Mostrando postagens com marcador CARLOS EDUARDO NOVAES. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador CARLOS EDUARDO NOVAES. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 4 de maio de 2018

TEXTO: A INVENÇÃO DO TELEFONE - CARLOS EDUARDO NOVAES - COM GABARITO

Texto: A INVENÇÃO DO TELEFONE
            Carlos Eduardo Novaes


         Garotinho ainda, o escocês Graham Bell dizia aos pais que quando crescesse queria ser inventor. Mas vocês sabem, querer ser inventor na Escócia é algo assim como nascer com vocação para astronauta em São Luís do Maranhão. A Escócia não é exatamente um país de inventores. Os poucos que pretendiam sê-lo, no caminho de casa para a oficina acabavam sempre entrando num bar e na oitava dose da maior invenção escocesa já não lembravam mais o que queriam inventar. Graham Bell salvou-se porque não bebia. De qualquer maneira não via muito futuro na Escócia onde tudo o que se poderia inventar já tinha sido inventado: a bicicleta, o uísque, a gaita de fole e a saia escocesa.
        Contrariado com essa falta de perspectiva, Bell um dia chegou em casa e anunciou que iria para os Estados Unidos, “país onde estão inventando as coisas”. Arrumou sua maleta (parecida com a dos funcionários da Telerj), passou uns tempos na Alemanha, no Canadá e, finalmente, instalou-se em Boston onde depois de se naturalizar norte-americano deu um pulinho no Registro de Inventos e Patentes e, muito seguro de si, perguntou ao funcionário: “Por obséquio, eu gostaria de saber o que está faltando ser inventado aqui”. O funcionário pediu para aguardar um pouco e consultou uma longa lista: “Bem, ainda não apareceu ninguém para inventar o telefone”.
        – Então, deixa comigo – afirmou Bell cheio de confiança.
        Na realidade, Bell quase teve de inventar outra coisa para ver seu nome nas enciclopédias. Antes dele outro americano, Page, já desconfiava que as ondas elétricas podiam transmitir o som; um francês, Bourseul, afirmou que as palavras podiam ser levadas tanto pelo correio como pela eletricidade e o alemão João Felipe chegou a construir um telefone e só não tirou patente porque seu dinheiro acabou e ele não pôde construir o outro aparelho: com um aparelho só, como poderia falar no telefone?
        Mas o grande adversário de Graham Bell foi um eletricista de Chicago chamado Elisha Gray. No dia 12 de fevereiro de 1876 Bell entrou no Escritório de Registros de Invenções de Boston com seus telefones debaixo do braço, sem saber que naquele mesmo dia Elisha fazia a mesma coisa em Chicago. Os dois se proclamaram inventores do telefone. A polêmica tomou conta do país e foi parar no tribunal, que deu vitória a Bell. Segundo o juiz, Bell só se tornou o inventor oficial do telefone porque conseguiu linha primeiro.
        A invenção repercutiu por todo o mundo. Dia seguinte já havia uma multidão na porta da casa de Graham Bell querendo conhecer aquele aparelhinho misterioso. E formou-se então a primeira fila para falar no telefone. Bell, que investiu todo o seu dinheiro na invenção, não esperava tamanho sucesso. “Se soubesse que ia ser assim”, confidenciou a uns amigos, “teria tratado de inventar antes a ficha do telefone”. As pessoas se aproximavam entre curiosas e amedrontadas, observavam aquele aparelhinho em cima da mesa e perguntavam a Bell: “Pra que serve mesmo?”
        – Pra falar com outra pessoa.
        – Posso tentar?
        Bell deixava o cidadão à vontade. O aparelho, evidente, era daqueles modelos antigos, com o bocal na própria haste, separado da parte onde encaixa o ouvido. O cidadão pediu à sua mulher para que se afastasse, pegou o aparelho e sem experiência no manejo colocou o bocal no ouvido e o fone na boca. DE início tentou colocar dentro da boca, como se fosse uma banana, mas, percebendo que o som não saía, afastou-o e disse: “Mulher, está me ouvindo?”. A mulher, a três metros de distância, respondeu: “Estou”.
        – Que que você acha desse telefone? (As pessoas ainda não estavam familiarizadas com o nome do aparelho.)
        – Maravilhoso! – exclamou parada, enquanto observava o marido trêmulo segurando o aparelho.
        – Incrível – berrou o marido, ao ouvir a resposta da mulher. – É fantástico. Inacreditável. Ele ouve mesmo.
        Bell, que havia se ausentado da sala, voltou e perguntou ao cidadão: “Como é? Falou?”
        – Falei. Claro que falei. Falei com minha mulher. Ela ouviu tudinho.
        – Mas esse aparelho é para você falar com as pessoas à distância.
        – Ela estava distante. Estava lá perto da porta.
        – Eu me refiro a longas distâncias.
        – Ah, é? Então, Mary – ordenou o marido -, vá lá para o outro lado da ponte.
        – Não adianta – corrigiu Bell. – Ela tem que ter um aparelho também.
        – Também? Ora, então qual é a graça? Assim qualquer um fala. Quero ver é você inventar uma conversa a longa distância sem aparelho.

 Carlos Eduardo Novaes. A língua de fora. 2a Edição,
Rio de Janeiro, Editorial Nórdica, 1979.

Entendendo o texto:
01 – O Autor é, sobretudo, irônico. O que quis dizer com “… querer ser inventor na Escócia é algo assim como nascer com vocação para astronauta em São Luís do Maranhão.”?
      Quis dizer que é uma aspiração quase impossível de ser concretizada em decorrência da situação de desenvolvimento de conhecimento existente no lugar.

02 – Se não havia perspectiva na Escócia, o que Graham Bell decidiu fazer?
      Saiu do país onde nasceu e foi para os Estados Unidos.

03 – Por que Graham Bell “… quase teve que inventar outra coisa para ver seu nome nas enciclopédias”?
      Porque vários cientistas também estavam pesquisando no mesmo sentido do invento do telefone.

04 – O texto informa que duas pessoas se proclamaram inventores do telefone. Quem foram?
      Graham Bell e Elisha Gray.

05 – As pessoas se sentiam à vontade ao experimentar o telefone?
      Não. Achavam o invento maravilhoso mas ficavam nervosas ao utilizá-lo.

06 – Para você, o que representou a invenção do telefone?
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Que aspectos da vida humana, na sua opinião, foram modificados pelo telefone? Justifique.
      Resposta pessoal do aluno.

08 - Os inventos, em geral, decorrem de uma necessidade. Se você fosse um inventor, que tipo de invento você faria para ajudar as pessoas? Explique.
      Resposta pessoal do aluno.

09 – Cite três invenções que revolucionaram o mundo nos últimos cem anos.
      Resposta pessoal. Há um grande números de invenções que foram feitas durante o século XX em decorrência da evolução da organização das sociedades. Ex.: a lâmpada elétrica, o avião, o rádio, a televisão, os adubos químicos, a fogão a gás, a geladeira, a máquina de lavar roupa, etc.


CRÔNICA: AMARREM OS CINTOS E NÃO FUMEM - CARLOS EDUARDO NOVAES - COM GABARITO

CRÔNICA: AMARREM OS CINTOS E NÃO FUMEM
                      Carlos Eduardo Novaes

     
  “Atenção, senhores passageiros para o Leblon, queiram apresentar-se ao poste de embarque”. Me despedi rapidamente das duas tias, três primos, uma cunhada, ouvi as apressadas recomendações de minha mãe para que ficasse sempre atento olhando pela janelinha e antes de entrar ainda acenei dos degraus do ônibus. Instalei-me, obedecendo ao painel luminoso que dizia “aperte os cintos e não fume”. Logo depois o motorista acionou os motores, (…) e só não levantou voo pela Rua do Catete porque os engarrafamentos não deram espaço para a decolagem.
        Não tínhamos ainda nem fechado dez carros e o trocador veio à frente do ônibus explicando que como iríamos passar pela orla marítima teríamos que aprender – para qualquer emergência – a colocar o colete salva-vidas. O senhor ao meu lado ouvia atento o trocador. Pensei que talvez estivesse fazendo sua primeira viagem de ônibus.
        – É verdade, para o Leblon é a primeira. – E interrompido por uma brusca freada, aproveitou para perguntar se a viagem era toda assim.
        – Só nos sinais – respondi.
        – E tem muitos sinais até o Leblon?
        – Uns 500. Deve ter mais sinal do que rua.
        À minha frente, uma senhora quis saber do trocador se estávamos no horário. “Estamos atrasados uns quinze minutos” - disse ele. “E se não pegarmos mais do que seis congestionamentos poderemos chagar ao Leblon por volta das oito horas”. Para quebrar um pouco a tensão da viagem, aproveitei e perguntei à senhora o que iria fazer no Leblon.
        – Vou visitar uma tia. E o senhor?
        – Eu vou a negócios (se for bem sucedido – pensei, mas não disse – volto de táxi).
        Era evidente que o meu vizinho não estava preparado para a viagem. Quando abalroamos o terceiro carro, ameaçou saltar. Levantou-se, mas ao olhar para fora percebeu que estávamos em cima do viaduto. Ficou lívido. Querendo distraí-lo, ainda comentei: “É bonita a vista daqui, não?” – Ele não me ouviu. Estava preocupado com os roncos e os mais estranhos ruídos que saíam do ônibus: “Que barulho é esse?” indagou.
        – É do ônibus mesmo – disse um cidadão sentado atrás.
        – Mas esse ônibus está em péssimo estado – comentou meu vizinho.
        – É verdade – voltou o cidadão que gostava de frases feitas – mas não se esqueça que cada coletividade tem um coletivo que merece.
        A viagem prosseguiu normal, ou seja: cheia de solavancos, batidas, freadas súbitas e imprudências – a curva que fizemos ao entrar na Barata Ribeiro foi de deixar envergonhada a Esquadrilha da Fumaça. Às 11 horas, então, desembarcamos no Leblon. Antes do ônibus parar, observei pela janelinha que todos os meus parentes que moram no bairro estavam me aguardando. Me despedi do motorista, do trocador e desci à procura de um telefone.
        – Um telefone para quê? perguntou meu primo que pratica surf.
        – Pra avisar lá em casa que cheguei vivo.

CARLOS EDUARDO NOVAES. Travessia da Via Crucis.
Rio de Janeiro, Editorial Nórdica, 1975.

Entendendo o texto:
01 – Damos algumas definições através das quais você deve localizar, no texto, as palavras que se enquadram nelas.
a) pôr em movimento: Acionar.
b) beira, margem: Orla.
c) algo acontecido, ocorrido: Sucedido.
d) ir de encontro, chocar-se violentamente: Abalroar.
e) pálido: Lívido.
f) que surgem sem ser previstas: Súbitas.

02 – Ao dizer: “Atenção, senhores passageiros para o Leblon, queiram apresentar-se ao poste de embarque”, o Autor está ironizando, utilizando a forma de convocar os passageiros de outro veículo de transporte. Que veículo é esse?
      O avião.

03 – Em que outros momentos do texto o Autor compara, ironicamente, o ônibus ao avião? Transcreva os trechos.
      “Aperte o cinto e não fume”; “… e só não levantou voo pela Rua do Catete porque os engarrafamentos não deram espaço para a decolagem”; “…colocar o colete salva-vidas.”

04 – O que são frases feitas? Retire um exemplo do texto.
      São frases organizadas com determinadas palavras que encerram uma ideia. São também conhecidas como “ditos populares” tais como: “Cada macaco no seu galho”, “Quem ama o feio, bonito lhe parece”. No texto encontramos: “Cada coletividade tem o coletivo que merece”.

05 – O que o Autor entende por viagem normal, no texto?
      Viagem “cheia de solavancos, batidas, freadas súbitas e imprudência…”

06 – Que tipo de crítica faz o Autor no texto?
      Critica a velocidade exagerada dos ônibus, na cidade do Rio de Janeiro.

07 – Qual a sua opinião e o que deve ser feito a respeito de um motorista de ônibus que exagera na velocidade ao dirigir o veículo?
      Resposta pessoal do aluno.
  

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

ARTIGO DE OPINIÃO: SUPERMERCADOS, AS CATEDRAIS DO CONSUMO - CARLOS EDUARDO NOVAES - COM GABARITO

ARTIGO DE OPINIÃO: SUPERMERCADOS, AS CATEDRAIS DO CONSUMO
                                                Carlos Eduardo Novaes

     Numa sociedade onde ninguém quer engordar, o crescimento dos supermercados é um tanto contraditório. A febre de emagrecimento deveria beneficiar o desenvolvimento de pequenas quitandas e não desses monstruosos templos de consumo. Acontece que o esforço para manter-se magro nasceu exatamente na esteira dos supermercados. O homem atual vive imprensado entre os dietéticos e os supermercados. Mais um pouco, e será impossível reviver a dupla do Gordo e o Magro. Quando muito, conseguiremos uma dupla formada pelo Gordo e o Menos Gordo.
        É difícil, entretanto, fugir ao irresistível apelo dos supermercados. É nele que o homem satisfaz todas as necessidades de consumidor. A primeira intenção de quem entra num supermercado é comprar tudo. Um conhecimento meu, consumidor consagrado, já confessou que seu maior desejo é se atirar sobre as prateleiras, abrir pacotes, latas e caixas de biscoito, queijo, compotas, doces e ficar ali esparramado, comendo até sair pelos ouvidos.
        Os proprietários têm consciência dessa compulsão e arrumam suas mercadorias de forma a deixar o consumidor como eles, proprietários, quando chegaram ao Brasil, ou seja, de tanga. Curiosamente, a alimentação deixou de ser uma simples necessidade para tornar-se um complicado sistema de marketing e pesquisas. Hoje, a gente nem sempre compra o que quer. Compra o que eles querem vender. Vocês sabem, por exemplo, por que o açúcar é colocado no fundo dos supermercados? Porque o açúcar é um artigo comum a todos e, ficando no fundo, obriga o consumidor a passar por várias outras seções antes de encontra-lo. E, nessa passagem, pode comprar alguma coisa. Para escapar a esse risco, só há uma solução: entrar pela porta dos fundos.

                     NOVAES, C. E. O caos nosso de cada dia. São Paulo:
                                                                        Edibolso, 1974. p. 123.

Entendendo o texto:
01 – Como descobrir as partes que compõem o texto?
       A atividade foi comentada no texto. Em geral, os parágrafos (assim como as estrofes, na poesia) são indicadores da organização do pensamento do autor.

02 – Escreva uma frase que sintetize a ideia de cada parágrafo.
1º parágrafo: O crescimento dos supermercados é uma contradição numa sociedade que propõe “pessoas Magras”.

2º parágrafo: Os supermercados acendem a tendência para o consumismo.

3º parágrafo: Os supermercados fazem a alimentação perder sua características de necessidade, para virar uma questão de marketing.

03 – Marque os termos de relação entre ideias, se as relações estão claramente apresentadas.
       Resposta pessoal.

04 – Escreva um texto de no máximo três frases apresentando o que compreendeu do texto.
       Resposta pessoal.



sábado, 24 de fevereiro de 2018

CRÔNICA: A REGREÇÃO DA REDASSÃO - CARLOS EDUARDO NOVAES - COM GABARITO

CRÔNICA: A REGREÇÃO DA REDASSÃO
                      Carlos Eduardo Novaes

   Semana passada recebi um telefonema de uma senhora que me deixou surpreso. Pedia encarecidamente que ensinasse seu filho a escrever.
    – Mas, minha senhora – desculpei-me -, eu não sou professor.
  – Eu sei. Por isso mesmo. Os professores não têm conseguido muito.
        – A culpa não é deles. A falha é do ensino.
        – Pode ser, mas gostaria que o senhor ensinasse o menino. O senhor escreve muito bem.
        – Obrigado – agradeci -, mas não acredite muito nisso. Não coloco as vírgulas e nunca sei onde botar os acentos. A senhora precisa ver o trabalho que dou ao revisor.
        – Não faz mal – insistiu -, o senhor vem e traz um revisor.
        – Não dá, minha senhora – tornei a me desculpar -, eu não tenho o menor jeito com crianças.
        – E quem falou em crianças? Meu filho tem 17 anos.
        Comentei o fato com um professor, meu amigo, que me respondeu: “Você não deve se assustar, o estudante brasileiro não sabe escrever”. No dia seguinte, ouvi de outro educador: ‘O estudante brasileiro não sabe escrever’. Depois li no jornal as declarações de um diretor da faculdade: ‘O estudante brasileiro escreve muito mal’. Impressionado, saí a procura de outros educadores. Todos me disseram: acredite, o estudante brasileiro não sabe escrever. Passei a observar e notei que já não se escreve mais como antigamente. Ninguém mais faz diário, ninguém escreve em portas de banheiros, em muros, em paredes.
        Não tenho visto nem aquelas inscrições, geralmente acompanhadas de um coração, feitas em casca de árvore. Bem, é verdade que não tenho visto nem árvore.
        – Quer dizer – disse a um amigo enquanto íamos pela rua – que o estudante brasileiro não sabe escrever? Isto é ótimo para mim. Pelo menos diminui a concorrência e me garante emprego por mais dez anos.
        – Engano seu – disse ele. – A continuar assim, dentro de cinco anos você terá que mudar de profissão.
        – Por quê? – espantei-me. – Quanto menos gente sabendo escrever, mais chance eu tenho de sobreviver.
        – E você sabe por que essa geração não sabe escrever?
        – Sei lá – dei com os ombros -, vai ver que é porque não pega direito no lápis.
        – Não senhor. Não sabe escrever porque está perdendo o hábito da leitura. E quando o perder completamente, você vai escrever para quem?
        Taí um dado novo que eu não havia considerado. Imediatamente pensei quais as utilidades que teria um jornal no futuro: embrulhar carne? Então vou trabalhar num açougue. Serviria para fazer barquinhos, para fazer fogueira nas arquibancadas do Maracanã, para forrar sapato furado ou para quebrar um galho em banheiro de estrada? Imaginei-me com uns textos na mão, correndo pelas ruas para oferecer às pessoas, assim como quem oferece hoje bilhete de loteria:
        – Por favor amigo, leia – disse, puxando um cidadão pelo paletó.
        – Não, obrigado. Não estou interessado. Nos últimos cinco anos a única coisa que leio é a bula de remédio.
        – E a senhorita não quer ler? – perguntei, acompanhando os passos de uma universitária. – A senhorita vai gostar. É um texto muito curioso.
        – O senhor só tem escrito? Então não quero. Por que o senhor não grava o texto? Fica mais fácil ouvi-lo no meu gravador.
        – E o senhor, não está interessado nuns textos?
        – É sobre o quê? Ensina como ganhar dinheiro?
        – E o senhor, vai? Leva três e paga um.
        – Deixa eu ver o tamanho – pediu ele.
        Assustou-se com o tamanho do texto:
        – O quê? Tudo isso? O senhor está pensando que sou vagabundo? Que tenho tempo para ler tudo isso? Não dá para resumir tudo em cinco linhas?
Carlos Eduardo Novaes.

Entendendo o texto:
Com base no texto, responda ao que se pede:
01 – No diálogo entre a mãe e o autor do texto, percebe-se uma crítica velada a respeito dos professores no Brasil. Identifique a crítica.
           A mãe procurou uma pessoa que não era professor porque os professores de seu filho não conseguiam ensiná-lo a escrever, o que foi justificado pelo autor que não era culpa deles (dos professores), mas por causa da falha do ensino. Ora, se o ensino é falho (tem defeitos) e é realizado por professores, então a culpa é daquele que provoca essa falha, isto é, dos professores. O ensino em si não é autônomo, mas é o resultado da ação de alguém.

02-O texto apresenta a causa porque os estudantes brasileiros não sabem escrever. Qual é?
      Porque não leem.
03-Se os estudantes brasileiros, segundo o autor, não sabem escrever porque não leem, qual deve ser a estratégia que os professores devem utilizar para reverter essa situação?
      Resposta pessoal do aluno.
     04 – Que outras causas podem contribuir para que o estudante brasileiro tenha dificuldades para escrever?
           Resposta pessoal do aluno.
     05 – Por que o autor utilizou a grafia errada nas palavras do título do texto?
            Porque naturalmente ele quis chamar a atenção do leitor para o assunto do seu texto: a dificuldade dos estudantes brasileiros de escrever em português.
    
     06 – O autor se valeu dos fonemas e suas representações gráficas, em português, para chamar a atenção do leitor. Algumas palavras, em português, podem ter o seu sentido alterado (ou não) em razão da sua representação gráfica. No caso do título do texto, houve alteração de sentido? Justifique.
      Não. Se forem pronunciadas, essas mesmas palavras terão o mesmo som: regressão/regreção – redação/redassão. 



sábado, 17 de fevereiro de 2018

CRÔNICA: SER FILHO É PADECER NO PURGATÓRIO - CARLOS EDUARDO NOVAES- COM GABARITO

CRÔNICA: SER FILHO É PADECER NO PURGATÓRIO
                      Carlos Eduardo Novaes

        – Pssiu, psssiu!
   – Eu? – virou-se Juvenal, apontando o próprio peito.
        – É. O senhor mesmo. – confirmou o comerciante à porta da loja. Venha cá por favor.
        Juvenal aproximou-se. O comerciante inclinou-se sobre ele e, como que lhe segredasse algo, perguntou:
        – O senhor tem mãe?
        – Tenho.
        – Gosta dela?
        – Gosto.
        – Então é com o senhor mesmo que eu quero falar. Vamos entrar. Tenho aqui um presente especial para sua mãe.
        – Tem mesmo? Mas por que o senhor não entrega a ela pessoalmente?
        – Porque ela é sua mãe, não é minha. O senhor é que deve entregar o presente.
        – Está bem. Então o senhor me dá que eu dou pra ela.
        – Dar, não. – corrigiu o comerciante. – Infelizmente, não estamos em condições. As vendas só subiram 75%. Vou ter que lhe vender o presente.
        – Mas eu não estava pensando em comprar um presente agora para minha mãe. O aniversário dela é em novembro.
        – Não é pelo aniversário. É pelo dia das mães.
        – Dias das mães? – repetiu Juvenal, sempre desligado. – Mães de quem?
        – Mães de todos. É depois de amanhã, domingo.
        – É mesmo? E quem disse isso?
        – Bem…
        – Está na Bíblia?
        – Não. Ele foi criado por nós, comerciantes, para permitir que vocês manifestem seu amor e carinho por suas mães.
        – Puxa, vocês são tão legais. Eu não sabia que os comerciantes gostavam tanto da mãe da gente.
        – Pois acredite. E olhe, vou lhe contar um segredo: nós gostamos mais da mãe de vocês do que da nossa.
        – É mesmo? E por que assim?
        – Porque a nossa não deixa lucro. Pelo contrário. Todo ano, no dia das mães, sou obrigado a desfalcar a loja para presenteá-la.

NOVAES, Carlos Eduardo. Juvenal Ouriço repórter. 
Rio de Janeiro, Editora Nórdica, 1977.


Entendendo o texto:
Lido o texto, responda às questões a seguir, assinalando a única opção correta: –
01 – O comerciante perguntou se Juvenal gostava de sua mãe porque queria:
a. (   ) deixá-lo emocionado.           b. (   ) expor seus sentimentos
c. (X) vender-lhe um presente.       d. (   ) saber se ele era um bom filho.

02 – Com esse texto, o autor pretendeu demonstrar que:
a. (   ) merece purgatório quem esquecer o Dias das Mães.
b. (X) o comércio se importa apenas com o lucro das vendas.
c. (   ) o amor filial se torna mais evidente no Dias das Mães.
d. (   ) um único dia no ano é pouco para homenagear as mães.

03 – Em que dia da semana o comerciante conversou com Juvenal?
a. (   ) segunda-feira                b. (   ) domingo             
c. (X) sexta-feira                      d. (   ) quarta-feira.

04 – Em: “… sou obrigado a desfalcar a loja…”, a palavra em    destaque pode ser substituída por:
a. (X) diminuir      b. (   ) desperdiçar      c. (   ) furtar.

05 – Por que Juvenal pareceu surpreso quando o comerciante se referiu ao Dias das Mães?
      Porque Juvenal era desligado.

06 – Pelo que se lê no texto, Juvenal costumava presentear sua mãe? Justifique sua resposta.
      O texto deixa supor que ele só presenteava no dia do seu aniversário.

07 – O comerciante afirma que gosta mais das mães dos outros que da sua. Por quê?
      Porque, segundo o comerciante, as mães dos outros dão lucro para a loja e a dele dá prejuízo.

08 – No trecho abaixo, as palavras em negrito podem ter sido empregadas de maneira imprópria. Corrija o emprego, trocando-as para o lugar certo:
        Quando tentei confirmar meu amor pela Ingrácia, ela não me segredou que falasse e até demonstrou no meu ouvido que aquele momento era impróprio. Eu ainda tentei permitir, dizendo que todo momento era próprio, mas ela manifestou o que dissera e corrigiu certo desagrado pela minha insistência.
        Quando tentei manifestar meu amor pela Ingrácia, ela não me permitiu que falasse e até segredou no meu ouvido que aquele momento era impróprio. Eu ainda tentei corrigir dizendo que todo momento era próprio, mas ela confirmou o que dissera e demonstrou certo desagrado pela minha insistência.

           

sábado, 27 de janeiro de 2018

CRÔNICA: VIDA EM FAMÍLIA - CARLOS EDUARDO NOVAES - COM GABARITO

CRÔNICA: Vida em família
                Carlos Eduardo Novaes
        [...]

  Julinho provoca o pai que mal desviou o olhar do prato à sua chegada.
   A provocação dissimulada era uma das táticas preferidas de guerrilha familiar no confronto não-declarado com Alberto, em constante desacordo sobre sua forma de viver e pensar o mundo.
    O garoto permanecia ali, imóvel, expondo-se como um manequim de vitrine e nem Vera nem Alberto percebiam seus pés descalços.
    Entre dentadas e comentários tão triviais quanto o repasto, a mãe anunciou uma surpresa, mas antes que pudesse dizê-la, o filho agitou os dedos do pé, acenando para sua desatenção.

        — Você está sem sapatos, filho! Que houve?
        Julinho esboçou um sorriso sarcástico, agradecendo enfim pela observação, fixou o polegar esquerdo na palma da mão direita e girou os dedos no clássico gesto que significa “roubo”. Vera pulou da cadeira:
        — Meu Deus! Você foi assaltado!
        — De novo? — reagiu o pai, largando o osso e chupando os dedos.
        — Foi agora? Como? Onde? Fala! Diz!
        — O pivete me abordou ali na ciclovia da Lagoa e com uma faca nas mãos mandou que eu tirasse o tênis.
        — Tênis? Aquele tênis que eu trouxe dos Estados Unidos mês passado? – assombrou-se o pai. — Que custou uma fortuna...?
        O garoto concordou com a cabeça, sem dizer palavra, sem alargar os gestos, represando emoção. Era o terceiro assalto que sofria e, para quem acabara de ver o brilho de uma lâmina espetando-lhe as costelas, demonstrava uma tranquilidade irritante. Talvez por entender que os assaltos são parte da rotina da vida. Talvez por desconhecer o preço de um tênis Platinum, de série limitada.
        Julinho tornava-se espectador da sua própria cena. Enquanto os pais discutiam o melhor comportamento a seguir diante de um assaltante empunhando uma arma branca, ele revia seu algoz na telinha da imaginação.
        Uma visão parcial, encoberta pelas sombras da noite que não lhe permitiam distinguir outros traços além dos olhos verdes e a cara de lua cheia. O garoto já o percebera antes, no mesmo local, sempre sozinho, a olhar o céu, distraído demais para infundir temor aos passantes. Desta vez, o mulato alto e magro como Julinho fazia-se acompanhar por um bando de meninos maltrapilhos que, bem mais baixos, lembravam jogadores de um time infantil à volta de um treinador adulto. O garoto surpreendeu-se com a abordagem, é fato, mas muito mais com o comportamento do assaltante que parecia ensinar aos pirralhos o modo correto de praticar um assalto.
        — E vai ficar por isso mesmo? — a voz de Alberto adquiriu um tom de afronta.
        Julinho respondeu com um leve movimento de ombros, murmurando por entre os dentes: “Deixa pra lá, pai”. Foi o que faltava para Alberto pôr sua raiva em movimento:
        — Deixa pra lá? Você fala assim porque o dinheiro não sai do seu bolso. É por isso que a violência não diminui.
        Ninguém dá queixa. Ninguém faz nada. Todo mundo deixa pra lá! Eu não vou deixar! Eu não vou deixar! — e repetiu escandindo as sílabas:
        — Não vou deixar!
        O garoto ouviu-o impassível, sem autoridade para contestá-lo, mas Vera reagiu chamando o marido à razão:
        — Alberto! Você não vai sair por aí feito um maluco por causa de um par de tênis!
        — Podia ser um grampo! — esbravejou. — De hoje em diante, vou atrás do que é meu, seja lá o que for. Não aguento mais ser saqueado por essa bandidagem. Já foi carro, relógio, bolsa, rádio...
        Alberto ajeitou-se na cadeira e, assumindo ares de delegado de polícia, espetou o dedo indicador na mesa perguntando ao filho em que ponto da ciclovia exatamente ocorreu o assalto. Julinho preferiu baixar os olhos e continuar em silêncio, que ele conhecia muito bem o temperamento do pai e não queria vê-lo envolvido em mais violência. Alberto aguardou a resposta e, sem obtê-la, ergueu-se impetuoso:
        — Muito bem! Você não diz, mas eu vou descobrir. Vou à Polícia, à Interpol, ao Exército, onde for preciso, mas vou trazer esse tênis de volta ou não me chamo Alberto Calmon! De agora em diante, vai ser na lei do cão!
        Julinho olhou para os pés descalços e, por alguma razão, pensou no tênis, apenas um calçado para ele, talvez um pequeno sonho para o pivete. Estranho pensamento.
        [...]

Carlos Eduardo Novaes. O Imperador da Ursa Maior.
São Paulo: Ática, 2000. (Fragmento).


Vocabulário:
Repasto – refeição.
Algoz – aquele que trata outro com crueldade, carrasco.

Entendendo o texto:
01 – Julinho e o pai não se entendiam muito bem. Qual fato pode comprovar essa afirmação?
      Os pais não prestavam muita atenção nele, pois custaram a perceber que ele estava descalço, além de haver um clima de provocação entre o menino e o pai.

02 – Segundo o texto, a tensão familiar concentrava-se na relação entre Julinho e seu pai, Alberto. De que maneira Julinho provocava o pai?
      Ficava parado sem dizer uma palavra, como manequim de vitrine.

03 – Por que Alberto e o filho não se davam bem?
      Porque o pai parece ser autoritário e não sabe conversar e perguntar o que o filho tem e sente. No entanto, o pai se preocupa com o preço do objeto roubado.

04 – Apesar do susto, Julinho mantinha-se aparentemente calmo e ironizava a situação. Por que Julinho procurou não revelar suas emoções?
      Porque ele estava acostumado com os assaltos e não dava importância ao valor das coisas.

05 – O narrador descreve a tranquilidade do menino como 'irritante'. Ela era irritante para quem?
      Para o pai, pois tinha um temperamento mais explosivo.

06 – “Julinho tornava-se espectador da sua própria cena". De que cena ele estava sendo espectador?
      Da cena do assalto.

07 - Por que o narrador classifica o pensamento de Julinho como "estranho"?

      Porque parece que o ladrão tinha razão justificável para assaltar.