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quinta-feira, 3 de julho de 2025

CONTO: A MÃE PERFEITA - LUCINHA ARAÚJO - COM GABARITO

 Conto: A mãe perfeita

           Lucinha Araújo

Mamãe, tá certo, eu me dei mal na escola [...]

Pode parar o jogo

Você é a dona da bola [...]

        Talvez o auge de minha obsessão por fazer de meu filho um gênio da raça tenha sido a ideia fixa que me levou a procurar o Colégio Santo Inácio, de padres jesuítas, em I963, quando Cazuza tinha cinco anos. Se aquela era a melhor escola do Rio de Janeiro, era ali que meu filho iria estudar. Mas para que meu sonho se realizasse era preciso que ele passasse no exame de admissão, cuja exigência mínima era a de que o novo aluno soubesse ler e escrever. Nos preparamos para este exame como se ele fosse fatal para que eu continuasse viva. Estava tão nervosa no dia da prova que protagonizei uma cena inesquecível. De pé, debaixo da janela da sala onde ele fazia o exame, anotei uma a uma as vinte palavras do ditado nas costas de um envelope, que guardo comigo até hoje. No táxi, de volta para casa, perguntei a Cazuza como havia se saído:

        -- Não sei, mamãe!!!

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1AbJidUeV4hZuCqeR8TSAQSG0zOsKB8JTMbzRbQllRdBnIQe7vlmvTRRchjLp1Fd5byebvWyzV5Qr18_jQJmjHn5IoNVUJ6CHt17W7m5nPCoLv7hRArtSZp-jyK4PNmsGMz03NDMJNq344lrdpIXKjT2V7u-SJ5BmG0aKmScb5leJ0YtXnQKBDdXzjBA/s1600/images.png


        Tirei então o envelope da bolsa e fiz com que ele escrevesse tudo novamente. Cazuza só errou uma palavra: escreveu verdejante com a letra "g". Fiquei bastante apreensiva até o dia em que o resultado foi divulgado. Cazuza havia conseguido! Entre mais de mil candidatos, classificou-se em quinquagésimo lugar, com nota 9,5. Qualquer mãe ficaria orgulhosa, mas não eu. Um 9,5 era pouco para mim, uma ex-estudante de colégio de freiras cujo rendimento escolar havia sido exemplar. Não podia imaginar quanto meu filho ainda iria se rebelar no futuro contra a rigidez e os métodos do Santo Inácio.

        A nossa rotina, a partir de então, era controlada. Cazuza chegava da escola, eu pegava o diário de classe na mala e organizava a sua vida de acordo com os deveres. No fim da tarde, enquanto não terminasse os deveres escritos, não podia sair para brincar. Na manhã seguinte, ele se dedicava às lições orais. Depois, eu lhe tomava os deveres. E como eu era chata nesse papel!!! João, embora ausente, não concordava com meus métodos, mesmo porque, para ele, ser um bom aluno na escola não significava muita coisa. Citava exemplos de homens brilhantes que nunca haviam conseguido um dez no boletim. Cazuza corria para ele nessa fase para se proteger de mim.

        Felizmente meu filho encontrou duas grandes válvulas de escape para suportar meu temperamento autoritário enquanto era criança. Suas duas avós. Minha mãe, Alice, representava para meu filho a liberdade desfrutada longe de casa. Tudo o que era proibido conosco era permitido na casa de Vovó Lice. Para acompanhar meu marido em seus incontáveis trabalhos noturnos, em sua trajetória como homem da indústria fonográfica, muitas vezes deixei Cazuza com minha mãe. A seu lado, Cazuza conheceu o reino dos céus. Tomava banho se quisesse, comia todas as guloseimas desejadas e, pior ainda, assistia televisão, hábito proibido por João. Às vezes, na volta para casa, ele comentava o filme da Sessão Coruja, o que deixava o pai muito bravo. Mas a paixão de Cazuza por minha mãe não tinha limites. Primeiro neto homem numa família de mulheres, Cazuza era o preferido mesmo e se orgulhava disso. Adorava ouvir as histórias que minha mãe lhe contava e, principalmente, retribuía a compreensão com que ela o tratava em todas as circunstâncias. Depois que se tornou famoso, Cazuza confessou numa entrevista que era com Vovó Lice que discutia as suas poesias, as rimas dos versos que nunca me mostrou. Mesmo assim, muitas vezes, o temperamento brincalhão e quase mórbido dessa fase de Cazuza não poupava nem mesmo a querida Vovó Lice. Uma de suas brincadeiras assustadoras preferidas era simular um desmaio no banheiro. Para dramatizar, ele colava aquele fiozinho vermelho que encapava os maços de cigarro grudado no canto da boca, para simular sangue escorrendo. Ele gritava, minha mãe corria para o banheiro e levava um susto imenso. Invariavelmente, ela apelava aos santos:

        -- Valha-me minha Santa Rita!

        Cazuza gargalhava. Ele repetia a encenação com alguma frequência e Vovó Lice não aprendia. Sempre se assustava.

        A segunda válvula de escape de Cazuza era dona Maria, sua avó paterna, em cuja casa de Vassouras ele passou as férias dos três aos quinze anos. Também ali era tratado como um príncipe, cercado de todos os mimos que uma avó sabe fazer, incluindo tirar as sementes de uva por uva para que ele não engasgasse, além de outras mordomias. Muitas vezes eu e João voltávamos tarde para casa depois de um baile de carnaval, ou outra festa, e Cazuza acordava antes do que nós. Gritava lá de sua cama:

        -- Vovó Maria, meu amor, vem me buscar!

        E os dois passavam toda a manhã se divertindo juntos. Mas nem ela escapava de seu apurado senso de humor. Quando falava ao telefone com Vovó Maria e ela começava a se queixar e reclamar de dormência nas mãos, Cazuza também não se continha:

        -- É, vovó, mas também, o que você quer? Você já está bem velhinha e não quer ter nada? Faz o seguinte vovó: corta as mãos!!!

        Em 2 de maio de 1997, Vovó Maria completou 99 anos.

        A paixão de Cazuza pelos animais começou com um periquito perdido que apareceu no nosso quarto-e-sala. O apartamento térreo tinha um pequeno quintal ao ar livre e ali ele colecionava seus animaizinhos de estimação. Tempos depois comprei uma fêmea e um viveiro e os periquitos se multiplicaram em 33 e acabaram todos na casa de minha mãe em Vassouras, para onde foram também um coelho e um aquário bastante habitado. Aos cinco anos, ganhou seu primeiro cachorro, uma cadela que batizou de Sunny. Tinha o pelo dourado que brilhava ao sol, mas seis meses depois foi atropelada, para total desespero de Cazuza. Enquanto o veterinário tentava, em vão, salvá-la, Cazuza, bastante nervoso, rasgou com as mãos as pernas da bermuda jeans que estava usando. Como presente de uma vizinha, a jornalista Sandra Moreyra, na época uma menina, ganhou outra cadela logo depois. Infelizmente, ela também ficou doente e morreu em uma semana.

        Mas meu filho não desistiu. Depois de um fim de semana em Friburgo, com tia Maryse, Paulinho e Márcia Muller, ele voltou para casa com outra cadela que, embora preta e feia, cismou em também lhe chamar de Sunny. A Sunny ll, que sobreviveu e ficou oito anos em casa – dos treze que viveu –, até mudarmos para o Leblon, quando o seu destino foi o mesmo dos outros – a casa de Vovó Lice em Vassouras. Cazuza escolheu o mais bonito filhote da última ninhada de Sunny ll. Seu nome era Wanderley Cardoso, em homenagem aos olhos verdes, parecidos aos do cantor. Cazuza carregava Wanderley para toda parte, principalmente à praia, onde meu filho ficou conhecido como o dono de Wanderley, que se parecia a um rusk siberiano, embora fosse um vira-lata de primeira. Certo dia, num carnaval, Cazuza saiu com Wanderley para brincar na Banda de Ipanema. Lá pelas oito da noite, meu filho chegou em casa sem o cachorro. Mas cadê o Wanderley:

        -- Não sei, mãe, ele sumiu. Procurei, procurei e não acho.

        -- Cazuza, você é um irresponsável!

        Zeca Neves guardou na memória outra história de Wanderley na praia do Arpoador. Cazuza, com dentista marcado para as três da tarde, ficou furioso quando Wanderley se engatou com uma cadela e não havia meio de separá-los. Às duas horas, cansado e apressado, gritava com seu cão:

        -- Logo agora você faz isso comigo!!!

        Nossa cozinheira, Cida, que era louca pelo cachorro, já organizara uma expedição de resgate quando o programa Fantástico começou a exibir uma reportagem sobre a Banda. E lá estava ele, todo fantasiado, trançando entre as pernas dos foliões. Embora a matéria tenha sido gravada de tarde, saímos, Cida e eu, à procura de Wanderley, seguindo o itinerário da Banda. Finalmente o encontramos na Praça da Paz, todo fantasiado, andando de um lado para o outro, à procura de seu dono. Cazuza nem deu bola. Nos seus dois últimos anos de vida, meu filho ganhou outro cachorro, o Mané, um weimaraner. Um cão sem a menor identidade. Conviveu muito pouco com seu dono.

        Cazuza viveu outras várias fases de interesses quando menino. Em sua prodigiosa imaginação para criar histórias, ele preencheu vários cadernos com suas histórias: criava famílias inteiras e um destino para cada um de seus personagens – desquites, traições, mortes, bigamias. Quase ao mesmo tempo surgiu o interesse por geografia. Desde os sete anos, Cazuza saciava a curiosidade, consultando com sofreguidão a Enciclopédia Barsa. Alguns amigos de João do futebol se reuniam todos os sábados depois do jogo em São Conrado, só pelo prazer de sabatiná-lo.

        -- Cazuza, qual a capital do Zaire? E a renda per capita?

        Ele acertava todas. Impressionante.

        Cazuza acabou realmente se tornando um expert no assunto, a ponto de seus colegas de escola – e outros amigos – ligarem lá para casa para tirar suas dúvidas sobre geografia, populações, capitais, culturas dos países. Ele deitava-se no chão de seu quarto com o mapa-múndi aberto e se concentrava inteiramente. Passava grande parte de seu tempo trancado no quarto, no seu mundinho particular. João, nessa fase, brincava com ele:

        -- Você vai ser o quê? Professor de geografia? Isso não dá dinheiro.

        Mais tarde, costumava ler romances com o atlas ao lado, para entender direitinho onde se passava a ti ama. Ele devia ter uns oito anos quando recebemos em casa, para um jantar quase cerimonioso, o venezuelano Manoel Guevara, casado com uma prima minha e que naquele momento exercia o cargo de ministro dos Transportes em seu país. O apartamento estava perfeito, e nós três, muito bem vestidos. Cazuza usou um de seus modelos da Bebê Conforto, a última palavra em roupas infantis no Rio de Janeiro dos anos 60. Antes da chegada das visitas, preocupado com a irreverência latente do filho, João chamou Cazuza num canto com recomendações:

        -- Olha, meu filho, eu sei que você não tem a menor cerimônia com as pessoas. Mas hoje, por favor, não faça perguntas, não diga bobagens.

        Durante o jantar, duas ou três, vezes, João cutucou Cazuza por debaixo da mesa. Como se não estivesse entendendo nada e exibindo um ar inocente, denunciou João:

        -- O que foi, pai?

        Até que o ministro começou a contar sobre um túnel que havia construído em sua terra, um túnel de trem subterrâneo. E afirmava que aquele túnel que tinha uma determinada extensão era o maior da América Latina. Cazuza retrucou no ato:

        -- Não é, não!

        Levantou da mesa e saiu correndo para o quarto. Quando voltou, trazia um livro nas mãos provando não só que a extensão do túnel alardeada pelo ministro estava errada como também que aquele não era, definitivamente, o maior da América Latina. O ministro ficou encantado. No dia seguinte mandou de presente para Cazuza um sofisticado atlas inglês.

        Tempos depois, Cazuza se apaixonou por arquitetura e urbanismo. Criava cidades com madeiras e caixas de fósforos e também todo o seu funcionamento. Na casa de minha mãe em Vassouras – que nessa época havia se mudado definitivamente com papai, já aposentado, para a cidade –, Cazuza passava horas no quintal armando suas metrópoles imaginárias, todas elas com população definida, além de renda per capita e seu cotidiano. Sempre pensei que meu filho acabaria se tornando um engenheiro, um arquiteto, um urbanista, tal a dedicação e empenho com que mergulhava compenetrado nesses assuntos. Apesar disso, o rendimento escolar de Cazuza era péssimo. Suas notas, eu pensava, eram inadmissíveis para um garoto inteligente e esperto como ele. E, invariavelmente, eram motivo de castigo para meu filho. Já com os esportes, Cazuza foi uma tragédia, para desespero do pai. Todos os sábados, meu marido frequentava um clube de futebol formado por trinta homens com mais de trinta anos, com uma exceção aberta a João, que foi admitido aos 24. Era o chamado Clube dos 30, em São Conrado. João sempre teve amigos mais velhos e ali conviveu com Paulo Mendes Campos, Luís Carlos Barreto, Thiago de Mello, Armando Nogueira, que também levavam seus filhos ao futebol de todos os sábados. Além disso, em toda a sua vida, meu marido foi um esportista que praticou tênis, vôlei e futebol. Ele queria muito que o filho seguisse seu exemplo, como conta: "Sempre desejei que Cazuza se interessasse por esportes, mas quando eu o levava ao Clube dos 30, Cazuza não demonstrava a menor vontade de jogar futebol. Às vezes até brincava com a bola, mas rapidamente se desinteressava. O que o empolgava mesmo era pegar meu carro e dirigir em volta do loteamento."

        A frustração de João com o total desinteresse do filho por seu esporte favorito foi motivo de uma crônica do jornalista Armando Nogueira, publicada no Jornal do Brasil, em sua coluna "A Grande Área", em 1968:

        Cazuza, dez anos, chegou da escola, participando ao pai uma novidade:

        -- Papai, estou jogando futebol, lá no colégio.

        O pai, que sempre bateu sua bolinha razoavelmente, ficou na maior alegria: nunca tinha confessado, mas o desinteresse do filho por futebol era uma das pequenas tristezas de sua vida. Há alguns anos ele andou tentando despertar no garoto o gosto pela pelada: no clube em que joga um racha semanal, chegou mesmo a levar Cazuza para o campo, ficava no gol e só para estimular papava frangos tremendos nos chutes de Cazuza.

        Nos últimos tempos, porém, Cazuza abandonou na garagem a bola e as chuteiras e nunca mais falava de futebol. Daí a felicidade do pai ao ouvir do menino que estava jogando bola, agora oficialmente, no time do colégio.

        -- É no time do colégio, Cazuza?

        -- É, sim senhor.

        -- No primeiro time, Cazuza?

        -- Não.

        -- Ah, é no segundo time, meu filho?

        -- Também não, papai.

        -- Não vai me dizer que te puseram no terceiro time. Terceiro time nem deve existir lá no colégio.

        -- Existe, sim, mas eu não jogo no terceiro time também, não. Sou do Fusa.

        -- Fusa? Que diabo é isso, Cazuza?

        -- Fusa é o seguinte, papai: tem o primeiro time, o segundo e o terceiro times. Aí eles pegaram a turma que sobrou e misturaram todo mundo. Isso é que é Fusa.

         -- E você joga de quê, nesse tal de Fusa? – perguntou o pai, já inteiramente desanimado com o herdeiro de suas virtudes futebolísticas...

        -- Eu sou reserva do Fusa, papai.

        Em sua carreira, João fez de tudo na indústria do disco. Começou na gravadora Copacabana e, depois, passou pela Odeon, Mocambo, Festa e Sinter, que foi comprada pela Philips. Naquela gravadora, João produziu discos de Elis Regina, Jair Rodrigues, Gilberto Gil, Jorge Ben. Praticamente lançou Caetano Veloso e Gal Costa no disco Domingo, o primeiro da carreira de ambos. Lançou, também, o primeiro LP dos Novos Baianos. Considero João o homem de disco mais importante do Brasil, pois conheceu a fundo o seu ofício ao trabalhar em todos os cargos dentro da indústria - foi divulgador de rádio, de imprensa, produtor de estúdio, até fundar a Som Livre, em dezembro de 1969.

        Por isso, desde pequenininho, meu filho teve sua atenção naturalmente desperta para o mundo da música. Eu e João gostávamos de música, desde o namoro. Na época, eu estudava violão e, em nossos encontros, nos distraíamos em tocar e cantar. Para Cazuza, aconteceu ainda de conhecer de perto os artistas que frequentavam nossa casa. Desde garoto, a paixão de Cazuza por Rita Lee era avassaladora. Não perdia nenhum de seus shows. Silvinha Teles foi minha colega de colégio e acompanhou Cazuza desde o seu nascimento. Elis Regina o viu crescer, assim como Jair Rodrigues, Os Novos Baianos, Caetano, Gil, Gal. Meu filho dizia que não tinha mitos, pois conviveu com todos eles.

        Nos tempos do Santo Inácio, Cazuza tinha dois grandes amigos: Ricardo Quintana e Pedro Bial, hoje jornalista e poeta. Com Pedro, aliás, ele já havia repartido a sala de aula no Colégio Chapeuzinho Vermelho. Com meu filho, Pedro frequentou o Clube dos 30, fez viagens em excursão do colégio e entrevistou o poeta Vinícius de Morais para um trabalho escolar sobre diplomatas que abandonaram a carreira. As recordações de Pedro Bial sobre a infância e adolescência de ambos:

        "Cazuza não era nada esportivo, não gostava de esportes. Era tímido e fechado. Não se socializava com o resto da turma. Nunca teve muita paciência para o social. Era inteligente e desenhava muito bem. Fazia desenhos de mapas e cidades, superorganizado. O resultado era muito bem-feito e, para cada um dos lugares, ele inventava nomes de fantasia. Na época do Santo Inácio, ele teve uma relação forte com Ricardo Quintana e, juntos, inventavam histórias, um espaço meio mitológico, um mundo só deles. Minha grande luta era a de ser aceito na brincadeira. A grande sensação da escola eram as mulheres nuas que Cazuza desenhava: todos os alunos pagariam uma nota para ter um desenho dele – mulheres eróticas, sexies, vamps, lindas, personagens marcantes. Cazuza não era do tipo popular e nem de ficar desafiando professores. Quieto, ficava no seu canto conversando com o Ricardo ou comigo. Aos treze anos - tínhamos a mesma idade –, o pai de Cazuza conseguiu marcar uma entrevista nossa com o Vinícius de Morais. Ficamos encantados com aquele líquido amarelinho que ele tomava. Achamos muito bacana aquele negócio do uísque."

        A vida escolar de Cazuza, na verdade, nunca me deixou tranquila. Ele passou a desafiar minha autoridade à medida que crescia: passou a esconder o diário de classe e a rasgar boletins com notas baixas. A primeira vez em que ficou de recuperação na escola, no final do primeiro ano ginasial, em três matérias, não teve coragem de voltar para casa. Da escola, rumou direto para o escritório de João, na Som Livre, e só voltou debaixo das asas do pai. Quando entraram, João me chamou no quarto e alertou:

        -- Cazuza ficou de recuperação e está apavorado com você. Veja lá o que vai fazer. Esses escândalos não resolvem nada!!!

        Mas, no dia seguinte, quando meu marido saiu para o trabalho, tive um duplo acesso de loucura. Primeiro, porque não me conformava com a traição de Cazuza. Como eu, que me julgava a dona do pedaço, tinha sido a última a saber? Meu ciúme era doentio. E depois veio a bronca monumental pela recuperação no Santo Inácio. Os catorze anos de Cazuza foram como uma marca de luta cega pela liberdade. Suas reações diante de minha autoridade já não eram mais de choro e quarto fechado. Ele me enfrentava, respondia e desafiava. Cada vez com mais intensidade. E eu comecei a lutar contra a dura realidade que, dali em diante, seria obrigada a enfrentar: conviver e perdoar as atitudes extremas de meu filho, até entender que ele não era mais o meu garotinho.

Lucinha Araújo.

Fonte: Letra e Vida. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – Coletânea de textos – Módulo 3 – CENP – São Paulo – 2005. p. 87-92.

Entendendo o conto:

01 – Qual era o principal objetivo de Lucinha Araújo em relação à educação de Cazuza no início do conto?

      O principal objetivo de Lucinha Araújo era fazer de Cazuza "um gênio da raça", buscando para ele a melhor educação possível, como o Colégio Santo Inácio.

02 – Como Cazuza se saiu no exame de admissão para o Colégio Santo Inácio e qual foi a reação de sua mãe?

      Cazuza se classificou em quinquagésimo lugar, com nota 9,5, entre mais de mil candidatos. Lucinha Araújo, no entanto, não ficou orgulhosa, achando que um 9,5 era "pouco" para um filho seu.

03 – Quais eram as duas principais "válvulas de escape" de Cazuza para suportar o temperamento autoritário de sua mãe?

      As duas principais válvulas de escape de Cazuza eram suas duas avós: Alice (Vovó Lice), mãe de Lucinha, e dona Maria, avó paterna.

04 – Descreva a relação de Cazuza com Vovó Lice.

      Cazuza tinha uma paixão ilimitada por Vovó Lice, que representava a liberdade. Na casa dela, ele podia fazer o que era proibido em casa, como comer guloseimas e assistir televisão. Ele se sentia compreendido por ela e até discutia suas poesias com a avó.

05 – Cite um exemplo do senso de humor de Cazuza com Vovó Lice.

      Cazuza gostava de simular desmaios no banheiro, usando um fio vermelho para simular sangue, e gritava para assustar Vovó Lice, que sempre se assustava e apelava aos santos.

06 – Como João, pai de Cazuza, via a questão do rendimento escolar e quais eram suas discordâncias com Lucinha?

      João não concordava com os métodos rígidos de Lucinha, pois para ele, ser um bom aluno não significava muito. Ele citava exemplos de homens brilhantes que nunca haviam conseguido um dez no boletim.

07 – Além da música, quais outros interesses Cazuza demonstrou ter durante a infância, que surpreendiam pela sua dedicação?

      Cazuza demonstrou grande interesse por geografia, tornando-se um expert, e também por arquitetura e urbanismo, criando cidades imaginárias com detalhes de população e funcionamento.

08 – Qual foi o episódio que demonstrou o conhecimento de Cazuza em geografia e como ele impressionou o ministro venezuelano?

      Durante um jantar, Cazuza corrigiu o ministro venezuelano sobre a extensão e o título de "maior da América Latina" de um túnel. Ele foi ao quarto buscar um livro e provou seu ponto, o que encantou o ministro.

09 – Como o pai de Cazuza reagiu ao desinteresse do filho por esportes, e qual anedota é contada sobre o futebol?

      João ficava frustrado com o desinteresse de Cazuza por esportes, especialmente futebol. Uma crônica de Armando Nogueira relata que Cazuza dizia jogar no "Fusa", que era a turma "que sobrou" após a formação dos três times oficiais do colégio.

10 – Qual foi a mudança na relação de Lucinha com Cazuza a partir dos quatorze anos de idade dele?

      A partir dos quatorze anos, Cazuza passou a desafiar a autoridade de Lucinha, escondendo o diário de classe e rasgando boletins. Ele a enfrentava e respondia, e Lucinha percebeu que precisaria conviver e perdoar as atitudes extremas do filho, entendendo que ele não era mais seu "garotinho".

 

quarta-feira, 4 de junho de 2025

CONTO: MENSAGEM DA NUVEM NEGRA - FRAGMENTO - ALVES REDOL - COM GABARITO

 Conto: MENSAGEM DA NUVEM NEGRA – Fragmento

           Alves Redol

        Pareciam cercados no trabalho pelo braseiro de um fogo que alastrasse na Lezíria Grande. Como se da Ponta de Erva ao Vau a leiva se consumisse nas labaredas de um incêndio que irrompesse ao mesmo tempo por toda a parte.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxfy2MawhUIPn27B6vWl7sqhn2wgMUw_1vVjjxFdA2yCYOAGsFAx-cqkEIiH_hOHDU5_unvJVb8P2kQ99t7_j7fWtb7hAsIKiLeCTc0FCtxSwkAF1etyzEi7ZYRuzUbf6I5ovoVmfdG_NyHO9Sp3TEx220q8DDpI6af3eQWDEL0KMNU8G1gPj7q0WpvXs/s1600/images.jpg 


        O ar escaldava; lambia-lhes de febre os rostos corridos pelo suor e vincados por esgares que o esforço da ceifa provocava. O Sol desaparecera há muito, envolvido pela massa cinzenta das nuvens cerradas. Os ceifeiros não o sentiam penetrar-lhes a carne abalada pela fadiga. Lento, mas persistente, parecia ter-se dissolvido no ar que respiravam, pastoso e espesso. Trabalhavam à porta de uma fornalha que lhes alimentava os pulmões com metal em fusão.

        Quase exaustos, os peitos arfavam num ritmo de máquinas velhas saturadas de movimento.

        A ceifa, porém, não parava, e ainda bem – a ceifa levava o seu tempo marcado. Se chovesse, o patrão apanharia um boléu de aleijar, diziam os rabezanos na sua linguagem taurina. Eles próprios não a desejavam; se as foices não cortassem arroz, as jornas acabariam também. E se ao sábado o apontador não enchesse a folha, as fateiras não trariam pão e conduto da vila.

        Então os dias tornar-se-iam ainda mais penosos e o degredo por terras estranhas mais insuportável.

        Vencidos pelo torpor, os braços não param. Lançam as foices no eito, juntando os pés de arroz na mão esquerda, e o hábito arrasta-os em gestos quase automáticos, mais um passo e outro, a caminho da maracha que fecha o extremo de cada canteiro. Caminham sempre no mesmo balouçar de ombros; as pegadas do seu esforço ficam marcadas na resteva lodosa.

        Talvez muitos deles pensem que o arroz deitado nas gavelas repousa primeiro do que os seus corpos. Se pudessem deter-se também, por instantes, e descansarem depois a cabeça nos montes de espigas que deixam atrás de si, a ceifa poderia animar.

        Mas o bafo que vem da seara queima mais em cada minuto e as cabeças dos alugados pesam já tanto como o cabo das foices nos braços esgotados. Estão atafulhadas de amarelo, de pensamentos e de grãos de fogo que a canícula doente lhes insuflou no sangue.

        Ninguém entoa cantigas para animar, embora os capatazes tenham incitado as raparigas cantaroleiras para o fazer. Nos ranchos não há agora quem saiba cantar.

        Como podem as cachopas entrar em cantos ao desafio, se os peitos parecem fendidos pela fadiga e o ar que respiram se tornou lava do vulcão da planície?!...

        -- Auga!... Auga!... gritam os rapazes aguadeiros.

        [...]

        Para o ceifeiro rebelde os brados dos aguadeiros assemelham-se a gritos de socorro no meio do incêndio. Sente-se mais abatido do que os outros, porque compreende as causas da angústia do rancho e sabe que os outros sofrem mais. Ele tem um norte. E os camaradas ainda não encontraram bússola.

        “Se todos a tivessem...”

        O ceifeiro rebelde pende mais a cabeça para a seara, como se as torturas e as esperanças lhe pesassem.

        [...]

        A ceifa não para – a ceifa não para nunca.

        O Agostinho Serra tem os seus encargos, fala deles a toda a hora, e se começa a chover apanha um boléu dos grandes. A Senhora Companhia não perdoa a renda da terra, haja o que houver.

        De quando em quando, um deixa a foice e vai saltando as travessas para se ir abaixar a boa distância do olhar dos capatazes.

        E procuram todos o mesmo rumo. É que um deles passou ao companheiro do lado que na regadeira do meio a água ainda corre para os canteiros mais rezentos.

        A notícia correu de ceifeiro em ceifeiro. Por isso levam todos o mesmo rumo quando largam a foice nas travessas.

        Deitados de borco na linha que faz berço às águas, podem refrescar o rosto e molhar a cabeça à vontade. Um deles atirou-se para dentro da regadeira, querendo apagar a chama que lhe consumia o corpo. Quando voltou ao rancho, disse ao capataz que caíra à regadeira, numa explicação tola.

        -- Empeci num almeirão, seu Francisco.

        -- Vais fresco, vais. Largas-te aí com algumas sezões que não te ajudas com elas. Vai lá mudar de fato, homem.

        [...].

Portugal: Publicações Europa-América, 1980.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 283-284.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

-- Atafulhado: cheio em demasia.

-- Gavela: feixe de espigas.

-- Rezento: úmido.

-- Boléu: queda, baque.

-- Jorna: salário diário.

-- Seara: campo de cereais.

-- Cachopa: moça.

-- Maracha: pequeno muro de terra.

-- Sezão: febre intensa e intermitente.

-- Canícula: cana pequena e delgada.

-- Empeçar: emaranhar, enredar.

-- Resteva: restolho; vegetação rasteira e seca.

02 – Como o narrador descreve a intensidade do calor no local de trabalho dos ceifeiros logo no início do fragmento?

      O narrador descreve a intensidade do calor comparando o local de trabalho a um "braseiro de um fogo que alastrasse na Lezíria Grande", como se toda a leiva estivesse sendo consumida por labaredas. O ar é descrito como "escaldava", lambendo os rostos dos trabalhadores com febre e fazendo com que seus pulmões parecessem ser alimentados por "metal em fusão".

03 – Apesar das condições extremas de trabalho, por que a ceifa não podia parar, de acordo com as preocupações dos rabezanos e dos próprios ceifeiros?

      A ceifa não podia parar porque, se chovesse, o patrão teria grandes prejuízos ("apanharia um boléu de aleijar"). Além disso, os próprios ceifeiros dependiam da ceifa para seus salários ("jornas") e para que o apontador enchesse a folha no sábado, garantindo pão e sustento para suas famílias. A interrupção do trabalho significaria dias ainda mais penosos e um degredo ainda mais insuportável.

04 – Como o narrador descreve o movimento dos ceifeiros durante o trabalho, enfatizando a exaustão e a automatização de seus gestos?

      O narrador descreve o movimento dos ceifeiros como um hábito que os arrasta em "gestos quase automáticos", com um balançar constante de ombros e pegadas marcadas na "resteva lodosa". Seus peitos arfavam como "máquinas velhas saturadas de movimento", e suas cabeças pesavam como o cabo das foices, indicando um profundo torpor e exaustão.

05 – Qual o desejo implícito dos ceifeiros em relação ao descanso, comparado ao arroz que colhem?

      O desejo implícito dos ceifeiros é poderem repousar como o arroz deitado nas gavelas. Eles pensam que o arroz descansa primeiro do que seus corpos e anseiam por poderem deter-se por instantes e descansar a cabeça nos montes de espigas que deixam para trás.

06 – Quem é o "ceifeiro rebelde" mencionado no texto e qual a sua diferença em relação aos outros trabalhadores no que diz respeito à compreensão da situação?

      O "ceifeiro rebelde" é um dos trabalhadores que, diferentemente dos outros, compreende as causas da angústia do rancho e sabe que os outros sofrem mais. Ele possui um "norte", uma direção ou entendimento da situação, enquanto seus camaradas ainda não encontraram essa "bússola".

07 – Qual a atitude dos ceifeiros quando um deles espalha a notícia de que ainda há água corrente em uma das regadeiras, e o que essa atitude revela sobre suas necessidades?

      Quando a notícia da água corrente na regadeira se espalha, os ceifeiros largam suas foices e seguem todos na mesma direção para se refrescarem. Essa atitude revela a sua necessidade extrema de alívio do calor e da sede, mostrando que mesmo uma pequena oportunidade de conforto é avidamente buscada em meio ao sofrimento.

08 – Qual a explicação "tola" que um dos ceifeiros dá ao capataz após se atirar na regadeira e qual a reação do capataz a essa explicação?

      O ceifeiro dá uma explicação "tola" ao capataz, dizendo que "empeci num almeirão" (tropecei numa chicória). A reação do capataz, seu Francisco, é de descrença e ironia, percebendo que o trabalhador apenas buscou se refrescar. Ele comenta que o ceifeiro volta "fresco" e o adverte sobre as possíveis sezões (malária) que poderia ter contraído na água, mandando-o trocar de roupa.

 

quarta-feira, 9 de abril de 2025

NOTÍCIA: INTELIGÊNCIA NA TV - (FRAGMENTO) - GILBERTO DIMENSTEIN - COM GABARITO

 Notícia: Inteligência na TV – Fragmento

             GILBERTO DIMENSTEIN

        Ao completar 18 anos, o americano já assistiu na televisão a 40 mil assassinatos e 200 mil agressões. Essa é mais uma das estatísticas que municiam o tiroteio contra um dos sacos de pancadas prediletos dos americanos: emissoras comerciais.

 Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEif2U9auVmrFfkAcBPR_o0rtXh8lH6L5JCfA7kJAYCxXM7qopzz0t03HQ2LwMtCgz_QWsoujOVxu96HrAsPzT7MzEQ-7g58tSfVw7RhZ7wu9yEYF4XpgQ6Vl3V0uKlxCLs8BlRzACQnQaAvlJJeSK-UM6TcoNTf81TP8Q2K88x_Eo8_PCzo4DdnAwZKUpc/s320/o-que-inteligencia-artificial-smart-tvs.jpg


        Apoiada em centenas de pesquisas sobre efeitos negativos da TV na formação das crianças, a ofensiva de pais, professores, psicólogos e médicos se espalhou pelo país, obtendo ontem uma vitória expressiva.

        [...] Os americanos mostram nas pesquisas que desejam mais educação na TV, responsabilizada pela degeneração de costumes, a começar da violência.

        [...]

        Na verdade, são dezenas as causas da violência, cada qual agindo de forma diferente em cada comunidade. Mas apenas uma mula-sem-cabeça deixaria de reconhecer que o bombardeio diário de lixo visual influencia, em algum grau, negativamente.

        Há toneladas de experiências de psicólogos que submeteram crianças a vídeos sangrentos e, rapidamente, se constatou aumento da agressividade.

        A exposição excessiva a cenas violentas no cinema e na TV age no inconsciente das pessoas, contribuindo para o aumento da agressividade e tornando-as cada vez mais insensíveis à violência.

        [...]

Gilberto Dimenstein. Aprendiz do futuro – Cidadania hoje e amanhã. São Paulo: Ática, 1997. p. 76.

Fonte: Livro – Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 141.

Entendendo a notícia:

01 – Qual é a principal preocupação levantada na notícia em relação à televisão?

      A principal preocupação é o impacto negativo da exposição excessiva à violência na televisão, especialmente na formação de crianças e adolescentes. A notícia destaca como a programação televisiva, repleta de cenas de violência, contribui para o aumento da agressividade e a dessensibilização das pessoas.

02 – Quais são os grupos que lideram a "ofensiva" contra as emissoras comerciais mencionadas na notícia?

      A "ofensiva" é liderada por pais, professores, psicólogos e médicos, que se baseiam em centenas de pesquisas sobre os efeitos negativos da TV na formação das crianças.

03 – Como a notícia relaciona a exposição a vídeos violentos com o comportamento agressivo?

      A notícia menciona experiências de psicólogos que submeteram crianças a vídeos sangrentos e constataram um aumento rápido da agressividade. Além disso, afirma que a exposição excessiva a cenas violentas no cinema e na TV age no inconsciente, contribuindo para o aumento da agressividade e tornando as pessoas mais insensíveis à violência.

04 – Qual é a posição do autor em relação à influência da televisão na violência?

      O autor reconhece que a violência tem múltiplas causas, mas argumenta que é inegável que o "bombardeio diário de lixo visual" da televisão influencia negativamente, em algum grau, o comportamento das pessoas.

05 – Qual é a mensagem principal que Gilberto Dimenstein transmite neste fragmento da notícia?

      Gilberto Dimenstein transmite uma mensagem de alerta sobre os perigos da exposição excessiva à violência na televisão, especialmente para crianças e adolescentes. Ele destaca a necessidade de uma programação televisiva mais educativa e responsável, e a importância do controle parental sobre o conteúdo que as crianças assistem.

 

 

 

NOTÍCIA: NOVO PAPEL DIFICULTA ESTUDOS - (FRAGMENTO) - DIÁRIO DE SÃO PAULO - COM GABARITO

 Notícia: Novo papel dificulta estudos – Fragmento

        Psicanalistas dizem que ajuda da família é fundamental para que meninas não se tornem “irmãs” de seus filhos. Reincidência da gravidez entre as adolescentes e abandono da escola são outras preocupações dos especialistas

        A maioria das adolescentes grávidas só se dá conta do novo papel quando o bebê nasce. Na maioria dos casos, elas são dependentes e precisam do apoio dos pais no cuidado com os filhos. Para a psicóloga Maria Helena Alves Pereira, coordenadora do Programa de Atendimento à Adolescente Grávida do Hospital Maternidade Oswaldo Nazareth (ex-Praça XV), no Rio de Janeiro, quando as famílias participam desse momento delicado é mais fácil para os jovens lidar com a situação, retomar os estudos e, muitas vezes, o trabalho.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPKA2no0KLOzPILyKfoXk-XDToV08lpfPHLpCJRxVdAIBM2tW8X-EEdBICjq0gVfbISVoWrLsUt2FyXNkcSeAzbb-GcSF6KJaoxKelo0gNv2Phbu4jGhQErymeB-Olk4CsenAR9eAFd6rrgat78HU70a2IABmGBqij3ETZC5Op72CQ89UtEcM0e-FDjp4/s1600/LAPIS.jpg


        “[...] No programa, estimulamos os pais e as mães adolescentes a não abandonarem os estudos e a levarem adiante os seus objetivos profissionais. O que não podemos esquecer é que eles são pais e mães adolescentes e não há como exigir que se comportem como adultos”, diz.

        Mas a realidade, pelo menos até agora, é bem diferente desse ideal. Pesquisa realizada pelo Serviço de Pré-Natal de Gravidez na Adolescência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com 40 adolescentes grávidas, por exemplo, revelou que apenas 5% delas continuaram a estudar durante o período de gestação. “Elas não completam o ensino médio e, como mais de 60% nunca trabalhou, acabam ocupando subempregos”, revela Marisa Pascale.

        [...]

        Educação

        Parar os estudos leva também a reincidência na gravidez adolescente, problema que já afeta 25% das meninas mães. Pesquisa realizada no Rio de Janeiro revelou que mulheres que estudaram apenas um ano ou nunca estudaram tiveram, em média, 4,12 filhos, enquanto aquelas que estudaram pelo menos 11 anos tiveram 1,48 filho.

        A situação verificada no Estado do Rio não é muito diferente do que se vê no resto do país. Em São Paulo, por exemplo, estudo do Hospital das Clínicas também demonstrou que metade das meninas pararam a escola antes de engravidar. Isso significa uma relação direta entre educação e possibilidade de gravidez precoce. “A baixa autoestima é o fator principal que leva essas meninas a abandonar a escola como seu projeto de vida”, explica o ginecologista Marco Aurélio Galleta, do HC. “Por isso, muitas delas, mesmo que de forma inconsciente, acabam optando pela formação de uma família para preencher esse espaço”, completa o especialista.

Diário de São Paulo, 11/5/2003.

Fonte: Livro – Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 166.

Entendendo a notícia:

01 – Qual é a principal dificuldade enfrentada pelas adolescentes grávidas, de acordo com o texto?

      A principal dificuldade é a transição para o novo papel de mãe, que muitas vezes ocorre sem que elas estejam preparadas, e a necessidade de apoio familiar para lidar com a situação.

02 – Qual é a importância do apoio familiar para as adolescentes grávidas, segundo a psicóloga Maria Helena Alves Pereira?

      O apoio familiar é fundamental para que as adolescentes consigam lidar com a situação, retomar os estudos e, em muitos casos, o trabalho.

03 – Qual é a realidade enfrentada pelas adolescentes grávidas em relação aos estudos, de acordo com a pesquisa da Unifesp?

      A pesquisa revelou que apenas 5% das adolescentes grávidas continuam estudando durante a gestação, o que leva à baixa escolaridade e, consequentemente, a subempregos.

04 – Qual é a relação entre a gravidez na adolescência e a reincidência da gravidez, segundo o texto?

      A interrupção dos estudos está diretamente relacionada à reincidência da gravidez na adolescência, com 25% das mães adolescentes engravidando novamente.

05 – Como a escolaridade influencia o número de filhos que as mulheres têm, de acordo com a pesquisa mencionada no texto?

      Mulheres com baixa escolaridade (um ano ou nenhum estudo) têm, em média, 4,12 filhos, enquanto aquelas com pelo menos 11 anos de estudo têm 1,48 filho.

06 – Qual é a relação entre educação e gravidez precoce, segundo o ginecologista Marco Aurélio Galleta?

      Segundo o ginecologista, há uma relação direta entre a falta de educação e a probabilidade de gravidez precoce. A baixa autoestima leva muitas adolescentes a abandonar a escola e buscar a formação de uma família para preencher esse vazio.

07 – Qual é o papel da baixa autoestima na gravidez precoce, de acordo com o texto?

      A baixa autoestima é apontada como um fator crucial que leva as adolescentes a abandonar a escola e buscar na maternidade uma forma de preencher o vazio emocional.

 

quarta-feira, 2 de abril de 2025

POEMA: NATURAL RETORNO - ULISSES TAVARES - COM GABARITO

 Poema: Natural retorno

             Ulisses Tavares

O passarinho que a poluição,

espantou sou eu que voa

para teus braços.

A água que a indústria sujou

sou eu que desemboca límpido

em sua barriga.

O mato que a cidade cortou

sou eu que cresce viçoso

em suas pernas.

O bicho que a civilização matou

sou eu que corre célere

para o seu corpo.

Nem tudo está perdido.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijpFLERLdDwYjiHQ8Ikz5q780Q-TbxqR-gYqUlM67Ahd3XiO0foLY-99UQPg59KEFFEztPBGWE8vdg1QI77KcfIgx3jC3L_33uYsU0cvE3DAkJP5l3KEC62S5Qk6DZ-oiMiTpwOA9yckTlu4puUKB_Jwls29MFFQYnxgiUkclF0k1ZxInD3-cv-rSr02o/s320/saude-mental-natureza_1740848857646.jpg


Diário de uma paixão. São Paulo: Geração Editorial, 2003.

Fonte: Livro – Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 41.

Entendendo o poema:

01 – Qual a temática central do poema?

      O poema aborda a relação entre o ser humano e a natureza, destacando a capacidade de renovação e retorno à pureza original, mesmo após a degradação causada pela ação humana.

02 – Quais as metáforas utilizadas no poema para representar essa relação?

      O poema utiliza metáforas como "passarinho que a poluição espantou", "água que a indústria sujou", "mato que a cidade cortou" e "bicho que a civilização matou" para representar a natureza que retorna ao seu estado puro e encontra refúgio no corpo da amada.

03 – Qual o significado do verso "Nem tudo está perdido"?

      Esse verso transmite uma mensagem de esperança e otimismo, sugerindo que, apesar dos danos causados pela humanidade, a natureza possui uma força intrínseca de renovação e que ainda há possibilidade de reconexão com o meio ambiente.

04 – Como o poema utiliza a imagem do corpo da amada?

      O corpo da amada é utilizado como um refúgio para a natureza, um local onde ela pode se purificar e renascer, simbolizando a união entre o ser humano e o meio ambiente.

05 – Qual a mensagem final do poema em relação à natureza e à humanidade?

      O poema transmite uma mensagem de que a natureza possui uma capacidade de renovação e que, apesar dos danos causados pela humanidade, ainda há esperança de reconexão e harmonia entre ambos.

 

sexta-feira, 28 de março de 2025

MÚSICA(ATIVIDADES): FRUTA BOA - MILTON NASCIMENTO - COM GABARITO

 Música (Atividades): Fruta Boa

             Milton Nascimento

É maduro o nosso amor, não moderno
Fruto de alegria e dor, céu e inferno
Tão vivido o nosso amor, convivência
De felicidade e paciência
É tão bom

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOtg-tAWdSs4jqrzxEXAN8iqrs18858p1ngFokc9R4cLlxcsS6nj4N5RA5I5QomP03FcA8oIawvy8NmJd6-cZJUAmJng70KyGUMOqMImYGf5vS8v_sZeRk37uO632j4pBQXwlahCnAJub5dRyQjMIgUkMPpMM8SejbaeYBaC4SjG2QKDpPRz8-JUW_fig/s320/sddefault.jpg

O nosso amor comum é diverso
Divertido mesmo até, paraíso
Para quem conhece bem
Os caminhos
Do amor seu vai e vem
Quem conhece

Saboroso é o amor, fruta boa
Coração é o quintal da pessoa
É gostoso o nosso amor
Renovado é o nosso amor
Saboroso é o amor madurado de carinho

É pequeno o nosso amor, tão diário
É imenso o nosso amor, não eterno
É brinquedo o nosso amor, é mistério
Coisa séria mais feliz dessa vida
Vida.

Saboroso é o amor, fruta boa
Coração é o quintal da pessoa
É gostoso o nosso amor
Renovado é o nosso amor
Saboroso é o amor madurado de carinho

É pequeno o nosso amor, tão diário
É imenso o nosso amor, não eterno
É brinquedo o nosso amor, é mistério
Coisa séria mais feliz dessa vida
Vida.

Composição: Fernando Brant / Milton Nascimento. In: NASCIMENTO, Milton. Voz e suor. Emi-Odeon, 1983. CD, faixa 7. (Pontuação proposta pelos autores do livro).

Fonte: Português. Série novo ensino médio. Volume único. Faraco & Moura – 1ª edição – 4ª impressão. Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 111.

Entendendo a música:

01 – Qual a metáfora central utilizada na música para descrever o amor?

      A metáfora central é a do amor como uma "fruta boa", que amadurece com o tempo e é saborosa.

02 – Quais as características do amor descritas na música?

      O amor é descrito como maduro, fruto de alegria e dor, convivência, felicidade e paciência, comum e diverso, divertido, paraíso, saboroso, renovado, pequeno e diário, imenso e mistério.

03 – O que significa a expressão "coração é o quintal da pessoa"?

      Essa expressão sugere que o coração é o lugar onde o amor cresce e se desenvolve, um espaço pessoal e íntimo onde se cultivam sentimentos.

04 – Como a música aborda a dualidade do amor?

      A música mostra que o amor é uma mistura de sentimentos opostos, como alegria e dor, pequeno e imenso, brinquedo e coisa séria, destacando a complexidade desse sentimento.

05 – Qual a importância do tempo na visão do amor apresentada na música?

      O tempo é fundamental para o amadurecimento do amor, que se torna mais saboroso e profundo com a convivência e as experiências compartilhadas.

06 – Qual a mensagem principal da música em relação ao amor?

      A mensagem principal é que o amor é um sentimento complexo e multifacetado, que se constrói e se renova ao longo do tempo, sendo uma das coisas mais felizes da vida.

07 – De que forma Milton Nascimento utiliza a linguagem para transmitir a sensação do amor?

      Milton Nascimento utiliza uma linguagem poética e sensorial, com metáforas e adjetivos que evocam a doçura e a profundidade do amor, além de destacar a dualidade e a complexidade desse sentimento.