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quinta-feira, 12 de agosto de 2021

LENDA: O ADIVINHO ESCOLHE SUA ESPOSA ENTRE TRÊS PRETENDENTES - J. REGINALDO PRANDI - COM GABARITO

 Lenda: O adivinho escolhe sua esposa entre três pretendentes

        No país dos príncipes do destino havia um adivinho de nome Orunmilá. Era um sábio culto e respeitado e tinha prendido todas as histórias dos odos, dos quais era funcionário exemplar.

        Orunmilá vivia sozinho e queria se casar, pois precisava urgentemente de uma mulher que lhe fizesse companhia.

        Ele foi então apresentado a três belas pretendentes. Eram três irmãs: Riqueza, Discórdia e Paciência. Orunmilá deveria escolher uma delas pra esposa. Queria tomar logo a decisão, pois precisava urgentemente de uma boa mulher que lhe fizesse companhia. Perguntou às pretendentes quais eram suas boas qualidades.

        “Eu tenho tudo o que desejo ter”, disse Riqueza.

        “Eu tenho tudo o que os outros querem ter”, falou Discórdia.

        “Eu tenho tudo o que posso ter”, confessou Paciência.

        O primeiro impulso de Orunmilá foi casar-se com Riqueza, pois quem tem Riqueza tem tudo, pensou ele.

        Quando estava para anunciar a decisão, foi procurado em sua casa por um mendigo, que dizia precisar de seus favores de adivinho. Ele recebeu o pobre homem e imediatamente o reconheceu. Era nada mais, nada menos que um grande milionário, que contou ter perdido todos os seus bens por causa de má sorte. Havia se tornado um homem desprezado e infeliz.

        Depois de ter jogado búzios para o mendigo, Orunmilá resolveu rever sua escolha. A riqueza vem, mas a riqueza vai, pensou ele.

        Restava escolher então entre as duas outras irmãs. Discórdia ou Paciência? Paciência ou Discórdia? Tinha que se decidir logo, pois precisava realmente da companhia de uma boa esposa.

        Estava quase decidido por Discórdia, que das três era a mais popular, quando foi chamado ao palácio do rei para ser testemunha num julgamento de dois amigos seus, que, numa briga, haviam tentado matar um ao outro. [...] Ainda lançavam farpas um contra o outro, acusando-se das maiores baixezas, trocando socos e cruzando pontapés.

        E quem estava lá, incentivando a briga, jogando amigo contra amigo? Discórdia.

        Orunmilá voltou para casa decepcionado, mas convencido de que não ter tomado nenhuma decisão apressada tinha sido a melhor coisa. “Pois quem tem Paciência tem tudo”, disse Orunmilá, e se casou com Paciência.

              PRANDI, J. Reginaldo. Os príncipes do destino: histórias da mitologia afro-brasileira. V. 2. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental – IBEP 5ª edição – São Paulo, 2018, p. 192-4.

Entendendo a lenda:

01 – Qual o significado da palavra Odu, no texto?

      Espécie de signo que rege o nascimento de cada pessoa. Na tradição Iorubá, há 16 odus principais, cujas combinações perfazem 256 odus.

02 – Qual é a situação-problema apresentada na lenda? Explique-a.

      O adivinho Orunmilá sentia-se muito sozinho e queria se casar. Foi apresentado a três pretendentes e precisava escolher entre uma delas para ser sua esposa.     

03 – Na narrativa há um personagem diretamente envolvido na situação-problema. Responda:

a)   Descreva todas as características explícitas ou implícitas desse personagem.

Ele era sábio, culto, disciplinado (“funcionário exemplar dos odus”), solitário e previdente.

b)   Que atribuições ele tem na comunidade dos “príncipes do destino”?

A de jogar búzios e ver o destino, aconselhar e mediar conflitos.

c)   Como foi possível saber as características implícitas e as atribuições dele?

Pelas ações dele na comunidade e pela sua postura diante de uma tomada de decisão (escolha de uma esposa).

04 – As três pretendentes de Orunmilá têm nomes bastante significativos. Responda:

a)   Que relação há entre a Riqueza e sua maior qualidade? Seu nome reflete sua personalidade? Explique.

Segundo a personagem, sua maior qualidade é ter tudo o que deseja ter, o que vai fazer com que acumule bens, remetendo, assim, à ideia de riqueza. Portanto, seu nome condiz com sua personalidade.

b)   Que relação há entre a discórdia e sua maior qualidade? Seu nome é apropriado à sua personalidade? Explique.

Segundo a personagem, sua qualidade é ter o que os outros querem ter. Ao obter bens almejados por outras pessoas, a personagem desperta a discórdia na sua relação com os outros. Portanto, esse nome combina com sua personalidade.

c)   Que relação há entre a Paciência e sua maior qualidade? Seu nome reflete sua personalidade? Explique.

Segundo a personagem, sua maior qualidade é ter tudo o que ela pode ter. Ao se contentar em ter apenas o possível, ela demonstra tranquilidade, paciência, o que mostra que seu nome é apropriado à sua personalidade.

05 – Releia o trecho a seguir:

        “O primeiro impulso de Orunmilá foi casar-se com Riqueza, pois quem tem riqueza tem tudo, pensou ele.”

a)   O adivinho quis escolher, inicialmente, casar-se com Riqueza. O que o fez desistir? Explique.

Ele considerou que “quem tem riqueza tem tudo”. No entanto, ao conhecer um ex-milionário que se encontrava infeliz e na miséria, ponderou que “a riqueza vem e a riqueza vai”, não sendo uma qualidade permanente.

b)   Quem narra a história? O foco narrativo está em primeira ou em terceira pessoa?

Um narrador que não é personagem, mas observa os fatos. O foco narrativo está em terceira pessoa.

c)   O que a frase “[...] pois quem tem Riqueza tem tudo, pensou ele” pode revelar sobre o narrador da lenda?

Além de observador, o narrador tem acesso ao pensamento de Orunmilá.

06 – Que motivo o Adivinho tinha para escolher a Discórdia? O que o fez desistir? Explique.

      Ele pensou em escolhê-la, porque ela era a mais popular das três. Ele desistiu, porque, ao ser chamado ao palácio, Discórdia tinha causado e incentivado a briga entre amigos.

07 – O que levou Orunmilá se casar com Paciência? Explique.

      Ele se convenceu de que não tomar uma atitude apressada foi a melhor decisão e "quem tem paciência, tem tudo”. Ele considerou pela sua sabedoria que se casar com Paciência seria a melhor escolha.

08 – Releia os trechos abaixo e responda:

        “Orunmilá vivia sozinho e queria se casar, pois precisava urgentemente de uma mulher que lhe fizesse companhia.”

        “[...] Orunmilá deveria escolher uma delas pra esposa. Queria tomar logo a decisão, pois precisava urgentemente de uma boa mulher que lhe fizesse companhia.”

a)   Por que Orunmilá queria se casar?

Ele vivia muito sozinho e precisava de companhia.

b)   Na lenda que você leu, qual era o costume daquele povo em relação ao casamento? Qual era o papel da mulher nesse processo? Explique.

O homem queria se casar para ter uma mulher que fizesse companhia para ele. Ele escolhia a mulher segundo as qualidades dela e pela necessidade dele. Em nenhum momento revelam-se as necessidades e a possibilidade de escolha da mulher. A mulher se mostra como uma pessoa à mercê da escolha do homem e que precisa apresentar “qualidades” de uma “boa” mulher para ser escolhida.

c)   Você concorda com esse costume? E sobre o papel da mulher? Explique.

Resposta pessoal do aluno.

09 – Releia os trechos do texto:

        “[...] pois quem tem Riqueza tem tudo”, pensou ele. [...]

        “Pois quem tem Paciência tem tudo”, disse Orunmilá [...]

a)   O que aconteceu com o adivinho a partir da experiência de ter que escolher uma esposa entre as três pretendentes? Explique.

O sábio mudou a forma de pensar, pois percebeu que a riqueza é transitória e a discórdia pode trazer muitos problemas.

b)   Que valor humano esse texto pretende transmitir? Explique.

A lenda procura transmitir o valor da paciência no momento de tomada de decisão ou quando precisamos esperar por algo. Transmiti também a importância de ficarmos satisfeitos com o que temos, sem sentirmos inveja de outras pessoas.

c)   O que você acha desse ensinamento? Explique.

Resposta pessoal do aluno.

 

sábado, 29 de maio de 2021

CONTO: O PRÍNCIPE INFELIZ E AS ABÓBORAS DESPREZADAS - REGINALDO PRANDI - COM GABARITO

 CONTO: O príncipe infeliz e as abóboras desprezadas

             Reginaldo Prandi 

        Ifá morava no Orum, o Céu dos orixás, mas os odus viviam perto do Aiê, o mundo dos humanos.

        Depois da primeira reunião da casa de Ifá, que havia sido tão desastrosa, os príncipes do destino seguiram o caminho para o Aiê.

        Todos menos Obará, que não tinha ido porque seus quinze irmãos se esqueceram de leva-lo.

        Talvez o tivessem esquecido de propósito, uma vez que Obará só falava de coisas ruins, além de ser pobre e não alegrias na vida, o que lhe valera o epíteto de Príncipe Infeliz.

        Cada um levava nas costas a abóbora ganha de Ifá. E como nenhum deles gostava de abóbora, o peso do fruto só lhes dava cansaço e mau humor.  

        Estavam chegando ao seu país e a fome apertava, mas abóbora eles não iam comer, ah! Isso não. Alguém então se deu conta de que estava já bem perto da casa de Obará.

        “Vamos comer na casa de Obará?”, alguém propôs.

        “Alguma coisa melhor que abóbora nosso amado irmão há de ter em sua mesa, assim espero”, completou outro odu.

        Saíram todos correndo para a casa do Príncipe Infeliz, levando cada um sua abóbora nas costas, pois não iam largar na estrada um presente de Ifá, mesmo que não apreciassem nada seu sabor.

        Foram acolhidos com grande alegria por Obará. Obará nunca recebia ninguém, ninguém o visitava.

        Ao contrário, todos o evitavam.

        E de repente, sem nenhum aviso, os seus quinze irmãos entraram em sua casa. Que alegria. Que contentamento!

        “Vejo que vindes de longe, estais cansados”, disse Obará depois de abraçar cada um dos seus irmãos.

        “Imagino que estais famintos.” Ordenou às mulheres da casa que trouxessem água fresca e panos limpos em grande quantidade.

        “Lavai-vos dessa poeira da estrada e depois vamos comer, vamos festejar.”

        Obará era pobre e o que tinha de comida em casa nem daria para alimentar ratos que fuçavam a despensa. Mas a alegria de ter os irmãos em casa era incontida.

        Ordenou à esposa que fosse correndo ao mercado, que tomasse dinheiro emprestado, que pedisse fiado, e que comprasse tudo o que pudesse agradar ao paladar de um príncipe faminto porém exigente.

        Coitado de Obará, ia ficar ainda mais pobre, mais endividado, mais enrascado na vida. Era assim o destino de Obará, era essa sina dos afilhados desse príncipe do destino. Perdiam tudo, mas não aprendiam nunca, sempre se metendo em novos apuros e apertos.

        E então lá foi a mulher de Obará ao mercado, de onde voltou acompanhada de muitos ajudantes carregados de cabritos, leitões e frangos.

        Traziam também balaios de inhame, feijão e farinha, potes de azeite de dendê, porções de sal, vasilhas de pimenta, postas de peixe e peneiras de camarão, garrafas de vinho, litros de cerveja.

        E o banquete que foi preparado e comida nunca mais seria esquecido por ninguém do lugar. Os príncipes comeram até se fartar, comeram bem como nunca tinham comido antes.

        Terminada a comilança, os odus despediram-se do irmão e prometeram voltar outras vezes, pois comida deliciosa e farta como aquela não havia.

        De barriga cheia como estavam então, não deram conta de levar suas desprezíveis abóboras e as largaram todas abandonadas abarrotando o quintal de Obará.

        Os príncipes partiram e Obará ficou sozinho. Sua mulher limpando os restos da principesca comilança, as abóboras abandonadas abarrotando o quintal, os credores já ameaçando bater à sua porta.

        Quando no dia seguinte todos os mercadores do lugar se recusaram a vender fiado a Obará o que quer que fosse antes que ele pagasse o que devia, faltou de novo comida na mesa de Obará.

        Conformado, ele disse à mulher: “Vamos comer abóbora”.

        Foi até o quintal onde os príncipes abandonaram as abóboras e com a faca partiu uma que lhe parecia bem madura.

        A abóbora estava recheada de pepitas de ouro!

        Obará, boquiaberto, abriu a segunda abóbora: no lugar das sementes, diamantes, enormes. A outra trazia pérolas e a seguinte, esmeraldas. Obará estava enlouquecido.

        Ele gritava, dançava, gargalhava, abraçava a mulher e ia abrindo as abóboras.

        Foi assim que Obará se transformou no mais rico dos príncipes do destino, e ele gosta muito de contar essa sua história.

        Foi assim que Obará se transformou no mais respeitado, invejado e querido de todos os viventes de sua terra, o mais desejado de todos os padrinhos.

        Todos os pais e mães querem que seus filhos tenham Obará para seu odu. Nunca mais ele foi chamado de Príncipe Infeliz.

        Pois o odu Obará é o odu da riqueza inesperada.

        Suas histórias agora falam também de prosperidade, de muito dinheiro e bem-estar material, contam de ganhos, conquistas, vitórias e finais felizes.

        Mas para alcançar tamanho sucesso, além de proteção do padrinho Obará, é preciso ter o coração bom (ou, como dizem alguns, ter o juízo um pouco mole), como tem Obará.

        Foi o próprio Obará que, com muita alegria, contou essa história na segunda reunião com Ifá, tendo sido ajudado pelo príncipe Ejiocô, que enfatizava as passagens mais interessantes. Seus irmãos permaneciam quietos e cabisbaixos enquanto Obará se divertia com a narrativa.

        Mas ao final, quando o banquete foi servido, um grande contentamento voltou a tomar conta de todos na casa celeste de Ifá.

 PRANDI, Reginaldo. Os príncipes do destino: histórias da mitologia afro-brasileira. São Paulo: Cosac Naify, 2001.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 8º ano – Ensino Fundamental – IBEP 5ª edição – São Paulo, 2018, p. 103-6.

Entendendo o texto:

01 – Quem são as personagens do texto?

      Obará, sua mulher, os quinze irmãos de Obará, Ifá e Ejiocô.

02 – Identifique a morada de Ifá e dos Odus.

      Ifá morava no Orum, o Céu dos orixás. Os Odus viviam perto de Aiê, o mundo dos humanos.

03 – Leia outros trechos do livro Os príncipes do destino: histórias da mitologia afro-brasileira e responda às questões.

        “Na língua iorubá de nossos dezesseis príncipes havia uma palavra para se referir a eles. Eles eram chamados de odus, que poderíamos traduzir como portadores do destino. Os príncipes odus colecionavam as histórias dos que viveram em tempos passados, sendo cada um deles responsável por um determinado assunto. Assim, o odu chamado Oxé sabia todas as histórias de amor. Odi sabia as histórias que falavam de viagens, negócios e guerras. Ossá sabia tudo a respeito da vida em família e da maternidade. E assim por diante. As histórias falavam de tudo o que acontece na vida das pessoas, de aspectos positivos e negativos, pois tudo tem o seu lado bom e o seu lado ruim.”

a)   As personagens da história “O príncipe infeliz e as abóboras desprezadas” têm alguma relação com o sagrado ou fazem parte do universo das pessoas comuns, mortais? Justifique sua reposta.

Elas têm relação com o sagrado. Os príncipes do destino pertencem ao universo divino; são portadores do destino das pessoas.

“Há muito tempo, num antigo país da África, dezesseis príncipes negros trabalhavam juntos numa missão da mais alta importância para seu povo, povo que chamamos de ioruba. Seu ofício era colecionar e contar histórias.”

b)   Nesse trecho, que palavras ou expressões localizam o leitor quanto ao tempo e ao espaço da narrativa?

Tempo: “Há muito tempo”. Espaço: “num antigo país da África”.

c)   Essas expressões delimitam um espaço e um tempo precisos, determinados?

Essas expressões apenas localizam a narrativa em um tempo muito antigos, sem determina-los ou especificá-los. Esse recurso dá um caráter de atemporalidade à narrativa.

04 – Qual conflito desencadeou todos os fatos ocorridos com Obará?

      Os irmãos de Obará viajaram carregando abóboras nas costas e, mesmo estando com fome, não queriam comê-las, por não apreciarem seu sabor. Então, resolveram parar na casa de Obará para comer. Esse fato desencadeia o restante da narrativa.

05 – Explique como você caracteriza a atitude dos irmãos de Obará nos parágrafos indicados a seguir.

a)   Parágrafos 3 e 4.

Como uma atitude egoísta, de excluir o irmão.

b)   Parágrafos 6 a 10.

Foram “interesseiros”, pois só resolveram visitar Obará por estarem com fome.

06 – É possível afirmar que a atitude de Obará se opõe à de seus irmãos? Por quê? Localize no texto um trecho que comprove sua resposta e transcreva-o.

      Sim, pois mesmo não tendo sido convidado pelos irmãos para a festa de Ifá, Obará se alegra com a presença deles e se endivida para recebe-los com um banquete. “Obará era pobre [...] príncipe faminto, porém exigente.”

07 – Transcreva, agora, um trecho do texto em que o narrador interrompe o discurso, expõe suas ideias sobre a desgraça de Obará e depois retoma a narrativa.

        O mito é uma narrativa popular da tradição oral que faz parte da história cultural dos povos. Existem mitos que tentam explicar de forma simples e para o povo a criação do mundo; outros, tem como temas as divindades religiosas, o aparecimento do homem etc. Diversos povos acolheram os mitos na tentativa de dar respostas às constantes perguntas que as pessoas levantavam sobre a vida e a existência.

      Coitado de Obará, ia ficar ainda mais pobre, mais endividado, mais enrascado na vida. Era assim o destino de Obará, era essa sina dos afilhados desse príncipe do destino. Perdiam tudo, mas não aprendiam nunca, sempre se metendo em novos apuros e apertos.

        E então lá foi a mulher de Obará ao mercado, [...].”