas reservas a palavras do
poema que lhe mandei, gostei da sua habilidade em pegar todos os casos
“propositais”. Sim senhor, seu poeta, você até está ficando escritor e
estilista. Você tem toda a razão de não gostar do “nariz furão”, de
“comichona”, etc. Mas lhe juro que o gosto consciente aí é da gente não gostar
sensitivamente. As palavras são postas de propósito pra não gostar, devido à
elevação declamatória do coral que precisa ser um bocado bárbara, brutal,
insatisfação no prazer estético, não deixar a coisa muito bem-feitinha. [...]
De todas as palavras que você recusou só uma continua me desagradando “lar
fechadinho”, em que o carinhoso do diminutivo é um desfalecimento no grandioso
do coral.
Mário de Andrade, Cartas a Murilo Miranda.
5 – “... estou honestissimamente
em casa, imagine! Mas é doença que me prende, irmão pequeno.”
No trecho acima, o termo
grifado indica que o autor da carta pretende:
a)
Revelar a acentuada sinceridade com que se
dirige ao leitor.
b)
Descrever o lugar onde é obrigado a ficar em
razão da doença.
c)
Demarcar o tempo em que permanece
impossibilitado de sair.
d)
Usar a doença como pretexto para sua
voluntária inatividade.
e)
Enfatizar sua forçada resignação
com a permanência em casa.
6 – No texto, as palavras
“sinusitezinha” e “trabalhandinho” exprimem, respectivamente:
a)
Delicadeza e raiva.
b)
Modéstia e desgosto.
c)
Carinho e desdém.
d)
Irritação e atenuação.
e)
Euforia e ternura.
7 – (ENEM):
Good-bye
Não é mais boa noite, nem
bom dia
Só se fala good morning,
good night
Já se desprezou o lampião de
querosene
Lá no morro sé se usa a luz
da light
Oh yes!
A marchinha Good-bye,
composta por Assis Valente há cerca de 50 anos, refere-se ao ambiente das
favelas dos morros cariocas.
A estrofe citada mostra:
a)
Como a questão do racionamento da energia
elétrica, bem como a da penetração dos anglicismos no vocabulário brasileiro,
iniciaram-se em meados do século passado.
b)
Como a modernidade, associada
simbolicamente à eletrificação e ao uso de anglicismos, atingia toda a
população brasileira, mas também como, a despeito disso, persistia a
desigualdade social.
c)
Como as populações excluídas se apropriavam
aos poucos de elementos de modernidade, saindo de uma situação de exclusão
social, o que é sugerido pelo título da música.
d)
Os resultados benéficos da política de boa
vizinhança norte-americana, que permitia aos poucos que o Brasil se inserisse
numa cultura e economia globalizadas.
e)
O despreza do compositor pela cultura e pelas
condições de vida atrasadas características do “morro”, isto é, dos bairros
pobres da cidade do Rio de Janeiro.
8 – (SARESP-SP) Considere o
fragmento a seguir para responder à questão.
Os
infelizes cálculos da felicidade
Mia Couto
O homem da história é chamado Julio
Novesfora. Noutras falas, o mestre Novesfora. Homem bastante matemático,
vivendo na quantidade exacta, morando sempre no acertado lugar. O mundo, para
ele, estava posto em equação de infinito grau. Qualquer situação lhe algebrava
o pensamento. Integrais, derivadas, matrizes para tudo existia a devida
fórmula. A maior parte das vezes mesmo ele nem incomodava os neurônios:
-- É como que se faz sem cabeça.
Doseava o coração em aplicações regradas,
reduzida a paixão ao seu equivalente numérico. Amores, mulheres, filhos, tudo
isso era hipótese nula. O sentimento, dizia ele, não tem logaritmo. Por isso,
nem se justifica a sua equação. Desde menino se abstivera de afetos. Do ponto
de vista da álgebra, dizia, a ternura é um absurdo. Como o zero negativo. Vocês
vejam, dizia ele aos alunos, a erva não se enerva, mesmo sabendo-se acabada em
ruminagem de boi. E a cobra morde sem ódio. É só o justo praticar da dentadura
injetável dela. Na natureza não se concebe sentimento. Assim, a vida prosseguia
e Júlio Novesfora era nela um aguarda-factos. Certa vez, porém, o mestre se
apaixonou por uma aluna, menina de incorreta idade; toda a gente advertia essa
menina é mais que nova, não dá para si.
--
Faça as contas mestre.
Mas o mestre já perdera o cálculo. [...]
Couto, Mia. Os infelizes cálculos da felicidade.
Luar de Outono, [s.l.,s.d.]. Disponível em:
Acesso em: 25 ago.
2008.
O trecho apresenta a
personagem central do conto: o mestre Novesfora. Dentre as expressões
utilizadas para caracterizar a personagem, está “Qualquer situação lhe
algebrava o pensamento”. O verbo “algebrar” não é dicionarizado, ou seja, foi
criado nesse texto, para uso específico do autor.
Podemos dizer que a invenção
dessa palavra:
a)
Revela a profissão da personagem: professor
de matemática.
b)
Demonstra sua facilidade de realizar
cálculos.
c)
Enfatiza seu modo sistemático de
ler a vida.
d)
É um neologismo que em nada realça o caráter
da personagem.
(VUNESP/UFSCAR-SP –
Adaptada) Leia o texto a seguir para responder à questão 9.
Sob a ótica do senso comum,
conhecimento tem a ver com familiaridade. O conhecido, diz a linguagem comum, é
o familiar. Se você está acostumado com alguma coisa, se você lida e se
relaciona habitualmente com ela, então você pode dizer que a conhece. O
desconhecido, por oposição, é o estranho.
Eduardo Giannetti.
Autoengano, p. 72.
9 – A alternativa em que há
palavras que apresentam o mesmo processo de derivação das palavras destacadas
no trecho a seguir: ... conhecimento tem a ver com familiaridade é:
a)
É fatal ficarmos tristes diante daquilo que é
efêmero.
b)
Uma bela face humana vai um dia ficar velha e
menos bela.
c)
Mas a transitoriedade lhe empresta
renovado encantamento.
d)
Uma flor que dura apenas uma noite não parece
menos bela.
e)
Uma bela obra de arte não tem limitação de
tempo ou espaço.
(UNICAMP-SP) Os versos
seguintes fazem parte do poema “Um chamado João”, de Carlos Drummond de
Andrade, em homenagem póstuma a João Guimarães Rosa.
Trabalhe as questões 10 e
11 a partir da leitura do poema.
Um
chamado João
João era fabulista?
Fabuloso?
Fábula?
Sertão místico disparado
No exílio da linguagem
comum?
Projetava na gravatinha
A quinta face das coisas
Inenarrável narrada?
Um estranho chamado João
Para disfarçar, para farçar
O que não ousamos
compreender?
[...]
Mágico sem apetrechos,
Civilmente mágico, apelador
De precipites prodígios
acudindo
A chamado geral?
[...]
Ficamos sem saber o que era
João
E se João existiu
De se pegar.
Andrade, Carlos Drummond de. Correio da Manhã.
22 nov. 1967,
publicado em Rosa, J. G. Sagarana.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
10 – a) No título, chamado
sintetiza dois sentidos com que a palavra aparece no poema. Explique esses dois
sentidos, indicando como estão presentes nas passagens em que chamado se
encontra.
Chamado, presente no título do poema,
encontra-se também presente na segunda estrofe em “um estranho chamado João”,
chamado significa “denominado” e na terceira estrofe em “acudindo a chamado
geral”, chamado significa “evocação”; “convocação”; “pedido”.
b)Na primeira estrofe do
poema, fábula é derivada em fabulista e fabuloso. Mostre de que modo a formação
morfológica e a função sintática das três palavras contribuem para a formação
da imagem de Guimarães Rosa.
Em termos
morfológicos, no primeiro verso, fábula, acrescido do sufixo-ista, gera
fabulista; No segundo verso, acrescido de –oso, gera fabuloso. O jogo com a
formação morfológica das palavras contribui para a construção da imagem de
Guimarães Rosa no poema, visto que sugere uma imitação do estilo do poeta
homenageado.
Em termos sintáticos, as três palavras
acabam por atribuir uma qualidade ao sujeito, visto que funcionam como seu
predicativo.
11 – Na segunda estrofe, há
dois processos muito interessantes de associação de palavras. Em
inenarrável/narrada encontramos claramente um processo de derivação. Em
disfarçar/forçar, temos a sugestão de um processo semelhante, embora forçar não
conste dos dicionários modernos.
a)
Relacione o significado de inenarrável com o
processo de sua formação; e o de forçar, na relação sugerida no poema, com
disfarçar.
O adjetivo inenarrável, derivado do verbo narrar, é formado por um
duplo acréscimo: o do sufixo –vel, e do prefixo in-. A conjunção dos dois
afixos resulta na negação da possibilidade de algo ser narrado. Em forçar temos
um verbo que, no poema, se constrói a partir de disfarçar, do qual se retira a
partícula dis-. Obtém-se, com isso, um termo não dicionarizado.
b)
Explique como esses processos contribuem na
construção dos sentidos dessa estrofe.
Inenarrável qualifica, junto com narrada, o mesmo sintagma: “a
quinta face das coisas”. Precisamente por ser justaposto a um termo contrário,
e de mesma raiz, inenarrável assinala um absurdo, ou melhor, explicita o
extraordinário da narrativa alcançada por Guimarães Rosa. Em forçar, imitam-se
procedimentos linguísticos típicos do poeta homenageado. A justaposição
disfarçar/farçar chama a atenção para o elemento de farsa, de simulação,
estratégia ilusória necessária para enfrentar a resistência em ver.
12 – (UFRJ-RJ – adaptada)
Os diferentes
Descobriu-se na Oceania, mais
precisamente na ilha de Ossevaolep, um povo primitivo, que anda de cabeça baixo
e tem vida organizada. É aparentemente um povo feliz de cabeça muito sólida e
mãos reforçadas. Vendo tudo ao contrário, não perde tempo, entretanto, em
refutar a visão normal do mundo. E o que eles dizem com os pés dá a impressão
de serem coisas aladas, cheias de sabedoria.
Uma comissão de cientistas europeus e
americanos estuda a linguagem desses homens e mulheres, não tendo chegado ainda
a conclusões publicáveis. Alguns professores tentaram imitar esses nativos e
foram recolhidos ao hospital da ilha. Os cabecences-para-baixo, como foram
denominados à falta de melhor classificação, têm vida longa e desconhecem a
gripe e a depressão.
Andrade, Carlos Drummond de. Prosa seleta.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003. p. 150.
No texto, identifica-se o
povo da ilha de Ossevaolep por um neologismo: cabecences-para-baixo.
a)
Identifique os processos de formação de
palavras utilizados para a criação desse neologismo.
Os processos de formação utilizados foram composição por
justaposição e derivação sufixal.
b)
Considerando o conhecimento que os
observadores têm do povo de Ossevaolep, responda: por que se afirma, no texto
II, que o neologismo foi criado “à falta de melhor classificação?”
Os observadores criaram um neologismo que não vai além do nível
descritivo superficial porque eles não conseguiram alcançar um conhecimento
aprofundado, conclusivo a respeito do povo de Ossevaolep.
13 – (UNICAMP-SP) Leia os
seguintes artigos do Capítulo VIII do novo código Civil (Lei n° 10.406, de 10
de janeiro de 2002):
Art. 1.548. É nulo o
casamento contraído:
I – Pelo enfermo mental sem
o necessário discernimento para os atos da vida civil;
II – Por infringência de
impedimento.
(...)
Art. 1.550. É anulável o
casamento:
I – De quem não completou a
idade mínima para casar;
(...)
VI – Por incompetência da
autoridade celebrante.
a)
Os enunciados que introduzem os artigos 1.548
e 1.550 têm sentido diferente. Explique essa diferença, comparando, do ponto de
vista morfológico, as palavras nulo e anulável.
No Art. 1.548, o casamento é considerado inexistente, isto é, sem
efeito, desde que ocorram as condições arroladas.
No Art. 1550, o casamento é passível de ser tornado sem valor, desde
que solicitado e observadas determinadas condições. Essa diferença é produzida
pelo acréscimo do sufixo –ável ao verbo anular.
b)
Segundo o Dicionário Houaiss da língua
Portuguesa (2001), infringência vem de infringir (violar, transgredir,
desrespeitar) + ência. Compare o processo de formação dessa palavra com o de
incompetência, indicando eventuais diferenças e semelhanças.
Diferentemente de infringência, palavra formada a partir de
infringir por meio do acréscimo do sufixo –ência, incompetência apresenta um
processo suplementar, já que inexiste o verbo incompetir. O verbo competir
recebe igualmente o sufixo –ência e, posteriormente, a palavra formada recebe o
prefixo in-, fornecendo o sentido de “ausência de competência”.